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Maria Lorena Otero Hernndez
Participao para o Desenvolvimento Sustentvel Caso de estudo: Uma Investigao Apreciativa com Pescadores da
Lagoa Rodrigo de Freitas
Monografia
Monografia apresentada ao Programa de Ps-graduao em Sustentabilidade da PUC Rio como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em Sustentabilidade aprovada pela Comisso Examinadora abaixo assinada.
Orientador: Lus Carlos Soares Madeira Domingues. Assessora externa: Tamar Bajgielman.
Rio de Janeiro, 12 de agosto de 2013
Agradecimentos
Esta Monografia no teria sido possvel sem a participao da Colnia de
Pescadores da Lagoa Rodrigo de Freitas. Especialmente agradeo a Joo
Rodrigues, Katya, Reginaldo, Orlando Marins Filho, Wellington Andareli Dutna,
Antonio Claudio M. Paiva, Pedro Marins, Walter Marins, Saturnino E. Riberino,
Orivan Batista, Paulo Marins, Josemar Santana, Alexandre De Oliveira, Gilson
Campos e a sua amiga e antiga colaboradora Tamar Bajgielman.
Ao meu pai e minha me, irmos, professores, amigos e namorado.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Oito degraus da escada da participao ................................... 17
Figura 2 Ilustrao do Ciclo das 4D da autora. ....................................... 35
Figura 3 Elementos do Planejamento. .................................................... 38
Figura 4 Anlise de histrias de sucesso. ............................................... 62
Figura 5 As 6 perguntas bsicas do planejamento. ................................ 64
Figura 6 Problemtica Principal .............................................................. 93
Figura 7 Problemtica Colateral ............................................................. 93
Figura 8 Quadro de Viso....................................................................... 94
Figura 9 Objetivos .................................................................................. 94
Figura 10 Oportunidade de Design ......................................................... 95
Figura 11 Objetivos do Projeto Passeios de Barco ................................. 95
Figura 12 Matriz de Parcerias ................................................................. 96
Figura 13 Proposta de Barcos. Tradies ............................................... 96
Figura 14 Proposta Barcos. Histria ....................................................... 97
Figura 15 Proposta Barcos. Ambiental ................................................... 97
SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................................... 5
OBJETIVO GERAL ................................................................................................................. 7
1. MARCO TERICO ................................................................................................... 7
O QUE A SUSTENTABILIDADE. ............................................................................................... 7
SUSTENTABILIDADE E PARTICIPAO. ..................................................................................... 10
OS PESCADORES, A SUSTENTABILIDADE E A PARTICIPAO. ........................................................ 19
MTODOS PARTICIPATIVOS .................................................................................................. 25
A INVESTIGAO APRECIATIVA. ............................................................................................ 30
1.1.1 Como Funciona a Investigao Apreciativa.................................................. 32
1.1.2 Filosofia ........................................................................................................ 39
1.1.3 Adaptao e vantagens da Investigao Apreciativa em comunidades
locais. Caso Myrada no sul da ndia........................................................................................ 41
2 USO DA INVESTIGAO APRECIATIVA COM OS PESCADORES DA LAGOA RODRIGO DE
FREITAS. .................................................................................................................................... 44
