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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORAFACULDADE DE DIREITO

Bruno Leonardo Barreto Leite

PSICOGRAFIA COMO MEIO DE PROVA NO PROCESSO PENAL

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Juiz de Fora 2008 BRUNO LEONARDO BARRETO LEITE

PSICOGRAFIA COM MEIO DE PROVA NO PROCESSO PENAL

Monografia de concluso de curso apresentada Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora pelo acadmico Bruno Leonardo Barreto Leite, como requisito parcial obteno do ttulo de Bacharel em Direito, sob a orientao da professora Ms. Natlia Oliveira de Carvalho.

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Juiz de Fora 2008

Para minha famlia pelo incentivo. Aos meus to queridos pais Washington e Luiza e minha irm Bruna, por me ensinarem o caminho a seguir. E, sobretudo, pelo apoio da minha namorada, Bruna.

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Bruno Leonardo Barreto Leite

PSICOGRAFIA COMO MEIO DE PROVA NO PROCESSO PENAL

Monografia de concluso de curso apresentada Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial obteno do ttulo de Bacharel em Direito e aprovada pela seguinte banca examinadora:

Aprovada em: ______/_______________/________

__________________________________________________________ Prof. Ms. Natlia Oliveira de Carvalho (Orientadora) Universidade Federal de Juiz de Fora

___________________________________________________________ Universidade Federal de Juiz de Fora

___________________________________________________________ Universidade Federal de Juiz de Fora

Juiz de Fora

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Julho/2008

AGRADECIMENTOS

A DEUS, apriori, a que muito duvidam de sua existncia, mas que para mim um mais que um Deus uma fiel amigo, mesmo quando brigo com Ele. Ao meu pai, Washington e minha me, Luiza, meus maiores guias, com amor. As Brunas, minha irm e minha namorada, com amor especial para ambas. Minha querida vov Nazar, s de existir me faz querer lhe dar orgulho. A todas as entidades, que iluminaram minha mente e muito me ensinaram, Em especial ao meu padrinho Caboclo Flecheiro, Ogumzinho da Praia e Dr. Fritz Aos meus melhores amigos na faculdade: Weil, Diego, Tiago, entre outros, sem os quais talvez no tivesse chegado ao fim dessa etapa. Assim como meus amigos de infncia e de colgio sempre presentes quando preciso. Ao Flamengo que muitas felicidades me proporcionou nesses 5 anos. Aos meus professores da faculdade, Em especial a minha orientadora Natlia Carvalho de Oliveira que fez de tudo para esse trabalho acontecer.

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No basta investigar fenmenos, aderir verbalmente, melhorar as estatsticas, doutrinar conscincias alheias, fazer proselitismo e conquistar favores da opinio, por mais respeitvel que seja, no plano fsico. indispensvel, cogitar do conhecimento de nossos infinitos potenciais, aplicando-os por nossa vez, nos servios do bem. (Emmanuel, psicografado por Chico Xavier). Esquece as ofensas Incondicionalmente, na certeza de que as agresses pertencem aos agressores (Emmanuel, psicografado por Chico Xavier).

natural; porm, cada lavrador respira o ar do campo que escolheu. (Emmanuel, Psicografado por Chico Xavier)

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RESUMO A proposta a ser exposta no seguinte trabalho uma anlise a respeito da compatibilidade da pscicografia como meio de prova no ordenamento jurdico nacional. De uma perspectiva jurdico-cientfica, faz-se um estudo da aplicabilidade dessa prova inominada no direito processual penal como mais um dos diversos meio probatrios existentes com vistas a solucionar a problemtica ao que tange o receio de sua aceitao como prova lcita e/ou legtima. Ademais em consonncia com o sistema da verdade processual, a psicografia se apresentar como um mtodo eficiente de verificao do passado delituoso, a fim de esclarecer os fatos e iluminar a deciso do Estado-juiz a respeito da culpabilidade do acusado, sempre em consonncia com as garantias e os direitos fundamentais nsitos ao devido processo legal histria. A Constituio da Repblica de 1988 ao declarar, em forma de princpios, o Estado brasileiro como um estado laico, ainda defendeu a liberdade de conscincia e de crena, assim como defeso privao de direitos por motivos de f religiosa e ou de convico filosfica, possibilitou a idia da admissibilidade da psicografia como prova. Logo, essa controvertida questo no soa nem de perto estar pronta e acabada o que leva a aumentar ainda mais as peculiaridades do tema, o que torna o exame do tema particularmente instigante.

Palavras-chave: Processo Penal. Provas. Admissibilidade. Psicografia

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ABSTRACT The center to be exposed in the following work is a investigation about a compatibleness the psycography as proof in the nationa juridical ordainment. In perspective juridicial and scientific, its creates a examination of the applicability in this kind of proof, in the processual penal code as another one, in a many kind of proof existents with purpose to find a solucion for trouble to the fears of yours reception as a lawful proof.The utiization of this device for the delict solution there wasnt only in the Court of justice, or in the jugde hands, in the first instances. The assize is a place, such a one is, in a point of view, more easy to inquire, as much in the national law as in the foreigner. Although, its doesnt make part of this present examination, still be an important this reference because the prejudice intrinsical of this topic becomes darken and raises difficulties for that learning.Besides in consonance with the system of processual truth, the psycography will introduce itself as an efficient way to check the criminal past. If purpose to clear the facts and to light up the sentence of the judge-state, about the guilt of accused, always to protect the basic rights built along of the history.The Fundamental Law of the Brasilian State of 1998s republic to declares, in principles form, that brasilian State is laic and to protect the freedom of conscience and faith, so as forbidden privation of rights for the reason of faith or religion or philosophy conviction, makes possible the idea of the admissibility of the psycography as a kind of proof. So this controvertible question doesnt appears not even near to be ready and finished what take to that to increasing more and more thats special things at this topics.

Key Words: Processual Penal Psycography Proof - Admissibility

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SUMRIO

INTRODUO..................................................................................................... 10

1 VERDADE PROCESSUAL................................................................................ 12 1.1 Saber Como Verdade........................................................................................ 12 1.2 Crticas A Verdade Material............................................................................ 13 1.3 Verdade Processual............................................................................................14 2 MEIOS DE PROVA............................................................................................. 16 2.1 Princpios Das Provas....................................................................................... 16 2.2 Conceitos Das Provas........................................................................................ 18 2.3 Classificao Das Provas................................................................................... 19 2.4 Sistemas De Avaliao Das Provas ................................................................. 19 2.5 Provas Vedadas................................................................................................. 21 2.6 Provas Em Espcies ......................................................................................... 24 2.6.1 Da Prova Pericial............................................................................... 24 2.6.2 Da Prova Documental....................................................................... 25 2.6.3 Dos Indcios........................................................................................ 27 3 PSICOGRAFIA................................................................................................... 28 3.1 Noes Bsicas................................................................................................... 28 3.2 Psicografia E Sua Classificao Como Prova................................................ 31 3.3 Psicografia E A Verdade Processual............................................................... 31 3.4 Psicografia, O Livre Convencimento Motivado E As Provas Vedadas....... 33 3.5 Psicografia E Suas Aplicaes Junto As Espcies De Prova......................... 35 CONCLUSO......................................................................................................... 37 BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 39

