52
Fundação Técnico Educacional Souza Marques Escola de Medicina Souza Marques PREVALÊNCIA DE SINAIS E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM ACADÊMICOS DE MEDICINA DO TERCEIRO ANO DA FUNDAÇÃO TÉCNICO EDUCACIONAL SOUZA MARQUES Aluísio Almeida Pinto Rio de Janeiro, 2008

Monografia Depressão

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Monografia Depressão

Fundação Técnico Educacional Souza Marques

Escola de Medicina Souza Marques

PREVALÊNCIA DE SINAIS E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM

ACADÊMICOS DE MEDICINA DO TERCEIRO ANO DA

FUNDAÇÃO TÉCNICO EDUCACIONAL SOUZA MARQUES

Aluísio Almeida Pinto

Rio de Janeiro, 2008

Page 2: Monografia Depressão

PREVALÊNCIA DE SINAIS E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM

ACADÊMICOS DE MEDICINA DO TERCEIRO ANO DA

FUNDAÇÃO TÉCNICO EDUCACIONAL SOUZA MARQUES

Monografia apresentada a Disciplina de

Tutoria da Escola de Medicina Souza

Marques, como parte dos requisitos

necessários para a aprovação nessa

disciplina.

Rio de Janeiro, 2008

Page 3: Monografia Depressão

FICHA CATALOGRÁFICA

P Pinto, Aluísio Almeida.

Prevalência de sinais e sintomas depressivos em

acadêmicos de medicina do terceiro ano da Fundação Técnico

Educacional Souza Marques / Aluísio Almeida Pinto. – 2008.

44 f.

Monografia (Iniciação Científica) – Escola de

Medicina Souza Marques, Rio de Janeiro, 2008.

Orientadora: Jemima Fuentes.

1. Estudantes de medicina – Psicologia. 2. Depressão.

3. Transtornos mentais. 4.Escola de Medicina Souza Marques.

I. Título

CDD 610.7

Page 4: Monografia Depressão

ORIENTADORA

Profª. Jemima Fuentes

Mestre em Morfologia e Professora Assistente da disciplina de Morfologia

Funcional da Escola de Medicina Souza Marques

Orientadora do Programa de Tutoria da Escola de Medicina Souza Marques

Monografia apresentada a Disciplina de

Tutoria da Escola de Medicina Souza

Marques, como parte dos requisitos

necessários para a aprovação nessa

disciplina.

Page 5: Monografia Depressão

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de monografia que é parte dos requisitos necessários para a

aprovação na disciplina de tutoria, aos meus Pais, Jorge Alves Pinto e Maria Gonçalves

de Almeida Pinto, aos meus irmãos, Rafael Almeida Pinto, Paula de Almeida Pinto e

Lígia Almeida Pinto, a todos meus primos, meus tios e aos meus avós Joaquim, Dalíce

e também em memória aos meus avós Manoel e Maria que estão torcendo pelo meu

sucesso por onde quer que estejam.

Àqueles meus verdadeiros amigos que me desejaram prosperidade em minha

caminhada e que não me abandonaram quando mais precisei.

Aos meus colegas de turma e em especial ao grupo da tutoria que manteve a

força através da união por todo este ano de encontro.

Aos professores que tiveram participação direta na elaboração deste trabalho:

Jemima Fuentes, Mauricio Peres e Bruno Pascale.

Page 6: Monografia Depressão

ii

AGRADECIMENTO

Primeiramente agradeço á Deus, pois sem a fé que tenho nele, eu nada seria!

Considerando esta monografia como resultado de uma caminhada que não

começou na Faculdade Souza Marques, agradecer pode não ser tarefa fácil, nem justa.

Para não correr o risco da injustiça, agradeço de antemão a todos que de alguma forma

passaram pela minha vida e contribuíram para a construção de quem sou hoje. E

agradeço, particularmente, a algumas pessoas pela contribuição direta na construção

deste trabalho:

Pessoas especiais como meus pais e meus irmãos foram de fundamental

importância para que eu conseguisse desenvolver cada mínimo detalhe da pesquisa,

souberam me consolar e incentivar na hora certa, me estimulando o suficiente para dar

um passo a mais na minha carreira acadêmica. Aos meus familiares, como um todo, que

não mediram esforços para me ajudar a chegar onde estou, em especial, a minha tia

Gisleide que se empenhou a montar o questionário utilizado como ferramenta para

pesquisa.

À professora Jemima Fuentes, pela discussão teórica na disciplina, avaliação que

subsidiou novas reflexões e construções em minha prática pedagógica. Por ter sido

companheira na orientação desta monografia, na realização dos trabalhos apresentados

a partir dela e nas recorrentes "discussões" que travávamos dentro e fora das salas de

aula. Pelo companheirismo que se construiu para além dos espaços da faculdade. Ao

professor Bruno Pascale Cammarota, pelo estímulo acadêmico e pela valorização

cultural que atribui ao processo pedagógico. Por me mostrar na prática que, nós alunos,

nos desenvolvemos mais e melhor quando somos valorizados.

Aos meus grandes amigos que estão distantes e os que encontrei na Faculdade,

pelo incentivo que me deram durante todo o trabalho, tanto nesta pesquisa quanto no

nosso cotidiano, ajudando indireta e diretamente. E também aos acadêmicos

pesquisados, pela atenção e contribuição para os resultados obtidos neste trabalho.

Page 7: Monografia Depressão

iii

ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................................... iv

LISTA DE FIGURAS E TABELAS ............................................................................ v

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 6

LITERATURA ...........................................................................................................10

MATERIAL E MÉTODOS .........................................................................................24

RESULTADOS ..........................................................................................................27

COMENTÁRIOS ........................................................................................................29

CONCLUSÕES ..........................................................................................................34

RESUMO ...................................................................................................................37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................40

ANEXOS ....................................................................................................................45

Page 8: Monografia Depressão

iv

LISTA DE ABREVIATURAS

ISRS - inibidores seletivos da recaptação de serotonina.

CID-10 - Classificação Internacional das Doenças.

DSM-IV - Manual Diagnóstivo e Estatístico de Transtornos Mentais.

Page 9: Monografia Depressão

v

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Tabela 1. Diferenciação dos tipos de depressão..............................................................11

Figura 1: Prevalência da Sintomatologia Depressiva entre Acadêmicos do Terceiro Ano

do Curso de Medicina da Fundação Técnico Educacional Souza Marques Através do

Inventário de Depressão de Gisleide...............................................................................26

Page 10: Monografia Depressão

6

INTRODUÇÃO

Page 11: Monografia Depressão

7

INTRODUÇÃO

Desde a antiguidade (500 a. C. – 100 d. C.) os gregos já partilhavam a idéia

moderna de que as doenças da mente estão conectadas de algum modo à disfunção

corporal. A prática médica grega era baseada na teoria dos quatro humores, que

considerava o temperamento como conseqüência dos quatro fluidos corporais: fleuma, bile

amarela, sangue e bile negra. A depressão foi por muito tempo ligada a um excesso de bile

negra, que é fria e seca. Entretanto, essa substância não foi encontrada até hoje no ser

humano. A teoria dos humores foi um marco na história, pois consistiu na substituição da

mitologia pela biologia e na adoção de um modelo de observação clínica. Hipócrates, no

século V antes de Cristo, já conhecia e definia a depressão com a denominação de

melancolia: “uma afecção sem febre, na qual o espírito triste permanece sem razão fixado

em uma mesma idéia, constantemente abatido [...]”22

.

A depressão, ainda denominada melancolia, era uma doença especialmente nociva,

uma vez que o desespero do melancólico sugeria não estar ele embebido de alegria ante o

conhecimento certo do amor e da misericórdia divinos. A melancolia era considerada um

afastamento de tudo o que era sagrado. Foi nessa época, século V, que a depressão foi

denominada por Cassiano apud Solomon como: O demônio do meio-dia. Segundo

Cassiano, outros pecados podem assolar a noite, mas esse, audacioso, consome dia e noite.

O tratamento para esses casos sem esperança era colocar o melancólico para fazer trabalhos

manuais e abandoná-lo, longe de todos22

.

Até 1960, quando a sua ocorrência na infância e na adolescência começou a ser

pesquisada, os transtornos de humor eram compreendidos como uma condição rara nesta

faixa etária. Atualmente, é relacionada como a quarta causa mundial de deficiência e o

segundo lugar na faixa etária compreendida entre 15 a 44 anos, podendo se tornar um

problema crônico ou recorrente que impossibilite ao sujeito cuidar de si mesmo e de suas

atividades diárias³. As estatísticas da Organização Mundial de Saúde resultam em dados

alarmantes que estimam para as próximas duas décadas um aumento tão vertiginoso para o

número de novos deprimidos que em 2020 a depressão representará a segunda afecção que

mais perpassará os anos de vida útil da população mundial, podendo mesmo até ultrapassar

o número de afetados por doenças cardiovasculares7.