2.1 PREPARAO DA INVESTIGAO APRECIATIVA. .................................................................. 44
1.1.4 Reunio de Apresentao ............................................................................. 45
1.1.5 Escolha dos tpicos positivos e preparao do guia de entrevista individual.
51
1.1.6 Descoberta ................................................................................................... 56
1.1.7 Sonho ............................................................................................................ 61
1.1.8 Planejamento ............................................................................................... 63
1.1.9 Futuro ........................................................................................................... 64
CONCLUSES E DESDOBRAMENTOS. ........................................................................... 65
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................... 73
APNDICE A GUIA DE ENTREVISTA DE DESCOBERTA ................................................. 77
APNDICE B AGENDA DE ENCONTRO SONHO E PLANEJAMENTO .............................. 83
APNDICE C MODELO DE ENTREVISTA DE AVALIAO ............................................. 86
APNDICE D TABELA DE RESULTADOS DE VOTAO E PRIORIZAO. ...................... 88
ANEXO A AVALIAO DA TAMAR BAJGIELMAN ....................................................... 91
ANEXO B RESULTADOS DA OFICINA DE DESIGN ........................................................ 93
5
Introduo
A iniciativa de nos aproximar da Colnia de pescadores Z13 na beira da
Lagoa Rodrigo de Freitas na altura do Parque dos Patins do Rio de Janeiro
partiu de um exerccio acadmico proposto durante o Curso de Sustentabilidade
no Projeto da PUC-Rio. O trabalho visava a aproximao de um contexto real de
estudo para desenvolver um projeto de design a partir dos princpios de
sustentabilidade trabalhados no curso. O projeto poderia ter como resultado uma
proposta urbanstica e arquitetnica, um produto o um servio.
Foi realizada uma Oficina de Design Participativa com as estudantes
Flvia Maia, Ayara Mendo e Carol Previatello, cujo resultado foi uma proposta de
passeios de barco em volta da Lagoa com o objetivo de fortalecer o papel da
Colnia na regio, j que os passeios teriam um contedo ambiental e histrico
reconhecendo os conhecimentos tradicionais do grupo e seus quase 100 anos
de existncia.
A experincia participativa que permitiu a proximidade com a Colnia
incentivou a possibilidade de desdobramento do projeto como trabalho final de
curso e aumentou o interesse em mtodos participativos para o trabalho com
comunidades visando a sustentabilidade.
A abordagem da Investigao Apreciativa se mostrou adequada para o
caso com os pescadores por focar no sistema organizacional, nas suas foras e
capacidades para atingir objetivos comuns, considerando que os desafios da
Colnia ante o projeto turstico estavam mais no campo da gesto e na
capacidade para gerar estratgias de viabilizao da iniciativa.
A deciso de usar o mtodo com os pescadores surgiu das
potencialidades que oferecia para gerar ao a partir das prprias possibilidades
do grupo com uma viso positiva, apreciativa e compartilhada da realidade. O
processo em si gerava valorizao do grupo e reconhecimento das suas foras e
capacidades.
O presente trabalho pretende apresentar a experincia de uso da
ferramenta com os pescadores, os acertos e dificuldades visando uma avaliao
da Investigao Apreciativa.
O primer captulo do texto tem como objetivo fornecer uma base terica
que permita contar com categorias de anlise e qualificao para avaliar o
trabalho participativo experimentado com os pescadores de Lagoa. Para tal fim
6
se apresentaro as vises do conceito de Participao que ajudem no
esclarecimento do seu significado e relevncia no contexto oficial do
Desenvolvimento Sustentvel a partir de uma comparao analtica do que se
fala em Participao na Declarao da Rio+20 O Futuro que Queremos e a
Agenda 21 da Rio 92 com noes de Participao Pblica de Nunes, Santos e
Arnstein. Pretendo com isso, mapear conceitos, eixos de analise principais de
aspectos da participao em relao ao conceito hegemnico de
sustentabilidade.
Outro objetivo do captulo consiste em apresentar a Investigao
Apreciativa e contextualizar o mtodo entre outros da sua ndole. Apresentarei
algumas crticas e adaptaes que o mtodo teve para ser usado com
comunidades rurais no sul da ndia como referncia para seu uso com a Colnia.
No Segundo Captulo se pretende apresentar o trabalho de campo
desenvolvido com os pescadores, a forma como foi aplicada a Investigao
Apreciativa, as dificuldades e acertos no processo com um olhar reflexivo e
autocrtico com o intuito de fornecer uma anlise das potencialidades do uso do
mtodo para o desenvolvimento sustentvel.
Analisaremos o processo e os resultados da experincia no marco da
importncia e significao que tem as dinmicas participativas para a construo
da sustentabilidade e identificando o que a Investigao Apreciativa aporta
especialmente ao assunto.