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INTRODUO A presente investigao tem por objeto o estudo da psicografia com meio de prova no ordenamento jurdico ptrio, mais especificamente sua compatibilidade com as garantias fundamentais estabelecidas na Constituio Federal. O instituto em questo foi caso de j ocorrida deciso judicial, no tribunal do Jri, num caso onde de homicdio culposo cujo ru fora absolvido, constando como parte de sua defesa uma carta da vtima psicografada pelo mdium Francisco Cndido Xavier. Essa ptica tambm pode ser proposta quando da anlise das cincias sociais aplicadas e, portanto, se projetar no direito. A este incumbe o nus de ser dinmico e acompanhar as mudanas sociais. No tocante a abordagem da psicografia como meio de prova, o estudo jurdico apresenta uma viso tcnica de como sua compatibilidade com o sistema de apreciao do livre convencimento motivado e a busca por uma verdade processual razovel. Tem-se como finalidade proceder a uma anlise do referido instituto, examinando suas origens, suas bases e a possibilidade ou no de sua aplicao, num confronto deste com a busca por uma verdade processual e seu enquadramento com o instituto probatrio no processo penal. Parte-se da hiptese fundamental de que uma busca pela verdade real j se encontra ultrapassada e de que as protees aos direitos e garantias fundamentais devem sustentar essa pesquisa do fato, sem prejuzo do direito de punir do Estado. Logo nenhum instituto contrrio a verdade processual deve ser aceito em nosso ordenamento sob hiptese de se ofender a constituio. O referencial terico que embasou a pesquisa foi a concepo de Verdade Processual, apontado pela doutrina como o meio mais adequado de se trazer a verdade para os autos do processo, uma vez que no se pode infringir direitos com o tom de se proteger o interesse pblico do Estado de punir. O cidado deve se resguardar perante o poderoso Leviat e ter seus direitos resguardados. A metodologia de abordagem para a questo foi a dedutiva, por melhor se adequar aos objetivos propostos. Inicialmente se parte-se da verdade processual, com vista a adequar a defesa das garantias e no uma busca por uma verdade

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absoluta e conceitualmente ultrapassada, mas sim uma verdade til para o processo. Depois se passa para o estudo das provas que possuem correlao com o tema, para que se faa uma anlise crtica de a sua insero ou no no instituto. No tocante a abordagem, ou o tipo de investigao, da psicografia como meio de prova, o estudo jurdico-terico apresenta o que ser apresentado, por possuir uma viso tcnica, conceitual, doutrinria de como sua compatibilidade com o sistema de apreciao do livre convencimento motivado e a busca por uma verdade processual plausvel. Assim como, no tocante aos setores de conhecimento, a inter-disciplinariedade se fez presente, pela juno de elementos pertinentes ao Direito Penal e Processual Penal, Direito Constitucional, assim como o estudo da Doutrina esprita. Quanto s tcnicas de pesquisa fez-se pela documental, predominantemente atravs da pesquisa bibliogrfica, recorrendo-se primordialmente a fontes da doutrina ptria e estrangeira em suas tradues. Logo inicialmente, faz-se uma abordagem da verdade processual, em que a incessante busca pela verdade se manifesta um objetivo impraticvel. Vale lembrar que a cincia, com seus mtodos experimentais, visa nas suas descobertas um locus, ou seja, um lugar basilar orientador de todas as leis naturais ou humanas, porm quanto mais se aprimora as tcnicas mais outras verdades surgem e novas questes se apresentam num ciclo aparentemente infinito. Com isso a verdade a ser perseguida deve ser a processual, pois uma absoluta impraticvel. No segundo tpico do trabalho, a pesquisa ser realizada com vis de se instituir os principais elementos do instituto das provas e para posteriormente confront-las com as cartas psicografadas e disso averiguar-se sua admissibilidade ou no. Por fim no ltimo captulo parte-se para o confronto direto da psicografia e sua admissibilidade como meio de prova no processo penal ao ser sabatinada por cada elemento constituinte do instituto dos meios de prova e da realizao de uma verdade processual Dessa forma, busca-se mostrar a admisibilidade da psicografia como os meios de prova no processo penal, de modo a ajudar a valorizao por parte do juiz, em seu juzo racional perante todas as provas trazidas ao processo, sob prisma da verdade processual.

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1. VERDADE PROCESSUAL

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A VERDADE COMO SABER

A palavra verdade pode ser entendida segundo minidicionrio contemporneo de lngua portuguesa, Caldas Auletes, pela qualidade qual coisas ou pessoas aparecem tais como , ou mesmo como o que verdadeiro, ou seja, em conformidade entre o que se diz e o que realmente . Estudiosos e filsofos no conseguem chegar a um consenso do que se pode definir como verdade. Para Nietzsche, a verdade um ponto de vista (FOUCAULT,2005, p. 25) . Esta, portanto no pode ser alcanada, uma vez que cada portador da verdade tomar para si uma de suas formas. Foucault, em sua apreciao sobre os sujeitos de conhecimento, verifica a proposta de Nietzsche e coloca que:O conhecimento sempre uma relao estratgica em que o homem se encontra situado. essa relao estratgica que vai definir o efeito de conhecimento e por isso seria totalmente contrrio imaginar um conhecimento que no fosse em sua natureza obrigatoriamente parcial e oblquo, perspectivo (FOUCAULT, 2005, p. 25)

Ao propsito de um estudo jurdico focado na influncia do saber nas relaes de poder, Foucault correlaciona-os de forma direta. A correlao entre poder e saber se encontra ntida na ordem do mundo, segundo a qual o poder tramado a partir da utilizao, em proveito prprio, de um conhecimento. Nas sociedades modernas, a noo de quem tem o saber possui melhores condies de sobrevivncia pacfica, porm a forma de produo do mesmo ainda regulada pelo poder. A produo da informao hoje feita atravs da capacidade de investimentos em pesquisas e tecnologias e quem ficar merc desse sistema cada vez mais ter menos influncia nas decises a serem tomadas, seja na tomada de decises polticas, seja nas de escolha de que tipos de novos conhecimentos sero criados. No agrupamento entre o ponto de vista a ser explorado e a capacidade de produzir novos conhecimentos encontra-se a impossibilidade de chegar a uma

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verdade dita absoluta. O portador da verdade, como observador, ou a razo na busca do fato, estaro sempre limitado s suas perspectivas, mecanismo que tambm incidir sobre a pessoa do juiz. Este quando da instruo probatria nada mais intenta do que reconstruir o fato passado com objetivos de trazer ao processo uma verdade. Muitos autores defendem que em respeito relevncia do direito fundamental a liberdade, previsto no artigo 5, caput, da vigente Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988(CRFB/88), que a verdade a ser almejada seria uma verdade real, em que os acontecimentos e as provas produzidas guardariam identidade irrefutvel. Luigi Ferrajoli explica melhor o tema da seguinte forma:A verdade a que aspira o modelo substancialista do direito penal chamada verdade substancial ou material, quer dizer, uma verdade absoluta e onicompreensiva em relao s pessoas investigadas, carentes de limites e de confins legais, alcanvel por qualquer meio, para alm das rgidas regras procedimentais. (FERRAJOLI, 2006 , p. 48)

Esse entendimento bastante preocupante do ponto de vista da justia, uma vez que a citada verdade real pode jamais ser alcanada por mais perseguida que seja. Alm desse fator, ainda so questionveis os meios a serem considerados vlidos para sua obteno.

1.2 CRTICAS VERDADE MATERIAL

A verdade processual vem para manter e caucionar os direitos fundamentais protegidos constitucionalmente. A CRFB/88 trouxe em seu bojo a defesa de princpios, tais como a proibio de submisso tortura, assim como tratamento desumano ou degradante (art.5, inciso III). inegvel que um sistema de procura pela verdade material que permita a tortura com o fim de atingir seu objetivo no pode ser considerado em nosso ordenamento como constitucional. Posto isso a idia desse preceito se parecem se abalizar na famosa frase: os fins justiam os meios, em aluso Maquiavel, em seu clssico O Prncipe. Em outras palavras, ao argumento da verdade real pode-se vir a normatizar a tirania das investigaes, seja via inqurito policial, seja por meio de produo de provas no

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decorrer do processo. Francisco das Neves Baptista (BAPTISTA, 2001, p. 177) faz a crtica a esses meios ao declarar ser a justia que leva verdade, no o contrrio. A justia, ou seja, a finalidade do direito, no pode ser a justificativa para atrocidades. (Baptista, 2001, p. 177) No nesse caminho que pretende trilhar uma sociedade que h poucas dcadas atrs, j viveu perodos de restries liberdade e uso da fora e violncia fsica como elementos de controle e imposio do poder. Nessa vereda, ainda significante a observao de o processo penal dever contas celeridade. O acusado, assim como a vtima, possui o direito a resposta do Estado no sentido da aplicao ou no do jus puniendi. Esta deve ser razoavelmente clere e satisfatria para que a paz social seja mantida. Assim a procura por essa verdade invibializaria o procedimento penal, porque tornaria impossvel a concretizao de uma resposta por parte do Estado. O nmero de investigaes e produo de provas poderia ser inesgotvel e tambm poderia produzir gastos inestimveis ao errio pblico. Restaria ento, tambm ofendido o principio basilar da economia processual. No mais, o princpio do in dubio pro reo seria fundamentao suficiente para teses de defesas quando a verdade real no pudesse ser alcanada de maneira emprica e conclusiva. Ademais o juiz tem como dever processual ser imparcial, e desde logo no pode se furtar a sua funo de julgador e se aproximar de uma funo inquisitria. O sistema acusatrio adotado pelo nosso Processo Penal em consonncia com a CRFB/88 no recepcionaram qualquer resqucio do sistema inquisitrio, j ultrapassado, em sua coligao com essa forma de busca desmedida pela realidade dos fatos. Fortes so os argumentos contrrios a uma verdade material, no s pelas ofensas diretas que sua procura implicaria Constituio Federal, mas tambm por tratar-se de uma busca filosfica e cientificamente impossvel, haja vista a indefinio do que realmente seja uma verdade inquestionvel.

