modulo libras.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    1/56

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    2/56

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    3/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILUNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    LICENCIATURAS

    LIBRAS- LNGUA BRASILEIRA DE SIN

    Salvador

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    4/56

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    ELABORAO

    EMILIANA FARIA ROSA E NANCI ARAJO BENTO

    DIAGRAMAO

    Nilton Rezende

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP).Catalogao na Fonte

    BIBLIOTECA DO NCLEO DE EDUCAO DISTNCIA UNEB

    ROSA, Emiliana Faria; BENTO, Nanci Araujo

    R788 Libra- Licenciatura em EAD / Emiliana Faria Rosa; Nanci Araujo Bento. Salvador:UNEB / GEAD, 2010.

    56p.

    1.Educao inclusiva 2. Libras 3. Comunicao 4. Lngua de sinais 5. IdentidadeSurdas I. Ttulo. II. Universidade Aberta do Brasil. III. UNEB /GEAD

    CDD: 371.9

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    5/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    PRESIDENTE DA REPBLICALuis Incio Lula da Silva

    MINISTRO DA EDUCAOFernando Haddad

    SECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIACarlos Eduardo Bielschowsky

    DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE EDUCAO A DISTNCIAHlio Chaves Filho

    SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILDIRETOR DE EDUCAO A DISTNCIA DA CAPES

    Celso Costa

    COORD. GERAL DE ARTICULAO ACADMICA DA CAPESNara Maria Pimentel

    GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

    GOVERNADORJaques Wagner

    VICE-GOVERNADOREdmundo Pereira Santos

    SECRETRIO DA EDUCAOOsvaldo Barreto Filho

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEBREITOR

    Lourisvaldo Valentim da Silva

    VICE-REITORAAmlia Tereza Maraux

    PR-REITOR DE ENSINO DE GRADUAOJos Bites de Carvalho

    COORDENADOR UAB/UNEBSilvar Ferreira Ribeiro

    COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTOJader Cristiano Magalhes de Albuquerque

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    6/56

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    7/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Caro (a) cursista,

    Estamos comeando uma nova etapa de trabalho e para auxili-lo no desenvolvimento da sua apren turamos este material didtico que atender s Licenciaturas na modalidade distncia.

    O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, erea, pesquisadores, docentes que tiveram a preocupao em alinhar conhecimento terico-prticcontextualizada, fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimeenvolvidos com a disciplina em questo. Cabe Salientar porm, que esse no deve ser o nico matlizado na disciplina, alm dele, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) , as Atividades proposFormador e pelo Tutor, as Atividades Complementares, os horrios destinados aos estudos individsomado compe os estudos relacionados a EAD.

    importante tambm que vocs estejam sempre atentos a caixas de dilogos e cones especficos. Edurante todo o texto e tm como objetivo principal, dialogar com o leitor afim de que o mesmo se tativo desse material. So objetivos dos cones em destaque:

    VOC SABIA convida-o a conhecer outros aspectos daquele tema/contedo. So curiosidadesmaes relevantes que podem ser associadas discusso proposta.

    SAIBA MAIS apresenta notas ou aprofundamento da argumentao em desenvolvimento no zendo conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliem a compreender melhoabordado;

    INDICAO DE LEITURAS neste campo, voc encontrar sugestes de livros, sites, vdeos. Adeles, voc poder aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas tericolhares e interpretaes sobre aquele tema.

    SUGESTES DE ATIVIDADES consistem em condies de atividades para voc realizar autonomem seu processo de auto-estudo. Estas atividades podem (ou no) vir a ser aproveitadas pelformador como instrumentos de avaliao, mas o objetivo primeiro delas provoc-lo, desaprocesso de auto-aprendizagem.

    Sua postura ser essencial para o aproveitamento completo desta disciplina. Contamos com seu emsiasmo para, juntos, desenvolvermos uma prtica pedaggica significativa.

    COORDENAO DE MATERIAL DIDGEAD Gesto de Projetos e Atividades na modalidade a dist

    ??

    ? ??

    ? ??

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    8/56

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    9/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    APRESENTAO

    Caro Alun@:Sabe uma caixa de presente? Ansiedade na abertura. Nunca sabemos o que encontraremos ali dentrlhamos rapidamente com nsias de desvendar o mistrio do que nos aguarda ou desfazemos o lao saboreando cada momento da curiosidade e das idias do que aquela caixa pode conter. Assim eUma caixa de surpresas. Muitas das pessoas que o utilizaro no sabem o que ele conter, mas possdade de abri-lo como na metfora acima.

    Esperamos que cada um de vocs desfrute deste material com a intensidade e curiosidade que necdia a dia. A teoria usada aqui compatvel com a realidade vivenciada por todos ns, no h meio tedentro e fora da sala de aula. H o possvel, o provvel.

    Mas que cada um lembre-se, como dizia Freire: A leitura do mundo precede a leitura da palavranos mostra e nos aponta muito mais do que podemos encontrar nos livros. E a realidade vai muito ae as surpresas no esperam para entrar na caixa. Elas surgem diante de ns apressadamente e no estamos prontos para elas.

    preciso, antes de tudo, saber que no h respostas prontas, mas que cada um poder encontrar abriro portas, ou pensando na metfora acima, h laos mais difceis de desfazer, outros mais fceide estratgias para desfaz-los. Mas sempre haver uma surpresa, dentro ou fora da caixa.

    Bons estudos!

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    10/56

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    11/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    SUMRIO

    1 INTRODUO 13

    2 EDUCAO INCLUSIVA COM NFASE EM LIBRAS 16

    3 A COMUNICAO COM AS MOS 18

    4 A LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS NA PERSPECTIVA DA EDUCAO INCLUS21

    5 A FONTICA, A FONOLOGIA E A MORFOLOGIA NAS LNGUAS DE SINAIS 23

    5.1 DISCUSSO SOBRE OS CINCO PARMETROS FONOLGICOS DA LNGUA BRASILEIRA

    5.1.1 Parmetro 1 - Configurao de Mos (CM) 28

    5.1.2 Parmetro 2 Ponto de Articulao (PA) 29

    5.1.3 Parmetro 3 Movimento (M) 30

    5.1.4 Parmetro 4 Orientao/ Direcionalidade 33

    5.1.5 Parmetro 5 Expresso No-Manual 34

    6 IDENTIDADES SURDAS: O IDENTIFICAR DO SURDO NA SOCIEDADE 38

    7 APOSTILA BSICA DE LIBRAS 42

    REFERNCIAS 53

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    12/56

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    13/56

    ESPECIALIZAES

    L I C E N C I A T U R A S

    1313UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    1 INTRODUOOs estudos culturais atuais sobre surdos nos pro-porcionam novas concepes acerca do Ser Surdo. Omesmo deixa de ser visto do ponto de vista audiolgico,como um ser patolgico, um modelo clnico, para serencarado sob uma perspectiva antropolgica, social,cultural, destituindo-se as representaes clnicas dasurdez, trazendo novas perspectivas epistemolgicas.Assim, a discusso dentro de uma viso clnico-patol-gica no o objetivo do nosso trabalho, por no ser esta

    perspectiva desejada pela maior parte da ComunidadeSurda nem pela maioria dos pesquisadores da rea dasurdez na contemporaneidade.

    Por sculos o homem tentou definir a palavra Cul- tura, tornando-se extremamente complexo escolheruma definio a ser seguida. Escolhemos para anossa disciplina uma concepo antropolgica, quereconhece a Cultura como a rede social de significadosque do sentido ao mundo que cerca um indivduo.Essa rede engloba um conjunto de diversos elementos,

    como valores, costumes, leis, crenas, lngua, dentreoutros.Strobel (2008), autora surda, afirma que Cultura

    Surda

    o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de mo-dific-lo a fim de se torn-lo acessvel e habitvel ajus- tando-os com suas percepes visuais, que contribuempara a definio das identidades surdas e das almas dascomunidades surdas. Isto significa que abrange a lngua,as ideias, as crenas, os costumes e os hbitos de povosurdo (STROBEL, 2008, p. 24).

    Strobel (2008) afirma tambm que na ComunidadeSurda Brasileira os sujeitos surdos no se diferenciamum do outro com grau de surdez. Para eles, o maisimportante o pertencimento ao grupo, usando aLngua Brasileira de Sinais, que ajuda a definir as suasidentidades surdas.

    ? ?? ? ?? SAIBA MAIS

    SACKS, Oliver. Vendo Vozes: Uma viagem ao mundo dos surdos. Rio de janeiro: Companhia das letras, 1998.

    STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surd Florianpolis: Editora da UFSC, 2008.

    significativo dizer que a histria dos surdos foi m

    cada por discursos provinciais e prticas excludentNa Antiguidade, as pessoas surdas eram consideradcomo indivduos primitivos, sendo tratados com pdade e compaixo. Segundo Goldfeld (2002, p. 2a crena de que o surdo era uma pessoa primitiva com que a ideia de que ele no poderia ser educadpersistisse at o sculo XV. At aquele momento eviviam margem da sociedade e no tinham direassegurado. Os surdos

    foram julgados estpidos por milhares de anos e considerados incapazes pela lei ignorante- incapazes para herdabens, contrair matrimnio, receber instruo, ter um trabalho adequadamente estimulante- e que lhes foram negadodireitos humanos fundamentais. Essa situao s comeoua ser remediada em meados do sculo XVIII, quando (talvcomo parte de um esclarecimento mais geral, talvez por uato especfico de empatia e gnio) a percepo e a situados surdos se alterou radicalmente. (Sacks, 1998, p.23)

    ? ??

    ? ?? SAIBA MAIS

    Acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_dos_surdos#AtC3.A9_.C3.A0_Idade_M.C3.A9dia

    A partir do sculo XVI, diferentes prticas metodgicas acerca da surdez comearam a ser desenvolvidAlgumas se baseavam nas lnguas orais-auditivaoutras defendiam o uso da lngua de sinais.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    14/56

    14 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    S (1999) explana que houve um momento nahistria em que os surdos comearam a se comunicaratravs do Manualismo, tentativa de falar por outrocanal que no o udio-fonatrio dos ouvintes. Em 1880ocorreu um grande evento que foi um marco na histria

    da educao dos surdos: o Congresso de Milo. A partirda, surgiu uma nova concepo de comunicao paraos surdos: o Oralismo, que visa a capacitar a pessoasurda a utilizar a lngua da comunidade ouvinte na moda-lidade oral, de forma que seja possvel o uso da voz e daleitura labial nas relaes educacionais e sociais. Com oOralismo, as pessoas surdas eram consideradas comopessoas que necessitavam ser normalizadas culturaouvinte. Embora se constatasse que o mtodo oralistano era eficaz, este continuava a ser recomendado, poisos pesquisadores da poca acreditavam que essa seriaa nica maneira de o surdo integrar-se sociedade eque, se o surdo fracassasse na comunicao oral, seriaconsiderado como limitado.

