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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO KÁTIA DO SOCORRO HOMOBONO SOARES A IMPORTÂNCIA DA ENTREVISTA PSICOLÓGICA NAS CLÍNICAS DE TRÂNSITO PARA CANDIDATOS A CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO / CNH MACEIÓ-AL 2012

MONOGRAFIA DE KATIA HOMOBONO SOARES 02 DE KATIA HOMOBONO... · GRÁFICO 08 – Resultados, em porcentagem, das dificuldades encontradas na entrevista psicológica, pelos profissionais

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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO

KÁTIA DO SOCORRO HOMOBONO SOARES

A IMPORTÂNCIA DA ENTREVISTA PSICOLÓGICA NAS CLÍNICAS DE TRÂNSITO PARA CANDIDATOS A CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO /

CNH

MACEIÓ-AL 2012

KÁTIA DO SOCORRO HOMOBONO SOARES

A IMPORTÂNCIA DA ENTREVISTA PSICOLÓGICA NAS CLÍNICAS DE TRÂNSITO PARA CANDIDATOS A CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO /

CNH Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.

Orientador: Prof. Robson Lúcio da Silva Meneses

MACEIÓ-AL 2012

KÁTIA DO SOCORRO HOMOBONO SOARES

A IMPORTÂNCIA DA ENTREVISTA PSICOLÓGICA NAS CLÍNICAS DE TRÂNSITO PARA CANDIDATOS A CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO /

CNH Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito.

APROVADO EM ____/____/____

____________________________________ PROF. MS. ROBSON LÚCIO DA SILVA MENESES

ORIENTADOR:

___________________________________ PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO

BANCA EXAMINADORA

__________________________________ PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA

BANCA EXAMINADORA

DEDICATÓRIA

Aos meus pais

José Reinaldo (in memórian) e Juvanice Homobono

A meu esposo

Ariosvaldo Soares

As minhas irmãs

Cássia e Carmem Homobono

Ao meu filho

Vladimir Homobono Soares

AGRADECIMENTOS

Ao finalizar este trabalho gostaria de agradecer a todos aqueles que nos

momentos serenos e ou apreensivos se apresentaram como ponto de apoio e de

referencia na minha vida e que com isso contribuíram na construção desse trabalho,

por isso faço esse agradecimento de coração.

Agradeço a Deus pela minha vida e por me ter guiado e iluminado em cada

momento desta pesquisa;

Aos meus pais, José Reinaldo (in memórian) e Jovanice que foram a base da

minha identidade pessoal;

Às minhas queridas irmãs, Carmem e Cássia e queridas sobrinhas Thais e

Luise que são motivos de alegria na minha vida;

Ao meu esposo Ariosvaldo e meu filho Vladimir, pelo cuidado, paciência e

zelo tão importante e necessário para minha vida;

Às minhas amigas de profissão, psicólogas da CLIMEPT, pelo incentivo,

partilha, troca de conhecimentos e convívio fraternal;

Ao Orientador Professor Robson Menezes pela ajuda e orientação neste

trabalho;

Aos professores que com toda dedicação, paciência proporcionaram

conhecimentos necessários para realização do presente trabalho;

Em especial ao Professor Dr. Manoel que esteve presente nessa caminhada

com dedicação, determinação, cobranças, exigências, dinamismos e é claro, por

acreditar no potencial de cada um de nossa turma;

Em fim, agradeço a todos os colegas da turma pela parceria e amizade; e

A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para que este trabalho

fosse concluído com sucesso. Muito obrigada!

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a

forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam

sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos

fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.

Fernando Pessoa

RESUMO

A entrevista psicológica é uma técnica fundamental para análise do psicólogo, pois possibilita observar e descrever informações, relacionar eventos, fazer inferências, estabelecer conclusões e tomar decisões acerca dos sujeitos avaliados. No contexto do trânsito a entrevista psicológica é uma exigência do Código de Trânsito Brasileiro onde deverão ser aferidos comportamentos adequados às situações no trânsito, sua validade não se baseia em características psicométricas, mas sim na capacidade de identificar comportamentos específicos significativos em termos da avaliação diagnóstica realizada. A eficácia da entrevista psicológica está ligada a qualidade da entrevista e ao conhecimento da técnica, relacionando o que foi verbalizado pelo sujeito e o que foi percebido pelo psicólogo durante a entrevista, ao comportamento apresentado durante a aplicação dos testes utilizados e o resultado da referida testagem.

Palavras-Chave: Entrevista Psicológica, psicólogo, eficácia.

ABSTRACT

The psychological interview is a fundamental technique to psychologist analyze, because it is possible observe and describe information, relate events, make inferences, establish conclusions and make decisions about the subjects evaluated. In the context of traffic, the psychological interview is an exigency of Brazilian Traffic Code where will be evaluated appropriate behaviors to situations in traffic. The validity of interview isn't based on psychometric characteristics, but on the ability to identify specific behaviors and significant in terms of diagnostic evaluation. The efficacy of psychological interview is associated with the quality of interview and knowledge of technique, interrelated what was verbalized by the subject and what was perceived by the psychologist during the interview, the behavior during the application of the tests used and the results of that testing.

Keywords: Interview Psychological, psychologist, effectiveness

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICO 01- Distribuição por tempo de atuação, em anos, dos profissionais em

avaliação psicológica para o trânsito ..................................................................30

GRÁFICO 02 Distribuição dos profissionais pesquisados,por idade........................31

GRÁFICO 03 - Distribuição dos profissionais pesquisados, em porcentagem, por

sexo............................................................................................................................31

GRÁFICO 04 - Distribuição, em porcentagem, quanto a necessidade da entrevista

psicológica no contexto do trânsito............................................................................32

GRÁFICO 05 – A entrevista psicológica apresenta ineficácia no processo de

avaliação psicológica para o trânsito?.......................................................................33

GRÁFICO 06 – Diferentes situações, em porcentagem, que a entrevista psicológica

apresenta ineficácia...................................................................................................33

GRÁFICO 07 – Diferentes situações, em porcentagem, que a entrevista psicológica

não apresenta ineficácia...........................................................................................34

GRÁFICO 08 – Resultados, em porcentagem, das dificuldades encontradas na

entrevista psicológica, pelos profissionais da psicologia do trânsito........................35

GRÁFICO 09 - Relação, em porcentagem, dos subsídios técnicos proporcionados

pela entrevista psicológica no contexto do trânsito...................................................36

GRÁFICO 10 – Diferentes sugestões, em porcentagem, dos profissionais para a

realização da entrevista psicológica no contexto do trânsito.....................................37

LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

CFCs – Centros de Formação de Condutores

CFP – Conselho Federal de Psicologia

CRPs – Conselhos Regionais de Psicologia

CNH – Carteira Nacional de Habilitação

CONTRAN – Conselho Nacional de Trânsito

CTB – Código de Trânsito Brasileiro

DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito

DETRAN – Departamento de Trânsito

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................12

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................14

2.1 - Breve Histórico sobre a Psicologia do Trânsito..........................................14

2.2 – Atuação do Psicólogo no Trânsito................................................................18

2.3 - Princípios Gerais da Entrevista Psicológica ...............................................20

2.3.1 – Histórico........................................................................................................20

2.3.2 – Definições.....................................................................................................21

2.3.3 – Tipos de Entrevistas...................................................................................22

2..4 – A Entrevista Psicológica na Clínica do Trânsito.........................................25

3. MATERIAIS E MÉTODOS.....................................................................................28

3.1 – Ética..................................................................................................................28

3.2 – Tipos de Pesquisa...........................................................................................28

3.3 – Universo..........................................................................................................28

3.4 – Sujeito e Amostras..........................................................................................28

3.5 – Instrumento de Coleta de Dados...................................................................29

3.6 – Procedimentos para Coleta de Dados...........................................................29

3.7 – Procedimentos para Análise dos Dados.......................................................29

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................30

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................38

REFERÊNCIAS.........................................................................................................39

APÊNDICE.................................................................................................................41

12

1. INTRODUÇÃO

A Psicologia do Trânsito estuda os comportamentos humanos, suas causas

diretas ou indiretas que influenciam no sistema de trânsito, e utiliza seus métodos

científicos e de outras ciências para aprofundamento teórico dos processos

psíquicos aí implicados. Dentre os procedimentos científicos, encontram-se os testes

psicológicos e a entrevista psicológica.

