Monografia Assim Falou Zaratrusta

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  • 8/16/2019 Monografia Assim Falou Zaratrusta

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁSETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

    DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

    O CONHECIMENTO À LUZ DO SUPER-HOMEMNO ZARATUSTRA DE NIETZSCHE

    CURITIBA2004

  • 8/16/2019 Monografia Assim Falou Zaratrusta

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    MAX DE FILIPPIS RESENDE

    O CONHECIMENTO À LUZ DO SUPER-HOMEMNO ZARATUSTRA DE NIETZSCHE

    Mono!"#$" "%!&'&n(")" * )$'+$%$n"Mono!"#$" II +oo !&./$'$(o %"!+$" *

    +on+/'o )o C/!'o )& F$o'o#$", S&(o! )&C$1n+$"' H/"n"', L&(!"' & A!(&',Un$&!'$)")& F&)&!" )o P"!"n3

    O!$&n(")o!5 P!o# A&6"n)!& 7o&' P&!&$!"

    CURITIBA2004

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    Para ninguém.

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    Ó vós que buscais o melhor e o maiselevado nas profundezas do saber, no

    tumulto da ação, na obscuridade dopassado, no labirinto do futuro, nos

    túmulos ou nas estrelas !abeis o seunome" # nome do que é tudo e um"

    $. %&lderlin

    !emelhantes aos que param na rua,olhando embasbacados os passantes'assim eles, também, esperam e olham

    embasbacados os pensamentos queoutros pensaram.

    $. (. )ietzsche

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    SUMÁRIO

    RESUMO  ....................................................................................................................vi

    INTRODU89O ............................................................................................................*:- O SUPER-HOMEM COMO O SENTIDO DA TERRA .............................................+2- O SUPER-HOMEM EN;UANTO VONTADE DE PODER ...................................*

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    R&'/o

    # 0super1homem2 como 0sentido da terra2 é a própria vida, realidade que apenas seconstitui desde o conhecimento humano, que é sempre e3perimentação da vida,consistindo então em perspectiva' criação e apresentação da realidade comofen4meno numa ordenação do conhecimento e e3perimentação da vida de acordocom uma valoração, ou se5a, vontade, que ordena e apresenta o mundo 6 vontadeda própria vida. 7ntão o 0super1homem28 é a realidade da vida vindo a ser navontade que se manifesta no homem, como e3pressão da própria vida,aparecimento que vem a ser no homem para o homem como o próprio homem, poiseste d9 sentido para a vida que, assim, se manifesta tomando forma, sendo a vidaesta perspectiva, possibilidade de si mesma. # homem sendo a vida no manifestar1se de sua vontade é o próprio 0super1homem2, é a própria vontade perspectiv:sticado conhecimento, pois é a própria e3perimentação da vida, concepção de si mesmo.

    ;as, é apenas enquanto possibilidade da manifestação do 0super1homem2, da vidae de sua vontade. < no vir1a1ser da vida, sendo a sua eterna criação. = vontade davida configura1se como 0vontade de poder2 um 0eu2 que se constitui como corpo,sendo o esp:rito o meio da realização da sua vontade, sendo estabelecimento damedida, valor, que concebe a realidade, que é sempre 59 ordenada pela vontade docorpo através do esp:rito, vontade que 59 somos desde sempre, a vida que somossem escolha, transformação do mundo sempre 59 acontecendo. = vida é 59apresentação e realização de sua vontade no seu vir1a1ser, como ess>ncia eapar>ncia de si mesma, sendo o essencial da vida seu aparecer como vontade docorpo que se manifesta no esp:rito como sentido que o homem atribui ? vida.!entido, este, da realização da 0vontade de poder2 da vida sempre 59 como

    aparecimento de realidade ao propor1se na forma de valores através do homem,tomando forma e sentido. # homem é, pois, a vida mesma que se e3perimenta,ordenando seu conceber da realidade, em sua apresentação no conhecimento comovontade que configura continuamente o seu querer, avaliar, criar a realidade. = vidaé este constituir1se mut9vel, sendo a totalidade daquilo que é e sua cont:nuatransformação e efetivar1se, que, assim, constitui o próprio homem no seu conhecerda realidade como conceber da própria vida.

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    In(!o)/=o

    = filosofia moderna enquanto teoria do conhecimento pressup@e uma

    ontologia do su5eito, ou se5a, suas investigaç@es partiriam deste ente que se

    constituiria como o próprio homem. Baseou1se, assim, na idéia desta sub5etividade,

    que seria o car9ter fundamental deste ente, consistindo no fato de que o homem

    teria o seu ser baseado na internalidade de seu pensamento representativo, que ao

    receber os dados do mundo e3terior, por suas percepç@es, os articularia na forma de

    conhecimento. 7staria, dessa forma, o homem contraposto, como um su5eito do

    conhecimento, a um mundo, realidade ou natureza, em que se lhe apresentariam os

    demais entes como ob5etos ? disposição de seu pensamento. Por meio, então, desta

    faculdade é que ele toma contato com o mundo, com os ob5etos, vindo a conhec>1

    los e determinando, assim, o seu car9ter, estruturando um saber acerca das coisas,

    definindo1lhes sua verdade, sua constituição e ser próprios. Cudo isso se revelaria

    para este su5eito devido ?quela faculdade especial que ele possuiria, a capacidade

    de ser conhecedor dos ob5etos em sua ess>ncia.

    ;as aqui o conhecimento começa a se mostrar como algo não muito

    consensual, pois, afinal, o que é ess>ncia" Dual a ess>ncia das coisas" %9 algo

    mais por tr9s da e3ist>ncia enquanto apar>ncia" Eomo se d9 o acesso ?s coisas" #

    ob5etivo é por si só ou est9 toda a verdade dentro do su5eito em estruturas capazes

    de serem esquematizadas" ;as se é tudo sub5etivo não é tudo psicológico, relativo

    e irredut:vel a uma única verdade" 7 mesmo assim, como então se constituem as

    coisas e como se pode dar o conhecimento" 7stas são todas quest@es nas quais se

    desenvolveu a teoria do conhecimento na filosofia moderna, quest@es decorrentesmesmo da sua pressuposição de uma ontologia da sub5etividade, que nunca foi

    questionada. ;as só com a determinação do que seria esta interioridade do

    pensamento é que se poderia solucionar o grande enigma do conhecimento.

    Eom tais quest@es se ocuparam os filósofos, que, assim, na busca por sua

    verdade, a verdade desta sub5etividade, chegaram a r:gidos sistemas de tradução da

    realidade por tr9s do fato aparente da e3ist>ncia. Fiscuss@es intermin9veis foram

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    tratadas com a mais alta seriedade nessa ascese em direção a uma verdade

    incondicional e absoluta, que simbolizaria, assim, o fim de uma condição humana de

    ignorGncia, o terr:vel mal a ser combatido. = verdade da vida e da e3ist>ncia estaria,

    assim, em algum outro plano que a sustentaria, e o maior bem que se poderia

    alcançar seria o dessa verdade.

    7m meio a todas essas discuss@es é que surge $. (. )ietzsche H*/1*IJJK,

    que, ao invés de estruturar esquemas de conceituação do real e tradução de sua

    verdade escondida, nos fala da unidade do fen4meno da vida, que não obedeceria a

    nenhuma razão escondida ou verdade fundamentadora de sua realidade, mas seria

    nada mais do que o próprio dar1se gratuito em totalidade daquilo que é, pura

    afirmação de si. 7, na descrição dessa força afirmadora, )ietzsche não fala em

    nenhum tipo de categoria ou qualquer conceitualização formal, surgem termos

    enigm9ticos e obscuros que tentariam dar conta desta totalidade. = vida, portanto,

    não estaria contraposta a nada além de si mesma, não fazendo sentido aquela

    estruturação de um 0fora2 de si através de um 0dentro2, o su5eito, pois este, também

    seria, não uma coisa ao lado das coisas do mundo, mas, tal como estas, mais uma

    das apar>ncias nas quais vida se d9. 7, assim sendo, a sua própria denominaçãocomo su5eito, instGncia interior do homem, seria, 59, problem9tica. Por este caminho,

    o pensamento, e conhecimento, não se revela como simples faculdade do homem,

    como se ele pudesse simplesmente escolher pensar ou não, conhecer ou não, mas

    como o seu modo próprio de ser, e3istir. # seu viver consistiria no pensar, no

    realizar do conhecimento.

    )o seu livro 0=ssim $alou Laratustra2 H*//M/NK )ietzsche apresenta o seu0super1homem2O nesta obra, diz ele mesmo em 07cce %omo2 H*///K, o conceito de

    0dionis:aco2 teria se tornado ato supremo, pois o seu Laratustra fundiria em uma

    nova unidade todos os opostos através deste mesmo esp:rito 0dionis:aco2 1 esp:rito

    este de afirmação da diversidade da vida e aceitação da constituição de sua

    realidade pela gratuidade de seu vir1a1ser, a vida como uma vontade que se

    manifesta e transforma, no homem, através de seu conhecimento, pelo contraste

    das suas posiç@es valorativas, entre todo 0bem2 e 0mal2, toda 0ess>ncia2 e

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    0apar>ncia2, etc.. Por isso é que, nesta unidade da diversidade de todos os opostos

    da vida e na sua afirmação, >o ?o& @ '/%&!")o " +")" o&n(o, o +on+&$(o

    )& '/%&!-?o& #&-'& "$ !&"$)")& '/%!&":. # homem é superado, pois no

    vir1a1ser da realidade da vida continuamente se transforma, sendo o seu viver o

    sempre conceber esta realidade tal como ela se apresenta diante da avaliação que é

    o seu conhecimento, que sempre traduz aquilo que o homem quer e valoriza e que

    se transforma de acordo com este querer, transformando, assim, o próprio viver do

    homem. )este vir1a1ser da realidade é que se d9 o viver do homem, o valorar de seu

    conhecimento, que se revela como um querer que no e3perimentar o mundo 59 o

    concebe com uma ordem, no sentido de ordenação e separação das coisas,

    preferindo umas em relação a outras. sto, devido 5ustamente ao conhecimento ser

    atribuição de valor por uma vontade, que sempre quer mais, sempre quer além,

    procurando sempre pelo que se5a melhor, pelo que lhe é bom, e3altando, assim,

    sempre um bem, que é o sentido de todas as coisas, da vida do homem, sua medida

    de tudo. 7 é por esse sentido de sua vida que se dão suas superaç@es de todo mal,

    seu transformar1se em direção ao que ele 5ulga bom 1 o que é transformação da

    própria vida, ou se5a, de todo 0bem2 e 0mal2.

    = vida manifesta1se no homem, então, como essa vontade que quer superar a

    si mesma, enquanto 0vontade de poder2. Por meio dessa vontade manifesta em seus

    valores, que constituem sua ordenação do mundo e sentido de sua transformação, é

    que o homem concebe a vida através de seu conhecimento, valorizando1a de

    alguma maneira e pondo esse valor acima de qualquer coisa, como valor m93imo da

    vida. # viver do homem é a manifestação gratuita da vida no vir1a1ser de sua

    vontade, que se apresenta no querer do homem, faz deste sua vontade. < a vida asua própria vontade, 0vontade de poder2, que é vontade de realização, que,

    enquanto realidade, é 59 vontade e realização de seu apresentar1se no homem e

    para o homem, no seu conhecer da realidade como valoração desta, ou se5a, da

    vida.