    S (1999, p. 75) explica que o Congresso de Miloimps a superioridade da lngua falada com respeito lngua de sinais, e decretou, sem fundamentaocientfica alguma, que a princpio deveria constituir,como se tem dito, o nico objeto de ensino. A mesmaautora afirma ainda que o Brasil seguiu as diretrizesinternacionais, mas foi somente a partir da dcada de50 que a abordagem oralista atingiu seu pice, coma proibio, inclusive nas escolas especializadas, dalngua de sinais, pois esta era concebida apenas comoum conjunto de gestos sem estrutura gramatical, umaespcie de pantomima.

    Anos aps a insero do Oralismo, surgiu uma novaproposta de educao para os surdos: a da Comunica-o Total que, diferentemente do Oralismo, no possuium fato histrico definido. Sua histria se inicia a partirdas insatisfaes manifestadas mundialmente quantoaos resultados da educao oralista, que, aps haverexposto diversas geraes de surdos sua orientao,no apresentou resultados satisfatrios.

    Comunicao Total foi o nome adotado para umanova alternativa educacional, na rea de atendimentos pessoas surdas. Subentende-se como uma defesada utilizao de todos os recursos disponveis paraestabelecer um contato com pessoas surdas. Nesseaspecto, percebemos que a relao surdo-ouvinte torna-se prioritria, excludo assim a relao surdo-surdo,pois enfatiza a lngua na modalidade oral como a maisimportante para a comunicao, posto que a lngua desinais deve ser respeitada em seu status lingustico.

    Aps a entrada das ideias da Comunicao TotaBrasil, na dcada de 80, linguistas brasileiros coaram a se interessar pelo estudo da Lngua Braside Sinais (LIBRAS), considerada por educadorpesquisadores como uma lngua natural, import

    para o envolvimento afetivo e cognitivo do surdabordagem educacional com o Bilinguismo passser, ento, pesquisada. Somente a partir da comeaa ser vistas pesquisas relacionadas cultura surda

    Devido s proibies de compartilhar uma lncultural, o povo surdo ficou margem da sociedpor longos anos. Agora, no entanto, configurauma nova vertente. Rosa (2009, p. 19), autora surafirma que falar dos surdos na contemporaneidequivale a desfraldar a bandeira da cultura surda

    mostrar-se, erguer-se e poder sinalizar em pblico ser apontados ou observar risos zombeteiros e olhde piedade e curiosidade. Assim, descortinam-suniversalismos culturais. As identidades surdas pasa ser vistas como mltiplas e no esto mais presamodelos indivisveis. No mais modelamos os sua partir de representaes hegemnicas provinciapartir do momento que conferimos lngua de sinestatuto de lngua, o padro de normalidade passer visto como diferente. O surdo passa a ser vcomo membro de uma comunidade inteligente quidentifica pelo uso de uma lngua comum aos memdessa comunidade.

    Se as pessoas so diferentes, utilizam lngudiferentes para se comunicar e esto localizadas diferentes ambientes que exigem delas, para a ppria sobrevivncia, o desenvolvimento de divecapacidades, ento o que se pode encontrar no spessoas com mais ou menos capacidades de serebem sucedidas, mas pessoas com menos ou macapacidades de serem bem sucedidas em determinareas de conhecimento, sejam elas pessoas surdas ouvintes.

    As lnguas de sinais so atualmente consideradpela lingustica como lnguas naturalmente constitnum sistema lingustico e no mais como um probldo surdo ou como uma patologia da linguagem. apenas nas ltimas dcadas vm sendo desenvolvipesquisas sobre surdez a partir do ponto de vistauma comunidade lingustica diferente, pertencenuma modalidade de lngua visuoespacial.

    O ser humano possui estrutura ou faculdadcomo uma condio aplicvel s lnguas orais esuoespaciais que podero ser estruturadas a partir

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    15/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    15UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    elementos gramaticais. No ambiente em que se inserea lngua como recurso de comunicao, concentra-sea possibilidade da convivncia de uma ou mais lnguas,sobressaindo-se uma outra, considerando a naturezado sujeito. Nesse aspecto, toda criana pode, partindo

    de um nmero relativamente restrito de exemplos to-mados de uma determinada lngua, escolher a lnguaparticular para sua efetiva comunicao, se a mesmaestiver inserida num contexto familiar bilngue.

    O processo de aquisio das lnguas de sinais semelhante ao processo de aquisio das lnguasorais. Os estudos sobre as lnguas de sinais, atravs doprocesso de aquisio/desenvolvimento das lnguassinalizadas, as quais apresentam certas particulari-dades, fornecem novas perspectivas tericas sobre

    a linguagem humana.A faculdade da linguagem, no princpio, vai sedesenvolvendo quando cada criana est em plenainterao com um ambiente lingustico. A crianaouvinte, filha de pais ouvintes brasileiros, nasce ecresce em um ambiente lingustico em que se fala alngua portuguesa, e a informao gentica que essacriana traz o estado inicial da faculdade da lingua-gem. A partir desse input lingustico da lngua a que tal criana exposta, ela adquire a lngua portuguesa;contudo, se a criana surda, filha de pais surdossinalizadores1 brasileiros, exposta a um ambientelingustico de sinais, as informaes genticas queessa criana traz, mais os dados lingusticos da lnguade sinais a que est exposta, adquire a LIBRAS2 comolngua natural.

    Em relao s atividades pedaggicas desenvolvi-das com sujeitos surdos, pode-se perceber que, namaioria dos casos, o discente surdo sempre nor- teado pela obrigao de igualar-se cultura ouvinte,seguindo os fundamentos lingusticos, histricos,polticos e pedaggicos daquela cultura, sem levarem conta que, ao considerar o aluno surdo como umouvinte, a escola nega-lhe a singularidade de indivduosurdo, em especial quando o assunto o ensino dalngua portuguesa como L2, ou seja, segunda lnguapara surdos, quando nem sempre se fornece subsdiosde ensino da escrita e da leitura da lngua portuguesa

    1 Entendemos a expresso sinalizadores pessoas surdas que utilizam as ln-guas de sinais como meio de comunicao.

    2 Sigla utilizada como supresso do termo Lngua Brasileira de Sinais, formade comunicao e expresso utilizada pela comunidade surda no Brasil, cujosistema lingustico de natureza visual-motora, com estrutura gramaticalprpria.

    para alunos usurios de uma lngua gestual-visurespeitando a sua singularidade do Ser Surdo.

    Nesse sentido, a Escola deve ser entendida comespao poltico e democrtico por excelncia, on todos tm o direito de participar, onde as pessoase educam, crescem e participam efetivamente pao processo de construo da cidadania. Ademais,Escola deve ser um espao onde se precisa aprenda conviver com a diversidade e a diferena culturbuscando o respeito mtuo em seus processos aqusicionais.

    Por isso, a efetiva realizao do ensino de LngPortuguesa como L2 para crianas surdas precislevar em considerao as multiformas de aprendaprendendo-se junto, respeitando-se os ritmos

    possibilidades de cada educando, assegurando-se qu todos os alunos tenham interao em classe, tantcom os objetos a serem apreendidos, quanto com aprendizagem pela interao com os professorescolegas, com o objetivo de alcanar aprendizagecognitivas, psicomotoras, afetivas e socioculturaalm do direito de aprender a lngua de sinais comprimeira lngua, instituindo-se assim como lngmaterna.

    Partindo dessas consideraes, o objetivo bsic

    deste material de estudo servir como referencialapoio para o estudo e ensino da Lngua BrasileiraSinais, abrangendo diversos estudos que explanamampliam o entendimento dessa lngua de modalidavisuoespacial, a qual se configura como uma dimeso presente na Lngua Brasileira de Sinais.

    O trabalho est estruturado com a presente Introdo, discutindo brevemente a temtica de estudo.

    ? ??

    ? ?? SAIBA MAIS

    Voc sabia que o termo surdo-mudo no aceito pela maioriada comunidade surda? O termo surdo-mudo encarado comouma inadequalidade.O aparelho fonador de uma pessoa surda idntico ao de uma pessoa ouvinte! O que falta aos surdos a capacidade de ouvir a prpria fala, e, portanto de monitorar com o ouvido o som de sua voz. Por isso a fala de uma pessoa surda pode ser anormal na amplitude e no tom, apresentando a omisso de algumasconsoantes. Para sabe mais, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Surdo- mudo

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    16/56

    16 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    2 EDUCAO INCLUSIVA COM NFASEEM LIBRAS

    O sistema educacional brasileiro procura adaptar-se

    aos novos paradigmas educacionais. A ConstituioFederal de 1988, em seu artigo 205, preconiza que aeducao direito de todos e dever do Estado e dafamlia, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,o seu preparo para a cidadania e a sua qualificaopara o trabalho, assegurando o direito e o respeito sdiferenas.

    Estamos vivenciando a perspectiva da Incluso,dimenso social que postula princpios bsicos para ooferecimento de oportunidades e direitos iguais a todos,

    no importando suas diferenas. A fim de proporcionaraprendizagem significativa a todos, toma-se o reconhe-cimento das diferenas como o princpio bsico para oexerccio da prtica docente em ateno s diferenasem classes inclusivas, haja vista a perspectiva de quea educao inclusiva deve ser estruturada em um pro-cesso educacional que leve em considerao os limitese potencialidades de cada educando, utilizando-se asvias multissensoriais no processo de aprendizagem,no s pela viso e/ou audio, mas pela interao de todos os sentidos,.

    Todavia, o que se tem percebido, em grande parte,nas escolas pblicas municipais e estaduais em todoo Brasil so classes tidas como homogneas, prepon-derando sempre um ensino descontextualizado, semaprendizagem significativa, apenas mecnica e, por- tanto, desconectada da realidade dos educandos.

    Para (re)conhecer a multiplicidade dos sujeitos emsala de aula, espera-se que as escolas municipais eestaduais regulares ampliem e apliquem conhecimen- tos sobre as possibilidades humanas e a valorizaodas diversidades como fatores significativos para odesenvolvimento cognitivo e afetivo dos alunos, postoque aprender junto significa respeitar a histria e osritmos de cada um. Neste sentido, torna-se essencialo oferecimento de oportunidades educativas efetivas, afim de que os alunos possam se desenvolver conformesuas potencialidades.

    As caractersticas educacionais tidas como tradi-cionais diferem do que evidentemente necessriopara o novo paradigma escolar. A tradio compartilhadisciplinas padronizadas, estanques, sem referncias acontextos reais. A falta de sintonia entre necessidades

    formativas e realidade escolar reflete-se nos projpedaggicos inadequados, indo de encontro comque prescrevem os PCNs (2002): preciso semconsiderar a realidade do aluno e da escola.