Os testes psicológicos são instrumentos padronizados que irão avaliar a área

percepto-reacional, motora e personalidade e a Entrevista Psicológica de caráter

inicial onde se verifica as condições físicas e psíquicas do candidato a CNH, para

tal, é importante a definição de um modelo de entrevista para a coleta de

informação, onde se definam as áreas a serem pesquisadas e um protocolo

estruturado para avaliação. Esse procedimento indicará um resultado podendo

indicar ou contraindicar o candidato a uma direção segura.

Conforme resolução de trânsito o psicólogo é obrigado a realizar a entrevista

devolutiva, apresentando de forma clara e objetiva, a todos os candidatos, o

resultado de sua avaliação psicológica.

A definição do tema de pesquisar sobre a eficácia da entrevista psicológica

está relacionada a necessidade de uma reflexão maior acerca da utilização da

entrevista psicológica como instrumento utilizado dentre outros, no cotidiano da

avaliação psicológica para candidatos à Carteira Nacional da Habilitação.

A entrevista é um instrumento fundamental do método clínico e é, portanto,

uma técnica de investigação científica em Psicologia.

A entrevista é um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado,

na qual se utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o

objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos

(indivíduo, casal, família, rede social), em um processo que visa fazer

recomendações, encaminhamentos, ou propor algum tipo de intervenção em

benefício das pessoas entrevistadas.

É por meio da entrevista que se permite uma investigação da conduta e da

personalidade da pessoa entrevistada e proporciona ao psicólogo exercer o papel de

investigador, permeando essa conduta de forma ética, exigindo atitudes baseadas

na ciência e nas necessidades práticas.

13

Neste sentido, é necessário que os profissionais de psicologia tenha

competência quanto a aplicação dos instrumentos autorizados pelo Conselho

Federal e Psicologia - CFP e quanto a utilização da técnica da entrevista. É

importante que esses profissionais sejam qualificados e treinados quanto a em teoria

e a prática na utilização desses procedimentos.

14

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 - Breve Histórico sobre a Psicologia do Trânsito

A Psicologia do Trânsito tem por objeto o comportamento dos cidadãos que

participam do trânsito. Ela procura entender esse comportamento pela observação e

experimentação, do inter-relacionamento com outras ciências que estudam o trânsito

e ajudar, por meio de métodos científicos e didáticos, na formação de

comportamentos mais seguros e condizentes com o exercício de uma perfeita

cidadania. (ROZESTRATEN, 2003).

A psicologia do trânsito surge em 1910, com Hugo Munsterberg, o qual foi o

primeiro psicólogo a submeter os motoristas dos bondes de Nova York a realização

de uma bateria de testes de habilidades e de inteligência. Sua aplicação teve o

objetivo de reduzir os acidentes, sendo testados a capacidade para o desempenho

intelectual, motor, reacional e emocional.

No Brasil a primeira notícia de automóvel ocorreu em 1876, sendo que em 1897 foi

registrado o primeiro acidente de carro no país causado por José do Patrocínio

tendo como passageiro o Poeta Olavo Bilac. (LEMES, 2003).

No final do século XVIII, no Brasil, a locomoção por bondes e trens foi

lentamente substituída pelo uso de automóveis, isso ocorre, em função do

investimento na industria automobilística e política urbana.

Em 1913, no Brasil, inicia o processo da Avaliação Psicológica para

motoristas com o trabalho do engenheiro Roberto Mangue na seleção e orientação

de ferroviários, na cidade de São Paulo.

Em 1947, no Rio de Janeiro a Fundação Getulio Vargas cria o Instituto de

Seleção e Orientação Profissional – ISOP, que tinha em sua coordenação o

Professor Emílio Mira e López, autor do Psicodiagnóstico Miocinético – PMK, e

desenvolvia atividades direcionadas a prevenção de acidentes na profissão de

motoristas. Isso impulsionou o Departamento de Trânsito – DETRAN – do Rio de

Janeiro, no ano de 1951, a contratar psicólogos para estudar o comportamento dos

condutores, utilizando a aplicação de testes psicológicos, objetivando diminuir os

acidentes de trânsito.

Esse movimento de discussão sobre a Psicologia, o Trânsito e a utilização dos

processos avaliativos, contribuiu para que em 08 de junho de 1953, o Conselho

15

Nacional de Trânsito tornasse obrigatório o exame psicotécnico, assim chamado na

época, para todos os candidatos que desejavam assumir a profissão de motoristas.

O uso da palavra “psicotécnico”, no sentido em que foi difundida entre os países de língua latina e na Europa, diminuiu progressivamente entre os psicólogos, especialmente nas investigações para verificar aptidões e prognosticar eficiência no trabalho, seja em orientação ou seleção profissional. A excessiva preocupação com traços, aptidões, “habilidades” específicas é substituída aos poucos por uma ênfase nos múltiplos fatores que concorrem na avaliação da personalidade”.(SANTOS, 1980).

A atuação do DETRAN/MG teve importante papel na consolidação da

psicologia do trânsito, sendo aprovada em 09 de fevereiro de 1962 pelo CONTRAN,

através da Resolução 353/62, a extensão do exame psicológico a todos os

candidatos para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação. É importante

ressaltar que neste mesmo ano a profissão do psicólogo foi regulamentada no Brasil

através da Lei 4.119 de 27 de agosto de 1962. E ainda, através da Lei 5766 de 1974

cria-se o Conselho Federal de Psicologia e os Conselhos Regionais de Psicologia.

Foi na década de 80 que se intensificaram as discussões sobre a avaliação

psicológica e o trânsito, onde ocorreram vários congressos nacionais e neles

começaram a surgir duras críticas sobre a avaliação psicológica para aquisição da

CNH. Com isso, vários teóricos passaram a apresentar propostas na busca de

solucionar as dificuldades. Em 1986, José Sollero Neto apresenta em publicação da

revista Psicologia: Ciência e Profissão, modificações na legislação do trânsito,

propondo especificar os processos psíquicos elementares do comportamento do

motorista e sugerindo os exames complementares, assim como a preparação

adequada dos profissionais e a fiscalização desse trabalho. (RUENDA, 2011).

Em 1988, O Conselho Federal de Psicologia – CFP, estabeleceu uma

comissão de psicólogos para obter dados mais precisos, relacionados ao exame

psicológico para motoristas e apresentar ao CONTRAN uma proposta de

reformulação normativa para aquela que estava vigente na época. Esta comissão

era composta por Reinier Rozestraten, Efraim Rojas-Boccalandro e Augusto Della

Coleta.