Page 12: Monografia Depressão

8

A depressão é uma doença de expressão clínica complexa que faz com que o

indivíduo sofra de humor deprimido, perda de interesse e prazer e energia reduzida levando

a fatigabilidade aumentada e atividade diminuída, concentração e atenção reduzidas, auto-

estima e autoconfiança reduzidas, idéias de culpa e inutilidade (mesmo em um tipo leve de

episódio), visões desoladas e pessimistas do futuro, idéias ou atos autolesivos ou suicídio,

sono perturbado, apetite diminuído ou aumentado21

. Sofrer de depressão significa não

conseguir desfrutar os prazeres normais da vida, experimentar sentimentos persistentes de

inadequação, tristeza profunda, irritação, desamparo e pessimismo exagerado. Além disso,

uma pessoa acometida de depressão revela dificuldade de desempenho cognitivo,

notadamente de memória, concentração e raciocínio¹.

Do ponto de vista somático, os deprimidos queixam-se de diminuição da libido,

insônia, inapetência ou aumento do apetite, obstipação, perda ou aumento do peso, cansaço,

cefaléia, dor nos membros, lombalgia, dor precordial, eructações e falta de ar, mascarando

o diagnóstico de depressão¹. Esta doença pode ser considerada um dos transtornos

principais da nossa época, pois afeta uma em cada cinco pessoas em algum momento de

suas vidas³.

Existe diferentes estressores ao longo de um curso universitário, dependendo do

nível em que se encontre o aluno, e esses fatores podem influenciar a prevalência de

depressão entre os estudantes4. A Faculdade de Medicina é descrita como uma fonte de

estresse para os estudantes, que relatam, principalmente, perda da liberdade pessoal,

excesso de pressões acadêmicas e sentimentos de desumanização. Queixam-se, também, da

falta de tempo para o lazer e da forte competição existente entre os colegas².

No curso de medicina, os fatores estressores principais ocorrem no início (volume

de informações que o aluno passa a receber, mudanças nos métodos de estudo e carga

horária exigida no ciclo básico), no meio (o cansaço e desgaste por ter passado por uma

fase de informações básicas que exige muita memorização e a responsabilidade em lhe dá

com os primeiros pacientes) e no final (insegurança com relação á própria competência e ao

mercado de trabalho que começa a ficar mais concorrido)4.

Page 13: Monografia Depressão

9

Os estudantes de Medicina que apresentam melhor desempenho escolar são os mais

exigentes e conseqüentemente estão mais propensos a sofrer as pressões impostas ante

qualquer falha. Isso resulta em sentimento de desvalia, idéias de abandono do curso,

suicídio e depressão2. Hipócrates (460-377 a.C.) já chamava a atenção para o risco do

médico tornar-se onipotente: “o sábio é aquele que procura aprender; quem acredita que a

tudo conhece é ignorante” 5.

Nesse contexto, o estudo que se segue tem o intuito de avaliar a possível

sintomatologia depressiva entre acadêmicos do terceiro ano de Medicina da Fundação

Técnico Educacional Souza Marques. Perante tal fato, fica explícito a necessidade de um

aprofundamento nas pesquisas, para verificar se é necessário a criação de serviços de

assistência psicológica ao estudante de medicina, para que estes possam ter um melhor

desempenho no aprendizado através da reflexão, tornando-se logo, um aluno em um local

apropriado à instrução, de modo que os conhecimentos que estão se enraizando produzam

frutos apropriados e abundantes5.

Page 14: Monografia Depressão

10

LITERATURA

Page 15: Monografia Depressão

11

LITERATURA

A depressão tornou-se um fenômeno característico da atualidade; com o desencanto

e a crise dos valores morais modernos, a tristeza em sua dimensão mais ampla torna-se um

estado da alma comum ao homem. A toda a dor que não pode ser expressa ou nomeada

designa-se depressão. O vazio de existir e a busca por um sentido passam a ser tratados

como uma patologia. Vista pela psiquiatria como um distúrbio mental, a depressão seria

decorrente de um conflito interno, desencadeado por fatores orgânicos (alterações

bioquímicas), psíquicos (alterações do humor) e/ou sociais (dificuldades de relacionamento

interpessoal). Na segunda metade do século XX surgiram os antidepressivos e a divisão

clássica (endógena, psicogênica e exógena) cedeu espaço a uma visão predominantemente

sintomática, aliada ao mercado dos psicofármacos ou “pílulas da felicidade”24

.

A psicanálise não se preocupou com uma nosografia; o tema foi trabalhado

inicialmente por Freud (1915), partindo de umacorrelação entre luto e melancolia (protótipo

psicanalítico de depressão). O luto representaria um estado de reação à perda do objeto

amado sem que haja a perturbação da auto-estima; a perda de interesse e a inibição são

satisfatoriamente compreendidas a partir do trabalho de luto pelo qual o ego está absorvido.

O objeto deixou de existir, a libido investida deveria ser retirada de suas ligações com o

objeto perdido e, paulatinamente, o ego ficaria livre para novos investimentos. Na

melancolia, o sujeito não percebe exatamente o objeto amado como objeto perdido, por se

tratar de uma perda inconsciente, “...sabe quem ele perdeu, mas não o que perdeu nesse

alguém” (Freud, 1915). O desânimo profundo, o desinteresse pelo mundo externo, a

inibição da capacidade de amar, assim como de toda e qualquer atividade, refletiriam

também em um rebaixamento do sentimento de auto-estima22

.

O discurso melancólico geralmente vem imbricado por uma diminuição do amor-

próprio, um empobrecimento do ego, apresentado por um pensamento vazio, desprovido de

sentido ou valor, incapaz de realizações e desprezível em termos morais. A degradação é

tanta que estende sua autocrítica até o passado; há a recusa do sono e da alimentação, como

tentativa de superar o apego à vida. Freud formulou a categoria das neuroses narcísicas para

diferenciar a melancolia das psicoses; a fronteira entre o psíquico e o somático, em paralelo

com o afeto do luto e da perda na constituição do humano, possibilitou novas hipóteses

sobre o tema. O estudo da melancolia trouxe um enriquecimento para a teoria de eu. Ao

Page 16: Monografia Depressão

12

apresentar seu raciocínio econômico sobre uma parte do ego que se contrapõe a outra,

julgando-a como seu objeto, avaliando-a de maneira crítica e extremamente severa, Freud

traçou os preâmbulos do conceito de superego. A consciência moral e a prova da realidade

constituem assim importante instância dentro do eu, com papel ativo na produção de

conflitos. Destacou também a dimensão narcísica do eu e a complexidade da relação com o

outro na sua estruturação de origem. A autocensura do melancólico torna-se uma acusação

dirigida ao objeto, seu sofrimento debate-se com um outro a quem ama, amou ou deveria

amar. O par amor-ódio parece desempenhar importante papel; diante da frustração, há um

retorno da libido em direção ao eu, um regresso à identificação narcísica originária23, 22

.

A Depressão pode ser conhecida ou estar relacionada com transtorno depressivo,

depressão maior, depressão unipolar, incluindo ainda tipos diferenciados de depressão,

como depressão grave, depressão psicótica, depressão atípica, depressão endógena,

Melancolia, depressão sazonal; sendo que a depressão leve, depressão moderada e

depressão grave são as três classes de depressão mais estudadas por serem as mais comuns2,

5, 8.

Um indivíduo com um episódio depressivo leve está usualmente angustiado pelos

sintomas e tem alguma dificuldade em continuar com o trabalho do dia-a-dia e atividades

sociais, mas provavelmente não irá parar suas funções completamente. Aquele que sofre

episódio depressivo, moderadamente grave, usualmente terá dificuldade considerável em

continuar com atividades sociais, laborativas ou domésticas. Já no episódio depressivo

grave, o paciente usualmente apresenta angústia ou agitação considerável, a menos que

retardo seja um aspecto marcante. Perda de auto-estima ou sentimentos de inutilidade ou

culpa, provavelmente, são proeminentes e o suicídio é um perigo marcante nos casos

particularmente graves. Durante este episódio depressivo grave é muito improvável que o

paciente seja capaz de continuar com suas atividades sociais, laborativas ou domésticas,

exceto em uma extensão muito limitada21

.

Para episódios depressivos de todos os três graus de gravidade, uma duração de pelo

menos duas semanas é usualmente requerida para o diagnóstico, mas períodos mais curtos

podem ser razoáveis se os sintomas são inusualmente graves e de início rápido21

.

Indivíduos com episódios depressivos leves são comuns em cuidados primários e

em medicina geral, enquanto unidades psiquiátricas de internação lidam amplamente com

Page 17: Monografia Depressão

13

pacientes sofrendo de graus graves. A diferenciação entre episódios depressivos leve,

moderado e grave baseia-se em um julgamento clínico complicado que envolve o número,

tipo e gravidade dos sintomas presentes21

.

Tabela 1. Diferenciação dos tipos de depressão

24

Tipo Características Diagnósticas Comentários

Reativa ou secundária (exógena)

Perda (eventos vitais adversos)

Doença física (infarto do

miocárdio, câncer) Drogas e fármacos (álcool,

anti-hipertensivos,

hormônios)

Outros distúrbios psiquiátricos (senilidade)

Mais de 60% de todas as depressões;

Síndrome depressiva nuclear:

depressão, ansiedade, queixas somáticas,

tensão e culpa;

Pode responder

espontaneamente ou a diversos procedimentos

terapêuticos.

