33
8 INTRODUÇÃO Com o grande déficit na aprendizagem e no ensino da Matemática no Brasil, tornaram-se extremamente importantes propostas, discussões e pesquisas que visam contribuir para o aperfeiçoamento e melhora do ensino da matemática no nível regional e nacional. Com isso, esta pesquisa toca em um dos fatores causadores desta problemática, os anos iniciais da carreira de docência em matemática. A escolha deste tema iniciou-se a partir das discussões com alguns professores da área, com colegas do curso de Licenciatura em Matemática e da minha própria indagação enquanto professor recente no ensino da disciplina em questão. No capítulo I, discorreremos acerca da problemática em estudo, traçando os objetivos de acordo com o tema: anos iniciais de docência em matemática: dificuldades enfrentadas por professores da rede pública de ensino. No capítulo II, faremos uma abordagem sobre os anos iniciais de docência em matemática a luz de estudiosos como: Moreira (2007), Fiorentini (2009), Tardif (2002), Romano (2009), Valente (2008), entre outros. No capítulo III, contextualizaremos os processos metodológicos e de coleta de dados que foram utilizados, apresentando os passos trilhados para alcançarmos os objetivos pretendidos. Portanto para melhor entendermos a problemática em estudo, este trabalho foi desenvolvido com o cunho qualitativo. No capítulo IV, apresentaremos a análise dos dados da pesquisa, dando uma interpretação com base nos autores da área, para assim propiciar uma maior compreensão sobre os anos iniciais de docência identificando as principais dificuldades. Para finalizar apresentaremos as considerações finais, abordando a importância da fase inicial de docência para toda a carreira profissional, bem como,

Monografia Leonardo Matemática 2011

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Matemática 2011

Citation preview

Page 1: Monografia Leonardo Matemática 2011

8 INTRODUÇÃO

Com o grande déficit na aprendizagem e no ensino da Matemática no Brasil,

tornaram-se extremamente importantes propostas, discussões e pesquisas que

visam contribuir para o aperfeiçoamento e melhora do ensino da matemática no nível

regional e nacional. Com isso, esta pesquisa toca em um dos fatores causadores

desta problemática, os anos iniciais da carreira de docência em matemática.

A escolha deste tema iniciou-se a partir das discussões com alguns

professores da área, com colegas do curso de Licenciatura em Matemática e da

minha própria indagação enquanto professor recente no ensino da disciplina em

questão.

No capítulo I, discorreremos acerca da problemática em estudo, traçando os

objetivos de acordo com o tema: anos iniciais de docência em matemática:

dificuldades enfrentadas por professores da rede pública de ensino.

No capítulo II, faremos uma abordagem sobre os anos iniciais de docência em

matemática a luz de estudiosos como: Moreira (2007), Fiorentini (2009), Tardif

(2002), Romano (2009), Valente (2008), entre outros.

No capítulo III, contextualizaremos os processos metodológicos e de coleta

de dados que foram utilizados, apresentando os passos trilhados para alcançarmos

os objetivos pretendidos. Portanto para melhor entendermos a problemática em

estudo, este trabalho foi desenvolvido com o cunho qualitativo.

No capítulo IV, apresentaremos a análise dos dados da pesquisa, dando uma

interpretação com base nos autores da área, para assim propiciar uma maior

compreensão sobre os anos iniciais de docência identificando as principais

dificuldades.

Para finalizar apresentaremos as considerações finais, abordando a

importância da fase inicial de docência para toda a carreira profissional, bem como,

Page 2: Monografia Leonardo Matemática 2011

9 discussões que possibilite novas reflexões acerca do cenário do ensino-

aprendizagem da matemática vivenciada atualmente na nossa região.

Page 3: Monografia Leonardo Matemática 2011

10 CAPÍTULO I: PROBLEMATIZAÇÃO

A iniciação a docência vem nas últimas décadas sendo alvo de pesquisas e

discussões. Podendo ser constatado que nessa fase das vivências dos professores

eles enfrentam grandes conflitos e se deparam com os primeiros contatos com o

cotidiano escolar, construindo sua própria prática refletindo sobre suas ações e

confrontando a realidade com sua formação e suas crenças.

De acordo com Romano (2009), o quadro atual do ensino da matemática

presenciado no Brasil tem como fatores agravantes, principalmente, a deficitária

estrutura física de algumas escolas, o déficit na formação dos licenciados no que se

refere à metodologia e prática pedagógica, os baixos salários, entre outros fatores.

Tais dificuldades no ensino da Matemática, principalmente no início de carreira são

intensas. Foram justamente estas dificuldades que fizeram com que surgissem

indagações pessoais que nos induziram à realização deste estudo.

Esta pesquisa visa construir material discursivo para servir de análise para

professores em início de carreira docente e alunos do curso de licenciatura em

matemática. Principalmente, permitindo uma avaliação e uma investigação

relacionadas aos aspectos da realidade que envolve os professores na fase inicial

de sua carreira, visando detectar as principais dificuldades enfrentadas pelos

professores.

Romana (2009), diz que: talvez por não apresentarem maturidade suficiente

ou até mesmo por falta de experiências anteriores, os docentes encontram no

abandono da profissão uma forma de não enfrentar essas dificuldades que são

intensas, principalmente nos anos iniciais da carreira docente. Entretanto, percebe-

se que em toda ou qualquer profissão existem dificuldades primeiras, e que estas

dificuldades podem ser superadas com paciência e dedicação profissional.

Assim, segundo Fiorentini (2003), os professores principalmente em início de

carreira são concebidos como passadores de conhecimento já produzido, porém

Page 4: Monografia Leonardo Matemática 2011

11 percebe-se que os professores, assim como os alunos, fazem parte da construção

do conhecimento científico. O autor também cita que é negado aos professores a

condição de criar e de produzir conhecimento durante a atividade docente.

Sobre o desenvolvimento profissional, a literatura, aponta para a necessidade

de acompanhamento dos professores em início de carreira. Para Romano (2009), os

índices de abandono da profissão demonstram que 25% dos professores de

matemática não ultrapassam dois anos de trabalho e, aproximadamente 10%

abandonam a profissão nos cinco primeiros anos. Como uma das causas, a autora

lista o não atendimento das expectativas destes profissionais

Tendo em vista a importância do papel transformador do docente matemático,

podemos refletir sobre os meios mais eficazes para diminuir o índice de abandono

nos anos iniciais da docência em matemática. Estudos anteriores apontam que o

apoio por parte da comunidade escolar é importante para que os professores

consigam trabalhar de forma interdisciplinar, ajudando e sendo ajudado por outros

profissionais da docência.

Para Romano (2009), uma das missões do professor em início de carreira é

transmitir mais que conteúdos preestabelecidos. Deste modo a autora retrata que os

cursos de formação de professores devem ser elaborados de forma que levem em

consideração que os professores, assim como os alunos são seres humanos, e

estes ao longo de sua vida sofreram e sofrem influência da cultura local e da sua

formação. Nesta perspectiva, passará sua compreensão de mundo e conduzirá seus

alunos no processo de construção do pensamento crítico, com base em suas

concepções.