No dia 23 de setembro de 1997, foi aprovada a Lei 9.503 que instituiu o

Código de Transito Brasileiro que estabelece diretrizes para a engenharia de tráfego

e normas de condutas, infrações e penalidades aos usuários desse sistema viário,

bem como, a obrigatoriedade da avaliação psicológica. No ano seguinte o

16

Presidente da República veta o inciso II artigo 147 que trata da obrigatoriedade da

realização da avaliação psicológica aos candidatos a carteira nacional de habilitação

e aos condutores profissionais, tendo como argumento que a referida avaliação não

tinha objetividade, ficando a critério do juízo subjetivo do psicólogo. (SILVA, 2000)

Com isso surge todo um movimento liderado pela categoria com o intuito de

derrubar o veto presidencial, fortalecendo a avaliação psicológica, e em 19 de

novembro de 1998 o CONTRAN, institui a Resolução nº 80 que dispunha sobre os

exames de aptidão física e mental e os exames de avaliação psicologia que passa a

ter quesitos para serem avaliados, que são: Tomada de Informação, Processamento

de Informação, Tomada de Decisão, Comportamento e auto-avaliação do

Comportamento e Traço de Personalidade (CONTRAN, 1998).

Posteriormente, a resolução 168/2004 (CONTRAN, 2004) que estabelece

normas e procedimentos para a formação de condutores de veículos automotores e

elétricos, a realização dos exames, a expedição de documentos de habilitação, os

cursos de formação, especializados, de reciclagem e dá outras providências; e mais

recentemente a resolução 267/2008, que dispõe sobre o exame de aptidão física e

mental, a avaliação psicológica e o credenciamento das entidades públicas e

privadas de que tratam o art. 147, I e §§ 1º a 4º e o art. 148 do Código de Trânsito

Brasileiro. Em 01 de julho de 2008 estabelece a resolução 287 que altera a

Resolução nº 267, de 15 de fevereiro de 2008, do CONTRAN, e dispõe sobre o

exame de aptidão física e mental, a avaliação psicológica e o credenciamento das

entidades públicas e privadas de que tratam o art. 147, I e §§ 1º e 4º e o art. 148 do

Código de Trânsito Brasileiro - CTB.

Diante a cada resolução instituída pelo CONTRAN, O Conselho Federal e

Psicologia – CFP acompanha esse processo publicando resoluções que respaldem

o trabalho do Psicólogo no Trânsito. Neste sentido, em 19/12/2002 o CFP

estabelece a resolução nº 16/2002 que dispõe acerca do trabalho do psicólogo na

avaliação psicológica de candidatos à carteira nacional de habilitação e aos

condutores de veículos automotores, normatizando assim a qualificação de

procedimentos relacionados a prática de avaliação psicológica devendo ser

realizados em espaços exclusivos e adequados para esse procedimento, não

podendo haver nenhum tipo de vínculo com os Centros de Formação de Condutores

(CFCs), cumprindo com isso, o novo Código de Trânsito Brasileiro - CTB. (CFP,

2002).

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Tendo em vista subsidiar o psicólogo na produção qualificada de documentos

escritos decorrentes da avaliação psicológica, o CFP institui através da resolução

nº007/2003, o Manual de Elaboração de documentos escritos produzidos pelo

psicólogo, decorrente de avaliação psicológica e revoga a resolução 17/2002. O

referido Manual dispõe sobre os seguintes itens: Princípios Norteadores,

Modalidades de Documentos, Conceito/Finalidade/Estrutura, Validades dos

Documentos e Guarda dos Documentos. (CFP, 2003).

É importante ressaltar que no Capítulo II da resolução do CFP nº 003/2007

que institui a consolidação das resoluções do CFP, trata sobre a avaliação

Psicológica para a CNH e dá competências aos Conselhos Regionais de Psicologia

– CRPs, para fiscalizar a atuação dos psicólogos que atuam com a avaliação

psicológica no contexto do trânsito, bem como dá outras providências, assim

fortalece a qualidade do trabalho dos profissionais da psicologia, bem como os

conselhos regionais.

No ano de 2009 o CFP, através da resolução nº 007/2009, revoga a resolução

nº 12/2000 e institui as Normas e Procedimentos para Avaliação Psicológica no

Contexto do Trânsito, e trata dos seguintes itens: Conceito de Avaliação Psicológica;

Habilidades Mínimas do Candidato à CNH e dos Condutores de Veículos

Automotores; Instrumentos de Avaliação Psicológica; Condições de Aplicação dos

Testes; Mensuração e Avaliação; Do Resultado da Avaliação Psicológica. Esta

resolução trata ainda de um Roteiro de Apoio para a Entrevista Psicológica e um

texto sobre referência de percentil nos anexos I e II. (CFP, 2009).

Em Nota Técnica publicada pelo CFP nº 001/2011, é detalhado o conceito de

Atenção e acrescenta-se a necessidade de que o psicólogo ao realizar a avaliação

psicológica no contexto do trânsito seja aferido no mínimo três tipos de atenção.

Vale destacar que ao longo de décadas de pesquisa, diferentes nomenclaturas foram propostas para se referir ao constructo da atenção, sendo verificada a existência dos conceitos de atenção dividida, concentrada, sustentada, alternada, difusa, vigilância, distribuída, voluntária, dentre outras. Porém, cada nomenclatura se baseia na operacionalização do tipo de atenção que se pretende mensurar. Nesse sentido, cabe aos autores dos manuais de teste informar o tipo de atenção que será mensurado por um ou outro teste psicológico, sendo também necessário que o psicólogo que escolher um ou outro teste, tenha clareza sobre a operacionalização e definição do tipo de atenção no teste psicológico utilizado. (CFP, 2011).

18

Em 19 de maio de 2011 o CFP publica a resolução nº 009/2011que altera o

texto do anexo II da resolução nº 07/2009, sobre os referenciais de interpretação dos

testes aplicados no contexto do trânsito, recomenda-se então que sejam utilizadas

as normas específicas e/ou gerais dos instrumentos, e que sejam seguidas as

orientações previstas nos respectivos Manuais para análises dos dados

encontrados. (CFP, 2011).

O novo Código de Trânsito Brasileiro e as resoluções publicadas conferem ao

trabalho do psicólogo, seriedade, compromisso e responsabilidade. Com isso, no

momento atual faz-se necessário o aprofundamento sobre a avaliação psicológica

na área do trânsito em consonância às discussões sobre mobilidade humana e

urbana e as políticas públicas implementadas.

2.2 – Atuação do Psicólogo no Trânsito

A avaliação psicológica é um procedimento que visa avaliar, através de

instrumentos previamente validados para uma determinada função, os diversos

processos psicológicos que compõe o indivíduo, sendo o psicólogo o único

profissional habilitado por lei para exercer esta função.

A avaliação psicológica é uma função privativa do psicólogo, assegurada pela Lei N.º 4.119 de 27/08/62, que pretende investigar aspectos da personalidade de determinado sujeito no seu respectivo contexto de vida, segundo a queixa apresentada e suas específicas características. Entendida como um processo no qual o psicólogo pode ou não utilizar testes, inclui o Psicodiagnóstico, este sim, definido como um procedimento científico que, necessariamente, utiliza testes psicológicos. Esta técnica visa abarcar os aspectos passados, presentes (psicodiagnóstico) e futuros (prognóstico) da personalidade avaliada, por meio de métodos e técnicas psicológicas reconhecidas. (AMENDOLA, 2004, p26)

A Psicologia do Trânsito não se limita ao Exame Psicológico de motorista,

pois toda participação no trânsito é um comportamento, portanto, a psicologia do

trânsito estuda de forma científica a mobilidade humana e urbana quanto ao

comportamento dos usuários, construtores, fiscais e mantenedores das vias públicas

e em geral todos os comportamentos relacionados com o trânsito.