1.3

VERDADE PROCESSUAL

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Uma vez constatada a impossibilidade de ser recriar o passado de maneira incontestvel, argi-se como se chegar a uma verdade hbil a balizar a formao do convencimento do julgador. A resposta desse problema encontrada na garantia do devido processo legal. O processo visto, hodiernamente, no mais como uma simples seqncia de procedimentos que visam atingir uma sentena absolutria ou condenatria, mas, sobretudo, como uma garantia do acusado frente atuao persecutria empreendida, em regra, pelo Estado. Ainda que numa perspectiva ideal, o mecanismo hbil para a proteo dos direitos e garantias fundamentais do imputado no decorrer da persecutio criminis. Tomando se o processo como instrumento de proteo aos direitos e garantias do imputado, a busca por uma verdade substancial se tornou descabida, de modo a permitir o ingresso de uma verdade processual ou formal. Segundo Ferrajoli:(...) A verdade perseguida pelo modelo formalista como fundamento de uma condenao , por sua vez, uma verdade formal ou processual, alcanada pelo respeito as regras precisas, e relativa somente a fatos e circunstncias perfilados como penalmente relevantes. Essa verdade no pretende ser verdade;no obtida mediante indagaes inquisitivas alheias ao objeto pessoal; est condicionada a si mesma pelo respeito aos procedimentos e s garantias da defesa ( FERRAJOLI, 2006, p. 48)

O autor aduz que, passada o tempo da verdade real, aps sua desmistificao, o juiz, atravs da ponderao dos meios probatrios que lhe forem apresentados, quem ir julgar de acordo com o que est presente nos autos. No poder o julgador se valer de expedientes ilegtimos de investigao, com a baliza de se reconstituir o fato criminoso, para no macular sua imparcialidade. Portanto a ponderao a respeito das provas realizada pelo magistrado deve ser clara e precisa no que for penalmente significante para o seguimento do rito processual. Vagar entre vrias opes de teses do autor ou do ru na tentativa de declarar o ocorrido no o meio adequado para o caso. Avaliar o que consta dos autos e estabelecer conexo entre o material probatrio produzido e as teses aduzidas pelas partes seria um mecanismo eficiente para a reconstruo da verdade proposta pelo sistema da verdade processual.

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uma verdade cognitiva puramente formal. No visa trazer o passado para o presente como algo incondicional ou inquestionvel, pois seu alvo simplesmente a declarao do fato delituoso e a causalidade entre o crime e seu autor. ainda importante se abrir um espao para a observao de Francisco das Neves Baptista (BAPTISTA, 2001, p.209), de que o crime constitudo como um fato tpico, antijurdico e culpvel, e dentro dessa concepo tripartida do crime o espao para a constatao de uma verdade absoluta muito restrito, uma vez que boa parte dessa adequao d-se por meio de presunes. Acrescenta o citado autor: o mundo das provas o mundo das presunes e construes idias, estranhas ao que se entende, ordinariamente, por realidade (BAPTISTA, 2001, p.209). Indubitavelmente a verdade processual o artifcio apropriado para a reconstruo da verdade dentro do processo, de modo a permitir aos jurisdicionados, por meio da produo das provas, a formao do convencimento do julgador. Acrescenta-se a essa idia o comentrio do ilustre Promotor de Justia do Estado do Rio de Janeiro, Paulo Rangel (RANGEL,2007, p. 7) ao dizer: a verdade processual deve ser vista sob um enfoque da tica, e no do consenso, pois no pode haver consenso quando h vida e liberdade em jogo (...) Posta assim a questo, de se dizer que uma pesquisa do histrico, conceitos, classificao, em suma, uma investigao mais profunda a respeito das provas se far necessrio para se entender como poder ser aplicada a psicografia nessa avaliao subjetiva do magistrado dos mecanismos trazidos ao processo.

2. DOS MEIOS DE PROVA

2.1

PRINCPIOS DAS PROVAS

Para a devida compreenso de um instituto importante entender anteriormente as bases principiolgicas nas quais este se fundamenta. No que tange ao estudo das provas no seria diferente.

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Princpio do Contraditrio: se aplica a todo ramo processual do direito, e violar tal princpio ofender a constituio diretamente. Logo no poderia se furtar a sua anlise nas provas onde a ausncia de conhecimento da parte oposta quanto produo de uma determinada prova no pode ser admitida. Ou seja, toda prova dever ser informada parte que no a produzir para que possa contest-la com uma contra prova. Para Camargo Aranha: um princpio jurisdicional pacfico a nulidades do processo quando uma das partes no tenha cincia e possibilidade de manifestar-se sobre uma prova existente nos autos (ARANHA, 2006, p. 33). Decorre deste princpio uma igualdade das partes possibilitando idnticas condies para provar suas pretenses. Princpio da Comunho das Provas: declara que uma vez constante do processo, a prova no pertence parte que a produziu, mas sim a todas as partes presentes no processo (autor, ru) e ao juiz. O mesmo viabilizar uma relativa imparcialidade da prova produzida, j que a parte beneficiada pela mesma no, necessariamente, ser quem a carreou aos autos. Esta servir a ambas as partes e ao interesse da justia. Princpio da Liberdade da Prova: deriva da verdade processual, cuja busca pela verdade deve ser exaurida pelo juiz. Rangel assim explica o princpio: na busca pela verdade, deve o juiz desenvolver as atividades necessrias, com o escopo de dar a cada um aquilo que, efetivamente, a ele pertence; (RANGEL, 2007, p. 407) Este princpio fundamenta a existncia das provas inominadas. Estas, entretanto possuem restries quanto s provas ilcitas e ilegtimas (provas vedadas). Princpio do Fruto da rvore Envenenada: com base no artigo 5, inciso LVI, da CRFB/88, tambm conhecido como inadmissibilidade, ou vedao, das provas obtidas por meios ilcitos. Agora trazido ao artigo 157, 1 CPP, pela lei 11.690/08 a entrar em vigor no dia 9 de agosto do vigente ano. Princpio do Livre Convencimento Motivado: se refere ao poder de deciso do juiz quanto valorao das provas segundo critrios pessoais de convencimento e conscincia, porm submetido motivao e atrelado ao que esta nos autos do processo. Muito embora outros princpios relativos matria probatria possam ser citados, no tocante ao trabalho, esses se mostram suficientes para o estudo das provas e sua relao com a psicografia.