Afirma Moreira (2007), que existe a necessidade de uma reflexão profunda

sobre o currículo escolar vigente nos cursos de licenciaturas, pois acredita que isso

poderá contribuir para a prática escolar e para o processo de formação dos

professores.

Page 5: Monografia Leonardo Matemática 2011

12

Diniz-Pereira (2000 apud MOREIRA, 2007, p. 57) num estudo sobre a

licenciatura brasileira, afirma que “as análises continuam apontando a necessidade

de superar algumas dicotomias e desarticulações existentes nos cursos de

licenciatura”. Com isso, percebe-se que o processo de formação de professores em

matemática abrange muito mais que o período da graduação, sendo considerado

contínuo.

Contudo é preciso lembrar que a atividade docente é de extrema importância

para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Neste sentido, cada vez mais tem

ganhado um destaque as discussões sobre o ensino da matemática, pois estudos

apontam que os avanços na área de docência matemática não se desenvolveram

em ritmo tão acelerado como em outros campos da tecnologia que utilizam e

produzem o conhecimento matemático.

Com isso, além de vencer as dificuldades de diferenças culturais e ter que

abandonar velhos conceitos sobre a docência matemática, o professor terá que se

atualizar e usar as novas tecnologias como auxílio no processo de aprendizagem.

Pois não podemos continuar cometendo o erro de ensinar as novas gerações com

os mesmos métodos que foram utilizados nas gerações anteriores.

No entanto, não devemos esquecer que será árdua a missão, entretanto, será

gratificante contribuir para a construção de uma sociedade que tenha uma opinião

crítica matemática, além de professores que levem em consideração a cultura e

vivencias dos seus alunos, utilizando diferentes metodologias de ensino que

auxiliem na formação do ser crítico e proativa na sociedade. Espera-se com essa

pesquisa contribuir para despertar o interesse da comunidade acadêmica para

realização de novos estudos sobre os anos iniciais de docência em matemática.

Com isso só nos resta apresentar à pergunta norteadora desta pesquisa e o objetivo

geral:

Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos professores de

Matemática, nos anos iniciais de docência?

Page 6: Monografia Leonardo Matemática 2011

13 OBJETIVO GERAL:

Detectar as principais dificuldades enfrentadas por um grupo de professores

que ensinam matemática nos anos iniciais de sua carreira profissional.

Page 7: Monografia Leonardo Matemática 2011

14 CAPÍTULO II: QUADRO TEÓRICO

Para melhor compreendermos os anos iniciais de docência em matemática,

faz-se necessário o esclarecimento sobre determinados conceitos, como: formação

dos professores de matemática, a história destes professores no Brasil e

conceituarmos o que é a fase inicial de docência. Assim, neste capítulo abordamos

estes temas na visão dos autores como Valente (2008), Moreira (2007), Fiorentini

(2009), Tardif (2002) e outros.

2.1 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

A formação de professores é um tema que traz questões conflitantes, seja

para os alunos que estão em processo de formação, seja para professores que já

estão atuando. Segundo os autores citados, são comuns as perguntas: como utilizar

o conhecimento adquirido ao longo da graduação na sala de aula? Como atender os

meus anseios pessoais, financeiros e me dedicar exclusivamente ao ensino? Estas

questões e outras nos levam a uma análise de como está sendo provida a formação

dos professores, principalmente a formação do professor de matemática.

Tardif (2002), também põe em discussão a não participação dos alunos no

processo de elaboração dos cursos de licenciatura. O autor considera que estes

cursos são globalmente idealizados, concebidos na visão de pessoas externas à

realidade vivenciada nas escolas (pesquisadores em educação).

Para Bueno (2008, p.3), “potenciais críticos e emancipadores da cultura, que

deveriam lapidar a formação do sujeito autônomo, dão lugar à semiformação, que o

prepara para a aceitação passiva da identidade entre cultura e adaptação”. Deste

modo, devemos reconhecer que os professores são sujeitos do conhecimento e que

deveriam ter o direito de participar de decisões que diz respeito a sua própria

formação.

Através da leitura de estudos realizados anteriormente, podemos perceber

que o processo de formação dos professores se estende além dos cursos de

Page 8: Monografia Leonardo Matemática 2011

15 licenciatura, sendo considerado contínuo, pois alguns autores como Tardif (2002),

consideram que todas as experiências vivenciadas ao longo dos anos são

incorporadas ao saberes docentes.

De acordo com Tardif (2002, p.21):

Se admitirmos que o saber dos professores não provém de uma única fonte, mas de várias fontes e de vários momentos da história de vida e da carreira profissional, essa própria diversidade levanta o problema da unificação e da recomposição do saberes no e pelo trabalho.

Ainda segundo Tardif (2002), o saber docente tem caráter polissêmico, devido

à sua pluralidade e heterogeneidade. Para esse autor, as profissões diferem de

acordo com a natureza do conhecimento profissional, que possui as seguintes

características: (1) é especializado e formalizado; (2) é adquirido na universidade; (3)

é pragmático; (4) é destinado a um grupo; (5) é avaliado e pelo grupo de pares; (6)

requer improvisação e adaptação a situações novas num processo de reflexão; (7)

exige uma formação contínua para acompanhar sua evolução; e (8) sua utilização é

de responsabilidade do próprio profissional. Wideen (1998 apud TARDIF, 2002, p.

270) destaca que:

Os cursos de formação para magistério são globalmente idealizados segundo um modelo aplicacionista do conhecimento: os alunos passam certos números de aula baseadas em disciplinas e constituídas de conhecimentos proposicionais. Em seguida, ou durante essas aulas eles vão estagiar para “aplicarem” esses conhecimentos. Em fim quando a formação termina, eles passam a trabalhar sozinhos, aprendendo seu ofício na prática e constatando, na maioria às vezes, que esses conhecimentos proposicionais não se aplicam bem na prática cotidiana.

Portanto, podemos notar que são objetivos do movimento da

profissionalização docente, construir um repertório de conhecimentos e definir

competências para a formação e a prática do magistério.

2.2 A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA

O processo de formação dos professores de matemática nos remete a discutir

algumas questões que geram indagações e conflitos. Com esses questionamentos

pode-se perceber que a formação docente deve ser repensada de forma crítica, pois

Page 9: Monografia Leonardo Matemática 2011

16 sua missão é preparar os futuros professores para lidar com a diversidade cultural e

para refletir sobre sua prática na sala de aula.