(ROZESTRATEN,1988). E, durante algum tempo o trabalho do Psicólogo do

Trânsito se resumia a aplicação de testes psicológicos, sem muita fundamentação

teórico-científica “onde o psicólogo deveria fazer a seleção de motoristas e de

19

candidatos a motoristas, antes de ter em mãos resultados de estudos sobre os

processos psicológicos envolvidos no ato de dirigir e sequer sem ter submetido os

testes a estudos críticos sobre sua validade e fidedignidade para a seleção de

motorista”.

Com o veto do presidente da república (Fernando Henrique Cardoso) no novo

código de trânsito, suprimindo a avaliação psicológica para os motoristas e

candidatos a motoristas, houve uma grande mobilização dos profissionais da

psicologia o que culminou, dentre tantas outras ações, posturas e resoluções, com a

criação e institucionalização do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos –

SATEPSI - que foi criado no ano de 2003 para avaliar os testes psicológicos

comercializados no Brasil, a fim de garantir a qualidade desses instrumentos. O

psicólogo que utiliza testes psicológicos deverá estar atento para o SATEPSI,

acompanhando as atualizações com frequência, lembrando que é considerada falta

de ética o emprego de instrumento com parecer desfavorável pelo CFP.

Atualmente há uma preocupação dos psicólogos, através de suas

organizações, na busca de garantir uma qualidade dos serviços oferecidos à

sociedade, pautados na cientificidade, fidedignidade e rigorosidade. No entanto,

existe necessidade de se pensar a psicologia do trânsito para além dos seus

instrumentos, buscando uma integralização as diversas áreas e conhecimentos da

psicologia, pois quase todos os campos da psicologia oferecem elementos que

podem ser aproveitado na solução de problemas do comportamento no trânsito.

(ROZESTRATEN, 1988).

Vale ressaltar que cabe a cada profissional desenvolver um trabalho pautado

na competência técnica e na ética profissional em parceria com outros psicólogos e

pesquisadores na busca da qualificação de seu trabalho tendo em vista a psicologia

ciência e profissão.

Observamos que dois aspectos importantes contribuíram na qualificação do

trabalho do psicólogo do trânsito: o exercício da profissão passou a ser realizada

somente por psicólogos que possuíssem curso de capacitação específico para a

função de perito examinador de trânsito com carga horária mínima de 120

horas/aula, e atualmente, a exigência de título de especialista/especialização em

Psicologia do Trânsito regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia.

Este cenário tem possibilitado ao psicólogo um aprofundamento nos estudos

quanto aos procedimentos e instrumentos utilizados na avaliação psicológica no

20

contexto do trânsito, bem como as questões relacionadas à segurança no trânsito, a

capacidade do candidato a motorista em lidar de forma adaptativa ao estresse do

seu cotidiano e a possibilidade de manter sua saúde física e mental, e ainda, tem

buscado preparar profissionais que atuem, de forma interdisciplinar, com pesquisas,

projetos e ações que fortaleçam princípios éticos que norteiem o processo de

Avaliação Psicológica e a construção de relações humanas no trânsito.

2.3 - Princípios Gerais da Entrevista Psicológica

2.3.1 – Histórico

Historicamente, a Entrevista Psicológica utilizava a técnica desenvolvida no

modelo médico, que tinha como objetivo identificar síndromes e doenças

específicas, dando ênfase ao diagnóstico, ou seja, identificava patologias e definia

os aspectos terapêuticos. Com a psicanálise, em Freud, passa-se a dar ênfase a

investigação dos processos psicológicos, através da técnica denominada associação

livre, que é a base da teoria psicanalítica, que consistia em solicitar ao paciente

seguir as sugestões do terapeuta, falando tudo o lhe viesse ao pensamento, sem

omitir nada mesmo que fosse doloroso ou vergonhoso.

Já nos anos 50, com a técnica Análise Associativa, criada por Deutsch e

Murphy, considerava-se importante registrar não somente o que o paciente dizia,

mas também, em fornecer informações sobre o mesmo, desviando-se assim o foco

sobre o comportamento psicopatológico para o comportamento dinâmico. (SILVA,

2007)

É importante ressaltar que existem diferenças entre a entrevista psiquiátrica e

a entrevista psicológica, porém elas se completam,

_ O psiquiatra baseia-se em elementos clínicos aparentes para estabelecer um diagnostico, referenciando-o seguidamente a um sistema nosográfico. O psicólogo, por seu lado, tenta antes compreender o funcionamento psicológico de um indivíduo, tentando situar as condutas observadas num contexto (historia pessoal e familiar do sujeito, elementos de personalidade, modalidades de relacionamento com o meio, representações interiores); aqui a referência é o próprio sujeito; _ O psiquiatra inscreve a entrevista clínica num procedimento terapêutico, enquanto o procedimento do psicólogo não é terapêutico no sentido médico do termo (ausência de prescrições); ela tem antes de mais um cariz de ajuda, de aconselhamento e de intervenção psicológica, que é suposto levar a modificações positivas no indivíduo em sofrimento. (OLIVEIRA, p3,2005).

21

Observa-se que o psicólogo não costuma seguir uma única orientação

metodológica, mas tende aliar enfoques qualitativos e quantitativos e, assim,

consegue testar, até certo ponto, a consistência e a fidelidade dos subsídios que

suas estratégias lhe fornecem, para chegar a inferências com grau razoável de

certeza. (CUNHA, 2000).

Numa perspectiva clínica, a avaliação que é feita comumente é chamada de

psicodiagnóstico, por que procura avaliar forças e fraquezas no funcionamento

psicológico, com um foco na existência ou não de psicopatologia. (CUNHA, 2000).

Atualmente observamos que a entrevista não é uma técnica única, os

objetivos de cada tipo de entrevista determinam suas estratégias, seus alcances e

seus limites. A entrevista está na base de todas as psicoterapias. Portanto, é

essencial enfatizar a necessidade do psicólogo estar a tento para as suas próprias

condições psicológicas, para o uso de seus recursos e para a manifestação do

paciente, percebendo a qualidade do vinculo que se cria e levando em conta todos

esses aspectos para o entendimento do caso. (CUNHA 2000).

2.3.2 – Definições

A Entrevista Psicológica é uma técnica de investigação científica da

Psicologia, e que faz parte do método clinico com instrumento fundamental na

relação entrevistado e entrevistador, pois permite perceber as representações mais

pessoais dos sujeitos, como sua história, seus conflitos, seus sonhos, suas

fantasmas, enfim fatos e acontecimentos vividos.

Conforme resolução do CFP, 007/2009, “a entrevista psicológica é uma conversação dirigida a um propósito definido de avaliação. Sua função básica é prover o avaliador de subsídios técnicos acerca da conduta do candidato, completando os dados obtidos pelos demais instrumentos utilizados”. Neste sentido, a entrevista psicológica é efetuada pelos psicólogos no exercício de suas atividades e possibilita formular um julgamento, uma orientação nos diversos contextos da avaliação psicológica.