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2.2

CONCEITO DAS PROVAS

A palavra prova vem do latim proba (demonstrar, formar juzo) e atualmente, conforme o dicionrio Michaelis, possui diversos significados, dentre os quais se destaca: aquilo que demonstra ou estabelece a verdade de um fato, testemunho, demonstrao, indcio entre outros. (disponvel em: http://michaelis.uol.com.br/, acessado em: 16/06/08) Embora teis tais definies so limitadas. Francesco Carnelutti se utiliza de uma correlao entre certeza, a existncia captada mediante a virtude dos sentidos e a probabilidade, como existncia captada imediatamente pela virtude do juzo. (CARNELUTTI, 2005, p. 14). Afirma o douto professor: Quando a probabilidade alcana um grau to alto que chega a equivaler, praticamente a certeza, ns acostumamos a cham-la com este mesmo nome (CARNELUTTI, 2005, p. 14 e p. 15). E em seguida faz uma crtica a esse costume de se igualar os dois conceitos, crtica esta que fundamenta a verdade processual, de que verdade como certeza no passvel de ser alcanada e a probabilidade no desse ser tomada como absoluta e irrefutvel. Nessa linha de raciocnio finaliza o autor com seu conceito de prova:Posto o juzo extrai do presente, o passado ou o futuro ou, em outras palavras, da certeza a probabilidade, a matria sobre a qual opera ou com a qual se realiza, o presente mesmo ou, em outras palavras, a espcie, a qual, enquanto alm da certeza de si, proporciona a probabilidade de outro diferente de si, chama-se prova; (CARNELUTTI, 2005, p. 15)

Assim pode-se entender, portanto, a prova como uma existncia que alm de si, ainda tem o condo de corroborar a essncia de outro evento. Para simplificar temos ainda as trs acepes da palavra, em seu sentido jurdico, trazida por Fredie Didier:Em um primeiro sentido, (...) utilizado para designar o ato de provar, dizer, a atividade probatria (...); em outro sentido (...) utilizado para dizer meio propriamente dito, ou seja, tcnica desenvolvida para extrair a prova de onde ela jorra (...); e por ltimo como (...) o resultado dos atos ou

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dos meios de prova que foram produzidos no intuito de buscar o convencimento judicial (...). (DIDDIER, 2007, p. 20)

2.3

CLASSIFICAO DAS PROVAS

As provas, embora haja divergncia doutrinria a respeito, podem ser classificadas quanto ao objeto, ao sujeito e forma. Quando se fala em classificao quanto ao objeto entende-se poderem ser diretas ou indiretas. Diretas so aquelas que fazem referncia ao fato probando, ou seja, o fato provado sem a utilizao de mecanismos de construes lgicas. As Indiretas so as que se utiliza de tais mecanismos, no fazem, entretanto, aluso ao fato probando, mas se alcana o mesmo de modo oblquo. Quanto ao sujeito pode ser pessoal ou real. Pessoais so afirmaes de um ser humano, de modo consciente, a respeito do fato criminoso, seja por conhecimento prprio ou por via de terceiros. Reais so as provenientes dos vestgios, ou seja, a coisa marcada pelo fato criminoso. Quanto forma podem ser testemunhal, documental e material. A testemunhal a experincia pessoal do indivduo, estranho ao processo, cujo contato com o fato deixa registrado na memria o ocorrido e proporciona a capacidade do indivduo de exp-los, de forma oral, em juzo. Documental uma coisa que reflete a experincia, pode ser produzidos por quaisquer escrito, instrumentos ou papis, pblicos ou particulares, como consta no artigo 232 do Cdigo de Processo Penal. Por fim a material, qualquer coisa na materialidade de suas formas que sirva de elemento de convico sobre o fato probando. Outro critrio interessante quanto a sua presena no rol das provas do Cdigo de Processo Penal. Nesse aspecto existem as provas nominadas e inominadas. A primeira so as que constam no texto do Cdigo de Processo Penal, enquanto a segunda embora no constem no rol das provas do Cdigo ainda podem ser consideradas como tais porque esse rol no seria taxativo.

2.4

SISTEMAS DE AVALIAO DAS PROVAS

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Agora deve-se compreender como essas provas devem ser produzidas e avaliadas no processo. Nesse momento que o juiz pondera os fatos e questiona as verdades inerentes a cada elemento oferecido como meio probatrio. Os sistemas mais relevantes so o da ntima convico ou certeza moral do juiz, o das regras legais ou certeza moral do legislador ou tambm da prova tarifada e o sistema da livre convico ou da persuaso racional. O sistema da ntima convico cabe ao magistrado a total discricionariedade para a avaliao, de acordo com sua prpria conscincia, das provas. O legislador desse modo no impe limites ao juiz. Em momento algum se atribui deciso a obrigao de uma motivao, seja com base nas provas, presentes ou no no processo, ou simplesmente em qualquer outra, ainda que de ndole pessoal do magistrado. Esse critrio se encontra presente hoje no Tribunal do Jri, uma vez que os jurados no so obrigados a fundamentar seus votos. Contudo esse sistema passvel de severas crticas por se permitir o arbtrio nas decises. O ato no fundamentado emanado do judicirio deve, com base no princpio constitucional da motivao das decises constitucionais (artigo 93, IX, CRFB/88), ser declarado nulo por estar ceifado de um vcio. Nesse pensamento que se verifica a presena do Recurso da Apelao contra deciso do Jri, quando esta for manifestamente contrria as provas dos autos (artigo 593, inciso III, alnea d, do Cdigo de Processo Penal). O prximo sistema o da prova tarifada a funo de avaliao e ponderao das provas fica a cargo do legislador. Isso porque nesse sistema todas as provas tm seu valor prefixado pela lei e com isso o magistrado no tem a liberdade de deciso sobre o caso concreto, pois tem a obrigao de seguir a discrio legal dos critrios de valorao das provas. Esse sistema apareceu em funo da desconfiana do poder legislativo com os juzes. A ttulo de exemplo, a confisso, cujo valor era maior que os demais tipos de prova, ficara conhecida como a rainha das provas, nem se quer podia-se valer de testemunhas para confrontar a confisso visto a superioridade desta frente ao testemunho. No atual Cdigo de Processo Penal ainda se verifica vestgios desse

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sistema, isto ocorre em seu artigo 158, cominado com 564, inciso III, alnea b, do qual o exame de corpo delito exigido por lei, em infraes penais que deixam vestgios. Nesse sentido a prova tarifada baseada em presunes absolutas, e no deixa margem a discricionariedade do magistrado para avaliar o caso concreto. Logo o juiz se v impossibilitado de busca pela verdade processual. Diante disto o equvoco do sistema se fez presente e fez-se necessrio a criao de outro conhecido como de livre convico. O sistema de livre convico em razo, ao disposto no artigo 157, do Cdigo de Processo Penal, quando dispe da seguinte forma: o juiz formar sua convico pela livre apreciao da prova. Como se pode apreender do dispositivo, esse novo sistema uma mescla dos dois anteriores. Em funo das novas idias trazidas ao processo penal pela Lei 11.690/08, a entrar em vigor agosto de 2008, essas reminiscncias do sistema da provas tarifadas vem sendo mitigadas. Isso porque do mesmo jeito que admite a apreciao das provas por parte do magistrado, no permite que isso ocorra de forma aleatria, ou melhor, sem um critrio vinculado. O magistrado no pode apenas julgar com base em seu discernimento e convico, pois isso facilita corrupes e fraudes, assim como o abuso do poder. Dessa forma o julgador ter que se ater as provas. Em suma, a deciso a ser proferida ser fruto racional da correlao entre o convencimento abstrado pelo julgador com fundamentao lgico na provas produzidas nos autos do processo.

2.5

PROVAS VEDADAS

O Cdigo de Processo Penal (CPP) traz um rol exemplificativo e no taxativo das prova admitidas dentro do processo. Entre essas provas podemos observar as provas o exame de corpo delito, o interrogatrio do acusado, a confisso, das perguntas ao ofendido, das provas testemunhais, do reconhecimento de pessoas e coisas, da acareao, dos documentos ou provas documentais, dos indcios e da busca e apreenso.