Depressão Maior (endógena)

Anedonia;

Autônoma (não responde a

mudanças na vida)

Independência de faixa etária Distúrbio bioquímico de

origem genética

(histórico familiar)

Cerca de 25% de todas as

depressões;

Síndrome depressiva nuclear

mais sinais vitais: ritmos anormais de

sono, atividade

motora, libido e apetite; Geralmente responde

especificamente a

antidepressivos ou eletroconvulsoterapia;

Tende a recidivar durante toda

a vida.

Afetiva-bipolar

(maníaco-depressiva)

Caracterizada por episódios

de mania (cíclica)

Mania isolada (rara)

Depressão isolada (ocasional) Mania-depressão (habitual)

Cerca de 10-15% de todas as

depressões;

Pode ser erroneamente

diagnosticada como endógena se os episódios

hipomaníacos

passarem despercebidos; Carbonato de lítio estabiliza o

humor;

A mania pode incluir o uso de antipsicóticos;

Depressão tratada com

antidepressivos.

O termo depressão é empregado para designar tanto um estado afetivo comum a

tristeza, quanto um sintoma, uma síndrome e uma doença. O sintoma depressão é um

estado de ânimo caracterizado por sentimentos de tristeza, desencanto, disforia ou

desespero. A síndrome inclui alterações do humor como tristeza, irritabilidade,

Page 18: Monografia Depressão

14

incapacidade de sentir prazer, diminuição do libido sexual, apatia, baixa auto-estima, e

alterações cognitivas e vegetativas como o transtorno do sono, do apetite, e dificuldade de

concentração. Depressão como transtorno tem uma etiologia específica, uma base genética,

um quadro clínico bem definido, de curso, duração e prognóstico13

.

Esse transtorno de humor se associa com desregulações heterogêneas das aminas

biogênicas, sendo que destas, a norepinefrina, serotonina e a dopamina são os

neurotransmissores mais implicados na fisiopatologia dos transtornos do humor19

.

A correlação com a norepinefrina, sugerida pelos estudos de ciências básicas entre a

downregulation dos receptores β-adrenérgicos e as respostas clinicas aos antidepressivos é,

provavelmente, a evidência isolada mais convincente, indicando um papel direto do sistema

noradrenérgico na depressão. Outras evidências implicaram também os receptores β2 pré-

sinápticos na depressão, já que sua ativação leva a uma redução da quantidade de

norepinefrina liberada. Os receptores β2 pré-sinápticos também estão localizados nos

neurônios serotonérgicos e regulam a quantidade de serotonina liberada. A eficácia clinica

dos antidepressivos com efeitos noradrenérgicos – como a venlafaxina (Efexor) – apóia

ainda mais um papel da norepinefrina na fisiopatologia de pelo menos alguns dos sintomas

da depressão19

.

Contudo, o forte impacto que os inibidores seletivos da recaptação de serotonina

(ISRSs) – como a fluoxetrina (Prozac) – têm tido sobre o tratamento da depressão, a

serotonina tornou-se a amina biogênica associada com mais freqüência á depressão. A

identificação de vários subtipos de receptores de serotonina também aumentou a

expectativa da comunidade de pesquisa sobre o desenvolvimento de tratamentos ainda mais

específicos para a depressão. Além do fato de os ISRSs e outros antidepressivos

serotonérgicos serem eficazes no tratamento da depressão, outros dados indicam que a

serotonina está envolvida na fisiopatologia da depressão. A depleção da serotonina pode

precipitar depressão, e alguns pacientes com impulsos suicidas têm baixas concentrações de

metabólitos da serotonina no LCS e baixas concentrações de sítios de captação da mesma

nas plaquetas19

.

Page 19: Monografia Depressão

15

Embora a norepinefrina e a serotonina sejam as aminas biogênicas associadas com

mais freqüência á fisiopatologia da depressão, estabeleceu-se a teoria de que a dopamina

também tem um papel. Os dados sugerem que sua atividade pode estar reduzida na

depressão e aumentada na mania. A descoberta de novos subtipos de receptores para a

dopamina e o aumento da compreensão da regulação pré-sináptica e pós-sináptica de sua

função enriqueceram ainda mais a pesquisa sobre a relação entre a dopamina e os

transtornos do humor. Os medicamentos que reduzem as concentrações da dopamina – com

a reserpina – e as doenças que também têm esse efeito de diminuição estão associados a

sintomas depressivos. Em contraste, medicamento que aumentam suas concentrações, como

a tirosina, a anfetamina e a bupropiona reduzem os sintomas de depressão. Duas teorias

recentes sobre dopamina e depressão são que a via mesolímbica da dopamina pode estar

disfuncional e que seus receptores D1 podem esta hipoativos na depressão19

.

A glândula endócrina pineal produz melatonina e serotonina. Esta última é

produzida durante a fase clara do dia, enquanto a outra é produzida durante a fase escura.

Essa melatonina pode alterar o humor dos seres humanos, causando depressão durante os

meses de inverno, cujos dias têm menos claridade. Se o individuo for exposto á luz

artificial brilhante, pode reduzir a secreção de melatonina e levar a uma melhora da

depressão. A noradrenalina, liberada junto dos pinealócitos (células do parênquima da

pineal), controla a produção de melatonina20

.

A psicanálise não aborda a “depressão”, mas os fenômenos depressivos em um

sujeito-ser de linguagem. O bebê, na relação primitiva com sua mãe, estabelece o protótipo

de todas as relações posteriores, fundando o ego, que se constrói ao longo do

desenvolvimento. A depressão analítica pode ocorrer em lactentes que sofrem de carência

emocional relacionada à separação. Diante da ameaça de separação da mãe, o bebê

responde com ansiedade e, perante sua perda real, com a dor do luto. A “posição

depressiva” é um quadro que aparece entre 12 e 18 meses de idade, período em que as

experiências com a mãe permitem à criança unir o “seio bom” com o “seio mau”, como

facetas do mesmo objeto. A angústia depressiva e a culpa, decorrentes do amor e do ódio

que sente pelo mesmo objeto, centram-se no temor de que esses impulsos possam destruir,

ou ter destruído, o objeto amado, do qual depende de forma absoluta 13

.

Page 20: Monografia Depressão

16

O humor rebaixado varia pouco de dia para dia e, freqüentemente, não é responsivo

ás circunstâncias, mas pode ainda mostrar uma variação diurna característica, á medida que

o dia passa. Em alguns casos, ansiedade, angústia e agitação motora podem ser mais

proeminentes em alguns momentos do que a depressão e a mudança do humor pode

também ser mascarada por aspectos adicionais tais como irritabilidade, consumo excessivo

de álcool, comportamento histriônico, exacerbação de sintomas fóbicos ou obsessivos

preexistentes ou por preocupações hipocondríacas21

.

Os estudantes, normalmente, apresentam um padrão de sono irregular caracterizado

por atrasos de início e final do sono dos dias de semana para os finais de semana, curta

duração de sono nos dias de semana e longa duração de sono nos finais de semana. O sono

prolongado nos finais de semana é devido à redução do sono (privação) durante os dias de

aulas ou de trabalho. O atraso na hora de deitar nos finais de semana parece estar associado

à tendência do sistema de temporização circadiana de provocar atrasos na fase do início do

sono14

.

Trabalho realizado no Laboratório de Cronobiologia (UFRN) demonstrou que

estudantes que iniciavam suas aulas às 7h, apresentavam privação parcial do sono e

irregularidade do sono decorrente dos horários escolares e das demandas acadêmicas.

Como conseqüência desta irregularidade, estes estudantes apresentavam qualidade de sono

ruim e baixo desempenho acadêmico. Em um estudo epidemiológico, foi relatado que

estudantes italianos dormiam menos durante a semana, queixavam-se mais de sonolência

diurna e cochilavam mais freqüentemente que a população em geral, e que, em decorrência

destes fatores, havia uma associação com baixo desempenho acadêmico, com sintomas de

ansiedade e depressão e maior uso de tabaco, álcool e cafeína14

.

A depressão na infância e na adolescência não é rara, Bahls avaliou a prevalência

anual do Transtorno Depressivo Maior (TDM), encontrando 0,4 a 3,0% em crianças, e 3,3 a

12,4% entre os adolescentes. Três milhões de crianças norte-americanas apresentam

sintomas depressivos, sem que sejam diagnosticadas, e, aproximadamente, seis mil crianças

e adolescentes praticam suicídio, que constitui a segunda causa de morte na adolescência.

Nos adolescentes, a depressão é o maior fator de risco para o suicídio e abuso de

Page 21: Monografia Depressão

17

substâncias. Portanto, a depressão deve ser considerada como um transtorno grave, com

risco de morte e impacto na qualidade de vida13

.

São ainda escassos os estudos epidemiológicos sobre a depressão infantil,

inexistindo na maioria dos países. No Brasil existem poucas pesquisas sobre a prevalência

da depressão na infância e na adolescência, e poucos são os instrumentos adaptados para

diagnosticá-la. Conhecer a prevalência da depressão em crianças e adolescentes brasileiros

pode contribuir para avaliar a dimensão da doença entre universitários e propor medidas

diagnósticas e terapêuticas. O uso de instrumento diagnóstico padronizado possibilita a

comparação com outras populações13

.