Cabe destacar que alguns autores como D’Ambrósio (1986), assinalam que

a formação universitária deve proporcionar aos educadores e professores de todos

os níveis de ensino a informação, os métodos e as técnicas científicas e

pedagógicas básicas para a formação pessoal e social adequadas ao exercício da

sua função. Com relação a isso D’Ambrosio (1986, p. 36), afirma que:

Destacamos assim elementos essenciais na evolução da Matemática e no seu ensino, o que coloca fortemente arraigada a atores socioculturais. Isso nos conduz a atribuir à matemática o caráter de uma atividade inerente ao ser humano, praticada com plena espontaneidade, resultada do seu ambiente sociocultural e conseqüentemente determinada pela realidade material na qual o indivíduo está inserido.

Por muito tempo o modelo de formação de professores de matemática era

baseado em um modelo conhecido por ser constituído por bacharelado e didática.

Moreira e David (2005), relatam que nos três primeiros anos eram ensinados os

conteúdos específicos (bacharelado), e em um ano era estudado os conteúdos

ligados a prática pedagógica (didática).

Porém, a demanda atual não requer de um bom professor de matemática,

apenas o domínio dos conteúdos específicos e pedagógicos, exige também que os

professores tenham técnicas para ensinar a matemática de forma contextualizada

com o cotidiano dos alunos.

Os professores de matemática são chamados com frequência de

matemáticos e, sobre isso Fiorentini e Lorenzato (2009, p. 3) destacam que:

Essa associação, nem sempre é válida, pois o matemático tende a conceber a matemática como um fim em si mesmo, tende a promover uma educação para a matemática priorizando os conteúdos formais e uma prática voltada á formação de novos pesquisadores em matemática. O educador, em contrapartida, tende a conceber a matemática como um meio ou instrumento importante a formação intelectual de crianças, jovens e adultos e também do professor de matemática do ensino fundamental e médio e, por isso tenta promover uma educação pela matemática.

Page 10: Monografia Leonardo Matemática 2011

17

Segundo Romano (2009), o estágio também desempenha um papel de

extrema importância como possibilidade de aproximação do educador matemático

em formação com a realidade educacional. Ainda segundo a autora, o estágio

funciona como forma de oferecer instrumentos para que com isso, os licenciados

adquiram experiências.

Conforme Rosa e Corradi (2007), com o estágio, o educador em formação já

vai aprendendo a conviver e respeitar as diferenças existentes nas salas de aula,

aproveitando dessa diversidade cultural para introduzir o conhecimento matemático

na realidade vivenciada pelos seus alunos. Ainda segundo os autores, o estágio

também oferece a oportunidade do licenciando decidir-se como profissional,

confrontando suas aspirações com a profissão de docente, e assim verificar se

realmente será essa a carreira profissional que vai desempenhar.

Rosa e Corradi (2007, p. 9) dizem que:

As experiências curriculares relativas aos estágios em instituições escolares

são muitas vezes decisivas e cruciais na formação da identidade docente. Nosso grupo de pesquisa mostra como o estágio nas licenciaturas marca intensamente a formação de múltiplas identidades docentes no entrecruzamento das várias culturas em jogo, em especial a escolar e a científica.

Ao considerarmos que o estágio aproxima-se da idéia de experiência,

destacamos Larrosa (2002, p. 21) ao afirmar que:

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-

ia que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça.

No estudo realizado por Larrosa (2002), podemos averiguar que não só o

aprimoramento do conhecimento matemático deve fazer parte do currículo dos

cursos de licenciatura em matemática, pois segundo o autor, o aprimoramento da

prática pedagógica é essencial para que os futuros educadores possam transmitir

com maior facilidade os saberes adquiridos durante o curso universitário, na sua

vivência e na prática docente.

Page 11: Monografia Leonardo Matemática 2011

18

Com relação a isso, Tardif et al., (1991apud MOREIRA, 2007, p.31) informa

que:

Os saberes da experiência adquirem também certa objetividade em sua relação com os saberes curriculares, das disciplinas e da formação profissional. Os professores não rejeitam em sua totalidade os outros saberes; pelo contrário, eles os incorporam á seu próprio discurso. Nesse sentido a prática aparece como um processo de aprendizagem sua formação e adaptação a profissão, eliminando o que lhes parece inutilmente abstrato ou sem relação com a realidade vivida

Desta forma, podemos perceber a importância das experiências curriculares

relativas aos estágios, que são muitas vezes decisivas e cruciais na formação da

identidade docente.

2.3 PROFESSORES DE MATEMÁTICA NO BRASIL: UM POUCO DA HISTÓRIA

O ofício de ser professor de matemática vem sendo passado de uma geração

para outra, sendo sempre aprimorado. Tomando como pressuposto que esta

pesquisa tem como um dos focos o distanciamento existente entre a formação

acadêmica e as questões referentes à prática pedagógica destacamos a concepção

de Matemática Acadêmica. Segundo Moreira (2007), esta concepção é tomada

como o saber fundamental, aquele a partir do qual os outros saberes associados ao

exercício da profissão passam a fazer sentido, chamado conhecimento da disciplina.

Além disso, o autor destaca a Matemática Escolar que se refere ao conjunto de

saberes “válidos”, associados especificamente ao processo de formação escolar

básica em matemática.

Valente (2008), em seu estudo, afirma que os primeiros relatos do ensino da

matemática no Brasil ocorreram em 1699. Este tinha o objetivo de oferecer subsídios

e preparação dos militares para a guerra:

Era preciso ter, no Brasil, oficiais bem treinados no manuseio das peças de artilharia e com competência para construírem fortes. A costa brasileira, imensa, exigia inúmeras construções para preservar as terras conquistadas e proteger as riquezas que dela se iam extraindo. Cria-se, então, a Aula de Artilharia e Fortificações [...], que tinham como conteúdo um curso de matemática, seguido de instruções de manuseio de armas (VALENTE, 2008, p.13).

Page 12: Monografia Leonardo Matemática 2011

19 Em um segundo momento da educação matemática no Brasil, com a

independência, passou-se a promover uma educação matemática baseada em aulas

de geometria para os cursinhos preparatórios. Este trabalho didático dos nossos

antepassados consistia em fazer com que os alunos atingissem a pontuação

necessária para o ingresso no ensino superior.

Definidas as condições de ingresso aos cursos jurídicos, por toda parte, aulas avulsas de francês, latim, retórica, filosofia e geometria passam a constituir o embrião de cursos preparatórios. A tais cursos caberia a preparação dos candidatos ao ensino superior; a preparação dos futuros bacharéis, médicos, engenheiros. Serão esses cursos a origem de um sistema que perdurou por cerca de 100 anos, atravessando o Império e as primeiras décadas da República (VALENTE, 2008, p. 15).

Após o surgimento das faculdades de filosofias em 1930, que tinham como

tarefa a formação de professores, iniciaram-se uma nova geração de professores de

matemática, que não mais tinham que prover um ensino preparatório como seus

antepassados, pois estavam presenciando o surgimento de uma nova disciplina

escolar, a Matemática.