    1 Nietzsche, F. W. Ecce Homo. In: _____. Assim Falou Zaratustra. São Paulo: a! "imona#e, 1$%&. '. 1(&.

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    7ste conhecimento da unidade da vida como vontade que vem a ser através

    do homem é o que o Laratustra de )ietzsche vem comunicar aos homens em seu

    ocaso, em sua descida do refúgio na montanha. # personagem do livro diz estar

    cansado de sua sabedoria, que havia sido a5untada em e3cesso, e que agora

    transborda. ;as o que é isso que Laratustra conhece, o 0super1homem2" Eomo é

    que se caracteriza esse saber da gratuidade da vida e de seu manifestar1se

    enquanto realidade que se apresenta ao homem"

    7le se apresenta com aquele esp:rito dionis:aco de afirmação da vida, de sua

    diversidade e vontade realizadora, que se manifesta no homem em seu conceber da

    realidade, orientado por um conhecimento valorativo da vida, que contrap@e,

    sempre, os elementos formadores desse configurar da realidade da vida, suas

    instGncias, 0bem2 e 0mal2, analogamente, o que é 0bom2 e o que é 0ruim2, aquilo que

    considera 0verdade2 e o que é 0ilusão2, 0ess>ncia2 e 0apar>ncia2. 7stas

    contraposiç@es, que t>m sua unidade na 0idéia do Fion:sio2, ou do 0super1homem2,

    não só fazem parte da e3ist>ncia humana, mas são ela própria, a vida é o valor que

    lhe é atribu:do no conhecimento, no conceber do mundo, próprio do homem, entre

    aquilo que ele alme5a e o que despreza, na oposição, portanto, entre aquilo quema3imamente valora e o que acha terrivelmente funesto.

    Fiante disso, o ato do conhecer é encarado, por esse esp:rito de afirmação da

    vida, como o fazer1se e apresentar1se da realidade para o homem, sendo o produzir

    de um fen4meno, arte e criação de uma totalidade da e3perimentação humana da

    vida, determinada pelos valores de seu conhecer e conceber a sua realidade 1

    e3perimentar este, da realidade segundo o conhecimento humano, que surge comoe3pressão da própria vida, do valor que se atribui ? e3ist>ncia, segundo o

    manifestar1se da própria vontade da vida no homem. Codo conhecer repousaria,

    então, sobre a ótica, a ilusão, o perspectiv:stico, o erro, - pois não seria a e3ata

    tradução de uma realidade dada, pronta e acabada, que forneceria uma verdade

    irrefut9vel acerca da vida, visto que a própria vida se transforma no vir1a1ser de sua

    vontade através do homem, apresentando1se para este como parGmetro de seu

    ) I#em. * Nascimento #a +ra-#ia. In: _____. +entatia #e Autocr/tica. ). e#. São Paulo: 0om'anhia #as "etras,)&&(. '. 1%)&.

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    conhecimento e concepção da realidade, que se transforma de acordo com aquela

    vontade. Por isso, o conhecimento pretenderia algo contraditório' determinar o que é

    a realidade quando ela não pode ser determinada devido ? sua cont:nua

    mutabilidade, e quando ele não pode apreend>1la em sua totalidade, pois o

    conhecimento é resultado sempre de uma valoração que apenas permite

    e3perimentar a realidade da vida de uma maneira determinada, como perspectiva.

    Propondo1se a ser absoluto, o conhecimento propor1se1ia, então, a estabelecer

    como forma única um modo daquilo que pode ter infinitas formas' a vida. Eonfigura1

    se apenas como a visão particular e parcial, sempre mut9vel, de uma totalidade

    sempre presente, pois dela fazemos parte, mas apenas e3perimentada numa

    determinada perspectiva. 7sta totalidade da vida que se apresenta como

    indetermin9vel em termos absolutos, no entanto, não pode dei3ar de ser

    determinada, dado que se evidencia de imediato ao e3istir humano como conhecer,

    e3perimentar e produzir da própria realidade em sua manifestação e vir1a1ser, que

    permite e d9 a própria e3ist>ncia do homem.

    Para se ter uma compreensão do significado disto é preciso decifrar que

    conhecimento é este, o que tem em vista o super1homem, e saber como ele époss:vel enquanto conhecimento da unidade de todos os opostos, conhecimento da

    totalidade. Eom base nisto, seria ele o conhecimento que suplantaria a condição de

    parcialidade de todos os saberes, abarcando e eliminando as diferenças entre

    0ess>ncia2 e 0apar>ncia2 e, como conseqQ>ncia da valoração atribu:da a esses

    conceitos, entre todo 0bem2 e 0mal2 concebidos pelo homem. 7ste saber é o

    conhecimento, então, daquilo de que o conhecimento oferece suas perspectivas,

    aquilo desde o que estas também são poss:veis' a realidade do mundo, a vida,tomada como possibilidade de todos os sentidos do conhecimento humano e,

    portanto, de toda forma que ela mesma possa tomar para o homem. < o

    conhecimento do 0super1homem2 o conhecimento da unidade de todos os opostos, o

    conhecimento da vida. < o 0super1homem2 a própria vida.

    Risto tudo isso, cabe1nos agora investigar, através da an9lise de alguns dos

    discursos de Laratustra, o que é o 0super1homem2 e qual a sua relação com o

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    conhecimento, e também por qu> se pode dizer que ele é a própria vida e como esta

    se revela como vontade. Ama vez feito este percurso ser9 dado em um segundo

    cap:tulo o esclarecimento e detalhamento desta vontade como 0vontade de poder2,

    ou se5a, vontade da vida que é a própria vida vindo a ser no homem configurando,

    assim, o seu conhecimento e, conseqQentemente, ao mundo e ao homem mesmo

    no seu valorar a realidade entre todo 0bem2 e 0mal2, concebendo1a entre 0ess>ncia2

    e 0apar>ncia2 1 que é a vida mesma, como vontade, propondo1se ao homem através

    de seu conhecimento, ou se5a, unidade destas formas valorativas que no

    conhecimento se desdobra, dispondo, assim, a realidade. !er9 visto como esta

    0vontade de poder2 manifesta1se no homem na forma do amor que este possa ter

    pela vida, como este amor não só determina o car9ter do seu conhecimento, mas é

    ele próprio. Fa an9lise dessa relação de amor do homem pela vida ser9 conduzida,

    no terceiro cap:tulo, uma investigação da conseqQente relação dele com seu

    conhecimento, ou sabedoria, enquanto relação dependente do amor que a própria

    vida possa ter por ele, que é 0vontade de poder2, o 0super1homem2, a vida mesma

    que vem a ser através de si 1 no homem e no conhecimento.

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    :- O '/%&!-?o& +oo o '&n($)o )" (&!!" 

    Eomo primeiro passo dessa investigação, tentar1se19 evidenciar o conceito de

    0super1homem2 através da caracterização fornecida por )ietzsche no Prólogo de

    0=ssim $alou Laratustra2, a partir da terceira parte do mesmo, quando o personagem

    apresenta ? multidão o car9ter de sua sabedoria e seu presente aos homens, tendo

    em vista, principalmente, a afirmação de que >O '/%&!-?o& @ o '&n($)o )"

    (&!!"ncias e valores. Fessa forma, não se

    admite como sentido e fundamento do conhecimento da vida um ideal situado em

    um 0outro mundo2, e, portanto, fora da vida, em um mundo que não e3iste, pois a

    vida só se apresenta em um mundo, neste mundo. Por isso Laratustra roga aos

    homens' >%&!"n&+&$ #$@$' * (&!!"   & no "+!&)$(&$' no' ./& o' #"" )&

    &'%&!"n="' /(!"(&!!&n"'4, pois estes seriam envenenadores e desprezadores da

    vida que atribuiriam >"$' "o! *' &n(!"n?"' )o $%&!'+!/(3& )o ./& "o

    '&n($)o )" (&!!"O ou se5a, querem dei3ar de lado o sentido e realidade da vida

    que se apresenta enquanto fen4meno ? e3perimentação humana e procurar por um

    sentido e fundamento que estaria fora dela, e, portanto, fora de sua realidade, eassim se preocupam em chegar a formas ideais e acabadas, conceitos absolutos

    que traduziriam a verdade, realidade da vida, de maneira pronta e simplesmente

    dada, negando a variedade da e3perimentação humana e das perspectivas do

    conhecimento. 7, com isto, estariam apenas alme5ando uma forma única, ideal,

    imut9vel de conhecimento, que significaria não querer a mutabilidade da vida, da

    ( I#em. Assim Falou Zaratustra. In: _____. * 'r2loo #e Zaratustra, (. 1). e#. 3io #e 4aneiro: 0iiliza5ão6rasileira, )&&(. '. (7.8 I9i#em. '. (7. I#em.

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    realidade, tal como se apresenta no mundo, alme5ando, assim, um outro mundo,

    ideal, est9tico, estagnado, ou se5a, uma outra vida. = alma destes homens desdenha

    seu corpo e quer escapar dele e da terraS, ou se5a, da vida.

    7sta procura por um conhecimento absoluto só se d9 por se ignorar o fato de

    ser o conhecimento criação da e3perimentação humana, pois sem ela a realidade

    não poderia se apresentar, e, assim, não poderia haver conhecimento algum sobre

    nada e o próprio homem não poderia se conceber e não e3istiriaO >"#$n", 'G '& $&

    " &6%&!$1n+$" )& '$ &'o. Fessa forma, o conhecimento se reformula

    continuamente, pois é a perspectiva da e3perimentação humana que não cessa de

    se apresentar como realidade, visto realizar1se como e3pressão da própria vida que

    vem a ser no homem, neste >&/ ./& +!$", ./& ./&!, ./& &'("&&+& "o!&' & ./&

    @ " &)$)" & o "o! )& (o)"' "' +o$'"'J. # conhecimento, portanto, reformula1

    se devido ? natureza mut9vel da própria vida, que se e3pressa no homem como

    saber do mundo que sempre se transforma Hpor conseqQ>ncia da sua

    e3perimentação da vidaK, que é sempre perspectiva de nova e3perimentação da vida

    e realizar1se da sua criaçãoO e por isso diz Laratustra' >A!&-'& "./$, )$"n(& )&

    $, (o)"' "' %""!"' & o &'+!Kn$o )& %""!"' )o '&!5 (o)o o '&! ./&! (o!n"!-'&, "./$, %""!", (o)o o )&$! ./&! ./& &/ ?& &n'$n& " #""! . #u se5a, é

    através da e3perimentação que o saber do homem se e3prime na apresentação da

    realidade como aparecimento, que se d9 desde a ordenação de uma perspectiva

    que conhece e e3perimenta a vida. Duer dizer, uma ordenação e aparecimento

    segundo os parGmetros que são valorados pelo homem em seu conhecimento, que

    são manifestação de uma vontade que sempre est9 no homem ordenando e

    apresentando1lhe o mundo, vontade da própria vida que ordena e faz aparecer a simesma através do homem.

