200
Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação Curso de Pós-Graduação em Psicomotricidade A CLÍNICA PSICOMOTORA A SERVIÇO DA HIPERATIVIDADE: Relatos & Observações José Tanilzo Sá Júnior FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR

Monografia-A ClÍnica a a ServiÇo Da Hiperatividade

  • Upload
    moinho

  • View
    4.262

  • Download
    50

Embed Size (px)

Citation preview

Diretoria de Pesquisa e Pós-GraduaçãoCurso de Pós-Graduação em Psicomotricidade

A CLÍNICA PSICOMOTORA A SERVIÇO DA HIPERATIVIDADE:

Relatos & Observações

José Tanilzo Sá Júnior

Fortaleza - Ceará

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZUNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR

Dezembro/2002

12

JOSÉ TANILZO SÁ JÚNIOR

A CLÍNICA PSICOMOTORA A SERVIÇO DA HIPERATIVIDADE:

Relatos & Observações

Monografia apresentada ao Curso de

Especialização em Psicomotricidade: uma

abordagem clínica e educacional da

Universidade de Fortaleza - UNIFOR, como

requisito parcial para a conclusão deste.

Orirentadora:Profª. Monica Helena Neves Pereira Pinheiro, Ms.

Fortaleza - Ceará

13

Dezembro/2002

14

A CLÍNICA PSICOMOTORA À SERVIÇO DA HIPERATIVIDADE:

Relatos e Observações

José Tanilzo Sá Júnior

APROVADO EM: 01/01/2003

______________________________________________Mônica Helena Neves Pereira Pinheiro (Orientadora)

Mestre em Educação Física

______________________________________________Cláudia Santos Jardim (Coordenadora)

Mestre em Psicologia e Especialista em Psicomotricidade

15

DESIDERATA

1. Dedique tempo para trabalhar: é o preço do triunfo.

2. Dedique tempo para pensar: é a fonte do poder.

3. Dedique tempo para recrear: é o segredo da juventude.

4. Dedique tempo para ler: é a base do conhecimento.

5. Dedique tempo para adorar: é o caminho da reverência.

6. Dedique tempo para com os amigos: é o caminho da

felicidade.

7. Dedique tempo para amar e ser amado: é o gérmen criador de

endorfinas (substância da alegria e bem estar).

8. Dedique tempo para sonhar: eleva a alma às estrelas.

9. Dedique tempo para rir: alivia as tensões da vida.

10. Dedique tempo para planejar: é o segredo de como encontrar

tempo para as nove coisas anteriores.

ANÔNIMO

16

“ACESSE as páginas seguintes...

ARRASTE este conhecimento para seu DIRETÓRIO PRINCIPAL.

SALVE-O em todos SEUS ARQUIVOS PESSOAIS...

SELECIONE-o como seu DOCUMENTO MESTRE.

Que ele seja seu MODELO para EDITAR seus estudos e

CONFIGURAR sua vida: JUSTIFIQUE-o e ALINHE-o À

DIREITA e À ESQUERDA, sem QUEBRAS na sua caminhada.

Que essa pesquisa não seja apenas um ÍCONE, um ACESSÓRIO,

uma FERRAMENTA, um RODAPÉ...

Mas o CABEÇALHO, a LETRA CAPITULAR, a BARRA DE

ROLAGEM de seu caminhar. Que ele seja a FONTE da graça para

sua ÁREA DE TRABALHO”.

ANÔNIMO

17

AGRADECIMENTOS

Àqueles que um dia vi refletidos no espelho diante dos meus olhos

e me fizeram compreender o sentido da imortalidade, ainda que através de

uma linguagem não verbal. Pela educação recebida... aos heróis... meus PAIS.

Ao som psicodélico e quase sempre terapêutico de KÁTIA

FREITAS, embalando os momentos particulares de apogeu intelectual e

ignorância técnica.

Aos meu vício copioso e indispensável: MARCELO XIMENES,

imensurável amigo.

À energia profética de ANA CRISTINA DE FREITAS RAMOS

sinônimo de profissionalismo e humildade.

Uma ressalva especial à MÔNICA HELENA NEVES PEREIRA,

pelo sentido de disciplina e objetividade, sublimando o pesar do ofício.

A todos à direita, que auxiliaram na concretude deste trabalho e a

esquerda, pelos dissabores geraram uma conduta profissional ainda mais

apurada.

E por tudo aquilo que ainda está por vir... que venha!!!

José Tanilzo Sá Júnior

18

RESUMO

Este estudo provém da leitura e releitura de um compêndio de

artigos e estudos clínicos e educacionais que abordam o tema dos transtornos

e déficit de atenção, bem como a instabilidade psicomotora na criança e no

adulto, suas causas e conseqüências na vida escolar, familiar e social. A este

assunto introduzimos o estudo da Psicomotricidade que, enquanto ciência

para-médica surgida em meados deste século XX, ainda que com expressões

já bem mais remotas, vem oferecendo a alternativa da prevenção e terapia dos

distúrbios psicomotores, através de novas e possíveis formas de intervenção.

Não se trata de lançar algo novo relacionado ao assunto, nem tão pouco

pretendemos esgotar o assunto, mas de investigar, situar e pontuar

minuciosamente acerca das publicações referentes a psicomotricidade e a

hiperatividade.

19

ABSTRACT

This study comes from reading and rereading of a compendium of

articles on clinical and educational studies that approach the subject of

upheavals and the deficit of attention, as well as the psychomotor instability

in the child and the adult, its causes and consequences in the pertaining to

school, familiar and social life. To this subject we introduce the study of the

Psychomotricity that, while science for-doctor appeared in the middle of the

last century and although using remote expressions nowadays comes offer

alternatives for the prevention and therapy of the psychomotors disorders,

through new and possible forms of intervention. It is not supposed to release

something new related to the subject, nor so little we intend to deplete the

subject, but to investigate point to point accurentely, to contextualize and to

correct publications referring to the psychomotricity and the hyperactivity.

20

RESUMEN

Este estudio viene la lectura y el relectura de un compendio de

artículos y los estudios clínicos y educativos que acercan al tema las

agitaciones y déficit de la atención, así como la inestabilidad psicomotora en

del niño y del adulto, de sus causas y de las consecuencias en pertenecer a la

vida de la escuela, familiar y social. A este tema introducimos el estudio del

Psychomotricidad que, de mientras que el para-doctor de la ciencia apareció

en centro de este siglo, inmóvil que con expresiones mana ya más alejado, él

ofreciendo al alternativa la prevención y viene la terapia de las desórdenes

psychomotoras, através de nuevas y posibles formas de intervención. No se

trata para lanzar algo relacionado nuevo al tema a, ni así que poco que nos

preponemos agotar el tema, pero (en la gran longitud/del punto al punto)

investigarlo, al contexto y corregirlo referente referir a las publicaciones el

psychomotricidad y el hiperactividad

21

SUMÁRIO

Pág.1 – INTRODUÇÃO ............................................................................ 11

1.1 – Objetivos ............................................................................... 162 – REVISÃO DA LITERATURA ................................................... 17

2.1 – PSICOMOTRICIDADE ..................................................... 172.1.1 – História e Evolução ........................................................... 172.1.2 – Fundamentos Epistemológicos ........................................ 302.1.3 – A Clínica Psicomotora ...................................................... 37

2.1.3.1 – Área de Atuação ......................................................... 372.2 – HIPERATIVIDADE ............................................................ 402.2.1 – Conceituação e Evolução Histórica ................................. 402.2.2 – Gênese e Etiologia ............................................................. 45

2.2.2.1 – TDAH e Hiperatividade ............................................. 482.2.2.2 – Hiperatividade X Instabilidade Psicomotora ............. 53

2.2.3 – Características Clínicas e Sintomatológicas ................... 572.2.3.1 – Crianças e Adultos Hiperativos ................................. 59

2.2.4 – Diagnóstico ........................................................................ 672.2.4.1 – Diagnóstico Diferencial ............................................. 76

2.2.4.1.1 – Pseudo-Hiperatividade ................................... 782.2.5 – Tratamento ........................................................................ 81

2.2.5.1 – Tratamento Farmacológico ........................................ 832.2.5.2 – Tratamentos Alternativos e Para-Médicos.................. 86

2.3 – A CLÍNICA PSICOMOTORA NA HIPERATIVIDADE 902.3.1. – A Importância do Jogo na Construção do Projeto Terapêutico .................................................................................... 922.3.2. – Dicas Para Administração e Trato de Crianças com Hiperatividade na Escola ............................................................. 94

3 – METODOLOGIA ........................................................................ 1044 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................. 1065 – CONCLUSÃO .............................................................................. 1126 – ANEXOS ....................................................................................... 1157 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................... 1208 – GLOSSÁRIO ............................................................................... 123

22

1 - INTRODUÇÃO

A pluralidade dos questionamentos e debates a respeito dos

distúrbios neurocomportamentais, tem levado a critérios e práticas cada vez

mais direcionados e eficazes. As crianças de hoje estão sobremaneira

agitadas, rebeldes, bem como também podemos dizer que é cada vez mais

crescente (ou melhor diagnosticado) o número de adultos emocionalmente

instáveis, haja vista as dinâmicas da pós-modernidade em que estão inseridos,

o que pode facilmente mascara um quadro patológico pela globalidade das

expressões sintomáticas atuais, banalizadas pelo cotidiano. Motivado a

princípio pela eqüidade profissional do relator, este estudo não se limita

apenas ao âmbito escolar e clínicos, pois há tempos as fronteiras educacionais

foram extrapoladas e as responsabilidades divididas entre as vias da medicina

e da psicologia ressaltadas por outro prisma não mais importante, contudo de

inigualável comparação e observação: o social (trabalho – produções

culturais), porém ressaltamos antecipadamente e de modo categórico, a

emblemática importância das instituições de ensino e terapêuticas

(genericamente falando), haja vista que muitos distúrbios comportamentais de

aprendizagem são despertados na geografia da escolas a princípio, levados em

segunda instância as clínicas e paralelamente este dois inter-disciplinados

com a sociedade. Ainda assim podem se apropriar deste instrumento, desde os

profissionais latentes e afins à questão da HIPERATIVIDADE até o mais

leigo e intrépido curioso leitor e suas produções culturais mesmo com suas.

Atualmente, segundo BASTOS (1999), dados da Organização

Mundial de Saúde – OMS, revelam que entre 5% e 7% da população infantil

em idade escolar sofrem de alguma maneira distúrbios de

HIPERATIVIDADE ou no mínimo são acometidos por uma instabilidade

psicomotora, e conseqüentemente pela inabilidade, ignorância e estereótipo

23

social; 3% terão dificuldades permanentes durante a vida adulta e tendo por

conseqüência complicações laborais, ou seja, dificuldades sociais em sua

produção, como podemos visualizar no gráfico abaixo, através do nível de

incidência por faixa etária, naturalmente aqui ilustrados em termos

percentuais, segundo a rede de televisão americana CNN (1998):

A gênese deste projeto partiu dessa premissa investigativa e

conseqüentemente pela “relativa” estréia do tema, haja vista que estudos

específicos sobre a HIPERATIVIDADE remontam ao século anterior, com

resultados práticos relevantes e ascendentes. Concomitante e

cronologicamente surgem estudos ainda primários da clínica psicomotora, ou

melhor, da PSICOMOTRICIDADE propriamente dita, daí então a primazia

pela “simbiose”, correlacionada com as produções culturais subjetivas ou não.

Pretende-se aqui, inicialmente, subsidiar ao leitor informações

básicas e conceituais sobre essa disfunção/distúrbio que é a

HIPERATIVIDADE causa no trabalho e nas interações sociais, sobretudo

dotar e construir nos pacientes e “para-pacientes” (como originalmente

chamamos aqui os envolvidos: pais, irmãos, filhos... enfim, todas as pessoas

ligadas diretamente aos portadores dessa síndrome) uma melhor consciência a

respeito dos mitos absolutos e as verdades limítrofes gerados pelo tema.

24

Através da explanação histórica da síndrome, sua etiologia, características,

sintomas, diagnóstico e tratamento, fomentar-se-ão as condições objetivas

para as possíveis e necessárias indicações clínicas.

Objetiva-se aqui, fomentar a literatura atual, redirecionando

estratégias psicomotores para minimizar seqüelas e conseqüentemente

dissabores acarretados pela HIPERATIVIDADE. Portanto, as pretensões

levianas que possam ser suscitadas a respeito da originalidade do tema são

descabidas nesse momento, ainda, que a ampliação do tema e sua devida

explanação reorganizada acabe acrescentando novas perspectivas no estudo

da PSICOMOTRICIDADE a serviço da HIPERATIVIDADE em benefício

das interações sócias através do trabalho (produções culturais).

Não se objetiva aqui, esgotar a temática em questão, sua aplicação e

complicações, mas sim, viabilizar o acesso popular a informações pertinentes

ao ser humano e suas limitações, neste caso específico e suas comorbidades,

minimizando assim teorias irreais como o determinismo e o reducionismo

quase sempre equivocados.

Explicitar-se-á nesta pesquisa todo o quadro evolucionista da

ciência “PSICOMOTRICIDADE” e sua aplicabilidade à patologia

HIPERATIVIDADE e possíveis prognósticos, bem como algumas

intervenções a serviço dos pacientes, sejam eles crianças ou adultos, para

manutenção e/ou regaste das suas qualidades de vida social e da manutenção

produtiva e positiva do trabalho como representante de códigos e valores

sociais, de forma terapêutica ou preventiva, como comungamos da opinião de

MATTOS (1999:79): “Quanto mais precoce é feito o diagnóstico, mais

facilmente evitarmos as conseqüências negativas”.

As pesquisas em periódicos e livros especializados no assunto e as

observações e entrevistas aos especialistas, subsidiaram cronologicamente

este estudo de forma que a princípio fosse possível serem relatadas as nuances

25

históricas e epistemológicas da PSICOMOTRICIDADE e naturalmente sua

área de atuação. Em seguida, abordaremos em foco a HIPERATIVIDADE,

dissecando seus meandros e conceitos evolutivos, através de uma visão

neuropsicomotora e alusões alternativas. Diante da problemática que envolve

a complexidade da HIPERATIVIDADE no lar, na escola e sociedade, o

assunto freqüentemente estará pautado em analogias multidisciplinares, onde

por força técnico-instrumental será estabelecido um vínculo entre a

funcionalidade da ciência da PSICOMOTRICIDADE X

HIPERATIVIDADE e sua conduta pejorativa.

Soma-se a este trabalho de pesquisa além do caráter informativo de

fundamentação teórica, à função democrática dos conteúdos científicos,

engrossando as estatísticas crescentes de publicações direcionadas a públicos

cada vez mais distintos.

O tema é cada vez mais recorrente, a medida em que descobrimos

sua pluralidade e inter-relacionamento com outras áreas do conhecimento,

cada um em sua especificidade, e universal nos ganhos de seus resultados.

A temática da HIPERATIVIDADE suscita questionamentos constantes, pois

apesar de sua etiologia ainda desconhecida, somos tomados por impulsos e

pela gama de posturas diferenciadas a respeito de um mesmo tema, e ainda,

pela ânsia na obtenção de respostas, algumas vezes superando a lógica

racional dos conteúdos. Assim sendo, “a importância A CLÍNICA

PSICOMOTORA A SERVIÇO DA HIPERATIVIDADE: Observações,

Relatos e as Implicação no Trabalho e nas Produções Culturais.” (grifo meu)

deve ser focalizada proporcionalmente à gravidade que a patologia x

qualidade das produções humanas, dentro da literatura médica se manifesta e

no meio sócio-familiar.

26

Pela brevidade dos trabalhos já publicados, ainda que em larga

quantidade, mas naturalmente com lacunas recorrentes, aqui se faz necessário,

pois se vêem, sem equívocos, os benefícios, sobretudo os mais imediatos,

empreendidos pela iniciativa primária de se tocar num tema de notória

relevância e conseqüentemente delicado, sobretudo para a família dos

portadores dessa síndrome, preocupados em otimizar a qualidade de vida

desse paciente.

Conclusivamente, ilustrar-se-ão “observações” psicomotoras e/ou

psicoludomotoras1 (grifo nosso) definir as possibilidades de atuação da

PSICOMOTRICIDADE na prevenção e na terapêutica da criança

hiperativa, os métodos e técnicas adequadas no processo terapêutico e/ou

preventivo.

Ao longo da explanação e aplicação deste instrumento, notar-se-á

uma diferença evolutiva sensível na postura comportamental do portador de

HIPERATIVIDADE, bem como a modificação dos conceitos pejorativos

pela qual a família e a sociedade atribuem a essa patologia. Faz-se necessário

ressaltar ainda, que as atividades psicomotoras (também chamadas de

atividades de psicoludoterápicas) tem suas especificidades e atendem a

realidades também particulares, ainda que sob a égide de uma mesma

patologia.

Em virtude, porém, da cronologia, este relato elucidativo e suas

considerações pertinentes, justifica-se aqui, os instrumentais de observação

diretiva, intensiva e exploratória que constituem o pré-requisito de certos

aspectos da realidade mais específicos, ou seja, no que diz respeito à

verificação investigativa mais pluralizada detrimento aos conceitos,

diagnósticos e prognósticos insipientes. No entanto parafraseando

FERREIRA (1994:29) “...uma pesquisa inclui a apresentação de um

1 Termo específico, adotado pelos relatores desta pesquisa em sobreposição ao termo: “técnicas psicomotoras”.

27

instrumento baseado em observações, opiniões, atitudes e suas implicação

científicas”.

O que indubitavelmente sustenta aqui este “inquérito científico”

(grifo nosso), pois já nos antecipando ao que o leitor possa vislumbrar pelo

imediatismo, esta pesquisa está pautada na qualidade instrumental, ainda que

ilustrativamente, a quantidade de testes corroborasse substancialmente no

processo conclusivo dos resultados alcançados.

28

1 .1 – Objetivos

a) A tônica principal deste estudo está baseada na disponibilidade, a

princípio, bibliográfica das informações a respeito desta síndrome que a

literatura, dentre tantas classificações anteriores, hoje nomina como:

HIPERATIVIDADE, o que ousamos aqui também colocar à disposição do

leitor uma nova adjetivação, que segundo esta pesquisa temos motivos

consistentes para optarmos também pela alcunha de “cartarse

neuropsicomotora2” (grifo nosso), apenas por uma questão de propriedade

semântica;

b) Analisar a literatura sobre a contribuição da clínica psicomotora

como processo minimizador dos problemas de desatenção, distração,

impaciência, atividade e emotividade excessivas e instabilidade psicomotora

em pacientes com HIPERATIVIDADE;

c) Ressaltar a importância da assessoria clínica ao portador de

HIPERATIVIDADE como uma forma de se evitar déficites graves na

infância;

d) Relatar secundariamente, os objetivos seguem na identificação

dos desdobramentos clínicos da PSICOMOTRICIDADE na terapêutica das

pacientes hiperativos, ou portadores da sintomatologia funcional do quadro,

através da observação, co-relação e análise alusiva e naturalmente intervenção

posterior.

2 Termos original para melhor consonância semântica com o tema, segundo os relatores.

29

2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.1 - PSICOMOTRICIDADE

2.1.1 – História e Evolução

Para maior contundência didática, podemos, cronologicamente

dizer que a PSICOMOTRICIDADE tem sua origem em meados do século

XX, porém essa afirmação não pode ser tomada como princípio geral, pois

alguns autores relatam ensaios já no final do século XIX. É certo dizer que a

PSICOMOTRICIDADE surgiu de uma necessidade “inevitável” de se

contrapor (intencionalmente ou não) ao hoje refutável dualismo descarteano

cristalizado há séculos pela dicotomia corpo x alma, e originariamente na

Grécia antiga, ou mesmo, com o advento da linguagem.

Existem muitas definições acerca do que seja a

PSICOMOTRICIDADE e seu estudo. A evolução primeiramente segue uma

trajetória teórica e posteriormente prática até atingir um senso comum entre

ambas.

A PSICOMOTRICIDADE tem sua origem matricial na França,

advinda da medicina, especificamente das contribuições da neurologia,

inicialmente com DUPRÉ em 1907/09 aproximadamente, pelo pioneirismo na

descoberta em precisar as etapas do desenvolvimento psicomotor, assim como

as debilidades motoras, atribuindo uma relação entre as alterações motoras e

mentais (paralelismo psicomotor), ainda que se admitisse a existência de

exceções. A figura de DUPRÉ é de fundamental importância para o âmbito

psicomotor, já que é ele quem afirma a independência da debilidade motora

(antecedentes do sintoma psicomotor) de um possível correlato neurológico,

30

seguido por pesquisas ainda complementares e nesse sentido por COLLIN,

HEURYER, THOMAS e DARGASSIE. Paralelamente a estas descobertas,

na América GESSEL trabalha realizando testes psicomotores em crianças.

Posteriormente a PSICOMOTRICIDADE no seu caminho

evolutivo é “emprestada” à psicologia e posteriormente à fisiologia, a

primeira retratando as reflexões sobre a “imagem do corpo e o eixo

psicológico, em que recebem a influência marcante” e a segunda, tratando do

“esquema corporal”, como relata BUENO (1998:111).

A História da PSICOMOTRICIDADE passou por vários

acontecimentos, porém sofrendo contribuições também na Argentina,

Portugal e posteriormente no Brasil. A evolução da PSICOMOTRICIDADE

no início deste século firmou-se a partir do desenvolvimento motor da criança

e deu continuidade quando passou a relacionar os atrasos do desenvolvimento

motor e o atraso intelectual da criança revelando as habilidades manuais e

aptidões motoras em função da idade até chegar a posição atual da

PSICOMOTRICIDADE a qual trabalha os aspectos motores, intelectuais,

emocionais e expressivos do corpo de um sujeito desejante.

Para haver a valorização do corpo em movimento passou por alguns

cortes epistemológicos (sendo o primeiro justamente caracterizado pela

“origem” marcante da PSICOMOTRICIDADE neste século, através das

contribuições da medicina, dentre elas através das “práticas re-educativas”)

muitos estudos e contradições até chegar no momento em que o corpo passa a

deixar de ser relacionado em pura carne e sim descoberto e enfatizado como

corpo falado. É então que começa a desenvolver-se uma prática em

construção da PSICOMOTRICIDADE, apesar de sempre ter existido a

história da PSICOMOTRICIDADE desde que o homem nasce, nos seus

primeiros movimentos, no princípio de nossa história com o pensar,

31

locomover, agir e reagir, pois para toda ação há uma reação que demonstra

reflexos e movimentos que ligam o “psico” ao “motor”.

Vários filósofos destacaram o corpo em afirmações a partir do

período helênico. PLATÃO falava em uma separação distinta entre corpo e

alma, uma dicotomia entre “psico” e “motricidade”, enquadrando o corpo

como lugar de passagem no mundo de alma imortal. Já ARISTÓTELES via o

homem como parte de matéria, o corpo constituído de uma forma, a alma

estabelecendo todas as suas funções, e a paixão incluída entre essas funções.

DESCARTES, continuava com o dualismo entre corpo e alma, acrescentando

à existência do ser o ato do pensar e afirma em 1641: “somos uma coisa que

pensa, uma coisa da qual toda a existência decorre do pensar; entretanto

possuímos um corpo ao qual estamos estreitamente vinculados, mas que é

somente uma coisa extensa e que não pensa. Por conseguinte, parece certo

que a alma é inteiramente distinta ao corpo, mas não pode existir sem ele. O

corpo é movido simplesmente como um mecanismo do espírito”.

No século XIX, em torno de 1875 a 1900 pouco se conhecia além

das ciências: psiquiatria, psicometria, psicopatologia, psicofisiologia e

psicofísica. O avanço científico veio a surgir no século XX com a emergência

do termo psicomotor, noção de PSICOMOTRICIDADE, noção de prática

psicomotora e o paralelismo com a tendência da separação do dualismo

cartesiano, considerado como o primeiro corte epistemológico com a

influência da neuropsiquiatria determinada em uma clínica específica num

aspecto motor instrumental. Com a evolução corporal no século XIX, aparece

o americano BERGSON que inicia a união alma e corpo no dizer “o cérebro

imprime ao corpo esses movimentos e as atitudes que desempenha o que o

espírito pensa”. (1982:91)

Em 1900 a 1925 inicia-se a falar em PSICOMOTRICIDADE, pois

há uma descoberta na medicina de uma área do cérebro que justifica os seus

32

movimentos. A mudança de “pensamento”, algum tempo estigmatizado,

caracteriza aqui o primeiro corte epistemológico da PSICOMOTRICIDADE

pelas contribuições de DUPRÉ através da medicina.