    A sala de aula um espao poltico onde todosalunos devem ser estimulados a participar das ativdes desenvolvidas dentro e fora dela, tendo oportundes de interagir com colegas, professores, alcanaaprendizagem significativa-cognitiva-afetiva e so

    Nesse sentido, Silva (2001), reafirmando Vygotdiz que, para desenvolver-se como ser humano, omem necessita de mecanismos de aprendizagem auxiliem nos processos de desenvolvimento da lingem. A insero de um determinado indivduo emambiente cultural torna-se fator essencial para a c

    tituio como pessoa, que, colocada em contato cgrupos culturais heterogneos, possuir instrumene signos que possibilitaro o pleno desenvolvimenatividades, considerando-se os aspectos ideolgiceducacionais, culturais e cognitivos do indivduo.

    Sendo assim, se a classe inclusiva propiciar codies de aprendizagem significativa para todosalunos, poder contribuir tambm significativampara o desenvolvimento dos docentes, desde queobserve o processo pedaggico e de integrao e

    cacional, identificando objetivos e prticas pedagque propiciem a facilitao/promoo da aprendizasignificativa para todos os estudantes.

    Infelizmente, no que se refere ao mbito real emde aula, os resultados obtidos em estudos cientficacadmicos (BENTO, 2006) contradizem as leis pnizadoras da educao inclusiva.

    Crescem de maneira significativa, nos ltimos aas iniciativas voltadas para a Educao Inclusiva, teve incio nos Estados Unidos da Amrica. No B

    entende-se por Educao Inclusiva o processo incluso de alunos com necessidades especiais, cdificuldades de aprendizagem, surdez, cegueira deoutros, preferencialmente na rede regular de enscomo estabelece a Lei de Diretrizes e Bases, Le9.394/96, em seu artigo 58, captulo V. O documelegal admite ainda que, nos casos em que as necessides especiais do aluno impeam que ele se desenvsatisfatoriamente nas classes existentes, este terdireito de ser educado em classe ou servio especlizado. Mas, ao tratarmos da incluso, reportam-logo a idia de excluso que perdurou por longos na histria da humanidade.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    17/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    17UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    A sociedade segregou e ainda segrega uma grandeparte da populao: os negros, os ndios, os homosse- xuais, os surdos, cegos dentre outros. Surge, ento, anecessidade de se retratar tais aspectos, da a educaoinclusiva, com uma proposta de educar junto atravs

    de metodologias distintas, respeitando-se e atendendoas diversidades e as necessidades de todos os alunos;pois a classe inclusiva, ao propiciar condies de apren-dizagem significativa para todos os alunos, contribuir tambm significativamente para o desenvolvimentode qualquer aluno, independente de sua necessidade,atentando-se aos princpios da cidadania.

    Segundo Mazzota (1998), a defesa da cidadania edo direito educao das pessoas com necessidadesespeciais uma atitude recente na nossa sociedade. O

    reconhecimento dos direitos das pessoas com neces-sidades especiais no Brasil s aparece como polticaspblicas na dcada de 1990 a partir de movimentospela igualdade e respeito s diferenas, a exemplo daDeclarao de Salamanca.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    18/56

    18 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    3 A COMUNICAO COM AS MOS

    Os dedos da mo humana movem-se (com exceo dopolegar) por ao de tendes ligados a msculos no

    antebrao e de outros pequenos msculos que ligamas falanges. O polegar move-se ainda por ao dosmsculos flexores e rotadores, que se encontram napalma da mo, ligados ao primeiro metacarpal3. Estodivididos em polegar, dedo indicador, dedo mdio, ane-lar e dedo mnimo (WILLIAMS, DYSON, e WARWICK,1996) (Fig. 1).

    Figura 1: Dedos da moFonte:

    Para a maioria da populao a mo tem a funo b-sica de prender, de forma correta, objetos das atividadesquotidianas, mas, para a maioria dos surdos, a mo vaialm disso; serve tambm como canal de comunicao.Entretanto, nem todo surdo sinalizado; muitos sooralizados e outros no conhecem a LIBRAS, utili-zando outras formas de comunicao. As lnguas desinais possuem uma modalidade diferente das lnguasorais, pois as informaes lingusticas ocorridas entreos interlocutores so recebidas pelos olhos e produzidas

    pelas mos, diferentemente da modalidade das lnguasorais-auditivas, nas quais a informao recebida pelosouvidos e produzida/articulada pelo aparelho fonatrio-articulador e pelo sistema respiratrio.

    3 O metacarpo equivale a poro mdia da mo, i.e, o conjuntode ossos dos membros anteriores (ou das extremidades supe-riores, no homem) que articulam com os ossos do carpo e comas falanges proximais dos dedos, em todos os vertebrados queapresentam aqueles membros. O metacarpo formado pelos

    ossos metacarpais ou metacarpianos, que so em nmero decinco. Nos vertebrados com 5 dedos, o carpo formado por5 ossos alongados. No homem, o metacarpo que suporta apalma da mo (PINHEIRO, 2006, p. 36).

    MacNeilage (2008) considera a evoluo das me da boca paralelas, em vez de considerar que as m tivessem fornecido o trabalho inicial para o desenvmento da boca em relao linguagem. Fornece umgumento sobre como as mos acompanham a ln

    falada. Ambas formam uma unidade em que cada desempenha uma funo complementar. A boca enmensagem lingustica usando a capacidade lingucombinatria-sequencial da modalidade vocal-audenquanto a mo, simultaneamente, despacha umensagem imagstica. Dessa forma, a comunicahumana pode ocorrer de diversas maneiras, inclucom o uso das mos.

    Desde a Revoluo Industrial ocorrida na Euruma srie de mudanas tecnolgicas alterou o pro

    so de produo econmica e social, e as sociedadassistiram a invaso das indstrias, suplantando csuas mquinas o que era, at ento, alcanado atrada mo de obra humana, o que tornou urgente a nesidade de interao e domnio dessas novas tecnoloe sua linguagem prpria.

    A palavra linguagem sempre nos remete lnfalada, a todo discurso verbal, oral ou escrito que dianamente expomos em nosso idioma materno. existem variadas formas de linguagem no exatamrestritas ou sequer ligadas escrita ou oralidaNem sempre recorremos linguagem verbal, seja linguagem falada, nas lnguas orais, ou sinalizadaslnguas gestuais. A comunicao humana pode ocode diferentes formas. Falantes de uma mesma lnpodem lanar mo de outros recursos para se faentender. Sacks (1998) afirma que a existncia de lngua visual demonstra que o crebro humano em potenciais que nunca teramos imaginado e tamrevela a quase ilimitada flexibilidade e capacidadsistema nervoso, do organismo humano, quandodepara com o novo e precisa adaptar-se.

    Coelho Netto (1999) aponta que a linguagem deve ser entendida como simples sistema de sinzao, mas como matriz do comportamento humameio pelo qual o homem informa seus atos, vontasentimentos, emoes e projetos.

    Essas informaes podem ser transmitidas atravde desenhos, pinturas, esculturas ou quaisquer outmeios pelos quais a comunicao se faa concreti possvel, por exemplo, para qualquer indivduoliarizado com as regras de trnsito e seus sistementender quando deve seguir e quando deve parapretender atravessar uma via pblica sinalizada. A

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    19/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    19UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    ria das informaes que assimilamos e decodificamos, todos os dias, no inclui, como elemento principal damensagem, a palavra escrita ou a falada.

    Para Santaella (1983), a comunicao humana tam-bm se d atravs de imagens, grficos, sinais, luzes,cores, objetos, sons entre tantas outras possibilidades.Somos uma espcie animal to complexa, quanto socomplexas e plurais, com intrincadas combinaes designos, as linguagens que nos constituem como seressimblicos, isto , seres de linguagem.

    Coelho Netto (1999) nos ensina que uma mensa-gem qualquer composta pelo falante/emissor a partirde uma seleo promovida num repertrio de signos.Pode-se dizer que signo tudo aquilo que representaoutra coisa, ou melhor, algo que est no lugar de outra

    coisa. Assim, um signo aquilo que, sob certo aspecto,representa alguma coisa para algum. Dirigindo-se aessa pessoa, esse primeiro signo criar na mente destaum signo equivalente a si mesmo.

    Um contedo exposto por algum (emissor) a outrem(receptor) est sempre carregado de signos que devemser reconhecveis por quem recebe a informao. Porexemplo: algum que fale deurso polar para um ndioda Amaznia que nunca viu ou ouviu falar deste tipo deanimal. Existe o emissor e o receptor, porm, mesmo

    que os dois falem a mesma lngua, se o signourso polar no representa algo para o receptor, a mensagem noser compreendida, nem mesmo decodificada, porqueo ndio no teria na sua estrutura cognitiva a imagemmental de um urso polar.

    Segundo Battro (1976), um dos autores que inves- tigou a fundo a questo das imagens mentais foi JeanPiaget. Para ele, a percepo, a imitao e a imagemmental so as funes do imagtico que retratam osestados momentneos ou estticos da realidade. A

    percepo pura apenas fotografa o objeto, mas a ativi-dade perceptiva a movimentao cognitiva do sujeitopara entender o que est percebendo. Essa atividade deinterpretao imediata se deflagra na mente para que oindivduo possa produzir respostas e produzir insights.O insight pode ser estimulado a surgir constantementeatravs das experincias e relaes de troca direta como objeto. Essa troca emprica pode ser muito eficaz noestmulo do pensamento, auxiliando diretamente nacompreenso de novos conceitos.

    Tais conceitos referentes aos objetos da observa-o possuem um significante para sua representao,representante grfico ou sonoro, que o denomina ou

    referencia, e um conceito ou significado, construintelectual que lhe fornece atributos comuns. O cceito no individual e proporciona ao objeto metenuma classe, no o indivduo que assim decidmas o prprio sistema. J a significao pessoal

    intransfervel.Entende-se por significante, segundo Coelho Net- to (1999), a parte material do signo (o som que conforma ou os traos pretos sobre o papel brancformando uma palavra, ou os traos de um desenhque representa, por exemplo, um co) e por significado,o contedo veiculado por essa parte material. Nosigno sem significado.

    A palavraZOOLGICO o significante daquele local(objeto) onde se pode observar animais em jaulas s

    paradas por categorias (significado), mas as emoeimpresses e lembranas que cada um guarda e quso despertadas ao depararem-se com o significanZOOLGICO a significao pessoal que cada um da partir do que foi experienciado.