O transtorno depressivo recorrente é caracterizado por episódios repetidos de

depressão, como especificada em episódio depressivo (leve, moderado, grave) sem

qualquer história de episódios independentes de elevação do humor e hiperatividade que

preencham os critérios para mania. Contudo, a categoria deve ainda ser usada se há

evidência de episódios breves de elevação do humor e hiperatividade leves, os quais

preenchem os critérios para hipomania, imediatamente após um episódio depressivo21

.

Essa patologia psiquiátrica que freqüentemente acomete estudantes de medicina

gera conseqüências no desempenho acadêmico e nos relacionamentos interpessoais desses

alunos em razão disso, muitas vezes, eles são rotulados de desinteresses, por colegas e

professores, em decorrência de comportamentos que lhes causam grande sofrimento e

importante prejuízo em seu desempenho social e estudantil 12

.

O risco de que um paciente com transtorno depressivo recorrente venha a ter um

episódio de mania nunca desaparece completamente, não importa quantos episódios

depressivos ele tenha experimentado. Se um episódio maníaco ocorre, o diagnósticos deve

mudar para transtorno afetivo bipolar21

.

Atuando no ensino médico, observa-se que o estudante chega ao primeiro ano do

curso ainda adolescente e tendo que enfrentar seu primeiro embate intra-curso: não se

livrou dos competidores! Conseguiu a duras penas sua vaga e encontra agora ao seu redor

uma centena de alunos, com a mesma carga, os mesmos estigmas e as mesmas expectativas

Page 22: Monografia Depressão

18

e obrigações de primeiros alunos - o que usualmente foram em suas escolas de origem.

Como agravante, estes novos “competidores” têm nome e rosto conhecidos e, muitas vezes,

moram na mesma república. Assim, muitas vezes, a expectativa de poder partilhar, num

ambiente menos exigente, menos competitivo, não se realiza17

.

Em alguns casos, à adaptação à Universidade soma-se a experiência de sair de casa

pela primeira vez e suas conseqüências: não há garantia de afeto e de cuidados que

assegurem a sobrevivência no cotidiano, acentuando ainda mais sua insegurança

adolescente. Tudo está por sua conta: organizar o dia - a- dia, descobrir um jeito novo de

estudar e estabelecer novos vínculos afetivos. Nessa nova vida enfrentará o contato com

pessoas diferentes, a ameaça do trote, as festas, a bebida, as drogas disponíveis e algumas

vezes impostas, e as primeiras decepções17

.

A depressão seria um estado durando o tempo necessário para que o vazio

inanimado do vivo se constitua como organização narcísica e retorna toda vez que o

psiquismo solicita uma restauração de seu narcisismo, sendo essas, as características da

depressão recorrente21

. Como está constantemente ameaçado, tanto por forças externas

como internas, a depressão está invariavelmente presente. O humano, como se sabe, não

suporta por muito tempo o contato com a dura realidade e um dos recursos a sua disposição

para se proteger desse contato tão frustrante e ameaçador é a depressão8. O diagnóstico

clínico da depressão exige a presença dos sintomas, presentes durante o período mínimo de

duas semanas2.

Alguns dos sintomas podem ser marcantes e desenvolver aspectos característicos

que são amplamente considerados como tendo uma significação clínica especial. Os

exemplos mais típicos destes sintomas “somáticos” são: perda de interesse ou prazer em

atividades que normalmente eram agradáveis, falta de reatividade emocional a ambientes e

eventos normalmente prazerosos; acordar pela manhã duas ou mais horas antes do horário

habitual; depressão pior pela manhã; evidência objetiva de retardo ou agitação psicomotora

difinitva; marcante perda do apetite; perda de peso, e marcante perda da libido2.

Atualmente o transtorno depressivo maior é reconhecido como um problema de

saúde pública em atendimento médico primário, por sua prevalência e por seu impacto no

Page 23: Monografia Depressão

19

cotidiano de pacientes e familiares envolvidos. Vários estudos em diferentes países

confirmam que a alta prevalência de depressão na comunidade é um dado consistente na

cultura ocidental, inclusive no Brasil7.

Quanto aos fatores de risco para depressão em crianças e adolescentes, o mais

importante é a presença de depressão em um dos pais, sendo que a existência de história

familiar para depressão aumenta o risco em pelo menos três vezes, seguidos por estressores

ambientais, como abuso físico e sexual e perda de um dos pais, irmão ou amigo íntimo7.

Na atualidade, os transtornos depressivos em crianças e adolescentes e aqueles em

adultos são compreendidos como entidades fenomenológicas iguais, fato derivado de

pesquisas que definiram que os mesmos critérios diagnósticos são confiavelmente aplicados

nestas três faixas etárias. Segundo o Manual Diagnóstivo e Estatístico de Transtornos

Mentais (DSM-IV), os sintomas básicos de um episódio depressivo maior são os mesmos

em adultos, adolescentes e crianças, embora existam dados sugerindo que a predominância

de sintomas característicos pode mudar com a idade7.

Já a Classificação Internacional das Doenças (CID-10) lida com os transtornos

depressivos de forma idêntica em todos os grupos etários, com apenas a seguinte citação

específica “apresentações atípicas são particularmente comuns no episódio depressivo na

adolescência”, mas não fornece maiores esclarecimentos. A maioria dos autores na área dos

transtornos depressivos na infância e adolescência cita que os sintomas variam com a idade,

destacando a importância do processo de maturação das diferentes fases do

desenvolvimento nos sintomas e comportamentos depressivos, existindo uma

caracterização sintomatológica predominante por faixa etária7.

No Brasil, alguns pesquisadores também têm estudado transtornos mentais entre

estudantes de medicina como depressão, distúrbios do sono, transtornos alimentares e

transtorno mental comum. De modo geral as investigações têm apontado prevalências

expressivas de sintomas psiquiátricos e transtornos mentais, levantando a questão sobre sua

possível causalidade: o sofrimento psíquico antecederia a escolha profissional ou o

processo de formação vivenciado na graduação seria nocivo à saúde mental dos

estudantes9.

Page 24: Monografia Depressão

20

A escola médica é reconhecida como um estressor que afeta negativamente o

desempenho acadêmico, a saúde e o bem estar psicológico do estudante de medicina, e os

transtornos emocionais, podem estar presentes em até 50% dessa população. Já durante o

primeiro ano do curso médico, os estudantes apresentam significantes mudanças de hábito

para se adaptarem à escola médica, especialmente no primeiro semestre. Assim, serviços de

atendimento ao aluno de medicina ou programas criados para abordar atitudes em relação à

saúde mental tornam-se instrumentos importantes para mudar positivamente a percepção

dos estudantes sobre as alterações psiquiátricas de forma geral, mostrando-se promissores

na prevenção e na identificação precoce dessas alterações nos próprios estudantes15

.

O embate que se dá entre a idealização do papel médico e a realidade da formação

profissional não é tranqüilo, sendo vivido com diferentes graus de sofrimento emocional.

Para atender a esta demanda, diversas Faculdades de Medicina têm desenvolvido

programas específicos de apoio psicopedagógico, psicossocial, psicológico e psiquiátrico

para seus estudantes. Vários destes serviços atendem exclusivamente a estudantes de

Medicina, justificando sua criação pelas dificuldades específicas relacionadas à formação

médica, constatadas na vivência entre alunos e professores e também em estudos

sistemáticos. Situações de conflito ou potencialmente geradoras de estresse, na verdade,

antecederiam o início da formação médica, dando sinais de sua presença já no momento da

escolha profissional17

.

A oferta de programas criados para abordar atitudes em relação à saúde mental, é

importante para conscientizar o estudante de que o próprio curso pode contribuir para gerar,

manter ou desencadear transtornos mentais ou de comportamento, como o uso problemático

de álcool. Dado que a depressão e suas conseqüências, como o suicídio, são transtornos

comuns geralmente associados a quadros ansiosos, e mais freqüentes nos estudantes de

medicina que na população em geral, faz-se necessária a oferta precoce de atendimento e

apoio15

.

A opção pela carreira médica traz consigo mudanças fundamentais na vida do

jovem: em plena adolescência, enfrenta a intensa competição do vestibular, aprendendo

precocemente a renunciar a desejos, prazeres, horas de lazer e à companhia de amigos e

familiares, preparando-se para a disputa acirrada. A competição por uma vaga nas

Page 25: Monografia Depressão

21

universidades, em especial as públicas, é uma batalha a ser enfrentada também em outras

carreiras. Contudo, desde cedo o estudante entrará em contato com o endeusamento que

marca sua escolha, muitas vezes expressa na fala dos alunos: “abrir mão de lazer não foi

uma necessidade apenas até o vestibular, será pelo resto da vida”17

.

Na verdade, a crença de que o médico deve passar por algum tipo de sacrifício para

que possa exercer plenamente seu ofício remonta à Grécia antiga. Na mitologia grega,

Asclépios - considerado a figura mítica iniciadora da Medicina - fora salvo do ventre da

mãe cujo corpo havia sido queimado. As dores teriam tornado Asclépios capaz de

compreender todo o sofrimento dos doentes, encontrando remédio para todos os males e

atraindo assim, doentes e mutilados aos seus templos, em busca de cura17

.