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    movimento da vida. 7sta, então, vem a ser, enquanto realidade, como o sentido que

    a sua própria vontade toma, sendo, portanto, este próprio sentido, que é a sua

    realidade, sua forma de manifestação. 7 o sentido da terra, ou se5a, da vida, o

    0super1homem2, é a realidade mesma vindo a ser através da vontade que se

    manifesta no homem. Pois a vida sempre apresenta, dentro do saber do homem 1

    que é o seu modo caracter:stico de viver e conceber a realidade 1 um sentido no

    qual é concebida. =qui forma e sentido tornam1se iguais, 59 que a forma de

    apresentação da realidade só vem a ser no sentido mesmo de sua constituição

    enquanto tal, ou se5a, movimento de geração de forma, o sentido de geração e

    transformação da vida, sentido de sua vontade manifesta no conceber do homem da

    realidade. # 0super1homem2 é a vontade vindo a ser no homem, o próprio sentido da

    vida. ;as este sentido e vontade vindo a ser no homem é a própria realidade

    constituindo1se e apresentando1se ao homem. !ão o fazer1se da vida do homem no

    homem como o próprio homem. < o 0super1homem2 o sentido da vida e a vida

    mesma, realidade vindo a ser enquanto aparecimento que se conhece e se

    e3perimenta, apresentando1se como um querer da vontade que se manifesta no

    homem.

    ;as o homem não tem prestado muita atenção a esse apresentar1se da

    realidade e da vida, o seu próprio constituir1se. Permanece enquanto manifestação

    da vontade da vida e do 0super1homem2, mas em um direcionamento do sentido de

    sua vida no qual tem desprezo por sua realidade e alme5a formas de um 0outro

    mundo2. gnora, assim, o 0super1homem2, aquilo desde que ele mesmo e sua

    vontade se constituem. ;as, sendo assim, essa vontade de um 0outro mundo2 é

    também manifestação dessa mesma vontade da vida, do próprio 0super1homem2,que, dessa forma, ou com esse sentido no qual direciona o seu manifestar1se, quer

    aniquilamento de si mesma enquanto movimento de forma, quer desaparecer

    enquanto esse próprio movimento. Eomo a vida é sempre continuidade e vir1a1ser

    dessa sua vontade como sua própria constituição e realidade, esta vontade de fim

    do movimento, ou se5a, vontade de forma cristalizada, ainda é a sua continuidade e

    o seu vir1a1ser, na medida em que mesmo esta forma ainda se d9 desde

    transformação e aparecimento de forma, que é o próprio sentido da terra, da vida, do0super1homem2, portanto, do próprio homem.

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    7 este é o sentido das palavras de Laratustra a respeito do 0super1homem2,

    quando diz que o homem é algo que deve ser superado*J, e que o homem é um rio

    imundo, sendo preciso um mar para absorv>1lo sem se su5ar**. =lude1se aqui a uma

    incessante transformação e vir1a1ser da vida, o que 59 estaria presente desde o

    começo da história e percurso de Laratustra. 7ste percurso é caracterizado por

    )ietzsche como um ocaso, comparado ao próprio ocaso do sol, pois Laratustra,

    assim como o astro1rei, desceria de sua montanha para, incessantemente, despe5ar

    sua luz, sua sabedoria, sobre os homens*-. !ua luz é 5ustamente a do 0raio2

    chamado 0super1homem2 e Laratustra vem anunci91lo aos homens no seu ocaso,

    sua volta ? humanidade depois do acúmulo de sua sabedoria, a5untada em e3cesso

    e que agora transborda. !ua sabedoria é o saber do 0super1homem2 como sentido

    da vida, da vida que constantemente vem a ser, como cont:nuo movimento de

    transformação da totalidade daquilo que é. =ssim, o 0super1homem2 é a vida vindo a

    ser desde si, como se estivesse transbordando. #s homens que se t>m direcionado

    para uma fuga do vir1a1ser transformador da vida devem, portanto, ser superados

    H>./& )&'"%"!&=", %o$', )& /" &:

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    homem. !endo assim, quanto ?queles homens que se direcionam para o fim do

    movimento de transformação da vida que se apresenta em seus próprios corpos, por

    alme5arem um outro mundo, só se pode dizer' >P/)&''& &&' )& o/(!" "n&$!",

    ("@ ?"&!$" )& ./&!&! )& o/(!" "n&$!" O' &$o-(&!o' &'(!"" (o)o

    o $n(&$!o ;/& "' #o?"' /!+?& ./& ?3 n$''o " "&n("! :4. 7, em folhas

    secas, pode1se atear fogo, fogo transformador do vir1a1ser da vida.

    Por isso o velho da floresta reconhece Laratustra como um incendi9rio *N, pois

    o fogo que ele traz como presente aos homens é o super1homem, abundGncia e

    riqueza da vida em seu transbordar, seu transformar1se incessante. 7 é nesse

    sentido que o homem deve sempre ser superado, ele é sempre esta transformação

    e vir1a1ser do 0super1homem2 e capacidade de tornar1se algo além de si mesmo.

    ;as o homem não tem feito nada mais do que procurar algo fora da vida através de

    ideais ultraterrenos, e, dessa maneira, desprezou a vida desdenhando o mais

    terreno, seu corpo, tornando1o >"!o, ?o!!K&, #"$n(o:. Pensava, assim, estar

    se livrando da vida na terra, mas estava apenas dei3ando1a desgastada e su5a. Por

    isso, foi, até então, um rio imundo dentro do mar da vida, do 0super1homem2, que

    pode comportar todas as possibilidades de manifestação da vida do homem, todo0bem2 e 0mal2 de suas perspectivas, sendo o 0raio2 de sua eterna transformação.

    7, por isso' >O ?o& @ /" +o!)" &'(&n)$)" &n(!& o "n$" & o '/%&!-

    ?o& /" +o!)" 'o!& / "$'o:. # homem sempre d9 um sentido para

    a sua vida e concebe a realidade de determinada maneira, a forma que a vida toma

    desde sua vontade manifesta no homem como conhecer da vida mesma. =s formas

    e sentidos da vida são as concepç@es do conhecimento sobre a realidade, suasperspectivas, as infinitas possibilidades do mar de manifestaç@es da vida vindo a ser

    e aparecendo para o homem no homem como o próprio homem, que ao atribuir

    sentido a este aparecimento, atribui sentido ? realidade e ? vida. =ssim, estabelece

    seu conhecimento da vida concebendo1se como algo que teria uma origem e uma

    finalidade. Pode se conceber como um animal, como evolução deste, ou

    18 I#em. In: _____. +erceira Parte, =os 3enea#os. '. )1;.1 I#em. In: _____. * 'r2loo #e Zaratustra, ). '. (8.17 I#em. In: _____. * 'r2loo #e Zaratustra, (. '. (;.1; I#em. In: _____. * 'r2loo #e Zaratustra, 8. '. (%.

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    simplesmente como produto da natureza, e pensa também que tudo é produto e

    efeito de algo maior, que quer investigar, entender e alcançar, orientando1se numa

    busca por esta origem, desde a qual pensa ser poss:vel a vida.

    # homem é, então, sempre a corda que se p@e entre duas instGncias, e se

    encaminha no sentido de uma delas. # homem, que em nossos tempos, se

    proclama uma evolução do animal, sai deste ponto e p@e1se em direção ? sua

    transformação, ao 0super1homem2, mas concebe este apenas como um ideal, uma

    finalidade que deve alcançar fora desta realidade que a ele se apresenta, uma forma

    a se atingir fora da vida, e, assim, não se abre para o mar das possibilidades da

    própria vida. ;as deve entender o homem que as próprias pontas, as instGncias,

    onde est9 amarrado, como corda e ponte, são a vontade da vida manifestando1se

    nele como conceber da realidade entre a forma que ela toma enquanto perspectiva

    de si mesma e aquela que quer, que ainda vir9 a ser no movimento e sentido de sua

    vontade, no atravessar por sobre si mesma, o abismo. #s pontos onde o homem se

    apoia só são, e3istem, desde ele mesmo, as coisas são, aparecem, a partir do fato

    de que ele conhece e e3perimenta a realidade ao ser corda, ponte, perspectiva. 7

    sendo perspectiva, o homem é a própria vida vindo a ser no manifestar de suavontade e realidade, a vida que é o abismo que se mostra para si mesma, no

    homem, concebendo1se entre instGncias de si mesma. 7, por isso, o próprio homem

    é o 0super1homem2, pois é a própria vida, que só se manifesta a partir dele

    constituindo1se como realidade. 7 assim é também a vida dentro de si mesma, de

    sua realidade, pois é o rio 0homem2 dentro do mar 0super1homem2, sendo apenas

    uma possibilidade, portanto, deste últimoO a forma que a realidade toma enquanto

    perspectiva, sentido do viver da vida, de sua travessia por si mesma, do abismo, emdireção ao 0super1homem2, ? vida mesma, que ser9 sempre a realidade vindo a ser,

    0super1homem2, abrindo, mostrando, possibilidade de vida para o homem no seu

    criar, conhecer e e3perimentar a si mesmo.

    )a busca de uma forma ideal tentar1se1ia atingir algo imposs:vel, visto que a

    vida é cont:nua transformação no vir1a1ser de sua vontade no conceber de sua

    realidade pelo homem. #s ideais querem que a vida se5a o que ela não é, ou se5a,

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    forma fi3a, estagnada. # 0super1homem2, o sentido da terra, a verdade da vida, não

    é um ideal. )ele a vontade quer ser apenas o que ela mesma é no movimento de

    ser o que é, o que a própria vida é' próprio movimento de ser, ininterrupto constituir1

    se em seu vir1a1ser e por isso cont:nua transformação de si em si mesma. Fessa

    maneira, o homem, na ação de seu viver, est9 sempre em processo, transformação

    e, assim, sempre assumindo nova configuração de si e do mundo. < sempre esta

    transição, ponte entre ele e ele mesmo, é sempre ocaso, decl:nio que cai de si em si

    mesmo, é sempre vir1a1ser. 7ste é o movimento da própria vida, do 0super1homem2,

    que transforma e configura o homem sempre em nova forma, só se realizando com

    o homem, vida que est9 sendo no homem que se transforma. 7 o 0super1homem2

    vem como 0raio2, súbita lembrança ao homem de que ele não é só o que tem sido

    até agora, de que nele se realiza o próprio movimento da vida, seu ocaso, decl:nio,

    transbordar da vida e transformação do homem como movimento da vida e

    e3pressão do 0super1homem2. = vida é transformação e movimento, mudança e

    superação de si mesma, movimento de ser o que é, possibilidade e variedade da

    própria vida em cont:nuo vir1a1ser e transformação de si mesma, processo, é sempre

    criação.

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    2- O '/%&!-?o& &n./"n(o on(")& )& %o)&!