Um famoso psiquiatra da época chamado CHARCOT coloca

evidências do psiquismo no corpo e do corpo no psiquismo, ao estudar o

fenômeno “membro fantasma”, o qual fala sobre a perda de um membro

amputado, em um sujeito que mantém a existência do membro que perdeu

com a inconsciência e imagem de seu corpo perfeito, sendo fortalecido com

FREUD um psicanalista que analisa as formações inconscientes que o corpo

desempenha, tornando-o provedor de todas as pulsões e o centro das relações

com a figura materna que se acham “matrizadas” nesse corpo, mas nem

sempre nos chegam à consciência e a palavra, dando subsídio a neurologia e à

motricidade. Justamente por contribuições advindas da psicologia, que por

volta de 1950-80, atribui novas considerações a relação do corpo e do

movimento e suas implicações (expressões do corpo), indicando novos

horizontes epistemológicos, evidenciando a mudança de pensamento

denominado aqui como o segundo corte dentro do desenvolvimento evolutivo

da PSICOMOTRICIDADE.

Uma grande influência da época foi CHARCOT (1887), que se

fazia sentir de uma forma singular. O hipnotismo e a teoria da sugestão ou da

persuasão, segundo este autor que marcadamente influenciou FREUD em

1930, centra-se e enfoca-se no sentido muscular. De fato, a hipnose não é

mais do que uma estranha cumplicidade entre a idéia e o movimento, ou pelo

menos, evoca uma dialética inseparável entre tais componentes da vida

psíquica. Os métodos criados por CHARCOT em 1887, atribuíram ao

movimento uma função de restauração das idéias sãs, exatamente porque são

desejadas pela vontade do paciente. Segundo CHARCOT apud

BUENO(1998:120):

33

“Por hipnose, a palavra do médico, reeduca um pensamento desviante ou pervertido. É por meio de palavras, gestos e de atitudes que imprimimos ao sujeito, que ele atinge a idéia que desejamos transmitir-lhe”

O termo PSICOMOTRICIDADE apareceu realmente com

DUPRÉ, no final do século XIX com a intervenção da área médica,

especificamente a neurológica nas zonas do córtex cerebral em situar-se em

regiões mais além da “motora”, dando abertura ao campo psicomotor.

DUPRÉ apud BUENO (1909:65) com a neuropsiquiatria infantil em 1907

descreveu a síndrome da debilidade motora e relaciona-a com a debilidade

mental, isolando perturbações como os tiques, as sincinesias e as paratonias:

“Entre certas alterações mentais e as alterações motoras correspondentes

existe uma união tão íntima que parecem constituir verdadeiras paralelas

psicomotoras”.

Com a continuidade das pesquisas e estudos no eixo neurológico e

psiquiátrico, chegaram ao fisiológico em 1911 com HEAD no esquema

postural ou psicanalítico e SCHILDER em 1923, com a imagem do corpo no

eixo psicológico. Isto é HEAD com esquema corporal e SCHILDER a

imagem corporal. Em 1925 WALLON, ocupava-se do movimento humano,

dando-lhe uma origem categórica para o construtivismo do psiquismo.

WALLON estudava a relação entre motricidade e caráter, os aspectos

psicofisiológicos e emocionais, diferentemente de DUPRÉ, pois relacionava o

movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos da criança e

não à motricidade com a inteligência de DUPRÉ.

Segundo vários autores a palavra PSICOMOTRICIDADE só veio

a ser criada, por DUPRÉ apud FONSECA (1988) em 1907, na descrição da

síndrome da debilidade motora relacionada com a debilidade mental isolando

perturbações como os tiques, as sincinesias e as paratonias, já citada

anteriormente .

34

Citado por LEVIN (1998) é AJURIAGUERRA quem em seu

Manual de Psiquiatria Infantil, delimita com clareza os transtornos

psicomotores, “que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico”. E é nesta

oscilação que situa os transtornos propriamente psicomotores.

Na educação física, aparece, passivamente as relações entre

pensamento e movimento saindo da “mastificação física” com TISSIÉ (1894

e 1899) que foi certamente o primeiro autor ocidental a abordar as ligações

entre o movimento e o pensamento. Ele constrói um novo espaço de conceitos

que hesitam entre a fisiologia e a psicologia, para além de preconizar

historicamente a medicação pelo movimento. TISSIÉ (1894:79) coloca:

“Pela ginástica médica, o exercício físico dirigido pelo próprio indivíduo,

intercederá na ordem psicológica.

Segundo LEVIN (1988), em 1925 WALLON, ocupa-se do

movimento humano dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na

construção do psiquismo. Como aponta LE CAMUS, WALLON estuda a

relação entre motricidade e caráter, diferentemente de DUPRÉ , que

correlaciona a motricidade com a inteligência . Essa diferença permite a

WALLON relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e

aos hábitos da criança. Assim sendo, para este autor, o conhecimento, a

consciência e o desenvolvimento geral da personalidade não podem ser

isolados das emoções.

Lançando a denominada “ginástica médica”. Logo após o mesmo

vem GUILMAIN em 1935, chamado “Pai da Reeducação”, que no contato

com crianças portadoras de “distúrbios de caráter” constata e assume a

necessidade de um exame mais preciso, completo na indicação terapêutica e

prognóstica, assim construindo um método apoiado nos conceitos anteriores

prescritos, voltados à neuropsiquiatria infantil.

35

Na Argentina as origens da PSICOMOTRICIDADE criam-se

com a fundação dos primeiros institutos de reeducação para deficientes

mentais de diversos graus, como o “Instituto Argentino de Reeducación”

citado por LEVIN apud GARCIA (2001) onde se entregavam diferentes

áreas, médicos, psicólogos e professores. Logo após em 1949, mais duas

escolas especiais são fundadas e permanecem duas décadas sendo as únicas

escolas estatais existentes e funcionais onde ocorre à criação de um

regulamento na área de PSICOMOTRICIDADE.

O artigo 07 (sete) da proposição da lei francesa de 15/02/74 cita que

a reeducação deve ser “neurológica em suas técnicas, psicológica, e psíquica

em sua meta, destinada pela intermediação a atuar sobre as funções mentais

e psicológicas perturbadas tanto na criança como no adolescente ou adulto”

(1974). A prática psicomotora começa com EDUARD GUILMAIN em 1935,

que estabelece, continuando as perspectivas teóricas que abriu H. WALLON,

um exame psicomotor. Nos primeiros momentos da “prática” com a conduta

psicomotora e o caráter da criança vão servir de base para diversificadas

reeducações pedagógicas e psicomotoras (na Argentina, a linha teórica de

debilidade motora de COSTALLAT). Nesta época criou-se uma visão de

habilidades motora onde foram aparecendo vários testes como de

performance-bateria de WALTER, GOUREVITCH e OZERETSKI (idade

motora), BAILLER, de imitação de gesto de BEGÈS e LEZINE, perfil

psicomotor de PICQ e VAYER e outros. A prática era somente voltada a

reeducar a atividade tônica, desenvolvendo o controle motor com exercícios e

atividades de relaxação com coordenação motora associados.

A dupla AJURIAGUERRA e DIATKINE, com pesquisas nos

hospitais franceses em 1947 e 1948 redefinem o conceito de “debilidade

motora” como a síndrome e suas particularidades. E é AJURIAGUERRA que

em (1952, 1970 e 1974), passa a ser um dos primeiros autores a integrar os

36

modelos clínicos de KLEIN, LACAN, SCHILDER e REICH, tendo

construído uma aplicação, não meramente teórica ou conceitual, mas sim,

terapêutica, ressaltando mais significação relacional, afetiva e mediatizadora

dos problemas psicomotores do que a sua infra-estrutura anátomo-fisiológica.

Com o lançamento do Manual de Psiquiatria Infantil de

AJURIAGUERRA, são delimitado, os transtornos psicomotores dos

neurológicos e psiquiátricos em uma oscilação na localização dos transtornos

propriamente psicomotores os quais muito contribuíram para que a

PSICOMOTRICIDADE se diversificasse de outras disciplinas constituindo

sua especificação e autonomia (LEVIN 1998).

A avaliação psicomotora constatada nos seus exames do controle

motor e tônico; estruturações do espaço, do ritmo, das coordenações e das

habilidades motoras, provocam a complementação de um exame psicomotor

padrão com orientação de sessões de acordo com o quadro dos distúrbios que

o indivíduo se enquadrar.

WALLON (1966:55). comenta que a nível corporal existe uma

organização tônica ligada às vivências emocionais e afetivas, sendo uma

forma espontânea de lidar com o significado simbólico da vivência e que não

podemos evitar. E define esquema corporal “É a representação relativamente

global, científica e diferenciada que a criança tem do seu corpo”.

Já na década de 70 LE CAMUS apud LEVIN 1998, constata que

diferentes autores (BERGÈS, DIAKINE, JOLIVET, LAUNAY e LEBOVICI)

definem a PSICOMOTRICIDADE como “uma motricidade em relação”.

Começa a diferenciação entre uma postura re-educativa e uma

terapêutica que ao despreocupar-se de uma técnica instrumentalista e ao

ocupar-se do corpo em sua globalidade se dar progressivamente maior

valorização à relação afetiva e ao emocional que se fortificam com

LAPIERRI e AUTOUCURIER onde propõe um esboço de uma teoria

37

psicanalista da PSICOMOTRICIDADE, a qual marca uma virada nas

perspectivas clínico- teóricas do campo psicomotor nos vários conceitos

como: inconsciente; transferência; imagem corporal dentre outros.

A PSICOMOTRICIDADE registra em 1970 seus inícios fora do

campo educativo, lançando a PSICOMOTRICIDADE clínica, partindo das

contribuições francesas, pois na época a prática clínica era basicamente re-

educativa, inserida nos trabalhos de AJURIAGUERRA com base nos autores

como WALLON e PIAGET com trabalhos em fundamentos de exercícios e

avaliações, bem estruturadas com atividades lúdicas dirigidas com essência

na terapia de jogos livres e orientados. Essa terapia psicomotora na Argentina

é situada como sendo no percurso histórico da clínica psicomotora entre o

primeiro e segundo cortes epistemológicos.

LEVIN e BERGÉS são responsáveis em meados da década de 80

pelas reformulações de algumas teorias pelas quais o subjetivo era mais do

que evidente na relação psicomotora através das análises mas profundas e de

cunho psicanalítico, redefinindo as posturas e notificando dentre outras coisas

o sujeito e o corpo em movimento.

A história da PSICOMOTRICIDADE na realidade, sua “pré-

história“ (grifo nosso), começa desde que o homem fala, já que a partir desse

instante falará de seu corpo. Segundo BARTHES apud LEVIN (1995):

“Não é o homem que constitui o simbólico, é o simbólico, é o simbólico que constitui o homem. Quando o homem entra no mundo entra no simbólico que já está ali. E não pode ser homem se não entra no simbólico“.(1995:98).

AJURIAGUERRA afirma que: “O tônus que prepara e guia o gesto

é simultaneamente a expressão da realização ou frustração do indivíduo”

(1983:49).

38

Demonstrando que só com a vivência corporal de situações

psicomotoras e relacionais o indivíduo terá condições de moldar o seu tônus,

oscilando entre a hipertonia, normalidade e hipotonia, moldando-se às

situações e fortalecendo as situações cotidianas. Em 1982 a Sociedade

Brasileira de Psicomotricidade - SBP define a PSICOMOTRICIDADE

como “uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem por meio do seu

corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo” (1982).

Segundo BERGÉS: “O ritmo é teatro principal da atividade tônica-

motora, o qual funciona como suporte de todos os comportamentos

humanos” (1988:97).

É na década de 70 que a PSICOMOTRICIDADE vai nascer no

campo educativo, impulsionado pela influência francesa.

Comenta LE BOUCH que: “A educação psicomotora deve ser

considerada como uma educação de base na escola elementar, ponto de

partida de todas as aprendizagens pré-escolares e escolares“ (1981:77).

Ele lutou e conquistou na década de 60 a inclusão da educação

psicomotora nos cursos primários na França.

VAYER coloca que:

“Do ponto de vista educativo, o papel geral corresponderá, naturalmente, às diferentes etapas do desenvolvimento da criança, e assim entendemos que: no curso da segunda infância a educação psicomotora permanece sendo o núcleo fundamental de uma ação educativa que começa a diferenciar-se em atividades de expressão, organização das relações lógicas e as necessárias aprendizagens de leitura-escrita-ditado; no curso da grande infância a diferenciação entre as atividades educativas se faz mais acentuadamente, e a educação psicomotora mantém então a relação entre as diversas atividades que concorrem simultaneamente ao desenvolvimento de todos os aspectos da personalidade”. (1989:128).

39

LAPIERRE também coloca que a educação psicomotora: “É uma

ação psicopedagógica que utiliza os meios da educação física, com a

finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento do indivíduo”.

(1989:101).

Surgem vários autores psicanalistas como FREUD, KLEIN,

WINNICOTT, REICH, SCHILDER, LACAN na preocupação da vida

afetiva, LAPIERRE com psicometria relacional e AUCOUTURIER em

prática psicomotora via tecnicidade. Passa-se a investir numa nova caminhada

a PSICOMOTRICIDADE, investindo num corpo expressivo, que fala,

emite respostas, dando-se espaço para a harmonia entre as expressões do

corpo e a afetividade. Neste período, as novas tendências e contribuições da

psicanálise, emprestam atribuições e contribui através de novo olhar mais

analítico, re-educativo, terapêutico e clínico, marcando historicamente aqui a

mudança relativa ao terceiro corte epistemológico da

PSICOMOTRICIDADE. Essa nova prática envolve várias técnicas

corporais como a eutonia, a antiginástica, a PSICOMOTRICIDADE

relacional, a expressão corporal e outras e têm destaque os profissionais

como: ALEXANDER, AUCOUTURIER, LAPIERRE, JOLIVET, SAMI-ALI

e alguns mais. Para LAPIERRE apud DAMASCENO (1992) “o controle do

corpo e da respiração é uma etapa culminante da construção do esquema

corporal” (1992:59).

Em 1889 é publicado por LAPIERRE na revista “Somatothérapie” a

ramificação de seus estudos em duas linhas, uma terapêutica, chamada –

análise corporal da relação – e outra educativa e profilática, chamada -

PSICOMOTRICIDADE relacional. No Brasil a história da

PSICOMOTRICIDADE chegou com um grande atraso, em 1950 a 1960 e

foi baseada na prática re-educativa, acontecendo com os profissionais da área

da deficiência a valorizar o corpo e o movimento, na procura de dados para

40

interligá-los, apesar de não saber ainda a relação com

PSICOMOTRICIDADE.

As técnicas de MICHAUX em tratamentos motores utilizados em

São Paulo por o psiquiatra GRÜNSPUN na sua obra com distúrbios de

conduta, motores e psicossomáticos em relação ao desenvolvimento infantil e

também LEFÈVRE com seus trabalhos terapêuticos do movimento associado

à avaliação neurológica do indivíduo, com formação terapêutica vinda da

ginástica infantil, dos exercícios naturais e da rítmica. Já no Rio de Janeiro os

primeiros trabalhos iniciavam-se nos hospitais e em instituições com

deficientes físicos.

Foram criados cursos de formação de professores na área do ensino

especial, sendo o r)tmo um dos caminhos surgido para a estimulação dos

deficientes, em torno do final da década de 50 no Rio de Janeiro. Começaram

a aparecer as primeiras técnicas re-educativas no país na década de 60, com a

diferenciação dos pontos de vista da PSICOMOTRICIDADE de região para

região. Aparecendo um questionamento de qual seria a área da

PSICOMOTRICIDADE, na psicologia, na educação física, na

fonoaudiologia, no ensino especial e outras áreas afins surgem então escolas e

métodos diferenciados de outros países.

Em 1969, OLIVEIRA traz para Curitiba a formação de RAMAIN.

A partir de 1970 o Brasil dispara em seus estudos em

PSICOMOTRICIDADE com duas linhas de aplicação, a primeira composta

por profissionais que utilizavam os métodos e literatura do exterior, a segunda

por profissionais que aplicavam a prática na educação e reeducação.

A década de 80 é surpreendida pela eclosão da

PSICOMOTRICIDADE em vários estados brasileiros, ilustrada por

numerosos trabalhos, publicações, simpósios, palestras sobre o tema, sendo

seu maior expoente o I Congresso Brasileiro de Psicomotricidade (1982), no

41

Rio de Janeiro, com a presença de LAPIERRE. Posteriormente publicações

regionais são marcadas nos estados de São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul,

Minas Gerais, Rio de Janeiro, Ceará e Paraná, contribuindo para a estrutura

da PSICOMOTRICIDADE no Brasil, posteriormente realizou-se o II

Congresso em 1984 em Belo Horizonte (MG), seguido do III em Porto Alegre

(RS) no ano de 1986, sendo realizado três anos depois IV Congresso

Brasileiro de Psicomotricidade novamente no Rio de Janeiro (RJ), em

Salvador (BA) o V, o VI novamente no Rio de Janeiro (RJ) o VII em

Fortaleza (CE), aqui culminando no congresso de maior apresentação de

trabalhos científicos e finalmente o VIII Congresso Brasileiro mais uma vez

no Rio de Janeiro em 2001.

BUENO (1998), define a PSICOMOTRICIDADE como a

“educação do movimento ao mesmo tempo em que desenvolve a

inteligência”. (1998:45).

BUENO apud DAMASCENO (1992), exprime bem o significado

da PSICOMOTRICIDADE como uma:

“...Ação vivida no seu desenvolvimento para uma meta. O desenvolvimento do ato implica um funcionamento fisiológico, mas não se limita na soma de contrações musculares, pois constitui também a tomada de consciência”. (1998:55).

Hoje, ou melhor, a partir de 1995 surgiram psicomotricistas, de três

anos, fornecidos pelo IBMR – Instituto Brasileiro de Medicina e

Reabilitação no Rio de Janeiro, mas ainda há que se formar mais turmas e

obter o reconhecimento da profissão. A prática psicomotora possui

atualmente seus próprios fundamentos teóricos, é uma disciplina educativa,

reeducada e terapêutica totalmente independente.

42

2.1.2 – Fundamentos Epistemológicos

Segundo FONSECA (1988), a abordagem epistemológica da

PSICOMOTRICIDADE deve ser considerada numa perspectivas

tridimensional, através das continuas relações recíprocas dos fatores

neurofisiológicos, psicológicos e sociais, que intervém na integração,

elaboração e realização do movimento humano. A seguir relacionamos

algumas considerações do autor acerca da abordagem pluridimensional da

PSICOMOTRICIDADE.

Se considerarmos a evolução das idéias que neste campo inúmeros

autores desenvolveram, verificaremos a existência de duas tendências

extremistas: uma organicista, outra psicogenética. A primeira considera o

movimento como o resultado final da atividade dos três sistemas: o sistema

piramidal, efetor do movimento voluntário-ideocinético; o sistema extra-

piramidal, que assegura a atividade automático-teleocinética e o sistema

cerebeloso, regulador da equilibração do movimento. A segunda,

minimizando os aspectos neurofisiológicos, considera o movimento como

elemento determinante dos processos psíquicos. (FONSECA, 1988).

Na perspectiva do autor, entretanto, vêm-se tentando abordar

exaustivamente todas as tendências psicomotoras, interessando-se estudar o

movimento no que diz respeito fundamentalmente, ao ponto, de partida e ao

fim a que se ajusta, simultaneamente, com seu significado e a sua intenção.

(FONSECA, 1988).

Desde WERNICKE apud FONSECA (1988), que estudou as

desordens psicomotoras, passando por DUPRÉ a quem se deve um dos

primeiros estudos sobre as relações psíquicas e as relações motoras,

consideradas no seu ponto de visto patológico, através de sua célebre noção

de “debilidade motora” e também por autores como HOMBURGEN

43

(infantilismo motor), COLLIN (sintoma psico-neuro-muscular), OZERETSKI

(escala da motricidade) GUREWITCH (dominância sub-cortical), até os

trabalhos de WALLON, GESELL, STERN, PIAGET e fundamentalmente

AJUARIAGUERRA, suas escolas e continuadores.

A evolução dos estudos da motricidade engloba temas diferentes,

implicados nos estudos da teoria da "forma", do "behaviorismo”, da

psicologia clássica, da metapsicologia freudiana, da psicopatologia, das

teorias expressionistas e tantas outras.

Para FONSECA (1988), pretende-se uma linha separatista entre

psicologia e fisiologia, deseja-se encontrar uma fundamentação científica que

unifique de forma coerente toda a dimensão pluridisciplinar da

PSICOMOTRICIDADE. É esta a meta que propõe aflorar e é neste sentido

que se procura transmitir uma primeira contribuição que se distribui numa

visão teórico-prática que tenderá garantir uma possibilidade de estudo

permanente, dentro de uma prática sensível e modelada em função de novas

aquisições do conhecimento.

A PSICOMOTRICIDADE deixou de ser estudada isoladamente:

hoje, encontra-se enriquecida com os estudos da via instintiva-emocional,

com os da “linguagem”, com os da “imagem do corpo”, com os aspectos

perceptivo-gnósicos e práxicos e toda uma rede interdisciplinar, que vieram

dar ao estudo do movimento humano uma dimensão mais científica e menos

mecanicista. (FONSECA, 1988).

Além dos problemas da debilidade mental e motora, a

PSICOMOTRICIDADE interessa dos estudos da delinqüência (HEUYER),

da turbulência (WALLON), da instabilidade (ABRAIUSON) e da

emocionalidade e agressividade, bem como ao estudo de outros tipos de

perturbações das funções cognitivas e executivas, para não falar nos estudos

44

de W. REICH, relacionados com os problemas do caráter e das manifestações

psicanalíticas. (FONSECA, 1988).

A explicação do movimento não pode ser satisfeita por uma visão

anatômica, dada que se encobre o problema quando se estudam os ossos, as

articulações e os músculos e não se aborda o significado do movimento como

comportamento, ou seja, como relação consciente e inteligível entre a ação do

indivíduo e a situação circunstancial. O estudo evolutivo não pode recair em

métodos empíricos ou métodos correcionistas e padronizados, mas sim numa

ciência suscetível de inovações e permeabilidade experimental. (FONSECA,

1988).

A linha do estudo genético pretende combater os habituais

reducionismos científicos e as tradicionais superficialidades que, baseadas

numa longa prática, não são sensíveis a novos dados das descobertas de ser

humano. (FONSECA, 1988).

FONSECA (1988), concorda que é a prática que nos ensina, mas

essa prática que está voltada para uma realidade de mutação constante.

Para BUYTENDIJK apud FONSECA (1998) as inúmeras

investigações que no campo da PSICOMOTRICIDADE tem sido efetuadas

caem sempre na defesa de um conceito que também apelamos: "Não há

movimento para os homens, mas homens que se movimentam, assim como

não há objetos. Para os homens, mas homens que os utilizam". (1998: 187).

Para FONSECA (1988) a perspectiva fenomenológica é um elemento a

considerar, na medida em que demonstra uma tentativa para limitar a

insuficiência dos estudos dedicados à gênese da PSICOMOTRICIDADE.

Segundo esta perspectiva, defendida por autores como MINKOWSKI e

BUYTENDIJK é o homem que se move, como ser animado, e não qualquer

de suas funções que o compõem. De fato a perspectiva funcional do

movimento humano camufla um problema essencial, que é a importância do

45

movimento como comportamento. O movimento é sempre a expressão de

uma existência.

"O movimento é uma significação expressiva e intencional, é uma

manifestação vital da pessoa humana". FONSECA (1988:176).

Para FONSECA (1988), o movimento ocupa grande parte das

manifestações da história biológica do indivíduo dado que como

exteriorização significativa não é uma revelação abstrata, mas sim do

concreto vivido inerente ao sujeito. O movimento não resulta da integração de

estímulos isolados, mas unicamente das situações concretas que o

determinam.

A originalidade peculiar do movimento não o caracteriza como

mecanismo psíquico ou fisiológico, como consciente ou inconsciente; ele

traduz e projeta no mundo a ação relativa a um sujeito. (FONSECA, 1988).

As experiências vividas, por outro lado, só demonstram que é

impossível encarar o movimento de um modo parcial, na medida em que o

sentido global do comportamento explica o que se passa em cada uma das

partes do corpo. Torna-se, portanto elementar apoiar o estudo da gênese da

PSICOMOTRICIDADE, num quadro epistemológico dinâmico

permanentemente estruturado, evitando as justificações fisiológicas e

psicológicas analíticas. (FONSECA, 1988).