A entrevista clínica é um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais relacionais ou sistêmicos, em um processo que visa a fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas. (TAVARES, p45, 2000).

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É importante destacar que realizar uma entrevista psicológica não é

meramente uma conversa, ou um contato face-a-face, ou uma coleta de dados,

porém é um instrumento fundamental que tem procedimentos próprios sendo de

fundamental importância que o profissional tenha conhecimentos dessa técnica, pois

o entrevistado espera encontrar mais do que um simpático ouvinte. Bleger (1960)

define a entrevista psicológica como sendo um campo de trabalho no qual se investiga a

conduta e a personalidade de seres humanos.

Com isso permite ao profissional acesso amplo e profundo ao outro, a seu

modo de se estruturar e de se relacionar, mais de que qualquer outro método de

coleta de informação. (TAVARES, 2000).

Na entrevista, o psicólogo deve saber observar, escutar, entender e no

momento oportuno dar a interpretação do conteúdo latente no entrevistado. A maior

parte das informações obtidas na entrevista psicológica baseia-se no relato do

entrevistado, juntamente com a observação do psicólogo.

O profissional deve permitir-se flexibilidade, sem, no entanto, jamais mostrar-

se displicente, devendo buscar máxima rigorosidade, sem nunca ser rígido e

dogmático, sabendo ouvir, suportar a ansiedade, a expectativa e a frustração do

entrevistado. (BASTOS, 2000). Portanto cabe ao psicólogo exercer o papel de

investigador e de profissional, pautado numa conduta ética, baseado na ciência,

interpretando e avaliando os fenômenos inerentes aos comportamentos humanos.

2.3.3 – Tipos de Entrevistas

Descrever sobre os tipos de entrevistas requer uma análise ampla

considerando vários aspectos classificatórios, neste sentido, será desenvolvido aqui

considerando dois eixos: aquelas quanto forma e quanto aos objetivos.

Quanto a forma, as entrevistas podem ser divididas em estruturadas,

semiestruturadas e de livre estruturação. Nas entrevistas estruturadas as perguntas

são geralmente estruturadas e a sequencia da aplicação da entrevista são pré-

determinadas. É utilizada na investigação de contextos escolares, laborais e clínicos.

Segundo Tavares (2000), sua utilização raramente considera as

necessidades ou demandas do sujeito avaliado, usualmente ela se destina ao

levantamento de informações definidas às necessidades de um projeto.

23

Nas entrevistas semiestruturadas o entrevistador trabalha com uma série de

perguntas abertas pré-estabelecidas ou com um esquema definido, sendo que no

decorrer da entrevista pode-se incluir outros aspectos que se considere importantes.

Para Tavares (2000), as entrevistas semiestruturadas são assim

denominadas por que,

O entrevistador tem clareza dos seus objetivos, de que tipo de informação é necessária para atingi-los, de como essa informação deve ser obtida (perguntas padronizadas ou sugeridas), quando ou em que sequencia , em que condições devem ser investigadas (relevância) e como deve ser considerada (utilização de critérios de avaliação). (TAVARES, 2000, p49)

As entrevistas semiestruturadas são bastante utilizadas nas clínicas sociais,

na saúde, na área hospitalar, dentre outros, onde é necessário a padronização de

procedimentos e fidedignidade de informações para obtenção de registro de dados

gerando com isso, banco de dados.

Nas entrevistas de livre estruturação o entrevistador desenvolve suas

atividades sem um esquema pré-definido e tem total liberdade para explorar as

áreas que considere mais importantes. Cabe ao entrevistador ir se adaptando as

necessidades do entrevistado. É importante ressaltar que não significa que não haja

um roteiro, uma estrutura, pois mesmo que o entrevistador não a reconheça

explicitamente, é necessário que na entrevista, se conheça sua metas, o papel de

quem a conduz, e os procedimentos pelos quais é possível atingir seus objetivos.

(TAVARES, 2000).

A classificação das entrevistas quanto aos seus objetivos deverá ser

observada a partir das variações de abordagens, de problemas apresentados e de

clientelas atendidas. Para Tavares (2000) cada modalidade de entrevista define

seus objetivos instrumentais, e estes delimitam o alcance e as limitações da técnica.

Sendo que a finalidade maior de uma entrevista é sempre a de descrever e avaliar

para oferecer alguma forma de retorno. Portanto, quanto aos objetivos pode-se

encontrar: Triagem, Anamnese, Diagnóstica, Sistêmica e de Devolução.

A Entrevista de Triagem tem por objetivo obter informações suficientes do

entrevistado e realizar um encaminhamento para atendimento conforme

especialidade e competência.

A Entrevista através da Anamnese, também conhecida por Diagnóstica, tem

por objetivo realizar um levantamento detalhado da história de desenvolvimento da

24

pessoa. Busca descrever e compreender o fenômeno em sua complexidade para

sugerir modos de intervenção terapêutica. (Tavares, 2000). Algumas vezes a

entrevista diagnóstica é parte de um processo mais amplo de avaliação clínica que

inclui testagem psicológica.

A Entrevista Sistêmica objetiva avaliar a estrutura e história relacional familiar.

As técnicas para esse trabalho são variadas e dinamizadas conforme concepção

teórica do entrevistador.

A Entrevista de Devolução objetiva comunicar ao entrevistado o resultado da

avaliação. Sendo importante permitir ao entrevistado expressar seus pensamentos e

sentimentos em relações as conclusões e recomendações do avaliador.

Na entrevista para que se tenha um resultado satisfatório, ou seja, a

aceitação das recomendações é necessário que o avaliador apresente

competências pessoais e sua responsabilidade profissional no processo da

entrevista. Bastos (2000) acrescenta que,

Cada entrevistador terá seu estilo pessoal de entrevista, no entanto deve também obedecer a certas regras básicas, como procurar ser discreto, mas sempre sincero, falar claramente sobre os sentimentos que transparecerem, sem subterfúgio e nem eufemismos inúteis. Jamais deve prejulgar, nem conduzir a entrevista de modo a influenciar o entrevistado ou induzir respostas. (BASTOS, 2000, p77)

Para encaminhamento de uma entrevista adequada, Tavares (2000), nos sugere:

Estar presente, no sentido de estar inteiramente disponível para o outro naquele momento, e poder ouvi-lo sem a interferência de questões pessoais; ajudar o entrevistado a se sentir à vontade e a desenvolver uma aliança de trabalho; facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa a ser encaminhada ou a buscar ajuda; buscar esclarecimento para colocações vagas ou incompletas; gentilmente, confrontar esquivas e contradições; tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista; reconhecer defesas e modos de estruturação do sujeito, especialmente quando elas atuam diretamente na relação com o entrevistador (transferência); compreender seus processos contratransferenciais; assumir a iniciativa em momentos de impasse; dominar as técnicas que utiliza. (TAVARES,2000, p52)

Neste sentido, é relevante ressaltar que uma prática ética depende não

somente do conhecimento científico do profissional, mas também dos valores

pessoais como respeito, sensibilidade. É necessário aprender a ser empático, saber

lidar com a própria subjetividade e com a subjetividade do outro. É importante saber

lidar com as complexidades das situações encontradas durante a entrevista.