    Nas lnguas de sinais, os sinais so os significanteE sendo essas lnguas verbais, a literatura atual as trneste contexto, por isso temos o termo fonologialngua de sinais. Na verdade, tanto o significante quo significado so abstratos. O significante no po

    ser confundido com a realizao concreta dos sons gestos. Ao se pensar no signoZOOLGICO da LnguaBrasileira de Sinais, no relevante se o sinalizante reo sinal mais rapidamente ou de forma mais lenta; ouo sinalizante deixa os dedos das mos um pouco mafechados e tensos ou mais abertos e relaxados; se obraos formam 70 ou se formam 85; etc., tudo issso detalhes fonticos (da realizao concreta do sinmas o que apreendido pela mente so os detalhes fnolgicos (a realizao psquica do sinalZOOLGICO).Tendo em vista que o significante no a realizaconcreta do signo (mas sim uma representao menabstrata), o conceito de significante ou signo pode aplicar lngua oral ou lngua de sinais. Trata-se defenmeno psquico, que se realiza por meio de maisque uma modalidade (sonora ou gestual).

    Para Coelho Netto (1999), esta significao condde imediato, questo da denotao e conotao dsigno. De um signo denotativo pode-se dizer que elecula o primeiro significado derivado do relacionamentre um signo e seu objeto. J o signo conotativo pem evidncia outros significados que vm agregarao primeiro naquela mesma relao signo/objeto.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    20/56

    20 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    Todos esses agentes da comunicao (o emissor,o receptor, o objeto e seus significado e significante,provocando diversas significaes em cada indivduo),ganham novas personificaes quando colocadas nopalco das informaes geradas pela interao homem-

    sociedade.Faz-se importante tambm lembrar a distino entregesto e sinal. Muitos sinais apresentam formas ic-nicas, i.e., uma forma lingustica da lngua de sinais que tenta copiar o referente real das caractersticas visuais.Os sinais das lnguas visuoespaciais, como detalhare-mos mais adiante no estudo, pertencem ao conjuntode unidades mnimas que formam unidades maiores eso formados a partir da combinao dos parmetrosfonolgicos de configurao de mos, locao, movi-

    mento, orientao das mos e expresses no-manuais,dessa forma, so convencionais, ou seja, possuemsignificados combinados por um grupo social. J osgestos no apresentam correspondncia com os itenslexicais do padro adulto nas lnguas sinalizadas e noapresentam um contexto lingustico, mas constituem-seapenas como a arte da imitao.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    21/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    21UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    4 A LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS NA PERSPECTIVA DAEDUCAO INCLUSIVA

    O fato de uma pessoa no poder se comunicar namodalidade verbal no significa que incapaz de estabe-lecer formas de comunicao. A diferena sine-qua-non existente entre ouvintes e surdos que os primeiros uti-lizam a lngua oral-auditiva e os surdos usam a gestual-visual para a obteno do dilogo. No Brasil, a lnguade sinais utilizada pela comunidade surda denomina-se Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS), oficializada pelaLei Federal n. 10.436 de 24 de abril de 2002, a qual,em seu artigo 1, a conceitua como uma forma de

    comunicao e expresso com um sistema lingusticode natureza visual-motora, com estrutura gramaticalprpria [...], um sistema lingustico de transmisso deidias e fatos, oriundos de comunidades de pessoassurdas do Brasil4.

    Segundo Felipe (2004), diferentemente da Lngua,a linguagem a capacidade do homem de comunicar-se por meio de uma lngua, seja ela oral-auditiva ougestual-visual. O homem um ser social, que precisase comunicar e viver em comunidade. A linguagem

    verbal no a nica forma de o ser humano transmitirinformaes.Por isso, a importncia de se efetivar o ensino da

    LIBRAS como uma primeira lngua para os surdos,desde a mais tenra idade, configura-se em propiciar, omais cedo possvel, condies de desenvolvimento dacomunicao.

    Segundo Redondo (2001), o impedimento na audi-o faz com que pessoas surdas tenham maior acessoao canal visual, tornando a lngua de sinais a lngua

    materna para os surdos.A histria demonstra que, durante muito tempo, alngua de sinais ficou relegada a segundo plano, em vistada valorizao da lngua oral, falada pela comunidadeouvinte. Ao ter acesso LIBRAS e Lngua Portuguesa,o surdo tem ao seu alcance uma gama de recursoslingusticos que auxiliam no seu desenvolvimento cog-nitivo e pedaggico.

    De acordo com Felipe (2004), a lngua de sinais tem sua prpria estrutura gramatical e no pode ser

    4 Felipe (2004) explica que existem registros de uma outra lngua de sinais noBrasil, que utilizada pelos ndios Urubus-Kaapor na Floresta Amaznica.

    confundida com a mmica, pois se presta a funlingusticas como qualquer outra lngua oral, possuiorganizao interna que define seu conjunto de regprprias, em todos os nveis lingusticos, expressanos pensamentos mais complexos e as ideias mai

    abstratas, como todas as outras lnguas.Segundo Felipe (2001), os sinais em LIBRAS sformados:

    [...] a partir da combinao do movimento das mos comum determinado formato em um determinado lugar, podedo este lugar ser uma parte do corpo ou um espao emfrente ao corpo. Estas articulaes podem ser comparadaaos fonemas e s vezes aos morfemas, so chamadasde parmetros, portanto, nas lnguas de sinais podem serencontrados os seguintes parmetros: configurao dasmos; ponto de articulao; movimento; orientao/ direcionalidade; expresso facial e /ou corporal.

    O lxico pode ser definido como conjunto de palavde uma lngua. Na LIBRAS, as palavras ou itens lexso os sinais. Contudo, tradicionalmente pensa-se qas palavras ou sinais de uma lngua de sinais cons tuda a partir do alfabeto manual (Figura 2).

    O alfabeto manual geralmente usado para exprsar nomes prprios, localidades e outras palavras qno possuem um sinal especfico. Alm do que, mesma forma como ocorre nas lnguas orais, temos emprstimos lingusticos nas lnguas sinalizadas, loalgumas vezes uma palavra da lngua portuguesa, qpor emprstimo passou a pertencer LIBRAS, podeexpressa pelo alfabeto manual com uma incorporade movimento prprio desta lngua, sendo ento apsentada pela soletrao ou parte da soletrao.

    Assim, por exemplo, quando uma pessoa quer aprsentar algum a outrem, primeiro soletrar seu nomeportugus, em se tratando de Brasil, atravs do alfabmanual, e se, esta pessoa tiver um nome (sinal) eLIBRAS, este ser articulado logo em seguida.

    Ex.: (C A R L A )C a r L a

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    22/56

    22 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    ALFABETO MANUAL DA LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

    Figura 2: Alfabeto Manual da Lngua Brasileira de SinaisFonte: Bento, 2010

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    23/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    23UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    5 A FONTICA, A FONOLOGIA E AMORFOLOGIA NAS LNGUAS DE SINAIS

    A fonologia o ramo da lingustica que estuda osfonemas de uma lngua levando em conta sua capaci-dade distintiva, tomando-os como unidades sonorascapazes de gerar diferena de significados, i.e, o objetode estudo da fonologia o fonema. Quadros e Karnopp(2004) afirmam que a principal tarefa da fonologia, noque concerne s lnguas de sinais, determinar quaisunidades mnimas formam os sinais. A segunda tarefaconsiste em estabelecer padres possveis de combina-o entre unidades e variaes no ambiente fonolgico.Em se tratando das lnguas orais-auditivas, a Fontica a cincia que se dedica ao estudo da realidade fsico-

    articulatria dos sons produzidos pelo aparelho fonadorhumano. Tem, portanto, como interesse, a descrio,classificao e transcrio dos sons da fala. O objetode estudo da fontica nas lnguas orais o fone (som).Nas lnguas de sinais, o principal objetivo da Fontica descrever as unidades mnimas dos sinais. Quanto Fonologia, presta-se ao estudo dos sons de uma lnguado ponto de vista funcional. Assim, tem a funo de ana-lisar os sons capazes de opor significados e observarcomo estes sons se organizam e se combinam paraconstituir unidades lingusticas e estabelecer a relaolngua e mente.

    Segundo Karnopp (1999), nas lnguas de sinais, osarticuladores primrios so as mos, que se movimen- tam no espao em frente ao corpo. Um sinal pode serarticulado com uma ou duas mos. Um mesmo sinalpode ser articulado tanto com a mo direita quanto coma mo esquerda sem ocasionar mudana significativa,e portanto, no distintiva. Sinais articulados com umamo so produzidos pela mo dominante5, sendo quesinais articulados com duas mos tambm ocorreme apresentam restries no que se refere ao tipo deinterao entre ambas as mos.

    MacNeilage (2008) demonstra que a diferenabsica entre a fala humana e os sistemas de outrosmamferos se encontra no componente articulatrio.Com exceo de poucas palavras que consistem emuma nica vogal, quase todos os enunciados de cadafalante das lnguas do mundo envolvem uma alternnciaentre as configuraes aberta para a vogal e fechadapara a consoante do trato vocal. O autor prope a Teoria Frame, The Content correspondente, inicialmente, a

    5 Tipicamente direita para destros e esquerda para canhotos.

    uma metfora para descrever os espaos-temporaisbioqumicos do balbucio. Assim, afirma-se que a fse distingue de outros tipos de comunicao animal termos de movimentos, pelo fato de que h um tercenvel articulatrio de ciclicidade modulada. O autor

    consideraes acerca da origem interna dos modelospalavras, afirmando que as primeiras palavras articudas por falantes das lnguas orais so preferencialmeCV (Consoante+Vogal). As crianas, inicialmente,desenvolverem a slaba, vo num contnuo de totalmfechado para totalmente aberto (as oclusivas e nasaso bsicas; as alveolares so favorecidas, mas asvelares so desfavorecidas).

    Alm da anlise evolutiva das primeiras palavnas lnguas orais, MacNeilage (2008) tambm te

    consideraes acerca das lnguas de sinais. Para elo desenvolvimento-chave da cincia cognitiva concluso de que as lnguas de sinais para os surdoso lnguas naturais, assim como as lnguas orais snaturais para os ouvintes, diferindo nas modalidadfonolgicas. O autor afirma que no h razes paacreditar que a organizao detalhada dos componenfonolgicos das lnguas orais e das lnguas de sinapossam ser comparados por uma srie de razes. A priori , no h motivos para acreditar que o mtodFrame, The Content possa ser adaptado pelas lnguasmanuais pela forma como essa modalidade de lng transmitida. Desta maneira, de acordo com o ponde vista desse pesquisador, a organizao bsica docomponentes fonolgicos das lnguas orais e manupossui modalidades especficas.

    Do ponto de vista da perspectiva da cognio coporal subjacente teoria de MacNeilage (2008), nh porque acreditar que a organizao detalhada dcomponentes fonolgicos da fala e da lngua de sinsejam comparveis em termos lingusticos. MacNeilprops que a evoluo da fala envolveu o aproveitam to de uma ciclicidade pr-existente (da mandbula)aumento da sua complexidade a fim de potencializcapacidade de transmisso da mensagem. Por isso, nexiste como imaginar que este mtodo tivesse ocorrpelo canal visomanual.