Na década de 1930, o processo de institucionalização no Brasil de novos padrões para a prática científica da matemática, semelhantes àqueles institucionalizados na Europa a partir do século XIX, foi marcado pela criação da FFCL-USP em 1934 e pela Faculdade Nacional de Filosofia (FNFI) da Universidade do Brasil (UB) em 1939. Na oportunidade, foram contratados estrangeiros para implantação dos departamentos e cursos de matemática destas faculdades, responsáveis pela formação de uma primeira geração de profissionais especializados segundo novos padrões disciplinares (RIOS, 2008, p. 50).

A partir dos anos de 1930, começaram a estruturação dos conceitos que

permitiram compreender a unidade existente na interpretação de fatos que

constituem não só o que é ensinado na Matemática propriamente dita, mas também

os que são apresentados no estudo da língua paterna e da história. Segundo Rios

(2008), a matemática deveria ajudar-nos a pensar e, com seu ensino, levarmos

nossos alunos a desenvolverem o raciocínio.

Voltamo-nos, hoje, para nosso mais longínquo ancestral e, de modo

persistente, queremos ver um sentido para o que ensinamos. Sobre o assunto

Fiorentini e Lorenzato (2009, p. 5) afirmou: “Em síntese, podemos dizer que o

Page 13: Monografia Leonardo Matemática 2011

20 período que compreende a década de 1970 e o inicio dos anos de 1980 representou

a fase do surgimento da Educação Matemática - EM, como campo profissional de

especialistas em didática e metodologia do ensino da matemática”. Para Fiorentini e

Lorenzato (2009 p. 17):

Fase da EM como campo profissional vai do inicio do século XX até o final dos anos de 1960. Nesse período, a educação matemática ainda não se encontrava completamente configurada. Não era usual olhar para o ensino da matemática com uma perspectiva diferente daquelas voltadas diretamente para sala de aula e a produção de manuais ou subsídios didáticos.

Nossa geração vivenciou uma reestruturação da educação matemática, uma

discussão sobre o que deveria ser ensinado nas aulas de matemática e o

surgimento de um novo campo de estudo a Educação Matemática - EM.

2.4 CONCEITUANDO OS ANOS INICIAIS DE DOCÊNCIA

Muitos estudiosos como Romano (2009), consideram a fase inicial da carreira

como sendo normalmente um período que vai até os três primeiros anos de

docência. Essa fase é um período importante de desenvolvimento profissional,

caracterizado por tensões, dificuldades e intensas aprendizagens tanto profissionais,

quanto pessoais.

Segundo Fiorentini e Lorenzato (2009, p. 147), “nesse período que os

professores internalizam seus conhecimentos e assumem papéis, valores e normas

do seu grupo profissional, interligando objetivos pessoais e profissionais e

desenvolvendo uma imagem de si como professor”.

Para Gama e Gurgel (2008, p. 2):

A formação inicial e continuada de professores está se afirmando cada vez mais como área de pesquisa imprescindível para a busca de melhoria da qualidade do ensino em geral, e matemática em particular, pela necessidade de se entender o desenvolvimento desses profissionais em seu processo contínuo, amplo, flexível, interativo e acumulativo

Essa fase inicial é primordial, pois é nela que o professor “reconstrói” sua

Page 14: Monografia Leonardo Matemática 2011

21 visão do ensino formada ainda quando era aluno, e reformula seu conceito sobre

professor. De acordo com Romano (2009, p. 40):

A passagem de aluno para professor e tensa, repleta de dilemas e incertezas. Destaca-se também a necessidade de se levar em consideração os vários fatores que interferem nessa transição como, por exemplo, os valores e crenças pessoais, saberes e modelos de ação docentes internalizadas ao longo da vida.

Nessa fase o apoio profissional pode auxiliar o professor a superar essas

dificuldades enfrentadas na docência da matemática.

Para Gold (1997, p. 561 apud Romano 2009, p. 41)

Proporcionar apoio pessoal e profissional se converte em um fator chave para a retenção dos novos profissionais. Oferecer um apoio de qualidade é crucial porque já foi demonstrado por estudos anteriores que a falta de apoio é o fator mais importante causador do abandono da docência pelos professores iniciantes.

Diante do exposto, é possível considerar que na fase inicial de docência em

matemática o professor aprimora sua metodologia para melhor transmitir os

conhecimentos aperfeiçoados na licenciatura e guiar seus alunos no processo de

construção do pensamento crítico.

Page 15: Monografia Leonardo Matemática 2011

22 CAPÍTULO III: METODOLOGIA

A partir das discussões tratadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – LDB, 9394/96 a educação pode ser compreendida como todo processo de

formação que o indivíduo desenvolve na vida familiar, convivência humana no

trabalho, nos movimentos/manifestos da comunidade civil, manifestações culturais e

escolares (instituições de ensino). Partindo desse pressuposto, a formação de

professores deve ser vista como um espaço que prepara o estudante/indivíduo para

lidar com diferentes realidades presentes nas salas de aula.

Esta pesquisa visa relacionar os aspectos da realidade que envolve os

professores na fase inicial de sua carreira. E, para isso, realizamos uma pesquisa

com professores de matemática da rede pública estadual de ensino, pertencentes

aos municípios baianos de Senhor do Bonfim, Campo Formoso e Andorinha.

Para realização deste trabalho utilizamos a entrevista como forma de

interrogação. Para Fiorentini e Lorenzato (2009, p.120), "trata-se de uma conversa a

dois com um propósito bem definido, e significa o ato de perceber e realizar entre

duas pessoas”.

E com o objetivo de obter mais fidedignidade lançamos mão também de um

questionário para melhor triangular informações. Ainda de acordo com Fiorentini e

Lorenzato (2009, p. 117), “o questionário pode ser utilizado como fonte de

informações, a diferença deste para a entrevista é que o questionário pode ser

aplicado a um grande número de sujeitos sem que haja contato direto com o sujeito”.

O tipo de pesquisa utilizado foi a pesquisa-ação que segundo Fiorentini e

Lorenzato (2009), pode ser compreendida como um tipo de pesquisa participante,

em que o pesquisador se introduz no ambiente a ser pesquisado não só para

observá-lo e compreende-lo, mas para mudá-lo.

E para a análise dos dados utilizamos uma abordagem primordialmente

qualitativa, que de acordo com Alves-Mazzoti (1998, p.131):

Page 16: Monografia Leonardo Matemática 2011

23

As pesquisas qualitativas seguem a tradição 'compreensiva' ou interpretativa. Isto significa que essas pesquisas partem do pressuposto de que as pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos e valores e que seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado.

Assim, a mesma se caracteriza por seguir uma visão mais compreensiva dos

fatos, valorizando entre outros aspectos as crenças, percepções e valores do sujeito

pesquisado.

3.1 INSTRUMENTO

O instrumento utilizado para a realização da coleta de dados desta pesquisa

foi o questionário, que foi aplicado diretamente e com o auxilio das tecnologias

atuais com “e-mail”, pois este possibilitou uma maior agilidade no desenvolvimento

da pesquisa, direcionados aos professores da rede pública, Licenciados em

Matemática pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB no campus VII,

obedecendo aos critérios que serão posteriormente especificados.