    Far1se19 neste ponto um esclarecimento do 0super1homem2 como vontade da

    vida, ou se5a, como a própria vida em seu constituir1se enquanto realidade, e como a

    conseqQente unificação de 0ess>ncia2 e 0apar>ncia2, e assim também como 0corpo2

    e 0esp:rito2. Pois, como afirma Laratustra' >In'(!/&n(o )& (&/ +o!%o @, ("@, "

    (/" %&./&n" !"o, &/ $!o, * ./" +?""' &'%K!$(o, %&./&no $n'(!/&n(o

    & !$n./&)o )" (/" !"n)& !"o:J, e, também' >D& (/)o o ./& '& &'+!&&,

    "%!&+$o 'o&n(& o ./& "/@ &'+!&& +o '&/ %!G%!$o '"n/& E'+!&& +o

    '"n/& & "%!&n)&!3' ./& o '"n/& @ &'%K!$(o:.

    # sangue faz significa aquilo que é o mais :ntimo e próprio, o que

    propriamente nos faz, nos constitui, denotando assim nosso próprio sangue que nos

    d9 a vida. Fessa forma, o escrever com sangue é escrever com a própria vida,

    arrancar de dentro de si o que lhe é mais :ntimo e vital. Faquilo que se escreve,

    aprecia1se somente o que se escreve com a própria vida. !e se escreve com a vida,

    aprende1se que a vida é esp:rito. < um modo no qual não se escreve ? toa, ou de

    qualquer maneira, mas em que h9 empenho em escrever, elabora1se a escrita

    através de sacrif:cio próprio, e então escrever é, ao mesmo tempo, a própria vida, o

    próprio sangue, que é o próprio esp:rito. ;as por que sangue é esp:rito"

    # esp:rito é, como dito, a pequena razão de uma grande razão, ou se5a, o

    elemento racional do corpo, a consci>ncia, faculdade do pensamento, etc., mas é

    instrumento e criação de uma outra razão, o corpo, que faz o 0eu2 desta consci>ncia.

    # corpo é o que )ietzsche chama de 0ser próprio2 H0si mesmo2K, o 0dominador do

    eu2-J, pois todas as vontades do 0eu2 são vontades do corpo que se realizam pelos

    sentidos e pelo esp:rito, seus meios de e3perimentação do mundo. # esp:rito é,

    então, com seus pensamentos, meio de realização da vontade do corpo, e foi

    também criado pelo corpo, por sua 0vontade de poder2, vontade de realização de

    realidade, nisto consistindo a vida mesma do esp:rito He3ist>nciaK.

    1% I#em. In: _____. *s =iscursos #e Zaratustra, =os #es'reza#ores #o cor'o. '. 7&.1$ I#em. In: _____. *s =iscursos #e Zaratustra, =o ler e escreer. '. 77.)& I#em. In: _____. *s =iscursos #e Zaratustra, =os #es'reza#ores #o cor'o. '. 7&.

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    Portanto, o corpo cria o 0eu2 e através dele quer e realiza a sua vontade de

    e3perimentar o mundo, e, com isso, estabelece valores sobre o viver. Pois querendo

    e realizando a sua vontade através de um 0eu2 que e3perimenta a realidade, é

    medida e valor para todas as coisas. 7 apenas sendo ele medida e valor para todas

    as coisas é que pode haver realidade, ou se5a, e3perimentação da vida. # esp:rito é

    parte do corpo e instrumento de realização da vontade deste no estabelecer o valor

    de todas as coisas, no e3perimentar a realidade. 7ntão, o esp:rito e o próprio corpo

    são e3pressão e realização 59 deste estabelecer valor que e3perimenta a realidade,

    pois este estabelecer sempre 59 é dado. !empre 59 e3perimentamos o mundo, tudo

    que nos cerca, e queremos alguma coisa, por que no e3perimentar o mundo 59 o

    concebemos com uma ordem, naquele sentido de ordenação e separação das

    coisas, preferindo umas em relação a outras. Telacionamos todas as coisas de

    acordo com uma vontade, aquela vontade do corpo que 59 somos sempre, pois o

    corpo desde sempre 59 nos foi dado, como vida, mas ordenamos essas relaç@es

    através do esp:rito, que é e3pressão e meio de realização do corpo, que é então

    concebido pelo esp:rito mesmo, apesar de ser antes o corpo quem nos cria, pois por

    meio dele é que nosso 0eu2 vem a ser.

    7 por isso o corpo é vida 6 a vida que somos desde sempre e não

    escolhemos. !omos criação de sua vontade de realização, que 59 é vontade e

    realização. =qui podemos entender, então, por que sangue e esp:rito são a mesma

    coisa, pois são corpo, vida, 0vontade de poder2, vontade e realização, o 0super1

    homem2, e3perimentação e transformação do mundo sempre 59 dada e acontecendo

    1 e3pressão e vontade da vida, do sangue, através do esp:rito, que 59 é a vida vindo

    a ser por sua própria vontadeO vontade da vida que se apresenta no homem 59 comouma inclinação, ou se5a, aquilo para o que 59 se é propenso desde 59, que é como

    um desde sempre, ou se5a, aquilo que se d9 naturalmente. < uma vontade 59

    realizada, irrefre9vel, contra a qual não adianta lutar. ;as, mesmo uma vontade que

    se volte contra sua natural inclinação, como força de vontade, e que não est9

    realizada, é uma 0vontade de poder2 manifesta no esp:rito como meio da realização

    do corpo, da vida, 0super1homem2, através deste corpo, da vida através de si mesma

    6 através da sua forma 59 realizada.

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    %9, contudo, o risco de esta força de vontade tornar1se vontade contra a vida,

    vontade de não realização, de não vontade, vontade de repouso e morte, vontade

    que despreza a vida. ;as, mesmo quando se despreza a própria vida e o corpo, e

    se procura por ideais ultraterrenos, obedece1se ao corpo que se manifesta e quer

    com o esp:rito. ;as este é um corpo que quer morrer, pois não consegue mais se

    realizar, criar para além de si, para além do que 59 é. )ão realiza mais a sua vontade

    e torna1se vontade de não realização, por ressentimento. Cem o sangue fraco,

    vontade fraca, e, então, 59 não realiza, apenas pode maldizer aquilo que é realizado

    e que tem o sangue forte.2:

    !e o realizar1se da realidade é o e3pressar1se do corpo com sua vontade

    através do esp:rito, concebendo e ordenando o mundo por valoração, o corpo

    ressentido, por não conseguir realizar a sua vontade, começa a destruir o mundo,

    sendo e3pressão de uma pura negação deste. Raloriza1se, então, um mundo ideal,

    que seria melhor do que este e mais verdadeiro, e do qual viria toda a verdade

    deficiente deste mundo de puras 0apar>ncias2, contrapostas ?s 0ess>ncias2 puras

    daquele. ;as estas 0ess>ncias2 são apenas idealizaç@es inacess:veis 5ustamente

    por não haver um 0outro mundo2. 7sta idealização seria a valorização, na valoraçãodo conhecimento da realidade, de um não1mundo, uma não1vida e um não1corpo,

    e3pressão de uma vontade sem poder de realização 6 causa de todos os ideais

    ascéticos de transcend>ncia e desprezo do corpo para a purificação do esp:rito.

    ;as, se o corpo é desprezado, também se despreza o esp:rito, pois este é

    e3pressão e meio da realização daquele, é o próprio corpo e sangue se

    manifestando. !e a vontade de realização da vida e, conseqQentemente, o corpo

    são valorizados, segue1se ?quela vontade do sangue, vontade da própria vida, narealização da vontade do corpo pelas atividades do esp:rito, pelas criaç@es

    humanas, como o escrever com sangue.

    =ssim, segue1se ao 0sentido da terra2, o 0super1homem2, que é o sentido da

    vida, valorizando1se a terra e o corpo para a realização da vontade da vida, e não

    algo ideal e ultraterreno, 0fantasmagórico2 e sem sangue. =ssim, pode1se escrever

    )1 * 'ro9lema re'resenta#o 'or esta >onta#e ?raca@ ue aca9a se ressentin#o #a i#a ue ela mesma - estBmelhor #esenoli#o no conte!to #o ca'/tulo seuinte C'. ) D (8.

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    com sangue, tendo como pano de fundo da vida a própria vida em seu realizar1se,

    que, então, não é fundo ou fundamento algum. < o puro apresentar1se do que é em

    seu vir1a1ser por si mesmo 6 vida como 0ess>ncia2, ou 0apar>ncia2, de si mesma, e

    não 0apar>ncia2 de algo ideal. = 0apar>ncia2, ou apresentar1se, da vida é sua

    0ess>ncia2, pois o essencial da vida é seu aparecer e constituir1se como realidade.

    !eu constituir1se, ou apresentar1se, se d9 desde ela mesma, apresentando1se no

    homem e para o homem como 0vontade de poder2. Rontade e realização deste

    apresentar1se e aparecer da vida no homem para o homem, que sempre 59 recebeu

    e concebe o mundo e a vida em alguma forma.

    = forma de apresentação da vida, do 0super1homem2, do mundo, é a

    realidade desta, sua própria efetividade, que é a realização da sua 0vontade de

    poder2 como vontade do corpo que se manifesta no esp:rito, não só para a

    efetivação desta realidade, mas também para a sua transformação no viver do

    homem. 7ste sempre atribui um sentido para a vida, que é o sentido da

    transformação desta, o sentido da própria 0vontade de poder2, realização de sua

    efetividade. Pois a vida não pode ser vivida sem sentido, sendo o sentido da vontade

    da vida 59 sua realização e aparecimento. )a transformação da vida e superaçãodas formas e sentidos de sua vontade 59 realizados, inventam1se sempre novos

    sentidos, novas formas de a vida ser vivida. 7, por isso, corre1se sempre aquele

    risco de atribuir um valor ideal e imut9vel ao sentido que se d9 ? vida, que deve,

    assim, voltar1se para um 0bem2 absoluto, tornando a sua vontade vontade dessa

    verdade incontest9vel, atribuindo culpa ao que este5a fora desse sentido de vida.

    Perde1se, dessa maneira, toda a inoc>ncia daquela vida que, despreocupadamente,

    transformava1se continuamente em busca de sua plena manifestação, o sempremanifestar1se e transformar1se na superação de seus limites, através da criação

    incessante de seu mundo, sua própria vida, seu corpo, por seu próprio sangue e

    esp:rito. ;as a vida não pode dei3ar de querer, e, assim, prop@e1se em valores

    através dos homens, tomando forma e sentido, mesmo quando o esp:rito é

    e3pressão de um corpo com vontade fraca, que não se realiza plenamente. 7le

    ainda é e3pressão da vontade do corpo e, então, escreve com sangue, mesmo que

    ralo. ;as, então, por que valorizar o que é escrito com um sangue que não se5a

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    ralo" Por que é preciso dar sentido para a vida, e empenhar1se nisto, se ela sempre

    tem um sentido"

    nevitavelmente, também, o homem sempre procura a superação das formas

    conhecidas da vida, procurando sempre o que se5a melhor, ou aquilo o que lhe e3ige

    o corpo e o sangue para dado momento da vida, que é e3presso no esp:rito dentro

    daquilo que ele mesmo 59 concebe da realidade, e3pressão 59 das e3ig>ncias do

    corpo. 7 isto é a vida' corpo e esp:rito que se transformam incessantemente, e que

    só são um desde o outro, sendo a apresentação de dois aspectos de um mesmo

    que sem eles não seria poss:vel de ser apreendido por si mesmo' a vida. !e esta

    não fosse assim, não seria de fato, pois só é na e3ist>ncia do homem, que dentro do

    movimento de transformação da vida tem sua própria transformação, sendo sempre

    o conceber e apresentar1se da vida por meio dele. Por que a vida sempre aparece

    com um sentido, com um valor atribu:do desde vontade, é que Laratustra afirma no

    seu discurso 0Fe mil e um fitos2' >U" (3/" )& (/)o o ./& @ o &'(3 '/'%&n'"

    %o! +$" )& +")" %oo V&)&, @ " (3/" )o ./& && '/%&!o/, @ " o )" '/"

    on(")& )& %o)&!22.