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Essas provas so as conhecidas como provas nominadas, porm o cdigo ainda permite para o desenrolar do processo, e com vistas a alcanar a verdade processual, outros tipos de provas no exemplificados em seu corpo de texto. Essas provas so conhecidas como provas inominadas. No obstante a viabilizao de outros meios probatrios, no presentes no corpo da lei, no podem estes ser motivo para justificar afrontas a direitos e garantias fundamentais. Assim deve-se retomar ao conceito da busca de uma verdade processual, visto que a verdade real alm de utpica tende a servir de esboo para prticas condenadas, como a tortura, e privaes de direitos. Em uma sociedade com democracia recente e memria de um governo ditatorial, cujos cidados sequer possuam direitos a julgamentos dignos de um Estado de Direito, mas corroborados e falseados pela desculpa do Estado de Exceo, a bem da verdade que esta perda de garantias no pode admitida, sob pena de estar se plantando novos e diferentes meios de Estados de Exceo. inegvel, entretanto, a necessidade do Estado Democrtico de Direito estabelecer limites capacidade probatria das partes. E para isso se estabelece as chamadas provas vedadas. Em suma, as provas que por insulto garantias materiais e processuais no podero fazer parte dos autos do processo. As provas vedadas se subdividem em ilcitas e ilegtimas. Essa diviso, embora sofra crticas de partes da doutrina, se apresenta consagrada pela maioria e com um forte componente didtico para o estudo das provas vedadas. Ada Pellegrini Grinover ainda entende ser possvel determinas provas ilcitas serem tambm ilegtimas, como faz referncia Mirabete em seu livro de Processo Penal: necessrio observar, porm, como faz Ada Pellegrini Grinover, que determinadas provas, ilcitas porque constitudas mediante a violao de normas materiais ou de princpios gerais do direito, podem as mesmo tempo ser ilegtimas, se a lei processual tambm impede sua produo em juzo (MIRABATE, 1996, p. 259)

Logo como se infere do texto acima a distino entre a prova ilcita e a prova ilegtima caracteriza-se pela primeira se referir vedao dada as provas constitudas com base em uma ofensa a um direito material, tanto quanto ao meio quando a sua produo e em outra vertente a segunda se refere s afrontas as normas de direito processual, tanto na produo quanto no seu ingresso no processo.

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As provas vedadas a priori seriam inadmissveis no processo, no entanto teorias foram formuladas de modo a mitigar ou no essas vedaes. A primeira teoria da plena admissibilidade processual das provas vedadas. Esta entende que as provas ilcitas sero valoradas do processo como qualquer outra prova. E em contrapartida a declarada ofensa ao direito material, a parte que a produziu vai responder por esse ato. Esse mtodo no coaduna com o critrio de verdade processual, aproxima se assim de uma verdade real, mecanismo nevrlgico de busca pela verdade e j ultrapassado. Uma segunda tese a teoria da inadmissibilidade absoluta, com base na interpretao literal do artigo 5, LVI da CRFB/88. Todavia uma interpretao apenas literal de um dispositivo legal inerente a um ordenamento to complexo como a Constituio se configura conservador e limitado. Nessa hiptese merece consideraes uma interpretao para alm da lei, uma interpretao sistemtica a fim de tomar-se por princpios basilares do direito ptrio. Igualmente a atual fase da hermenutica jurdica encontra-se num perodo de relativizao de seus institutos em vista disso uma posio absoluta no cerce da inadmissibilidade das provas vedadas pe em evidncia o carter leviano desse exame. A ltima teoria possui dois pontos de vista baseados nos sujeito do processo. A teoria da admissibilidade baseada na proporcionalidade e razoabilidade se decompe em uma perspectiva pro reo e um exame com base em ambas as partes do processo. No que diz respeito a ambas as partes do processo, quando em uma apreciao da proporcionalidade e da razoabilidade, se verificar que a admissibilidade da prova vedada o nico caminho eficaz a proteo de outros valores fundamentais, esta deve ser aceita. J quando o cerne da questo o ru a teoria mais flexvel, haja vista que no caso a princpio a ser confrontado com o direito agredido o garantia a liberdade do acusado. De forma genrica a tendncia que frente a maioria dos direitos existentes em nosso ordenamento o ideal de liberdade prevalea em detrimento dos demais.

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Essa formulao com apoio na liberdade se justifica em uma clusula de excluso da ilicitude ou mesmo em uma excluso da culpabilidade em sua vertente de inegixibilidade de conduta diversa. Essas teorias abrem espao para novos paradigmas a respeitos das provas vedadas e com isso para o instituto da prova como um todo. Novos caminhos so traados e novas provas podero ingressar no processo sem insultos a verdade processual.

2.6

PROVAS EM ESPCIES

O estudo das provas, em seus conceitos, princpios, classificao, admissibilidade e vedaes visam esclarecer a viabilidade da psicografia admissvel no processo penal, porm no completa a anlise sem o estudo das provas em espcies que informar o emprego prtico desses requisitos. Importante, contudo, no a anlise de todos os meios de prova, mas os essenciais para o estudo da psicografia com uma prova inominada. Por iguais razes, e em rpidas pinceladas ento, apenas trs (prova pericial, prova documental e dos indcios) das diversas espcies de prova sero propostas para o estudo por parte desse tpico, com vistas a no se alongar muito e evitar fugas dispersivas do objetivo dessa monografia.

2.6.1 Da Prova Pericial Frederico Marques define prova pericial como a prova destinada a levar ao juiz elementos instrutrios sobre normas tcnicas e sobre fatos que dependam de conhecimento especial (MARQUES, 2000, p. 423) J com relao a sua natureza jurdica, consoante Camargo Aranha, a denomina como um meio instrumental, tcnico opinativo e alicerador da sentena (ARANHA, 2006, p. 192). Assim a prova pericial tem com seus elementos levar um tipo de conhecimento, seja este artstico, tcnico, cientfico ou de prtica especfica em

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relao a uma circunstncia. Esta um fato apurados no processo. Outro elemento o carter opinativo, pois emerge de um parecer, ou melhor, um juzo de valor, dado por um perito especializado na rea do conhecimento especfico, passvel da subjetividade humana. O ltimo elemento a viabilidade da percia de embasar a sentena do juiz. Essa deve servir de fundamentao terica para a deciso. Se nada esclarecer sobre o fato a ser julgado, nada ter a acrescentar e com isso ineficaz ser a sua produo. A percia em nosso ordenamento jurdico foi elevada a um status superior aos meios de provas normais, uma vez que o perito, rgo tcnico e auxiliar do juzo na formao e colheita do material instrutrio (MARQUES, 2000, p. 424) denominao dada por Frederico Marques, foi erigido a auxiliar do juiz e no como simples sujeito de prova. Como se pode abstrair do artigo 139 do Cdigo de Processo Civil. Somado a isto se tem a norma do artigo 158, do CPP: quando a infrao deixar vestgios, ser indispensvel o exame de corpo de delito, direto ou indireto, no podendo supri-lo a confisso do acusado. A coliso com a regra gera uma nulidade insanvel do feito. Uma verificao superficial desse dispositivo pode nos levar a pensar na coliso com o princpio do livre convencimento motivado, pois o corpo delito para o legislador teria sido avaliado com o critrio da prova tarifada. Porm devemos interpretar de modo diverso, a entender que no se apresenta esta como superior s demais, visto que no caso de perecimento da prova pericial direta, supre-se sua ausncia atravs do exame de corpo delito indireto ou por outros meios permitidos.

2.6.2 Da Prova Documental O artigo 232, do CPP, introduz no direito processual penal a prova documental assim: considera-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papis, pblicos ou particulares. Assim como ensina Carnelutti: um coisa, pela qual uma experincia representada (CARNELUTTI, 2005, p.45). Logo deve-se perceber as caractersticas de cada elemento dessa definio. Quando se fala em documentos escritos na verdade no h restrio algumas as demais formas de documentos, pois tambm podemos encaixar nessa espcie as

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fotografias, as pinturas, gravaes fonogrficas e muitos outros mecanismos existentes para retratar um fato. Assim parte-se para a diferenciao entre documento pblico e documento particular. Mirabete define documento pblico como o expedido na forma prescrita em lei, por funcionrio pblico, no exerccio de suas atribuies (MIRABETE, 1996, p. 309). O documento particular pode ser entendido por negao, uma vez que no produzido por funcionrio pblico no exerccio das funes inerentes ao seu cargo. Os documentos pblicos gozam de presuno relativa da veracidade dos fatos alegados em seu contedo. Esta presuno origina um nus de provar, a quem interessar as inverdades alegadas em tal documento. Caso isso no venha a ocorrer, os fatos ento alegados so considerados como verdadeiros e autnticos. Abre-se um parntese para a ressalva de que todo documento deve-se valer do requisito da verdade e da autenticidade. A verdade diz respeito ao contedo do documento que no poder retratar uma configurao diversa da experincia natural a qual deveria retratar. No que tange a autenticidade, Carnelutti explica de modo a no nos deixar dvidas, assim: a indicao do autor, se bem necessria, no sem embargos, suficiente, podendo a mesma no responder verdade; o documento se diz autntico quando a tal indicao est verificada (CARNELUTTI, 2005, p. 52) Esses critrios so de cabal valor para a ponderao da prova documental em juzo. Por iguais razes a questo da autenticidade e da verdade do documento particular tambm dever ser posta em prtica. Assim para a constatao de sua verdade ser necessrio o seu confronto com as demais provas e ademais para a comprovao de sua autenticidade deve ser reconhecida por oficial pblico, ou aceita ou reconhecida por quem possa prejudicar ou quando provada por exame pericial. Por ltimo, diferenciam-se os papis dos instrumentos, aquele para citar um documento escrito que foi produzido sem a inteno de provar um fato, enquanto este fora produzido para servir de prova de algo. Inadequado seria esquecer o artigo 231, do CPP, assim dispe: salvo os casos, expressos em lei, as partes podero apresentar documentos em qualquer fase do processo, assim como o artigo 400, do CPP: as partes podero oferecer documentos em qualquer fase do processo.