FONSECA (1988), os conhecimentos anatômicos e fisiológicos

serão úteis quando considerarem que o fundamento da execução do ato motor

é atingir um objetivo, um fim. Afirma que o essencial é a intencionalidade, a

significação e a expressão do movimento, e desta forma o movimento põe em

jogo toda a personalidade do indivíduo. O movimento é ao mesmo tempo

antecipação da ação (profeta da ação). Há em todo movimento humano uma

extensão antropológica que convém não esquecer.

46

FONSECA (1988) ressalta que não poderá esquecer que a vida,

como campo das experiências adquiridas, constitui urna sucessão ininterrupta

de atitudes corporais e de movimentos expressivos e representativos.

FONSECA (1988) afirma que toda a vida é contração muscular,

movimento; apenas desejamos impedir a análise da gênese da

PSICOMOTRICIDADE por uma via exclusiva do conhecimento científico

humano.

Por outro lado, queremos equacionar uma dimensão expressionista

do movimento humano e não considerá-lo como uma série de acontecimentos

e processos, ou como uma adição de contrações musculares. O estudo do

movimento humano é particularmente difícil, na medida em que, ao pretender

uma linguagem científica, se inclina para uma definição exata das leis e da

constância inerente aos fenômenos, tendendo para outra concepção de homem

corno organismo, idêntico a uma espécie de máquina físico-química. Na ânsia

de um paralelismo científico, os estados da motricidade inclinam-se para uma

metodologia idêntica à das ciências exatas, o que levam a concepções espaço-

temporais newtonianas e aproximações fisiológicas do tipo cartesiano. Os

estudos do movimento foram reduzidos a processos materiais, o que implicou

numa explicação mecanicista. (FONSECA, 1988).

O como não é urna máquina posta em movimento por um

psiquismo que habita o cérebro. A simples descrição e a exposição formal são

insuficientes para explicar a problemática comportamental atinente ao

movimento. Nem o dualismo metódico psicofisiológico serve para equacionar

a inumeralidade de significação do movimento. (FONSECA, 1988).

A interpretação dos fenômenos motores do comportamento humano

tem uma raiz biológica material, defendida pelos seus iniciadores. A biologia

à interpretação estreita e limitada dos fenômenos interiores do organismo foi

um salto. Só posteriormente, com JACOB VON UEXKOLL, a relação

47

funcional entre, o indivíduo e o meio; fenômeno, especifico da vida animal,

entrou em consideração nas observações biológicas e, conseqüentemente,

humanas.

Os estudos biológicos acabariam por demonstrar a impossibilidade

de explicar a totalidade dos fenômenos, através dos elementos constituintes.

Facilmente se percebe que também o movimento global do ser humano não

pode ser explicado através dos ossos, das articulações e dos músculos.

(FONSECA, 1988).

Também as teorias da forma (Gestaltismo) não satisfazem a

compreensão e o significado das funções vitais e do movimento humano. O

organismo humano não é uma estrutura ou uma forma; as suas funções são

dependentes e relacionadas por fenômenos originais e irregulares.

(FONSECA, 1988).

FONSECA (1988) ainda afirma que não se pode equacionar o

movimento do homem nos mesmos moldes do movimento de uma máquina,

e, portanto também não aceitamos que a explicação do "educador pelo

movimento" se identifique com a explicação que um engenheiro dá sobre uma

máquina. O movimento humano e, conseqüentemente, o seu estudo genético,

não pode ter uma descrição tão exata e tão processual como o movimento de

uma máquina. O movimento humano não se desenrola independentemente de

seu consciente; o indivíduo quando está em movimento, não é um espectador

desinteressado. O movimento não é exclusivamente objetivo, não é somente

aquilo que se vê, inúmeros outros aspectos escapara à simples observação.

Quando se pretende estudar o movimento como fenômeno de

comportamento, não poderá isolar de outras coisas, pois só assim, justifica-se

como função. O movimento assim encarado engloba e reúne todos os

movimentos expressivos e todas as atitudes significativas. Só assim se pode

48

perceber a inteligibilidade específica das atitudes e dos movimentos do ser

vivo. (FONSECA, 1988).

WEIZAECKER apud FONSECA (1988) esclarece muito bem este

ponto quando afirma:

"...Assim como não podemos fazer uma fisiologia completa das sensações, sem conhecer as percepções sensíveis, também não podemos construir uma fisiologia completa do movimento sem conhecer a intenção do movimento". (1998:92).

É esta a intenção que dá ao movimento o conteúdo de consciência.

Pode-se ignorar a consciência do animal que salta, mas não se ignorar a

intenção do homem ao movimentar-se. Neste limitado estudo sobre a gênese

da PSICOMOTRICIDADE, deseja-se evitar a fixação de conceitos ou a

adoção de uma linguagem finalista, última ou exclusiva. Pretende-se saber

aquilo que o ser vivo pode fazer (em termos de movimento, claro) e não como

o ser vivo faz. (FONSECA, 1988).

Além da base epistemológica da PSICOMOTRICIDADE,

consubstanciada no enriquecimento científico, dado pela neurofisiologia, pela

reflexologia, pela dinâmica da psicologia profunda e mais recentemente pela

psicologia social, pela dinâmica de grupo e pelos problemas relacionais, o seu

campo de investigação ainda se encentra pouco explorado. Se juntar ao estudo

epistemológico um estudo histórico da noção da PSICOMOTRICIDADE,

vamos encontrar um significado diferente, mas ao mesmo tempo, mais amplo.

(FONSECA, 1988).

Como afirmou FONSECA (1988), o indivíduo nasce somente com

as condições anátomo-fisiológicas dos seus reflexos. O equilíbrio orgânico

passa sucessivamente a sofrer uma modificação em evolução, provocada pela

resistência que o meio oferece, pelo seu riquíssimo potencial estimulador que,

passando através do como do indivíduo, por meio de sua estruturação motora,

49

inicia superior organização do sistema nervoso, especificamente o cérebro

(órgão mais organizado do organismo).

O organismo assume outra constante atualização de possibilidade e

capacidades através dos estímulos que o meio contém. O meio, ao solicitar do

organismo outra melodia adaptativa, promove no indivíduo uma harmonia de

crescimento, traduzida numa atividade sucessivamente condicionada. À

medida em que se observa a evolução, o pólo psicomotor liberta-se do pólo

orgânico, progredindo por estruturações próprias onde o envolvimento social

intervém profundamente, garantindo em termos dialéticos, uma conquista de

autonomia e de cooperação. (FONSECA, 1988).

Para FONSECA (1988), neste desenvolvimento surgem três tipos

de fatos que o condicionam: O primeiro, psicofisiológico, relacionados com

os problemas da aprendizagem e do condicionamento; o segundo, psico-

afetivo, relacionado com as motivações profundas e a emocionalidade, e o

terceiro, psicossocial, relacionado com os problemas da imitação-oposição

ou afirmação; portanto, com todas as implicações identificativas de um

indivíduo face ao outro.

2.1.3 – A Clínica Psicomotora

2.1.3.1 – Área de Atuação

A PSICOMOTRICIDADE enquanto ciência vem, desde os seus

primórdios, passando por mudanças fundamentais, no tocante à sua área de

atuação e seu objeto. Historicamente, a reeducação psicomotora é considerada

a precursora baseada no conceito de dualidade psicofísica seguindo o modelo

cartesiano, que surge em 1935 inicialmente com o seguinte plano de

exercícios (LEVIN, 1995):

50

"Reeducar a atividade tônica (com exercícios de atitude, de equilíbrio e de mímica); melhorar a atividade de relação (com exercícios de dissociação e coordenação motora com apoio lúdico) desenvolver o controle motor (com exercícios de inibição para os instáveis e desinibição para os emotivos)”. (1995: 88).

Segundo OLIVEIRA (1985), em seu início, e durante muito tempo,

a re-educação foi praticada, centrada nos distúrbios apresentados, tendo por

referência as condutas esperadas para cada faixa etária e anotando-se as

aquisições e as deficiências encontradas no exame psicomotor. A partir daí

era estabelecido o programa de reeducação que se orientava por métodos

psicomotores bem definidos, utilizando técnicas que visavam desenvolver o

que faltava: exercícios de destreza, ritmo, relaxamento, grafismo, orientação

espacial e temporal, etc., realizados isoladamente, área por área.

Fica claro, portanto, a fragmentação a qual era submetido o homem,

tendo seu corpo trabalhado em momentos estanques e dissociados. A noção

de "globalidade" era, portanto, desconhecida neste modelo mecanicista de

atuação psicomotora. A educação psicomotora, de que surgiu como uma

corrente pedagógica, também denominada “Psicocinética”, nasceu para suprir

as deficiências e falhas observadas na prática da Educação Física que não

vinha conseguindo realizar com êxito a educação real do corpo.

Para OLIVEIRA (1986), a educação psicomotora vai propor

situações que desafiem à ação, auxiliando a criança na organização e

estruturação de si mesma, na sua socialização e aquisição das linguagens

socializadas e na integração dos conhecimentos de um modo geral. Sem ser

pressionada a atingir um resultado pré-determinado, a criança será levada a

experimentar seu carpo de diferentes formas e confrontar suas descobertas

com a do outro, descobrir suas possibilidades e exercitar sua ação, comunicar

suas experiências e ouvir a do outro, num processo dinâmico e lúdico,

desencadeado pelas propostas do educador.

51

O papel preventivo da Educação Psicomotora, que deve ser uma

prática comum na educação das crianças desde a mais tenra idade, tem,

portanto, funções bem definidas que, segundo OLIVEIRA (1985) propiciam a

descoberta de si e do outro, aquisição de “identidade corporal”,

desenvo1vimento das habilidades psicomotoras, próprias de cada faixa,

desenvolvimento do movimento espontâneo e expressivo, chegando à

representação mental, percepção do mundo e dos objetos de urna forma

estruturada, desenvolvimento da linguagem em todos os aspectos e a

liberação da criatividade e da forma original de ser, própria de cada um.

A terapia psicomotora refere-se particularmente a todos os casos-

problemas nos quais a dimensão afetiva ou relacional parece dominante na

instalação inicial do transtorno psicomotor, afirma LE BOULCH (1982),

percebe-se, portanto, o início da tentativa de quebra do modelo cartesiano,

identificando-se o movimento como indissociado do psíquico e do emocional,

encarando o homem na sua totalidade.

Para OLIVEIRA (1986), a terapia psicomotora é um processo

terapêutico que envolve um engajamento na ação do paciente, criança ou

adulto, respondendo numa linguagem corporal, as manifestações do

inconsciente.

Aqui, o que se prioriza é a relação entre paciente e o terapeuta, que

se estabelece a partir de um diálogo tônico e, a partir de atividades

espontâneas, porém direcionadas permitindo-se então modificações em nível

de inconsciente.

Segundo LEVIN (1995), entretanto, a terapia psicomotora centra o

seu olhar, a partir da comunicação e da expressão do corpo, no intercâmbio e

no vínculo corporal entre a pessoa do terapeuta e a pessoa do paciente em

diálogo de empatia tônica. A passagem da terapia à clínica psicomotora

implica ocupar-se do sujeito e não mais da pessoa, ocupar-se da freqüência e

52

não da empatia, do vínculo ou da comunicação corporal; ocupar-se da

vertente simbólica e não da expressiva, ou seja, implica que se detenha na

estrutura dos transtornos psicomotores e não apenas em seus signos.

Substitui-se, portanto, o “psico" da PSICOMOTRICIDADE, da

psicologia para a psicanálise, determinando-se mais um salto epistemológico,

que sugere urna ruptura total com a dicotomia mente x corpo.

Para LEVIN (1995), portanto, a clínica psicomotora é aquela na

qual o eixo é a transferência e, nesta, o corpo real, imaginário e simbólico é

dado a ver ao olhar do psicomotricistas. O sujeito diz com seu corpo, com sua

motricidade, com seus gestos, e, portanto, espera ser olhado e escutado na

transferência desde um lugar simbólico. Esta concepção de sujeito implica um

corte que o lança a uma dimensão no real, no imaginário e no simbólico.

O campo de atuação da PSICOMOTRICIDADE, portanto,

caracteriza-se por seu direcionamento clínico, que vem se alterando a partir

das modificações teóricas e que, através dessa práxis, vai indicando o

caminho metodológico e ético.

2.2 – HIPERATIVIDADE

2.2.1 – Conceito e Evolução Histórica

É no mínimo pertinente esclarecer ao leitor, a título de “nota

introdutória”, que os conceitos primários sobre a HIPERATIVIDADE

basearam-se na nosologia do pensamento médio, paralelo à observação dos

distúrbios de aprendizagem. A concomitância associativa da

HIPERATIVIDADE aos distúrbios de aprendizagem era marcante e

indissociável na comunidade científica de então, dificultando o diagnóstico

53

diferencial entre ambos, portanto, a contextualização conceitual inicial é

passiva de tolerância, ainda que com inevitáveis ressalvas.

Entre os compêndios literários, ratifica-se copiosamente que já em

1895 faziam-se alusões análogas, ao que, muito depois iríamos conhecermos

por HIPERATIVIDADE. O oftalmogista HINSHELWOOD observou em

seus pacientes adultos que mediante acometimentos cerebrais secundários

(acidentes vasculares cerebrais – AVC’s, tumores e traumatismos),

apresentavam quadros sintomatologicamente semelhantes aos das crianças

inteligentes que apresentavam certas dificuldades acadêmicas, denominando

essa dificuldade como “Cegueira Verbal Congênita”.

Originariamente, a primeira descrição “oficial” sobre a

HIPERATIVIDADE de uma forma mais consistente e plausível, data do

início do século XX, mais especificamente em 1902, embora se saiba que

problemas com comportamento de agitação e falta de atenção em crianças e

adultos fazem referência, há tempos bem mais remotos, como constata

COSTA, onde foram descritas crianças portadoras de uma instabilidade

caracterizada por mobilidade intelectual e física extremas já em 1897, bem

como posteriormente as citadas por VON ECHONOMO acometidas por

encefalite epidêmica, entre 1916 e 1927.

A primeira descrição dessa condição é de primazia do médico

inglês GEORGE FREDERIC STILL, que depois de observar um grupo de 20

crianças excessivamente emocional, desafiadora, passional e agressiva e que

mostram resistência a adequações comportamentais mais aceitáveis.

Estatisticamente falando, havia três meninos para cada menina e um pré-

requisito foi determinado por STILL, a ausência de maus tratos familiares,

naturalmente para substantivamente ratificar a organicidade de sua teoria,

reforçada ainda pela observação de transtornos psiquiátricos (depressão,

54

alcoolismos e problemas de conduta) em alguns membros familiares dos

pacientes hiperativos, até então lesionados cerebralmente.

STILL apud CABRAL (1988) descreve essa manifestação como um

“conjunto de alterações comportamentais, em crianças, que não poderiam

ser explicadas por interferências de fatores externos” (1988:188)

(ambientais), mas sim, resultantes e/ou decorrentes de algum processo

desconhecido até este momento e posteriormente extensivos também aos

adultos.

As teorias de STILL corroboram veementemente em pouco tempo e

com o dizimar das analogias conceituais que faziam menção à doença como

decorrente a uma “falha moral” e que o prognóstico seria baseados em

castigos freqüentes e punições físicas.

STILL apud SUCUPIRA (1988), descreve a HIPERATIVIDADE

em crianças sem nenhuma história pregressa de doenças do sistema nervoso

central, nenhuma lesão cerebral demonstrável e com nível de inteligência

normal. Ainda na segunda década do início do século XX, notadamente em

1918, emerge com vigor nova hipótese, ainda co-relacionada aos distúrbios de

aprendizagem e de comportamento, deixando entrever a possibilidade de um

dano ou “Lesão Cerebral Mínima - LCM” (PINCUS e GLASER, 1966).

Naturalmente, ainda atendendo essa teoria, aos princípios refutáveis aos quais

citamos a princípios, haja vista que essa adjetivação provém do americano

STRAUSS, um médico neurologista e disseminador das práticas ortodoxas,

características daquele tempo.

A tentativa de associar o comportamento hiperativo a uma lesão

cerebral mínima ganha impulso também, após surto epidêmico de encefalite

letárgica nos Estados Unidos ocorrida, entre 1916 e 1927, observada por

VON ECÔNOMO. Pela carência legítima das evidências definitivas e/ou

mesmo da constatação primária da “lesão” propriamente dita, DENHOFF

55

propõem uma adequação conceitual mais apropriada que transmigra da então

“Lesão Cerebral Mínima” para “Disfunção Cerebral Mínima - DCM”, o que

ainda não torna o conceito legitimamente preciso (quiçá será algum dia),

contudo aproxima-o de forma mais plausível dos evidentes sintomas, tais

como: hiper-atividade, atenção, memória, organização e desempenho

cognitivo, não considerado.

SUCUPIRA (1988), compartilhando das adequações semânticas do

conceito de DENHOFF, pois enquanto disfunção, o diagnóstico é mais

facilmente aceito, já que uma lesão, geralmente, tende a se tornar um estigma.

DENHOFF acreditava que o comprometimento neuromotor deveria

ser considerado o denominador comum e o “Distúrbio Hipercinético do

Impulso” (termo também adotado pela Organização Mundial de Saúde –

OMS) caracterizado pela agitação, HIPERATIVIDADE, diminuição

progressiva da atenção, concentração escassa, distração, irritabilidade e

explosividade deveriam ser considerados como componentes

comportamentais. Assim, através destas observações estrutura-se na medicina

o conceito de DCM ou “Síndrome Hipercinética – SH”, mais próximo da

HIPERATIVIDADE propriamente dita.

As mudanças conceituais sucessivas exprimem, antes de tudo, a

falta de critérios e bases sólidas para definição da própria síndrome do que

avanço no seu conhecimento.

As nomenclaturas obscuras, apesar da evolução, ainda se faziam

presente, assim como hoje estamos sujeitos à nova formatação deste conceito.

Passamos de um “dano biológico” que dividia patamar com outras doenças

neurológicas e anátomo-funcionais, como: Síndrome de Down e Paralisia

Cerebral, para a “sublime” alcunha “Disfunção Cerebral Mínima - DCM”

(termo inaugurado entre a década de 30 e 50), desta paralelamente para

56

“Síndrome Hipercinética” até chegarmos em meados da década de 80 aos

termos hoje conhecidos.

Paralelamente A ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE

PSIQUIATRIA apud SUCUPIRA (1988), também caracteriza a expressão

comportamental da síndrome como “Reação Hipercinética da Criança -

RHC”. O que contemporaneamente conhecemos por HIPERATIVIDADE

decorre não somente de uma situação/fator isolado, o que nos obriga, pois, na

re-conceituação permanentes, pelos quais liquefazem-se necessárias as

devidas re-paginações históricas dos conteúdos, bem como, da diferenciação

entre a patologia HIPERATIVIDADE que sobrejaz à expressão inacabada

da modernidade, a hiper-atividade.

Em meados da década de 80 duas correntes de estudos caminhavam

paralelamente relatados através de publicações, pelas quais, na primeira, a

HIPERATIVIDADE é discutida como uma “síndrome clínica” (grifo nosso)

apropriada do modelo médico investigativo tradicional, o que difere da

segunda, com apelos focalizados na “identidade clínica” (grifo nosso), ou

seja, sustentados pela pluralidade dos enfoques no sentido primário de

explicar as alterações de comportamento.

Somente em 1995 a hipercinesia ou HIPERATIVIDADE é

considerada na comunidade científica como a “Síndrome do Déficit de

Atenção na Infância e Adolescência – SDAIA”, por crédito de VILANOVA.

A partir da observação desse pensamento e entre a

evolução/involução dos conceitos chegamos a HIPERATIVIDADE como

fator decorrente de um tácito acordo científico, refletido através do que hoje

conhecemos por Transtorno/Distúrbio do Déficit de Atenção e

HIPERATIVIDADE – o popular TDAH ou DDAH, a diferença agora é o

enfoque a HIPERATIVIDADE como expressão multifatorial de outras

inconformidades.

57

É importante ilustrar aqui ao leitor que a terminologia

“HIPERATIVIDADE” é resultante da evolução conceitual dos estudos

epistemológicos sobre esta condição clínica, tendo, ao longo dos tempos,

sendo ordinariamente ilustrada de Cegueira Verbal Congênita

(HINSSHELHOOD, 1895), Lesão Cerebral Mínima – LCM, Disfunção

Cerebral Mínima – DCM, chamada também de Síndrome Hipercinética

(LAUFER, 1957), Síndrome da Criança Hiperativa – SCH, Distúrbio

Primário da Atenção – DPA e Transtorno/Distúrbio do Déficit de Atenção,

com ou sem HIPERATIVIDADE – TDAH/DDAH ou DDA, em inglês

conhecido simplesmente por ADD (Attention Déficit Disorder).

A figura abaixo ilustra a incidência da hiperatividade em alguns

países.

2.2.2 – Gênese e Etiologia

A comunidade científica motivada pelo interesse geral e na ânsia de

respostas desenvolve estudos e observações intermitentes, com o objetivo

primordial de se mapear a etiologia da patologia, porém, ainda indissolúveis.

As pesquisas buscam atender aos limites cartesianos tradicionais do

pensamento conceitual nosológico (citado no capítulo anterior) e a possível,

identificação de déficit bioquímicos, naturalmente, com a intenção

58

determinista e “simplista” (grifo nosso) de se estabelecer paradigma para a

HIPERATIVIDADE.

Certamente, mesmo permeando uma jornada impregnada de

explicações ortodoxias, as tentativas de explicação etiológica têm

contribuindo para ampliar as discussões a respeito do tema, sobretudo no que

diz respeito à natureza dos fatores envolvidos.

Entretanto, a etiologia da HIPERATIVIDADE, pode ser

observada como sintomas coadjuvantes, o que denominamos aqui de

“HIPERATIVIDADE não-pura”, ou melhor, “pseudo-

HIPERATIVIDADE” posteriormente discutida em capítulo vindouro.

Dentre as hipóteses etiológicas mais aceitáveis estão: as possíveis

influências genéticas (síndrome do X-frágil) e hereditárias, os fatores

psicogênicos e os fatores ambientais. Quanto à fundamentação etiológica da

hipótese genética, a ratificação conceitual ainda é inconsistente pela ausência

de anormalidades cromossômicas que comprovem tal possibilidade fatorial,

ainda assim e neste caso, a HIPERATIVIDADE, sustenta-se de maneira

plausível e indescartável pela grande incidência de casos em que, a

comunidade familiar, dos portadores da “patologia hipercinética”, também

manifestam significativa HIPERATIVIDADE comportamental. Porém é

prudente que evitemos determinismos antecipados, neste caso, pois estas

mesmas expressões comportamentais podem apenas indicar a influência de

temperamento e personalidade, antes mesmo de significar uma patologia

hereditária. Pois, segundo SUCUPIRA: “...Quanto aos fatores orgânicos não

há nenhuma evidência concreta que confirme uma lesão cerebral como causa

da hiperatividade”. (1998:123).

Pelo exposto anteriormente, sobre a incongruência definitiva da

casuística orgânica, é primazia desta pesquisa notificar ao leitor, que mesmo

pela notória observação de quadros patológicos sem comprometimento

59

orgânico, a “catarse psicomotora” (como convencionamos chamar a

HIPERATIVIDADE) também se apresenta como sintomas coadjuvantes,

sobretudo nas lesões cerebrais mínimas comprovadas clinicamente, tais como:

paralisia cerebral, distúrbios convulsivos e determinadas síndromes de retardo

mental (COUTINHO, 1996).

Secundariamente e ainda nessa linha de raciocínio “justificativo” a

HIPERATIVIDADE evolutiva pode ser associada, ou mesmo, decorrente de

fatores externos (ambientais), como: traumas neonatais, distúrbios clínicos,

epilepsia, certos medicamentos, regimes alimentares, intoxicação por

chumbo, infecções tetânicas e uso de substâncias entorpecentes. Essa temática

será explicitada com maior rigor em capítulos finais e específicos nesta

pesquisa.

Outra possibilidade que corrobora paralelamente na intenção

elucidativa dos fatores etiológicos é que a HIPERATIVIDADE pode

também ser compreendida como resultante possível de uma disfunção do

centro de atenção do cérebro, que impede a concentração e controle do nível

de atividade psicomotora e seu planejamento.