7
Objetivo Geral
Testar a relevncia da Investigao Apreciativa (IA) para o
desenvolvimento sustentvel--- ou seja, verificar em que medida a IA gera um
potencial para solues sustentveis --- atravs de um estudo de caso com a
colnia de Pescadores da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Objetivos Especficos
Fornecer comunidade de pescadores um mtodo de planejamento
participativo, para promover o desenvolvimento sustentveis.
Avaliar a eficcia da IA como uma metodologia para apoiar o planejamento
de projetos sustentveis com organizaes locais.
Documentar e compartilhar as realizaes do grupo de modo que a
abordagem encontre maior aceitao e aplicao no planejamento
participativo para o desenvolvimento sustentvel de organizaes locais.
1. Marco Terico
O que a Sustentabilidade.
A viso hegemnica a respeito da sustentabilidade vem avanando nas
Conferencias Internacionais sobre o Meio Ambiente, reunida pela ultima vez no
Rio de Janeiro no ano 2012, conhecido como Rio +20. Como resultado
apresentou um documento intitulado O futuro que queremos. um documento
poltico, de 53 pginas, acordado por 188 pases, que dita o caminho para a
cooperao internacional sobre desenvolvimento sustentvel, sendo assim a
abordagem hegemnica global no assunto.
O Futuro que Queremos tem a sua origem no documento de nome similar,
Nosso Futuro Comum, tambm conhecido como Relatrio Brundtland.
Representa um dos primeiros esforos globais para se compor uma agenda
global para a mudana de paradigma no modelo de desenvolvimento humano.
Viajamos pelo mundo durante quase trs anos. Ouvindo as pessoas. Em
audincias pblicas especiais organizadas pela Comisso, ouvimos lderes
governamentais, cientistas e especialistas, ouvimos grupos de cidados
envolvidos em vrias questes ligadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento,
8
e ouvimos milhares de pessoas agricultores, favelados, jovens, - industriais e
povos indgenas e tribais. (Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, 1991)
A Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMD)
apelou Assembleia Geral das Naes Unidas para que aps as devidas
consideraes, transformasse o relatrio num Programa das Naes Unidas
para o Desenvolvimento Sustentvel, visando convocao de uma conferncia
internacional pra analisar os progressos obtidos e promover os acordos
complementares necessrios ao estabelecimento de pontos de referncia e
manuteno do progresso humano.
O termo Desenvolvimento Sustentvel foi apresentado oficialmente ao
mundo nesse relatrio no ano 1987, como um conceito poltico amplo para o
progresso econmico e social, visando acordos entre as naes na Conferncia
das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento que se
aproximava, a Rio 92.
O desenvolvimento sustentvel aquele que atende s necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem a
suas prprias necessidades.
Ele contm dois conceitos chave:
o conceito de necessidades, sobretudo as necessidades
essenciais dos pobres do mundo que devem receber a mxima
prioridade;
a noo das limitaes que o estgio da tecnologia e da
organizao social impe ao meio ambiente, impedindo-o de
atender s necessidades presentes e futuras.
Portanto, ao se definirem os objetivos do desenvolvimento econmico e
social, preciso levar em conta sua sustentabilidade em todos os pases
desenvolvidos ou em desenvolvimento, com economia de mercado ou de
planejamento central. Haver muitas interpretaes, mas todas elas tero
caractersticas comuns e devem derivar de um consenso quanto ao conceito
bsico de desenvolvimento sustentvel e quanto a uma srie de estratgias
necessrias para sua consecuo.