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Em regra, e para a defesa do contraditrio, obriga-se a comunicar a parte contrria, com antecedncia mnima de 3 (trs) dias, a produo ou a leitura de um documento (artigo 475, CPP). Entre outras excees, como a impossibilidade de juntar documentos nas fases de alegaes finais do processo de competncia do Jri (artigo 406, 2, CPP).

2.6.3 Dos Indcios O artigo 239, do CPP expe o indcio assim: considera-se indcio a circunstncia conhecida e provada, que tendo relao com o fato, autorize, por induo, concluir-se a existncia de outra ou outras circunstncias. Conforme constatao do Frederico Marques essa definio de indcio, coincide com a de presuno estabelecida por grande parte da doutrina, e em funo disso no h o porqu de se fazer distino entre ambos os termos. O mesmo autor caracteriza esse tipo de prova como sendo indireta e crtica, ou seja, de carter lgico. Isso se acomete porque h uma ligao do fato provado, para alguns o indcio propriamente dito, com o processo de raciocnio lgico, a presuno, que ir resultar na deciso do juiz com base nessa fundamentao. Todavia, do lado oposto de parte da doutrina, deve-se considerar o indcio como meio de prova suficiente para proferir uma deciso de acordo com o livre convencimento motivado e o princpio da verdade processual. Ou melhor, de acordo com tal critrio de apreciao de provas, no h de que se falar em distino entre os meios de prova ou sequer a respeito de supostas valoraes entre os mesmos. Assim o indcio possui o mesmo valor que as demais provas no nosso ordenamento e ser ponderado como tal, desde que o juiz motive sua prova indiciria de maneira exaustiva e convincente com o fim de sobrepujar dvidas. Argumento esses que anulam as alegaes de quem contra esse tipo de mecanismo probatrio. Em Mirabete (MIRABATE,1996, p. 314), indcios mltiplos, concatenados e impregnados de elementos positivos de credibilidade so suficientes para dar base a uma deciso condenatria (...).

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Com isso esclarecidas as eventuais dvidas de posicionamento ou mesmo de conceitos a respeito do instituto da prova e seus requisitos e elementos rudimentares, passa-se agora a estudar a psicografia para visualizar a admissibilidade como um meio probatrio. 3. PSICOGRAFIA

3.1

NOES BSICAS

No estudo da origem da palavra psicografia, psico tem etimologia em psych, que significa alma, enquanto grafia vem de grphein, que significa descrever. A palavra psicografia definida pelo dicionrio Michaelis como escrita feita por um mdium sob a influncia direta de um esprito. Em outras palavras importante analisarmos cada elemento desse conceito a fim melhor orientar cada ligao com a admissibilidade desse mtodo com os meios de prova De incio, faz-se til explicar o que melhor se entende pelos termos de mdium e esprito, assim como a expresso influncia direta. A mediunidade a qualidade inerente ao indivduo de se comunicar com os espritos. Por conseqncia, a conceituao de mdium deve sempre passar por essa explicao do que se entende pode mediunidade. O mdium a pessoa que possui a qualidade de se comunicar com os espritos. de extrema importncia essa informao, pois como em qualquer ramo das cincias ou atividades humanas, a qualidade, ou melhor, o dom, que se tem para determinada prtica varivel de um ser para o outro. Para todas as tcnicas desenvolvidas pela humanidade, seja em seu no aspecto cientifico, esportivo, artsticos, sempre sofrem a influncia de um dom. Este facilita ou dificulta o aprendizado e o desenvolvimento da tcnica. Embora a prtica reiterada da atividade possibilite o melhor aperfeioamento do indivduo na tcnica est condicionado ao limite estabelecido por esse dom. Por esse motivo no surgem todos os anos novos Ples no esporte, novos Machados de Assis na literatura, novos Einstens na fsica, novos Ruy Barbosa no ramo do direito ou novos Franciscos Cndido Xavier, na tcnica da psicografia.

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Quando na qualidade de o mdium se comunicar com os espritos, em funo da limitao do tema a anlise dessa comunicao se restringir ao estudo da realizada atravs da escrita. Portanto pode-se ver a comunicao como um mecanismo de troca de experincias por meio dos sentidos ou da intuio. Assim o mdium o ser possuidor do dom ou qualidade de trocar informaes por meio dos sentidos ou da intuio com os espritos. Agora nos resta entender o que se entende por esprito, questo essa delicada, porm do ponto de vista lgico d-se faz uma definio limitada e axiolgica do termo. O esprito pode entender-se por uma entidade no material, um princpio inteligente e racional, assim como passvel de sentimentos, visto que na ausncia de tais composies se tornaria um ser inerte, ou seja, sem quaisquer influncias no meio externo, e ento sem interesse cientfico. Merece tambm considerao a viso do esprito na sua manifestao na matria, tambm conhecida como a alma. A alma pode ser compreendida como uma essncia, conforme a acepo aristotlica do termo, algo que identifica o ser em suas caractersticas no materiais, mas metafsicas, esta vista como a cincia que se ocupa das realidades alm da fsica com a fcil e imediata apreenso sensorial. Esta ao individualizar o ser material obtm experincias ao longo de sua vida e aps a mesma no se extingue, ao contrrio pode permanece em contato com seus afins. Assim como o conceito Darwiniano de evoluo natural, os espritos tambm tendem a evoluir conforme ideais morais e cognitivos. E tais ideais devem ser compreendidos para se evitar manifestaes levianas e zombeteiras. De difcil contestao a vontade, de mesmo aps o desencarne, o esprito desejar manter contato com as pessoas afins, sejam esses amigos ou famlias, ou mesmo os de conceitos morais rudimentares quererem estabelecer vingana em face de seus algozes. Por fim devemos ver como se d a influncia do esprito sob o mdium. Alan Kardec, em livro dos mdiuns nos esclarece:De todos, os meios de comunicao, a escrita manual o mais simples, mais cmodo e, sobretudo, mais completo. Para ele devem tender todos os esforos, porquanto permite se estabeleam, com os Espritos, relaes to continuadas e regulares, como as que existem entre ns. Com tanto mais afinco deve ser empregado, quanto por ele que os Espritos revelam melhor sua natureza e o grau do seu aperfeioamento, ou da sua

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inferioridade. Pela facilidade que encontram em exprimir-se por esse meio, eles nos revelam seus mais ntimos pensamentos e nos facultam julga-los e apreciar-lhes o valor. (KARDEC, 1996, p. 196)