O questionário foi produzido a partir das entrevistas e das indagações

surgidas nas leituras sobre Os Anos Iniciais de Docência em Matemática, a partir

da realidade do ensino da matemática observado em nossa região, da observação

de relato de alguns colegas de profissão.

3.2 A COLETA DOS DADOS

Esta pesquisa foi realizada com dez professores e professoras, no período de

cinco de outubro a nove de dezembro de 2010. As entrevistas foram feitas anteriores

a aplicação dos questionários e utilizadas como fonte auxiliar de coletada de dados,

com o intuito de obter respostas que geraram novos questionamentos sobre o tema

em estudo, para assim, servirem como fonte de consulta para elaboração do

questionário.

Antes de iniciar o processo de entrevistas, foi explicado para os professores e

professoras o objetivo e a natureza do trabalho, esclarecido porque o entrevistado

Page 17: Monografia Leonardo Matemática 2011

24 foi escolhido para as entrevistas e assegurado o anonimato dos entrevistados. Para

tanto, apresentamos aos participantes o termo de consentimento e colhemos suas

respectivas autorizações.

Os questionários foram aplicados em lugares apropriados, sendo esclarecido

para os entrevistados que eles tinham o direito de não responder a todas as

perguntas ou mesmo recusar-se a respondê-lo integralmente.

O questionário foi utilizado para servir como fonte principal de coleta de

informação e consistiu-se de seis perguntas: fechadas, abertas e mistas. Nosso

objetivo maior nestas interrogações foi possibilitar uma investigação sobre as

dificuldades e superações vivenciadas pelos professores de matemática na fase

inicial de carreira docente.

Os escritos dos professores serão utilizados na análise dos dados, com o

intuito de propiciar um melhor entendimento dos dados coletados. E serão

reconhecidas, pelo nome “professor”, seguido das dez primeiras letras do alfabeto

(Exemplo: Professor A, Professor B,...), sendo que os cinco primeiros têm menos de

seis anos de profissão e os cinco últimos, seis anos ou mais de carreira profissional.

3.3 O LÓCUS DA PESQUISA

Esta pesquisa foi realizada com 10 professores que lecionavam matemática

na rede pública de ensino, sendo que cinco dos professores ensinam no Colégio

Estadual Senhor do Bonfim, situado na cidade de Senhor do Bonfim, Bahia. Este

colégio possui 21 salas de aula, totalizando cerca de 1.800 alunos matriculados,

podendo ser considerado de grande porte, funcionando nos três turnos com turmas

de 8.º ano do ensino fundamental ao 3.º ano do ensino médio.

Também participaram da pesquisa, outros cinco professores que lecionavam

em escolas públicas da nossa região, sendo que três desses professores ensinavam

no Colégio Estadual Roberto Santos, no município de Campo Formoso, Bahia. Este

colégio é considerado como de médio porte e apresenta na sua estrutura 14 salas

Page 18: Monografia Leonardo Matemática 2011

25 de aulas e cerca de 1.000 alunos matriculados. O colégio funcionava nos turnos

matutino, vespertino e noturno. Com turmas de 1.º ao 3.º ano do ensino médio.

Os outros dois professores participantes da pesquisa ensinavam no Colégio

Estadual de Andorinha, localizado no município de mesmo nome. Este colégio é

considerado de médio porte, tendo uma total de 12 salas de aulas e cerca de 900

alunos matriculados. O Colégio funcionava nos turnos matutinos, vespertino e

noturno.

As escolhas destes Colégios foram realizadas por serem os maiores de seus

municípios. E a escolha dos professores foi feita seguindo o critério de maior

proximidade com os mesmos, para facilitar o desenvolvimento deste trabalho e dar

uma maior agilidade no processo de coleta de informações.

Esta pesquisa também foi baseada nos estudos de pesquisadores como

Tardif (2002), D’Ambrosio (1986) e outros, buscando atender os alunos em formação

em licenciatura e professores em início de carreira. Permitindo uma avaliação e uma

investigação relacionada à prática dos processos de ensino-aprendizagem.

Neste sentido, esta pesquisa passa a ser um meio para sugerir quais as

principais formas de amenizar o “choque” enfrentado pelos professores no início da

carreira docente e de analisar quais as principais dificuldades enfrentadas por estes

iniciantes.

Page 19: Monografia Leonardo Matemática 2011

26 CAPÍTULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1 RELEXÕES

A análise dos dados coletados será de suma importância para melhor

entendermos as dificuldades vivenciadas na fase inicial da carreira de docência

em matemática, do grupo de professores aqui em destaque. Esta análise

também poderá servir como base para a construção de propostas que venham

a contribuir para um melhor desempenho dos professores em início de carreira

docente.

Para melhor compreensão e análise dos relatos dos professores foi

necessária a divisão de dois grupos. O primeiro grupo escolhido foi dos

docentes com menos de seis anos de profissão, e o segundo grupo foi de

professores com seis anos ou mais de carreira na área de ensino da

matemática. Pretendendo detectar as dificuldades enfrentadas pelos

professores.

A dificuldade de encontrar professores de matemática com até três anos

de profissão, nos remeteu a considerarmos neste trabalho que a fase de início

de docência estende-se até os seis primeiros anos de carreira. O critério

principal para está divisão foi a reestruturação da matriz curricular do curso de

Licenciatura em Matemática no Departamento de Educação da Universidade

do Estado da Bahia- UNEB, há seis anos.

4.2 O RELATO DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Na primeira questão perguntamos aos dez professores que participaram

da pesquisa, se eles enfrentaram ou enfrentam alguma dificuldade nos anos

iniciais de docência em matemática, e ainda, que listassem, caso tenham,

estas dificuldades.

Page 20: Monografia Leonardo Matemática 2011

27

PROFESSOR A: Sim. Falta de interesse dos alunos e baixo salários. PROFESSOR B: Sim. Falta de interesse dos alunos e falta de orientação pedagógica. PROFESSOR C: Sim. Disparidade entre o que se ver na sala e que é aprendido no curso de licenciatura e baixo interesse dos alunos. PROFESSOR D: Não. PROFESSOR E: Sim. Baixo salário, falta de experiência e falta de interesse por parte dos alunos. PROFESSOR F: Sim. Despreparo dos alunos. PROFESSOR G: Sim. Despreparo dos alunos, falta de acompanhamento pedagógico. PROFESSOR H: Sim. Falta de apoio por parte da faculdade e por parte da instituição de ensino. PROFESSOR I: Sim. Falta de material, e despreparo dos alunos. PROFESSOR J: Sim. A rejeição da matéria por parte dos alunos.

Gráfico 01: Índice de professores que consideram ter enfrentado alguma

dificuldade no início da carreira docente.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Sim Não

Enrentaramdificuldades

Fonte: Questionário aplicado aos professores de matemática dos municípios baianos de

Senhor do Bonfim, Campo Formoso e Andorinha em 2010.