Alguns autores intrinsecamente

atravessados pela sua formação atribuem a

HIPERATIVIDADE, como sendo decorrente de

uma desordem na “transmissão sináptica” (ver

ilustração logo abaixo), que KING traduz como “a

propagação de impulsos nervosos de uma célula a

outra”. Isso ocorre em estruturas celulares

especializadas, conhecidas como sinapses. Os impulsos nervosos são

transmitidos nas sinapses através da liberação de substâncias químicas

chamadas neurotransmissores. Uma dessas substâncias moleculares chamada

“Acetilcolina” sintetizada a partir de colina e acetil-CoA, notadamente nos

60

portadores de HIPERATIVIDADE sua produção é estatisticamente superior

em relação comparativa àqueles desprovidos da síndrome.

Conclusivamente, as perspectivas sazonalmente dos trabalhos

científicos sobre a HIPERATIVIDADE ou cartarse psicomotora, encontram

evidências de que sua etiologia é permeada pela condição neurobiológica.

Sendo que os trabalhos podem ser agrupados em duas grandes vertentes, um

que aponto o déficit funcional de certos neurotramissores (explanado

anteriormente) e outro que enfatiza o déficit funcional do lobo central do

cérebro, precisamente do córtex pré-frontal.

A HIPERATIVIDADE resulta de quatro tipos deficientes

(atenção, impulsividade, excitação e frustração/motivação) que podem causar

problemas em casa, na rua e na escola. A HIPERATIVIDADE é melhor

descrita como resultante da inconsistência e da incompetência do que como

resultante do mau comportamento ou desobediência, ainda porque o conceito

caminha definitivamente para caracterizar-se como um transtorno

neurobiológico.

2.2.2.1 – TDAH e Hiperatividade

O Transtorno do Déficit de Atenção – TDAH, ou DDA (Distúrbio

do Déficit de Atenção), como sugerem alguns autores é um distúrbio

eminentemente neurobiológico crônico, quer dizer, de longa periodicidade,

podendo persistir por toda a vida da pessoa, que tem início na infância, que

pode comprometer o funcionamento sócio-educativo-familiar do portador

dessa patologia, e que se caracteriza por três grupos de alterações:

HIPERATIVIDADE, impulsividade e desatenção.

61

O TDAH segundo o DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual,

4a. Edição), elaborado pela Associação de Psiquiatria Americana, distingue-se

em três modalidades:

1. Tipo predominantemente desatento (TDAH-D);

2. Tipo predominantemente hiperativo-impulsivo (TDAH-HI);

3. Tipo combinado (TDAH-C).

No primeiro, os sintomas mais alusivos são:

a) Prestar pouca atenção a detalhes e cometer erros por falta de atenção;

b) Dificuldade de se concentrar (tanto nos deveres em sala de aula como

em brincadeiras);

c) Parecer estar prestando atenção em

outras coisas numa conversa;

d) Dificuldades de seguir as instruções

até o fim ou então deixar tarefas e deveres

sem conclusão;

e) Dificuldades de se organizar para fazer

algo ou planejar com antecedência;

f) Resistência ou antipatia para fazer tarefas escolares ou iniciar

atividades que exijam esforço mental por

muito tempo;

g) Perder os mais variados objetos ou

esquecer compromissos;

h) Distrair-se com certa facilidade com

estímulos esternos à sua volta ou mesmo com

seus próprios pensamentos – “sonhadores”;

i) Memória recente insuficiente.

Já na forma hiperativa/impulsiva, o quadro sintomático apresenta-se

através da observação dos fatores abaixo:

62

a) Mover de modo incessante pés e mão quando sentados;

b) Dificuldades em permanecer em situações de espera;

c) Correr e subir em objetos freqüentemente em situações inapropriadas;

d) Dificuldades para manter-se em silêncio em atividades de lazer (jogos

e brincadeiras);

e) Falar alto e em freqüente demasia;

f) Responder perguntas antes mesmo de

serem concluídas;

g) Parecer ser tomada por agitação

“tônica-postural” constante;

h) Incapacidade de aguardar sua vez

em jogos, brincadeiras, filas, sala de aula e etc.;

i) Interromper freqüentemente os outros em suas atividades ou

conversas.

MATTOS (1998), assim com uma gama considerável de autores

mais contemporâneos e co-pesquisadores, atribuem ainda mais um subfator

do TDAH: o tipo residual e em remissão parcial. Este último para os casos

que mostram alguns dos casos citados sem, todavia, satisfazerem os critérios

de desatenção nem mesmo de HIPERATIVIDADE-impulsividade, mas que

apresentam um comportamento funcional em mais de uma área da vida.

Sublinha-se a diferenciação da remissão parcial do TDAH nos

adultos, quando não atingem os critérios mínimos para desatenção nem tão

pouco para HIPERATIVIDADE e impulsividade, mas que necessariamente

os satisfazia no período da infância. Pode-se ratificar aqui, e de acordo com os

substratos fornecidos que esses critérios atendem melhor para o diagnóstico,

isto é, a “impressão diagnóstica” em crianças e adolescentes, enquanto

carecem de uma melhor caracterização no adulto o que naturalmente dificulta

a precisão nessa última faixa etária.

63

A HIPERATIVIDADE também atende a esses critérios “neuro-

conceituais”, ainda que a rigor, seja apreciada apenas como uma expressão do

TDA, como afirma CABRAL:

“A hiperatividade significa apenas o aumento da atividade motora que também pode se encontrar em diversos distúrbios, como na esquizofrenia, na fase maníaca do distúrbio bipolar, em certos quadros ansiosos com agitação e até em certos casos de reações a determinadas medicações (anti-asmáticas, anti-alérgicas, etc.), ou em conseqüência de certas doenças físicas, como o hipertireoidismo, doenças cerebrais)”. (2002:103).

Naturalmente é conveniente a esta altura, intervirmos no

pensamento do autor e esclarecermos justamente à luz das considerações

dominantes a que a medicina de uma maneira geral ratifica, que as

comorbidades acima descritas podem sim desenvolver um quadro sindrômico

e somatologicamente de HIPERATIVIDADE, porém é pertinente salientar

que a HIPERATIVIDADE não pode ser tratada “apenas” como “um

aumento da atividade motora”, ela transpõe essa visão simplista. O quadro

clínico do paciente portador de TDAH deve ser analisado sob a luz criteriosa

de três aspectos distintos: a atenção, o controle do impulso/instabilidade e a

atividade motora.

Segundo BALLONE, para o entendimento da atenção é necessário

a revisão do conceito de vigilância e de tenacidade. A vigilância é tão

somente, “...a possibilidade de desviar a atenção para um novo objeto,

especialmente para um estímulo do meio exterior”. Já a tenacidade, pode ser

descrita como: “propriedade de manter a atenção orientada de modo

permanente em determinado sentido”. Apresentam-se aqui, essas duas

qualidades, geralmente em contraposição, ou seja, o quadro antagônico é bem

acentuado, “quanto mais tenacidade sobre um determinado objeto está se

64

dedicando, menos vigilância estamos em relação a eventuais estímulos a

serem apreendido”.

As alterações no déficit de atenção manifestam-se através de sinais

comportamentais extremamente visíveis, ainda que esses sinais apareçam em

pessoas sem a patologia, fica evidente nos portadores de TDAH o exagero.

Geralmente as pessoas portadoras de TDAH não cometem erros por puro

descuido, não se prendem a detalhes, são extremamente negligentes com suas

responsabilidades escolares, no trabalho ou em outras atividades, bem como:

a) Mostram dificuldade em atividades que exijam uma atenção

prolongada e contínua, tais como: tarefas e jogos;

b) Apresentam dificuldade na manutenção da atenção em relação à fala

das outras pessoas;

c) A ausência de persistência, não completam tarefas, não obedecem a

instruções passo a passo e não completam deveres, ou tarefas profissionais

por impaciência;

d) Apresentam estilo de vida desorganizado, geralmente as atividades

econômicas são permeadas pela

dificuldade de controlar talões de

cheques, cartões de crédito, contas e etc.;

e) A prática da perda de objetos ou

pertences, como chaves, celulares, óculos

e canetas fazem-se comuns;

f) Estímulos de qualquer natureza

desviam a atenção dos portadores de TDA que relutam a envolverem-se em

tarefas que exijam esforças mentais prolongados, tais como atividades

escolares e trabalhos caseiros;

g) Freqüentemente mudam de atividade, sem que para isso tenha

terminado a anterior;

65

h) São característicos os freqüentes atrasos aos compromissos;

i) Ocasionalmente sofrem da ocorrência de “brancos” em leituras,

conversas ou palestras.

Outras características:

Caligrafia ruim;

Dificuldade de coordenação;

Dificuldades no adormecer e no despertar (adormecer e

despertar tardios);

Hiper-sensibilidade a ruídos e ao tato;

Síndromes pré-menstruais acentuadas;

Dificuldade de orientação espacial;

Deficiência na avaliação do tempo.

2.2.2.2 – Hiperatividade X Instabilidade Psicomotora

Não é muito raro, no meio acadêmica e na literatura em geral, a

obscuridade conceitual e os equívocos quase sempre freqüentes a que se

atribuí à instabilidade psicomotora, por vezes confundida com a própria

HIPERATIVIDADE, contudo é imprescindível que se entenda que a termo

“instabilidade psicomotora” reside no ato ou efeito expressivo de manifestar-

se impulsivamente, como uma “força que atua como motivo3”, ou seja,

podemos aqui interpretar essa condição, como uma resposta motora através da

prescrição psíquica, automática e imediatamente a um estímulo.

Clinicamente falando, as pessoas com instabilidade psicomotora

são dotadas de reações súbitas, pelas quais respondem ou mesmo agem e

reagem sem pensar, apenas depois refletindo sobre essa ação. Também é

freqüente o hábito de responder perguntas inacabadas, porém, a característica

3 Definição retirada do Dicionário MICHAELLIS.

66

mais genérica, podemos situar assim, faz-se através da impaciência e da

dificuldade extrema de esperar. As crianças com essas características, por

vezes, não conseguem esperar sua vez nas brincadeiras e dificilmente

obedecem a filas, assim como nos adultos, essa condição pode acarretar

problemas sociais graves, tais como: dirigir perigosamente, pois como não

conseguem permanecer em situações de espera, geralmente fazem

ultrapassagens perigosas, correm em demasia e quase sempre avançam sinais.

A impulsividade também se traduz através do comer, comprar e tomar

decisões por impulso.

O importante aqui para dirimir quaisquer dúvidas sobre a

impulsividade em relações aos outros distúrbios é a temporalidade das

reações, ou seja, crianças e adultos impulsivos com facilidade reagem aos

estímulos subitamente e com certa explosividade, dizem-lhe o que vem à

cabeça, mas caracteristicamente essa reação passa quase que

instantaneamente, antecipando assim o arrependimento, o que a princípio em

outros distúrbios os ressentimentos duram horas e até mesmo, dias.

Dentro de uma contextualização social os impulsivos, pela ausência

reflexiva de suas reações, são pejorativamente adjetivados como “infantis” –

no caso dos adultos. Naturalmente essa taxativa simplista e típica do senso

comum, poderia ser evitada precocemente através da intervenção adequada da

comunidade escolar a princípio. Diante mão, revela-se aqui a importação da

educação como instrumento frenador no processo de inibição das respostas

imediatas.

A instabilidade psicomotora: “uma certa maneira de articular

postura e motricidade, a partir do momento em que a criança está sob o

olhar do outro, e tentando levar em conta a “imagem”que ela dá a seu

próprio olhar”, o que difere da “Debilidade Psicomotora” (grifo nosso) que

nada mais é que “um processo de interrupção, do desenvolvimento das

67

funções motoras e mais precisamente do sistema piramidal”. (BERGÉS apud

LEVIN 1999:47).

Alguns sintomas de instabilidade através dos transtornos

psicomotores:

Dificuldade em dar continuidade às brincadeiras e às

produções corporais;

Dificuldade para inibir movimentos;

Necessidade de estar sempre em movimento;

Atitudes expansivas e explosivas;

Inquietações e agitação;

Incapacidade para relaxar e permanecer quietas;

Descontrole emocional e neuro-vegetativos (sudorese nas

mãos, dores de barriga, vontade de urinar., rubor...);

Tiques (involuntário, súbito, rápido e repetitivo). Existe nos

tiques um período de "luta", de controle doloroso, seguido de uma

explosão "libertadora" do movimento, que se transforma em fonte

de constrangimento;

Paratonias (impossibilidade de relaxar voluntariamente um

músculo);

Paratonia de fundo: refere-se ao tônus global, e pode ser

evidenciada através de mobilizações passivas (tipicamente mexe nos braços

do paciente e este deverá deixá-los bem relaxados), o que se observa é uma

resistência permanente ao movimento, ou seja, não existe uma disponibilidade

à movimentação passiva.

68

Paratonia de ação: surge também a partir de uma movimentação

passiva, só que movimentos de uma certa amplitude, não aparece no início do

movimento e sim no seu decorrer, interrupções, um refreamento brusco,

definitivo ou transitório.

Sincinesias intensas, difusas e de instalações rápidas;

Atividades desordenadas;

Atenção dispersa, ocasionando alterações perceptivas;

dificuldade para focalizar a atenção;

Eficiência/deficiente durante trabalhos prolongados;

Nível mental normal.

Alterações das relações interpessoais;

Em alguns casos com alto nível de hiperatividade, transtornos do

sono e da atenção, considera-se uma indicação medicamentosa baseada no

uso de anfetaminas e psicotônicos, que deve ser dada pelo médico consultado

pela família.

A relação estreita entre a HIPERATIVIDADE e instabilidade

psicomotora, faz-se diante da associação direta e quase sempre incidente da

expressividade de ambas, isto é, podemos aqui representar (ainda que sob o

risco da elucubração) que “todo portador de hiperatividade tende a ser

instável psicomotor, porém nem todo instável psicomotor é necessariamente

hiperativo” (grifo nosso) ainda que esta última esteja intimamente ligada à

primeira, o que difere da debilidade psicomotora onde DUPRÈ já em 1907,

diferencia contundentemente o transtorno psicomotor do orgânico

propriamente característico, através da detecção das sincinesias e das

paratonias.

69

2.2.3 – Características Clínicas e Sintomatológicas

Segundo GOLDSTEIN & GOLDSTEIN (1994:41): “A

hiperatividade se manifesta através de quatro características e

comportamento”:

a) Distractibilidade / desatenção;

b) Hiperexcitação / atividades excessivas;

c) Instabilidade psicomotora;

d) Dificuldade com frustrações.

A apropriação dessas quatro “habilidades” implica de forma

significativa, comprometimento na capacidade para suceder a patamares

elaborados no limiar da realidade.

SUCUPIRA (1988), caracteriza no modelo clínico, o paciente

portador de HIPERATIVIDADE, como sendo o “personagem” que

apresenta um conjunto fatorial de comportamento variável, tais como:

movimentação excessiva e totalmente despropositada, desatenção,

instabilidade psicomotora agressividade difusa e não justificada e etc.,

geralmente seguida de problemas disciplinares, imperativamente seguido de

problemas de aprendizagem, ainda que sempre presente o nível mediano e

superior de inteligência. AJURIAGUERRA (1947), suscita à ligação

involutiva e direta da HIPERATIVIDADE nas esferas cognitivas,

proprioceptivas e afetivas, ainda que a descrevendo como incapacidade

congênita, visiomotora, maturação retardada ou irregular, associados a

movimentos exagerados, o que diuturnamente não se permite mais na

atualidade elucubrações de tal ordem físio-anatômica.

Em âmbito mais generalizado, a discussão sobre o assunto, pode

tomar dimensões emocionais consideráveis e comportamentos anti-sociais.

70

Assim, para alguns autores, a HIPERATIVIDADE e a instabilidade

psicomotora, associadas aos subfatores (porém não menos decisivos)

ratificam a DMC.

As características clínicas, bem como os critérios diagnósticos da

síndrome têm sofrido modificações, como afirma VILANOVA (1995). Ë

simplesmente impreterível que existam indivíduos, que já na mais tenra idade

manifestem dificuldades em manter o foco do seu interesse em atividade

determinada, mesmo de forma lúdica. Na pré-escola ou na fase escolar, estas

características são mais evidentes, pois a criança não consegue direcionar, ou

mesmo, manter sua atenção ao que lhe é ensinado, distraindo-se com qualquer

tipo de estímulo ambiental, podendo ainda, esses fatores se perpetuarem por

toda infância, adolescência e vida adulta. Assim, a título de reformo, a

HIPERATIVIDADE apresentada está proporcionalmente ligada aos

resultados e desempenhos escolares (positivos e negativos), ainda que

referencialmente sua cognição esteja dentre a média considerável ou muitas

vezes, acima dela.

A característica mais emblemática da HIPERATIVIDADE, como

a própria denominação alude, é a da constante tendência ao movimento, é o

sinal clínico mais freqüente e exuberante associado à síndrome do déficit de

atenção. Além dessas notórias evidências, outros sintomas podem expressar

evidências, tais como inabilidade e debilidade psicomotoras (recebendo por

essa conduta o estigma de desajeitadas ou desastradas). Podem paralelamente

apresentar dislalias associadas, ou de uma maneira mais simplista, um

desenvolvimento tardio da fala, ainda também um aumento no ritmo da fala

(especialmente um ritmo acelerado) caracterizando a taquilalia. Sobretudo

também apresentam labilidade emocional e dificuldades de internalizar

limites, principalmente em pacientes do sexo masculino, numa proporção de 4

71

x 1, ou seja, a cada ocorrência em número de quatro, apenas um caso atinge o

sexo feminino.

Associado a inabilidade psicomotora, os indivíduos acometidos

pela síndrome da HIPERATIVIDADE, apresentam inadequação no

desenvolvimento da noção espaço-temporal, que pode ser evidenciado através

da leitura de desenhos ou pela inabilidade no reconhecimento de símbolos

gráficos semelhantes entre si, que se diferenciam apenas pela disposição

espacial (por exemplo, com o número 3 e a letra E, ou a letra b, p, q e d).

Estas funções são difíceis de serem apropriadas pelos portadores da síndrome

de déficit de atenção com HIPERATIVIDADE, pois ao contrário do que se

espera, a grande maioria dos familiares e professores, passam uma gama de

tempo muito grande, reprimindo e estigmatizando as ações dos acometidos

pela síndrome.

Dentre os neurologistas, neuropediatras, psicólogos clínicos e

educacionais, psicopedagogos e psicomotricistas, há uma consenso geral no

que diz respeito à dificuldade real na avaliação da HIPERATIVIDADE,

sendo considerada a mais difícil abordagem a ser enfrentada.

2.2.3.1 – Crianças e Adultos Hiperativos

Através da caracterização comportamental da

HIPERATIVIDADE, as justificativas são mais tolerantes em relação ao

estresse gerado na família desses pacientes (o que chamaremos a partir desse

momento de: para-pacientes4), pois juntamente e em conformidade com

estudos realizados, a família é quadro determinante, ou mesmo, condicionante

na co-responsabilidade da patologia, assim como, em seu tratamento, pois

4

? Adequação semântica, ainda pela convenção temática.

72

geralmente a HIPERATIVIDADE está associada à genética de casos

precedentes e quase sempre ligados diretamente ao portador da síndrome.

Durante muito tempo, falar em "habitantes do mundo da lua" e

"bichos carpinteiros" imediatamente nos fazia lembrar daquelas figurinhas

que, merecedoras deste ou daquele apelido, incomodavam nossas vidas. Essas

crianças, que sabemos hoje serem portadoras de HIPERATIVIDADE, têm

dificuldade em controlar sua atenção, sua impulsividade e sua

HIPERATIVIDADE. Segundo o psiquiatra RUSSELL BARKLEY, uma das

maiores autoridades americanas em HIPERATIVIDADE:

"A atividade cerebral que comanda a inibição do comportamento, a auto-organização, o autocontrole e a habilidade de inferir o futuro está prejudicada por um metabolismo deficiente dos neurotransmissores, levando à incapacidade de administrar eficazmente os aspectos críticos do dia a dia" (1995:201).

Pensando desta maneira, veremos que essa definição tanto pode se

referir a crianças como a adultos, e é exatamente essa a conscientização que

vem ocorrendo nas últimas décadas.

A partir dos anos 70, os cientistas começaram a perceber que a

HIPERATIVIDADE não desaparecia com a adolescência. Na realidade,

70% das crianças diagnosticadas com o transtorno carregam os sintomas para

a vida adulta (CHADD, 2000). Freqüentemente, os sintomas básicos -

desatenção, impulsividade, HIPERATIVIDADE - acabam se tornando

menores e menos sérios do que os problemas causados por falta de

diagnóstico e tratamento na infância ou adolescência. Em adultos com a

síndrome da HIPERATIVIDADE, é bastante comum a instabilidade de

humor, problemas no trabalho, dificuldades nas relações interpessoais,

depressão, abuso de substâncias químicas e comportamento de risco como

73

decorrência das dificuldades originadas por esse transtorno, gerando sérias

dificuldades em outros campos, tais como:

As Relações Interpessoais: Entre os vários problemas de origem

neurológica ou psiquiátrica, é possível que a HIPERATIVIDADE seja o que

mais ocasione dificuldades no relacionamento sócio-afetivo. A incapacidade

fundamental de prestar atenção leva a um comportamento considerado

tipicamente masculino: não ouvir, não perceber os sentimentos dos outros,

não lembrar de acontecimentos ou datas importantes, não lembrar de fazer os

pequenos trabalhos da casa, esquecer o horário da festa das crianças etc. Essa

atitude pode parecer falta de amor e consideração. Juntando-se a isso uma

certa dificuldade em estabelecer intimidade, pois a HIPERATIVIDADE

impede de engajar tempo suficiente para criar essa intimidade, temos um

adulto com HIPERATIVIDADE facilmente rotulado de frio, insensível e

egoísta, características nada desejadas em um relacionamento amoroso. A

impulsividade contribui para dificultar ainda mais a situação, com decisões

tomadas sem consulta à companheira, "cabeça quente" e grande rotatividade

no trabalho profissional. No lado feminino, as queixas se referem ao

constante "sonhar acordada", depressão e frustração em nunca conseguir

desenvolver seu próprio potencial, além da sensação permanente de estar

presa numa armadilha (HALLOWELL E RATEY, 1994).

Como, em ambos os casos, esses sintomas são comuns à vida de

todo e qualquer casal, poucas pessoas levam em consideração a possibilidade

da HIPERATIVIDADE estar na base do problema de um casamento em

dificuldade. Freqüentemente, podem levá-las à beira do divórcio. Mesmo que

o transtorno possa abalar a intimidade de uma relação e deixar os parceiros

exaustos com o esforço de mantê-la, é possível equilibrar a situação de modo

74

que ambos possam trabalhar juntos, ao invés de estar, constantemente, um

contra o outro.

O Relacionamento Sexual: A maioria das pessoas não percebe o

impacto que a HIPERATIVIDADE tem sobre a vida sexual de um casal. Ele

pode ser extremamente negativo, e tem origem em dois fatores totalmente

opostos um ao outro: a “hiposexualidade” e a “hipersexualidade”. O parceiro

portador tanto pode exibir distração durante os momentos de intimidade, por

razões tão prosaicas como o som do relógio na mesinha de cabeceira ou a lista

de compras do dia seguinte, como ficar extremamente envolvido por uma

atividade sexual excessiva. O problema dos que se encaixam no primeiro

grupo não está na ausência de prazer ou interesse em relação ao sexo, mas na

dificuldade de ficar focado enquanto o praticam, assim como têm dificuldade

de permanecer focalizados em qualquer outra atividade da sua vida diária.

Não lhes falta libido nem motivação, nem podem ser classificados de

"frígidos" ou "assexuados". Os que estão do outro lado deste espectro

encaram sexo como mais uma situação altamente estimuladora, semelhante,

talvez, à prática de um esporte radical. É a sua maneira de aliviar o tédio ou

de focalizar a atenção. De certo modo, para essas pessoas, o sexo tem um

papel igual ao álcool, ao fumo e às drogas quando utilizados

inconscientemente como auto-medicação. Ambos os casos reagem de maneira

significativa a um tratamento adequado. Uma relação afetiva que envolve um

ou ambos os parceiros com HIPERATIVIDADE exige boas doses de

coragem, vontade de aprender, flexibilidade e compromisso. Mais do que em

qualquer outra relação, é preciso olhar e refletir sobre as razões que uniram o

casal em primeiro lugar. Ao invés de manter uma lista de sintomas do

companheiro, lembrar das qualidades responsáveis pela atração e mantê-las

vivas na mente. Dessa maneira, um homem e uma mulher ligados por algo

75

mais do que a HIPERATIVIDADE não permitirão que as dificuldades da

condição enfraqueçam ou destruam seu relacionamento

Hiperatividade e Atividade Profissional: Os prejuízos decorrentes

de todos esses sintomas vão desde os mais leves até os mais graves, com

conseqüências no funcionamento diário da vida

pessoal, acadêmica, social e profissional. Os

sintomas da HIPERATIVIDADE podem ocorrer

simultaneamente com outras doenças e/ou

estressores ambientais, de modo que é importante

não depender de auto-diagnóstico, mas procurar um

profissional qualificado e experiente que saiba como

fazer uma avaliação abrangente e adequada (Brown, 2000). Uma entrevista

para diagnóstico tem como objetivo identificar as três características básicas

do transtorno - distraibilidade,

impulsividade, HIPERATIVIDADE -

e verificar se elas são crônicas e

invasivas. Não deve ser breve nem

superficial.