Interessante observar que, após 25 séculos, nos voltamos para Hipócrates,

colocando a depressão como uma doença que envolve alterações cerebrais. Obviamente,

hoje temos uma tecnologia que não existia, o que nos possibilita demonstrar isso.

Tecnologia que ainda não nos ajudou a saber a etiologia completa, os achados cerebrais não

estão presentes em todos os pacientes, há vários tipos de depressão diagnosticadas. Ainda

não entendemos por que um paciente sofre de apenas um episódio depressivo, outros têm

várias recaídas, tomando antidepressivos para o resto da vida e outros ainda cometem o

suicídio22

.

O professor de Medicina, consoante a concepção contemporânea, deve ser um

educador de profissionais solidários, de médicos cidadãos destinados a ser, naturalmente,

líderes políticos ativos e modelos sociais em suas comunidades; além de pessoas capazes de

servir solidariamente aos seus semelhantes, inspirando-lhes confiança e respeito. Confiança

e respeito que se refletirão no prestígio da profissão. Isso porque o professor de Medicina

atua como avaliador credenciado pela sociedade para julgar com conhecimento, a

capacidade e a habilidade técnica e ética dos estudantes ao fim de cada momento do

processo educativo. E, com isso, determinar, com a maior justiça possível, quem está

pronto para ser habilitado para atuar na assistência aos enfermos e nos serviços de saúde da

comunidade16

.

Page 26: Monografia Depressão

22

Deve-se mencionar ainda que, na avaliação da conduta médica e do desempenho

pedagógico do professor de Medicina, como sucede com os alunos, não se deve separar os

aspectos técnicos dos éticos, nem os pessoais dos profissionais16

.

As motivações que levariam jovens adolescentes a uma opção profissional tão

relacionada à dor, sofrimento e morte, pertencem a dois níveis: conscientes e inconscientes.

Do ponto de vista das motivações conscientes - muitas vezes expressas por estudantes -, as

mais apontadas são: o desejo de compreender, de ver, o desejo de contato, o prestígio

social, o prestígio do saber, o alívio prestado aos que sofrem, a atração pelo dinheiro, a

necessidade de ser útil, a atração pela responsabilidade ou pela reparação, o desejo de uma

profissão liberal e a necessidade de segurança. As razões inconscientes, por outro lado, são

muitas vezes impensáveis para os estudantes, particularmente quando colocam em xeque

seus valores morais17

.

A redução do estresse e a melhoria da qualidade de vida do estudante seriam uma

forma de promover neles a criatividade e a iniciativa, capacitando-os a lidar melhor com as

necessidades psicossociais dos pacientes; “somente se o médico souber lidar com ele

mesmo e com seus próprios problemas ele será capaz de ensinar o paciente a fazer o

mesmo”18

.

Porém, não podemos nos esquecer de que o aluno de Medicina brasileiro inicia sua

formação no final da adolescência, e, sem dúvida, as características desse momento do

desenvolvimento – como conflitos entre dependência e independência, e a consolidação da

identidade, entre outros – irão influenciar o modo de enfrentamento de todos esses

momentos críticos10

.

Serviços de apoio psicológico, psiquiátrico e pedagógico, programas de tutoria e

orientação, apadrinhamento de calouros por veteranos, entre outros, são exemplos de

intervenções possíveis dentro da proposta de criação de uma rede de suporte ao aluno

durante a formação médica10

.

A personalidade daqueles que escolhem fazer Medicina deve ser ressaltada. Os

alunos de Medicina são extremamente persistentes, determinados, afeitos a desafios, mas

apresentando dificuldades em lidar com o fracasso e a frustração. Grande parte deles chega

Page 27: Monografia Depressão

23

bastante vocacionada, altruísta e desejosa de ajudar e cuidar do outro, embora alguns ainda

escolham a profissão por outras razões, como prestígio social, remuneração e continuação

da linhagem médica familiar10

.

Nesse encontro entre a personalidade daquele que escolheu fazer Medicina, suas

expectativas, razões de escolha e o processo de formação médica, sentimentos de

desamparo, solidão, baixa auto-estima estão muitas vezes presentes, com maior ou menor

grau de sofrimento psicológico. Sintomas depressivos, ansiosos e outros podem surgir,

então, como resposta e diminuir muito a qualidade de vida do aluno e seu próprio

desenvolvimento e aproveitamento durante o curso10

.

O objetivo do presente estudo foi de apenas estimar a prevalência de transtornos

mentais comuns entre estudantes de medicina da Fundação Técnico Educacional Souza

Marques, pois para ser confirmado a incidência de depressão nestes alunos se faz

necessário o acompanhamento individual por um psiquiatra, o que neste caso, é inviável ao

pesquisador.

Educar é também cuidar; portanto seria de extrema valia que representantes desta

Fundação avaliasse a condição psicológica dos seus alunos, e se for confirmado o elevado

índice de depressão, que estudassem a possibilidade de criar serviços de apoio ao estudante

que teria um lugar de importância na formação do futuro médico. Assim, a Escola de

Medicina Souza Marques poderia oferecer um espaço, formal e protegido, de escuta e

compreensão para as questões emocionais que, no percurso de formação, possam dificultar

o bem-estar e o desenvolvimento do aluno como pessoa e futuro profissional10

.

Page 28: Monografia Depressão

24

MATERIAL E MÉTODOS

Page 29: Monografia Depressão

25

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no mês de junho de 2008, usando o modelo epidemiológico

individuado-observacional seccional, utilizando-se um questionário padronizado auto-

aplicável, elaborado pela Psicóloga Gisleide Gonçalves de Almeida da Mata, portadora da

CRP-04/2171-6. Sua escala consiste em 21 itens cuja intensidade varia de 0 a 3, referentes

á tristeza, pessimismo, sensação de fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa,

sensação de punição, auto-depreciação, auto-acusações, idéias suicidas, crises de choro,

irritabilidade, retração social, indecisão, distorção da imagem corporal, inibição para o

trabalho, distúrbio do sono, fadiga, perda de apetite, perda de peso, preocupação somática,

diminuição de libido. Para esse questionário recomenda-se os seguintes pontos de corte

propostos por Beck em seu inventário: menor que 10 = sem depressão ou depressão

mínima; de 10 a 18 = depressão, de leve a moderada; de 19 a 29 = depressão, de moderada

a grave; de 30 a 63 = depressão grave.

A amostra foi de 164 estudantes do terceiro ano da Escola de Medicina Souza

Marques, que foram abordados durante o horário de aula, em classe, e foram convidados a

participar do estudo. O grupo é composto por 200 alunos, mas só estavam presentes em sala

de aula, os acadêmicos participantes. Estes alunos foram esclarecidos sobre os métodos da

pesquisa e ao concordarem em participar, colocaram o número do seu CPF ou RG em um

termo de consentimento livre e esclarecido, e foram submetidos á avaliação dos sintomas

depressivos.

O aluno pesquisador distribuiu o questionário para todos os alunos do terceiro ano

presentes em sala de aula, local onde este foi respondido. Os dados coletados foram

analisados no Programa Microsoft Office Excel 2007.

A análise da produção científica sobre depressão entre estudantes de medicina

baseou-se na consulta ás seguintes bases de dados: LILAS (Literatura Latino-Americana e

do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), MEDLINE (Medical Literature

Analysisand Retrieval System Online) e SciELO (Scientific Electrnic Library Online);

sendo essas fontes, encontradas através do Google Acadêmico, que foi usado como site

Page 30: Monografia Depressão

26

referência, utilizando como palavras chave: Depressão, Transtornos mentais, Estudantes e

Medicina.

Page 31: Monografia Depressão

27

RESULTADOS

Page 32: Monografia Depressão

28

RESULTADOS

Foi realizado um estudo com o objetivo de caracterizar a sintomatologia depressiva

e estimar a sua prevalência em estudantes jovens e adultos, do terceiro ano da Faculdade de

Medicina Souza Marques.

A estimativa da prevalência dos sintomas depressivos nos acadêmicos de Medicina

foi de 13,41% sem depressão ou depressão mínima; 46,95% com depressão de leve a

moderada; 29,26% com depressão de moderada a grave; e 10,36% com depressão grave.

13,41%

46,95%

29,26%

10,36%

Sem depressão ou depressão mínima

Depressão de leve a moderada

Depressão de moderada a grave

Depressão grave

Figura 2: Prevalência da Sintomatologia Depressiva entre Acadêmicos do Terceiro Ano do Curso de Medicina da Fundação Técnico Educacional Souza Marques Através do Inventário de Depressão de Gisleide.

A partir destes resultados podemos utilizar o método indutivo e estimar que a

depressão, nos demais anos do curso de Medicina dessa Faculdade, também se encontra

uma grande quantidade de alunos com depressão de leve a moderada, acompanhada de um

elevado grau de depressão de moderada a grave, sendo portanto que, uma pequena parcela

dos estudantes possui depressão mínima, comparada com a porcentagem de estudantes que

possui depressão grave.