    Fiz Laratustra, no mesmo discurso, que o maior poder encontrado na Cerra é

    o bem e o mal. Eada povo e cada homem, encontrando1se sempre entre o que é

    bom e o que é mau para si, busca o que é bom, e3altando, assim, um bem. 7ste

    bem é 5ustamente aquilo que é dif:cil de ser conquistado, mas indispens9vel para

    que esse homem, ou povo, se conceba e se constitua enquanto tal. Pois é o sentido

    de todas as coisas, de sua vida, é sua medida de tudo. 7 é por esse sentido de sua

    vida que se dão suas superaç@es de todo mau, seu transformar1se em direção aoque ele 5ulga bom. ;as, de maneira geral, esse sentido sempre foi, e nunca dei3ar9

    de ser, um sentido humano, um sentido das coisas que é necess9rio ao homem no

    seu avaliar a vida, sendo ele, por isso, como )ietzsche denomina, através de seu

    Laratustra, aquele que avalia. #u se5a, é aquele que cria, pois'

    >A"$"! @ +!$"!5 &'+/("$-o, G +!$")o!&' O %!G%!$o ""$"! +on'($(/$ o !"n)& "o! & "%!&+$o'$)")& )"' +o$'"' ""$")"'

    )) I#em. In: _____. *s =iscursos #e Zaratustra, =e mil e um ?itos. '. %.

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    So&n(& ?3 "o! !"="' * ""$"=o &, '& " ""$"=o, '&!$" "$" " no )" &6$'(1n+$"E'+/("$-o, G +!$")o!&'2

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    dar1lhe um sentido e empenhar1se nele, se o sentido lhe é inerente" Por que é

    preciso escrever com sangue, se a tinta que se usa sempre ser9 de sangue"

    #ra, é só prestarmos atenção a tudo o que 59 investigamos, o que talvez fique

    mais claro utilizando mais uma parte dos discursos de Laratustra'

    >;/& (&o' & +o/ +o o o(o )& !o'", ./& &'(!&&+& "o '&n($! 'o!& o +o!%o /" o(")& o!"?o &!)")&, ""o' " $)", %o!./& &'("o' "+o'(/")o' no * $)", "' " ""!H3 '&%!& "/" o/+/!" no "o! M"' ?3 '&%!&, ("@, "/" !"o n" o/+/!"2.

    =mamos a vida valorizando1a de alguma maneira, sempre querendo o que ela

    tem de melhor, pondo esse valor acima de nossas cabeças como valor m93imo da

    vida. = loucura que h9 nisso consiste 5ustamente em pormos esse valor acima de

    qualquer coisa, inclusive da própria vida. Pois mesmo alguém com valores que

    chamamos ho5e 0materiais2, que não se arriscaria a morrer por nada, muitas vezes

     5ustamente se empenha e se desgasta na procura incans9vel de um estado c4modoe sem riscos, ou que aperfeiçoe seu 0sedentarismo técnico2 ao m93imo. !em contar

    que muitas vezes, pode cair na armadilha c4mica da conquista de fama, status, ou

    coisas do g>nero. ;as com seus 0est4magos fr9geis2 estão mais para os 0bot@es de

    rosa2. )ietzsche, porém, quer falar dos 0escritores sanguin9rios2 que ele denomina,

    neste mesmo discurso, como 0bestas de carga2 ou 0guerreiros2, que t>m em comum

    com os 0bot@es de rosa2 esse amor pela vida. 7les também p@em, assim, em seu

    amor, algum valor acima de tudo, mas de modo diferente.

    73istem, pois, formas diferentes de amar, formas de se dar valor ? vida.

    Duando amamos, preferimos, escolhemos, queremos aquilo que amamos. # amor é

    uma loucura, pois não se e3plica, não d9 raz@es, mas direciona o esp:rito. < pura

    afirmação de si mesmo, só fazendo sentido para quem ama, sendo a partir desse

    amor, na forma de valores, que pode a vida ter algum sentido, lógica e razão. < esse

    amor a 0vontade de poder2 que movimenta a vida. Fe acordo com as formas deste

    ) I#em. In: _____. *s =iscursos #e Zaratustra, =o ler e escreer. '. 7;.

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    amar, entendemos a vida de alguma maneira e lhe atribu:mos com essa forma

    algum sentido. Pode1se amar com despreocupação, mas pode1se, também, amar

    querendo asseguramento de tudo, devido a um sentimento de dever, impróprio ao

    movimento de transformação da vida, sendo assim, sempre um amor ressentido,

    que quer mal ? vida. =ssim, leva1se a vida para um sentido de paralisação,

    congelamento, 0borboleta de coleção2. < um amor inconsciente de sua vontade de

    matar o ob5eto de sua pai3ão devido ? sua passionalidade. ;as o que seria de tal

    amor se não tivesse sempre o que de novo amar, se a vida estancasse"

    Duando se pensa que a vida não tem sentido, por não e3istir uma verdade da

    vida que se5a imut9vel, e que por isso nada vale a pena, pois é tudo igual, tem1se

    um desamor pela vida e no fundo ainda a mesma vontade de algo irrealiz9vel. 7

    desta maneira torna1se a e3ist>ncia um dissabor, tirando1se todo brilho e sentido

    intenso que a vida possa ter, reduzindo1se toda e3peri>ncia do viver a mais um

    insignificante instante de uma mesmice, mero acontecer e apresentar1se da vida por

    falta de ess>ncia, ou se5a, motivo que valha a pena e 5ustifique qualquer ação. ;as

    tal desamor sempre anseia por um ob5eto de seu afeto, pois só é a desilusão da

    perda de um sentido da vida, e que est9 apenas ressentido também. =ssim, étambém um amor que não dei3a a vida se manifestar de maneira mais intensa, de

    modo a direcion91la a um m93imo de e3altação e esplendor de seu próprio

    movimento de transformação.

    Eom este sentido de ressentimento com que é encarada a vida, ela é podada

    e, por isso, se a tem desmerecido. ;as se se e3perimenta a vida desde o poder de

    superação das suas formas, pode o homem então dar vazão ? 0vontade de poder2da vida que sempre o fez se contorcer de dese5o de realização, decidindo1se por não

    temer a realização de sua vontade e principalmente o seu empenho nesta

    realização. 7, somente no encarar a vida como superação sempre em

    transformação, sem culpa com relação a um dever, e como lugar da realização da

    criação humana do mundo através do sentido que tem o seu querer, é que se tem a

    possibilidade de se levar a vida no modo mais próprio de toda sua e3uberGncia e

    possibilidade de infinitas realizaç@es do querer. )esta multiformidade da vida

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    devolve1se a ela sua inoc>ncia e despreocupação de sua continua transformação.

    sto acontece quando o próprio homem se p@e em busca de sua plena

    manifestação, plenitude de si mesmo enquanto ser que cria e d9 sentido ?s coisas, o

    sempre manifestar1se e transformar1se na superação de seus limites, através da

    criação incessante de seu mundo, sua própria vida, seu corpo, por seu próprio

    sangue e esp:rito, na criação e elaboração do sentido de sua vontade e na

    realização desta vontade, que 59 é vontade e realização da vida. Cem1se assim a

    possibilidade de se e3perimentar o movimento de mutabilidade da vida, de modo

    que o homem mesmo faz e participa desse movimento da realidade em toda a sua

    graça, leveza e gratuidade. =mando1se a vida em sua mutabilidade e querendo dela

    o m93imo de sua manifestação, pode o homem conquistar o riso da despreocupação

    em meio a tragédias e guerras, dançando com a leveza de seu querer, pois seu

    querer revela1se a vontade da própria vida, que é 59 a sua realização e do acontecer

    do mundo.

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    homem2 e conduz a ele, ou se5a, é através dele que a 0vontade de poder2 da vida

    vem a ser, como aparecimento e transformação para a própria constituição da vida.

    # viver do homem é, então, o conceber da realidade da vida, conforme esta

    se lhe apresenta em seu conhecimento do mundo, e nesta apresentação é a

    0vontade de poder2 que se manifesta e transforma no homem, configurando,

    continuamente, todo seu querer e avaliar a realidade, quer este a reconheça como

    0vontade de poder2 ou não. )isto constitui todo o vir1a1ser e apresentar1se da

    realidade, que é o viver do homem enquanto o valorar de seu conhecimento. Eomo

    valor conferido por uma vontade, o conhecimento revela1se como um querer, que,

    e3perimentando o mundo, atribui1lhe disposição e forma, sendo um arran5o do

    mundo e ordenação de sua realidade. 7, através da vontade manifesta no

    conhecimento, ou pelos seus valores, não só se constitui a ordenação do mundo,

    mas também o sentido de transformação deste em seu vir1a1ser, pois é o sentido da

    valoração que, também, impulsiona a superação destas próprias formas assumidas

    de conhecimento da realidade.

    = diversidade das formas e a vontade realizadora da vida manifestam1se,

    assim, no homem, ou se5a, em seu conceber da realidade, um conhecimento que

    valora e arran5a os elementos formadores desse configurar da realidade 1 suas

    instGncias hier9rquicas e classificatórias. ncia, segundo o manifestar1se da própria 0vontade de poder2 no homem.

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    = vida enquanto 0vontade de poder2 do 0super1homem2, manifestando1se

    como realidade que o homem conhece, é a possibilidade de todos os sentidos que

    possa tomar o conhecimento humano, e, portanto, de toda forma que esta realidade

    do mundo possa tomar para o homem em seu e3perimentar desta, sendo que,

    enquanto forma assumida pela vida, é forma efetivada da realidade, ou se5a, forma

    assumida e possibilitada pelo 0super1homem2. Codo o realizar das atividades

    humanas se d9 desde um conhecimento, um conceber desta realidade, sendo este,

    portanto, o car9ter fundamental do viver do homem, que, assim, é sempre criação,

    vir1a1ser da vontade da vida, da própria realidade. = ess>ncia do conhecimento é

    aparecimento, faz1se e constitui1se o tempo todo, sendo mut9vel o tempo todo. =

    vida humana, tomada como saber, ou conhecer, do mundo, é, então, vontade de

    realização da criação e e3perimentação humana da vida, que se d9 pela superação

    de suas formas anteriores de manifestação.