25

2.4 – A Entrevista Psicológica na Clínica do Trânsito

A Avaliação Psicológica no contexto do Trânsito é um processo técnico-

científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos

fenômenos psicológicos dos indivíduos. É um processo de conhecimento do outro

de forma científica e especializada. Dentre os instrumentos psicológicos utilizados

para a avaliação psicológica encontram-se os testes, entrevistas, questionários e

observações. Para os candidatos a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) a

entrevista individual e os testes psicológicos são obrigatórios para a realização da

avaliação psicológica.

Os testes psicológicos podem ser conceituados como sendo uma medida

objetiva e padronizada de uma amostra do comportamento do sujeito, tendo a

função fundamental de mensurar diferenças entre indivíduos, ou entre as reações do

mesmo indivíduo em diferentes momentos. (CFP, 2009).

A fim de ampliar, organizar e sistematizar as observações colhidas pelos

testes psicológicos, a avaliação psicológica tem, como uma de suas principais

ferramentas, a entrevista psicológica que conforme resolução do CFP nº 007/2009 é

obrigatória para candidatos à CNH e condutores de veículos.

Na entrevista psicológica no contexto do trânsito geralmente é utilizado um

modelo semiestrutrado para a coleta de informações, porém com um protocolo

estruturado para a avaliação que permitirá uma padronização deste instrumento,

conforme institui a resolução nº 007/2007-CFP que apresenta os seguintes

indicadores como informação básica: 1. Identificação pessoal; 2. Motivo da avaliação

psicológica; 3. Histórico escolar e profissional; 4. Histórico familiar; 5. Indicadores de

Saúde / doença; 6. Aspectos da conduta social. Após a entrevista inicial, o psicólogo

apresentará questionário, sem identificação do candidato, relativo aos seguintes

itens: Envolvimento em infrações e acidentes de trânsito; Opiniões sobre cidadania e

trânsito; Sugestões para redução de acidentes de trânsito. Conforme resolução do

CONTRAN nº 267/2008, mediante a essas informações e sendo solicitado a

autorização ao candidato, o psicólogo deverá encaminha o questionário ao órgão ou

entidade executiva de trânsito ou do Distrito Federal.

A entrevista psicológica, não deve ser uma simples conversa ou a realização

de um inquérito de “perguntas e respostas”, porém, um momento para conhecimento

26

e compreensão do sujeito, portanto a sequencia dos itens acima não deverão seguir

necessariamente a sequencia citada acima.

O entrevistador deve fazer perguntas breves que assinalem a sua presença

efetiva e mostrem ao entrevistado que ele está atento e tranquilo para ouvi-lo, deve

evitar perguntas muito direcionadas, fechadas e complexas que dificultem o

entendimento do entrevistado. (DALGALARRONDO, 2008).

No decorrer da entrevista é importante focar em alguns aspectos relevantes:

Observar a aparência geral do sujeito, fadiga, cansaço, verificar qual a primeira

impressão que desperta, e se modifica ao longo da entrevista; outro aspecto

importante é quanto ao comportamento e conduta durante todo o processo da

avaliação, destacando as atitudes, motivação, execução de comandos.

Uma categoria observada e explorada no decorrer da entrevista é o estado de

consciência, tendo a atenção e a orientação como funções psíquicas ligadas ao

estado de consciência, e deverá ser observado na atenção o estado de vigilância e

tenacidade e na orientação, que é um estado psíquico o qual o sujeito tem plena

consciência de cada momento de sua vida e da situação real em que se encontra.

Para Bastos, 2000, encontram-se dois pontos básicos de referência, que são: a

orientação alopsíquica que está ligada as noções de espaço e tempo (tempo do

mundo);e a orientação autopsíquica que está ligada a pessoa (o tempo do eu) ao

conhecimento de si próprio.

O aspecto emocional é outro fator a ser explorada, através da observação da

ansiedade, da instabilidade, irritabilidade, autoconfiança exagerada, insegurança.

Observar ainda a fluência verbal e a partir dela a linguagem e o conteúdo do

pensamento, a qualidade da associação de ideias e a capacidade de abstração. É

importante ainda, observar o estado motor, através da gesticulação, mímica,

destreza, o que proporciona identificar a excitabilidade que geralmente se observa

em termos de uma frequência maior do comportamento motor. (BASTOS, 2000).

Na avaliação Psicológica no contexto do trânsito além da entrevista

inicial, de acordo com a resolução do CFP nº 007/2009, “Fica o psicólogo obrigado a

realizar a entrevista devolutiva, apresentando de forma clara e objetiva, a todos os

candidatos, o resultado de sua avaliação psicológica”, orientando aos Aptos, Inaptos

Temporários e Inaptos os procedimentos que poderão auxiliar na sua adequação

futura. Aos aptos, quando apresentarem desempenhos na avaliação psicológica

condizentes para a condução de veículo automotor na categoria pretendida; Aos

27

Inaptos Temporários, quando não apresentarem desempenho condizente para a

condução de veículo automotor, porém passível de adequação e aos Inaptos

quando não apresentarem desempenho condizente para a condução de veículo

automotor.

Neste sentido é importante por parte do entrevistador, demonstrar serenidade

e firmeza diante de um entrevistado agressivo e hostil ao receber um resultado que

não satisfaça o seu desejo, resultando em uma profunda frustração. Deve-se

responder ao entrevistado que eleva a voz e se exalta sempre em voz baixa e

mostrando que está sendo inadequado e hostil. (DALGALARRONDO, 2008). O

profissional deve criar um contexto esclarecedor do resultado da avaliação

psicológica do sujeito, apresentando esse resultado de forma clara e objetiva.

28

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 – Ética

A presente pesquisa segue as exigências éticas e científicas fundamentais

conforme determinação Conselho Nacional de Saúde – CNS nº 196/96 do Decreto

nº 93933 de 14 de janeiro de 1987 quel determina as diretrizes e normas

regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Os participantes foram

informados sobre os objetivos da pesquisa e que não incorriam nenhum risco e que

suas identidades seguem preservadas. Todos assinaram o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE).

3.2 – Tipo de Pesquisa

Neste estudo buscou-se tratar acerca da eficácia da entrevista psicológica

como um dos instrumentos utilizados no contexto do trânsito. Utilizou-se uma

abordagem metodológica quantitativa o qual permitirá traduzir em dados numéricos

a opiniões dos sujeitos entrevistados para serem classificadas e analisadas.

3.3 – Universo

A pesquisa foi realizada no município de Belém do Estado do Pará em uma

Clínica de Avaliação Psicológica para o Trânsito com psicólogos peritos ou

especialistas em psicologia do trânsito, credenciados no DETRAN-Pará.

3.4 – Sujeito e Amostras

Participaram dessa pesquisa 07 psicólogos, sendo 02 especialistas em

psicologia do transito e 05 peritos em psicologia do transito de uma clínica de

avaliação psicológica para o trânsito, destes, todas do sexo feminino, com idade na

faixa etária entre 30 a 51 anos.

29

3.5 – Instrumentos de Coleta de Dados

Constituiu-se um instrumento estruturado, sendo um questionário com

perguntas objetivas que levaram a respostas semi-abertas composto por 06

perguntas, que abrange a caracterização dos sujeitos, cujas variáveis incorporadas

são idade, tempo de atuação como profissional do trânsito e questões acerca da

Entrevista Psicológica no contexto do Trânsito.

3.6 – Procedimentos para Coleta de Dados

Na oportunidade, o questionário foi entregue pessoalmente aos profissionais,

num total de 07 participantes, que concordaram participar da Pesquisa. Foram

respondidos 07 questionários.