Page 33: Monografia Depressão

29

COMENTÁRIOS

Page 34: Monografia Depressão

30

COMENTÁRIOS

Conhecer a depressão nos leva a entender a invenção do ser humano como hoje o

conhecemos e incorporamos. A depressão é assunto atual e torna-se importante conhecer

sua etiologia para que os paradigmas nos quais o acadêmico de medicina está baseado se

tornem explícitos e assim ele possa encontrar uma forma de relacionar com a depressão,

suas idéias e seus conceitos22

.

A faculdade de Medicina é descrita como uma fonte de estresse para os estudantes,

que relatam, principalmente, perda da liberdade pessoal, excesso de pressões acadêmicas e

sentimentos de desumanização. Queixam-se, também, da falta de tempo para o lazer e da

forte competição existente entre os colegas. Esses e outros fatores, como o contato com

pacientes doentes, predispõem ao aparecimento de quadros depressivos, reações ansiosas,

neurose obsessivo-compulsiva e hipocondria2.

Estima-se que 15% a 25% dos estudantes universitários apresentam algum tipo de

transtorno psiquiátrico durante sua formação, notadamente transtornos depressivos e de

ansiedade; a maioria desses estudos foi realizada entre estudantes de medicina, portanto

estima-se que a prevalência dos transtornos depressivos nessa população oscila entre 8% e

17%4.

De acordo com outros estudos, os primeiros contatos com o curso de Medicina

evidenciam reações de decepção nos estudantes, que ingressaram na faculdade com

expectativas e entusiasmo. Essa desilusão pode ser causada pela transição, vivenciada pelo

aluno, de um sistema paternalista de ensino para um sistema criado de acordo com as

características e metodologias de cada um. Então, o aluno passa a dispensar mais tempo aos

estudos, a ter menor disponibilidade para o lazer e a perceber que o ingresso na faculdade

resultou em perdas, além de ganhos. Essas variáveis podem responder pela prevalência de

sintomas depressivos, entre os estudantes do primeiro ao segundo ano, sendo que a maioria

dos casos se refere a sintomas de depressão leve-moderada2.

A idéia de ações institucionais dirigidas ao bem-estar do aluno de Medicina é hoje

realidade em muitas escolas médicas dentro e fora do Brasil. Serviços de apoio psicológico,

psiquiátrico e pedagógico, programas de tutoria e orientação, apadrinhamento de calouros

Page 35: Monografia Depressão

31

por veteranos, entre outros, são exemplos de intervenções possíveis dentro da proposta de

criação de uma rede de suporte ao aluno durante a formação médica. As razões que

justificam tais ofertas pouco ou quase nada diferem entre as diferentes escolas médicas,

mesmo em contextos geográficos e culturais diferentes. A formação médica – intensa e

extensa ao longo do tempo – caracteriza-se por elementos comuns que tornam a

necessidade de suporte bastante evidente em qualquer lugar do mundo10

.

O contato com pacientes doentes e prognósticos ruins é intensificado a partir do

terceiro ano do curso. O alto nível de cobrança por parte da sociedade, dos professores e

dos próprios estudantes, e uma carga horária elevada podem ser os fatores que propiciam o

surgimento de quadros depressivos graves e o aumento da sintomatologia moderada grave;

do terceiro ao sexto ano, a prevalência de sintomas depressivos aumentou, porém a

severidade dos quadros mostra-se diferente. Houve um grande aumento do grau leve-

moderado em detrimento do grau moderado-grave. Este fato poderia ser explicado pela

adaptação do estudante ao meio ao mesmo tempo em que se depara com a responsabilidade

da identidade médica propriamente dita, vivenciada durante o internato. A isso se pode

somar a presença de expectativa nos alunos quando se considera a proximidade da entrada

no mercado de trabalho2.

Vários problemas metodológicos dificultam a comparação dos resultados dos

diversos estudos, entre eles o levantamento de sintomas depressivos versus transtornos

depressivos e a diversidade de instrumentos utilizados para a realização de diagnóstico e

coleta de dados4.

Um problema intimamente relacionado à depressão é o suicídio. Alguns estudos

indicam elevado risco de suicídio entre os universitários em geral e, particularmente, entre

os estudantes de medicina. Após os acidentes o suicídio seria a segunda causa mais comum

de morte entre os estudantes de medicina4.

A emoção é a expressão de algo que impressiona o ser humano, não é gratuita e não

tem limites ou intensidades pré-estabelecidos ou previsíveis: ela é consequência daquilo

que atinge o ser humano. Sentimentos e emoções caminham lado a lado; os sentimentos são

como “... um sexto sentido que interpreta, ordena e dirige os outros cinco ... que nos torna

Page 36: Monografia Depressão

32

humanos, semelhantes e, através da sua linguagem, nos relacionam com nós mesmos ...”

como define Viscott25

.

“A preocupação básica do ensino médico deve estar voltada para o desenvolvimento de

atividades e não na aquisição de habilidade técnica. Atualmente o médico está sendo

treinado e não educado, tem-se uma perfeição instrumental, mas faltam-nos metas. A

Educação Médica é o início e não o fim”25

.

Apesar das altas freqüências de sintomas indicativos de ansiedade, não é difícil

supor que muitos desses estudantes com sintomas de ansiedade não procurem ajuda ou

tratamento, permanecendo menos pragmáticos e pessimistas pelo próprio distúrbio, ou

ainda por preconceito, com receio de serem julgados “fracos” ou de que “alguém” fique

sabendo. A escola médica pode e deve contribuir, oferecendo atendimento e alertando os

estudantes desde o início do curso para os riscos epidemiológicos encontrados em vários

estudos, diminuindo, assim, o estigma desse tipo de atendimento. Isso porque são exigidos

do estudante de Medicina no século 21 atributos sociais, comportamentais e de

comunicação (além dos motores e intelectuais), que podem ficar prejudicados na vigência

de um transtorno depressivo15

.

Nesse encontro entre a personalidade daquele que escolheu fazer Medicina, suas

expectativas, razões de escolha e o processo de formação médica, sentimentos de

desamparo, solidão, baixa auto-estima estão muitas vezes presentes, com maior ou menor

grau de sofrimento psicológico. Sintomas depressivos, ansiosos e outros podem surgir,

então, como resposta e diminuir muito a qualidade de vida do aluno e seu próprio

desenvolvimento e aproveitamento durante o curso10

.

A maior prevalência de sintomas de ansiedade e as elevadas taxas de suicídio

presentes no período de formação médica devem ser regularmente lembradas e discutidas

com os alunos e professores de Medicina. Preferencialmente já no início do curso, em

aulas, discussões ou palestras específicas sobre o assunto, mas procurando a divulgação

constante dos riscos próprios dessa população15

.

Page 37: Monografia Depressão

33

A existência de atendimento especializado – médico, psiquiátrico e psicoterápico –

dentro da própria escola médica, diante dos riscos apresentados neste estudo e em outros

relatados na literatura médica, parece-nos estar indicado. Pois esse tratamento também gera

conhecimentos importantes na formação de um estudante de Medicina, que em breve atuará

junto à comunidade, sendo o médico um dos principais multiplicadores de modelos de

saúde, precisando estar atento e saber reconhecer esses problemas, especialmente os

próprios6, 15

.

Page 38: Monografia Depressão

34

CONCLUSÕES

Page 39: Monografia Depressão

35

CONCLUSÕES

Ao estar presente no momento da morte de um paciente, o aluno se envolve

emocionalmente, não interessando o grau deste envolvimento e a intensidade da emoção

gerada, respondendo de maneira particular à estrutura de cada um. O acadêmico poderá

usar de mecanismos de defesa de qualquer espécie ao emocionarse; esta emoção é o

resultado de sentimentos organizados diante de uma ameaça quando poderá indignar-se ou

expressar sinais de raiva e, numa situação oposta (recuperação de um paciente), poderá se

empolgar pelo fato de se sentir engrandecido e capaz25

.

Ao educador cabe a preocupação sobre a personalidade saudável dos educandos.

Esta qualidade é imprescindível ao profissional da área da saúde, porque o ser humano tem

o poder de afetar o destino da sua personalidade, apesar dos fatores genéticos, ambientais e

sociais, quando pessoas devem ser facilitadoras do seu desenvolvimento25

.

A escala de avaliação utilizada neste trabalho – o Inventário de Depressão de

Gisleide com os pontos de corte proposto pela escala de Beck – tem a finalidade de detectar

a sintomatologia depressiva e não a presença ou ausência de um episódio depressivo. Dessa

forma, esse procedimento pode falhar em detectar sintomas de depressão em pacientes que

negam seu sofrimento emocional, podendo também apresentar muitos falsos positivos5.

Com isso, para maior fidelidade no resultado do trabalho, poderia ter sido acrescentada à

metodologia uma avaliação por meio de outras escalas, dos estudantes que apresentaram

escores de sintomas depressivos2.

Em revisão de literatura, os resultados desta pesquisa foram comparados com os de

outros estudos – como os de Clark8, Pasnau11, na Califórnia, Gaviria12, na Colômbia, o

estudo chinês de Chan7 e o de Aktekin13, em Antalya, na Turquia – e todos concordam

com a existência de elevado índice de sintomas depressivos nos estudantes de Medicina

quando comparado ao da população geral. Esses estudos sugerem que a faculdade de

Medicina, da maneira como está estruturada atualmente, pode ser um fator desencadeante

de sintomas depressivos nos estudantes2.