As dificuldades encontradas

por um portador de HIPERATIVIDADE no trabalho são, provavelmente, as

mesmas com que lutou durante os anos escolares. Muitas das tarefas que deve

cumprir são iguais às de então: ler, escrever, planejar, calcular, organizar,

escutar, memorizar e lembrar. Hoje em dia, os empregos que não exigem tais

habilidades estão ficando cada vez mais raros, em função do desenvolvimento

tecnológico, e a importância dessas habilidades cognitivas aumenta a cada

dia.

76

Felizmente, ao contrário da escola, o mercado de trabalho é amplo,

o suficiente para possibilitar, escolhas que levem em consideração os pontos

fortes, as dificuldades, os interesses e a motivação de cada um. Lado a lado

com essa extensa gama de opções, um jovem adulto com

HIPERATIVIDADE também se depara com desafios bastante significativos.

A responsabilidade de "manejar" a dificuldade não é mais dos pais,

professores ou outros, é dele próprio. É crucial que assuma inteiramente o

trabalho de controlar seus padrões de comportamento e de encontrar as

acomodações necessárias para o sucesso profissional.

Os especialistas nem sempre concordam sobre o melhor caminho

profissional para portadores de HIPERATIVIDADE. Alguns sugerem

atividades que permitam o máximo de liberdade, outros falam em carreiras

com alto nível de estímulo, como piloto, bombeiro, atleta radical. No entanto,

é possível perceber que eles estão em quase todos os campos de trabalho,

desde informática, ensino, direito até foto-jornalismo, publicidade e exército.

O ponto importante, na verdade, é descobrir, quais são as características, que

fazem determinado emprego certo ou absolutamente errado para determinada

pessoa. O "X" da questão é encontrar a ocupação mais compatível dentro da

carreira de escolha. Para isso, é preciso analisar seus próprios interesses, seu

tipo de personalidade, suas habilidades, suas dificuldades e seu nível de

treinamento. Não basta sentir vontade de seguir este ou aquele caminho, é

necessário pensar nas possíveis armadilhas que a HIPERATIVIDADE pode

provocar em determinada área. E é necessário pensar antes se comprometer

com um emprego, para minimizar ou evitar futuros problemas.

A maioria dessas armadilhas parece saída de uma lista de sintomas

de HIPERATIVIDADE (NADEAU, 1997):

77

1 - Distraibilidade: pode ser causada tanto por fatores externos

(ambientais) como internos (uma mente que vaga);

2 - Impulsividade: não pensar antes de agir;

3 - HIPERATIVIDADE: os empregos sedentários são pouco

recomendados para portadores que costumam levantar, passear, sair

freqüentemente do lugar;

4 - Problemas de memória: o esquecimento é um problema rotineiro

de adultos com HIPERATIVIDADE, e está diretamente ligado ao

nível de pressão ou complexidade do dia;

5 - Tédio: alguns adultos não suportam a falta de estímulo contínuo,

e se aborrecem com facilidade;

6 - Problemas com o controle do tempo: que podem se manifestar

através de atrasos freqüentes, obsessão com o horário ou em

comprometer-se com mais coisas do que é possível fazer;

7 - Procrastinação: freqüentemente, um problema muito sério para

os portadores;

8 - Dificuldades com projetos em longo prazo: relacionados com

alguns dos fatores já enumerados, como controle do tempo,

tendência à procrastinação e dificuldades com planejamento e

organização;

9 - Trabalho burocrático: requer organização, auto-disciplina e

atenção a detalhes, habilidades tipicamente difíceis para adultos

com HIPERATIVIDADE;

78

10 - Dificuldade de inter-relação: conseqüência de falhas básicas no

processo de socialização, muitas delas decorrentes da dificuldade de

atenção e HIPERATIVIDADE próprias do transtorno.

A maioria dos hábitos que aprendemos para viver bem na

companhia dos outros são aprendidos durante os anos da Educação Infantil

(NOVOTNI,1999).

Parece simples e óbvio que adultos pratiquem esses hábitos

naturalmente, mas na realidade, portadores de HIPERATIVIDADE têm

dificuldade em seguir as regras sociais. Primeiro, porque elas não são escritas,

são regras supostamente conhecidas. E se alguém não prestou atenção quando

elas foram explicadas naqueles primeiros anos? Ou estava distraído quando

foi feita a distinção entre um comportamento aceitável e outro não? Ou se a

regra é conhecida, mas a impulsividade faz com que se fique cansado de

esperar?

Outros comportamentos importantes na interação entre as pessoas

incluem a linguagem verbal (o que se diz, adequado a momento e

circunstância) e a linguagem não verbal (contato visual, expressões faciais,

movimentos de cabeça e mãos). As habilidades da comunicação não verbal

são adquiridas, principalmente, através de aprendizagem incidental, isto é,

observando os outros, copiando seu comportamento, praticando e sendo

instruído a respeito do que fazer em determinadas situações. Crianças com

HIPERATIVIDADE não percebem determinados detalhes, de maneira que

não praticam essas atitudes e, quando aprendem alguma coisa, é através da

maneira mais difícil e sofrida. Pior que tudo, muitas vezes nem têm

consciência do que está errado. É o que se pode chamar de "falta de

desconfiômetro", muito comum em adultos hiperativos, que já cristalizaram

79

essa característica. É fácil imaginar os problemas que ela acarreta na área

profissional.

Como afirma a psicóloga MARIA CRISTINA BROMBERG, o

trabalho ideal não existe, não há emprego que não demande esforço ou ajustes

da parte de qualquer profissional. É possível escolher o emprego mais

favorável para a condição, mas haverá sempre a necessidade de adaptações,

compreensão das próprias dificuldades e a consciência de saber quando pedir

ajuda.

2.2.4 – Diagnóstico

A síndrome da HIPERATIVIDADE tem sido reconhecida há

muito tempo; no entanto, os aspectos de diagnóstico têm sido sujeitos a

numerosas conceituações, redefinições e renomeações, apresentando um

panorama abrangente e pouco esclarecedor.

Quando se fala em diagnóstico, existe um consenso geral da

comunidade médica e científica, bem como entre a maioria dos autores,

baseado fundamentalmente na avaliação clínica, sendo naturalmente

fundamentado pelo histórico detalhado (anamnese), com ênfase especial ao

período escolar. Em 1980, o Manual de Diagnóstico e Estatística de

Distúrbios Mentais (DSM-III; APA, 1980) forneceu a primeira definição

detalhada do diagnóstico da HIPERATIVIDADE. Na época da publicação, o

entendimento da criança hiperativa foi influenciado pelo trabalho de

DOUGLAS (1972), que focalizava os tipos de problemas de atenção

apresentados pela criança hiperativa e estabelecia primazia ao comportamento

de desatenção sobre a movimentação motora, para o diagnóstico de

80

HIPERATIVIDADE. Conseqüentemente, estabeleceu-se o termo "distúrbio

de déficit de atenção" (FRICK e LAHEY, 1991).

A definição do distúrbio de déficit de atenção com

HIPERATIVIDADE (ADD), no DSM-III, foi a primeira a usar a

conceitualização multidimensional, exigindo, que a criança com

HIPERATIVIDADE fosse classificada em cada uma das áreas primárias:

desatenção, impulsividade e HIPERATIVIDADE. Em adição, o DSM-III foi

o primeiro sistema a distinguir a criança com déficit de atenção e

impulsividade com HIPERATIVIDADE (ADDH) daquela com déficit de

atenção sem HIPERATIVIDADE (ADD / WO). A inclusão da ADD / WO

foi prevista por se hipotetizar que o déficit de atenção e impulsividade sem

super-atividade delineava uma síndrome distinta. O diagnóstico do déficit da

atenção com HIPERATIVIDADE (ADDH) baseou-se na ocorrência do

desenvolvimento impróprio da super-atividade, do déficit de atenção e de

impulsividade durante seis meses, no mínimo. Estes sintomas deveriam

ocorrer pela primeira vez antes dos 7 (sete) anos de idade (LAHEY et al.,

1990; FRICK e LAHEY, 1991).

Infelizmente, antes da realização de testes empíricos adequados à

definição do DSM-III, publicou-se o DSM-III-R (APA, 1987), que foi

substituído pelo DSM-IV (1994). A nova categoria, do DSM-III-R,

denominada "distúrbio de déficit de atenção por HIPERATIVIDADE"

(ADHD), eliminou a distinção entre as três dimensões dos sintomas

empregados no DSM-III (desatenção, impulsividade e

HIPERATIVIDADE), propondo uma definição unidimensional, ou seja,

uma criança é considerada com ADHD se manifesta oito ou mais sintomas de

uma lista de quatorze comportamentos que refletem impulsividade,

desatenção e HIPERATIVIDADE motora. O critério do diagnóstico do

81

ADHD (314.01; p.52), segundo o DSM-III-R, apresenta as seguintes

observações:

a) Considera-se apenas o comportamento, como indicativo da síndrome,

se o mesmo for mais freqüente na criança em questão, comparativamente à

outra da mesma idade mental;

b) Dos quatorze comportamentos arrolados abaixo, no mínimo oito deles

devem ter se manifestado por, pelo menos, seis meses.

1. Freqüentemente irrequieta com as mãos ou os pés ou contorções no

assento (nos adolescentes, pode ser limitado a sentimentos subjetivos de

impaciência).

2. Tem dificuldade de permanecer sentada quando requerido que o faça.

3. É facilmente distraída por estímulo exterior.

4. Tem dificuldade de esperar por sua vez nos jogos ou situações de

grupo.

5. Freqüentemente dá respostas precipitadas, antes mesmo da pergunta

ter sido finalizada.

6. Tem dificuldade em seguir

instruções (não devido a um

comportamento de oposição ou de

compreensão das mesmas); por

exemplo, falha em terminar as tarefas

de casa que lhe são propostas.

7. Tem dificuldade de manter a atenção nas tarefas ou nas atividades de

jogo.

82

8. Freqüentemente alterna de uma atividade não terminada à outra.

9. Tem dificuldade de brincar silenciosamente.

10. Com freqüência fala excessivamente.

11. Freqüentemente se intromete ou interrompe outros, por exemplo,

intromete-se nos jogos de outras crianças.

12. Freqüentemente parece não ouvir o que está lhe sendo dito.

13. Com freqüência perde os materiais necessários à realização de tarefas

ou de atividades na escola ou em casa (por exemplo: brinquedos, lápis, livros,

lição de casa).

14. Freqüentemente se ocupa em atividades fisicamente perigosas sem

considerar possíveis conseqüências (não com propósito de buscar emoções),

por exemplo, correr para a rua sem olhar.

O DSM-III-R criou duas novas categorias de HIPERATIVIDADE:

1. uma caracterizada por HIPERATIVIDADE e impulsividade sem

desatenção;

2. outra, caracterizada por desatenção e HIPERATIVIDADE sem

impulsividade.

Conseqüentemente, a ADHD é mais inclusiva do que a ADDH do

DSM-III (LAHEY et al., 1990; LAHEY e KARLSON, 1991); algumas

crianças que se encontram diagnosticadas como ADDH não serão, ao mesmo

tempo, agrupadas no ADHD, porque alguns sintomas foram tirados do DSM-

III-R, enquanto que outros foram acrescentados, como, por exemplo, "a

hiperatividade pode ser mostrada pela fala excessiva..." (APA, 1987: 58).

83

Os comportamentos estão distribuídos em três dimensões, ou seja,

desatenção, impulsividade e HIPERATIVIDADE, em relação ao DSM-IV

(APA, 1994) comparativamente ao DSM-III-R, no qual as mesmas não estão

claramente estabelecidas. Na dimensão HIPERATIVIDADE, no DSM-IV,

foram considerados os itens (1), (9) e (10) do DSM-III-R e acrescentados os

comportamentos:

freqüentemente se levanta na sala de aula ou em outras situações

nas quais deveria permanecer sentado;

com freqüência e excessivamente corre de um lado para outro em

situações impróprias (nos adolescentes ou adultos pode ser

decorrente de sentimentos subjetivos de agitação);

parece estar, freqüentemente, "ligada" e é descrita como "com o

motor ligado".

Os sintomas acima mencionados, como no DSM-III-R, devem estar

presentes antes dos 7 (sete) anos de idade, e pelo menos por seis meses, sendo

que os mesmos precisam manifestar-se em duas ou mais situações; por

exemplo: na escola (ou no trabalho) e em casa, devendo naturalmente seguir

os critérios aqui sugeridos pelo organograma ilustrativo (abaixo). Na

dimensão impulsividade foram considerados os comportamentos (4), (5) e

(11). No entanto, observa-se que no DSM-IV o diagnóstico da

HIPERATIVIDADE não está bem estabelecido, considerando que os

comportamentos entre as dimensões HIPERATIVIDADE e impulsividade se

interpenetram. Para o diagnóstico de ambas as dimensões, necessitam-se de,

pelo menos, seis ou mais dos nove comportamentos arrolados, sendo seis na

dimensão HIPERATIVIDADE e três na impulsividade (instabilidade

psicomotora). Cabe lembrar, que a HIPERATIVIDADE não impede de

forma absoluta a concentração, assim é que certas pessoas são capazes de um

84

bom desempenho na área profissional, devido ao interesse pela atividade que

realizam, mas em todos os outros momentos, a atenção falha desastrosamente.

Também cabe lembrar que como qualquer outro distúrbio, existe a

possibilidade de uma gama variável de intensidade no quadro clínico, indo

desde casos leves ou discretos até casos graves com intenso

comprometimento funcional.

Ainda que sem determinismos sintomáticos

necessários, faz-se ainda natural na prática médica e

conseqüentemente na leitura do quadro clínico da

HIPERATIVIDADE, o uso do EEG –

Eletroencefalograma, exame desenvolvido pelo

85

psiquiatra alemão BERGER (1929) para mensurar as correntes elétricas

geradas pelo cérebro humano, que é realizado usualmente através de eletrodos

(pequenos discos metálicos) afixados com um gel condutor de eletricidade à

pele e crânio. Um poderoso amplificador eletrônico aumenta milhares de

vezes a amplitude do fraco sinal elétrico gerado pelo cérebro, trazendo à luz

das idéias contemporâneas o mapeamento das condições neurofuncionais

apresentadas semelhantes à descrição abaixo.

O eletroencefalograma das pessoas com HIPERATIVIDADE, não

apresenta anormalidades típicas capazes de auxiliar o diagnóstico, embora já

se saiba que nesses pacientes o EEG comumente mostra um traçado atípico,

com alterações inespecíficas. O EEG tem sua aplicabilidade, sobretudo para

detectar outras disfunções associadas, dirimindo assim análises evasivas,

primando pela proximidade real e diagnóstica, mas concisa.

O importante pré-requisito para o diagnóstico é lembrar que a

HIPERATIVIDADE é uma condição que acompanha o indivíduo desde a

mais tenra idade, portanto ninguém adquire o transtorno em idade adulta, o

86

que é freqüentemente confundido com comportamentos circunstanciais, isto

é, transitórios decorrentes de fatores externos estudados no capítulo

concernente ao diagnóstico diferencial.

CORNNERS, apud GOLDSTEIN & GOLDSTEIN (1994), afirma

que o diagnóstico da HIPERATIVIDADE é difícil e complexo, afirma que:

“não existe nenhum teste diagnóstico absoluto para a hiperatividade”. A

estenose a que acomete os profissionais diante da relatividade do diagnóstico

é sublimada através das impressões diagnósticas colhidas através da

compilação de informações de variadas fontes e instrumentos.

O processo de identificação do quadro clínico deve incluir cinco

etapas importantes. A primeira é que o comportamento da criança deve se

enquadrar na definição de distúrbio da HIPERATIVIDADE com déficit de

atenção, conforme descrito na edição mais recente do Diagnostic and

Statistical Manual da American Psycliatric Association (Washington, DC,

1987). A segunda etapa envolve aplicação de um questionamento bem

elaborado para os pais e professores. Entretanto, lembrando-se de que os

questionários não fazem o diagnóstico, apenas descrevem os

comportamentos. A terceira etapa envolve a coleta de informações objetivas e

científicas relativas ao comportamento e as deficiências de habilidades. Ela

inclui a observação do comportamento na sala de aula e um teste direto com o

paciente. A quarta etapa envolve uma avaliação cuidadosa do paciente em

vários ambientes e isso inclui no mínimo a escola, a sua casa e a vizinhança.

Finalmente a quinta etapa e de maior relevância, pois é quando, é considerado

criteriosamente se os sintomas refletem ou não outro distúrbio associado, seja

de ordem cognitiva (aprendizagem) ou clínica.

A intencionalidade da avaliação não deve primar conotativamente

pela ordem classificatória, presas pelo senso comum, e na ânsia da

objetividade de um tratamento particular e direcionado. Um diagnóstico de

87

PSICOMOTRICIDADE não implica impreterivelmente em qualquer

tratamento específico. Seria leviandade supor que qualquer tratamento

especial seja necessário, ainda, que seja tão dinamicamente profetizado na

contemporaneidade os resultados transdisciplinares, ou seja, é cada vez mais

comum muilti-profissionais intervindo a serviço de uma determinada

patologia, com resultados qualitativos e quantitativos, já presenciados pela

literatura médica e alternativa.

SINTOMAS A SEREM OBSERVADOS:

Se a criança tem pelo menos seis desses sintomas...

Se a criança tem pelo menos seis desses sintomas...

É inquieto, vive mexendo as mãos e pés e se remexendo na cadeira .

Não enxerga detalhes ou comete muitos erros por falta de cuidado.

Tem dificuldade de permanecer sentado.

Tem dificuldade de manter a atenção.

Corre sem destino ou vive subindo nos móveis, janelas, muros etc.

Parece não ouvir quando está entretido com alguma coisa.

Tem dificuldade de engajar-se em atividades.

Tem dificuldade de seguir instruções e regras ou não termina o que começa.

Fala excessivamente Evita ou não gosta de tarefas que exijam esforço prolongado

Responde às perguntas antes mesmo que sejam formuladas

Perde freqüentemente objetos necessários às suas atividades

Age como se movido por um motor

Distrai-se com facilidade

Tem dificuldade de esperar a vez Esquece freqüentemente de cumprir atividades diárias

Interrompe ou se intromete em qualquer conversa

 

...ela pode sofrer do transtorno da hiperatividade ...ela pode ter déficit de atenção.

Fonte:A Gazeta Viva – Ano 1 – nº 4 – Abril/2000 (p.50 a 53)

88

2.2.4.1 – Diagnóstico Diferencial

Diversas condições psiquiátricas podem ser freqüentemente

confundidas com a HIPERATIVIDADE. As mais comuns são:

a) Distimia;

b) Distúrbio de ansiedade generalizada;

c) Esquizofrenias larvadas;

d) Transtorno de estresse pós-traumático;

e) Distúrbio bordeline da personalidade;

f) Distúrbio histriônico da personalidade;

g) Manifestações do hipertireoidismo;

h) Alcoolismo e/ou dependência de drogas.

Não é propósito desta pesquisa a conceituação e/ou caracterização

das comorbidades acima mencionadas, porém é salutar acentuar que o

histórico clínico é impreterível para qualquer diagnóstico, principalmente na

fase escolar nesse caso. Desta forma, torna-se impossível determinar a

proporção de crianças hiperativas em todas as situações (global) e/ou em

apenas uma delas (situacional), se o Manual de Diagnóstico e Estatística de

Distúrbios Mentais (DSM-III; DSM-III-R; DSM-IV) permanecer sem

especificações futuras. Da maneira como se apresenta, a ADDH (DSM-III) ou

a ADHD (DSM-III-R), pode ser semelhante a HIPERATIVIDADE

situacional, em alguns estudos, e a HIPERATIVIDADE global, em outros

(SCHACHAR, 1991).

Segundo CABRAL, uma importância característica da

HIPERATIVIDADE, principalmente em adultos é o que se convencionou

chamar de comorbidade, ou seja, certas disfunções psiquiátricas corroboram

no quadro clínico e devem sofrer intervenção específica e simultânea ao

89

tratamento da HIPERATIVIDADE. Outro traço marcante é a evolução

cambiante, isto é, marcadamente o quadro clínico muda sua aparência ao

longo dos anos, embora em segundo plano persistam sempre os sinais básicos

da tríade mencionada (desatenção, HIPERATIVIDADE e impulsividade).

BROW, em 1995 propõe critérios baseados em aspectos cognitivos

e emocionais, que consideramos nucleares do tratamento do transtorno e que

não estão listados no DSM-IV, apesar de freqüente nessa população clínica

também em cinco grupos de sintomas, apresentados a seguir:

1. Ativação e organização no trabalho: dificuldades de iniciar

tarefas, organizar-se e se estimular sozinho para rotinas diárias;

2. Sustentação da atenção: dificuldade para manter a atenção nas

tarefas, distração ou “sonhos acordados” excessivos durante o dia, em

especial quando está ouvindo e lendo por obrigação;

3. Manutenção da energia e do esforço: dificuldade de manter um

nível consistente de energia e esforço nas tarefas, sonolência diurna e cansaço

mental;

4. Labilidade do humor e hipersensibilidade a críticas: irritabilidade

variável e não desencadeada por fatores externos, aparente motivação, rancor

exagerado;

5. Dificuldades mnêmicas: dificuldades na recuperação de material

recente (nomes, datas, fatos) e remotos.

Devido a esses problemas, os pacientes têm baixo auto-estima,

sentem-se freqüentemente desmoralizados, fracassados e superados pelos seus

pares. A comorbidade ocorre com dificuldade no aprendizado, depressão,

irritabilidade e abuso de substâncias.

Os seguintes distúrbios psiquiátricos com freqüência associado à

HIPERATIVIDADE são:

90

a) Transtornos de aprendizagem;

b) Tiques e Tourette;

c) Transtornos depressivos, geralmente as distimias secundárias ou

quadros depressivos intermitentes;

d) Transtornos ansiosos, comumente o transtorno de ansiedade

generalizada, o transtorno do pânico, quadro de fóbicos e obsessivos. É mais

comum ocorrerem transtornos obssessivos compulsivos que um tipo de

quadro de TOC.

GOODMAN e STEVENSON (1989a. 1989b) sugerem que sejam

feitas maiores especificações entre HIPERATIVIDADE situacional e global,

pois os autores encontraram distinções importantes entre essas categorias,

indicando diferenças no tipo de HIPERATIVIDADE, mais do que no grau

de classificação da síndrome.

2.2.4.1.1 – Pseudo-Hiperatividade

Por convenção semântico o que se instituiu aqui por “pseudo-

HIPERATIVIDADE nada mais é que a resposta sinestésica imensurável e

oscilante decorrentes das condições fatoriais que necessariamente não estão

vinculados aos aspectos neurobiológicos. Ao conceito acima estabelecido

nessa pesquisa, decorre da alusão pré-estabeleciada através das mensões

anteriores e ao fator decisivo na precisão das impressões diagnósticas que são

decorrentes das comorbidades associadas à “HIPERATIVIDADE pura”.

Muitas vezes a HIPERATIVIDADE pode ser confundida com

comportamentos influenciados pela cultura de um determinado povo ou de

um grupo social. Um ambiente que exerce muita pressão sobre um sujeito

91

pode indubitavelmente induzir comportamentos como falta de atenção,

HIPERATIVIDADE, incapacidade de concluir tarefas já iniciadas e etc..

Cuidados antecipados devem estar sempre presentes para não

diagnosticarmos, por exemplo, todo executivo atarefado como hiperativo. É

necessário lembrar mais uma vez que a HIPERATIVIDADE está presente

desde a primeira infância e que muitas vezes todos nós acabamos

apresentando sintomas, ou melhor, expressões de HIPERATIVIDADE de

vez em quando, especialmente em situações de estresse ou de agitação por

algum evento, ou por exemplo através das comorbidades.