Diante dos relatos dos professores com menos de seis anos de carreira

docente, podemos perceber que em sua grande maioria, consideraram ter

enfrentado alguma dificuldade inicial. Em relação às dificuldades relatadas os

professores citam os baixos salários, falta de orientação pedagógica, falta de

experiência, entre outras. Porém podemos notar que a dificuldade mais

relatada pelos professores com menos de seis anos de carreira foi a falta de

interesse dos alunos.

Esta constatação coincide com uma pesquisa realizada por Romano

(2009). Nesta pesquisa a autora verificou alguns aspectos relacionados às

Page 21: Monografia Leonardo Matemática 2011

28 dificuldades nos anos iniciais de docência como: indisciplina, falta de motivação

dos alunos, dificuldade na relação professor x aluno, entre outros problemas.

Nossa pesquisa não nos permite afirmar os fatores que levaram o grupo

de professores em estudo a colocar a falta de interesse dos alunos como

sendo a dificuldade mais frequente na suas respostas. Porém, D’Ambrósio

(1986), afirma que o professor em início de carreira precisa encarar o desafio

de combinar o individual e o social, ou seja, essencialmente responder os

anseios dos indivíduos e prepará-los para viver em sociedade. E segundo o

autor para despertar o interesse dos alunos pela matemática, o professor deve

ensinar coisas vinculadas ao cotidiano.

Estudos de Rocha (2005), Ponte (1998), Silva (1997) e Romano (2009),

revelam que a passagem de aluno para professor é tensa. E apontam para a

necessidade de levar em consideração os vários fatores que interferem nesta

transição, por exemplo, os valores e crenças pessoais, saberes e modelos de

ação docente armazenado ao longo de suas vidas.

Em nossa pesquisa podemos averiguar que professores iniciantes e os

professores com mais tempo de serviço, colocam o “aluno” como principal fonte

causadora das dificuldades enfrentadas nos anos iniciais de docência.

Percebemos que as entrevistas apontam para a mesma direção, ou seja,

embora passem os anos, os problemas inerentes ao início de docência

parecem serem os mesmos.

Deste modo o início de carreira docente ganha ainda mais importância,

pois representa além da oportunidade para o professor se descobrir como

profissional, adaptar-se a cultura vivenciada pelos alunos e promover um

ensino da matemática que atendam aos novos anseios sociais.

Nos relatos dos professores com seis anos ou mais de profissão

docente, podemos também averiguar a variedade das dificuldades relatadas,

como: rejeição da disciplina matemática, falta de material didático e outras.

Page 22: Monografia Leonardo Matemática 2011

29 Porém, o que chama a atenção é que os professores na grande maioria dos

relatos, informam o despreparo dos alunos com sendo uma das dificuldades

enfrentadas na fase de início de carreira docente.

Os dados relatados vão de encontro com a pesquisa de Veenman

(1988), que relata a diferença entre o que esperava encontrar, denominado

pelo autor como ideais de sua formação, e a realidade que a prática apresenta,

como sendo a principal dificuldade vivenciada pelos professores em início de

carreira docente.

Na segunda questão questionamos aos professores sobre quais fatores

foram preponderantes na causa dessas dificuldades. Obtivemos as seguintes

respostas:

PROFESSOR A: Os alunos não se preocupam com seu futuro. PROFESSOR B: Ausência da família na escola, dificuldade para planejar e os baixos salários. PROFESSOR C: Disparidade entre a aprendizagem da licenciatura e a realidade das salas de aulas e a falta de interesse dos alunos. PROFESSOR D: Não respondeu. PROFESSOR E: O medo, a insegurança e a ansiedade. PROFESSOR F: A família não está participando ativamente do processo de formação desses alunos. PROFESSOR G: Um dos fatores que torna o oficio a docência ainda mais difícil falta de base por parte dos alunos, causando diferentes níveis de aprendizagem em uma mesma classe e o pouco interesse destes para sanar essas dificuldades. PROFESSOR H: A falta de experiência em sala de aula, pois não tinha formação em magistério, com isso sentir uma insegurança. PROFESSOR I: Defasagem do salário docente. PROFESSOR J: Falta de habilidade dos alunos para ler e interpretar problemas matemáticos e a falta de interesse destes para sanar essas dificuldades.

Analisando as escritas dos pesquisados, percebemos a insatisfação com

vários fatores que consideram serem causadores das dificuldades enfrentadas

nos primeiros anos de docência. E comparando com estudos realizados por

Veenman (1988), podemos notar que uma das causas dos alunos terem sido o

centro dos relatos dos professores pode ser o fato de os educadores no início

de sua carreira, depararem-se com alunos que avançaram nas séries sem ter a

base suficiente, para um melhor desempenho nas séries posteriores.

Page 23: Monografia Leonardo Matemática 2011

30

Destacamos também a seguir a afirmativa de dois dos professores:

“ausência da família na escola” (Professor B e F). Pois cada vez mais, talvez

por falta de tempo ou até por estarem pouco interessados na carreira escolar

de seus filhos, a família deixa de acompanhá-los.

Através da análise das respostas dos professores, podemos perceber

que os dados não corroboram com os detectados por Romano (2009), pois a

autora relata fatores relacionados com a formação acadêmica e a falta de apoio

profissional como sendo os principais causadores das dificuldades nos anos

iniciais de docência.

Sobre a formação docente Romano (2009), fala que o curso de

Licenciatura deve preparar os professores para inserir o conhecimento

matemático na realidade dos alunos e desenvolver habilidades para adaptar

seu método a cultura local. E sobre o apoio profissional Gama e Fiorentini

(2008, p.40), afirmam que “a necessidade de apoio tem conduzido uma parcela

crescente de professores a participarem de grupos colaborativos, os quais têm

como objetivo desenvolver uma formação continuada, e coloca como centro de

preocupação o desenvolvimento do profissional docente”.

Na terceira questão perguntamos aos dez professores que participaram

da pesquisa, sobre a necessidade de um maior acompanhamento na fase

inicial de docência por parte das instituições de ensino, obtivemos as seguintes

respostas:

Gráfico 02: Nível de satisfação com o acompanhamento dado pelas escolas.

50%50% SIM

NÃO

Fonte: Questionário aplicado aos professores de matemática dos municípios baianos de

Senhor do Bonfim, Campo Formoso e andorinha em 2010.

Page 24: Monografia Leonardo Matemática 2011

31

Analisando os dados coletados, destacamos que cinco dos dez

professores do grupo pesquisado, relataram estarem satisfeitos com o

acompanhamento dado pelas instituições de ensino, em contrapartida a outra

metade relatou estarem insatisfeitos, o que nos impossibilita de tirar

conclusões. Entretanto em um estudo anterior Hegel (2007), destacou que só

com apoio profissional e utilização de experiências anteriores os professores

poderão superar e dar continuidade a sua missão de transformar a educação

matemática.

Devido ao grande índice de abandono nos anos iniciais de docência em

matemática, relatados em estudos realizados anteriormente. Na quarta questão

questionamos aos dez professores, se eles pensam ou pensaram em

abandonar a carreira. Suas respostas foram:

PROFESSOR A: Não. PROFESSOR B: Sim, desgaste e desvalorização (baixo salário). PROFESSOR C: Sim, pois o salário é muito pequeno. PROFESSOR D: Não, pois só com a educação vai transformar a nossa sociedade. PROFESSOR E: Sim, melhor qualidade de vida e em busca de um melhor salário, e insatisfação pessoal. PROFESSOR F: Sim, apesar de identificar bastante com a profissão, já pensei em abandonar, porque os salários são baixos. PROFESSOR G: Sim, porque é uma profissão muito desgastante e estressante, e por desvaloriza profissional (baixo salário). PROFESSOR H: Sim, por causa da péssima estrutura física, pedagógica de nossas escolas e por falta de respeito por parte de nossos governantes (baixos salários). PROFESSOR I: Sim, insatisfação pessoal. PROFESSOR J: Sim, baixo salário e insatisfação pessoal.

Abaixo apresentaremos o gráfico que nos fornecerá uma maior

compreensão dos dados coletados.

Page 25: Monografia Leonardo Matemática 2011

32 Gráfico 03: índice de professores pesquisados que pensam ou pensam em

abandonar a carreira.

0%20%40%60%80%

100%120%

Penssam em abandonar a carreira

Menos de 6 anos 6 anos ou mais

Fonte: Questionário aplicado aos professores de matemática dos municípios baianos de

Senhor do Bonfim, Campo Formoso e andorinha em 2010.

Podemos notar que a maioria dos professores com menos de seis anos

de profissão pensa ou pensaram em abandonar a carreira docente, esses

alegam insatisfação com a desvalorização e com os baixos salários.

Entretanto, temos que destacar o relato de dois dos professores que, apesar

dos contratempos, relataram nunca ter pensado em abandonar a carreira.

A totalidade do professores pesquisados com seis anos ou mais de

profissão pensam em abandonar a carreira, relatam que se sentem insatisfeito

com a remuneração. O gráfico a seguir apresentado, retrata estes dados.

Gráfico 04: problemas que levam ou levaram os professores a pensar em

abandonar a carreira docente. Sigla: Ins (Insatisfação)

Fonte: Questionário aplicado aos professores de matemática dos municípios baianos de

Senhor do Bonfim, Campo Formoso e andorinha em 2010.

Page 26: Monografia Leonardo Matemática 2011

33

Segundo Gatti (2000), a desvalorização do trabalho docente vem se

arrastando por muito tempo e causando não só aborrecimento aos professores,

mas sendo um dos motivos causadores dos altos índices de abandono da

carreira docente. Em seu estudo o autor mostrou que a precariedade do

trabalho docente gera reflexos negativos para o exercício da profissão,

promovendo a desvalorização do professor como formador. No nosso estudo

podemos notar que devido aos baixos salários, insatisfação pessoal e outros

motivos os professores pensam em abandonar a carreira.

Ferreira (2003), em um estudo realizado no Rio de Janeiro revela que

em 1992 a média de pedidos de exoneração de professores era de oito por dia,

em 1998 chegou a alcançar doze. E assim como consta em nossa pesquisa,

tinham como principal fator gerador a má remuneração.

Para Gatti (2000), a maioria dos professores acredita que, o que há de

mais gratificante em sua profissão são as atividades realizadas na sala de aula

e as relações afetivas que se estabelecem no trabalho. E também como em

nosso estudo detectou que os salários indignos é um dos fatores apontados

como frustrantes.

Na quinta questão, questionamos ao professores sobre o que poderia

ser feito para ajudar os professores iniciantes a superar essas dificuldades

enfrentadas na fase inicial de docência em matemática, e obtivemos as

seguintes respostas:

PROFESSOR A: maior carga horária na graduação de estágio. PROFESSOR B: repensar o componente curricular estagia supervisionado. PROFESSOR C: Um maior acompanhamento por parte da instituição de ensino aos professores iniciantes. PROFESSOR D: ter um suporte maior por parte da coordenação na área pedagógica e metodológica. PROFESSOR E: maior carga horária de estágio. PROFESSOR F: aprimoramento do componente curricular estágio supervisionado. PROFESSOR G: apoio por parte da universidade no sentido de dar dicas e macetes de como lidar com as turmas no sentido de tentar homogeneizar a aquisição do conhecimento.

Page 27: Monografia Leonardo Matemática 2011

34

PROFESSOR H: deveria existir uma comissão de estágio para orientar os professores e acompanhá-los. PROFESSOR I: investir na formação continuada dos professores e incentiva profissionais. PROFESSOR J: maior acompanhamento por parte da coordenação pedagógica, disponibilização de material didático que possibilite aproximar os conteúdos matemáticos a realidade dos alunos.

A seguir apresentaremos um gráfico, com o intuito de possibilitar uma

melhor análise das propostas sugeridas pelos dez professores, para amenizar

os problemas enfrentados inicialmente.

Gráfico 05: sugestões de meios para amenizar o “choque” enfrentado na fase

de iniciação a docência.

Fonte: Questionário aplicado aos professores de matemática dos municípios baianos de

Senhor do Bonfim, Campo Formoso e andorinha em 2010.

A partir da análise das respostas dos professores citadas anteriormente,

perceber-se que o componente curricular estágio supervisionado assume um

papel de extrema importância no processo de formação dos professores.

Segundo Romano (2008), este ajuda o professor em formação a se adaptar

com a realidade das salas de aula e por em prática as habilidades

desenvolvidas no curso de Licenciatura, fazendo um filtro dos conhecimentos

que são realmente necessários.

Também temos que destacar que uma possível forma de amenizar esse

embate vivenciado na fase inicial de docência em matemática, na opinião dos

entrevistados é a necessidade de um maior acompanhamento pedagógico por

parte da coordenação. Pois pesquisas anteriores como a realizada por Romano

(2009), nos mostram que os professores ao começar a carreira se sentem

sozinhos e inseguros, precisando de uma maior orientação.

Page 28: Monografia Leonardo Matemática 2011

35 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos este estudo com algumas respostas e reflexões obtidas

através das observações. Também queremos destacar a necessidade da

realização de novos estudos, pois talvez pelo baixo número de questionários

aplicados, ficamos impossibilitados de chegar a demais conclusões.

Diante do exposto percebemos que as principais dificuldades relatadas

pelos dez professores entrevistados são: a falta de interesse dos alunos pelas

aulas de matemática, os baixos salários e a falta de orientação pedagógica. Os

fatores causadores dessas dificuldades segundo os professores são: falta de

acompanhamento da vida estudantil por parte da família, dificuldade para

planejar por falta de experiência, defasagem do salário docente, entre outros.