Page 40: Monografia Depressão

36

Este trabalho tem o propósito de trazer alguma contribuição à comunidade

acadêmica da área da Saúde, com o objetivo de entender um pouco melhor os sentimentos

dos alunos de Medicina por ocasião do seu enfrentamento com o fenômeno da morte e a

possibilidade de uma nova postura diante da Educação Médica. Este estudo visa, também,

compreender mais detalhadamente este momento que exerce um certo grau de fascínio

sobre a humanidade, em qualquer cultura, em todas as eras, em todos os tempos, mediante

o ato de pensar no ser e no deixar de ser25

.

Já durante o primeiro ano do curso médico, os estudantes apresentam significantes

mudanças de hábito para se adaptarem à escola médica, especialmente no primeiro

semestre, e posteriormente, no início do terceiro ano passam por estressores ainda mais

profundos, que são os momentos em que o acadêmico depara com a gravidade de cada

paciente podendo presenciar a morte. Assim, serviços de atendimento ao aluno de medicina

ou programas criados para abordar atitudes em relação à saúde mental tornam-se

instrumentos importantes para mudar positivamente a percepção dos estudantes sobre as

alterações psiquiátricas de forma geral, mostrando-se promissores na prevenção e na

identificação precoce dessas alterações nos próprios estudantes15

.

A oferta de programas criados para abordar atitudes em relação à saúde mental

também é importante para conscientizar o estudante de que o próprio curso pode contribuir

para gerar, manter ou desencadear transtornos mentais ou de comportamento, como o uso

problemático de álcool. Dado que a depressão e suas conseqüências, como o suicídio, são

transtornos comuns geralmente associados a quadros ansiosos, e mais freqüentes nos

estudantes de medicina do terceiro ano que na população em geral, faz-se necessária a

oferta precoce de atendimento e apoio. Assim, o propósito desta investigação foi contribuir

para o conhecimento das freqüências dos sintomas ansiosos nessa população, utilizando

instrumentos que avaliam a ansiedade, freqüentemente utilizados entre estudantes de

medicina15

.

Page 41: Monografia Depressão

37

RESUMO

Page 42: Monografia Depressão

38

RESUMO A depressão é uma doença de expressão clínica complexa que altera o humor e o estado de

ânimo, dimensões do psiquismo responsáveis pela nossa capacidade de sentir prazer,

tristeza, alegria e disposição para vida. Além disso, uma pessoa acometida de depressão

revela dificuldade de desempenho cognitivo, notadamente de memória, concentração e

raciocínio1.

Os transtornos depressivos constituem um grupo de patologias com alta e crescente

prevalência na população geral. Conforme a Organização Mundial de Saúde, haverá nas

próximas duas décadas uma mudança dramática nas necessidades de saúde da população

mundial, devido ao fato de que doenças como depressão e cardiopatias estão substituindo

os tradicionais problemas das doenças infecciosas e de má nutrição7.

Estima-se que 15% a 25% dos estudantes universitários apresentam algum tipo de

transtorno psiquiátrico durante sua formação acadêmica, notadamente transtornos

depressivos e de ansiedade, sendo que entre os estudantes de medicina a prevalência desses

transtornos depressivos oscila entre 8% e 17% 4.

O objetivo desta pesquisa é rastrear e analisar a epidemiologia da sintomatologia

depressiva nos acadêmicos de medicina do terceiro ano da Fundação Técnico Educacional

Souza Marques que exercem cotidianamente suas atividades estudantis. Como material,

métodos e casuísticas foi utilizado uma amostra de 164 estudantes que cursam o terceiro

ano de medicina no presente ano. Esse grupo de alunos foi avaliado em um estudo

individuado-observacional seccional. A população estudada respondeu um questionário

auto-avaliativo elaborado pela Professora\Psicóloga Drª Gisleide Gonçalves de Almeida da

Mata. Utilizando a escala de corte padrão, menor que 10, de 10 a 18, de 19 a 29, de 30 a 63,

proposta por Beck em seu Invetário de Depressão. tendo obtido como resultado,

respectivamente, 13,44% sem depressão ou depressão mínima; 46,95% depressão, de leve a

moderada; 29,26% depressão, de moderada a grave; 10,36% depressão grave.

Palavras chave: Depressão; Transtornos mentais; Estudantes; Medicina.

Page 43: Monografia Depressão

39

ABSTRACT

Depression is a complex disease (doença complexa) that changes humor and

people’s dimensions responsible for their capacity of feeling pleasure, sadness, happiness

and whish to leave. Besides, a person who suffers from depression presents decrease of

memory and focusing, among other symptoms.

The depressive diseases are part of a group of pathologies with high and increasing

prevalence among people. The World Health Organization stated that, in the next two

decades, there will be dramatically changes on the health needs of general population, due

to the fact that depression and heart diseases among others are substituting the traditional

problems of infective diseases and bad nutrition.

Researches estimate that between 15% and 25% of university students present any

kind of psychiatric disorder during their academic formation, but more noticeably

depressive and anxiety disorders, however, among medicine students, these diseases’

prevalence oscillates between 8% and 17%.

The objective of the present study is tracking and analyzing the epidemiology of the

depressive symptoms on the third year medicine students from Fundação Técnico

Educacional Souza Marques that daily perform their academic activities. A sample of 164

third year medical students of the current year was used. This group of students was

evaluated in a individuo-observacional seccional study. The observed population answered

an auto-evaluative questionnaire elaborated by the professor/psychologist Dr. Gisleide

Gonçalves de Almeida da Mata. Using a pattern scale that divides the results from lower

than 10, from 10 to 18, from 19 to 29, from 30 to 63, suggested from Becke in his Invetário

of Depression, obtaining as results, respectively, 13,44% without or with minimum

depression, 46,95% from light to moderate depression, 29,26% from moderate to severe

depression and 10,36% with severe depression.

Key words: Depression; perturbation mental; Students; Medicine.

Page 44: Monografia Depressão

40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 45: Monografia Depressão

41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - GABRIEL, Sthefano Atique; et al. Rastreamento Epidemiológico da Sintomatologia

Depressiva em Residentes e Estudantes de Medicina. Revista da Faculdade de Ciências

Médicas de Sorocaba. v.7, n.3. p. 15 - 19, 2005. Disponível em:

<http://www.sorocaba.pucsp.br/atg/biblioteca/revistamedica7_3.pdf#page=20>. Acesso

em: 04 agosto 2008.

2 - MORO, Adriana; VALLE, Juliana B.; LIMA, Leandro P.. Sintomas Depressivos nos

Estudantes de Medicina da Universidade da Região de Joinville (SC). Revista

Brasileira de Educação Médica. Rio de Janeiro, V.29, nº2, maio\ago. 2005. Disponível

em:<http://www.educacaomedica.org.br/UserFiles/File/2005/volume29_2/sintomas_depres

sivos.pdf>. Acesso em: 07 agosto 2008.

3 – MONTEIRO, Kátia C. C. ; LAGE, Ana M. V. A Depressão na Adolescência.

Psicologia em Estudo, Maringá, v. 12, n. 2, p. 257-265, maio/ago. 2007. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n2/v12n2a06.pdf>. Acesso em: 07 agosto 2008.

4 – CAVESTRO, Julio M.; ROCHA Fabio L. Prevalência de depressão entre estudantes

universitários. Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG). J Bras

Psiquiatr, 55(4): 264-267, 2006. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v55n4/a01v55n4.pdf>. Acesso em: 07 agosto 2008.

5 – MILLAN, Luiz R.; ARRUDA Paulo C. V. Assistência Psicológica ao Estudante de

Medicina: 21 Anos de Experiência. Rev. Assoc. Med. Bras. 2008; 54(1): 90-4. Disponível

em: < http://www.scielo.br/pdf/ramb/v54n1/27.pdf>. Acesso em: 07 agosto 2008.

6 – QUITANA, Alberto M.; et al. A angústia na formação do estudante de medicina.

Revista Brasileira de Educação Médica. Rio de Janeiro, v.29, 2007. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rbem/v32n1/02.pdf>. Acesso em: 07 agosto 2008.

7 – BAHLS, Saint-Clair. Aspectos clínicos da depressão em crianças e adolescentes.

Jornal de Pediatria. (Rio J) 2002; 78 (5): 359-66. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/jped/v78n5/7805359.pdf>. Acesso em: 08 agosto 2008.

Page 46: Monografia Depressão

42

8 – LAGE, Ana M. V.; MONTEIRO, Kátia C. C. O uso do teste de apercepção temática

na análise da depressão no contexto da adolescência. Tudo começa em casa. (1989). São

Paulo: Martins Fontes, 1989. Disponìvel em: <http://pepsic.bvs-

psi.org.br/pdf/rsbph/v7n2/v7n2a04.pdf>. Acesso em: 09 agosto 2008.

9 – LIMA, Maria C. P.; DOMINGUES, Mariana S.; CERQUEIRA, Ana T. A..

Prevalência e Fatores de Risco para Transtornos Mentais Comuns entre Estudantes

de Medicina. Rev Saúde Pública 2006;40(6):1035-41. Disponível em:

<http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0034-

89102006000700011&script=sci_pdf&tlng=>. Acesso em: 08 agosto 2008.