Hiperatividade X Psicoses: Seguindo a conceituação de

KAPLAN, SODOCK e GREBB é importante ilustrar a diferença entre

síndrome e transtorno:

“Síndrome é uma condição que se caracteriza por uma coleção de sinais e sintomas com certa correlação, com determinada homogeneidade, mas que, contudo, apresenta certas variações importantes. Podemos falar numa síndrome psicótica que é caracterizada por alterações básicas (...), que engloba, por sua vez, vários transtornos ou doenças, que apresentam as características básicas da síndrome, mas que diferem entre si com a relação a outros critérios, digamos assim, secundários, como tempo de duração, concomitância de sintomas de outras síndromes, fatores e nexos casuais, ou mesmo características mais particulares”. (1997: 141).

A relação estreita das síndromes psicóticas com a

HIPERATIVIDADE faz-se diante das respostas psicomotoras decorrente

desse quadro clínico associado. A evidência direta do comportamento

psicótico traduz-se através de tiques, ansiedades, agressividades decorrentes

de delírios e alucinações. O comportamento psicótico pode estar tão

amplamente desorganizados que se pode, “a priori”, inferir um prejuízo

importante do teste da realidade, quando a fala é amplamente incoerente e o

92

indivíduo, em geral agitado, não demonstra notar a incompreensibilidade do

seu discurso.

Diante desta breve explanação, devemos considerar, sobretudo em

detrimento dos riscos avaliativos premeditados, as condições multifatorias de

determinadas patologias, ainda que as expressões sintomáticas neste caso

sejam semelhante às discutidas a respeito da HIPERATIVIDADE, porém

distintas e prognosticamente diferentes.

Hiperatividade X Drogas: Segundo BASTOS e BUENO um

dos problemas que tem se mostrado mais freqüentes, sobretudo mais sérios

são os associados a HIPERATIVIDADE com drogadicção. Quando

detectado por um profissional de saúde mental, deve ser estudado para

verificar qual é a real causa do uso desse(s) entorpecente(s), já que cerca de

15% dos usuários de cocaína, por exemplo, relatam, que o uso de droga não

os deixam “altos”, mas sim os ajudam a concentrar e direcionar melhor a sua

atenção. O álcool e a maconha e outras drogas também são usadas e isso

acontece por “N” fatores, principalmente como fuga aos problemas e

conseqüências, especialmente quando o tratamento medicamentoso não

parece atingir resultados satisfatórios/compensatórios. Quando um paciente é

clinicamente diagnosticado com drogadicção associada e causada por um

possível quadro de HIPERATIVIDADE é indubitavelmente necessário que

os dois problemas sejam tratados concomitantemente, pois o prognóstico da

HIPERATIVIDADE quando este é a causa do vício, pode em muitos casos

evitar com que esses pacientes voltem a usar a droga posteriormente a alta do

tratamento.

Hiperatividade Positiva: Ao contrário do que a princípio possa

parecer, a HIPERATIVIDADE tem aspectos extremamente positivos, pelos

quais as discussões tornam-se sempre infindáveis. Uma das características

positivas mais acentuada na HIPERATIVIDADE é a capacidade

93

extremamente criativa que está junto com o problema. Devido a sua

incapacidade de conseguir manter as idéias, os pacientes com

HIPERATIVIDADE tendem a ser criativos. E muitas vezes, é esta

criatividade que os capacita a encontrar e realizar bem suas atividades.

A história universal está recheada de

personagens que ilustram bem as afirmações anteriores,

tais como: Hemigway, Freud, Da Vinci, Tomaz Edson,

Einstein, Johnn Lennon, Vitor Hugo, Clarice Lispector,

Ziraldo e etc. Aqui emblematicamente ilustrados, este

último, consideremos breve comentário no sentido de

tornar, um pouco mais evidente ao leitor, os resultados

positivos alcançados por um hiperativo, notoriamente evidencia pela sua obra

tão personificada através do “menino maluquinho” expressão tão contumaz da

patologia de seu criador.

Uma das características da HIPERATIVIDADE nessas condições

sublinha BASTOS e BUENO :

“Algumas vezes, quando os pacientes encontram o ambiente e a tarefa certa para estimulá-los, eles podem acabar demonstrando uma característica contrária àquela normalmente associada a hiperatividade, ou seja, ao invés de distractibilidade, podem demonstrar uma concentração e dedicação bastante intensa”. (1999:28).

Além da medicação, o aproveitamento de pessoas com

HIPERATIVIDADE em áreas criativas como: publicidade, artes, design,

projetos e etc., pode ser uma forma de conseguir integrar e/ou re-integrar o

paciente ao meio social.

94

2.2.5 – Tratamento

Antes de qualquer tratamento, um exame físico deve se feito para

descartar outras causas para o comportamento do seu filho, tais como infecção

crônica do ouvido médio, sinusite, problemas visuais ou auditivos ou outros

problemas neurológicos. O tratamento está assessorado por estratégias

eficazes, ainda que seja diretamente sintomático e não curativo.

SUCUPIRA (1988), afirma que o tratamento da

HIPERATIVIDADE deve ser baseado fundamentalmente em métodos de

intervenção educacional e psicológica e não primariamente no tratamento

médico-farmacológico. Pela proximidade etiológica da patologia com os

fatores orgânicos já notificados em capítulos anteriores, é no mínimo,

consciente à luz da transição médica, que se faça inflexão à importância da

intervenção alopata no tratamento da HIPERATIVIDADE, ainda que sob

circunstâncias específicas como afirma OHENBACHER e COOPER apud

SUCUPIRA (1988), que as drogas reduz o comportamento hiperativo e

aumenta a capacidade de atenção, entretanto, pouco efeito é notado sobre o

aprendizado.

SHAYWITZ e SHAYWITZ apud SUCUPIRA (1998), ressalta que:

“Quando o uso de medicamento se acompanha de outras medidas terapêuticas de apoio cabíveis e respeitosas, incluindo também, práticas educativas especiais, benefícios mais duradouros no aprendizado podem ser obtidos” (1998: 33).

A questão nevrálgica que aqui se discute, é saber se a melhora no

aprendizado também não ocorreria, caso tais medidas terapêuticas fossem

realizadas, independente da utilização. Na realidade a prescrição

95

medicamentosa sempre se acompanha de procedimentos que se revertem em

um tipo de atenção especialmente dirigida.

2.2.5.1 - Tratamento Farmacológico

De acordo com SUCUPIRA (1988), outras drogas também usadas

por ordem de freqüência são: dextroanfetamina, levoanfetamina e cafeína,

entre as estimulantes, seguidas da impramina, clospromazina, haloperidol e

tioridazina no grupo das não estimulantes. Nesta perspectiva de critérios

diferenciais para o tratamento medicamentoso identifica-se na literatura

posturas diversas. Para alguns autores, a primeira ação aluda seria o

tratamento medicamentoso e na falta deste deveria se tentar programas de

educação especial ou aconselhamento com os pais. Em outra posição os

autores acham que as drogas têm efeito limitado sobre os problemas de

aprendizado, portanto, não podem tomar o lugar da psicoterapia, intervenções

no ambiente da criança e educação especial. Entretanto, acreditam que uma

terapia apropriada, em alguns casos facilitaria a psicoterapia ou os programas

de educação especial (SUCUPIRA,1988).

Por outro lado, inicia-se os primeiros relatos na literatura através

dos efeitos colaterais de várias drogas estimulantes, principalmente quando

utilizados por longo período. Insônia, distúrbios do sono e diminuição do

apetite, são referidos também, perda de peso, irritabilidade e dor abdominal.

O que desperta atenção em toda a questão da medicação na

HIPERATIVIDADE é a forma indiscriminada com que tem sido usado

drogas, potencialmente tóxicas, que inclusive podem levar à dependência no

tratamento de um problema, que é muito mais um comportamento gerado por

questões sociais, pedagógicas ou decorrentes da dinâmica familiar, que

propriamente de uma síndrome clínica (SUCUPIRA, 1988).

96

Para VILANOVA (1995), o tratamento medicamentoso dos

distúrbios da atenção deve ser sempre um coadjuvante do tratamento do

indivíduo, devendo ser utilizado com parcimônia e por tempo não muito

prolongado. Apesar de não existir consenso, o emprego de estimulantes do

sistema nervoso central pode melhorar significativamente o distúrbio de

atenção e a HIPERATIVIDADE. Apesar da ação apenas sintomática, o

tratamento medicamentoso pode contribuir para a normalização do

comportamento do indivíduo, enquanto outras formas de atuação terapêuticas

são utilizadas.

Entre os psicoestimulantes mais prescritos, especialmente nos

Estados Unidos, está o metilfenidato

(Ritalina) tem sido considerado o de

melhor ação terapêutica, ainda que estudos

mais recentes mostram a incidência

colateral do metilfenidado em casos

psicóticos. A título informativo (pois a

terapêutica deve ser empregada pelo

neurologista e psiquiatra) a dose empregada gira em torno de 0,3 a 1,0 mg/kg

ao dia, com administração preferencial pela manhã, para evitar complicações

no sono. Outra medicação aplicada é o Penoline (Cylert), usado no Reino

Unido há mais de 25 anos e pouco tempo nos Estados Unidos, sendo com um

total de sete crianças com grave hepatotoxicidade atribuída ao seu uso, apesar

de serem raros outros efeitos colaterais. A Impralina (Tofranil) também tem

sido utilizada como boa alternativa para o tratamento medicamentoso, trata-se

do psicoestimulante mais comumente adquirido pelos pacientes.

A cafeína, muito empregada no passado, nesses casos (100 - 300

mg dia) parece ter efeito muito mais como placebo do que efeito real. Se por

um lado nos parece inadequado não auxiliar estas crianças, seus pais e

97

professores a terem um comportamento mais apropriado, menos hiperativo e

mais atento, sem ser necessário um esforço sobrenatural, através do uso de

medicamentos, por outro lado à medicação pode acarretar efeitos colaterais.

Os mais comuns, especialmente com o uso do metilfenidato, são diminuição

do apetite (sendo necessário a monitorização do peso), insônia, mal-estar

abdominal, labilidade emocional, sedação, diminuição do ritmo do

crescimento e precipitação de tiques, devendo ser contra-indicados em

portadores ou em filhos de portadores de tiques complexos. O tratamento não

deve se restringir apenas ao uso de medicamentos, mesmo porque a maioria

desses pacientes, apresentam, como já comentado comprometimento mais

extenso de uma alteração da atenção ou HIPERATIVIDADE. Deste modo,

dependendo das manifestações clínicas, pode ser necessário, uma terapia

fonoaudiológica, terapia corporal, ludoterapia ou uma abordagem

psicopedagógica (VILANOVA, 1995).

Segundo GOLDSTEIN & GOLDSTEIN (1994), os três tipos de

tratamento utilizados em crianças hiperativas são: medicamentos, técnicas de

orientação e técnicas de desenvolvimento de aptidões. Sendo as três

intervenções utilizadas em casa e na escola. A medicação continua a ser um

método comum e eficaz de tratar a HIPERATIVIDADE. Problemas de

HIPERATIVIDADE não podem ser curados, mas devem ser controlados. O

controle eficaz requer compreensão dos país, os quais devem se envolver em

todos os passos do processo de avaliação e tratamento.

Segundo estudos americanos recentes mostraram: o “cloridato de

atomoxetina”, uma droga não estimulante em teste pelo laboratório Eli Lilly,

apresentou bons resultados no tratamento de crianças com

HIPERATIVIDADE. A droga aliviou os sintomas e melhorou a

sociabilidade dos pacientes segundo o médico brasileiro LUIS AUGUSTO

ROHDE (fonte: jornal O GLOBO).

98

2.2.5.2 – Tratamentos Alternativos e Para-Médicos

Diretrizes Alimentares: Antes de experimentar qualquer

tratamento comece eliminando o açúcar refinado e os aditivos da dieta do seu

filho. Leia os rótulos cuidadosamente e elimine alimentos processados que

contenham corantes, flavorizantes, adoçantes e conservantes, relacionados

comumente como benzoatos, nitratos e sulfitos. Os aditivos de alimentos

comuns também incluem silicato de cálcio, BHT, BHA, peróxido de benzoíla.

emulsificantes, espessantes, estabilizantes, gomas vegetais e amido. Os

salicilatos muitas vezes têm implicação na HIPERATIVIDADE. É mais

difícil eliminá-los da dieta; ocorrem naturalmente além de serem usados como

aditivos. Uma série de frutas e hortaliças, conhecidas contêm salicilatos,

inclusive amêndoa, maçã, damasco, banana, cereja, uva, limão, melão,

nectarina, laranja, pêssego, ameixa, ameixa-seca, passa, framboesa, pepino,

ervilha, pimentão-verde, pimenta-malagueta, picles e tomate. Segundo um

estudo citado no periódico Pediatrics, mais de 50% das crianças hiperativas

demonstraram menos problemas comportamentais e tiveram menos

problemas de sono quando seguiram uma dieta restrita. A dieta ideal não

continha aditivos artificiais e químicos, chocolate, glutamato monossódico,

conservantes e cafeína. Baseados em estudos mais recentes foram suscitadas

sob as possibilidades de algum tipo de diretriz alimentar estar ligada ao

quadro clínico da HIPERATIVIDADE. Primeiramente a literatura médica

perpassa pela ressalva dos aditivos químicos dos alimentos poderiam

interferir e/ou colaborar para a “catarse psicomotora”. Corantes e

conservantes foram investigados exaustivamente, porém, ainda que através

99

das propriedades pejorativas destes constituintes alimentares, não se pode

precisar definitivamente e com rigor científico o quão determinante se faz

essa vertente.

Tratamento Fitoterápico: O chá de camomila é sabidamente

relaxante. Dê ao seu filho uma dose na hora de dormir, conforme

necessário.O bupleuro é uma fórmula fitoterápica chinesa que relaxa o

sistema nervoso e pode ajudar a aliviar o estresse. Dê ao seu filho uma dose

diária durante um mês, seguida de aveia brava durante um mês. Observação:

O bupleuro não deve ser dado a crianças com febre ou qualquer outro

sinal de infecção aguda. A escutelária é relaxante e acalma a mente. Dê ao

seu filho uma dose, três vezes por semana, durante três meses. Observação:

Essa erva não deve ser dada a crianças com menos de seis anos. A aveia

brava acalma o sistema nervoso. Dê ao seu filho uma dose diária durante um

mês. Certas essências botânicas podem acalmar a criança hiperativa. Misture

uma gota de óleo de alecrim, sálvia, lavanda e camomila em 1/8 de xícara

de azeite de oliva e use esse óleo aromático para esfregar os pés e coluna do

seu filho na hora de dormir. Os índios norte-americanos usavam,

tradicionalmente, o alecrim e a sálvia para relaxar a mente.

Homeopatia: É melhor consultar um homeopata para determinar

um remédio constitucional para a criança hiperativa. Contudo, os remédios a

seguir ajudarão a aliviar os sintomas. Independente do remédio que escolher,

a menos que indicado de outra forma, tente dar ao seu filho uma dose, três

vezes ao dia, durante cinco dias. Faça isso mês sim, mês não, durante seis

meses. Para a criança magra, excitada, ansiosa e sempre apressada, use

Argentum nitricum 9ch. Essa criança adora doce, que afeta seu

comportamento de forma adversa. Pode ser suscetível e ter conjuntivite e

amidalite. Essa criança tem medo de multidão e não gosta de ir a lugares

100

públicos, inclusive à escola. Prefere ficar ao ar-livre. Calcarea phosphorica

9ch é benéfico para a criança endiabrada, geralmente do sexo masculino,

inquieta, tímida e medrosa, mas que adora correr riscos e fazer traquinagens.

Essa criança tende a ter gases abdominais, tem um abdome levemente

proeminente e poder ter amídalas aumentadas. Se seu filho inquieto acalma-se

tão logo é chamado à atenção, dê-lhe Chamomilla 9ch. Esse tipo de criança

pode se tornar tão hiperativa que ficará exausta e começará a chorar.

Observação: Não dê ao seu filho Chamomilla da homeopatia e chá de

camomila ao mesmo tempo. Um anulará o outro. Para atingir o efeito

calmante da camomila, escolha uma forma ou outra. Dê Kali bromatum 9ch

para a criança irrequieta que está constantemente fazendo algo com as mãos -

jogando bola, brincando de bola de gude, de aviãozinho. Se não tiver nenhum

brinquedo na mão, essa criança estala os dedos. As mãos da criança que toma

Kali bromatum nunca estão sossegadas. Dê Lycopodium 9ch para a criança

que está mais cansada, mais inquieta e irritada entre 4:00 e 8:00 da noite.

Cansada ou não, essa criança não quer sentar-se à mesa do jantar, mas quer

comer. Essa criança aparenta mais idade e tem geralmente uma inteligência

acima da média. Uma dose de Medorrhinum 1M ajudará a criança irritada,

agitada e apressada. Essa criança pode ter tido assadura quando bebê e,

posteriormente, erupções cutâneas e asma. Stramonium 30d é para a criança

com séria HIPERATIVIDADE e possível agitação violenta. Sua voz é alta e

sua fala é rápida, possivelmente incoerente. Entre todas as medicações, é a

que demonstra trazer resposta mais efetiva.

Florais de Bach: Não reconhecido como medicação pela

Associação Médica, é uma constante a informação pelos pais de melhora

significativa das crianças tratadas com eles. Porém, é necessário buscar

informação séria e vasta para sua utilização.

101

Psicoterapia: Alguns casos de HIPERATIVIDADE apresentam

necessidade de acompanhamento psicoterápico, principalmente em virtude da

baixa auto-estima que se instala no indivíduo. Associado a outros tratamentos

pode ser eficaz.

Técnicas de Relaxamento: Yoga, tai-chi-chuan, liangong,

meditação - O aprendizado e utilização dessas técnicas de relaxamento tem

trazido, segundo os hiperativos de mais idade, um maior controle sobre a

agitação característica do distúrbio, permitindo uma vida mais prazerosa.

Musicoterapia: A musicoterapia se afirma de maneira mais

contundente no tratamento da

HIPERATIVIDADE, como ratificam

pesquisas realizadas pela universidade de

Weston (EUA), pois além de atuar como

instrumento de relaxamento,

paralelamente aplica-se a manipulação do

“metrono” (um instrumento que serve

para regular os andamentos musicais), através do qual a terapia envolve a

realização de várias tarefas: aplaudir dá um tapa no pé, de acordo com as

batidas deste instrumento. A técnica foi criada por TOM EGGLESTON, cujo

filho de 14 anos tem HIPERATIVIDADE resultando em um melhoramento

significativo na atenção, com resultados positivos nas atividades escolares

que envolvem leitura e algumas habilidades matemáticas. (Fonte: CNN).

2.3 – A CLÍNICA PSICOMOTORA NA HIPERATIVIDADE

WALLON apud LE BOULCH (1987), em sua importante obra: “A

Criança Turbulenta", descreve o comportamento e os problemas colocados

102

pelo que posteriormente será chamado de "Instabilidade Psicomotora" e, na

literatura anglo-saxônica, a "Síndrome Hipercinética". Não evocaremos aqui

os casos de patologia orgânica (relatados em capítulos introdutórios) raros,

que levam à instabilidade e sim o número cada vez mais crescente de crianças

e adultos agitados ou intragáveis socialmente, caracterizados por seus

excessos motores e verbais e suas incapacidades de exercerem, de maneira

suficientemente prolongada, sua habilidade funcional de atenção. Esta de

comportamento particular pode já se manifestar desde o final da escola

maternal e, mais especificamente, no início da escolaridade primária. Portanto

este transtorno de atenção e do controle é acompanhado de um certo déficit

escolar, ainda que no plano dos testes intelectuais o portador possa situar-se

nos parâmetros da “normalidade”.

Entretanto, se a prática da clínica e/ou educação psicomotora for

suficientemente precoce, pode ajudar na solução deste problema. Observa-se,

a esse respeito, que as reeducações pontuais, embora possam servir de

elemento complementar, são menos fundamentais do que a prática diária de

um trabalho psicomotor integrado à atividade escolar normal. A problemática

nevrálgica fundamental aqui discutida, na qual a criança instável é

confrontada, refere-se ao desequilíbrio entre suas reações impulsivas

provocadas pelo mínimo estímulo e suas possibilidades de inibição (LE

BOULCH, 1987).

Qualquer informação constituí um sinal e desencadeia uma resposta

motora ou verbal de natureza condicional, cujo ajustamento à situação é, na

maior parte das vezes, aproximativo. Se a tomada de iniciativas motoras

globais é um tempo essencial da clínica e sobretudo da educação psicomotora,

não é menos fundamental que a atividade espontânea e lúdica deva ser

equilibrada pela atração da função de controle. A criança deve, portanto,

103

aprender a suspender seus impulsos motores ou verbais. É preciso que esta

possa "Impedir-se de fazê-lo" (LE BOULCH, 1987).

Esta educação precoce deve ser prestigiada no ambiente familiar e

na escola. Com todos os casos onde se constata um déficit neste nível: atitude

demasiada, frouxa, excesso de permissividade, ausência de referências

espaciais e temporais, existe um risco de instabilidade. Mais tarde, quando a

criança se defrontar com os proble1mas escolares, a desatenção que resulta de

sua situação aumentará sua sobrecarga tensiva e agravará sua instabilidade

por um processo cristalizado. A atenção perceptiva é, de fato, a conseqüência

de uma vigilância especifica do córtex cerebral, comandada pela atividade de

substâncias reticulares. Esta vigilância é máxima para uma atividade média da

substância reticular; na criança instável, essa atividade situa-se amplamente

acima do limiar e realiza sua verdadeira "misturada" das funções corticais.

Qualquer tensão emocional aumenta ainda o nível de atividade reticular. Toda

excitação, toda agitação age no mesmo sentido (LE BOULCH, 1987).

Compreende-se, então, que o trabalho psicomotor beneficia no

controle da motricidade, utilizando, de maneira privilegiada, a base última

associada a um trabalho tônico e de relaxação cautelosamente conduzido. É

importante que o professor, a princípio, saiba que um trabalho corporal, e não

punitivo, constitui a melhor ajuda a uma criança incapaz de controlar-se (LE

BOULCH, 1987).

Segundo FONSECA (1988), na PSICOMOTRICIDADE a

concepção psicopedagógica do movimento humano deve levar em conta o

diagnóstico psicomotor e o plano terapêutico projetado, visando o confronto

da criança com o seu movimento (expressão), através de um esforço de

apreensão e de reflexão. Pois as situações por nós provocadas tinham por

finalidade, colocar a criança numa situação de criatividade, numa expressão

“libertadora de pulsões” (grifo nosso) e motivações inconscientes,

104

simultaneamente, no grupo, uma mais adequada e complexa capacidade de

expressão e criação.

2.3.1 – A Importância do Jogo no Projeto Terapêutico

A conjuntura afetiva e a tonalidade relacional assumem uma

importância paralela nas situações-problema, que visam a superação das

dificuldades psicomotoras. Não valorizando a relação nem desprezando os

meios de ação, a intervenção requer um cuidado permanente de forma a evitar

uma relação muito abstrata e uma ação muito empírica. O jogo e o

relaxamento como trabalho psicomotor na clínica e no trabalho educativo

pretendem, como meio de intervenção, favorecer a eclosão de projeções e

identificações, a produção de imagens fantásmicas e o desbloqueamento dos

mecanismos de defesa (FONSECA, 1988).

O que por comodidade assumimos em capítulos anteriores como

adequação semântica, no que diz respeito as psicoludoterapia manifesta-se

agora, pois o jogo tem merecido, por parte de psicólogos e de psicanalistas,

reflexões, não esquecendo a análise antropológica e sociológica.

FONSECA (1988) refere-se ao jogo como adesão ao real, e como

fenômeno de identificação e construção. A expressão das tendências

interiorizadas e das modulações lúdicas exteriorizadas, não são, senão a

materialização do diálogo que a criança esboça e compõe com o mundo que a

cerca.

Inúmeros psicólogos e psicoterapeutas têm se dedicado ao estudo

do jogo e numerosos trabalhos atestam o seu valor terapêutico e pedagógico.

Quase que representa um traço comum das manifestações criadoras humanas

105

que materializam o processo da hominização. Pois a vivência e a convivência

lúdicas testemunham a evolução do ser humano na medida em que

desempenham todo o investimento corporal que leva a criança a transformar-

se num candidato a hominização. (FONSECA, 1988).

Jogando, a criança dissocia, diferencia, agrupa, combina e estrutura

elementos corporais e extra-corporais (objetos, pessoas, animais e etc). O

jogo, sobretudo, dá resposta à mesma finalidade da

PSICOMOTRICIDADE, isto é, a exploração das possibilidades funcionais.