    Centar1se19, a partir deste momento, tornar as consideraç@es precedentes

    não só mais claras, mas também relacionadas a um sentido geral a que o te3to de

    alguns discursos de Laratustra nos remete. 7star9 indicada e 5ustificada,

    conseqQentemente, a definição do 0super1homem2 como sendo a própria vida, alémde esclarecida a relação deste com o conhecimento, segundo a própria

    caracterização feita por )ietzsche nestas passagens.

    7m seu 0Eanto de dança2-S, Laratustra descreve a relação que e3iste entre

    ele, a vida e sua sabedoriaO algo como um triGngulo amoroso, sendo que ele ama

    somente a vida, mas é condescendente com a sua sabedoria por ela lembrar1lhe

    demasiadamente a vida. =contece neste discurso que, ao chamar a vida deimperscrut9vel, esta responde a Laratustra que ela é apenas >/(3& & '&"&

    &, & (/)o, /?&!2, sendo que os homens a denominam através das formas

    que alme5am em seus ideais ao presentearem1na com as suas próprias virtudes, ou,

    como mais parece ser, com aquilo que mais dese5ariam possuir, assim como

    Laratustra só a chama de imperscrut9vel por não a poder perscrutar totalmente. #ra,

    a vida é insond9vel e, também, indenomin9vel, pois é a totalidade daquilo que é e

    )7 I#em. In: _____. Seun#a Parte, * canto #e #an5a. '. 1(;.); I9i#em. '. 1(%.

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    sua cont:nua transformação e vir1a1ser, nunca efetivando1se como forma definitiva.

    Pode apenas ser investigada e e3perimentada de maneira parcial no seu

    apresentar1se para o homem segundo as formas valorativas de seu conhecimento,

    consistindo nisto o seu efetivar1se e constituir1seO que é o próprio efetivar1se e

    constiuir1se do homem, que sem o seu saber do mundo, conhecimento da realidade

    e da vida, não teria conhecimento e percepção de si mesmo, ou se5a, não e3istiria,

    pois não teria conhecimento ou percepção de nada. 73istindo, ele e3perimenta o

    mundo por seu conhecimento , ou se5a, atribui valor ? vida, que não é nada mais do

    que ver e procurar nela aquilo que ele valora ma3imamente, aquilo que quer para si

    e acha virtuoso segundo o impulso e manifestação da 0vontade de poder2, o próprio

    movimento de constituição e aparecimento da vida, que, nele, dessa forma se

    efetiva. Duem quer por meio de seu querer é a vida mesma.

    = vida é 0mut9vel2, e de maneira 0selvagem2, e por isso é 0indom9vel2. # amor

    de Laratustra pela vida é aquele amor que p@e um valor acima de qualquer coisa. <

    0vontade de poder2, vida ordenando1 se e assumindo forma de acordo com seu

    manifestar1se como vontade no querer dos homens. < a partir desse amor, como

    forma de valor, que a vida toma sentido, ou se5a, constitui1se enquanto realidade, e,assim, também se constitui Laratustra. 7sse amor vem a ser segundo a vontade da

    vida, e, de acordo com as formas deste amar, entendemos a vida de alguma

    maneira e transformamos essa forma em algum sentido. U9 vimos que pode1se amar

    com despreocupação ou querendo asseguramento de tudo, devido ?quele dever1ser

    que quer se impor ao movimento de transformação da vida, sendo assim, sempre

    um amor ressentido, que quer mal ? vida, quer dom91la. 7ste é o perigo de querer

    parar todo o movimento da vida, e, conseqQentemente, o seu vir1a1ser e efetivar1seenquanto realidade, para ter o poder absoluto de sua delimitação em um

    conhecimento incondicional.

    Am e3emplo deste amor ressentido pela vida pode ser encontrado no

    discurso 0Fos desprezadores do corpo2-/, no qual Laratustra descreve o que

    acontece quando não se consegue mais acompanhar o movimento de mutabilidade

    da vida e tenta1se, dessa forma, imobiliz91la em uma forma única de apresentação)%I#em. In: _____. *s =iscursos #e Zaratustra, =os #es'reza#ores #o cor'o. '. $.

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    de sua realidade. Duando se cansa desse movimento de manifestação,

    apresentação e constituição da realidade e, portanto, da própria vida, precisa1se de

    repouso. sto é sinal de que a vida torna1se um peso, um fardo que devemos

    carregar. )ossa vontade torna1se fraca, nosso querer não se realiza, sentimo1nos

    impotentes diante do apresentar1se da realidade, o 0corpo2 não consegue 0criar para

    além de si2-IO ou se5a, aquele livre agir e efetivar1se da vontade do 0corpo2 através do

    0esp:rito2, através de si mesmo, não encontra a vazão de sua realização. # corpo

    passa a, constante e crescentemente, tentar pro5etar1se para a realização de seus

    anseios, mas sem sucesso, fica cansado do movimento da vida e de sua e3ig>ncia

    de constante força e disposição, e quer segurança, algo fi3o, est9vel, passando a

    apenas idealizar os acontecimentos, imagin91los. Eomo não se tem mesmo a

    e3peri>ncia de sua realização, passa1se a viver apenas com as formas ideais

    daquilo que se quer, estendendo1as a toda forma daquilo que efetivamente é. =ssim,

    passa1se a idealizar a realidade, tenta1se enquadrar a vida dentro das formas ideais

    do que se pensa conhecer, mas que na verdade são formas de um querer, conceber

    a realidade e a própria vida, que não encontram realização, não encontram

    realidade, a não ser como algo em que se possa pensar. )ão se suporta mais o

    movimento de constituição da vida que e3ige sempre a incessante disposição devigor do corpo para o sempre criar, e voltar a criar, em toda a e3perimentação e

    conhecer da realidade no realizar da vontade e valoração da vida através do

    homem, e, assim, o corpo não age mais, senão através do esp:rito, que, ressentido

    da vida e de seu corpo por não poder efetivar1se enquanto vontade, tenta a todo

    custo 0capturar2, ou encontrar, a vida em um configurar de sua realidade que a

    molde e estanque seu movimento de constante mutação em uma forma idealizada

    por seu único meio ainda e3istente de realização, o puro pensamento. 7ste é o únicomeio para a satisfação de uma 0vontade de poder2 de um corpo cansado e que quer

    repouso, e que é vontade de cessar todo movimento para a satisfação de um

    capricho ego:sta, uma vontade contraditória, pois enquanto 0vontade de poder2 é

    uma 0vontade impotente2, que não pode vigorar e manter1se como realização, é uma

    vontade que não pode, apenas dese5a, imagina, pensa. # que ainda é uma forma de

    realização da vida, mas que é fraca, sem e3pressão e que definha, querendo,

    igualmente, que toda outra e3pressão de realização da vida e3tinga1se.

    )$ I9i#em.

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    Fomar a vida é 5ustamente o que tenta fazer esse tipo de amor, que também

    é 0vontade de poder2. = 0vontade de poder2 é, no homem, a manifestação do amor

    pela vida, e por isso é que se pode compar91la ? mulher, e não só por causa de sua

    inconstGncia temperamental, ou se5a, alternGncia cont:nua da disposição de seu

    humor e vontade Hde poderK. = vida, seu segredo e a verdade de sua constituição,

    na forma de sabedoria, é o que quer conquistar o homem do conhecimento com o

    seu amor, sua 0vontade de poder2 1 assim como quer conquistar a mulher que ama.

    ;as toda forma de conhecimento tomada pela sabedoria humana 59 não é a forma

    em que se manifesta a vida, que é mut9vel e temperamental, nunca permanecendo

    com um mesmo feitio. 7, então, o s9bio, ou homem do conhecimento, precisa estar,

    constantemente, a segu:1la em suas mutaç@es, pois quer sempre conquistar o amor

    e a verdade desta mulher de g>nio selvagem que é a vida. =contece que, quando

    Laratustra encontra com uma velhinha e, a pedido desta, fala a respeito da mulherJ, 

    esta acaba lhe confiando uma 0pequena verdade2. = velha diz a Laratustra que,

    apesar de ele conhecer pouco as mulheres, tinha razão naquilo que delas dizia,

    provavelmente porque ? mulher nada é imposs:vel, assim como ? vida e ao vir1a1ser

    de sua realidade. = vida, sendo o 0super1homem2 e sua 0vontade de poder2, é a

    possibilidade de todas as coisas, isto é, contendo em si todas as possibilidades,nada lhe é imposs:vel. 7, finalmente, a velha formula assim a sua pequena verdade'

    >V"$' (&! +o /?&!&' No &'./&="' o +?$+o(&ncia é querer realizar a sua vontade, 0vontade de poder2 da vida mesma.Portanto, é um querer efetivar1se da própria vida através de Laratustra, que, ao

    querer usar de seu chicote, quer dar forma ? realidade dela, dar1lhe a direção de um

    caminho, orient91la, dar1lhe sentido para que possa aparecer e apresentar1se. Fo

    contr9rio, ela permaneceria como puro movimento descontrolado e sem forma, não

    assumiria um sentido desde o amor e valoração do homem, perdendo1se de vista,

    pois o homem sem dar1lhe, e dessa maneira impor1lhe, um sentido não a pode(& I#em. In: _____. *s =iscursos #e Zaratustra, =as mulheres, elhas e oens. '. $1.(1 I9i#em. '. $8.() I#em. In: _____. +erceira Parte, * outro canto #e #an5a. '. )7;.

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    conceber. ;esmo que o sentido de sua 0vontade de poder2 se manifeste como

    abandono da busca de um sentido, a vida, através desse tipo de vontade, ainda se

    manifesta e se configura, mas seria apenas uma outra maneira de manifestação, de

    algum modo contr9ria ao seu movimento mais próprio de constituição. !eria uma

    outra forma de e3pressar1se da vontade de um corpo cansado do próprio

    movimento. Codas essas formas de se configurar da vida que se manifestam pelos

    tipos de amor, proporcionados pelas disposiç@es de vigor dos corpos, são a própria

    vida, ou se5a, criação e concepção constantesO que só são poss:veis no viver do

    homem enquanto conhecimento da vida, guiado pela 0vontade de poder2 em seu

    desdobrar1se enquanto vontade que valora e, assim, disp@e a realidade.

    =quele seguir a vida e cantar para ela é também uma forma do viver do

    homem, forma que, em algum momento, tem de firmar1se de novo para vigorar

    como 0vontade de poder2 que d9 sentido ? realidade. Laratustra 59 havia

    caracterizado, naquele discurso que fez ? velhinha, o homem como um guerreiro e a

    mulher como o seu descanso e um fruto do qual gosta, mas para desfrutar disso o

    homem corre certo perigo. 7ste perigo é o da batalha e tentativa de conquista do

    descanso, o risco do insucesso e não satisfação dos anseios e dese5os. 7m 0Fo lere escrever2 havia sido feita uma caracterização também daquele que teria chegado

    aos mais altos cumes do saber, como um guerreiro. 7ste tipo de homem seria

    cora5oso, despreocupado, escarninho e violento, pois assim o quereria a sabedoria,

    pois >&" @ /?&! & "" 'o&n(& ./& @ /&!!&$!o

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    # homem do conhecimento, sendo como este guerreiro, é também um

    homem que passa pelos perigos da vidaO todo homem passa inevitavelmente pelo

    perigo da vida, pois vive, e a vida é sempre 59 esse perigo. 7, assim, é o homem o

    seu próprio perigo e o perigo da vida, ou, como est9 na quarta parte do Prólogo de

    Laratustra' > o %&!$o )& (!"n'%-o, o %&!$o )& &'("! " +"$n?o, o %&!$o )&

    o?"! %"!" (!3', o %&!$o )& (!&&! & %"!"!