Vemos a possibilidade de uma nova era de crescimento econmico, que
tem de se apoiar em prticas que conservem e expandam a base de recursos
9
ambientais. E acreditamos que tal crescimento absolutamente essencial para
mitigar a grande pobreza que se vem identificando na maior parte do mundo em
desenvolvimento. (CMMD,1991)
Em seu sentido mais amplo, a estratgia do desenvolvimento
sustentvel visa promover a harmonia entre os seres humano e
entre a humanidade e a natureza. No contexto especfico das
crises do desenvolvimento e do meio ambiente surgidas nos anos
80, a busca do desenvolvimento sustentvel requer: (CMMD,
1991:71)um sistema poltico que assegure a efetiva participao
dos cidados no processo decisrio;
um sistema econmico capaz de gerar excedentes e know-how tcnico
em bases confiveis e constantes;
um sistema social que possa resolver as tenses causadas por um
desenvolvimento no equilibrado;
um sistema de produo que respeite a obrigao de preservar a base
ecolgica do desenvolvimento;
um sistema tecnolgico que busque constantemente novas solues;
um sistema internacional que estimule padres sustentveis de comrcio
e financiamento;
um sistema administrativo flexvel e capaz de autocorrigir-se.
A verso hegemnica do Desenvolvimento Sustentvel procura conciliar o
crescimento econmico e a preservao dos recursos naturais, apostando por
uma opo conservadora da economia, na qual, o prprio crescimento
econmico acompanhado do progresso tecnolgico encontrar as formas de
explorar os recursos naturais de forma racionalizada, conservando e distribuindo
de forma mais igualitria os recursos naturais para as geraes presentes e
futuras.
H sempre o risco que o crescimento econmico prejudique o meio ambiente, uma vez que ele aumenta a presso sobre os recursos ambientais. Mas os planejadores que se orientam pelo conceito de desenvolvimento sustentvel tero de trabalhar para garantir que as economias em crescimento permaneam firmemente ligadas a suas razes ecolgicas e que essas razes sejam protegidas e nutridas para que possam dar apoio ao crescimento a longo prazo. (CMMAD,1991:44)
10
Existe um aquecido debate internacional1 que considera a opo do
crescimento econmico e o atual sistema baseado na crescente produo de
bens de consumo ser insustentvel e irreconcilivel com a ideia de
racionalizao e preservao dos recursos para as geraes futuras. O relatrio
Brundtland se presentou como caminho no meio do debate porque incluiu a
noo de limites do crescimento2 e a noo de justia intergeraes. Dessa
forma, se alerta sobre os perigos do crescimento econmico e padres de
consumo para os desenvolvidos e ao mesmo tempo se expe a necessidade de
crescimento para os pases mais pobres para atingirem suas necessidades
bsicas, com o desafio de achar modelos de crescimento que no destruam o
meio ambiente garantindo assim as necessidades das geraes futuras.
Outra noo importante do relatrio Brundtland a inseparabilidade do
meio ambiente do ser humano, ou seja, no se pode falar de natureza sem falar
de sociedade. O Desenvolvimento Sustentvel une a preocupao pela
capacidade de suporte dos sistemas naturais com os desafios sociais
enfrentados pela humanidade num trip da seguinte forma: justia social,
preservao da natureza e viso sistmica do desenvolvimento.
Meio ambiente e desenvolvimento no constituem desafios separados; esto inevitavelmente interligados (...) Eles fazem parte de um sistema complexo de causa e efeito. Os problemas ambientais e econmicos ligam-se a vrios fatores sociais e polticos (...) o desgaste do meio ambiente e o desenvolvimento desigual podem aumentar as tenses sociais. Pode-se argumentar que a distribuio de poder e influncia na sociedade esto no mago da maioria dos desafios do meio ambiente e do desenvolvimento. Por isso as novas abordagens tm de incluir programas de desenvolvimento social, principalmente para melhorar a posio das mulheres na sociedade, proteger os grupos vulnerveis e promover a participao local no processo decisrio. (CMMAD, 1991:41)
Sustentabilidade e Participao.