    Mesmo existindo diferena de modalidade de pcepo e produo das lnguas orais e das lnguavisuoespaciais, utilizaremos no nosso trabalho o terFonologia, consoante Karnopp (1994). Apesar termo fonologia pertencer s lnguas orais, a autapresenta uma justificativa para seu uso nas lngugestuais, pois aps algumas tentativas de atribuir out

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    24/56

    24 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    nomenclaturas tais como cheremes e allochers,chegou-se concluso de que uma ao mais apro-priada e prtica seria conservar os termos fonemas,fonologia e alofone, pois j se encontram estabe-lecidos e convencionalizados na Lingustica aplicada

    s lnguas naturais.[...] da mesma forma que as lnguas orais, as lnguas de si-nais apresentam uma organizao material de constituintes,fechada e convencional, correspondente s possibilidadesda modalidade gestual-visual. Os mecanismos dessa orga-nizao, denominados fonologia, apesar de no ser o somo material que lhe serve de base, tm os mesmos princpiossistmicos das lnguas orais. (KARNOPP, 1994, p. 33)

    Quadros e Karnopp (2004) apresentam uma anlisehistrica sobre a origem dos estudos das lnguas namodalidade visuoespacial constitudas como lnguas na- turais. Afirmam que os estudos lingusticos das lnguasde sinais iniciaram com o linguista americano WilliamStokoe (1960) na dcada de 60 e suas pesquisas sobrea estrutura da lngua de sinais americana. Inicialmente,Stokoe props que a lngua de sinais americana pos-sua trs parmetros fonolgicos que no carregavamsignificados isoladamente. Concordando com Stokoe,MacNeilage (2008) afirma que as lnguas de sinais tambm so organizadas com esse trs parmetrosbsicos, constitudas como unidades mnimas naslnguas gestuais (Fig. 4).

    Figura 3: Parmetros Bsicos das Lnguas de SinaisLegenda: CM- Configurao de Mos, L-Locao, M-Movimento.

    Fonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.6

    6 Bento, 2010b refere-se ao acervo de imagens da autora. No pulicado.

    Primeiramente, Stokoe (1960) realizou uma pesqde descrio do sistema estrutural da lngua de siamericana, demonstrando que a produo dos sindeveria ser observada como parte de um todo. Esanlises influenciaram o ramo da lingustica e pro

    cionaram o avano nas pesquisas na rea. Atualmeas lnguas de sinais so consideradas pelos linguiscomo lnguas naturais que compartilham princpiogusticos assim como as lnguas orais, j que possuum lxico e uma gramtica prpria. Segundo QuadKarnopp (2004), h uma diferena fundamental entlnguas de sinais e lnguas faladas no que diz resp estrutura simultnea de organizao dos elemendas lnguas de sinais: enquanto as lnguas faladapresentam uma ordem linear entre os fonemas,lnguas de sinais apresentam uma simultaneidadsequencialidade na articulao dos fonemas.

    Durante muitas dcadas, as lnguas de sinais forcaracterizadas como algo rudimentar, pantommiprimitivo. Stokoe (1960) comprovou que isso eramito e que a lngua de sinais poderia expressar pementos abstratos. Segundo Quadros e Karnopp (20e Felipe (2004), a lngua de sinais capaz de expreno s emoo, mas tambm permite a seus usura discusso sobre qualquer tema, seja ele abstratoconcreto, de modo to econmico, eficaz e gramaquanto qualquer lngua falada.

    Assim como as lnguas orais apresentam unidamenores do sistema de sons, a lngua de sinais apresum conjunto de unidades menores que so compospelas configuraes de mos, pelas locaes e pemovimentos. As caractersticas das unidades mnidas lnguas faladas so de natureza acstico-sonoUm som considerado fonmico nas lnguas orais qdo sua substituio em um lxico causa uma mudade significado:[ ], [ ]. Nas lnguas de sinais, ascaractersticas das unidades mnimas dos sinais sespaciais. Dessa forma, os fonemas da Lngua Brleira de Sinais so estruturados simultaneamenteespao de sinalizao, assim, as unidades mnimas lnguas sinalizadas se organizam a partir dos parmfonolgicos de Configurao de Mos- CM, PonArticulao- PA, Movimento-M, O (Orientao)(Expresso no-manual). Logo, a principal diferestabelecida entre as lnguas orais e as lnguas de si a presena linear entre os fonemas das lnguas ora

    a ausncia nas lnguas de sinais, pois os fonemas dlnguas visuoespaciais so articulados simultaneame sequencialmente.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    25/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    25UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    O espao de realizao dos sinais consideradofinito (FERREIRA-BRITO, 1990). A partir desse espaode enunciao, pode-se determinar um nmero finitode pontos, que so denominados PA (Ponto de Arti-culao).

    Figura 4: Espao de sinalizao das Lnguas de SinaisFonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

    Consoante Felipe (2004), afirmamos que a lngua desinais tem sua prpria estrutura gramatical e no podeser confundida com a mmica, possuindo organizaointerna que define seu conjunto de regras prprias, em todos os nveis lingusticos, expressando os pensamen- tos mais complexos e as ideias mais abstratas, como todas as outras lnguas naturais.

    Segundo Felipe (2004, p. 22), os sinais em LIBRASso formados:

    [...] a partir da combinao do movimento das mos comum determinado formato em um determinado lugar, poden-do este lugar ser uma parte do corpo ou um espao emfrente ao corpo. Estas articulaes podem ser comparadasaos fonemas e s vezes aos morfemas, so chamadasde parmetros, portanto, nas lnguas de sinais podem serencontrados os seguintes parmetros: configurao dasmos; ponto de articulao; movimento; orientao/direcio-nalidade; expresso facial e /ou corporal.

    Os sinais so produzidos a partir do movimento dasmos com um determinado formato em um determinadolugar, combinados a uma orientao/direcionalidade e

    expresso facial e/ou corporal. Para produzirmos essinais, envolvemos praticamente todo o corpo: cabe(rosto, testa, orelha nariz, boca, olhos, sobrancelhabochechas), mos (dedos), braos (antebraos, co tovelo) tronco (pescoo, ombro, busto, estmag

    cintura).O lxico tem sido tradicionalmente definido comconjunto de palavras de uma lngua (PERINI, 2p. 342). Na LIBRAS, as palavras ou itens lexicais os sinais.

    Para Felipe (2004), a LIBRAS, como qualquer ln tambm apresenta variaes regionais: Exemplo variedades regionais na LIBRAS:

    Figura 5: Variedade Regional do Sinal CULTURA da LIBRFonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

    Figura 6: Variedade Regional do Sinal FERIADO da LIBRASFonte: BENTO, 2010. Acervo da autora.

    Na Lngua Brasileira de Sinais, cinco parmetfonolgicos podem ser efetivamente tratados e delhadamente descritos:

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    26/56

    26 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    Figura 7: Os Parmetros Fonolgicos da Lngua de SinaisFonte: BENTO (2008)7

    Configurao das mos (CM) so as formas dasmos e que podem ser da datilologia (alfabeto manual)ou demais formas feitas manualmente;Locao ouPonto de Articulao (PA) lugar onde incide a moconfigurada, podendo, at mesmo, tocar parte do cor-po ou estar em um espao neutro vertical;Movimento(M) os sinais podem ter movimentos ou no, paraindicar a sua informao;Orientao / direcionalidade(Or) os sinais possuem uma direo, relacionadoscom os demais parmetros; eExpresso no-manual(ENM) extremamente importante para a compreensoda mensagem, pois serve como diferenciador, atuandocomo complemento dos sinais manuais, a fim de se termaior entendimento da informao a ser passada.

    Conforme afirmado anteriormente, as lnguas de sinaisapresentam como caracterstica especfica a simultanei-

    dade na articulao dos fonemas. Assim, uma mesmaCM e um mesmo movimento, com locao diferente,resulta em mudana de significado, formando um parmnimo. Pizzio (2006) afirma que os pares mnimos naslnguas de sinais tambm so encontrados a partir CMe do M, evidenciando a existncia das unidades semsignificados na lngua que implicam mudana de sig-nificado da palavra. O valor contrastivo dos parmetrosfonolgicos ilustrado na Figura 9, em que se observa

    7 Imagem apresentada por Nanci Bento em folder explicativo naapresentao da Disciplina LET 594 Psicolingustica Aplicadaao Portugus I, Mestrado em Letras e Lingstica da UniversidadeFederal da Bahia, sob orientao de Dra. Elizabeth Reis Teixeira,2008.

    que o contraste de apenas um dos parmetros altersignificado dos sinais. Na figura, apresentam-se sinais distintos, um verbo e um substantivo, a partuma mesma configurao de mo (em L), diferenciadospelo ponto de locao e pelo movimento, descritacordo com Capovilla e Raphael (2001):

    SINAL TRABALHAR1: Mo direita e esquerda naConfigurao de MoL, palmas para baixo na altu-ra da cintura. Mov-las duas vezes alternadamenpara frente e para trs.

    SINAL VDEO: Mo direita e esquerda na Configu-rao de Mo emL, palmas para baixo na altura dacaixa torcica. Mov-las uma vez para frente.

    Figura 8: Sinais da LIBRAS que se opem ao Parmetro de MovimFonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

    Para que haja o parmetro fonolgico Movimennecessrio haver objeto e espao. Nas lnguas de sina mo do enunciador representa o objeto, enquanespao em que o movimento se realiza a rea torno do enunciador. O movimento definido c

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    27/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    27UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    um parmetro complexo que pode envolver uma vastarede de formas e direes, desde o movimento internodas mos, os movimentos do pulso e os movimentosdirecionais no espao.

    O parmetro fonolgico CM considerado por Qua-dros e Karnopp (2004) como um articulador primrio daslnguas de sinais, sendo um parmetro mais primitivo,pois no existe sinal sem configurao de mo. Um sinalna lngua de sinais pode ser articulado com a mo esquer-da e com a mo direita ou com ambas, mas tal mudanano distintiva. Cabe ao investigador de uma lngua desinais identificar as configuraes de mos, locaes emovimentos que possuem um carter distintivo, pois ovalor contrastivo desses parmetros alterar o significa-dos dos sinais, conforme visto na Figura 10:

    SINAL PEDRA: Mo esquerda em A na altura doqueixo, bater duas vezes para frente e para trs(DQA)

    SINAL QUEIJO: Mo direita em L horizontal, palmapara dentro, indicador apontando para a esquerdaem frente ao queixo. Mov-la em arco para dentro epara baixo, passando a palma do indicador na pontado queixo, duas vezes.

    Figura 9: Sinais da LIBRAS que se opem ao Parmetro de CMFonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora..