O jogo é um écran onde se projeta o que ocupa, ou que invade, o espírito e a

sensibilidade da criança. O jogo é a natureza lúdica do mundo dos objetos e

das pessoas, é uma constante da atividade do ser jovem. O jogo surge como

aventura de descoberta, aventura de conhecimento e aventura de aventura. É

através do jogo que a criança encontra-se com os limites do seu espaço

existencial e com os limites do seu espaço envolvente. (FONSECA, 1988).

Entre o movimento e os objetos, o jogo desempenha uma função de

êxito, de alegria, de espontaneidade, ou seja, uma globalidade afetiva

imprescindível para o seu desenvolvimento intelectual. Portanto a atividade

lúdica surge como obstáculo à solidão e como eclosão extra-espacial, ao

mesmo tempo em que proporciona a relação com os outros, fator essencial ao

desenvolvimento da personalidade (In: FONSECA, 1988).

A criança projeta-se globalmente no jogo. Ao partir para a

satisfação da sua necessidade lúdica, põe em ação a motricidade afetada ou

perturbada que representa a imagem de espelho de uma perturbação mental.

Ao pôr em ação a motricidade perturbada, os mecanismos inibitórios vão-se

desbloqueando e dissociando, tomando o corpo mais adequado, mais

colaborante com a intenção. A motricidade afetada é posta em causa pela

situação lúdica, desenvolvendo assim a capacidade operativa e transformativa

da inteligência. O jogo é o carimbo mais adequado para a conquista da

106

autonomia da criança, dado que as atividades psicolúdicas constituem um

misto de modificações, que simultaneamente se operam no meio e no

indivíduo que a executa (FONSECA, 1988).

O relaxamento é também um componente de intervenção

terapêutica que visa a pacificação das tensões e conflitos através da liberação

plena e total de unidades pessoais. Como meio de aplicação psicoterápica e

psicomotora assume generalizada importância cada vez maior na realidade

hiperativa, insegura e super incondicionante dos nossos dias (FONSECA,

1988).

2.3.2 – Dicas Para Administração e Trato de Crianças com

Hiperatividade na Escola

Para os professores, compilamos algumas dicas específicas, para a

melhor administração da patologia no exercício diário de suas funções, pois

mesmo que o tratamento seja de competência de outros profissionais

(neurologistas, psicólogos e psiquiatras, psicopedagogos, psicomotricistas e

etc.) este, como comentamos em capítulos anteriores, com uma certa

freqüência e dotados de olhares atentos percebem desarmonias psicomotoras e

são em grande maioria os primeiros a encaminharem seus alunos/pacientes a

análises diagnósticas e em algumas situações até mesmo preventivas.

Seguindo suporte epistemológico desenvolvido por HALLOWELL

e RATEY, segue alguns procedimentos para uma eficaz administração de

alunos/pacientes hiperativos, colaborando na prognostica terapêutica

específica a cada caso. Naturalmente esse suporte deve ser encarado como

ação conjunta aos procedimentos clínicos, porém não há solução fácil para

administração da HIPERATIVIDADE em sala de aula, pois a eficácia de

107

qualquer tratamento deste problema na escola depende do conhecimento e da

persistência da instituição e do professor.

Aqui apresentamos algumas dicas para o trato de crianças com

HIPERATIVIDADE na escola. As sugestões a seguir visam o professor na

sala de aula para crianças de qualquer idade. Algumas sugestões vão ser

evidentemente mais adequadas às crianças menores, outras às mais velhas,

mas, em termos de estrutura, educação e encorajamento, são pertinentes a

qualquer um.

01 - Antes de tudo, tenha certeza de que o que você está lidando é

HIPERATIVIDADE. Definitivamente não é tarefa dos professores

diagnosticar, mas o(a) professor(a) pode e deve questionar. Especificamente

tenha certeza de alguém tenha testado a audição e a visão da criança

recentemente e tenha certeza também de que outros problemas médicos

tenham sido resolvidos. A responsabilidade disso tudo é dos pais e não dos

professores, mas o(a) professor(a) pode contribuir para o processo;

02 - Segundo prepare-se para suportar. Ser um(a) professor(a) na sala de

aula onde há duas ou três crianças com HIPERATIVIDADE pode ser

extremamente cansativo. Tenha certeza de que você pode ter o apoio da

escola e dos pais. Tenha certeza de que há uma pessoa com conhecimento à

qual você possa consultar quando tiver um problema (pedagogo, psicólogo

infantil, assistente social, psicólogo da escola ou pediatra), mas a formação da

pessoa não é realmente importante. O que importa é que ele ou ela conheça

muito sobre HIPERATIVIDADE, conheça os recursos de uma sala de aula e

possa falar com clareza. Tenha certeza de que os pais estão trabalhando com

você;

108

03 - Conheça seus limites. Não tenha medo de pedir ajuda. Você, como

professor(a), não pode querer ser uma especialista em HIPERATIVIDADE.

Você deve sentir-se confortável em pedir ajuda quando achar necessário;

04 - Pergunte à criança o que pode ajudar - estas crianças são sempre

muito intuitivas. Elas sabem dizer a forma mais fácil de aprender, se você

perguntar. Elas ficam normalmente temerosas em oferecer informação

voluntariamente porque isto pode ser algo muito ousado ou extravagante. Mas

tente o sentar sozinho com a criança e perguntar a ela como ela pode aprender

melhor. O melhor especialista para dizer como a criança aprende é a própria

criança. É assustadora a freqüência com que suas opiniões são ignoradas ou

não são solicitadas. Além do mais, especialmente com crianças mais velhas,

tenha certeza de que ela entende o que é HIPERATIVIDADE;

05 - Lembre-se de que as crianças com HIPERATIVIDADE necessitam

de estruturação. Elas precisam estruturar o ambiente externo, já que não

podem se estruturar internamente. Faça listas. Crianças com

HIPERATIVIDADE se beneficiam enormemente quando têm uma tabela ou

lista para consultar quando se perdem no que estão fazendo. Elas necessitam

de algo para fazê-las lembrar das coisas. Elas necessitam de previsões. Elas

necessitam de repetições. Elas necessitam de diretrizes. Elas precisam de

limites. Enfim, elas precisam de organização.

06 - Lembre-se da parte emocional do aprendizado - estas crianças

necessitam de um apoio especial para encontrar prazer na sala de aula.

Domínio, ao invés de falhas e frustrações. Excitação ao invés de tédio e

medo. É essencial prestar atenção às emoções envolvidas no processo de

aprendizagem;

07 - Estabeleça regras. Tenha-as por escrito e fáceis de serem lidas. As

crianças se sentirão seguras sabendo o que é esperado delas;

109

08 - Repita as diretrizes. Escreva as diretrizes. Fale das diretrizes.

Pessoas com HIPERATIVIDADE necessitam ouvir as coisas mais de uma

vez;

09 - Olhe sempre nos olhos. Você pode "trazer de volta" (grifo nosso)

uma criança HIPERATIVIDADE através dos olhos nos olhos. Faça isto

sempre. Um olhar pode tirar uma criança do seu devaneio ou dar-lhe

liberdade para fazer uma pergunta ou apenas dar-lhe segurança

silenciosamente;

10 - Na sala de aula coloque a criança sentada próxima à sua mesa ou

próxima de onde você fica a maior parte do tempo. Isto ajuda a evitar a

distração que prejudica tanto estas crianças;

11 - Estabeleça limites, fronteiras. Isto deve ser devagar e com calma,

não de modo punitivo. Faça isto consistentemente, previamente,

imediatamente e honestamente. Não seja complicado, falando sem parar.

Estas discussões longas são apenas diversão. Seja firme;

12 - Preveja o máximo que puder. Coloque o plano no quadro ou na

mesa da criança. Fale dele freqüentemente. Se você for alterá-lo, como fazem

os melhores professores, faça muitos avisos e prepare a criança. Alterações e

mudanças sem aviso prévio são muito difíceis para estas crianças. Elas

perdem a noção das coisas. Tenha um cuidado especial e prepare as mudanças

com a maior antecedência possível. Avise o que vai acontecer e repita os

avisos à medida que a hora for se aproximando;

13 - Tente ajudar às crianças a fazerem a própria programação para

depois da aula, esforçando-se para evitar um dos maiores problemas da

HIPERATIVIDADE: a procrastinação;

110

14 - Elimine ou reduza a freqüência dos testes de tempo. Não há grande

valor educacional nos testes de tempo e eles definitivamente não possibilitam

às crianças hiperativas mostrarem o que sabem;

15 - Propicie uma espécie de “válvula de escape” como, por exemplo,

sair da sala de aula por alguns instantes. Se isto puder ser feito dentro das

regras da escola, poderá permitir à criança deixar a sala de aula ao invés de se

desligar dela e, fazendo isto, começa a aprender importantes meio de auto-

observação, auto-monitoramento;

16 - Procure a qualidade ao invés de quantidade dos deveres de casa.

Crianças hiperativas freqüentemente necessitam de uma carga reduzida. Elas

vão utilizar o mesmo tempo de estudo e não vão produzir nem mais nem

menos do que elas podem;

17 - Monitore o progresso freqüentemente. Crianças hiperativas se

beneficiam enormemente com o freqüente retorno do seu resultado. Isto ajuda

a mantê-los na linha, possibilita a eles saber o que é esperado e se eles estão

atingindo as suas metas, e pode ser muito encorajador;

18 - Divida as grandes tarefas em tarefas menores. Esta é uma das mais

importantes técnicas de ensino das crianças hiperativas. Grandes tarefas

abafam rapidamente as crianças e elas recuam a uma resposta emocional do

tipo eu nunca vou ser capaz de fazer isto. Através da divisão de tarefas em

tarefas mais simples, cada parte pequena o suficiente para ser facilmente

trabalhada, a criança foge da sensação de abafado. Em geral estas crianças

podem fazer muito mais do que elas pensam. Com as crianças menores isto

pode ajudar muito a evitar acessos de fúria pela frustração antecipada. E com

os mais velhos, pode ajudar as atitudes provocadoras que elas têm

freqüentemente;

111

19 - Permita-se brincar, divertir (daí a importância do jogo no projeto

terapêutico discutido em capítulo posterior). Seja extravagante, não seja

“normal”. Faça do seu dia uma novidade. Crianças hiperativas adoram

novidades. Elas respondem às novidades com entusiasmo. Isto ajuda a manter

a atenção - tanto a delas quanto a sua. Estas crianças são cheias de vida, elas

adoram brincar. E acima de tudo, elas detestam ser molestadas. Muitos dos

tratamentos para elas envolvem coisas chatas como estruturas, programas,

listas e regras. Você deve  mostrar a elas que estas coisas não estão

necessariamente ligadas às pessoas, professores ou aulas chatas;

20 - Novamente, cuidado com a superestimulação. Como um barro de

vaso no forno, a criança pode ser queimada. Você tem que estar preparado

para reduzir o calor. A melhor maneira de lidar com os caos na sala de aula é,

em primeiro lugar, a prevenção;

21 - Esforce-se e não se dê satisfeito, tanto quanto puder. Estas crianças

convivem com o fracasso, e precisam de tudo de positivo que você puder

oferecer. O fracasso não pode ser super-enfatizado: estas crianças precisam e

se beneficiam com os elogios. Elas adoram o encorajamento. Elas absorvem e

crescem com isto. E sem isto elas retrocedem e murcham. Freqüentemente o

mais devastador aspecto da HIPERATIVIDADE não é

HIPERATIVIDADE propriamente dita e sim o prejuízo à auto-estima.

Então, alimente estas crianças com encorajamento e elogios;

22 - A memória é freqüentemente um problema para eles. Ensine a eles

pequenas coisas como neumônicos, cartão de lembretes, etc. Eles

normalmente têm problemas com o que MEL LEVINE chama de Memória do

Trabalho Ativa, o espaço disponível no quadro da sua mente, por assim dizer.

Qualquer coisa que você inventar - rimas, códigos, dicas - pode ajudar muito

a aumentar a memória;

112

23 - Use resumos. Ensine sem profundidade. Estas técnicas não são

fáceis para crianças hiperativas, mas, uma vez aprendidas, podem ajudar

muito as crianças a estruturar e moldar o que está sendo ensinado, do jeito que

é ensinado. Isto vai ajudar a dar à criança o sentimento de domínio durante o

processo de aprendizagem, que é o que elas precisam, e não a sensação de

futilidade que muitas vezes definem a emoção do processo de aprendizagem

destas crianças;

24 - Avise sobre o que vai falar antes de falar. Fale. Então fale sobre o

que já falou. Já que muitas crianças com HIPERATIVIDADE aprendem

melhor visualmente do que pela voz, se você puder escrever o que será falado

e como será falado;

25 - Simplifique as instruções. Simplifique as opções. Simplifique a

programação. O palavreado mais simples será mais facilmente compreendido.

E use uma linguagem colorida. Assim como as cores, a linguagem colorida

prende atenção;

26 - Acostume-se a dar retorno, o que vai ajudar a criança a tornar-se

auto-observadora. Crianças com HIPERATIVIDADE tendem a não ser auto-

observadora. Elas normalmente não têm idéia de como vão ou como têm se

comportado. Tente informá-las de modo construtivo. Faça perguntas como:

Você sabe o que fez? ou Como você acha que poderia ter dito isto de maneira

diferente? ou Você acha que aquela menina ficou triste quando você disse o

que disse?. Faça perguntas que promovam a auto-observação;

27 - Mostre as expectativas explicitamente;

28 - Um sistema de pontos é uma possibilidade de mudar parte do

comportamento (sistema de recompensa para as crianças menores). Crianças

113

com HIPERATIVIDADE respondem muito bem às recompensas e

incentivos. Muitas delas são pequenos empreendedores;

29 - Se a crianças parece ter problemas com as dicas sociais - linguagem

do corpo, tom de voz, etc - tente discretamente oferecer sinais específicos e

explícitos, como uma espécie de treinamento social. Por exemplo, diga antes

de contar a sua história, procure ouvir primeiro a de outros ou olhe para a

pessoa enquanto ela está falando. Muitas crianças com HIPERATIVIDADE

são vistas como indiferentes ou egocêntricas, quando de fato elas apenas não

aprenderam a interagir. Esta habilidade não vem naturalmente em todas as

crianças, mas pode ser ensinada ou treinada;

30 - Aplique testes de habilidades;

31 - Faça a criança se sentir envolvida nas coisas. Isto vai motivá-la e a

motivação ajuda o hiperativo;

32 - Separe pares ou trios ou até mesmo grupos inteiros de crianças que

não se dão bem juntas. Você deverá fazer muitos arranjos;

33 - Fique atento à integração. Estas crianças precisam se sentir

socializadas, integradas. Tão logo se sintam enturmadas, se sentirão

motivadas e ficarão mais sintonizadas;

34 - Sempre que possível, devolva as responsabilidades à criança;

35 - Experimente um caderno escola - casa - escola. Isto pode contribuir

realmente para a comunicação pais - professores e evitar reuniões de crises.

Isto ajuda ainda o freqüente retorno de informação que a criança precisa;

36 - Tente utilizar relatórios diários de avaliação;

37 - Incentive uma estrutura do tipo auto-avaliação. Troca de idéias

depois da aula pode ajudar. Utilize também os intervalos de aula;

114

38 - Prepare-se para imprevistos. Estas crianças necessitam saber com

antecedência o que vai acontecer, de modo que elas possam se preparar. Se

elas, de repente, se encontram num imprevisto, isto pode evitar excitação e

inquietude;

39 - Elogios, firmeza, aprovação, encorajamento e suprimento de

sentimentos positivos;

40 - Com as crianças mais velhas, faça com que escrevam pequenas

notas para eles mesmos, para lembrá-los das coisas. Essencialmente, eles

anotam não apenas o que é dito, mas também o que eles pensam;

41 - Escrever à mão às vezes é muito difícil paras estas crianças.

Desenvolva alternativas. Ensine como utilizar teclados. Faça ditados. Aplique

testes orais;

42 - Seja como um maestro: tenha a atenção da orquestra antes de

começar. Você pode utilizar o silêncio ou bater o seu giz ou régua para fazer

isto. Mantenha a turma atenta, apontando diferentes partes da sala como se

precisasse da ajuda deles;

43 - Sempre que possível, prepare para que cada aluno tenha um

companheiro de estudo para cada tema;

44 - Explique e dê o tratamento normal a fim de evitar um estigma;

45 - Reúna-se com os pais freqüentemente. Evite o velho sistema de se

reunir apenas para resolver crises ou problemas;

46 - Incentive a leitura em voz alta em casa. Ler em voz alta na sala de

aula tanto quanto for possível. Faça a criança recontar estórias. Ajude a

criança a falar por tópicos;

47 - Repetir, repetir, repetir;

115

48 - Exercícios físicos. Um dos melhores tratamentos para

HIPERATIVIDADE em adultos ou crianças. Exercícios pesados, de

preferência. Ginástica ajuda a liberar o excesso de energia, ajuda a concentrar

a atenção, estimula certos hormônios e neurônios que são benéficos.

Assegure-se de que o exercício seja realmente divertido, porque deste modo a

criança continuará fazendo para o resto da vida;

49 - Com os mais velhos a preparação para a aula deve ser feita antes de

entrar na sala. A melhor idéia é que a criança já saiba o que vai ser discutido

em um certo dia e o material que provavelmente será utilizado;

50 - Esteja sempre atento às dicas do momento. Estas crianças são

muitos mais talentosas e artísticas do que parecem. Elas são cheias de

criatividade, alegria, espontaneidade e bom humor. Elas tendem a ser

resistentes, sempre agarradas ao passado. Elas tendem a ser generosas de

espírito, felizes de poder ajudar alguém. Elas normalmente têm algo especial

que engrandece qualquer coisa em que estão envolvidas;

Lembre-se de que no meio do barulho existe uma sinfonia, uma

sinfonia que precisa ser escrita.

116

3 - METODOLOGIA

O estudo aqui desenvolvido caracteriza-se através da observação,

relatos, revisão da literatura e estudo de caso, desenvolvido através de

pesquisas ora teóricas, ora práticas, na qual incidirá alguns testes,

naturalmente apropriados para cada caso específico, assim sendo, conforme

estudos e aplicações realizados de acordo com realidade imposta, já as

avaliações estão presentes em todo o processo de forma periódica.

Foi observado uma criança de 8 (oito) anos com

HIPERATIVIDADE (diagnosticada através de análise neurológica

conclusiva, segundo relatos da mãe) no seu ambiente escolar.

Entrevistou-se a mãe periodicamente 4 (quatro) vezes, durante todo

o período desta pesquisa. Este estudo teve a duração de 4 (quatro) meses.

No ambiente escolar observou-se o convívio relacional desta

criança com a professora e os demais coleguinhas da sala.

Foi aplicado a Bateria Psicomotora de FONSECA adaptada por

Vera Pessoa (ANEXO A) e Avaliação da HIPERATIVIDADE, onde utilizou-

se o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV,

adaptado por Caracas e Sá Júnior (ANEXO B).

117

A análise deste estudo foi do tipo qualitativa.

Será ainda necessário tomado como princípio fundamental à

pluralidade dos fatos e gama de interpretações a cerca do tema, pelo qual a

aplicação dos conteúdos não será cristalizada apenas sob uma vertente, ou

seja, serão aplicadas quantas técnicas necessárias forem para a eficácia dessa

pesquisa, até que se alcance o verdadeiro sentido deste projeto de pesquisa: o

de sublimar as dificuldades, sejam elas acometidas aos pais ou aos portadores

de HIPERATIVIDADE.

Pesquisa de Campo: serão realizadas entrevistas e também observação participante.

Entrevistar docentes, responsáveis por algumas disciplinas as quais consideramos

importantes em nossa investigação, como: “Epistemologia Genética”,

“Psicopatologia”, “História”, “Clinica” e demais disciplinas afins;

Entrevistar pacientes, terapeutas, sociólogos e antropólogos que se encaixem nas

seguintes categorias:

A) Profissionais das disciplinas relacionadas acima e afins;

B) Vemos ainda a necessidade de entrevistas com pacientes - fase terapêutica.

Entrevistas com personalidades de reconhecido valor no campo pedagógico e de

psicologia e sociologia/antropologia.

Material Bibliográfico: constará de revisão bibliográfica de estudo relacionados e leitura

de teóricos que trabalham com o assunto.

Literatura relacionada / aporte teórico na área pedagógica;

Literatura relacionada / aporte teórico na área de psicologia;

Literatura específica sobre teorias sociológicas e psicológicas;

A intenção de iniciar um trabalho interdisciplinar é na verdade o que torna-o mais

empolgante e, num futuro próximo, mais gratificante. Resultando num projeto de qualidade

118

através da união de forças, que possibilitará um crescimento científico, acadêmico,

profissional e pessoal do investigador.

119

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O caso clínico aqui observado trata-se de uma criança com oito

anos de idade, filho único na postura familiar, cursando a segunda série do

ensino fundamental em entidade particular-pública, advinda com o

diagnóstico de hiperativo pronunciado pela mãe segundo análises

neurológicas conclusivas, sem exposição dos dados científicos comuns, ou

seja, sem apresentação de diagnósticos, encaminhamentos, receitas e

prognósticos.

Comungando dos resultandos realizados pela psicóloga Vera

Pessoa, aqui eqüitativos ao paciente em análise os resultados:

“Devem ser ressaltados, a "priori", os resultados correspondentes aos métodos utilizados para o diagnóstico da hiperatividade. Tais resultados devem ter o seu significado enfatizado quando são contrastados com os conceitos de "alta atividade corporal constante", "criança correndo de um lado para outro", "agitação constante", "irrequieto" e "demasiadamente ativo", usualmente utilizados para a rotulação da síndrome da hiperatividade. Nesta linha de raciocínio, são enfáticos os resultados conseguidos, ao indicarem que é a quantidade de movimento corporal que diferencia o menino hiperativo do menino normal”. (PESSOA, 2002: 192).

As referências aqui colhidas junto à mãe de K foram resultados de

uma periódica entrevista, fragmentada em 04 (quatro) encontros, sendo o caso

estudado como um todo (sem intervenção), durante o período de quatro

meses em ambiente escolar e principalmente no convívio relacional entre a

Professora x K x Colegas, pelo qual, demonstrou-se: comportamento,

desenvolvimento, convivência e mudanças.

120

Fato notório e substancial faz-se ressaltar de que K veio transferido

de uma outra turma em turno distinto, para conseqüentemente dar seqüência

ao segundo semestre com uma nova professora e turma de alunos, por

aversão/rejeição da professora/colegas anteriores, devido ao seu

relacionamento extremamente compulsivo-agressivo, causando reclamações

da maioria dos pais de alunos.

Em conversa introdutória a mãe, sempre desacompanhada do pai,

(figura “mitológica” e ausente em toda a observação deste caso) pudemos

captar que K veio de um parto de condições típicas e gestação “normal” de 36

(trinta e seis) semanas, a gestação foi calma, seguida de pré-natal periódico. A

criança nasceu a termo de parto normal, pesando 3.600g e medindo 52cm,

chorando sonora e audivelmente.

Caracterizando K fisicamente é uma criança de estrutura corporal

mesodérmica, dotada de uma compleição física perfeita, conta com um

plástica bonita, bem nutrida, estatura e estrutura relativa à sua idade.

Atualmente K conta com apoio farmacológico para minimizar o

comportamento inquieto e agressivo, e paralelamente é acompanhado por

psicológico a 03 (três) anos, direcionando um trabalhando de psico-

socialização.

Ao longo das observações diárias, percebemos que é destro, mesmo

que a ambidestria esteja presente em alguns momentos, possui boa linguagem

oral e pouca linguagem escrita. Procura não participar de atividades que

requeiram escrita e leitura, sempre com a resposta “eu já sei”. Gradativamente

a professora foi colocando-o em participação, atribuindo-lhe funções e

responsabilidades, bem como se valendo do jogo no processo didático,

usando a brincadeira e desafio, como instrumento normatizante do

comportamento de K. É uma criança dotada de extrema inteligência e quando

interessada seu rendimento é acima da média, porém a complicação e as

121

queixas advém da dificuldade e a manutenção em reter sua atenção por um

período maior de tempo.

Devemos levar em consideração aqui, que determinadas

dificuldades também decorrem do uso da medicação que K faz uso, que não

muito raro, causa um sono incontrolável, pela qual a criança dorme muitas

vezes na carteira, assistindo aula.