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    apresenta numa definição, e o homem, definindo o sentido geral de sua e3ist>ncia,

     5oga com a própria mutabilidade da vida e dos sentidos que tudo nela possa ter.

    =o arriscar1se e levar adiante a sua empreitada de dar sentido ? realidade, o

    guerreiro tenta dar ? vida a face, a apar>ncia, daqueles valores que fazem com que

    a vida se revele a ele como aquilo que ele mais quer, o bom, o melhor, o m93imo da

    beleza. Para que isso aconteça é preciso que ele batalhe para fazer a sua vontade

    vigorar e assumir forma, o que e3ige certa viol>ncia, coragem e despreocupação

    próprias de quem leva o seu amor ?s últimas conseqQ>ncias, não tendo receio do

    que lhe aconteça nisto. ;as não quer sub5ugar a vida, pois sabe que não é poss:vel

    lhe dar uma forma definitiva, pois assim, acabaria por e3tingu:1la. Am guerreiro não

    quer conquistar algo morto, ao menos o valorosoO apenas o covarde ressentido é

    que quer vingar1se da vida. 7ste, devido ? sua delicadeza de 0botão de rosa2+, quer

    eliminar o peso que a vida lhe traz e tudo que lhe é doloroso, e, assim, precisa de

    asseguramento de tudo, não suportando a mutabilidade do movimento de

    constituição da vida. Duer seriedade e cobra responsabilidade daquilo que lhe

    ameaça a tranqQilidade e segurança, atribuindo1lhe culpa e punindo1lhe com o uso

    e3acerbado do 0chicote2.

    # guerreiro valoroso não só aceita o movimento de mutabilidade da vida,

    como sabe ser este o seu próprio movimento de constituição, aquilo que ele mesmo

    é, a vida que nele se apresenta a si mesma ao propor1se como valor, forma e

    sentido. 7ste seu saber é o saber do 0super1homem2 como sentido da vida, a vida

    mesma constantemente vindo a ser, sendo cont:nuo movimento de transformação

    da totalidade daquilo que é. 7, sendo tudo sempre essa totalidade que vem a ser apartir de si mesma desdobrando1se em valores, como instGncias que se contrastam

    e contrap@em para o aparecimento da realidade, tem1se, no saber da vida como o

    0super1homem2 e 0vontade de poder2, como inevit9vel parte da vida, e de sua

    realidade e constituição, tudo aquilo que pode ser considerado adverso, funesto,

    doloroso e perigosoO tem1se todos estes aspectos da vida, conseqQentemente, como

    parte integrante do próprio homem. ;as como a vida é esta alternGncia de estados

    (; Nietzsche, F. W. D Assim Falou Zaratustra D *s =iscursos #e Zaratustra, Primeira Parte, =o ler e escreer,'B. 7;.

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    em cont:nua mutação, nem sempre se consegue suportar este movimento, fazendo

    parte do mesmo o fato de ele assumir, em algum momento, no homem, a forma e a

    disposição de um estado de Gnimo de cansaço, raiva, frustração, etc.. Fo no5o de

    tudo que é pequeno e mesquinho no homem é que Laratustra sofre, e convalesce,

    por e3emplo, em determinado momento/, mas isto tudo é algo que tem que aceitar

    como parte do que é humano, presente na vida, assim como a dor, os riscos e

    perigos da e3ist>ncia, aquilo sem o qual as conquistas do que é grandioso não

    seriam poss:veis.

    Duando a vontade do corpo torna1se fraca e não consegue mais firmar1se na

    realização de seus dese5os, isto é, enquanto 0vontade de poder2, não pode mais

    manter1se como um vigorar desta vontade da vida e ser realidade, é que se pensa

    em domar a vida. 7sta impot>ncia do corpo em realizar sua vontade é, portanto,

    também 0vontade de poder2, a própria vida manifestando1se enquanto definhamento

    e decl:nio de sua forma, mas apenas para a continuidade de seu movimento próprio

    de constituição de todas as formas, ou se5a, transformação e superação destas.

    Eom este cansaço da vida não se suporta mais o movimento incessante de sua

    constituição e conseqQente e3ig>ncia de força de realização do próprio homem, que,enquanto não a en3erga como 0vontade de poder2, diante das dificuldades de sua

    e3ist>ncia passa a querer que ela se apresente como algo est9vel e manso

    atribuindo1lhe essa finalidade, ou se5a, quer que a realidade se d> e se apresente

    segundo formas idealizadas de um valorar a e3ist>ncia como algo que deve

    obedecer a uma vontade caprichosa e 59 sem amor, sem afeto algum pela vida, e

    que alme5a apenas a um ultra1mundo de idéias imóveis ine3istente, matando ou

    dei3ando morrer o que realmente vive e se apresenta efetivamente. )ão tem ae3perimentação de que essa sua impot>ncia é a própria vida que se manifesta como

    0vontade de poder2 que, com esse cansaço, quer transformar1se, o que e3ige a

    superação de sua forma de apresentação. ;as, é uma vontade caprichosa pois,

    tendo inve5a de toda realização da vida, quer que o seu cansaço se estenda a tudo o

    mais, no dese5o de estancamento e repouso de todo movimento, ou se5a, quer que a

    própria vida torne1se impotente assim como ela. sto não pode admitir Laratustra que

    é um guerreiro valoroso e usa do chicote apenas na medida certa para dar ? vida a(% I#em. o'. cit. In: _____. +erceira Parte, * 0onalescente, '. );.

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    direção de seu movimento e sentido de sua constituição no realizar de sua vontade

    enquanto aparecimento, pois 59 havia redimido todas as coisas de sua escravidão ?

    finalidade quando descobriu que por cima de todas elas estava o 0céu acaso2I, ou

    se5a, o 0super1homem2, a selvagem vontade da vida. 7, assim, sabia que este 0céu2

    da vida é >o '"o )& "$& )& )$$no' "+"'o' )$$n" &'" %"!" )$$no' )")o'

    & o")o!&' )& )")o'40O divinos 5ogadores estes que são aqueles guerreiros

    cora5osos, despreocupados, escarninhos e violentos, pois arriscam1se e imp@em1 se

    no 5ogo da vida, >%o!./& )$$n" &'" @ " T&!!" & (!@%$)" )& no"' %""!"'

    +!$")o!"' & )$$no' "n+&' )& )")o'4:, como dir9 Laratustra mais tarde. Cambém

    ensinar9 não haver importGncia quando do malogro de um desses lances de dados,

    ou se5a, de qualquer evento da vida, pois >No &'("o' '&%!& '&n(")o',%o!&n(/!", " /" !"n)& &'" )& oo & )& +?"+o("42O mesmo que qualquer

    coisa se5a malograda, isso não indica que não se pode seguir, 0passar além2' >M"'

    '& o ?o& '& "o!o/ %o$' '&" ""n(&44, e esse deve ser o remédio,

    então, daquele 0convalescente2 ou de qualquer cansaço.

    7ste escarnecer e chacotear são o riso e a zombaria necess9rios para que a

    vida tenha a beleza e a leveza de ser encarada como uma grande brincadeira. <uma mal:cia que permite rir dos próprios erros, mas que não dei3a de ter uma certa

    seriedade, pois, como crianças que levam a sério suas brincadeiras, não se dei3a de

    ter uma 0responsabilidade2 ao 5ogar o 5ogo da vida, afinal de contas, 5oga1se com os

    sentidos e direç@es que as coisas podem tomar. 7sse riso da chacota e do esc9rnio

    não são mero abandono de uma procura de um sentido da vida, pois se sabe que

    ela não pode ser vivida sem sentidoO são o tomar a vida na direção do 0super1

    homem2. Fessa maneira, encara1se a e3ist>ncia como a possibilidade semprepresente de se tomar, inventar e dar novo sentido para tudo, visto que a vida não

    pode dei3ar de querer, e, assim, prop@e1se em valores através dos homens,

    tomando forma e sentido. #ra, e o que é a sabedoria, ou o conhecimento, se não

    este propor1se da vida como valores através do homem" 7 é por isso que ela ama

    ($ I#em. In: _____. +erceira Parte, Antes ue o sol #es'onte. '. 1$$.8& I9i#em. '. )&).81 I#em. In: _____. +erceira Parte, *s sete selos Cou: A can5ão #o Sim e Am-m. '. );).8) I#em. In: _____. Guarta Parte, =o homem su'erior. '. (81.8( I#em. In: _____. +erceira Parte, =o 'assar al-m. '. )1).88 I#em. In: _____. Guarta Parte, =o homem su'erior. '. (8).

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    apenas a quem é guerreiro, a quem 5oga o 5ogo do sempre dar novo sentido para a

    e3ist>ncia.

    =ssim procede aquele que se descobre a si mesmo, quer dizer, aquele que

    desvenda a sua própria natureza, aquele que se sabe como 0vontade de poder2 da

    vida manifestando1se e apresentando1se como seus próprios 0bem2 e 0mal2, entre o

    que quer e o que não quer, como homem na direção do 0super1homem2. 7 este,

    assim como Laratustra, ao ser este movimento de constituição da vida sempre em

    direção a si mesma no cont:nuo configurar1se de sua realidade, move1se

    contrariamente ? grave seriedade de todo saber e conhecimento que queira

    estabelecer e fi3ar verdades imut9veis acerca da vida. ;ove1se, desta forma, contra

    todo cego e inseguro dogmatismo de uma vontade que quer estender a todas as

    coisas uma única verdade e finalidade, aquela das formas fantasiosas de seu

    0corpo2 e 0esp:rito2 fracos, e por isso 59 delirantes. !abe ser a realidade a disposição

    que a vontade da vida toma através dele na forma de seu e3perimentar e, assim,

    conhecer o mundo guiados pelos valores com que nele se prop@e a própria vida

    enquanto 0vontade de poder2. =ssim, combate todo esse grave e sério dogmatismo

    que )ietzsche, através das palavras do seu Laratustra, denomina 0esp:rito degravidade2, pois o descobrir a si mesmo é dizer' >E'(& @ o &/ & & "

    D&'("!(&, #& +""!-'& " (o/%&$!" & "no ./& )$5 B& %"!" (o)o', " %"!"

    (o)o'4, ou se5a, fez calar1se o 0esp:rito de gravidade2.

    =o usar de força para manifestar1se, esse 0esp:rito de gravidade2 usa do

    chicote de tal maneira que assassina os pensamentosS. sto quer dizer que este

    proceder tira dos pensamentos a força de vida, 59 não d9 a eles uma forma em quese realizem e vigorem como realidade. 7ssa vontade configura1os apenas como

    aquelas formas ideais que recusam, re5eitam e se afastam da realidade 5ustamente

    por alme5arem, enquanto forma de valor, algo que não e3iste, algo que não pode

    e3istir ou vigorar enquanto realidade, por não ter a força necess9ria de sua

    realização ou a firmeza de vigor e3igida para que permaneça enquanto

    aparecimento e fen4meno constituinte da vida. =o persistir, então, caprichosamente

    8 I#em. In: _____. +erceira Parte, =o es'/rito #e rai#a#e. '. )().87 I#em. In: _____. +erceira Parte, * outro canto #e #an5a. '. )7$.

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    nesse direcionamento de sua vontade, o 0esp:rito de gravidade2 vinga1se da vida,

    direcionando a sua força para a destruição e enfraquecimento desta. Duando

    Laratustra usa de seu chicote a vida pensa que ele tem a intenção dessa vingança

    inve5osa, e, então, pede1lhe que pare com esse uso da força para que os

    pensamentos não se5am aniquilados, para que ele não a mate e, assim, destrua a si

    próprio. ;as disto bem sabe Laratustra e, como guerreiro e 5ogador de dados que é,

    tem sempre a sua vontade voltada para o 0super1homem2, tendo sempre os seus

    pensamentos, e conseqQente conhecimento, ou sabedoria, também voltados para

    este, para a plena manifestação da vontade selvagem e mut9vel da vida. ;esmo

    que para isso se5a preciso usar do chicote, usar de força para que a vontade da vida,

    que vem a ser em seu querer, realize1se e para que as formas de aparecimento da

    realidade tenham vigor e energia.

    Duando a vida pergunta a Laratustra o que vem a ser a sua sabedoria +, este

    a caracteriza como mut9vel e feminina, quer dizer, inconstante e de vontade

    indefin:vel. Fiante disto a vida lhe indaga o porqu> de estar falando dela mesma e

    pede novamente para falar da sua sabedoria. sto se d9 pois as duas são tão

    parecidas, 5ustamente por ser a sabedoria de Laratustra o seu conhecimento do0super1homem2, que é conhecimento da própria vida, não sendo outra coisa que

    0vontade de poder2, assim como todo saber da realidade do mundo. 7 0vontade de

    poder2 não é nada mais do que o constituir1se da vida e efetivar1se de sua realidade

    assumindo forma e sentido no e3perimentar de seu aparecimento pelo homem. Por

    isso, o viver do homem é o seu conceber a realidade na forma de seu conhecimentoO

    sua vida é o valorar de uma vontade que e3perimenta o mundo dando1lhe forma e

    sentido. = vida, e sua realidade, é forma e sentido assumidos e possibilitados desdeo 0super1homem2 através do homemO isto é, por si mesma através de si mesma.

    Eonstituindo1se e configurando1se dessa maneira, enquanto conhecimento de si

    mesma, a vida é superação das suas próprias formas de manifestação, pois sempre

    se transforma no vir1a1ser de sua vontade no homem.

    = sabedoria é, então, a vida que se prop@e, enquanto 0vontade de poder2,

    como valor através do homemO e o viver do homem é o conhecer dessa realidade da8; I#em. In: _____. Seun#a Parte, * canto #e #an5a. '. 1($.

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    vida que assim se lhe apresenta, é a sabedoria a própria vida vindo a ser e

    apresentando1se para si mesma como constituir1se do homem. < a vida o próprio

    homem, a corda que se estende em direção ao 0super1homem2, é sempre a

    superação e um novo configurar1se de si mesma enquanto conhecimento de sua

    própria realidade, a sabedoria que valora e, assim, ordena, concebe e gera a própria

    vida.

    # conhecimento de Laratustra, sendo a sabedoria daquele que descobriu a si

    mesmo, é o conhecimento do 0super1homem2, ou se5a, é o conhecimento que valora

    e ama, acima de tudo, o próprio constituir1se da vida e seu cont:nuo vir1a1ser

    mut9vel e selvagem. Por isso Laratustra usa de seu chicote apenas na medida

    certa, pois tem o conhecimento de que querer domar a vida através de r:gidos

    conceitos e graves verdades é matar o próprio pensar. #u se5a, é não conhecer

    mais, não ser mais, pois ser e e3istir para o homem é ter continuamente a vida vindo

    a ser através de si apresentando1se como realidade para o seu conhecimento,

    mostrando1se como ordenação de si mesma, arran5ando1se enquanto vontade, e,

    por isso, um querer sempre para além de si, querer mais, querer de novo tudo novo

    e re1arran5ado, reconfigurado através de seu vir1a1ser no homem, que por issotambém não pode dei3ar de reconfigurar a si mesma e ao seu conhecimento usando

    do chicote de maneira adequada. Pois, se assim não fosse, a vida não poderia mais

    conceber1se através do homem, e, por conseguinte, não e3istiria. Por isso, após

    falar a Laratustra sobre o assassinato dos pensamentos, termina a vida também por

    lhe dizer' >S& "/ )$" " (/" '"&)o!$" (& ""n)on"''&, "?, &n(o, oo (&

    ""n)on"!$", ("@, o &/ "o!4JO quer dizer, se dei3asse de e3istir no

    homem o seu conhecimento enquanto configuração da realidade da vida, dei3aria dee3istir a pai3ão e o afeto desta por ele, ou se5a, o querer da 0vontade de poder2 que

    valora e d9 sentido ? e3ist>ncia do próprio homemO que não pode e3istir senão como

    corda que se estende em direção ao 0super1homem2, quer dizer, em direção ao

    sentido mesmo de vida enquanto movimento de geração e concepção de forma.

    8% I#em. In: _____. +erceira Parte, * outro canto #e #an5a. '. )7$.

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    Con+/'o

    =o se tentar dizer o que é a vida, d91se a ela um aspecto, uma forma na qual

    ela pode aparecer, um sentido em que ela pode ser concebida e de acordo com o

    qual ir9 desvelar1se em seu vir1a1ser como continuidade de aparecimento de forma,

    como aspecto que toma, enquanto sentido, o seu próprio vir1a1ser. = perspectiva na

    qual se apresenta a vida não é só o 0como2 se olha, mas constitui também desde o

    começo o 0de onde2 se olha e o 0para onde2 se olha. < a realidade constituindo1se,

    através do conhecimento humano, em seu efetivar1se como aquilo que ela 59 é, que

    é vir1a1ser. =o se caracterizar assim a realidade em uma perspectiva que a concebe

    como esta totalidade que não vem a ser por uma soma de partes que se relacionam,

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    afirma1se o contr9rio do que a teoria do conhecimento faz, fragmentando a vida em

    planos distintos e atribuindo substancialidade a um ou outro plano, ou se5a,

    idealizando aquele que seria fi3o, 5ustamente aquele que não e3iste. Eomo 59 vimos,

    a forma que não tem força para manter1se como cont:nuo aparecimento dei3a de ser

    ou não figura como realidadeO e porque forma só é concebida através do

    conhecimento, este é, então, o 0como2, 0de onde2 e 0para onde2 se constitui a

    realidade como perspectiva. < a vida vindo a ser enquanto criação no homem e o

    homem vindo a ser enquanto criação da vida. )esta atribuição de sentido ? vida pelo

    homem, neste vir1a1ser do sentido da própria vida enquanto perspectiva e realidade,

    é que se abrem todas as possibilidades deste criar que é a vida sendo homem em

    seu vir1a1ser no conhecimento.

    )a teoria do conhecimento este próprio criar vindo a ser quer estancar1se

    enquanto e3pressão da vida, sendo a própria vida concebendo1se como movimento

    de sua aniquilação. ;as, enquanto movimento, nunca cessa seu vir1a1ser, e com o

    Laratustra de )ietzsche concebe o seu próprio elogio na e3altação de seu 0eterno

    retorno2, de sua própria e eterna brincadeira criadora de sentidos, ao caracterizar1se

    como 0super1homem2, 0vontade de poder2, 0sentido da terra2 etc. Eom esta 0filosofiado martelo e do cinzel2 torna1se evidente o car9ter da vida de ser e3pressão de

    conhecimento enquanto arte do sentido de realidade, a sua forma esculpida no seu

    vir1a1ser, o seu e3pressar1se como homem. sto tal filosofia traz ? tona apresentando

    a realidade em seu car9ter mais próprio' o de vida, que é o conceber1se no viver do

    homem criando forma ao dar sentido ao próprio aparecimento 6 sentido que é

    perspectiva, intenção, querer, dese5o, gosto.

    !endo a vida, a realidade, perspectiva de si no conhecimento humano, não

    pode ser apreendida por um 0conhecimento imaculado2, ou se5a, sem interesses,

    sem interfer>ncia de pai3@es, pois não é uma 0coisa1em1si ob5etiva2, mas sua própria

    criação pelo homem, que, por sua vez, não é um 0su5eito ensimesmado2, mas

    criação daquilo que seria seu próprio ob5eto mas não é, porque é e3pressão da vida,

    é o seu próprio viver. # homem é seu próprio vir1a1ser, a vida manifestando1se e

    aparecendo para si mesma e por isso um dar1se gratuito de perspectiva na criação

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    de sua realidade. # homem é possibilidade de manifestação da vida, e por isto ele é

    a própria vida, realidade e perspectiva, arte e transformação de si mesmo como vir1

    a1ser e eterna criação. Por ser ele mesmo esta totalidade o homem não pode ser

    separado do resto da realidade e tomado por si só, de uma certa maneira ele é a

    própria vida. ;as a vida não é o homem, porque ela não se esgota como este ou

    aquele aspecto individual de sua realidade. 7la só é o próprio homem quando este é

    pensado como totalidade do efetivar1se de sua realidade vindo a ser como

    possibilidade de apresentaçãoO ou se5a, não é um su5eito espec:fico ou qualquer

    ob5eto determinado.

    7 também não é isoladamente nenhum aspecto ou perspectiva sua, nenhum

    car9ter de ser independente ou destacado. Por isso, a sabedoria é a vida, assim

    como o homem, mas a vida não é a sabedoria, que é apenas uma de suas

    possibilidades, que tomada como algo em si não é mais nada, pois aquilo que é, a

    vida, é a totalidade de suas possibilidades. )esse sentido é que se pode dizer que o

    conhecimento é o 0super1homem2, mas o 0super1homem2 não é o conhecimentoO

    aquele pode apresentar1se como este, pois é a possibilidade de todo poss:vel, mas

     5ustamente por isso é, a rigor, inomin9vel, assume apenas o aspecto e o sentido desua perspectiva no conhecimento humano que permitem cham91lo mesmo de vida,

    realidade, ou antes, de 0super1homem2. #u se5a, ele não é forma fi3a, é a cada vez a

    forma que assume como perspectiva do conhecimento, vida sendo perspectiva de si

    mesma enquanto vida, ou enquanto 0super1homem2, 0vontade de poder2, 0sentido da

    terra2 etc. # 0ser2 de tudo, assim, torna1se fuma