    A Figura 11 traz exemplo de sinais que se opequanto ao parmetro fonolgico de Ponto de Articulou Locao (sinais para SBADO e APRENDER). Aapresentam caractersticas idnticas, distinguindo-apenas pelo ponto de articulao. O primeiro arti

    lado na boca e o segundo na testa, sendo diferenciadpelo contexto da sinalizao, a seguir exemplificad

    SINAL APRENDER: Mo direita em S vertical, pal-ma para a esquerda, tocando a testa. Abrir e fechaligeiramente a mo duas vezes

    SINAL LARANJA OU SBADO:(a depender do con- texto da sinalizao): Mo direita em S vertical, pma para a esquerda, diante da boca. Abrir e fechaligeiramente a mo.

    Figura 10: Sinais da LIBRAS que se opem aoParmetro de Ponto de Articulao

    Fonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

    Ao realizarmos a produo do sinal REUNIR, cfigurado por: palmas para frente, lado a lado. Moas mos em um arco para os lados opostos e parafrente, virando as palmas para dentro, aproximandas, utilizando a configuraoR ouG, temos um exemplo

    de alofonia na Lngua Brasileira de Sinais, pois nenhdessas alteraes de realizao causou mudana dsignificado:

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    28/56

    28 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    SINAL REUNIR: Mos configuradas emR, palmaspara frente, lado a lado. Mover as mos em um arcopara os lados opostos e para frente, virando as pal-mas para dentro, aproximando-as.

    SINAL REUNIO: Mos configuradas emG, palmaspara frente, lado a lado. Mover as mos em um arcopara os lados opostos e para frente, virando as pal-mas para dentro, aproximando-as.(DQA)

    Figura 11: Sinais da LIBRAS que apresentam Alofonia.Fonte: CAPOVILLA e RAPHAEL, 2008, p. 1144 / A Autora

    A Morfologia o estudo da estrutura, da formaoe da classificao das palavras de uma determinadalngua, i. e., cabe Morfologia o estudo da estruturainterna ou das regras que determinam a formao daspalavras nas lnguas orais ou dos sinais nas lnguasvisuoespaciais. A Lngua Brasileira de Sinais apre-senta mecanismos especficos para a organizao e

    composio dos vocbulos. Os morfemas e sinais socompostos atravs da combinao dos cinco parme- tros fontico-fonolgicos de configurao de mos,movimento, locao, orientao da mo e expressono-manual.

    5.1 DISCUSSO SOBRE OS CINCO PARME-TROS FONOLGICOS DA LNGUA BRASILEI-RA DE SINAIS

    A partir dos estudos de Stokoe (1960), novas pes-quisas sobre as lnguas de sinais surgiram. Anlisesrecentes incorporam aos parmetros de CM, M e L

    mais dois parmetros: a orientao de mo e as presses no-manuais. Assim, a Lngua BrasileirSinais possui cinco parmetros fonolgicos, confodiscutidos a seguir.

    5.1.1 Parmetro 1 - Configurao de M(CM)

    Refere-se (s) forma(s) especficas formadas coa(s) mo(s) que so usados em lnguas de sinais, coa Lngua Brasileira de Sinais, a Lngua Americasinais, a Lngua Francesa de Sinais e assim sucessmente, i.e, consiste na forma real da mo que estamusando para produzir um lxico nas lnguas de sin considerado um articulador primrio das lngua

    sinais, sendo o parmetro mais primitivo, pois no esinal sem configurao de mo. A CM usada coorientao, o movimento e a localizao (e s vecom os marcadores no-manuais) para descrever sinal. Todo sinal deve ter um conjunto exclusivo dorientao, localizao e movimento.

    Figura 12: Configuraes de Mos do Nvel Fontico da LIBRAFonte: PIMENTA, 2006.

    Conforme Ferreira-Brito (1995) e Quadros e Ka(2004), a LIBRAS apresenta 46 configuraes de mem se tratando de manifestaes do nvel fontico

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    29/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    29UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    configuraes de mos da Lngua Brasileira de Sinaisforam agrupadas verticalmente de acordo com a seme-lhana entre elas, mas sem uma identificao enquantoconfiguraes de mos bsicas ou configuraes demos variantes.

    Figura 13: Configuraes de Mos do Nvel Fontico da LIBRAS / 2Fonte: KARNOPP e QUADROS, 2004, p. 53.

    Karnopp (2009) afirma que foneticamente no hlimites para o levantamento de quantos fones h naslnguas de sinais. Assim, de acordo com a percepode cada um, poder ser para uns 20, para outros 30,40, 50 e assim sucessivamente. Isso decorre porque no nvel fontico que se est tratando. No entanto,no nvel fonolgico, as unidades so limitadas e aindano possumos um estudo que defina quais so asunidades que compem o sistema fonolgico. Karnopp(2009) afirma que isso foi tambm deixado de lado namedida em que outras teorias comearam a aparecer,por exemplo: a teoria dos traos distintivos, a teoria dadependncia, etc.

    5.1.2 Parmetro 2 Ponto de Articulao(PA)

    Refere-se ao lugar onde a mo predominante congurada, ou seja, local onde feito o sinal, podendo toalguma parte do corpo ou estar em um espao neutSegundo Quadros (1997), as quatro principais regiem que um sinal pode ser articulado so: cabea, m tronco e espao neutro (Fig. 14).

    Figura 14: Espao de Realizao dos sinais da LIBRAS/ 1Fonte: QUADROS, 1997, p. 49.

    Karnopp (1994; 1999a) e Quadros (2008) afirmaque na realizao dos sinais da LIBRAS, envolvempraticamente todo o corpo, o que significam vripontos de articulao como: tronco (pescoo, ombrcintura, estmago), cabea (rosto, testa orelha nariz, boca, olhos, sobrancelhas, bochechas) e m(dedos).

    Figura 15: Espao de Realizao dos Sinais da LIBRAS/ 2Fonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    30/56

    30 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    5.1.3 Parmetro 3 Movimento (M)Os sinais podem ter um movimento ou no.

    Esse parmetro fonolgico consiste no deslocamentoda Configurao de Mos, durante a realizao de um

    determinado sinal. Por exemplo, os sinais PENSAR eEM-P no possuem movimento:

    SINAL PENSAR:Mo direita em1, palma paraa esquerda, ponta do indicador tocando o ladodireito da testa.

    SINAL EM-P: Mo esquerda horizontal aberta,palma para cima, dedos para direita; mo direita

    emV invertido, palma para dentro, dedos parabaixo, com pontas dos dedos tocando a palmaesquerda.

    Figura 16: Sinais da LIBRAS que no possuem movimento.Fonte:BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

    J os sinais EVITAR e TRABALHAR possuem oparmetro movimento:

    SINAL EVITAR:Mo direita em Y, palma para bai- xo, dedos apontando para a esquerda, ponta dpolegar tocando o lado direito da testa. Girar

    mo pelo pulso para frente, virando a palma pafrente.

    SINAL TRABALHAR8: Mo emL horizontal, pal-mas para baixo, na altura da cintura. Mov-laalternadamente, para frente e para trs, duas v

    zes.Figura 17: Sinais da LIBRAS que possuem movimento.Fonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

    8 As descries das formas ou composies quirmicas dos sinais destebalho foram retiradas do Dicionrio Enciclopdico Ilustrado Trilngue dde Sinais Brasileira, primeiro dicionrio de LIBRAS do Brasil, desenpor Capovilla e Raphael (2001). O corpo do dicionrio contm os sinacorrespondem a 9.500 verbetes em Portugus e Ingls e ilustraesSignwriting. Signwriting um sistema internacional de escrita visual lnguas de sinais, criado por Valerie Sutton, a partir da dcada de 70.sistema transcreve os quiremas que compem as unidades bsicas das

    guas de sinais. Alguns sinais transcritos no corpus do texto no possudescrio quirmica no dicionrio. Em decorrncia disso a autora desco sinal conforme caractersticas semelhantes de Capovilla e Raphael (2As descries feitas pela autora possuem a identificao DQA (DesQuirmica realizado pela autora).

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    31/56

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    32/56

    32 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    Movimento sinuoso

    SINAL MAR: Fazer o sinal de gua. Em seguida,mo horizontal aberta, palma para baixo, dedosseparados. Mover a mo direita para a direita,com movimentos ondulatrios.Figura 22: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Sinuoso

    Fonte: STROBEL e FERNANDES (1998); CAPOVILLA e BENTO,2010(b). Acervo da autora.

    Movimento angular

    SINAL PIPA:Mo direita emA, palma para a es-querda, indicador destacado na altura da cabea.Mov-la para baixo, com movimento ziguezague,duas vezes.Figura 23: Exemplo de Sinal da LIBRAS com Movimento Angular.

    Fonte: STROBEL e FERNANDES (1998); BENTO, 2010(b).Acervo da autora.

    Ferreira-Brito (1990) classifica os movimentoacordo com o tipo, a direcionalidade, a maneirafrequncia. Tal classificao tambm exposta Quadros e Karnopp (2004):

    Categorias do parmetro movimentona Lngua Brasileira de Sinais

    (FERREIRA-BRITO, 1990)TIPO

    Contorno ou forma geomtrica: retilneo, helicoidal,semicircular, sinuoso, angular, pontual; Interao: alternado, de aproximao, de separa-o, de insero, cruzado;Contato: de ligao, de agarrar, de deslizamentode toque, de esfregar, de riscar, de escovar ou dpincelar;Torcedura do pulso: rotao, com refreamento; Dobramento do pulso: para cima, para baixo; Interno das mos: abertura, fechamento, curva-mento e dobramento (simultneo/gradativo).

    DIRECIONALIDADE

    Direcional

    - Unidirecional: para cima, para baixo, para a direi- ta, para a esquerda, para dentro, para fora, paracentro, para a lateral inferior esquerda, para a lateinferior direita, para a lateral superior esquerda, pa lateral superior direita, para especfico ponto rerencial;- Bidirecional: para cima e para baixo, para a esquer-da e para a direita, para dentro e para fora, para larais opostas superior direita e inferior esquerda.No-direcional

    MANEIRAQualidade, tenso e velocidade- contnuo- de reteno- refreado

    FREQUNCIA

    Repetio- simples

    - repetidoQuadro 1: Categorias do Parmetro Movimento na LIBRAS

    Fonte: QUADROS e KARNOPP, 2004, p. 56.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    33/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    33UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    5.1.4 Parmetro 4 Orientao/ Direciona-lidade

    Os sinais tm uma direo com relao aos par-metros acima. Assim, os verbos IR e VIR se opem emrelao direcionalidade, por exemplo:

    SINAL IR: Mo direita em 1 inver tido, palma paradentro, indicador apontando para baixo. Mover amo para frente, virando a palma para baixo ededo indicador apontando para frente.

    SINAL VIR: mo direita l, palma para a esquerda,brao ligeiramente distendido, na altura do ombro

    direito. Mover a mo em um arco para a esquerdae para baixo, inclinando o indicador para baixo.

    Figura 24: Exemplo de Sinais da LIBRAS que se opemem relao Direcionalidade.

    Fonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

    Strobel e Fernandes (1998) afirmam que a lnguade sinais brasileira possui a direcionalidade do movi-mento Unidirecional, Bidirecional e Multidirecional. Umparmetro de configurao de mo que envolve umadireo Unidirecional consiste em um movimento emuma direo no espao, durante a realizao de umsinal, SENTAR, por exemplo:

    SINAL SENTAR: Mo esquerda em U horizontal, pal-ma para baixo; mo direita em U horizontal, palmpara baixo, dedos curvados. Tocar a palma dos dedos direitos no dorso dos dedos esquerdos.

    Figura 25: Exemplo de Sinais da LIBRAS comMovimento Unidirecional.Fonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

    Um sinal que envolve o movimento Bidirecionrealizado por uma ou ambas as mos, em duas dirediferentes, o sinal COMPRIDO, por exemplo:

    SINAL COMPRIDO:Mos verticais abertas, pal-mas para frente e inclinadas uma para a outra,indicadores e polegares unidos pelas pontas, tocando-se. Mover a mo direita para a direitabalanando-a rapidamente para os lados. Opcionalmente expresso facial de descontentamento

    Figura 26: Exemplo de Sinais da LIBRAS comMovimento Bidirecional. Fonte: BENTO, 2010(b).

    Acervo da autora.

    O movimento multidirecional o que explora vdirees no espao, durante a da configurao de ma exemplo do sinal PESQUISAR:

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    34/56

    34 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    SINAL PESQUISAR:Mo esquerda horizontalaberta, palma para a direita; mo direita em D ho-rizontal, palma para baixo, indicador apontandopara frente, lateral do indicador direito tocandoa base do pulso esquerdo. Mover a mo direitapara frente e para trs, com movimentos curtos.Figura 28: Exemplo de Sinais da LIBRAS com Movimento

    Multidirecional.Fonte: BENTO, 2010(b). Acervo da autora.

    5.1.5 Parmetro 5 Expresso No-ManualAs expresses faciais/corporais ou no-manuais so

    de fundamental importncia para o entendimento realdo sinal, sendo que a entonao em Lngua de Sinais feita pela expresso facial. Consoante Quadros, Pizzio eRezende (2007), as expresses faciais possuem duasfunes distintas nas lnguas gestuais: inicialmente,para expressar emoes, assim como nas lnguasfaladas, e, por ltimo, marcar estruturas gramaticaisespecficas das lnguas de sinais, como as oraesrelativas, servindo para diferenciar funes lingusti-cas, uma caracterstica nica das lnguas gestuais. Asexpresses no-manuais no nvel morfolgico estorelacionadas ao grau de intensidade; possuem funoadjetiva, posto que podem ser incorporadas ao substan- tivo independente da produo de um adjetivo, conformeexemplo nas Figuras 4 e 5, nas quais so exemplificadasas possibilidades relacionadas ao grau de intensidade e tamanho na Lngua Brasileira de Sinais. Embora estassinalizaes estejam presas a um determinado sinal,Quadros, Pizzio e Rezende (2007) no seccionaramsinais para serem exemplificados.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    35/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    35UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    GRAU DE INTENSIDADE NA LIBRAS

    Pouca intensidade

    Normal

    Mais intensidade do que onormal

    Mais intenso

    Quadro 2: Grau de Intensidade na LIBRASFonte: QUADROS, PIZZIO e REZENDE, 2007, p. 4.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    36/56

    36 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    GRAU DE TAMANHO

    Muito menor do que onormal

    Menor do que o normal

    Normal

    Maior do que o normal

    Muito maior do que onormal

    Quadro 3: Grau de Tamanho na LIBRAS

    Fonte: QUADROS, PIZZIO e REZENDE, 2007, p. 4.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    37/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    37UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    No nvel da sintaxe, as expresses no-manuaisso responsveis por determinados tipos de constru-es, tais como sentenas interrogativas, negativas,afirmativas, relativas, condicionais e construes com tpico e foco. Dentre as expresses faciais utilizadas

    gramaticalmente esto os movimentos de cabea paraexpressar negativamente ou afirmar; direo do olhar,elevao ou abaixamento de cabea; movimentos comos lbios, indicando negao, diferenciando os tipos deinterrogativas; e o franzir de testa.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    38/56

    38 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    6 IDENTIDADES SURDAS: O IDENTIFI-CAR DO SURDO NA SOCIEDADE

    A Natureza me tirou a audio, mas me deu aviso e a inteligncia.

    Carilissa DallAlba

    Identidade. Quem sou eu? A quem sou igual? Aquem sou diferente? Descoberta de si, do outro e domundo que o rodeia; descoberta de valores, cultura desemelhana; percepo do que se e do que podevir a ser . Identidade surda. Eu? Surdo? Como? Identidadesurda o como o ar que sacode as folhas das rvores. o ar que os surdos respiram, inspiram, transpiram...

    Eu tinha necessidade que me explicasse o mais simplesdetalhes da vida, como ela e o porqu dela ser. Isso noocorre quando se tem um cdigo umbilical, as duas pes-soas envolvidas no conseguem ver ou sentir que a surdezexistente, apenas elas so testemunhas da existncia deuma comunicao, olhos e olhos, mente e mente, no hnecessidade de falar e sim de agir. (VILHALVA, s/d, 15)

    Identificar-se com o outro simples e complexo. apartir do outro, do contato com outro sujeito surdo quea identidade descoberta e fortalecida. Tal identidadesurda s ser construda pelo encontro surdo-surdo(ARRIENS, 2006). o semelhante, as mesmas aptidese necessidades, o espelho, o estmulo, que levar osurdo a se descobrir enquanto ser surdo.

    A transio da identidade vai se dar no encontrocom o semelhante, onde novos ambientes discursivosesto organizados pela presena social dos surdosculturais. A aproximao dos surdos um passo parao encontro com outras possibilidades de identidades

    surdas. (PERLIN, 1998: 30)A projeo da identidade do surdo encobre as di-ferenas de idade, classe social, sexo, e de etnias, asquais seriam mais notveis na sociedade dos ouvintes(LANE, 1992). Ou como revela Perlin (apud Skliar, 2005:62): Identidades surdas esto presentes no grupoonde entram os surdos que fazem uso da experinciavisual propriamente dita.Mas como se cria, se des-cobre uma identidade surda? Recorre-se a Perlin paraelucidar tal pergunta: A convivncia nos movimentos

    surdos, aproxima a identidade surda do sujeito surdo.A unio de surdos cria outras nuvens de relaesque so estabelecidas em um parentesco virtual. Este

    parentesco virtual das identidades surdas, se sobrsai no momento da busca de signos prprios com vasculhamento arqueolgico: proximidade surdo-sentraves e conquistas na histria, pensar surdo, culsurda... (PERLIN, 1998: 34).

    A identidade surda uma luta instvel e nunca fixa (PERLIN, 1998). Os surdos viveram muito tsem serem capazes de se mostrarem, de mostrarem lngua e cultura. No possuam direitos como sujeituma sociedade. Por isso, ser surdo uma identidadeque se aprende em grupo e s pode ser aprendida n grupo dos surdos.(PERLIN, 1998: 34).

    Sim, a identidade surda ser aprendida e apreendno grupo de surdos. Porm, relevante ressaltar queh identidade pura, nica, como se somente houve

    uma maneira de viver do surdo. Algumas pessoasvezes usam o terno surdo legtimo para diferensurdos oralizados, ensurdecidos, D.A., dos surdnascidos em famlias surdas e sendo eles prprisurdos.

    Querer legitimar um grupo de surdos para asshierarquizar alguns dentro da cultura surda seria vPossivelmente no. Surdos so surdos, independede onde vem. Se fosse assim, no haveriam surdlegtimos em Salvador, uma vez que maioria d

    criana ou adolescente sempre tiveram contato cocultura ouvinte e a lngua oral.O imprescindvel considerar o que ele faz, c

    se comporta no momento presente que o caracterque o insira na comunidade surda. Como ele age, pou usa a lngua de sinais. Legitimar uns e descaracteoutros fazer uma fronteira dentro da prpria comdade surda. ignorar anos de luta de um povo em tde um status, o que no o desejvel.

    Perlin (1998) enumera e analisa as identidad

    surdas. Apontando que as identidades so contra trias, cruzam quadros polticos, mudam de acocom o sujeito e so formadas pelo pertencimentuma cultura. Imprescindvel lembrar que as identidmudam de sujeito para sujeito e que cada ser, apedas influncias do meio que vive, nico.

    Em se tratando da cidade de Salvador e classificaas identidades surdas percebe-se que na referida cidexiste alguns dos tipos citados. preciso reafirmao surdo baiano muitas vezes renega uma identid

    porque no sabe o que identidade, cultural e emderamento da comunidade surda. Como revela udas entrevistadas:

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    39/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    39UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    O surdo no aceita a identidade, porque ele no sabe o que identidade.Precisa mostrar o que identidade, que direitomeu de ter identidade e cultura surda. Ele no aceita porquefalta informao, de contato, de ir na associao de surdosconhecer outros surdos, bater papo; tambm falta poltica,falta argumentar, discutir, que precisa de escola... Sempre dia26de setembro fazer caminhada pedindo direitos, escola, int-rprete. difcil, mas importante a identidade surda. (Daniel)

    Como muitos surdos so filhos de pais ouvintes einteragem com os dois mundos

    toma-se como uma das identidades da comunidadesurda baiana: a identidade hbrida, ou seja, umaespcie de uso de identidades diferentes em dife- rentes momentos, ou seja, conhecem a estrutura do portugus falado e usam-no como lngua(PERLIN,1998: 40). Isso pode ser observado em surdos queaps receberem a informao, transformam-na emlngua de sinais.

    Eu cresci oralizado, nem eu nem minha famlia sabamoslngua de sinais.Depois que eu j tinha me acostumado coma oralizao que eu descobri surdos. Eu oralizava e via alngua de sinais como uma lngua muito diferente. Na co-munidade surda eu comecei a aprender, perceber, sobre alngua de sinais e informaes. Entre a lngua de sinais ea oralizao eu preferi a lngua de sinais. A famlia me fezcrescer oralizando, agora aprendo a lngua de sinais, culturae identidade. (Aniel)

    Torna-se a citar Perlin (1998: 41):Os surdos que nasceram surdos usam sua comunicao em sinais. Esse surdo que nasceu ouvinte ter sempre presente as duas lnguas, mas a sua identidade teria de ir ao en-contro das identidades surdas.Possuir uma identidadehbrida andar em um caminho de mo dupla, mas deencontro com sua metade mais forte: a surda.

    H visivelmente a identidade em transio na co-munidade surda. Tal identidade referida por Perlin(1998: 43) como umasituao dos surdos que foram mantidos sob o cativeiro da hegemnica representaoda identidade ouvinte e que passam para a comunidade surda, como geralmente acontece.A identidade em transio se apresenta no momento em que o surdo toma contato com o a cultura surda, modificando assimseu entendimento do que se .