10 – BELLODI, Patrícia Lacerda. Retaguarda Emocional para o Aluno de Medicina da

Santa Casa de São Paulo (Repam): Realizações e Reflexões. Faculdade de Ciências

Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, Brasil. Revista Bras. De Educação

Médica. Rio de Janeiro, v.29, nº 1, jan./abr. 2005. 31 (1) : 5 – 14 ; 2007. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rbem/v31n1/02.pdf>. Acesso em: 08 agosto 2008.

11 – FLECK, Marcelo Pio de A.; et al. Associação entre sintomas depressivos e

funcionamento social em cuidados primários à saúde. Rev Saúde Pública

2002;36(4):431-8. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v36n4/11761.pdf>.

Acesso em: 08 agosto 2008.

12 – RODRIGUES, Roberta Scalabrin; et al. Depressão em alunos de medicina. Acta

med. (Porto Alegre);27:374-380, 2006. Disponível em: <http://bases.bireme.br/cgi-

bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&n

extAction=lnk&exprSearch=445187&indexSearch=ID>. Acesso em: 08 agosto 2008.

13 – FONSECA, Maria Helena G.; FERREIRA, Roberto A. FONSECA, Sarah G.

Prevalência de sintomas depressivos em escolares. Pediatria (São Paulo)

2005;27(4):223-32. Disponível em: <http://pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/1143.pdf>.

Acesso em: 08 agosto 2008.

Page 47: Monografia Depressão

43

14 – ALMONDES, Katie M.; ARAÚJO, John F. Padrão do Ciclo Sono-Vigília e sua

Relação com a Ansiedade em Estudantes Universitários. Estudos de Psicologia 2003,

8(1), 37-43. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n1/17233.pdf>. Acesso em:

08 agosto 2008.

15 – BALDASSIN, Sergio; MARTINS, Lourdes C.; ANDRADE, Arthur G. Traços de

ansiedade entre estudantes de medicina. Arq Med ABC. 2006;31(1):27-31. Disponível

em: <http://www.fuabc.org.br/admin/files/revistas/31amabc27.pdf>. Acesso em: 08 agosto

2008.

16 – JUNIOR, Luiz Salvador de Miranda Sá. Ética do professor de Medicina. Bioética

2002 - vol 10 - nº 1. Disponível em:

<http://www.portalmedico.org.br/revista/bio10v1/Simposio1.pdf>. Acesso em: 10 agosto

2008.

17 – CERQUEIRA, Ana Teresa A. R. ; LIMA, Maria Cristina P. A formação da

identidade do médico: implicações para o ensino de graduação em Medicina. Comunic,

Saúde, Educ, v6, n11, p.107-16, ago 2002. Disponível em:

<http://www.interface.org.br/revista11/artigo2.pdf>. Acesso em: 10 agosto 2008.

18 – ZONTA, Ronaldo; ROBLES, Ana Carolina C.; GROSSEMAN, Suely. Estratégias de

Enfrentamento do Estresse Desenvolvidas por Estudantes de Medicina da

Universidade Federal de Santa Catarina. REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO

MÉDICA. Rio de Janeiro, v.29, nº 1, jan./abr. 2005 30 (3) : 147 – 153 ; 2006. Disponível

em: <http://www.scielo.br/pdf/rbem/v30n3/04.pdf>. Acesso em: 10 agosto 2008.

19 – Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clìnica \

Benjamin James Sadock, Virginia Alcott Sadock; tradução Claudia Dornelles... et al. – 9ª

Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2007. Pág. 572-625.

20 – Tratado de Histologia em cores: Sistema Endócrino. GARTNER, Leslie P.; HIATT,

James L. Editora Guanabara Koogan S.A. 2ª Ed. 2003.

Page 48: Monografia Depressão

44

21 – Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:

Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organiz. Mund. Da Saúde; trad.

Dorgival Caetano. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. P.116-26.

22 – GONÇALVES, Cintia Adriana V.; MACHADO, Ana Lúcia. Depressão, o Mal do

Século: de que século?. R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2007 abr/jun; 15(2):298-304.

Disponível em:< http://www.portalbvsenf.eerp.usp.br/pdf/reuerj/v15n2/v15n2a22.pdf>.

Acesso em: 7 out. 2008.

23 – PUC – Rio – Certificação Digital Nº 0410578/CA. Melancolia e Depressão na

História. Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-

bin/PRG_0599.EXE/8580_3.PDF?NrOcoSis=25360&CdLinPrg=pt>. Acesso em:25

outubro 2008.

24 – ROMEIRO; Luiz Antonio Soares, Fraga; Carlos Alberto Manssour. Novas estratégias

terapêuticas para o tratamento da depressão: uma visão da química medicinal. Quim.

Nova, Vol. 26, No. 3, 347-358, 2003. Disponivel em:

<http://www.scielo.br/pdf/qn/v26n3/15661.pdf>. Acesso em: 10 outubro 2008.

25 – Carpena; Lygia A. Becker. Morte Versus Sentimentos: uma realidade no mundo

dos acadêmicos de medicina. R. gaúcha Enferm., Porto Alegre, v.21, n.1, p.100-122, jan.

2000. Disponivel em: <

http://www.seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/viewFile/4308/22

71>. Acesso em: 21 outubro 2008.

Page 49: Monografia Depressão

45

ANEXOS

Page 50: Monografia Depressão

46

FUNDAÇÃO TÉCNICO-EDUCACIONAL SOUZA MARQUES

ESCOLA DE MEDICINA SOUZA MARQUES

TERMO DE CONSENTIMENTO

Você está sendo convidado(a) a participar do trabalho de pesquisa “Incidência de

depressão entre os alunos do primeiro, segundo e terceiro ano da Escola de Medicina Souza

Marques”, desenvolvido pela disciplina Iniciação Científica e Tutoria e Orientação da Escola de

Medicina Souza Marques. Sua participação é voluntária e, a qualquer momento, poderá ser

retirada. O objetivo deste trabalho é desenvolver no aluno pesquisador o interesse pelo trabalho

científico e os resultados dessa pesquisa serão utilizados para implementação de medidas

preventivas á depressão.

Sua participação nesta pesquisa será responder ao questionário sobre sintomatologia depressiva.

Destaco que sua participação é valiosa e contribuirá de forma significativa para o

aprimoramento científico do aluno pesquisador.

As informações obtidas pela pesquisa serão confidenciais e sua participação será sigilosa.

Maiores esclarecimentos poderão ser dados pelo Prof. Titular da disciplina de Iniciação Científica,

caso surjam quaisquer dúvidas.

Declaro que entendi o objetivo da pesquisa e concordo com minha participação na mesma.

CPF ou RG:_____________________________

Rio de Janeiro, ____/____/_____.

Aluísio Almeida Pinto

Aluno Pesquisador

Prof. Jemima Fuentes

Orientadora

Prof. Mauricio Perez

Regente da disciplina de Iniciação Científica

Page 51: Monografia Depressão

47

Questionário Este questionário da Sintomatologia depressiva que consiste em 21 grupos de afirmações foi elaborado pela Psicóloga Gisleide

Gonçalves de Almeida da Mata portadora da CRP-04/2171-6. Depois de ler cuidadosamente cada alternativa, faça um círculo em torno

da letra (A, B, C ou D) diante da afirmação, em cada grupo, que melhor descreve a maneira como você tem se sentido nesta semana,

incluindo hoje.

1. Eu me sinto triste e angustiado:

A sempre

B às vezes

C raramente D nunca

2. Sinto-me desmotivado para estudar:

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

3. Sinto-me cansado e sem alento, sem motivo aparente:

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca 4. Tenho pensamentos sobre morte:

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

5. Falta-me ânimo para cuidar do meu próprio corpo

(tomar banho, escovar os dentes, etc):

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

6. Não sinto vontade de levantar da cama ao acordar: A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

7. Gosto de ficar sozinho e isolado:

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

8. Sinto-me fracassado:

A sempre B às vezes

C raramente

D nunca

9. Ao olhar-me no espelho, sinto-me sem atrativos:

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

10. Tenho dificuldade em visualizar-me vitorioso ou realizado no

futuro:

A sempre

B às vezes C raramente

D nunca

11. Não sinto vontade de participar da vida em família:

A sempre

B às vezes

C raramente D nunca

12. Não tenho preocupação em alimentar-me direito:

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

13. Perdi o interesse pelas coisas que antes me interessavam:

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca 14. Sinto-me irritado:

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

15. Acordo de madrugada e não consigo mais dormir:

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

16. Para dormir, preciso de medicação:

A sempre B às vezes

C raramente

D nunca

17. Sinto-me ansioso e angustiado, sem saber o porquê.

A sempre

B às vezes

C raramente

D nunca

18. Me sinto decepcionado comigo mesmo.

A sempre

B ás vezes C raramente

D nunca

19. Perdi o interesse por sexo:

A Total

B Raramente me interesso

C Às vezes ainda me interesso por sexo

D O meu interesse pelas atividades sexuais está como antes

20. Estou ansioso, comendo muito e ganhando peso:

A sim

D não

21. Estou ansioso, sem conseguir comer e perdendo peso:

A sim D não

Page 52: Monografia Depressão

48