Esta influncia varia de acordo com o tipo de mdium e do grau do esprito a se manifestar. Os mdiuns podem ser classificados de vrias formas, para no fugir ao tema a classificao exposta se limitar aos mdiuns psicgrafos ou escreventes, estes podem ser: mecnicos, intuitivos, semimecnicos, inspirados ou involuntrios e de pressentimentos. E mesmo dentro desse seleto grupo fixar-se- a ateno aos mecnicos e semimecnicos, uma vez que somente as cartas escritas por estes so passveis de verificao tcnica a respeito de sua autenticidade e verdade. O mecnico, ou passivos, caracterizam-se por influenciar objetos ao moviment-los diretamente, o qual a mo do mdium serve apenas de ponto de apoio ou por acionar a prpria mo do mesmo. A esta se d um impulso totalmente livre da vontade do mdium, sem interrupo ou impedimento deste at que cesse o que tenha a dizer. Nesse caso o mdium no tem a menor conscincia do que escreve, e assim no permite dvidas sobre a independncia do escrito. Esse tipo de mdium muito til para a produo de provas psicografadas, isto porque ao permitir o trabalho independente do esprito passvel de comprovao a autenticidade da carta, atravs da grafoscopia, tcnica muito utilizada em reconhecimento de assinaturas por bancos e investigaes policiais. O semimecnico a seguir detalhado por Kardec:No mdium puramente mecnico, o movimento da mo independe da vontade; ao mdium intuitivo, o movimento voluntrio e facultativo. O mdium semimecnico participa de ambos esses gneros. Sente que sua mo uma impulso dada, mau grado seu, mas. Ao mesmo tempo tem conscincia do que escreve, medida que as palavras se formam. No primeiro, o pensamento vem depois do ato da escrita; no segundo, precedeo; no terceiro, acompanha-o. Estes ltimos mdiuns so os mais numerosos. (KARDEC, 1996, p.199)

Assim embora sofra de forma mais consciente a influncia do esprito o resultado do trabalho no comprometido, pois a abstrao do mdium e o cuidado com que suas idias no venham a se confundir com a do esprito podero atravs da grafia ser averiguadas pela tcnica pericial. A seguir a psicografia ser posta a prova da verdade processual e do ordenamento jurdico processual penal e seu instituto do direito probatrio.

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3.2

PSICOGRAFIA E SUA CLASSIFICAO COMO PROVA

Entre os meios de prova pode-se verificar a classificao da psicografia com uma prova inominada, por no constar presente no rol exemplificativo do Cdigo de Processo Penal. Alm desta classifica-se quanto forma, vindo a ser feita como documental, e um escrito particular, podendo ser um instrumento ou papel. O documento particular em questo em caso de no reconhecimento da autenticidade pela pessoa prejudicada, que diante dos fatos alegados pela carta psicografada venha a se sensibilizar ou por outros motivos venha a admitir o fato, ainda pode ser autenticada pela percia tcnica.

3.3

PSICOGRAFIA E A VERDADE PROCESSUAL

A verdade processual, atravs da psicografia, encontra outro meio de se buscar o conhecimento necessrio deciso com alicerce nos autos do processo. Como j dito a verdade processual inviabiliza a utilizao meios de provas que ofendam os direitos e garantias fundamentais. evidente que a psicografia no s no traz agresso nenhuma a esses valores, como tambm os corrobora. Inicialmente ao passar pelo crivo do contraditrio percebe-se que a psicografia se submete ao princpio, vez que possibilita o outro sujeito processual contradita-la por meio da prova pericial. Embora essa percia no seja produzida no tempo da formao da prova, esta pode ser feito quando de sua produo. Outro aspecto gerador de crticas a o fato de o Estado brasileiro ser um laico. A psicografia no fere a laicismo do Estado, posto que mais que uma doutrina religiosa, a psicografia uma tcnica cientificamente comprovada. Esta comprovao feita pela grafoscopia.

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Mesmo que esse ponto de vista no seja aceito por quem resolva censurar o fato, no h como argumentar contra o direito constitucionalmente protegido pelo artigo 5, inciso VI, da CRFB/88, de inviolabilidade a liberdade de conscincia e crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos e garantida, na forma da lei a proteo aos locais de culto e sua liturgia.. Os direitos fundamentais ainda defendem, em seu artigo 5, inciso VII, CRFB/88, que: ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigao legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa, fixada em lei. Ou seja, como privar da parte um direito de defesa a ampla defesa com base nas suas crenas da veracidade das cartas psicografada por um esprito amigo ou a prpria vtima que seria capaz de distinguir o verdadeiro autor do crime, de um ru inocente. Como negar ao Estado no jus persequendi, a possibilidade de argir uma acusao com base em uma carta psicografada trazida pelos parentes da vtima ou da mesma, impedindo a de ver concretizado o direito a segurana ao ver o seu algoz livre depois de cometido um delito. Ou em caso ainda mais pessoal quando se tratar de ao penal privada ou subsidiaria da pblica, em que a vtima, com suas convices cientficas, religiosas ou filosficas a respeito da psicografia, se sobrepem ao interesse punitivo do Estado e percebe seu direito restringido por uma interpretao simplria do artigo 19, inciso I, da carta magna. Isso, pois a defesa do interesse se encontra latente na defesa da segurana pblica ou mesmo no direito a liberdade do ru, inocentemente acusado. No em nenhum momento a prtica ou relao de dependncia ou de aliana, por parte de Estado, com cultos religiosos. O Estado continuar a ser laico da mesma forma que caso um indivduo ao se confessar com seu pastor ou padre expressamente permita ao agente religioso o testemunho em juzo de seus crimes. Do mesmo modo esta presente um dogma religioso como meio de prova, porm na forma de testemunho. Em momento nenhum a carta psicografada ser o rei do jogo de xadrez que se derrubada a acusao ou a defesa se deteriorar, do mesmo modo que o testemunho de um padre ou de um psiclogo por maior valor que seja possa atribuir a ambos no poder ser o cheque mate condenatrio.

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Logo em nenhum momento a psicografia como parte de um sistema religioso cientfico e filosfico pode ser denegrida como mais um meio de prova em funo do carter laico do Estado de modo que a verdade processual no restar manchada. As garantias de livre conscincia e de crena, nem mesmo do exerccio do direito a ampla defesa, de propor os fatos e prova-los como melhor o convier. O princpio da comunho da provas inquestionvel, porque do mesmo modo que o relato na carta psicografada pode favorecer um sujeito processual em sua integra tambm poder deixar indcios de que poder se aproveitar a outra parte. de importante valor lembrar que o magistrado ou o Jri responsvel pela deciso no necessariamente podem se persuadir com esse meio de prova e em funo do mesmo mudar de opinio. O princpio do livre convencimento motivado o maior beneficiado com essa possibilidade. O juiz ao fundamentar sua sentena ter mais um requisito para analisar e ressaltar a sua convico. Este como brao do Estado deve defender os direitos inerentes a carta magna j anteriormente citada. Princpio da liberdade das provas mais prxima verdade real por perseguir uma verdade quase absoluta e viabilizar essa busca por parte do juiz deve-se adequar ao sistema da verdade processual e proteger as garantias fundamentais, o que de em momento algum descaracteriza o princpio e por conseqncia fundamenta a admissibilidade da psicografia como prova. Desse alicerce principiolgico, a verdade processual em estante nenhum se colide com a psicografia como meio prova. Ao contrrio, os princpios fundantes de nosso ordenamento do base para a tese, faltando apenas para a consagrao da psicografia como meio de prova a sua adequao aos institutos da prova.

3.4

PSICOGRAFIA, O LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO E AS PROVA VEDADAS.