3.7 – Procedimentos para Análise dos Dados

Os dados foram tabulados com auxílio de um software, EXCEL, para

tratamento estatístico, e, analisados considerando as falas dos sujeitos

entrevistados.

30

4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliação Psicológica é entendida como um “processo técnico-científico de

coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos

psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade,

utilizando-se para tanto de estratégias psicológicas- métodos, técnicas e

instrumentos”. (CFP, 2009). Os instrumentos de avaliação mais utilizados são os

testes psicológicos e as entrevistas psicológicas, incluindo outros instrumentos e

técnicas reconhecidas pela Psicologia.

Através dos dados apresentados no Gráfico 1, verifica-se que 57% dos

psicólogos eram profissionais que tinham 01 a 10 anos de atuação na avaliação

psicológica do trânsito, 14% já trabalhavam entre 11 a 20 anos e 29% deles acima

de 21 anos. Portanto, uma população bastante experiente, que dar uma maior

confiabilidade na expansão dos resultados para outras regiões, se for necessário.

Gráfico 01- Distribuição por tempo de atuação, em anos, dos profissionais

em avaliação psicológica para o trânsito

57%

14%

29% 01 - 10 anos

11 - 20 anos

acima de 21anos

Fonte: Dados da Pesquisa. 2012.

Quanto a faixa etária desta população pesquisada, gráfico 2, observou-se

que 29% se encontraram na faixa etária entre 30 a 40 aos e 71% acima de 41 anos.

Confirmando com o parágrafo anterior, por se tratar de profissionais experientes na

idade e no tempo de serviço..

31

Gráfico 02 Distribuição dos profissionais pesquisados,por idade.

71%

29%

30-40 anos

acima de 41 anos

Fonte: Dados da Pesquisa. 2012.

Quanto a prevalência do sexo feminino nesta área de atuação da psicologia

ficou bastante evidenciado, conforme demonstra os dados apresentados no gráfico 3

onde 100% eram do sexo feminino.

Gráfico 03 - Distribuição dos profissionais pesquisados, em porcentagem, por sexo.

100%

0%

FEMININO

MASCULINO

Fonte: Dados da Pesquisa. 2012.

Quanto a necessidade da entrevista no contexto do trânsito, apresentada no

gráfico 4, verifica-se que 100% dos psicólogos entrevistados responderam sim,

afirmando que a entrevista psicológica é necessária à avaliação psicológica no

contexto do trânsito apresentando a seguinte justificativa: - Complementação dos

testes aplicados; - Ajuda a compreender melhor o resultado dos testes; - Se pode

observar vários aspectos: conduta pensamento, linguagem, e outros;- Permite uma

formulação do parecer final do candidato;- Possibilita avaliar o candidato de uma

forma mais completa;- Proporciona uma compreensão mais abrangente do

candidato sobre a sua personalidade, habilidades e outras características

importantes para a avaliação no contexto do transito;- Possibilita observar o aspecto

familiar, escolar, saúde, social e outros;

32

Neste contexto, fica evidente a importância da entrevista psicológica no

processo da avaliação psicológica para candidatos a carteira nacional de habilitação,

estando de acordo com a resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 007/2009,

que estabelece que a entrevista psicológica faz parte da avaliação psicológica no

contexto do trânsito.

Gráfico 04 - Distribuição, em porcentagem, quanto a necessidade da entrevista psicológica

no contexto do trânsito.

100%

0%

SIM

NÃO

Fonte: Dados da Pesquisa. 2012.

No quesito apresentado sobre se a entrevista psicológica apresenta a

ineficácia no processo da avaliação psicológica, gráfico 5, verifica-se que dos

entrevistados 71% responderam que sim, há situações em que a entrevista

psicológica apresenta ineficácia; 29% responderam que não, ou seja, a entrevista

psicológica não apresenta ineficácia no contexto do trânsito. Conforme CFP ( 2000)

a entrevista está sujeita a interpretações subjetivas do examinador (valores,

estereótipos, preconceitos, etc.), portanto deve-se planejar sistematizar indicadores

objetivos de avaliação correspondentes ao perfil do examinado.

Para Trevisan (2011) a entrevista psicológica, mesmo que ainda sofrendo

críticas por seu caráter subjetivo, “vem fechar o ciclo de informações e percepção

que este profissional terá do indivíduo, fazendo-o juntar as partes para obter o todo”.

33

Gráfico 05 – A entrevista psicológica apresenta ineficácia no processo de avaliação

psicológica para o trânsito?

71%29%

SIM

NÃO

Fonte: Dados da Pesquisa. 2012.

No gráfico 6 observou-se a justificativa dos entrevistados que responderam

sim, que apresentaram os seguintes motivos:

- Quando o tempo da entrevista é curto (14%);

- Quando o candidato oculta seus comportamentos (14%);

- Quando o psicólogo não apresenta conhecimento da técnica da entrevista (44%);

- Quando não há estrutura física adequada para a entrevista (14%);

- Quando o profissional não reconhece a real importância da entrevista para o seu

trabalho (14%).

Gráfico 06 – Diferentes situações, em porcentagem, que a entrevista psicológica

apresenta ineficácia.

14%

14%

44%

14%

14%Tempo pequeno da entrevista.

Candidato oculta seu comportamento

Quando o profissional não apresenta conhecimentoda técnica da entrevista.Quando não há estrutura física adequada.

Quando o profissional não reconhece a importanciada entrevista psicológica no contxto do trânsito.

Fonte: Dados da Pesquisa. 2012.

E, para os profissionais que responderam não, conforme gráfico 7,

justificaram igualmente que:

34

- A entrevista deve ser bem estruturada e direcionada ao entrevistado, com isso

possibilita a obtenção de dados importantes para a avaliação (50%);

- Porque ela dá um suporte fidedigno da situação geral do candidato no contexto do

transito (50%).

Gráfico 07 – Diferentes situações, em porcentagem, que a entrevista psicológica não apresenta ineficácia

50%50%

Sendo bem estruturada e direcionada a entrevista não apresenta ineficácia

A Entrevista dá suporte fidedigno.

Fonte: Dados da Pesquisa. 2012.

Foi questionado aos entrevistados que dificuldades são encontradas durante

a entrevista psicológica? Dos entrevistados, 58% responderam que a falta de

domínio da técnica da entrevista psicológica por parte do profissional dificulta o

processo da entrevista psicológica. É importante ressaltar que a avaliação

psicológica objetiva coletar e interpretar informações psicológicas, resultantes de um

conjunto de procedimentos confiáveis que permitam ao psicólogo avaliar o

comportamento humano (CFP, 2007). Portanto, é necessário que o psicólogo

apresente uma formação/perfil de pesquisador na área da Psicologia do Trânsito

desenvolvendo uma avaliação criteriosa, conhecendo os fenômenos/processos

psicológicos envolvidos na atividade de conduzir veículos. ( SILVA, 2000). Neste

contexto, observa-se que 14% responderam que uma das dificuldades é saber se as

informações prestadas pelo candidato conferem com a realidade. Da mesma forma,

14% responderam que no contexto do transito o tempo para a realização da

entrevista psicológica é pequeno e 14% responderam que as dificuldades estão

relacionadas ao espaço inadequado para a entrevista (com barulho, calor, pouca

iluminação).