    Nasci surda, mas at os doze anos eu no tinha contatocom surdos. Somente encontrava ouvintes, s vezes minhaprima combinava e eu ia encontrar amigos ouvintes. Minha

    irm tambm surda e ns gostamos do contato e cada vemais conhecer surdos, passear, praia e ter uma comunica-o diferente na qual havia o contato com a LIBRAS, surde intrpretes. (Omael)

    O depoimento acima revela a transitividade de usurda. A falta de contato com surdos e o convvio couvintes foram modificados com a insero da mese de sua irm, tambm surda, na comunidade. Trano no finalizada, mas sim constituda passo a pasno somente as duas surdas, mas como tambm poinmeros surdos baianos.

    O fato de alguns surdos no se aceitarem ou preferir denominar-se como D.A. (deficiente auditivcaracterstica de uma identidade surda incompleta,seja, uma identidade que absorve a hegemonia dosouvintes exerce uma rede de poderes difcil de ser qu brada pelos surdos, que no conseguem se organizaem comunidades para resistirem ao pode(PERLIN,1998: 43). Como se o D.A. fosse mais bem aceito sociedade baiana do que o surdo.

    Alguns surdos sinalizam, aceitam bem a LIBRAS. SurdD.A. que ouvem parcialmente sentem vergonha de usar lngua de sinais, preferem oralizar porque esto presos nestigma social de que a pessoa que usa a lngua de sinais

    deficiente; esses surdos precisam ainda entender a iden tidade deles. Hoje eu tenho cer teza que prefiro a lngua sinais e minha identidade surda. (Caliel)

    Diante de toda diversidade existente na sociedabaiana no se pode negar a existncia de identidadflutuantes em alguns surdos. Como se estes soubesem serem surdos, mas negarem tal fato por irem dencontro ao pensamento da sociedade ouvinte e arelaes de poder que ela representa. Assim, identidflutuante, segundo Perlin (1998: 46):

    [...] permite ver um surdo consciente ou no de ser surdporm, colonizado pelos ouvintes que continuam determinando seus comportamentos e aprendizados. Existemalguns surdos que querem ser ouvintizados a todo custoDesprezam a cultura surda, no tm compromisso com acomunidade surda. Outros so forados a viverem a situao como que conformados a ela.

    preciso lembrar que a identidade muda de suje

    para sujeito, e de momento para momento, ela nofixa. No h um modelo para a identidade do sujesurdo; a identidade sofrer modificaes de surdo p

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    40/56

    40 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    surdo em vista de suas representaes histricas, so-ciais e visuais. Assim como dependendo do momentoo surdo pode identificar-se com um, com outro ou comdiversos grupos simultaneamente.

    Focando o surdo, estas identidades foram analisadasem trs diferentes pontos: como a identidade negada,como ela descoberta e como pode vir a ser fortaleci-da. A identidade negada percebida pela influncia dasociedade ouvinte e a relao de poder existente emrede, com sujeitos sofrendo e exercendo poder. Algunssurdos em Salvador nega sua identidade por ser vtimado preconceito, do ouvintismo10, da falta de informaoe da estigmatizao dada pela sociedade. Como se podecomprovar com o depoimento:

    Fui fazer uma palestra para surdos e ouvintes no interior. Alngua de sinais era mais usada pelos ouvintes do que pelosprprios surdos. Estes gestualizavam mais, no tinham umdomnio da lngua de sinais. Uma surda se aproximou demim, oralizando e sinalizando, ambos precariamente, e per-guntou se eu era surdo. Respondi que sim, igual a ela. Aoque ela rebateu dizendo que no era surda, era ouvinte e aprova disso era que ela oralizava. (Ariel)11

    Percebe-se com esse depoimento que o surdo negasua identidade e sua lngua a favor do que a sociedadeaponta como certo. Este surdo tenta se passar porouvinte, afinal , [...] o ouvinte estabelece uma relaode poder, de dominao [...](PERLIN apud SKLIAR,2005: 59).

    O surdo referido acima no se aceita em lugarnenhum. No tem uma identidade surda, quase noconhecem ou conhece poucos surdos, convivendoparcialmente com eles. Tenta, desse modo, se passarpor ouvinte, mesmo no tendo possibilidade. Para serassim parte de um mundo que no seu. Assim:

    O surdo como membro de uma sociedade, vive relaes depoderes que, muitas vezes, os subjugam, como grupo cul- tural, a uma subalternidade. E, nem sempre, nesses lugares,ele consegue sentir-se como surdo e ver os seus compan-heiros como modelos surdos. (PERLIN, 1998: 37)

    Necessrio lembrar que o surdo no isolado da10 Segundo Skliar, ouvintismo um conjunto de representaes dos

    ouvintes a partir do qual o surdo est obrigado a olhar-se e narrar-se

    como se fosse ouvinte.(Skliar, 2005: 15)11 Depoimento concedido informalmente. Ariel contava pesquisadorao fato ocorrido com ele por meados de novembro de 2007 em umacidade do interior da Bahia.

    comunidade surda. Cada surdo possui contato coutros surdos, os quais so parte de grupos denda comunidade surda baiana, conforme j foi expdo anteriormente. Porm, a negao da identidadcomprovada e existente. O que destacado por o

    surdo baiano:Eu no sou surdo. Sou DA. se eu falar que sou surdo eu consigo o que eu quero. Eu oralizo bem. Se eu falar quesurdo no tenho salrio bom, trabalho bom, nem namorouvinte. Eu perco. (Uriel)12

    Negao da identidade, neste caso? Sim. O surdoquesto usa uma mscara social.Sou D.A.. Dizerque deficiente auditivo como se quisesse pertenao mundo ouvinte somente, mas sabe que no popor ser surdo. Mascara a identidade surda com o Dpara assim tentar ser aceito, ainda que parcialmena sociedade ouvinte.

    Muitos surdos de caminham nos dois mundos ouvinte e o surdo - cresceram em famlias ouvintpossuem contato com a comunidade surda. Este supossui uma identidade momentnea, uma identidhbrida. O surdo vivente nas duas culturas tenta ciliar duas lnguas, dois mundos. Ora ele age segua cultura surda, ora como a cultura ouvinte. uidentidade a ser fortalecida, isso porque este sujsurdo tem conscincia da cultura surda.

    O descobrir a identidade est na identificao co outro para, assim, identificar-se com si prprionde est o outro? Onde encontr-lo? O outro pestar perto e to distante. Pode estar distncia deolhar. no grupo que a identidade floresce, abraos elementos culturais existentes na cultura surda comunidade surda que fornecer os alicerces fdamentais para o empoderamento do surdo enquasujeito.

    Para que o surdo quer uma identidade se estamassacrada se pela sociedade ouvinte e por muisurdos tambm?A identidade pulsa em ritmos dediferenciao e integrao, evidenciando a indisso bilidade da vivncia do ser-no-ser.(GOIS, 1995: 40).Resposta para essa pergunta simples: o surdo dessua identidade e luta por ela pelo simples fato de se reconhecer, se descobrir.

    12 Depoimento concedido informalmente. Uriel encontrava-se na mroda de conversa que a pesquisadora quando revelou sobre o fatpreferir ser chamado de DA.- deficiente auditivo do que de sur

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    41/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    41UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    Tornando-se com isso um sujeito singular.O fatode que os surdos no possam e talvez nem queiram,em sua grande maioria ser ouvintes ou ser comoos ouvintes, no parece ser um obstculo para as re- presentaes dominantes na educao dos surdos.

    (SKLIAR, 2003: 20)O que falta ao surdo fortalecer sua identidade. Ouseja, fala ao surdo se aceitar, se orgulhar, ser influentee, com isso, influenciar a comunidade surda. Conhecerseus direitos, sua lngua, sua cultura, compartilhar suasexperincias com outros surdos. Motivando assim umamelhoria social, cultural e identitria a ais mesmo e aosoutros surdos.

    Ressalta-se que as identidades surdas citadas nodesejam o rtulo de melhores ou piores que outras

    identidades que um sujeito pode usufruir. O que sealmeja afirmar-se como dotado de valores e dispostoa lutar pelo reconhecimento cultural do surdo. No sedeseja o isolamento, mas sim a interao socioculturalque tais identidades podem favorecer.

    Lembrar-se- que a diversidade que move omundo, mas isso s ocorre se esta diversidade seinterligar; e a sociedade somente avanar para umreconhecimento identitrio se souber respeitar e con- tribuir para o desenvolvimento de identidades sejam

    elas quais forem.

    Captulo retirado da dissertao de mestrado da professora Emiliana

    Rosa in: ROSA, Emiliana Faria. Olhares sobre si: a busca pelo fortalecimento das identidades surdas. 2009. 146 f. +.Dissertao(Mestrado em Educao) Faculdade de Educao, Universidade Federal da Bahia, Salvador.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    42/56

    42 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    PARTE II7 APOSTILA BSICA DE LIBRAS COMO SEGUNDA LNGUAINSTRUTOR: MARCELO SILVEIRA - EXPRESSES FACIAIS

    INSTRUTOR: MARCELO SILVEIRAATIVIDADE

    1. Observando as expresses faciais abaixo, enumere nos parnteses os nmeros correspondentes c

    ( ) Raiva ( ) Desconfiana ( ) Surpresa ( ) Medo

    ( ) Serenidade ( ) Maldade ( ) Felicidade ( ) Brabeza

    ( ) Embarao ( ) Tristeza ( ) Decepo ( ) Piedade

    Observe, atravs da demonstrao do(a) professor(a), como as espessuras, formas e tamanhos dedos em LIBRAS.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    43/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    43UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    ? ??

    ? ?? SAIBA MAIS

    DICA: A melhor maneira de aprender uma lngua praticarconstantemente. Converse com o nativo da lngua. Voc conhece

    algum surdo (a)? Tente estabelecer contato com ele(a). Mostre seu interesse em aprender a lngua. Caso no conhea, comece a frequentar lugares que os surdos costumam se encontrar para bate- papo: associao de surdos, por exemplo.

    Na sua cidade h associao somente para surdos? Aventure-se nesse aprendizado!timos estudos para voc.

    ATIVIDADE1. O Professor apresentar seis Figuras Geomtricas e aluno as desenhar abaixo:

    1. 2.

    3. 4.

    5. 6.

    2. Em dupla, um aluno mostrar ao outro a figura no ar enquanto o outro desenhar no espao as posies se invertem. Cada aluno far 06 Figuras Geomtricas.

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    44/56

    44 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA B

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    1. 2.

    3. 4.

    5. 6.

    ALFABETO MANUAL

  • 8/11/2019 modulo libras.pdf

    45/56

    EAD

    L I C E N C I A T U R A S

    45UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    ATIVIDADE

    1. Transcreva para portugus: