Monografia Eliane - Modelo Implantação Canteiro

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Universidade Federal de Minas GeraisEscola de Engenharia Departamento de Engenharia de Materiais e Construo

Curso de Especializao em Construo Civil

Monografia

" DIAGNSTICO DOS PROBLEMAS DE GESTO DE OBRAS HABITACIONAIS DE INTERESSE SOCIAL EM EMPRESAS PRIVADAS"

Autor: Eliane Alves Pereira Orientador: Prof. Paulo R. P. Andery

Janeiro/2008

ELIANE ALVES PEREIRA

" DIAGNSTICO DOS PROBLEMAS DE GESTO DE OBRAS HABITACIONAIS DE INTERESSE SOCIAL EM EMPRESAS PRIVADAS "

Monografia apresentada ao Curso de Especializao em Construo Civil da Escola de Engenharia UFMG

nfase: Avaliaes e Percias Orientador: Prof. Paulo R. P. Andery

Belo Horizonte Escola de Engenharia da UFMG 2008

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A minha famlia pelo apoio, carinho e dedicao.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, por proporcionar todos os momentos da minha vida. Aos meus pais, Aurito e Graa, que me criaram e proporcionaram minha educao, tanto escolar quanto moral, e que me ensinaram que para viver preciso ser perseverante. As minhas irms Cristiane, Fernanda e Priscila que torceram pela realizao deste trabalho. Ao meu marido Marcelo, por sempre acreditar em minha capacidade de vencer e por sempre estar ao meu lado para a realizao deste.

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SUMRIO1. 2. INTRODUO ...................................................................................................... 1 REVISO BIBLIOGRFICA .................................................................................. 6 2.1. O Dficit Habitacional e a Habitao de Interesse Social................................ 6 Dficit habitacional no Brasil .................................................................. 8 Dficit habitacional no Sudeste.............................................................. 8 Dficit habitacional em Uberlndia......................................................... 8

2.1.1. 2.1.2. 2.1.3. 2.2.

Gesto de Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social .................... 9 Camargos e outros (2003) ..................................................................... 9 Leite; Schramm; Formoso (2006) ........................................................ 10 Dornelas (2007) ................................................................................... 11

2.2.1. 2.2.2. 2.2.3. 2.3.

Sistema de Gesto da Qualidade na Construo Civil.................................. 12 Motivos para a implantao de sistemas de gesto da qualidade ....... 17 Benefcios advindos da implantao de sistemas de gesto da

2.3.1. 2.3.2.

qualidade............................................................................................................. 18 2.3.3. 2.4. 3. Dificuldades na implantao de sistemas de gesto da qualidade ...... 20

Sistema de Gesto da Qualidade e a Habitaao de Interesse Social ........... 23

ESTUDO EXPLORATRIO ................................................................................ 25 3.1. 3.2. Apropriao de dados do conjunto habitacional............................................ 25 Diagnstico dos problemas relacionados gesto da obra .......................... 28 Planejamento e programao da obra................................................. 28 Gerenciamento da produo ............................................................... 28 Gerenciamento dos materiais .............................................................. 29 Gerenciamento da mo-de-obra .......................................................... 31 Gerenciamento da qualidade ............................................................... 31 Gerenciamento da segurana do trabalho ........................................... 33 ii

3.2.1. 3.2.2. 3.2.3. 3.2.4. 3.2.5. 3.2.6.

3.2.7. 4. 5. 6.

Gerenciamento ambiental.................................................................... 34

ANLISE E DISCUSSO DE DADOS................................................................. 35 CONCLUSO...................................................................................................... 40 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................... 42

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LISTA DE FIGURASFigura 2.1 Modelo GEHIS (Leite; Schramm; Formoso, 2006)................................... 11 Figura 2.2 Macrofluxo de referncia para gesto de mutires habitacionais ........... 12 Figura 3.3 Implantao Situao Geral e Locao Padro................................... 25 Figura 3.4 Planta baixa e cortes .............................................................................. 26 Figura 3.5 Organograma da Obra ........................................................................... 26 Figura 3.6 Macrofluxo dos processos de gesto ..................................................... 27 Figura 3.7 Armazenamento de agregados (a) massa pronta, (b) areia e (c) brita 29 Figura 3.8 Produo de argamassa (a) execuo manual e (b) execuo incorreta ................................................................................................................................... 30 Figura 3.9 Armazenamento e estocagem de blocos (a) estocagem inadequada, (b) blocos trincados e (c) blocos quebrados durante o transporte e descarga............ 30 Figura 3.10 Armazenamento de tijolos (a) e telhas (b) ........................................... 31 Figura 3.11 Qualidade dos servios executados (a) cermica chocas e (b) trincas externas e internas.......................................................................................... 32 Figura 3.12 Execuo do radier (a) ferragens expostas e (b) ferragens encostadas na lona ....................................................................................................................... 32 Figura 3.13 Execuo da alvenaria (a) falta de preenchimento das juntas verticias, (b) paredes desniveladas, desaprumas e sem modulao e (c) quebra de canaleta para execuo de verga e contra-verga. .................................................................... 32 Figura 3.14 Execuo da alvenaria (a) quebra da parede para passagem de eletroduto, (b) quebra da laje para passagem de eletroduto e (c) quebra da parede para passagem das instalaes hidro-sanitrias. ....................................................... 33 Figura 3.15 EPIs (a) falta de capacete e mscara, (b) falta de capacete e cinto de segurana e (c) falta de capacete. ............................................................................ 33 Figura 3.16 Improvisaes (a) e (b) falta de segurana na execuo do servio. 34 iv

Figura 3.17 Entulho (a) resduo de blocos de concreto, (b) resduos misturados e (c) resduos com gesso. ............................................................................................. 34 Figura 4.18 modelo do Projeto do Sistema de Produo para Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social (baseado em: SCHRAMM, 2004) .......................... 37

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LISTA DE TABELASTabela 2.1 Agentes envolvidos no PAR e suas competncias .................................. 7 Tabela 2.2 Programas Habitacionais em Uberlndia-MG .......................................... 8

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LISTA DE NOTAES, ABREVIATURASABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas BNH - Banco Nacional de Habitao CEF - Caixa Econmica Federal CEMIG - Companhia Energtica de Minas Gerais COBRACON - Comit Brasileiro da Construo EHIS - Empreendimento Habitacional de Interesse Social FAR - Fundo de Arrendamento Residencial HIS - Habitao de Interesse Social ISO - International Organization for Standardization INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normal. e Qual.Industrial PAC - Plano de Acelerao do Crescimento PAR - Programa de Arrendamento Residencial PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat PDP - Processo de Desenvolvimento do Produto PMU - Prefeitura Municipal de Uberlndia PSP - Projeto do Sistema de Produo PDCA - Planejamento, Desenvolvimento, Controle e Ao PQO - Plano de Qualidade da Obra SGQ - Sistema de Gesto da Qualidade

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RESUMO

Nas ltimas dcadas, o papel do governo brasileiro na oferta de habitao de interesse social tem sofrido mudanas, com a participao mais ativa do setor privado no desenvolvimento de produtos. Isto tem levado a uma crescente complexidade principalmente em termos de gesto deste tipo de empreendimento, devido necessidade de reduo de custos e prazos para o atendimento de maior demanda e a necessidade de aumentar a qualidade e durabilidade destes empreendimentos. Estima-se que o dficit habitacional brasileiro da ordem de 7,9 milhes de moradias. Alm disso, tem-se ainda o aumento na velocidade das inovaes tecnolgicas e a crescente exigncia por qualidade por parte dos clientes. O presente trabalho sintetiza o resultado de um estudo exploratrio, cujo objetivo foi diagnosticar os problemas de gesto das obras habitacionais de interesse social em empresas privadas, que normalmente j possuem um sistema de gesto implantado, principalmente os problemas relacionados construo e fiscalizao desta tipologia de

empreendimento. A metodologia empregada caracteriza-se em pesquisa qualitativa exploratria. Espera-se com o estudo contribuir para o desenvolvimento de um sistema de gesto adequado para empreendimentos habitacionais de interesse social.

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1. INTRODUOA Cadeia da Construo Civil um dos mais importantes setores econmicos brasileiros. Essa importncia ganha amplitude no momento em que representa aproximadamente 14% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e responsvel por cerca de 60% da formao bruta de capital (FIESP, 2005). Alm da importncia econmica, a atividade da construo civil no pas tem relevante papel social, particularmente em funo de dois aspetos. O primeiro relacionado gerao de empregos proporcionada pelo setor, que responsvel pela gerao de cerca de 15 milhes de empregos (FIESP, 2005). O segundo relaciona-se ao elevado dficit habitacional no pas, estimado em 7,9 milhes de unidades, dos quais 4 milhes em reas urbanas. A maior parte das famlias que necessitam de novas residncias concentra-se em famlias com renda de at cinco salrios mnimos, que representa 96,3% do total (FJP, 2006). Sendo que a habitao digna e o acesso infra-estrutura urbana so dois direitos fundamentais do cidado, necessidades de primeira ordem na vida de qualquer indivduo, estando intimamente relacionados qualidade de vida do ser humano (FIESP, 2005). O grande desafio que se coloca na gesto de empreendimentos habitacionais, portanto, a necessidade de se construir um grande nmero de unidades a um baixo custo, com o mnimo de desperdcio, com boa qualidade, em um curto espao de tempo e que sejam atendidos adequadamente por servios bsicos de infra-estrutura (ABIKO, 1995). O conhecimento mais abrangente do gerenciamento habitacional pode tornar possvel a diminuio das perdas, a reduo dos custos e a melhoraria da qualidade das habitaes de interesse social. Esta realidade tem gerado a necessidade de se desenvolver um sistema de gesto adaptado para a construo de habitaes de interesse social, de forma a permitir que o planejamento garanta um melhor treinamento da mo-de-obra e a implantao de um controle da qualidade com foco na produtividade e no menor custo dos empreendimentos alm de maior qualidade e durabilidade da habitao. Segundo Abiko e Ornstein (2002), a melhoria da qualidade das edificaes e o incremento da produtividade, dada importncia do setor, podem ser alcanados por meio do desenvolvimento de planos organizacionais e inovaes tecnolgicas, tais como a reviso e a produo de normas tcnicas, a reduo do desperdcio em canteiros de obras, a utilizao de sistemas industrializados e a formao de um sistema nacional de certificao. Porm, vrias barreiras ainda precisam ser vencidas, especialmente no tocante ao atendimento das demandas habitacionais sociais, como por exemplo, a implementao de inovaes tecnolgicas de produtos e processos construtivos, que

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devero resultar na reduo de custos e na melhoria da qualidade (ABIKO; ORNSTEIN, 2002). Historicamente, a construo civil, dentre os setores da indstria, tem sido a que mais resistiu adoo de programas de gesto da qualidade. Por isso mesmo, protegida pela passividade dos clientes e pelo alto retorno do capital investido, a indstria entregava ao mercado produtos cuja qualidade deixava muito a desejar (FIGUEIREDO, 2006). Nos ltimos anos, entretanto, aconteceram mudanas significativas no setor de edificaes da construo civil, com o surgimento de novos concorrentes e novos materiais, bem como a formao de gestores sintonizados com a realidade de um mercado mais exigente em termos de qualidade, na medida em que o prprio consumidor final se tornou mais consciente dos seus direitos (FIGUEIREDO, 2006). O caminho freqentemente escolhido pelas empresas construtoras para aprimorar seus sistemas de gesto e do produto final a edificao bem como para reduo dos custos e do retrabalho, tem sido a implementao de sistemas estruturados de garantia e gesto da qualidade. O engajamento das empresas construtoras na introduo de Sistemas de Gesto da Qualidade (SGQ) parece ter sido possvel em funo no s de certa conscientizao dos empresrios do setor, mas tambm em funo da articulao institucional que envolveu organismos de classe, agentes representativos da cadeia de produo de edificaes, o governo (nos seus vrios mbitos) e os organismos de financiamento habitacional (FIGUEIREDO, 2006). Cabe salientar ainda, a melhoria dos processos produtivos e a padronizao dos procedimentos, bem como a melhoria da imagem da empresa, a clara definio de responsabilidades, a reduo de prazos e o aumento da satisfao dos clientes e funcionrios, como benefcios provenientes do Sistema de Gesto da Qualidade (DEPEXE, 2006). No entanto ainda existem algumas dificuldades para a efetiva implementao dos Sistemas de Gesto da Qualidade nas obras das empresas construtoras, principalmente com relao ao sistema de produo e a qualidade da edificao. Alguns trabalhos como o de Reis e Melhado (1998), Vivancos e Cardoso (2000), Neves; Maus; Nascimento (2002), Melgao e outros (2004), Paula (2004) e Depexe (2006) identificam vrias dificuldades relacionadas implantao e manuteno dos atuais sistemas de gesto da qualidade, dentre estas dificuldades podemos citar a alta rotatividade da mo-de-obra, a falta de recursos e de treinamento, a dificuldade de se manter os registros, a falta de envolvimento dos subempreiteiros e funcionrios, o baixo nvel de escolaridade, a falta de comprometimento da alta administrao falta, dos gerentes e dos funcionrios e a falta de participao e conscientizao dos colaboradores com relao aos sistemas de gesto da qualidade. Neste contexto, o presente trabalho, se prope a diagnosticar os problemas de gesto em obras habitacionais de interesse social realizados por empresas privadas, as quais normalmente j possuem um sistema de gesto implantado. Pretende-se com o mesmo demonstrar os principais problemas na aplicao do Sistema de Gesto da Qualidade (SGQ) no canteiro do obra deste tipo de empreendimento, demonstrando 2

assim as principais dificuldades na implantao e manuteno destes sistemas em campo. Justificativa O governo lanou em janeiro de 2007 o PAC Programa de Acelerao do Crescimento, que faz uma previso de investimento em habitao de R$ 27,5 bilhes para 2007 e de R$ 78,8 bilhes entre 2008 e 2010. Alm disso, prope a ampliao de R$ 1,0 bilho no limite de crdito para habitao em 2007, especialmente para oferecer acesso moradia adequada populao em situao de vulnerabilidade social e com rendimento familiar mensal de at 3 salrios mnimos (PAC, 2007). Este estmulo fornecido pelo governo, reforado pelo dficit habitacional brasileiro, gera a necessidade de se construir novas habitaes de interesse social - HIS. A gesto da produo e da qualidade pode contribuir para que estas habitaes tenham menor custo, menor perda de materiais, melhor qualidade e maior durabilidade. O que possibilita o atendimento a um maior nmero de famlias. O caminho frequentemente escolhido pelas construtoras para aprimorar seus sistemas de gesto tem sido a implementao de sistemas estruturados de garantia e gesto da qualidade. Entre os principais sistemas de gesto implementados temos o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), que se prope a organizar o setor da construo civil em torno da melhoria da qualidade e da modernizao produtiva, gerando um ambiente de isonomia competitiva. Para isso, o Programa conta com a participao ativa dos segmentos da cadeia produtiva, agregando esforos na busca de solues com maior qualidade e menor custo para reduo do dficit habitacional no pas (PBQP-H, 2007). Um dos projetos propulsores do PBQP-H o Sistema de Avaliao da Conformidade de Empresas de Servios e Obras (SiAC), que o resultado da reviso e ampliao do antigo SiQ (Sistema de Qualificao de Empresas de Servios e Obras). O SiAC tem como objetivo avaliar a conformidade do sistema de gesto da qualidade das empresas de servios e obras, considerando as caractersticas especficas da atuao dessas empresas no setor da construo civil, e baseando-se na srie de normas ISO 9000 (PBQP-H, 2007). O Sistema busca contribuir para a evoluo dos patamares de qualidade do setor, envolvendo especialidades tcnicas de execuo de obras, servios especializados de execuo de obras, gerenciamento de obras e de empreendimentos e elaborao de projetos (PBQP-H, 2007). Entretanto observam-se vrias dificuldades das empresas construtoras para efetiva implementao dos SGQs em suas obras. Alm disso, os sistemas implantados, normalmente no so adaptados para a construo de habitaes de interesse social, as quais possuem vrias particularidades decorrentes da tipologia do empreendimento, apesar de ser um dos principais objetivos do PBQP-H. Em funo dessas caractersticas, um estudo como o apresentado no presente trabalho, parece ser pertinente, com os objetivos indicados na seqncia.

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Objetivos Este trabalho tem como objetivo principal apresentar elementos que contribuam para um diagnstico dos problemas de gesto em Obras Habitacionais de Interesse Social realizados por empresas privadas. Os objetivos especficos desta pesquisa so: a) Verificar a documentao relacionada ao sistema de gesto da qualidade disponvel na obra, que pode fornecer evidncias sobre o grau de amadurecimento dos sistemas de gesto da qualidade e ajuda a identificar os problemas no sistema de gesto. b) Verificar a aplicao dos processos do sistema de gesto da qualidade neste tipo de empreendimento. Metodologia Inicialmente procedeu-se uma reviso bibliogrfica, de modo a fornecer as bases tericas para a conduo da pesquisa. Nesta etapa foram consultados artigos, teses, dissertaes, livros e sites da internet, tanto nacionais como internacionais. Os assuntos pesquisados dizem respeito ao dficit habitacional, habitao de interesse social (HIS), gesto de empreendimentos habitacionais de interesse social (EHIS) e ao sistema de gesto da qualidade (SGQ). Uma segunda etapa refere-se realizao de um estudo exploratrio na cidade de Uberlndia, MG. Trata-se do estudo da aplicao do sistema de gesto da qualidade no canteiro de obras de uma empresa construtora. O estudo exploratrio foi realizado em um empreendimento financiamento pela Caixa Econmica Federal atravs do PAR Programa de Arrendamento Residencial que visou construo de 500 habitaes de interesse social, no perodo de dezembro de 2006 a agosto de 2007. A construo foi dividida entre quatro empresas construtoras sendo que a empresa A, B e C so responsveis por 100 casas cada e a empresa D por 200 casas. O estudo exploratrio foi realizado apenas na empresa A. Foram utilizados trs tipos de dados (observao no participante, registro fotogrfico e documentos cedidos pela unidade de estudo) deixando o pesquisador em contato prximo ao fenmeno a ser estudado. Estrutura da Monografia Este trabalho composto, por 5 captulos, como segue: a) Captulo 1 Introduo: justifica e aponta a importncia do tema escolhido, contextualiza o trabalho, apresenta os objetivos, a metodologia e a estrutura de apresentao. b) Captulo 2 Entendimento do processo de gesto da qualidade em obras HIS: Discorre sobre o dficit habitacional e habitao de interesse social, identificando suas necessidades e as solues atualmente adotadas. Apresenta o que a literatura prope 4

sobre a gesto da produo em obras habitacionais, principalmente aqueles voltados para Habitao de Interesse Social (HIS) e gesto da qualidade em obras HIS. c) Captulo 3 Estudo exploratrio: caracteriza-se o empreendimento, faz-se o levantamento da documentao relacionada obra como projetos, especificaes, oramentos, cronogramas e planos de qualidade. A partir das observaes em campo, da reviso bibliogrfica e do SGQ da empresa pesquisada, diagnosticam-se os problemas de aplicao do sistema gesto da qualidade no canteiro de obras relacionados construo. d) Captulo 4 Anlise e discusso dos dados: apresenta uma sntese dos principais pontos do diagnsticos; indica os principais benefcios e dificuldades da aplicao dos SGQs em obras HIS. e) Captulo 5 Concluso: Apresenta as concluses do trabalho e relata sugestes para trabalhos futuros. Observaes / Limitaes da Pesquisa O presente trabalho apresenta algumas limitaes, o que restringe sua representatividade e possveis generalizaes das informaes em outros ambientes e situaes diferentes. A pesquisa apresenta as caractersticas e prticas correntes dentro de uma realidade regional, uma vez que se pesquisou apenas uma empresa construtora da cidade de Uberlndia, portanto, pode no representar a realidade da maioria dos Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social. Cabe salientar tambm que, devido s caractersticas especficas do setor da construo civil, os resultados obtidos podem no ser vlidos para outros setores.

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2. REVISO BIBLIOGRFICAEsta seo busca o entendimento do contexto geral do problema habitacional, da gesto de empreendimentos habitacionais de interesse social e por fim trata do sistema de gesto da qualidade para atendimento a demanda provocada por este problema. 2.1. O Dficit Habitacional e a Habitao de Interesse Social O Dficit Habitacional definido como a necessidade de construo de novas habitaes, considerando a carncia de residncias e a substituio de moradias que estejam em situao precria (FIESP, 2005). No Brasil, o nmero total de novas habitaes necessrias da ordem de 7,9 milhes (FJP, 2006). A maior parte das famlias que necessitam de novas residncias vive em situao de coabitao familiar, problema que demanda cerca de 3,7 milhes de novas residncias. Cerca de 83% do dficit habitacional total concentra-se em famlias com renda de at trs salrios mnimos. Na classificao por tipo de moradia, o Sudeste apresenta aproximadamente 40% (2,2 milhes) das necessidades de moradia urbana (FIESP, 2005). O Projeto de Lei Complementar n. 477/2003 (BRASIL, 2003), definiu habitao de interesse social a habitao nova ou usada, urbana ou rural, incluindo seu terreno, para a populao de baixa renda, com valor inferior a trinta e seis mil reais (R$ 36.000,00) e com a aprovao do rgo municipal responsvel. Para a Caixa Econmica Federal (CEF, 2007), programa habitacional de interesse social aquele que, em consonncia com as diretrizes estratgicas em vigor, prioriza o atendimento populao de baixa renda, a reduo do dficit habitacional e das desigualdades sociais e regionais e, ainda, a gerao de novos empregos. A CEF distribui oramentos e metas relativas aos diversos programas implementados com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS), do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Programa de Subsdio de HIS (PSH). Nas ltimas dcadas, o papel do Governo brasileiro na oferta de HIS tem sofrido mudanas, com a participao mais ativa do setor privado no desenvolvimento de produtos. Isto tem levado crescente complexidade financeira, regulamentar, ambiental, social e tcnica (LEITE, 2005). Um grande nmero de profissionais envolvido, demandando muito esforo no gerenciamento destes empreendimentos. Alm disso, o aumento na velocidade das inovaes tecnolgicas e a crescente exigncia por qualidade por parte dos clientes tm demandado mudanas no processo de desenvolvimento e produo. O Programa de Arrendamento Residencial (PAR) tem-se mostrado uma importante forma de proviso habitacional no Brasil e foi selecionado, para o desenvolvimento desta pesquisa, por ter como foco principal a populao que representa a maior parte do dficit habitacional brasileiro e envolver na produo das unidades habitacionais empresas de construo civil.

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O PAR promovido pelo setor pblico e sua implementao est a cargo da CEF, sendo o empreendimento realizado atravs da iniciativa de empresas privadas. Tem como objetivo reduzir o dficit habitacional em municpios com mais de 100.000 habitantes. focado no atendimento das famlias com renda de at 6 salrios mnimos, viabilizando a aquisio de imveis residenciais com pagamento parcelado atravs do arrendamento residencial, com opo de compra ao final do perodo de contrato. A Tabela 2.1 apresenta os principais agentes envolvidos no PAR e suas respectivas competncias.Tabela 2.1 Agentes envolvidos no PAR e suas competncias Agentes envolvidosMinistrio das Cidades Caixa Econmica Federal Poder Pblico e Sociedade Civil Organizada

CompetnciasAgente gestor do PAR, responsvel por estabelecer diretrizes para a aplicao dos recursos alocados ao PAR Agente executor do PAR, responsvel pela alocao dos recursos e expedio dos atos necessrios operacionalizao do Programa Auxiliam a CEF na identificao dos locais e na seleo das famlias a serem beneficiadas pelo programa. Cabe ainda ao poder pblico facilitar a implantao dos projetos, fazendo aporte de recursos, reduzindo a carga de tributos e taxas que possam onerar o custo dos imveis a serem arrendados e tornando mais gil o processo de aprovao dos empreendimentos e a instalao de infra-estrutura bsica nas reas de interveno Produzem as unidades habitacionais nas reas contempladas pelo Programa Administram os contratos de arrendamento, os imveis e condomnios, se for o caso, no mbito do PAR responsvel pela elaborao e execuo do Projeto de Trabalho Tcnico Social (PTTS) nos empreendimentos contratados Pagam a taxa de arrendamento e manuteno, bem como tem a responsabilidade de manter a unidade habitacional

Empresas de Construo Civil Empresas do ramo da Administrao Imobiliria Agente Executor do Trabalho Tcnico Social Arrendatrio (Pessoa Fsica habilitada ao arrendamento)

Fonte: Adaptado de CEF (2007)

importante salientar que na relao construtora cliente, a CEF o principal cliente, e tem um papel importante na concepo dos empreendimentos. Seus tcnicos so responsveis pelas negociaes dos parmetros do produto, estabelecidos pelo Ministrio das Cidades, com as empresas construtoras, alm da avaliao dos projetos, oramentos, cronogramas, fiscalizao da obra e seleo do cliente final. A liberao dos recursos atrelada ao cronograma fsico-financeiro aprovado pela CEF. Mensalmente fiscais fazem a medio da produo para a liberao das parcelas do pagamento. Em caso de no cumprimento do cronograma fsico, o pagamento no liberado. O cronograma fsico-financeiro pode ser alternado no decorrer da produo, desde que aprovado pelo agente. Os contratos desses empreendimentos no permitem alterao do preo. Assim o lucro da empresa construtora depende essencialmente do custo final do empreendimento, ou seja, os processos de projeto e produo so realizados para atender os requisitos do cliente, buscando totalizar um custo total inferior ao preo fixado no contrato a fim de obter um resultado financeiro positivo. Portanto, a gesto dos custos durante a fase de produo, incluindo a busca pela reduo, essencial ao sucesso desses empreendimentos, considerando que a margem de lucro , na maioria das vezes, relativamente pequena (KERN, 2005). 7

2.1.1. Dficit habitacional no Brasil No Brasil, o nmero total de novas habitaes necessrias da ordem de 7,9 milhes (FJP, 2006). Segundo o presidente da Cmara Brasileira da Indstria da Construo (CBIC), Paulo Simo, o Brasil precisa, no mnimo, de 400 mil novos imveis por ano para comear a equacionar o dficit habitacional. Simo lembrou ainda que Pases latino-americanos como o Mxico e o Chile j comeam a eliminar o problema com medidas inspiradas no extinto Banco Nacional de Habitao (BNH)", destacando que o pas mexicano produz atualmente 700 mil novas unidades por ano, enquanto a mdia brasileira dos ltimos quatro anos foi de 80 mil imveis novos, sendo que neste ano a expectativa de 150 mil (CBIC, 2007). A maior parte das famlias que necessitam de novas residncias concentra-se em famlias com renda de at cinco salrios mnimos, que representa 96,3% do total. 2.1.2. Dficit habitacional no Sudeste O Sudeste apresenta a maior parcela das carncias habitacionais, representando 36,7% do total do dficit brasileiro, o que representa 2,9 milhes das necessidades de moradia, sendo que So Paulo apresenta a maior parte deste dficit com aproximadamente 1,51 milhes das necessidades de moradia, seguida por Minas Gerais com 0,68 milhes, Rio de Janeiro com 0,58 milhes e Esprito Santo com 0,13 milhes (FJP, 2006). 2.1.3. Dficit habitacional em Uberlndia Em Uberlndia-MG o dficit habitacional, segundo informaes passadas no I Seminrio de Moradia Popular, da ordem de 14.000 moradias. Os programas habitacionais que esto sendo desenvolvidos atualmente e contam com a contrapartida da Prefeitura Municipal so descritos na Tabela 2.2.Tabela 2.2 Programas Habitacionais em Uberlndia-MG Programa PAR Programa de Arrendamento Residencial Pr-Moradia Operaes Coletivas (Res. 518) Recursos do Oramento da Unio Lares Gerais Fonte: I Seminrio de Moradia Popular1

rgo Governo Federal Governo Federal Governo Federal Governo Federal Governo Federal

Faixa Salarial 3 a 6 salrios mnimos At R$ 1.050,00 At R$ 1.875,00 At 3 salrios mnimos 1 a 3 salrios mnimos

I Seminrio de Moradia Popular, realizado pelo mandato do vereador Delfino Rodrigues, no plenrio da Cmara Municipal de Uberlndia, no dia 16 de agosto de 2007.

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2.2. Gesto de Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social Esta seo dedicada apresentao das diferentes abordagens quanto s etapas de gesto de um empreendimento habitacionais de interesse social identificadas por diversos autores, conforme ser detalhado a seguir. Busca-se apresentar algumas das principais pesquisas realizadas sobre este assunto. 2.2.1. Camargos e outros (2003) Os autores comentam que, tendo em vista o objetivo principal da Secretaria Municipal de Habitao de Belo Horizonte - SMHAB, que de entregar moradias com condies dignas para populao de baixa renda, buscando sempre executar obras de melhor qualidade com o menor custo possvel, foi implantado um Sistema de Gesto pela Qualidade de Obras, cujo objetivo melhorar as condies de execuo de seus empreendimentos, desde a concepo dos projetos at a finalizao e entrega das obras. O Sistema de Gesto pela Qualidade de Obras segundo os autores encontra em evoluo, e tem como principais aspectos: ainda se

a) padres e processos construtivos: a determinao do tipo de projeto leva em considerao o local e o tamanho do terreno disponvel para o empreendimento a ser desenvolvido; b) projetos: o desenvolvimento dos projetos realizado buscando-se melhor utilizao dos espaos, estudo de viabilidade de materiais e tecnologias que proporcionem melhor desempenho a um menor custo, otimizao dos servios, padronizando sempre que possvel e detalhando de maneira mais eficiente, a fim de minimizar as possveis dvidas durante a execuo; c) materiais e servios: antes do incio das obras, exigido da empresa contratada que apresente um plano de controle tecnolgico, no qual so descritos todos os procedimentos de controle dos principais materiais (recebimento, armazenamento, ensaios e aplicao) e servios (responsveis, metodologia de execuo e controle) necessrios durante a execuo do empreendimento; d) processo de fiscalizao: a fiscalizao passou por um processo de evoluo que foi fundamental para a melhoria na qualidade das obras. Para tanto, foram adotados os seguintes procedimentos: investimento em cursos de aperfeioamento para tcnicos da SMHAB, tais como: Controle Tecnolgico, Critrios de Medio e Pagamento e cursos de informtica, implantao de Planejamento Gerencial das atividades da obra com a participao da fiscalizao e empreiteiras, atualizando o cronograma de obras semanalmente, por meio do MS-PROJECT e por tabelas e grficos que retratam os servios j executados, reunies semanais de planejamento de cada empreendimento, permitindo melhor gerenciamento, por antever problemas, buscando solues antes que os mesmos efetivamente aconteam, 9

termo de referncia de obras, que se baseia nas recomendaes do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Hbitat (PBQP-H) faz parte do edital, sendo exigido, pela fiscalizao, o seu total cumprimento durante todo o decorrer do contrato, acionamento de empresas prestadoras de servios de controle tecnolgico para eventuais contra-provas dos ensaios apresentados pelas empreiteiras. e) canteiro de obras: acreditando que no prprio canteiro de obras pode-se verificar o acompanhamento da obra e realizar as reunies integradas, foram necessrias vrias adequaes neste local; f) reunies integradas: reunies integradas no canteiro de obras acontecem semanalmente, o que propicia maior rapidez na soluo de problemas, alm de melhor integrar o corpo tcnico da SMHAB e os empreiteiros na busca do objetivo comum que o empreendimento de melhor qualidade; g) oramento e custos: na apresentao do projeto, so estudadas as interfaces entre os setores de projeto, oramento e obras, buscando-se a compatibilizao das diversas etapas, por meio da realizao de vistorias conjuntas; h) no setor de oramentos feito o monitoramento da performance das empresas na conduo das obras, por meio do acompanhamento fsico-financeiro, em que o cronograma previsto apresentado pela empresa comparado com o realizado; i) abordagem ambiental: a SMHAB tem inserido a abordagem ambiental em suas aes, em consonncia com a poltica municipal de meio ambiente. Desta forma, o planejamento habitacional tem como referncia o homem, suas necessidades de infra-estrutura e a qualidade ambiental. Estes referenciais servem como parmetros para a definio dos locais de interveno, para a concepo e elaborao dos projetos, que inclui o processo de licenciamento ambiental, e para a implantao dos empreendimentos. 2.2.2. Leite; Schramm; Formoso (2006) As informaes aqui relatadas referem-se ao projeto Gesto de Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social (GEHIS) que foi desenvolvido de 2001 a 2004 pelo grupo de pesquisa em Gerenciamento e Economia da Construo (GEC) do Ncleo Orientado para a Inovao da Edificao (NORIE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em conjunto com grupos de outras quatro universidades brasileiras, na Bahia (Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS), no Cear (Universidade Federal do Cear UFC) e no Paran (Universidade Estadual de Londrina UEL e Universidade do Oeste do Paran UNIOESTE). Cada ncleo desenvolveu estudos em diversas reas. O objetivo geral do Projeto GEHIS foi desenvolver um modelo de gesto integrada de projeto e produo para empreendimentos HIS, enfatizando a reduo de perdas dos vrios recursos envolvidos na construo desses empreendimentos, tais como tempo, materiais, mo-de-obra, equipamentos e capital. 10

Segundo os autores, o modelo integrado de gesto de projeto e produo em empreendimentos HIS Modelo GEHIS composto de mdulos que representam diferentes processos gerenciais, os quais se referem s diferentes etapas do Processo de Desenvolvimento do Produto (PDP), conforme ilustra a Figura 2.1: a) concepo; b) projeto; c) execuo; e d) uso e ocupao, onde apresenta tambm os mdulos que o Modelo GEHIS composto: Gesto de Requisitos, Projeto do Sistema de Produo (PSP), Planejamento e Controle da Produo, Gesto de Custos, Gesto de Fluxos Fsicos e Segurana e Gesto da Qualidade. Esse ltimo, por sua vez, permeia todos os demais mdulos.Processo de desenvolvimento do produtoConcepo Projeto Execuo Uso e ocupao

Mdulos do sistema de gesto

Preparao do sistema GEHIS

Gesto de custos Captao e processamento de requisitos Projeto do sistema de produo Planejamento e controle da produo

Avaliao do sistema GEHIS

Avaliao ps-ocupao

Gesto de fluxos fsicos e segurana

Gesto da qualidadeRetroalimentao

Figura 2.1 Modelo GEHIS (Leite; Schramm; Formoso, 2006)

Segundo Leite; Schramm; Formoso (2006), a partir da elaborao do PSP, pode-se antecipar as decises relacionadas ao sistema de produo do empreendimento tentando garantir que elas possam ser efetivamente operacionalizadas antes do incio da sua execuo, buscando reduzir, dessa forma, os nveis de incerteza e variabilidade, cujo efeito amplificado em funo das caractersticas peculiares desses empreendimentos, como velocidade, repetitividade e pequena margem de lucro. 2.2.3. Dornelas (2007) Dornelas (2007) em sua dissertao de mestrado prope um manual de diretrizes para gesto de mutires habitacionais, que segundo o autor, tem potencial para gerar uma relao custo/benefcio favorvel no processo de proviso habitacional, podendo gerar melhores resultados de produo, em particular quanto reduo de perdas de materiais. O autor ressalta ainda que boa parte das diretrizes expostas no MANUAL tem aplicabilidade tambm, nas intervenes habitacionais de interesse social que no utilizam o mutiro. 11

Para isto Dornelas elaborou um macrofluxo de gesto apresentado na Figura 2.2. Este macrofluxo esta subdividido em duas partes, a primeira parte aborda as etapas do processo de proviso habitacional e a segunda parte, aborda a gesto do processo de construo e fiscalizao. As duas partes so direcionadas para a avaliao psocupao e o resultado dos processos so utilizados para retroalimentar o macrofluxo. Neste estudo ser enfatizada somente a segunda parte, a gesto dos processos de construo e fiscalizao que compreendem as etapas de planejamento e programao da obra, gerenciamento da produo, de materiais, da mo-de-obra, de equipamentos e ferramentas e da segurana do trabalho, pois so as que mais se relacionam a gesto da obra.Processo de proviso habitacional em mutiro Motivao Proviso de terreno Finaciamento da construo Financiamento do muturio

lia Ava o upa -oc ps o

Proviso de projeto

Licenciamento da obra

Processo de construo

Fiscalizao da construo

Entrega das unidades habitacionais

Gesto do processo de construo e fiscalizao

A v alia o ps -oc upa o

Planejamento e Gerenciamento Gerenciamento programao da da produo de materiais obra

Gerenciamento Gerenciamento Gerenciamento de da segurana da equipamentos e do trabalho mo-de-obra ferramentas

Retroalimentao

Figura 2.2 Macrofluxo de referncia para gesto de mutires habitacionais

2.3. Sistema de Gesto da Qualidade na Construo Civil O modelo de certificao de sistemas de gesto da qualidade mais difundido ao redor do mundo a padronizao baseada na norma ISO 9000. A srie de normas ISO 9000 foi elaborada pela International Organization for Standardization, uma organizao no governamental com sede em Genebra, na Sua, composta por mais de 130 pases, inclusive pelo Brasil, com o objetivo de promover o desenvolvimento de normas internacionais (ALVES, 2001). No Brasil, a ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas responsvel pela traduo da ISO 9000, atravs do CB-25 - Comit Brasileiro da Qualidade. O CB-25 tem como objetivo produzir e disseminar as normas de sistemas de Gesto da Qualidade e Garantia da Qualidade e de Avaliao da Conformidade e suas tcnicas

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correlatas, observando as condies atuais de integrao econmica internacional e contribuindo para a capacitao tecnolgica brasileira. (ABNT, 2007). A primeira verso da ISO 9000 surgiu em 1987, que foi traduzida pela ABNT em 1990. A srie NBR ISO 9000:1990 passou por uma pequena reviso em 1994. A verso de 1994, assim como a verso anterior, no trata de especificaes de produtos, mas so normas sistmicas que estabelecem os elementos do sistema de gesto e da garantia da qualidade a serem consideradas pelas empresas (PAULA, 2004). Deste modo, a certificao consiste na obteno de um certificado que atesta a conformidade do sistema da qualidade implementado por uma determinada organizao com relao aos requisitos expressos na norma. Deste modo, a ISO 9000 busca a garantia da qualidade dos produtos e servios a partir da garantia da qualidade dos processos que os produzem (PALADINI, 2002). Muitos pesquisadores, acadmicos e profissionais se questionam sobre os benefcios que a certificao de sistemas de gesto da qualidade tem gerado para as organizaes, uma vez que existe uma grande distncia entre a gesto da qualidade e a mera normalizao. H dvidas quanto ao grau de melhoria que a implantao da norma ISO 9000 produz nas organizaes. Ou seja, at que ponto a certificao auxilia na evoluo das empresas, no somente em aspectos relacionados qualidade, mas na realizao de negcios e na ao de seus clientes (BATTISTUZZO, 2000). A famlia de normas ISO 9000 foi apresentada aos executivos como a soluo para seus problemas da qualidade e que proporciona, no futuro, a certeza de produtos e servios conformes (CROSBY, 2000). O autor acredita que a norma pode ser muito til, com possibilidade de se tornar o alicerce de um novo nvel de progressos na gesto da qualidade. Para isso, necessrio que as pessoas que a utilizam recebam uma educao adequada para elevar o nvel de conscientizao e entendimento do papel das normas em seus processos operacionais. Para Battistuzzo (2000), os requisitos da ISO 9000, por ser um conjunto de boas prticas gerenciais, deveriam ser utilizados pelas organizaes como um mecanismo bsico de preveno de problemas. No entanto, observa-se que, em geral, no se realiza adequadamente um planejamento da qualidade, no se verifica a capacidade do processo, no se avaliam os requisitos dos clientes e no se registram todos os problemas para no criar desavenas com clientes e auditores. Assim, o sistema no cumpre sua principal funo, que proporcionar a melhoria contnua da qualidade. A norma NBR ISO 9001: 2000 apresenta mudanas significativas em relao verso 1994, pois deixa de ser um sistema de garantia da qualidade e passa a se caracterizar como um sistema de gesto da qualidade. Agora as empresas devem demonstrar sua capacidade de atingir a satisfao do cliente, com a aplicao da melhoria contnua de seus processos e da preveno de no conformidades, conforme Branchini (2002). A nova reviso tornou a norma menos prescritiva e mais flexvel, com maior nfase na melhoria contnua e na gesto dos processos (ALVES e SOARES, 2003). Deste modo, h uma preocupao com o sistema de gerenciamento e melhoria da empresa como um todo, alm de estimular a comunicao e retroalimentao proporcionada pelo ciclo PDCA (PAULA, 2004). Assim, a nova verso enfoca a abordagem de processos para o desenvolvimento, implementao e melhoria da 13

eficcia de um SGQ para aumentar a satisfao do cliente pelo atendimento aos requisitos do cliente (ABNT, 2000, p. 2). De acordo com Paula (2004), a nova verso toma por base oito princpios, que levam em conta uma concepo mais atualizada de um sistema de gesto da qualidade: foco no cliente, liderana, envolvimento de pessoas, abordagem de processo, abordagem sistmica para a gesto, melhoria contnua, abordagem factual para tomada de deciso e benefcios mtuos nas relaes com os fornecedores. Uma das alteraes da norma em relao verso de 1994 a substituio das 20 clusulas de requisitos por uma estrutura baseada no ciclo PDCA, de modo a aumentar a compatibilidade com a ISO 14001:1996. Outra alterao a reduo no nmero de requisitos dirigidos ao nvel operacional. Em contrapartida, a norma aumenta a responsabilidade da alta direo a respeito do sistema. A norma tambm apresenta uma cobertura mais ampla da qualidade, com a substituio de um sistema de garantia da qualidade para uma combinao de melhoria contnua e sistema de gesto da qualidade, que procura aumentar a satisfao do cliente. Observa-se que a certificao apenas uma parte da busca da melhoria da qualidade. Conforme Crosby (2000), as organizaes que buscam melhores resultados e reputao por serem confiveis devem ter uma clara poltica da qualidade, devem educar todos a respeito das responsabilidades pessoais na criao de uma cultura de preveno, devem possuir requisitos claros a respeitos de produtos e sistemas (cabe aqui a ISO 9000), alm do exemplo e direo por parte dos gerentes para que todos trabalhem dessa maneira. A NBR ISO 9001 aplicvel a qualquer tipo de organizao (ABNT, 2000), inclusive empresas da indstria da construo civil. No entanto, necessrio um esforo de adaptao considervel quando se procura aplicar conceitos e modelos dessas normas em empresas construtoras, pois a srie de normas ISO 9000 foi elaborada visando atender a indstria seriada (REIS e MELHADO, 1998). De acordo com Picchi (1993), apesar dos conceitos gerais da qualidade terem sido desenvolvidos em setores industriais com realidades diferentes da construo civil, eles podem ser utilizados como conceitos universais, desde que sejam adaptados s particularidades do setor. No Brasil, observa-se que as primeiras iniciativas de programas de implantao de SGQ adaptados ao setor da construo civil surgiram nos anos 90. Em 1996, foi criado em So Paulo, pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de So Paulo (CDHU), o Programa da Qualidade na Habitao Popular (QUALIHAB). Este foi inspirado no sistema francs QUALIBAT (Organisme professionnel de QUALIfication et de certificication du BATment) e um programa para a certificao dos Sistemas de Garantia da Qualidade das empresas construtoras, baseado na srie de normas ISO 9000. O Programa QUALIHAB busca a melhoria da qualidade e reduo de custos para habitaes populares, atravs de parceria entre o Estado e demais agentes do meio produtivo, mediante aes voltadas para materiais, componentes, projetos e obras e esta em funcionamento desde 1997, sendo pioneiro no Brasil (CARDOSO et al., 1998). O QUALIHAB se caracteriza pela

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evoluo em nveis a serem vencidos paulatinamente pelas empresas, podendo se dizer que um sistema preparatrio para a certificao pelas normas ISO. Existem outros programas regionais, alm do QUALIHAB, como PAR OBRAS no Par, QUALIPAV-RIO no Rio de Janeiro e QUALIOP na Bahia. Estes programas so denominados de Programas Setoriais da Qualidade (PSQs), que so acordos firmados pelos governos estaduais ou municipais, representando o setor pblico e a populao, entidades de classe e associaes nacionais, representando o setor privado, e os agentes financiadores. Tais acordos regulamentam os requisitos de qualificao e so assinados entre as partes interessadas, ou seja, o poder de compra e a respectiva cadeia produtiva. (JOBIM FILHO; JOBIM, 2004). Em dezembro de 1998, foi institudo pelo Governo Federal, com abrangncia nacional, o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade na Construo Habitacional (PBQP-H, 2007). O PBQP-H, foi criado em 1991, com a finalidade de difundir os novos conceitos de qualidade, gesto e organizao da produo que esto revolucionando a economia mundial, indispensveis modernizao e competitividade das empresas brasileiras. No ano 2000 foi estabelecida a necessidade de uma ampliao do escopo do Programa, que passou a integrar o Plano Plurianual (PPA) e a partir de ento englobou tambm as reas de Saneamento e Infra-estrutura Urbana, alm da construo habitacional. Assim, o "H" do Programa passou de "Habitao" para "Habitat", conceito mais amplo e que reflete melhor sua nova rea de atuao. O PPA 2004/2007 traz o Programa da Qualidade e Produtividade do Habitat, definindo assim o seu objetivo: Elevar os patamares da qualidade e produtividade da construo civil, por meio da criao e implantao de mecanismos de modernizao tecnolgica e gerencial, contribuindo para ampliar o acesso moradia para a populao de menor renda (PBQP-H, 2007). Um dos projetos propulsores do PBQP-H o Sistema de Avaliao da Conformidade de Empresas de Servios e Obras (SiAC), que o resultado da reviso e ampliao do antigo SiQ (Sistema de Qualificao de Empresas de Servios e Obras). O SiAC tem como objetivo avaliar a conformidade do sistema de gesto da qualidade das empresas de servios e obras, considerando as caractersticas especficas da atuao dessas empresas no setor da construo civil, e baseando-se na srie de normas ISO 9000 (PBQP-H, 2007). O Sistema busca contribuir para a evoluo dos patamares de qualidade do setor, envolvendo especialidades tcnicas de execuo de obras, servios especializados de execuo de obras, gerenciamento de obras e de empreendimentos e elaborao de projetos (PBQP-H, 2007). O SiAC possui carter evolutivo, estabelecendo nveis de certificao progressivos (D, C, B e A), segundo os quais os sistemas de gesto da qualidade das empresas construtoras so avaliados e classificados e tem como objetivo estabelecer um referencial tcnico baseado do sistema de qualificao evolutiva adequado as caractersticas especificas das empresas construtoras (PBQP-H, 2007). Segundo Silveira, Lima e Almeida (2000), um sistema evolutivo possui um efeito pedaggico no progresso do estabelecimento do sistema, que induz melhoria contnua. Um dos pontos fundamentais da alterao do SIQ para o SiAC foi que houve uma ampliao significativa da participao do Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (INMETRO) no PBQP-H. Com isso, o sistema 15

passou a adotar o conceito de Avaliao da Conformidade em lugar de qualificao. Outro ponto fundamental de alteraes foi a instituio da Auto-Declarao de Conformidade para o nvel "D" (inicial) do sistema. Com isso, a empresa de servios e obras passa a responsabilizar-se legalmente pela veracidade do contedo dessa Auto-Declarao, no sendo realizada auditoria na empresa no nvel "D". Por outro lado, os nveis C, B e A passam a ser efetivamente objeto de certificao, e no mais qualificao. Cardoso (2005) expe outras inovaes do SiAC frente ao SiQ-C, alm das expostas anteriormente, como por exemplo, definio das especialidades tcnicas: servios especializados de execuo de obras; elaborao de projetos e gerenciamento de obras e de empreendimentos, dentre outros. No Brasil, existem muitos trabalhos que apresentam a implantao de SGQ em empresas atuantes na construo civil, principalmente empresas construtoras. Nesta seo alm de relatar algumas iniciativas de implantao de SGQ, aborda-se principalmente questes como motivao para qualificao, dificuldades apresentadas durante a implantao, bem como melhorias apresentadas aps implantao e certificao. Os primeiros movimentos pela qualidade na construo civil no Brasil iniciaram com Picchi (1993), que aplicou conceitos gerais da qualidade na construo civil. O autor props uma estrutura de sistema de qualidade baseado nas normas da srie ISO/NB 9000, hoje NBR ISO 9000, para empresas construtoras e incorporadoras de edifcios. A estrutura deste sistema foi organizada conforme as etapas de processo, so elas: poltica e organizao, recursos humanos, planejamento do empreendimento e vendas, projeto, suprimentos, execuo, servio ao cliente e assistncia tcnica. Souza e outros (1994) apresentam a metodologia de implantao de Sistemas de Garantia da Qualidade aplicado a um grupo de construtoras associadas ao Sindicato da Indstria da Construo Civil do estado de So Paulo (SINDUSCON/SP) por meio de consultoria do Centro de Tecnologia de Edificaes (CTE). De acordo Souza e Mekbekian (1995), o CTE presta treinamentos e consultorias individuais e em grupo de empresas construtoras em vrias regies do Brasil, por meio da metodologia de implantao proposta pelo CTE. Na sua tese, Souza (1997) apresenta um estudo de caso com 12 pequenas e mdias empresas construtoras, onde ele busca verificar a aplicabilidade da metodologia de desenvolvimento e implantao de SGQ. Esta metodologia est composta em 12 mdulos. Diversos autores relatam as iniciativas de qualificao em empresas construtoras no Brasil. Reis e Melhado (1998) apresentam um estudo com 15 construtoras e incorporadoras de edifcios habitacionais e comerciais da cidade de So Paulo - SP. Essas empresas implantaram um SGQ e obtiveram a certificao na ISO 9000:1994. Na cidade de Santa Maria RS, Lorenzi (1999) relata a experincia de cinco empresas construtoras de edificaes no processo de implantao de seus sistemas de garantia da qualidade pela NBR ISO 9000:1994. Na cidade de Goinia GO, Brandstetter (2001) caracteriza e analisa os impactos do processo de certificao da qualidade na ISO 9000 em quatro empresas construtoras. 16

Em Joo Pessoa PB, Arajo et al. (2002) apresentam o processo de certificao no PBQP-H de uma empresa que faz parte de um grupo de 18 construtoras. No estado do Rio Grande do Norte, Silveira e outros (2002) descrevem a implementao do PBQP-H em uma empresa que atua nas reas de construo civil, de incorporao imobiliria e de engenharia em infra-estrutura, com clientes particulares e pblicos. Neves; Maus; Nascimento (2002) apresentam uma anlise da implantao do PBQPH, nos nveis D, C e B, por 24 empresas construtoras situadas em Belm PA. Melgao e outros (2004) apresentam uma pesquisa realizada com 36 empresas construtoras que j haviam sido certificadas no nvel A do SiQ-C, localizadas na regio metropolitana de Belo Horizonte MG. J no estado do Piau, Mendes e Picchi (2005) avaliam a implantao do PBQP-H em 40 empresas construtoras. Depexe (2006) realizou uma pesquisa ps-certificao com 14 empresas construtoras certificadas pelo PBQP-H, sendo que algumas empresas tambm possuem certificao ISO 9001, situadas na Grande Florianpolis SC. A seguir, relata-se pontos especficos destes e outros trabalhos, principalmente referente a fatores que motivaram as empresas estudadas a implementarem um SGQ, dificuldades enfrentadas e melhorias observadas.

2.3.1. Motivos para a implantao de sistemas de gesto da qualidade Diversos autores abordaram em seus trabalhos os fatores que motivaram estas empresas a buscarem qualificao e posterior certificao. Conforme Corra (2002), um grande nmero de empresas est aderindo ao PBQP-H em todo o Brasil, sendo que um dos principais motivos para isso a exigncia, por parte de instituies pblicas, de que as empresas tenham o certificado para concorrer em processos de licitao e obter financiamento junto Caixa Econmica Federal. De acordo com Melgao e outros (2004), a maior parte das empresas construtoras da regio metropolitana de Belo Horizonte teve como principal motivo para a implementao do SiQ-C a exigncia da Caixa Econmica Federal para a concesso de financiamentos. De forma menos enftica, a busca de uma melhoria nos sistemas de gesto tambm motivou as empresas para a implementao. Mendes e Picchi (2005) identificaram que, entre as principais motivaes para as empresas construtoras do Piau participarem do PBQP-H, esto a exigncia da Caixa Econmica Federal, a busca pela melhoria dos processos internos e por um diferencial no mercado.

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Depexe (2006) ao estudar 14 empresas construtoras na Grande Florianpolis SC observou que o aumento da organizao interna e padronizao dos processos, a melhoria da qualidade do produto, a melhoria do gerenciamento da obra e o aumento da produtividade so os principais motivos para a busca da certificao. No entanto, outros motivos, apontados pelo autor como motivos externos, tambm so apresentados, como a melhoria da imagem da empresa ou utilizao do certificado como instrumento de marketing, a exigncia da Caixa Econmica Federal para a concesso de financiamentos e o aumento da competitividade. A busca da competitividade o principal fator motivador do grupo de empresas estudado por Souza (1997). Tal fator reflexo das necessidades de reduo de custos, atendimento s exigncias dos clientes e diferenciao da empresa e seus produtos no mercado. Reis e Melhado (1998) apresentam o aumento da competitividade como o principal fator motivador para a implantao de SGQ nas empresas estudadas na cidade de So Paulo. Os demais fatores so a melhoria da qualidade dos produtos, melhoria da organizao interna, maior exigncia dos clientes, reduo de custos, diferenciao no mercado e aumento de produtividade. J Lorenzi (1999) constatou que as principais expectativas das empresas em Santa Maria RS so melhorar o controle do processo de produo de produto, melhorar a qualidade do produto final, aumentar a competitividade, obter um diferencial no mercado e o reconhecimento da sociedade pela obteno da certificao. Brandstetter (2001) destaca a criao de um diferencial de marketing e o aumento da competitividade dentre os motivos que levaram quatro empresas construtoras, em Goinia GO, analisadas a buscarem a certificao. Entretanto, o cumprimento de exigncias contratuais por parte dos clientes tambm aparece entre os entrevistados como um forte desencadeador do processo. Para a empresa construtora analisada por Arajo e outros (2002) em Joo Pessoa PB, os fatores mais significativos que levaram-na a decidir pela implantao de SGQ so o aumento da competitividade no subsetor de edificaes e a padronizao e registro dos mtodos j utilizados, de modo a garantir o reconhecimento da qualidade dos seus produtos e servios atravs da certificao. 2.3.2. Benefcios advindos da implantao de sistemas de gesto da qualidade Quanto aos resultados, Reis e Melhado (1998) afirmam que muitas vezes difcil mensur-lo, mas que qualquer ao que vise melhorar a gesto do desenvolvimento dos projetos, dos suprimentos, da documentao, da tecnologia e dos recursos humanos propicia a melhoria da gesto dos canteiros de obras. Souza (1997) aponta os benefcios percebidos advindos da implantao de SGQ, so eles: padronizao dos processos empresariais; integrao da cadeia de fornecedores e clientes internos; informatizao da empresa; obteno de ganhos de qualidade; reduo de custos nos seus produtos e processos sejam eles comerciais, tcnicos, financeiros, administrativos ou nos processos de produo. Vivancos e Cardoso (2000) avaliam os reflexos da implantao de SGQ em oito construtoras de edifcios em So Paulo. Estes autores observam transformaes nas estruturas organizacionais e no ambiente de trabalho. Destacam-se melhorias como: 18

melhor definio de cargos, funes, autoridades e responsabilidades; o aumento da participao dos funcionrios na discusso dos problemas da empresa e aumento do nmero de reunies; a melhoria dos sistemas de comunicao e informao, alm de uma tendncia descentralizao dessas estruturas, que so tradicionalmente centralizadas em seus proprietrios. Para Vivancos e Cardoso (2000) a maior formalizao e documentao dos procedimentos operacionais possibilitam uma recuperao do domnio sobre a tecnologia empregada para as empresas. Assim, padroniza-se a forma de execuo de cada servio, em comum acordo entre engenheiros, coordenadores de obras, mestres-de-obras, diretores e consultores externos. Lorenzi (1999) salienta que a implantao de SGQ proporcionou s empresas um autoconhecimento, pois passaram a enxergar a prpria empresa por meio de todos os processos, etapas e atividades relacionadas com as funes e respectivos responsveis, listados e analisados. Outras melhorias citadas foram: sistematizao desde organizao interna, gerencial e pontual, incluindo quebras de alguns paradigmas; anlise peridica dos resultados por meio da criao de registros; avaliao dos fornecedores de servios e materiais seja na seleo ou durante as atividades por meio da definio de critrios seletivos e qualificativos; capacitao e qualificao dos envolvidos, valorizao dos funcionrios; a relao entre as empresas e os tornou-se mais ntima e simples, devido segurana proporcionada pela maior formalizao; credibilidade frente aos clientes. Camfield e Godoy (2004) realizam um estudo de caso em duas empresas da construo civil em Santa Maria RS. A partir de entrevistas realizadas com o nvel gerencial e operacional, estes autores relatam que a semelhana de viso dos dois nveis hierrquicos mostra que a certificao gera benefcios e padroniza as atividades, reduz erros e retrabalho, geram melhor aproveitamento dos recursos, em conseqncia, menores custos de produo. Relatam tambm que as mudanas so significativas, principalmente quanto motivao e o envolvimento de todos no processo, com o aumento da eficincia e eficcia dos setores, melhorando os resultados. De acordo com Brandstetter (2001), a implantao de um SGQ gerou vrias alteraes positivas no processo produtivo das empresas estudadas, tais como a padronizao das atividades, o treinamento dos funcionrios e a valorizao da imagem da empresa no mercado. Em curto prazo, a autora cita o diferencial de marketing, tanto em relao aos potenciais e atuais consumidores. Segundo pesquisa realizada por Depexe (2006), as empresas relataram diversos benefcios, como a melhoria da organizao interna, proporcionada pela padronizao dos processos, alm da reduo de desperdcios e retrabalhos como conseqncia do aumento da conscientizao para a qualidade. Observa-se tambm o aumento da qualificao dos trabalhadores, a reduo do nmero de reclamaes, solicitaes para assistncia tcnica, maior facilidade de conseguir financiamento, melhoria da imagem da empresa perante a sociedade e melhoria da comunicao interna. Os principais benefcios percebidos na empresa analisada por Silveira e outros (2002) so a melhoria da organizao da empresa e do canteiro de obras, a definio clara de atribuies relatadas no manual de descrio de funes e nos procedimentos operacionais, a padronizao de processos, a racionalizao de processos e a melhoria da mo-de-obra, devido ao treinamento oferecido para a execuo dos 19

servios atravs dos procedimentos e fichas de verificao de servios e conseqente melhoria da qualidade do produto final. O processo de implantao trouxe melhorias s empresas construtoras, como a definio clara das responsabilidades, autoridades e perfil das pessoas para exercer as funes na empresa, alm da proviso de condies para a realizao de tais funes mediante treinamentos e desenvolvimentos internos. O programa tambm estimula as pessoas a se comprometer, comunicar-se, sugerir, realizar suas tarefas com responsabilidade e conscincia, pois estas compreendem que fazem parte do todo, que no esto realizando tarefas isoladamente (NEVES; MAUS; NASCIMENTO, 2002). Melgao e outros (2004) relatam que tais programas tambm exercem influncia sobre o restante da cadeia produtiva, pois os fornecedores de materiais e servios passaram a ser avaliados. Deste modo, procuram uma melhor qualificao quanto conformidade dos produtos fornecidos. Mendes e Picchi (2005) apontam mudanas significativas na rea gerencial, de suprimento, de controle de materiais e processos e na produtividade da mo-de-obra. Entretanto, no houve relato sobre melhoria contnua nem sobre satisfao do cliente. 2.3.3. Dificuldades na implantao de sistemas de gesto da qualidade Neste item so apresentadas as dificuldades enfrentadas pelas empresas construtoras durante o processo de implantao de SGQ, conforme diversos autores. Souza e Mekbekian (1995) apresentam a falta de entendimento do significado e alcance do programa da qualidade como uma das causas para o desinteresse da alta administrao e conseqentemente apontam a falta de comprometimento prtico com a implementao e avaliao do programa. No entanto, Reis e Melhado (1998) afirmam que grande parte dos empresrios da construo civil reconhece que o comprometimento muito importante e acreditam ser imprescindvel para o sucesso de um programa da qualidade. Neves; Maus; Nascimento (2002) identificam uma notvel falta de envolvimento da alta direo em relao implantao do SGQ nas empresas estudadas. O representante da administrao e o comit da qualidade recebem toda a responsabilidade do sistema. Segundo Reis e Melhado (1998), parte da resistncia gerada s alteraes deve-se ao fato de que as pessoas envolvidas diretamente na execuo dos servios no so, em geral, consultadas para a elaborao de novos procedimentos. Isso gera hostilidade e falta de comprometimento com a proposta de melhoria da qualidade. Alm disso eles ressaltam que existe um grande despreparo para mudanas no subsetor edificaes. No entanto, a gesto da qualidade requer uma mudana cultural, ou seja, mudanas no ambiente fsico, nos padres de comportamento e na lgica interna de funcionamento da empresa. A ausncia de informaes necessrias para o gerenciamento e operacionalizao dos processos outro problema. Conforme Souza e Mekbekian (1995), a cultura de centralizao e autoritarismo do setor da construo civil a causa da falta de informaes que ocorre em todos os nveis hierrquicos. A inexistncia de uma 20

sistemtica de controle e retroalimentao, para Reis e Melhado (1998), colaboram para essa deficincia. Reis e Melhado (1998) identificam a ineficincia do sistema de informao e comunicao, alm do pouco uso de procedimentos documentados como dificuldades enfrentadas. Os autores afirmam que o funcionamento dos sistemas tem enfrentado algumas dificuldades, como a indefinio de objetivos e metas a longo prazo e a descontinuidade das aes de melhoria da qualidade, devido sensibilidade do setor frente s alteraes de mercado e da economia, o que inibe investimentos de maior porte. Ambrozewicz (2003) aponta a falta de comprometimento das pessoas como a principal dificuldade na manuteno de SGQ em construtoras. Souza e Mekbekian (1995) comentam que muitos gerentes no cumprem suas atividades de implantao do programa por estarem ocupados com as tarefas rotineiras. Assim, consideram o sistema como um empecilho, ao invs de auxlio na realizao de suas tarefas. Da mesma forma, Vivancos e Cardoso (2000) apontam que, com a implantao de SGQ, o papel do mestre-de-obras passa a ser a garantia que os servios esto sendo realizados conforme os procedimentos e no mais o responsvel pela definio da forma de trabalhar da mo-de-obra, como era feito anteriormente. Estas alteraes causam problemas para algumas construtoras, pois gera insegurana uma vez que a informao no se centraliza mais na mo de uma nica pessoa, neste caso estes funcionrios no conseguem se adaptar. Melhado (1998) salienta que muitas construtoras terceirizam parte ou a totalidade dos servios de execuo. Desta forma, este autor comenta que geralmente o subempreiteiro preocupa-se com a produtividade em detrimento da qualidade dos servios e desperdcios gerados. A falta de comprometimento da mo-de-obra terceirizada com os procedimentos adotados pela construtora, alm da dificuldade de integrao entre as equipes responsveis por servios que apresentam relaes de dependncia, so dificuldades enfrentadas. Oliveira (2000) tambm relata dificuldades relacionadas mo-de-obra, como entendimento de informaes, na apresentao da qualidade final esperada e no uso de novas tcnicas construtivas, o que leva a erros e, como conseqncia, a retrabalho e desperdcio. A autora justifica que o setor da construo civil possui a funo social de absorver grande quantidade de mo-de-obra no especializada e de baixa escolaridade. Devido a este fato, Segundo Vivancos e Cardoso (2000), alguns mestres-de-obras chegaram a ser demitidos por no se adaptaram nova realidade do sistema de produo provocada pela implantao de procedimentos documentados e fichas de verificao. Com relao baixa escolaridade da mo-de-obra da construo civil, Neves (1995) aponta-a como uma das dificuldades para a execuo de obras e a introduo de medidas voltadas para a melhoria da qualidade no setor. Silveira e outros (2002) e Mendes e Picchi (2005) relatam a baixa escolaridade dos funcionrios como a principal dificuldade durante a implantao de SGQ. De acordo com estes autores, torna-se complicado sensibilizar estes funcionrios. Uma tentativa adotada pela empresa para solucionar o problema a criao de escolas dentro do canteiro de 21

obras. No entanto, de acordo com Paula (2004), a maior preocupao com a auditoria e no com os resultados. Desta forma os programas de treinamento apenas atendem aos requisitos mnimos da norma. Souza e Mekbekian (1995) observam que existe uma ansiedade por resultados imediatos, o que acaba gerando frustraes nos envolvidos na implantao uma vez que se leva algum tempo para que o SGQ implantado apresente resultados. Os primeiros resultados so pequenos, mas a soma de pequenos resultados traz melhorias para a empresa. De acordo com Neves; Maus; Nascimento (2002), a implantao de SGQ gera uma burocracia excessiva, uma vez que as principais no-conformidades e observaes referem-se falta de algum tipo de registro ou documento. Bauer e Brandli (2005) tambm identificaram a burocracia excessiva como a dificuldade mais citada em uma pesquisa de aproximadamente 40 empresas construtoras de nove estados brasileiros. Os autores justificam esta dificuldade em funo da falta de sistemtica que as empresas de construo tm em elaborar padres e documentar seus procedimentos. Aguiar e Moraes (2002) apontam as verses extensas de alguns procedimentos somada falta de hbito de escrever e registrar como elementos que dificultam a implantao da ISO 9000 em empresas construtoras de Alagoas. Souza (1997) aponta dificuldades enfrentadas pelas construtoras decorrentes da elaborao e controle dos procedimentos padronizados e do treinamento, alm de aspectos comportamentais relativos ao comprometimento da diretoria e dos nveis gerenciais da empresa. Outra dificuldade est relacionada com a retroalimentao do SGQ, devido falta de aes sistemticas para coleta e anlise dos dados de assistncia tcnica e avaliao ps-ocupao, alm da falta de indicadores da qualidade e produtividade. O autor tambm identifica dificuldade referente aos fatores comportamentais e de gesto das pessoas, pois a direo e as gerncias das construtoras so compostas basicamente por engenheiros civis e tais conhecimentos no constam das grades curriculares dos cursos de engenharia. Lorenzi (1999), que relata a implantao de SGQ pela NBR ISO 9000:1994 em cinco construtoras, identifica vrios fatores como causa das principais dificuldades. Primeiramente a prpria norma, devido dificuldade de adaptao e entendimento da linguagem da mesma realidade das construtoras. Esse fato dificultou o treinamento dos funcionrios que, em geral, possuem baixo grau de instruo e no esto acostumados linguagem industrial utilizada pela ISO 9000:1994. Houve tambm falta de entrosamento entre os consultores do SEBRAE e as empresas, alm da falta de experincia dos mesmos no setor da construo civil, o que dificultou a orientao e melhor entendimento dos requisitos da norma por parte das construtoras. Com isso, a elaborao dos documentos foi dificultada, alm de se verificar uma resistncia e pouco comprometimento inicial, o que atrasou o processo de implantao. Inicialmente, Lorenzi (1999) identifica dificuldades relacionadas norma utilizada. De acordo com a autora, as normas da famlia ISO 9000 apresentam uma terminologia prpria e ambgua, dificultando a sua interpretao e o seu inter-relacionamento com 22

os requisitos do processo de produo do produto das empresas construtoras. Em funo disto o treinamento dos funcionrios foi dificultado, pois exigiu que os treinadores utilizassem meios alternativos para expressar as exigncias normativas. Lorenzi (1999) tambm identificou dificuldades em relao s empresas construtoras, so elas: resistncia inicial de alguns trabalhadores, decorrentes de uma falta de informao mais precisa, de cultura e do no querer romper com os paradigmas; baixo grau de comprometimento inicial, ocasionando um atraso no processo; dificuldade de interpretao da norma, em decorrncia disto, dificuldade na elaborao dos documentos. Depexe (2006) relata as dificuldades enfrentadas pelas empresas construtoras durante o processo de implantao de SGQ, mediante entrevista com 14 empresas da regio da Grande Florianpolis SC. O autor relata que, segundo os entrevistados, alguns consultores no possuam experincia na construo civil, o que dificultava o processo. O mesmo ocorreu com os auditores que, em funo disto, eram rgidos demais em relao aos requisitos do programa. Outras dificuldades apresentadas pelo autor so problemas relacionados cultura organizacional e resistncia a mudanas. Observa-se dificuldade das pessoas aceitarem e colaborarem com o sistema, pois isso interfere na maneira como esto habituadas a realizar seus servios. Outro aspecto relevante o aumento da burocracia gerada pela documentao do sistema. Depexe (2006) concluiu em sua pesquisa que existe um foco maior na certificao do que no SGQ, ou seja, tudo feito com o intuito obter a certificao. Em geral, as empresas atendem aos requisitos mnimos exigidos pela norma. 2.4. Sistema de Gesto da Qualidade e a Habitaao de Interesse Social Garantir a qualidade das habitaes construdas pelo Estado o compromisso central do QUALIHAB, dentro do princpio de que a populao de baixa renda tem o direito moradia de boa qualidade, durvel e amplivel, para atender a necessidade de crescimento da famlia (QUALIHAB, 2007). O modelo desenvolvido em So Paulo est sendo adotado por outros Estados, e tambm pela Secretaria do Planejamento do Governo Federal, atravs do PBQP-H Programas Brasileiros de Qualidade e Produtividade - Habitat. O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H) se prope a organizar o setor da construo civil em torno da melhoria da qualidade e da modernizao produtiva, gerando um ambiente de isonomia competitiva. Para isso, o Programa conta com a participao ativa dos segmentos da cadeia produtiva, agregando esforos na busca de solues com maior qualidade e menor custo para reduo do dficit habitacional no pas (PBQP-H, 2007). A Caixa Econmica Federal, inspirada no programa, decidiu exigir, nos financiamentos habitacionais, certificao da qualidade s empresas construtoras, o que acarretou a adeso de um grande nmero de empresas ao PBQP-H a partir de 2001. Algumas Companhias de Habitaao (COHABs) tambm passaram a aderir ao programa, como a COHAB do Par, representando um esforo conjunto do governo, iniciativa privada e entidades neutras no sentido de viabilizar a qualificao do setor de construo civil, exigindo alm do esforo, estratgias e aes especficas procurando envolver todos 23

os agentes levando-se em conta as especificidades da atuao do setor pblico, que so diferentes daquelas levadas a efeito pelas empresas construtoras, pelo segmento dos projetistas e pelo setor produtivo de materiais e componentes da construo civil. Tais especificidades recomendam o desenvolvimento de um programa amplo de qualificao que gradativamente e de forma segura, possa abranger todo o setor. As primeiras aes foram no sentido de estruturar um programa de qualidade e produtividade que promovesse melhorias consistentes nas obras e projetos, principalmente em obras pblicas, combatendo o desperdcio, prevenindo falhas e erros, otimizando recursos humanos, tecnolgicos e financeiros, conseqentemente melhorando a produtividade do setor em geral. No entanto, o que se observa depois de alguns anos da implantao do programa nas empresas construtoras, que ainda existem algumas dificuldades para a efetiva implementao dos Sistemas de Gesto da Qualidade nas obras das empresas construtoras, principalmente com relao ao sistema de produo e a qualidade das habitaes de interesse social. A certificao deveria gerar benefcios e padronizar as atividades, reduzir erros e retrabalho, gerando melhor aproveitamento dos recursos, em conseqncia, menores custos de produo. No entanto o que se tem observado que existem vrias dificuldades das empresas construtoras para efetiva implementao dos SGQs em suas obras, alm de existir um foco maior na certificao do que no SGQ, ou seja, tudo feito com o intuito obter a certificao e no com o objetivo de melhorar a qualidade e a produtividade, fazendo com que o potencial dos programas de melhorar a qualidade e produtividade do setor sejam reduzidos a ter ou no a certificao e no necessariamente melhor qualidade. Alm disso, os sistemas implantados, normalmente no so adaptados para a construo de habitaes de interesse social, as quais possuem vrias particularidades decorrentes da tipologia do empreendimento, apesar de ser um dos principais objetivos do PBQP-H. Desta forma, um diagnstico dos problemas de gesto em Obras Habitacionais de Interesse Social realizados por empresas privadas a fim de fornecer evidncias sobre o grau de amadurecimento dos sistemas de gesto da qualidade, verificar a aplicao dos processos do sistema de gesto da qualidade neste tipo de empreendimento e identificar os problemas no sistema de gesto servir como base para se propor um sistema de gesto adaptado a este tipo de empreendimento de forma a trazer realmente os benefcios esperados com a aplicao do mesmo e com isso diminuir o passivo do Estado com reformas e manutenes precoces deste tipo de empreendimento.

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3. ESTUDO EXPLORATRIOO estudo exploratrio foi realizado em um empreendimento financiamento pela Caixa Econmica Federal (CEF) atravs do Programa de Arrendamento Residencial (PAR) que visou construo de 500 habitaes de interesse social, no perodo de Dez/2006 a Ago/2007, no Residencial Jardim das Palmeiras (localizado no bairro Jardim Holanda, no municpio de Uberlndia). As casas foram construdas utilizando a mesma tipologia, com 03 quartos, sala, cozinha, banheiro, tanque externo, sem 2 2 muros. A rea do lote de 250 m e cada unidade mede de 53,22 m , totalizando 2 aproximadamente em 27.000 m de rea construda. A construo foi dividida entre quatro empresas construtoras sendo que a empresa A, B e C so responsveis por 100 casas cada e a empresa D por 200 casas. O estudo exploratrio foi realizado apenas na empresa A. 3.1. Apropriao de dados do conjunto habitacional A Empresa estudada caracteriza-se por ser de mdio porte e atua desde 1990 nos segmentos privado e pblico, nos mercados industrial, de sade, educacional, habitacional e energia eltrica. No entanto, essa empresa diferencia-se utilizando a estratgia de atuao em segmentos pr-definidos, como: escolas/universidades, sade e empreendimentos para o PAR e Imvel na Planta da CEF. A empresa possui Sistema da Qualidade certificado segundo os requisitos da NBR ISO 9001 e participa do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP). O conjunto habitacional estudado esta localizado no municpio de Uberlndia, formado de 100 unidades habitacionais e rea mnima do lote de 250m, conforme pode ser visto no croqui elaborado na Figura 3.3, que objetiva demonstrar a dimenso do empreendimento e a disposio das casas.

Figura 3.3 Implantao Situao Geral e Locao Padro

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As casas so todas iguais, com trs quartos, sala, cozinha, banheiro, tanque externo, sem muros, 53,22m2 de rea construda, conforme mostra a Figura 3.4.

Figura 3.4 Planta baixa e cortes

A CEF a gestora e principal cliente da obra, a realizao dos projetos foi de responsabilidade da empresa construtora e atendeu aos requisitos especificados pelo cliente, tendo como limite um custo que tornasse o empreendimento vivel para a construtora, considerando o preo fixo das unidades. Tanto os projetos, como o oramento e cronograma fsico-financeiro foram submetidos aprovao da CEF. O prazo para a produo do empreendimento foi de nove meses, estipulado em contrato. A estrutura organizacional da obra pode ser vista na Figura 3.5.Diretoria de Produo Escritrio da Qualidade

Contabilidade e RH

Engenheiro

Almoxarife

Encarregado

Estagirios

Administrativo

Oficiais

Ajudantes

Terceiros

Oficiais

Ajudantes

Figura 3.5 Organograma da Obra

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O macrofluxo dos processos de gesto da empresa pode ser visto na Figura 3.6.[P]: PLANEJAMENTOEstabelecer metas / mtodos

[D]: EXECUOEducar, treinar e implemetar o planejamento

[C]: VERIFICAOVerificar: Planejado = Realizado

[A]: AGIRTomar aes corretivas / melhorias

Identificao das necessidades / requisitos do cliente

Contrataao / Treinamento da mao de obra

Execuao da obra e monitoramento dos processos controlados

Monitoramento da satisfaao do cliente

Tratamento das no-conformidades

C L I E N T E

Anlise crtica dos requisitos do cliente Identificaao / Controle dos dispositivos de mediao Assinatura do contrato Aquisiao / Contrataao / Locaao dos dispositivos de mediao Entrega da obra Servios de assistencia tecnica

C L I E N Auditorias Internas da Qualidade T E

Planejamento da obra

Recebimento / Monitoramento dos materiais controlados

Controle dos registros

Analise de Dados

Acompanhamento desenvolvido / Analise critica dos projetos

Identificaao / Preservaao materiais adquiridos

Controle de documentos

Analise Critica do SGQ

Plano de aao corretiva / Melhoria continua do SGQ

RETROALIMENTAO DO SGQ LEGENDA: PROCESSO DE GESTAO: [sistematica aplicavel em todo o SGQ] INTERAO ENTRE OS PROCESSOS DO SGQ

Processos monitorados por meio de indicadores Processos monitorados durante as reunioes de analise critica

Figura 3.6 Macrofluxo dos processos de gesto

As unidades habitacionais foram construdas especificaes segundo o memorial descritivo:

considerando

as

seguintes

a) Infra-estrutura: foram realizados trabalhos em terra como limpeza mecnica do terreno, terraplanagem com os respectivos cortes e aterros e compactao do solo. b) Fundao tipo radier armado sob paredes, concreto 15MPa, ao dimetro 5mm e espessura de 7cm; c) Supra-estrutura: h laje em todas as dependncias com concreto de 15MPa. d) Alvenaria: com bloco de concreto 9x19x39cm e argamassa de assentamento com trao 1:1:8, com vergas e contra-verga. e) Esquadrias: as portas externas e janelas so metlicas e as portas internas de madeira. f) Cobertura: feita em estrutura de madeira com telhas cermicas. g) Piso: contrapiso regularizado revestido com cermica PEI 4. h) Revestimentos: reboco em gesso para paredes internas e teto exceto paredes do banheiro e cozinha que recebeu reboco direto sobre o bloco. O banheiro at a altura de 1,60m do piso e pia da cozinha e tanque da rea de servio foi azulejado. rea externa recebeu reboco direto sobre o bloco. i) Acabamento: pintura nas paredes internas e externas e as esquadrias metlicas. 27

3.2. Diagnstico dos problemas relacionados gesto da obra A partir da leitura dos processos de gesto para obras HIS proposto por Camargos et al (2003), Leite; Schramm; Formoso (2006), por Dornelas (2007), do SGQ da empresa pesquisada e das observaes feitas no canteiro de obras, foi possvel diagnosticar problemas de gesto da obra, relacionados construo e fiscalizao. Considerando s etapas de planejamento e programao da obra, bem como as de gerenciamento da produo, dos materiais, da mo-de-obra, dos equipamentos, das ferramentas, da qualidade, ambiental e da segurana do trabalho que so descritos detalhadamente a seguir. O levantamento dos problemas foi feito a partir de observaes no participativa, afim de no interferir no processo, e de registro fotogrfico do processo de gesto aplicado na obra. 3.2.1. Planejamento e programao da obra A obra possua Projetos, Plano de Qualidade da Obra, oramento e cronograma fsico-financeiro, sendo que estes dois ltimos eram os que haviam sido apresentados para CEF quando da assinatura do contrato. No entanto, estes se mostraram insuficientes e pouco detalhados, sendo, portanto inadequados para um melhor planejamento e programao da obra. No havia um cronograma de trabalho que levasse em considerao os dados de projeto e seqncia executiva dos servios como, por exemplo, diagrama PERT/CPM e Grfico de Gantt que indicassem o caminho crtico e as necessidades de mo-de-obra. Tambm se verificou a falta de um cronograma de suprimentos de materiais, que levassem em considerao as necessidades reais e limitaes da obra. Estas atividades foram desenvolvidas pelo engenheiro responsvel pelo planejamento e controle da obra, o qual entrou na empresa com a obra j em andamento, e foram realizadas de acordo com a sua experincia e medida que as necessidades foram surgindo no decorrer da obra, no sendo utilizado para este fim nenhum procedimento formalizado da empresa. Apesar disto, atravs do regular acompanhamento do progresso fsico da obra e pela experincia profissional deste engenheiro, conseguiuse um acompanhamento satisfatrio da obra. Mesmo que durante a obra fossem necessrias algumas intervenes como aumentar equipe de trabalho, estender o horrio dos servios, reprogramar entrega de materiais devido falhas de pedido e/ou fornecimento, postergar o prazo de entrega da obra, entre outros, os quais poderiam ter sido minimizados se planejados e programados adequadamente. 3.2.2. Gerenciamento da produo A obra no possua um projeto de canteiro com definio de locais de armazenamento de materiais, centrais de produo e reas comuns, este foi executado de acordo com a experincia do mestre-de-obras e almoxarife. Tambm verificou-se a ausncia de uma programao dos servios que deveriam ser realizados com seus respectivos prazos, recursos humanos e materiais necessrios. Havia na obra um plano de qualidade da obra composto por organograma com identificao de responsabilidades, programa de treinamento, relao de materiais e servios controlados aplicveis, indicando os procedimentos especficos (execuo e 28

inspeo) para cada item, identificao dos processos crticos para a qualidade da obra e seu controle, os objetivos especficos da qualidade para a obra, levando em considerao os requisitos do cliente, a manuteno de equipamentos e impactos ambientais. No entanto, foi observado que o programa de treinamento proposto no foi plenamente atendido, os procedimentos de execuo no foram disponibilizados para os funcionrios e subcontratados, apesar de estarem disponveis no escritrio da obra e a inspeo e verificao dos servios no foi totalmente acompanhada de acordo com a execuo e finalizao dos servios, sendo esta responsabilidade atribuda a estagiaria da obra que por vrias vezes preencheu as fichas sem ter acompanhado o servio em campo, fato este ocorrido, segundo relato da prpria estagiaria, principalmente devido a complexidade e tamanho das fichas de verificao a serem preenchidas e da quantidade de servios executados ao mesmo tempo. 3.2.3. Gerenciamento dos materiais A obra possua processo de aquisio, especificao, recebimento, manuseio e armazenamento de materiais. No entanto verificaram-se vrias falhas principalmente no recebimento, manuseio e armazenamento destes. A estocagem dos materiais foi feita no canteiro de obras exceto para os agregados, telhas, blocos e tijolos que foram estocados prximos s unidades habitacionais. Quanto estocagem dos agregados, por estarem estocados prximos s construes, sem possibilitar o controle de estoque, embora inteno desta ao tenha sido a de agilizar os processos de produo de concreto e argamassa, fazendo com que os funcionrios no perdessem tempo transportando o material e nem perdessem material processado devido a longos trajetos, a perda percebida, principalmente da areia e massa pronta, mostrou que este procedimento em canteiro de obras aberto favoreceu o consumo excessivo dos materiais. Os agregados ainda ficavam estocados em montes, sem proteo lateral e de fundo, sujeitos ao do vento, chuvas e com possibilidade de se misturarem com a terra ou se esparramarem em grandes reas, dificultando a utilizao e possibilitando perdas, como mostra a Figura 3.7 (a), (b) e (c).

(a)

(b)

(c)

Figura 3.7 Armazenamento de agregados (a) massa pronta, (b) areia e (c) brita

Para a anlise dos servios com concreto a produo no canteiro foi restrita a pequenos servios. Para as grandes concretagens como radier, lajes e passeios foi utilizado concreto usinado. No entanto, por vrias vezes foram observadas sobras de concreto no caminho betoneira e que no tinham destinao aps a finalizao da 29

concretagem da pea programada, o que gerou um alto ndice de perda deste material. Para os servios com argamassa havia no canteiro de obras 2 betoneiras disponveis para produo da mesma, apesar deste equipamento no ser o mais adequado para este fim, no entanto esta quantidade mostrou-se insuficiente para atender a demanda, sendo observado por vrias vezes a execuo manual de argamassa como pode ser visto na Figura 3.8 (a). Os agregados para argamassas e concretos eram na maioria das vezes dosados em carrinhos, observou-se exceo para a argamassa do contrapiso onde a areia era dosada em ps e colocada diretamente na betoneira onde j se encontrava misturada gua e cimento como mostra a Figura 3.8 (b). Tambm se observou a falta de uniformidade dos traos utilizados.

(a)

(b)

Figura 3.8 Produo de argamassa (a) execuo manual e (b) execuo incorreta

Quanto estocagem de blocos de concreto, a descarga era de responsabilidade da construtora, as pilhas eram feitas aleatoriamente, o que demonstrou falhas no repasse das recomendaes sobre recebimento e armazenamento destes materiais, o que causou grande quantidade de peas quebradas, principalmente no caso dos blocos, que, alm disso, no eram de boa qualidade, foi observado que grandes quantidades de peas j chegavam quebradas obra, pois no apresentavam cura adequada e que havia grande movimentao dos mesmos na obra, como visto nas Figura 3.9 (a), (b) e (c).

(a)

(b)

(c)

Figura 3.9 Armazenamento e estocagem de blocos (a) estocagem inadequada, (b) blocos trincados e (c) blocos quebrados durante o transporte e descarga

O mesmo problema de recebimento e armazenamento foi observado para os tijolos e telhas cermicas, como pode ser visto na Figura 3.10.

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(a) Figura 3.10 Armazenamento de tijolos (a) e telhas (b)

(b)

A distribui