O convívio com os colegas de sala é de poucas horas de amizade e

muitas de brigas, na maioria das vezes provocadas por ele em agressividades

orais e físicas. É uma criança psicomotoramente instável, isto é, não para, e

seu sono é agitado e intermitente. Em determinados momentos faz tudo para

chamar a atenção dos seus colegas, adora ajudar em tarefas, tais como: como

apagar o quadro, entregar agendas, distribuir tarefas, buscar material, é muito

prestativo e isso facilita bastante, pois, a negociação de direitos e deveres é

bastante presente e dialética, funcionando em alguns momentos.

Suas avaliações são iniciadas na sala de aula juntamente com os

demais colegas e terminadas sempre com a ajuda da orientadora em uma sala

que só ele esteja, nota-se que K domina o conteúdo, mais foge totalmente da

concentração na hora de suas respostas e não deixa seus companheiros de

turma concluírem suas avaliações com tranqüilidade.

Processualmente, K antes dizia “eu já sei” e não fazia nada, hoje ele

diz “eu não sei” e faz muito além, que se surpreende com o resultado.

Acreditamos que houve alguma melhora no seu desenvolvimento,

sem restar dúvida que é uma criança que requer tratamento psicomotor e/ou

psicopedagógico, consumados através da análise dos resultados obtidos de

dois instrumentos: BATERIA PSICOMOTORA (ADAPTAÇÃO: VERA

MATOS e o DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos

Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria, adotado também no Brasil

122

como padrão para a definição de doenças (ADAPTAÇÃO: SÁ JÚNIOR e

colaboração de CARACAS) em anexos A e B.

A criança atendendo, quanto à tonicidade revelou-se bastante

hipertônica à manipulação do observador, na extensibilidade, ainda que a

execução tenha sido satisfatória, notou-se um certo incômodo, observado

através de mímicas faciais. Sua reação aos sons inesperados apresentou-se de

maneira bem evidente. Seu controle postural foi observado através da

realização de movimentos pendulares, com certa insegurança e agitação. Ao

dispor a criança dentro de um círculo para observação no seu controle tônico

motor a resposta foi bem evidente pelo distanciamento do círculo.

Paralelamente a criança apresentou traços sincinésicos, tais como: sorrisos e

abrir e fechar de olhos esporádicos, bem como na averiguação do movimento

de pronação e supinação as dificuldades e descoordenação dos movimentos

foram claras e evidentes. Diante da explicação dos testes de espelhamento a

criança apresentou alguns erros, porém naturalmente corrigidos

processualmente por ela mesma, obtendo resultados satisfatórios mediante sua

função práxico-gnósica.

A criança apresenta conceitualmente um domínio da imobilidade

variante entre bom e excelente, assim como, no equilíbrio estático na

realização do apoio retilíneo, na ponta do pé e do apoio unipedal, com pouca

manifestação de desconforto. Já no equilíbrio dinâmico, ainda mesmo com a

realização perfeita a criança apresentou uma certa ansiedade na realização da

dinâmica, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento na trave

(aqui adaptados por relevos e acidentes geográficos naturais).

A lateralização, ou seja, quanto à dominância lateral, a criança

apresenta ainda certa dificuldade pela preferência da utilidade das mãos e dos

pés observados através da preensão de objetos (no caso das mãos) e dos

chutes (no caso dos pés), porém a dominância ocular mostra-se relativamente

123

direcionada para a direita (ainda que sujeita à análise oftalmológica paralela).

Aqui se relata uma certa dificuldade na representação da imagem do corpo

com sentido sinestésico bastante presente, ainda porque, a mãe da criança

relata que é uma “brincadeira” constante no repertório do seu lazer. Por conta

dos exercícios anteriores, aqui o sentido de esquerdo e direito apresenta-se

mais claramente, porém com deficiência aparente na imitação dos gestos

bilaterais e um desenho com pouca estilística.

A presença de traço hiperativo, ou melhor, manifestação situacional

de hiper-atividade corroborou num quadro de organização confusa na

estruturação espaço temporal, porém a estruturação dinâmica e rítmica

completa-se satisfatoriamente.

A praxia global se estrutura evolutivamente apresentando neste caso

e momento uma intenção planejada na realização do movimento (bola no

cesto e chutes a gol), mas contraditoriamente manifestando uma improbidade

motora quanto à dissociação dos membros. No entanto, já na praxia fina a

observação é naturalmente hiperpráxica, pois a criatividade e riqueza de

detalhes na construção de objetos esta acima da média e da expectativa bem

como na execução do tamborilar também bastante preciso. No tocante à

velocidade, o quadro apresentou-se inalterado diante da solicitação insistente

do observador, ou seja, mesmo com intencionalidade a criança não

manifestava rapidez ainda que aparentemente pra ela parecia estar realizando

um movimento mais rápido a cada solicitação, em contra partida a precisão,

definitivamente não foi alterada diante da regra proposta. Holisticamente, a

criança traz certas conveniências naturalmente representadas através da

maturidade orgânica, além de certas experiências anteriores, talvez até por

condicionamento, porém, há certas “dificuldades” a serem analisadas com

mais rigor e critérios, pela presença de certas sincinesias, a noção global do

corpo e a lateralidade (indefinida até então), esta última talvez por

124

incontinência maturativa. Sugere-se aqui a observação desses fatores na

possibilidade no projeto terapêutico baseados nos resultados quantitativos da

bateria psicomotora.

A

PSICOMOTRICIDADE pode, isto sim, intermediar o

desenvolvimento/desbloqueio biológico e o psicológico, tendo ainda como

mediadora desta intermediação a práxis (atividade) sem, no entanto,

desvincular-se da importante contribuição organização sócio-político-

econômico da sociedade, tendo base fundamental na cultura. A

PSICOMOTRICIDADE, sob nossa concepção, ativa o que a criança já

possui a nível biológico e psicológico, ela "apenas" facilita a apropriação do

existente numa relação dialógica com o social; o qual pode e deve ser

traduzido pela e na atividade da criança na sala de aula, como no caso da

presente pesquisa.

LEGENDA

TONICIDADE T

EQUILIBRAÇÃO E

LATERALIZAÇÃO L

NOÇÃO DO CORPO NC

ESTRUTURAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL EET

PRAXIA GLOBAL PG

PRAXIA FINA PF

125

5. CONCLUSÃO

Embora a PSICOMOTRICIDADE seja preferível, na prática

clínica, muitos pacientes requerem tratamentos conjugados. Exemplos de

tratamentos conjugados incluem o uso de um antidepressivo associado a um

psicoestimulante no prognóstico da HIPERATIVIDADE e depressão

comórbida, a clonidina para melhorar a insônia induzida pelos estimulantes

ou o  uso de lítio com um agente anti-HIPERATIVIDADE, para tratar a

síndrome comórbida com transtornos bipolares. Aliadas ao tratamento

farmacológico, as psicoterapias, sobretudo de abordagem cognitivo-

comportamental, podem ajudar na redução dos sintomas.

Devido à alta prevalência da HIPERATIVIDADE na infância e

sua conhecida persistência na idade adulta, a HIPERATIVIDADE é um

transtorno psiquiátrico comum também no adulto. Apesar da atenção

dispensada atualmente na mídia e sua validade como um problema de saúde

pública, o ceticismo a respeito desse transtorno limita o seu diagnóstico e

tratamento.

Uma questão a ser elucidada é que a maioria dos pacientes têm

sintomas residuais, mas não preenchem todos os critérios diagnósticos

necessários para que seja estabelecido o diagnóstico, como afirma

HEILIGENSTEIN e ANDERS (1999) e também HIGGINS (1999). Por sua

vez, os psiquiatras de adultos geralmente não consideram o diagnóstico de

HIPERATIVIDADE nessa faixa etária e tendem a atribuir os sintomas ou

falta de atenção a outras causas. Como os sintomas geralmente respondem ao

tratamento específico, subestimar o diagnóstico limita a recuperação de

126

muitos pacientes. Assim, pesquisas futuras deverão se ater nesse grupo de

pacientes.

Na evolução da história educacional, podemos destacar a não

aprendizagem como uma das causas do fracasso escolar, mas, se analisarmos

melhor, veremos que esta questão é bem mais ampla. Ela pode estar ligada a

vários fatores que merecem nossa atenção. Não podemos cruzar os braços e

achar que tudo vai passar com o tempo. Devemos correr contra o tempo e

fazermos acontecer, buscarmos, pesquisarmos, informarmos e acima de tudo

acreditarmos que nosso paciente ou nosso aluno pode ser um vencedor na luta

pelo troféu de seus ideais. Através do nosso exaustivo trabalho, ainda

temos/remos a oportunidade de conviver com os hiperativos (pacientes), seus

pais e familiares (para-pacientes) e educadores que muito contribuem para o

nosso aprendizado. Esperamos que os processos educacionais/clínicos e

sociais vigentes, através da capacitação de seu corpo, priorizem e respeitem o

sujeito desejante e as várias formas de inteligência que todos possuem, para a

capacitação de pessoas mais autônomas e mais capazes de acreditar no seu

verdadeiro potencial. Lembramos que somente médicos fazem administração

da medicação, quando acharem necessário. Aos psicomotricistas intervenções

clínica-terapêuticas e aos educadores cabe um estudo minucioso sobre o aluno

portador de HIPERATIVIDADE e a interação deste com sua família. Aos

pais, muita informação. É difícil, mas jamais será impossível enquanto houver

alguém preocupado em melhorar as condições de psicomotoras de um

portador de HIPERATIVIDADE. Queremos crer que este material informará

leigos, pais e professores e afins a entenderem, conviverem e ajudar pessoas

com HIPERATIVIDADE, tornando-as seres humanos mais auto-confiantes

diante de suas próprias dificuldades.

127

Em síntese, “A CLÍNICA PSICOMOTORA A SERVIÇO DA

HIPERATIVIDADE” assim como, o profissional egresso dessa especialidade

para-médica deve estar dotado de fundamentos humanísticos pautados em

acordos subjetivos, que lhe confiram habilidade crítica e reflexiva do

conteúdo intangível ao qual está em análise, assim como das relações sociais;

também de um conhecimento técnico-científico fundamental, baseado na

capacidade de desenvolvimento auto-suficiente e em constante diálogo com a

realidade social dinâmica; e ainda de capacitação para atuar como operador

coadjuvante no processo de “alta”, pois se trata aqui do processo

intervencionista do profissional, mas sem esquecer o sujeito/paciente

desejante e/ou passivo de “cura”.

Imaginamos ainda, que através da extensão universitária, da

produção de pesquisas científicas e de uma sólida prática terapêutica

orientada, ratificarão um caminho sólido e acertado no processo pensar,

adquirir e produzir o saber.

128

ANEXOS

129

ANEXO A

MANUAL DE OBSERVACÃO PSICOMOTORA DE VITOR DA FONSECA -1995

PROTOCOLO ADAPTADO POR VERA MATTOS

NOME: KSEXO: MasculinoIDADE: 08 anosFASE DA APRENDIZAGEM: 2a. sérieOBSERVADOR: José Tanilzo Sá Júnior COLABORAÇÃO: Christiane Montenegro CaracasDATA DA OBSERVAÇÃO: 19/10/2002

AVALIACÃO DAS UNIDADES FUNCIONAIS DE LÚRIA

PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL:

I – TONICIDADE (exame de tônus de Ajuriaguerra e Bergks): 3

A) TÔNUS DE FUNDO:

Passividade 1 2 3 4 Extensibilidade 1 2 3 4

B) TÔNUS DE AÇÃO:

Repercutibilidade 1 2 3 4 Controle tônico postural 1 2 3 4 Controle tônico motor 1 2 3 4 Sincinesias 1 2 3 4 Diadococinesias 1 2 3 4 Funções práxico-gnósicas 1 2 3 4

II – EQUILIBRAÇÃO: 3

Imobilidade 1 2 3 4

Equilíbrio estático 1 2 3 4

a) Apoio retilíneo 1 2 3 4b) Manutenção do equilíbrio 1 2 3 4c) Apoio unipedal 1 2 3 4

Equilíbrio dinâmico 1 2 3 4

130

a) Marcha controlada 1 2 3 4b) Evolução na trave 1 2 3 4c) Saltos com apoio unipedal 1 2 3 4

SEGUNDA UNIDADE FUNCIONAL:

I – LATERALIZACÃO: 2

Manual 1 2 3 4 Ocular 1 2 3 4 Pedal 1 2 3 4

II – NOCÃO DE CORPO: 3

Sentido cinestésico 1 2 3 4 Reconhecimento D e E 1 2 3 4 Auto-imagem 1 2 3 4 Limitação de gestos 1 2 3 4 Desenho de si 1 2 3 4

III – ESTRUTURAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL: 3

Organização 1 2 3 4 Estruturação dinâmica 1 2 3 4 Estruturação rítmica 1 2 3 4

TERCEIRA UNIDADE FUNCIONAL:

I – PRAXIA GLOBAL: 3

Coordenação óculo-manual 1 2 3 4 Coordenação óculo-pedal 1 2 3 4 Dissociação dos membros 1 2 3 4

II – PRAXIA FINA: 4

Coord. dinâmica das mãos 1 2 3 4 Tamborilar 1 2 3 4 Velocidade 1 2 3 4 Precisão 1 2 3 4

131

ANEXO B

AVALIAÇÃO DA HIPERATIVIDADESegundo o DSM-IV (Diagnostic Statistic Manual)

PROTOCOLO adaptado POR: José Tanilzo Sá Júnior com a colaboração de Christiane Montenegro Moreira Caracas.

CRITÉRIO A NUNCA OU

RARAMENTE

POUCO BATANTE QUASE SEMPRE

Ele(a) presta pouca atenção em detalhes e faz erros por

falta de atenção nos deveres?

X

Ele(a) mexe com mãos e pés quando está sentado(a) ou se

mexe muito na cadeira?

X

Ele(a) tem dificuldade de ficar concentrado(a) nos deveres

e também nos jogos?

X

Ele(a) sai do lugar na sala de aula ou em outras situações

(ex. na mesa do jantar) quando deveria ficar sentado(a)?

X

Ele(a) parece estar prestado atenção em outras coisas

quando se fala com ele(a)?

X

Ele(a) corre e sobe nas coisas quando deveria ficar

tranqüilo(a)?

X

Ele(a) tem dificuldades de seguir instruções até o fim ou

deixa os deveres sem terminar?

X

Ele(a) tem dificuldade de ficar em silêncio quando brinca? X

Ele(a) é desorganizado(a) com os deveres e outras

atividades no dia-a-dia?

X

Ele(a) é “elétrico” e fica “a mil por hora”? X

Ele(a) evita ou antipatiza com deveres ou atividades que

exijam concentração?

X

Ele(a) fala demais? X

Ele(a) perde material escolar ou coisas do dia-a-dia? X

Ele(a) responde às perguntas antes dos outros terminarem

de falar?

X

Ele(a) se distrai com facilidade com coisas fora daquilo

que está fazendo?

X

Ele(a) tem dificuldade de esperar sua vez? X

Ele(a) se esquece de coisas que deveria fazer no dia-a-dia? X

Ele(a) interrompe ou se mete na conversa os outros? X

CRITÉRIO B: (responda sim ou não)

Alguns desses sintomas estavam presentes antes dos sete anos de idade?

SIM X NÃO

132

CRITÉRIO C: (responda sim ou não)

Existem problemas causados pelos sintomas em dois ou mais situações (por exemplo: na escola, no trabalho e em casa)?

SIM X NÃO

CRITÉRIO D: (responda sim ou não)

Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomas?

SIM X NÃO

CRITÉRIO E: (responda sim ou não)

Os sintomas não são bem explicados pela presença de um outro problema (tal como depressão, deficiência mental, psicose, etc.)?

SIM NÃO X

CRITÉRIO F: (responda sim ou não)

Alguém mas na família (tio, irmão, pai, mãe, etc.) apresentam ou apresentaram quadro semelhante de comportamento?

SIM X NÃO

133

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AJURIAGUERRA, J. Manual de Psiquiatria Infantil. Rio de Janeiro: Masson do Brasil, 1983.

BUENO, Joacian Machado. Psicomotricidade Teoria e Prática – Estimulação, Educação e Reeducação Psicomotora com Atividades Aquáticas. São Paulo: Ed. Lovise. ,1998.

BASTOS, F; BUENO, M. Diabinhos: Tudo Sobre o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Disponível em: http://www.neurociencias.nu/pesquisa/add.htm. Acessado em 9/junho/2002.

BALLONE, G, J. Reportagem sobre Hiperatividade. Disponível em: http://www.planetaterra.com.br. Acessado em 29/junho/2002.

_________________ Psiquiatria Infantil. Disponível em: http://www.meusite.osit.com.br/ballone. Acessado em 29/junho/2002.

_________________ Distúrbios e Atenção em Adultos. Disponível em: http://www.psiqueweb.com.br. Acessado em 29/agosto/2002.

BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. 11, ed. Rio de Janeiro: Fename, 1980.

CABRAL, Sérgio Bourbon. Distúrbio do Déficit de Atenção / Hiperatividade Disponível em:http://doctorbbs.com/saude/tdah/livreto.doc. Acessado em 11/setembro/2002.

COSTA, Maria Genelva de Almeida. Hiperatividade. Disponível em: http://www.geocities.com/HotSpring/Villa/3502/hiperatividade.html. Acessado em 05/junho/2002.

134

CNN – Tratar Desordem de Concentração com Metrôno tem Dado Bons Resultados. Disponível em:www.cnn.com.br/2001/saude/crianças/03/12/metrono/index.html. Acesso em: 30/agosto/2002. DAMASCENO, Leonardo Graffius. Natação, Psicomotricidade e Desenvolvimento. Brasília, Governo Federal - Secretaria do Desporto, 1992.

FERREIRA, Luiz Gonzaga Redação Científica: Como Escrever Artigos, Monografias, Dissertações e Teses. Fortaleza: UFC, 1994.

FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

GAZETA, A Gazeta Viva – Ano 1 – nº 4 –(p.50 a 53), Abril/2000

GOLDSTEIN, S; GOLDSTEIN, M. Hiperatividade: Como Desenvolver a Capacidade de Atenção da Criança. Campinas, São Paulo: Rocco, 1994.

HALLOWELL, E. M.; RATEY, JOHN J. Tendência à Distração. Disponível em: http://www.hiperatividade.com.br.htm. Acessado em 29/junho/2002.

__________________________________. 50 Dicas Para Administração do Déficit de Atenção em Sala de Aula. Disponível em: http://www.mkm.com.br/~camargos/dicas.htm. Acessado em 30/agosto/2002.

HEILIGENSTEIN E, O.; ANDERS J. Psychological and Academic Functioning in College Students With Attention Deficit Hyperactivity  Disorder. J Am Coll Health. Jan;47(4):181-5, 1999.

HIGGINS ES. A Comparative Analysis of Antidepressants and Stimulants for the Treatment of Adults With Attention-Deficit Hyperactivity Disorder. J Fam Pract. Jan;48(1):15-20, 1999.

KAPLAN, H; SADOCK, B; GREBB J. Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. 7. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1997.

KING, Michael W. Neurotransmissores: Diversidade e Funções. Disponível em:

135

http://www.epud.org.br/cm/n12/fundamentos/neurotransmissores/nervesp.Acessado em 19/setembro/2002.

LE BOULCH, Jean. O Desenvolvimento Psicomotor do Nascimento Até 6 Anos. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.

LEVIN, Esteban. A Clínica Psicomotora. Petrópolis: Vozes, 1995.

MASSON, Suzanne. Generalidades Sobre a Reeducação Psicomotora e o Exame Psicomotor. São Paulo: Monole, 1995.

_________________ Desenvolvimento Humano: da Filogênese à Ontogênese da Motricidade Humana. São Paulo: Notícias, 1989.

MATTOS, P. Diagnóstico do Déficit de Atenção: Forma Residual. Anais do I Congresso Brasileiro de Tecnologia e Reabilitação Cognitiva. São Paulo, 1998. PESSOA, Vera. Interferência da Música Rock Sobre o Comportamento Hiperativo. Disponível em:http://www.thotkon.com.br/VeraHelenaPessoa/Tese00_02.HTM. Acessado em 08/novembro/2002.

RIBEIRO, R. M; ROSSI, P; MESQUITA A .C; MARTINI, F, M, Hiperatividade do Destrusor. Disponível em:http://www.sogesp.com.br/protocoloslatualizacao20.html. Acessado em 29/ junho/2002.

SUCUPIRA, A. C. S. L. A. A Criança Hiperativa. Jornal de Pediatria, v. 64 (5)., 1998.

WENDER, Kátia. Como Eu Trato TDAH. Disponível em: http://www.doctorbbs.com. Acessado em 16/setembro/2002.

WILDT, M. A. Psiquiatria. Disponível em: http://[email protected]. Acessado no 29/junho/2002.

VILANOVA, L. C. P.. Distúrbio da Atenção na Infância e Adolescência. Revista Pedriatria Atual, v. 8, n. 11/12: 41-46, 1995.

136

8. GLOSSÁRIO

C

Catarse:s.f. (Méd.) Depuração de idéias. A terapêutica elimina as idéias que provocam reação emocional. Elemento de técnica psicanalítica e psicoterápica que visa à remissão dos sintomas através da exteriorização verbal e emocional dos traumatismo afetivos reprimidos. (Estét.) Efeito moral da tragédia.

Consubstanciada: Ato ou efeito de consubstanciar; consubstanciação; s. f. 1. União de dois ou mais corpos em uma só substância. 2. Teol. Presença de Cristo na eucaristia, como a entendem os luteranos.

D

Distractibilidade:Qualidade de quem tem distração; distraído; s. f. 1. Estado em que a atenção está dividida entre vários assuntos ou ações. 2. Irreflexão, inadvertência. 3. Esquecimento. 4. Palavra ou ato irrefletido. 5. Divertimento, recreação.

E

Emulsificante:Que emulsifica; emulsão; s.f. Preparação farmacêutica de consistência leitosa ou gordurosa; (Fís. Quím.) suspensão colorida de um líquido em outro (p. ex. o leite é uma emulsão).

Encefalite:s. f. Med. Inflamação do encéfalo.

Espistemologia:s.f. Estudo do grau de certeza do conhecimento científico em seus diversos ramos, especialmente para apreciar seu valor para o espírito humano.

137

Eutonia:s.f. Estado de tensão corporal dito como perfeito.

H

Hipersexualidade:(cs), s. m. Med. Propensão exagerada para as práticas sexuais.

Hipertonia:s.f. Estado de tensão corporal dito como exagerado.

Hiposexuailidade:(cs), s. m. Med. Propensão à inibição das práticas sexuais.

Hipotonia:s.f. Estado de tensão corporal dito como imperfeito, insuficiente.

Histriônico:s. m. 1. Vil comediante, palhaço. 2. Fig. Charlatão. 3. Homem abjeto pelo seu procedimento.

L

Labilidade:Derivante de lábil; adj. 2 gên. Que escorrega facilmente; fraco; transitório; (Geol.) instável. (Psiq.) Mudança rápida de emoções.

Ludoterapia:Refere-se a terapia onde consiste na utilização de jogos, brincadeiras e divertimentos.

M

Matizar:v. 1. Tr. dir. Dar cores diversas a. 2. Tr. dir. Graduar, variar (cores). 3. Pron. Ostentar cores variadas. 4. Tr. dir. Adornar, enfeitar.

Mnêmica:adj. 1. Que se refere à memória. 2. Que ajuda a memória. 3. Que facilmente se grava na memória.

138

N

Nevrálgico:adj. Relativo a nevralgia; neurálgico.

P

Paratonia:Perturbação do tônus (debilidade psicomotora), consistindo principalmente no relaxamento.

Parcimônia:s. f. 1. Qualidade de parco. 2. Ato de poupar; economia.

Práxico:Ato ou efeito de todo movimento intencional, organizado, tendo em vista a obtenção de um fim ou resultado de ação.

Procrastinação:s. f. Ato ou efeito de procrastinar; v. 1. Tr. dir. Deixar para outro dia; adiar. 2. Intr. Usar de delongas.

Profilática:adj. Relativo à profilaxia. Var.: profiláctico; (cs), s. f. 1. Parte da medicina que trata das medidas preventivas contra as enfermidades. 2. Emprego dos meios para evitar as doenças.

Pulsões:s.f. (Méd.) Erupção instintiva energética e motora que induz o organismo a um fim, fazendo realizar ou reprimir certos atos.

R

Reflexologia:s.f. Estudo sistemático dos reflexos, de interesse científico.

T

139

Tonicidade:s. f. 1. Estado ou qualidade de tônico. 2. Estado em que os tecidos orgânicos revelam vigor ou energia.

140