35

Gráfico 08 – Resultados, em porcentagem, das dificuldades encontradas na entrevista

psicológica, pelos profissionais da psicologia do trânsito.

14%

14%

58%

14%

Saber se as informações conferem com a realidade

Tempo é pequeno

Espaço inadequado

Falta de dominio da técnica da entrevista

Fonte: Dados da Pesquisa realizada pelo autor (2012)

De acordo com o gráfico 9 observou-se que 29% dos entrevistados,

responderam que um dos subsídios proporcionados pela entrevista psicológica é a

relação entre os dados obtidos nos testes aplicados e as informações relatadas na

entrevista, e/ou, é através da observação e da conversa se percebe as condições

psicológicas e físicas do candidato a CNH.

. Embora que a grande maioria, 42%, responderam que proporcionam dados

relacionados ao estado de consciência, emocional, social, familiar, saúde e outros

importantes para finalização de um resultado.

Conforme, CFP (2007), a avaliação psicológica requer profissionais de

psicologia que sejam competentes para a sua aplicação e avaliação, neste sentindo

deve seguir a normatização dos instrumentos, do tempo, do ambiente físico

adequado. É importante que esses profissionais sejam qualificados e treinados em

teoria e prática para esses objetivos.

36

Gráfico 09 - Relação, em porcentagem, dos subsídios técnicos proporcionados pela entrevista

psicológica no contexto do trânsito.

29%

42%

29% Relação entre os dadosobtidos nos testes aplicadose na entrevista.

Perceber o estado deconsciencia e o estadoemocional.

Se percebe as condiçõesfísicas e psicológicas

Fonte: Dados da Pesquisa. 2012.

Outra questão foi levantada acerca das sugestões apresentadas para a

entrevista psicológica, demonstrada no gráfico 10. Verifica-se que 11% dos

profissionais entrevistados sugeriram o uso de entrevista semi-estruturada. Sendo

que; 23%, responderam que é importante garantir a entrevista inicial e a entrevista

devolutiva ampliando o tempo de atendimento. E, percebe-se que 11% responderam

que é necessário uma maior conscientização do profissional e do entrevistado,

quanto a importância da entrevista psicológica no contexto do transito. Embora que;

22%, responderam ser necessário um maior preparo do psicólogo quanto a

utilização da entrevista psicológica. Por outro lado,; 11% responderam ser

importante realizar estudo de caso para pesquisa científica na área da entrevista

psicológica no contexto do trânsito, e; 22%- responderam que conselhos regionais

e o conselho federal de psicologia deveria ofertar cursos na área da avaliação

psicológica aos psicólogos.. Observou-se dois pontos em comum, um maior

conhecimento sobre a entrevista psicológica e a oferta de cursos formativos pelos

CRPs e CFP, aos psicólogos, percebe-se ainda uma fragilidade nos cursos de

formação inicial/graduação, deixando uma lacuna nesta área onde a ênfase ainda

está no ato da aplicação e correção dos testes, necessitando do aprofundamento

teórico, no considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos

no psiquismo do avaliando. Percebe-se isso quando é muito solicitada a oferta de

cursos pelos Conselhos.

37

Desse modo, é importante ressaltar que o psicólogo acompanhe as

informações através de pesquisas e publicações científicas sobre a psicologia e o

transito a fim de que se ofereçam melhores serviços a sociedade.

Gráfico 10 – Diferentes sugestões, em porcentagem, dos profissionais para a realização da

entrevista psicológica no contexto do trânsito.

11%

23%

22% 11%

22%

11%

Utilização de entrevistas semi-estruturadas.

Assegurar a entrevista inicial e a devolutiva com ampliação do tempo.

Maior conscientização do profissional e do entrevistado sobre a importancia da entrevista

Maior preparo do profissional sobre a técnica da entrevista

Realização de estudo de caso para pesquisa científica.

Oferta de cursos pelos CRP e CPF aos psicólogos.

Fonte: Dados da Pesquisa realizada pelo autor (2012)

38

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Os principais pontos apresentados nessa pesquisa dizem respeito a

entrevista psicológica como um dos recursos utilizados na avaliação psicológica no

contexto do transito. Verificou-se a sua importância no sentido de complementar os

dados coletados na utilização dos testes psicológicos aplicados. E é ainda na

entrevista psicológica que se percebe as condições físicas e psíquicas do sujeito

avaliado e se esclarece o procedimento da testagem.

Neste sentido, os dados demonstram que a entrevista psicológica além de

ser importante apresenta eficácia quando há conhecimento técnico e quando se

segue o processo criterioso e rigoroso das resoluções do CONTRAN e CFP, além

das normas específicas dos manuais dos instrumentos utilizados.

Observou-se ainda na pesquisa, a necessidade de um conhecimento maior

por parte do entrevistador, sobre a entrevista psicológica. Percebe-se ai a fragilidade

dos cursos formadores dos profissionais, no caso a graduação profissional, que não

aprofunda alguns temas tão importantes para a área da psicologia. Deixando com

isso, aos cursos de capacitação e hoje conforme nova regulamentação, o curso de

especialização em trânsito, a responsabilidade maior, tendo que aprofundar áreas

deixadas lacunas no aprendizado da graduação.

É essencial que os psicólogos reflitam sobre qual a função social do seu

trabalho na busca de um trânsito seguro e humano, desta forma o profissional entra

em consonância com a proposta da psicologia como ciência e profissão,

possibilitando ainda pensar no que falta no seu “fazer psicológico”. Sendo importante

considerar a diversidade, a multiplicidade histórica dos sujeitos que buscam a CNH.

Ressaltando ainda, articular políticas públicas nessa área buscando o diálogo entre

todos os envolvidos no contexto do trânsito.

No contexto geral, pode-se concluir que no Brasil, tem se investido pouco em

pesquisas na área do trânsito e os aspectos psicológicos e ainda não temos

subsídios mais concretos para a compreensão das infrações no transito e as

características psicológicas, por isso temos um grande caminho pela frente na busca

informações sobre um perfil para o condutor de veículos automotores, no sentido de

qualificar os procedimentos da avaliação psicológica no trânsito, garantindo a

eficácia dos instrumentos e técnicas utilizadas.

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REFERENCIAIS:

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40

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APÊNDICE

QUESTIONÁRIO

Levantamento de dados para a construção da Monografia do Curso de

Especialização em Psicologia do Trânsito. Sua Opinião é de grande relevância para

a Pesquisa. Obrigada!

1. Identificação:

Tempo de atuação na Psicologia do Trânsito: ________

Idade:_______ Sexo: ________

2. A Entrevista Psicológica é necessária no processo de Avaliação Psicológica para

a aquisição da CNH?

( ) Sim ( ) Não

Justifique:___________________________________________________________

3. Existem situações em que a Entrevista Psicológica apresenta ineficácia na

Psicologia do Trânsito?

( ) Sim ( ) Não

Justifique:___________________________________________________________

4.No processo da Entrevista Psicológica que dificuldades são encontradas?

___________________________________________________________________

5. Conforme Resolução Nº 267/2008 do CONTRAN, a Entrevista Psicológica faz

parte do processo avaliativo para candidatos a CNH. Quais os subsídios técnicos a

Entrevista Psicológica proporciona aos dados obtidos nos testes psicológicos

aplicados?

___________________________________________________________________

6. A partir de sua experiência profissional na Psicologia do Trânsito que sugestões

você apresentaria para a realização da Entrevista Psicológica?

___________________________________________________________________