No sistema de avaliao do livre convencimento motivado perfeitamente proporcional a produo da psicografia para ajudar a formular a convico do juiz e inserir-se aos autos para a apreciao das provas. A carta psicografada vem trazer

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novos fatos ou indcios que ligados s demais provas condizem com a formulao de uma sentena motivada. Entretanto essa prova s poder ser produzida se no for vedada, ou seja, se no atingir nenhum direito material ou processual, assim proclamada com lcita e legtima. legtima a psicografia, pois no ofende nenhuma forma processual propriamente dita. Se no houver negligncia ou impercia na conduo do processo a tendncia que seja permitida a sua produo perfeitamente adequada a todos os princpios ou normas inerentes ao procedimento, tanto do rito ordinrio quanto do rito do jri, ou qualquer outro. lcita tambm visto que nenhum direito material ofendido com a sua produo, a legalidade, a liberdade, a ampla defesa, a dignidade, a liberdade de crena, todos so respeitados e a lei em nenhum de seus aspectos afetada. Por mais amplo que o conceito de ilicitude aparea no contrrio a psicografia, por esta em momento nenhum ser obtida de forma inidnea. No que tange as teorias da provas vedadas, primeiramente verifica-se a teoria da plena admissibilidade das provas vedadas, quanto a esta no h o que refutar, pois se todos os meios so apropriados para a apreciao, no existem motivos pra prova psicografada no o ser. Assim a parte que a produzir ficaria sujeita as conseqncias desse ato, ou seja, nenhuma pois esse ato no apresenta ofensa a direito nenhum, muito pelo contrrio a concretizao do direito a ampla defesa. J a teoria da inadmissibilidade absoluta, tambm no embarga a psicografia porque no como visto acima no se caracteriza como uma prova vedada, pois respeita o direito material e o processual. Ressaltada a crtica realizada a essa teoria com vistas moderna concepo da relativizao dos direitos e princpios colidentes no ordenamento. Por ltimo a teoria da admissibilidade baseada na proporcionalidade, quanto ao ru fcil constatar que a psicografia pode ser til para a proteo de sua liberdade. Logo se fosse considerado uma leso ao direito a crena ou ao Estado laico, ainda sim a liberdade do indivduo confirmaria uma necessidade maior de proteo e, portanto, fundamentaria a apreciao. J no que se refere proteo de ambas as partes tambm se fundamenta na proteo ao direito liberdade e do jus persequendi do Estado, que em funo

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da psicografia poderiam atingir sua concretizao, atravs da absolvio ou da condenao respectivamente. Sob essa anlise confirma-se o carter legtimo e lcito da psicografia como meio de prova, assim como aceito com base nas teorias mais importantes quanto a admissibilidade das provas vedadas. Logo no se atual qualquer condenao da psicografia como uma prova vedada em nosso ordenamento. 3.5 A PSICOGRAFIA E A SUA APLICAO JUNTO AS DEMAIS MEIOS DE PROVA

Dentre vrias espcies de provas fez-se a anlise de trs formas nomidas: a pericial, a documental e os indcios. Como j visto a prova psicogrfica se assinala como uma prova documental e, com vista nisso, deve ingressar no processo como tal. O problema como definir sua verdade e autenticidade perante a possibilidade do contraditrio e a ampla defesa da parte oposta no processo. No muito controvertida essa problemtica, pois nesse sentido outra espcie de prova muito proveitosa. A percia tcnica enunciada pelo perito em grafoscopia faz relevante para tal fim. A grafoscopia, tcnica que regula o exame de documentos e disciplina cuja finalidade a verificao da autenticidade e a determinao da autoria do mesmo. Essa tcnica utilizada por bancos na confirmao de assinaturas de cheques e por percia criminal para formular inquritos com base em documentos, principalmente para imputao de falsidades, tambm se aplica a cartas psicografadas. O grafotcnico londrinense Carlos Augusto Perandra, professor adjunto do Departamento de Patologia Legislao e Deontologia da Universidade Estadual de Londrina, Estado do Paran, criminlogo e perito credenciado pelo Poder Judicirio, fez estudos na rea da psicografia e escreveu o livro A Psicografia a Luz da Grafoscopia que prova por meio do exame da caligrafia a autenticidade das cartas. Essa tcnica demonstra que a caligrafia redigida na carta psicografada semelhante nos traos e riscos ao material escrito, coletado para a pesquisa, da pessoa do esprito quando encarnado, ou melhor, quando vivo. Embora nessas anlises grficas se encontre a predominncia da grafia do mdium, a grafia do esprito se constata ao ponto de ser irrefutvel o exame da autoria grfica.

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Cabe observar que todos esses testes e verificaes tcnicas foram preparados em cima das cartas psicografadas por Francisco Cndido Xavier, estudioso da doutrina esprita, de reputao ilibada e respeitado mdium, com mais de 400 (quatrocentos) livros psicografados, o que por si s j o caracteriza como notvel, pois poucos escritores possuem essa capacidade literria. Ainda atestando a veracidade da psicografia era a capacidade de Francisco Xavier reproduzir em suas cartas diversos estilos literrios, como Ea de Queiroz, Humberto Campos e outros famosos escritores. Alguns casos no direito brasileiro j foram constatados e em decises magistrais foram proferidas, do jeito a pacificar no somente o direito mais tambm os espritos dos familiares das vtimas. No caso de Maurcio Garcez Henrique, de Goinia, tendo como ru seu amigo Jos Divino Nunes, acusado de homicdio ao desferir acidentalmente um tiro Maurcio. O caso foi parar na mo do Juiz Orimar Bastos, que j havia absolvido outro ru com base em cartas psicografadas por Francisco Xavier, e o Jri Popular tambm absolveu o ru. Esse somente um de pelo menos outros 2 (dois) casos conhecidos, o de Henrique Emmanuel Gregoris, tambm em Goinia e julgado pelo mesmo Juiz Orimar Bastos e da ex-miss Campo Grande, Cleide Maria, em Mato Grosso do Sul, em maro de 1980, no crime de homicdio praticado por seu marido Jos Franscisco Marcondes de Deus. Por fim vale ressaltar que quando no constituir uma prova cabal, a carta psicografada ainda h de servir como um indcio, que por meio de suas dedues lgicas e presunes iluminaro a capacidade decisria do juiz. Muitas vezes sse indcios levam a uma informao que possibilite uma busca e apreenso, muito embora arrolada como um meio de prova de entendimento doutrinrio que a busca e apreenso se caracteriza como uma cautelar e no um meio de prova. E finalmente a luz da verdade processual os autos examinados formaro o convencimento suficiente para o juiz decidir a lide.

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CONCLUSO

Examinado minuciosamente o conceito de verdade processual no se encontra objees do ingresso da psicografia como um meio de prova. Assim como cada detalhe do instituto das provas, incluindo seus princpios, servem de alicerce para defesa desta tese. Embora objees ainda se encontrem pendentes no que tangem a disposio contida no artigo 6 do Cdigo Civil, que extingue a personalidade com a morte e por conseqncia o sujeito no mais titular de direitos e obrigaes, tal argumento no hbil a rechaar a utilizao do contedo da carta psicografada expositora de fatos esclarecedores do processo. Esta matria mereceria outras consideraes mais extensas, inclusive por fico jurdica se fazer o esprito ser representado ou assistido pelo indivduo do mdium e este se responsabilizar pelos atos praticados e por quaisquer leses provenientes de seu trabalho. Isso sem comentar outros mecanismos prprios do direito civil que poderiam se reformular para a esfera penal para essa compreenso. Ou seja, este meio de prova merece novas e interessantes consideraes, sem deixar de ser apreciado em funo de seu aspecto sua incipiente. Nesse contexto de admissibilidade da carta psicografada como meio de prova, espera-se um dia que esta possa ser comprovada por meios mais claros do que o da grafoscopia para que venha a ser positivada como um meio de prova nominado. Novas teorias da fsica vm trazendo idias inovadoras quanto a existncia de 8 (oito) dimenses alm das 3 (trs) convencionais, presentes na teoria da democracia das p-branas (HAWKING, 2001, p. 54) As novas teorias das membranas e das cordas, assim como a diviso dos tomos em sete elementos, entre os quais o grviton, que as teorias da mecnica quntica no so capazes de reconhecer seno como uma entidade fantasmagrica,

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no fornecem material emprico suficiente para nos fazer crer em mundo puramente materialista. (REZENDE, 2008, p. 87). No obstante as cincias exatas no comprovaram, empiricamente, at hoje, essa teoria materialista, no podemos excluir uma teoria espiritualista. A dinmica social e novos conceitos cientficos que traro novas teorias espiritualistas faro irrefutvel o carter verdadeiro e cientfico da psicografia para toda a humanidade, assim quando esse tempo se fizer presente o Direito no poder argir contrariamente a sua admissibilidade. At esse dia a sua admissibilidade deve ser provada e comprovada, testada e refutada a fim de aprimorar o instituto, por via de pesquisas e trabalhos acadmicos, que reforcem a convico do juiz ao aplicar a prova psicografada para a apreciao dos autos e posterior fundamento para sua sentena condenatria ou absolutria, como mais uma entre os meios de prova j doutrinariamente reconhecidos.

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