Notamos também que a grande maioria dos professores pensam ou

pensaram em abandonar a carreira de docente. E os motivos que os levaram a

pensar em abandonar a profissão formam: os baixos salários, insatisfação

pessoal e outros.

Podemos concluir que muitos dos professores não se dão conta que

essa fase turbulenta faz-se necessária para o processo de formação do

educador, pois, o que é ensinado nos cursos de Licenciaturas de matemática

fica muito no campo da abstração e é nesse momento que esses

conhecimentos adquiridos saem do mundo da "imaginação" para serem postos

em prova.

A partir dos discursos dos professores podemos destacar algumas

sugestões que poderão ajudar a amenizar os conflitos vivenciados nessa fase

de iniciação a docência, como: investir na formação continuada dos professore,

bem como oferecer uma maior importância ao componente curricular estágio.

Também devemos destacar a necessidade de preparar os novos

professores para atender as necessidades da sociedade atual, interligando a

Page 29: Monografia Leonardo Matemática 2011

36 teoria e a prática que possa levar os discentes a pensarem criticamente sobre

os problemas propostos.

A partir do que foi descrito, percebe-se que os professores com mais

tempo de serviço apesar de terem vivido sua fase inicial de docência em outra

época, experienciaram praticamente as mesmas dificuldades enfrentadas pelos

professores que estão vivenciando atualmente o início de carreira docente.

Com isso podemos dizer que este problema necessita de uma maior atenção e

de estudos e atitudes que possam contribuir se não para sanar, ao menos

amenizar as dificuldades, que perpassam de geração a geração.

Sabemos que só com muito esforço nós educadores passaremos da

fase inicial “período de turbulência profissional” e exerceremos realmente a

profissão de docente matemático, alcançando nossas aspirações financeiras e

pessoais.

Portanto, percebe-se a necessidade de se estimular durante a

graduação situações que remetam a articulação entre teoria e prática docente.

Além da necessidade de estimular a busca de apoio exterior, como: a

participação em grupos de estudo. Também podemos sugerir o surgimento de

programas com o intuito de fazer um acompanhamento dos professores em

início de carreira, e que busquem estratégias para amenizar o “choque” com a

realidade.

Page 30: Monografia Leonardo Matemática 2011

37 REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei Federal n°. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Dispõe sobre as Diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília, DF, 1996.

BUENO, Sinésio Ferraz. Educação, Paranóia e semiformação. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPEd, 31., 2008, Caxambu. Disponível em: <http: www.scielo.br> acessado em: março de 2011, p. 3.

D’AMBROSIO, UBIRATAN. Da Realidade a Ação; reflexões sobre a educação e matemática. Campinas: SUMMUS, 1986, p. 36. D’AMBROSIO, UBIRATAN. Educação matemática da teoria a prática. SP. Campinas: Paperus, 1996. FERREIRA, R O professor invisível: imaginário e vocação. Rio de Janeiro: Quartet, 2003.

FIORENTINI, D; CASTRO, F. C. Tornando-se professores de matemática: o caso de Allan em prática de ensino e estágio supervisionado. In: FIORENTINI, D (org.). Formação de professores de matemática: explorando novos caminhos com outros olhares. Campinas: Mercado de Letras, 2003. FIORENTINI, D; LORENZATO, S. Investigação em Educação Matemática: Recursos Teóricos e mitológicos. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados. Coleção Formação do professor 2009, p. 3-17-117-120. GAMA, R. P; FIORENTINI. D. Identidades de professores iniciantes de matemática que participam de grupos colaborativos. Horizontes, v. 26, n.2, 2008, p.40. GAMA, R. P; GURGEL, C.M.A. Sentimentos e dilemas de professores de matemática em início de carreira docente. UNIMEP, P.2. Disponível em <www.ufrrj.br/emanped/paginas/conteudo... 24/sentimentos.pdf> acesso em: 12 de Fevereiro de 2011.

Page 31: Monografia Leonardo Matemática 2011

38 GATTI, B. A formação de professores e sua carreira: problemas e movimentos de renovação, Campinas: Autores Associados, 2000. HEGEL. O conceito de Freiheit fundamentando a noção de Bildung. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPEd, 30., 2007, Caxambu. Anais... Caxambu. 1. Disponível em: <http: www.scielo.br> acesso em: 26 de março de 2011. LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19, p. 20-28, jan./abr. 2002, p. 21. MAZZOTTI, ALVES. A. J. & GEWANDSZNAJDER, F. (1998). O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998. MOREIRA, P.C; DAVID, M.M. A formação matemática do professor: Licenciatura e prática docente escolar. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, 31-57. NODARI, Paulo César, (2008). Educação, cultura e cidadania. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPEd, 31., 2008, Caxambu. Disponível em: <http: www.scielo.br> acessado em: 26 de março de 2011. PONTE, J. P.; GALVÃO, C.; SANTOS, F. T.; OLIVEIRA, H. O início da carreira profissional de jovens professores de matemática e ciências. Revista de Educação. Lisboa: Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. v.10 (1). , 2001. RIOS, D.F. Memórias e histórias da matemática no Brasil: a saída de Leopoldo Nachbin do IMPA. Dissertação (Mestre em Ensino, Filosofia e História das Ciências)-UEFS, 2008, P. 50. ROCHA, L.P. Reconstituição dos saberes de professores de matemática nos primeiros anos de docência. 2005. Dissertação (Mestrado)- Universidade Estadual de Campinas- Unicamp, Campinas, SP, 2005. ROMANO, A.M. A Fase inicial da Docência sob a perspectiva e reflexão de

Professores em Final de Carreira. Artigo, Revista de Educação. Vol. XII, 2009, Valinhos, SP, p.40- 41- 43. ROSA, Maria Inês Petrucci; CORRADI, Dulcelena. Peralis. Cultura(s) e

Page 32: Monografia Leonardo Matemática 2011

39 processos de identificação em currículo de formação docente: uma experiência no estágio da licenciatura. Revista Horizontes, Bragança Paulista, v. 25, n. 1, p. 21, 2007, p.2. SILVA. M.C.M. O primeiro ano de docência: o choque com a realidade. In: ESTRELA, M.T.(org). Viver e construir a Profissão Docente. Porto: Porto Editora, 1997. TARDIF, M. Saberes docente e a formação profissional. Trad. Francisco Pereira Petrópolis: 8.ed, vozes, 2002, p.21- 240- 270. VALENTE, W.R.Quem somos nós professores de matemática?Cad. Cedes, Campinas, vol. 28, n.74, 2008, p.13-15-19. Disponível em: < http:// WWW.cedes.unicamp.br> acesso em: 10 de fevereiro de 2011. VEENMAN, S. El proceso de llegar a ser professor: un análisis de la formaçión inicial. In: VILLA, A. (coord). Perspectivas y problemas de la función docente. Madrid, 1988.

Page 33: Monografia Leonardo Matemática 2011

40