A participao da sociedade civil um tema transversal ao desenvolvimento
sustentvel. Ele aparece em todos os documentos oficiais, desde a Conferncia
de Estocolmo em 1972 at a Rio+20 em 2012. Declarao aps declarao, vem
sendo reiterado, verificado e ampliado a partir do reconhecimento de novas
identidades e grupos sociais e com o reconhecimento da necessidade de
1 Vide Georgecou, Daly e Da Veiga.
2 A noo de limites ao crescimento foi mostrada ao mundo no livro Limits to growth, publicado no
ano 1972 com uma recente atualizao em 2005. O livro argumentou que o consumo desenfreado e crescimento econmico em nosso planeta finito estava levando a Terra em direo a superao de sua capacidade de carga, seguido pelo desastre.
11
estimular novas formas de participao alm das tradicionais. Insiste no reforo
da democracia, a boa governana e o Estado de Direito como fatores essenciais
para o desenvolvimento sustentvel, assim como a procura de consenso,
cooperao e alianas em todas as escalas, desde a local at a internacional.
Reconhece os governos como os principais responsveis e a importncia da
participao ampliada de toda a sociedade civil como uma oportunidade de
solidariedade e unio para a consecuo do desenvolvimento sustentvel.
No quarto captulo da declarao da Conferencia das Naes Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentvel, O futuro que queremos, intitulado Quadro
Institucional Para o Desenvolvimento Sustentvel, identificamos aspectos
especficos da participao pblica na tomada de decises e os conceitos
associados ele: atores, escalas, informao e mecanismos se configuram
como eixos de anlise e cooperao, aliana, viso comum, transparncia,
consenso, fluxo e inovao so os conceitos principais que qualificam esses
eixos.
A noo de atores no processo de tomada de deciso chave para entender
a viso de participao para o desenvolvimento sustentvel. Segundo a
Declarao, os atores se organizam de forma mais geral em governantes e
governados, com um papel central das Naes Unidas e das instituies de
financiamento internacional e os bancos multilaterais de desenvolvimento para
garantir a mobilizao de recursos para o desenvolvimento sustentvel. Os
governos, tanto suas instituies legislativas e judicirias, so os primeiros
responsveis pelo desenvolvimento sustentvel. Os governados ou sociedade
civil uma massa de pessoas classificada em grandes grupos chamadas
consulta e a participao ativa: mulheres, crianas e jovens, povos indgenas,
organizaes no governamentais, autoridades locais, trabalhadores e
sindicatos, empresas e setores de atividades, a comunidade cientfica e
tecnolgica e os agricultores, pescadores, criadores, silvicultores bem como
outras partes interessadas, incluindo as comunidades locais, os grupos de
voluntrios e as fundaes, os migrantes, as famlias, os idosos e as pessoas
com deficincia.
13. Reconhecemos como fundamental para o desenvolvimento sustentvel as oportunidades dos povos em serem atores de suas vidas e de seu futuro, de participarem das tomadas de decises e de expressarem suas preocupaes. (Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel, 2012:4)
Todos os atores so chamados a criar alianas entre eles, a trabalharem
juntos e de forma cooperativa para a consecuo da sustentabilidade o que
12
precisa a determinao de uma viso comum de futuro entre eles seguindo os
parmetros base dos acordos internacionais. As Naes Unidas se compromete
a se aproximar desses grandes grupos, reconhecendo seu papel para atingir os
objetivos sustentveis.
Ressaltamos que o desenvolvimento sustentvel exige aes concretas e
urgentes. Ele s pode ser alcanado com uma ampla aliana de pessoas,
governos, sociedade civil e setor privado, todos trabalhando juntos para garantir
o futuro que queremos para as geraes presentes e futuras. (Conferncia das
Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel, 2012:4)
Esse mesmo esprito j estava plasmado 20 anos atrs no Princpio 27 da
Declarao do Rio Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tambm conhecida
como a ECO 92:
Os Estados e os povos iro cooperar de boa f e imbudos de um esprito
de parceria para a realizao dos princpios consubstanciados nesta Declarao,
e para o desenvolvimento progressivo do direito internacional no campo do
desenvolvimento sustentvel.
O segundo eixo estruturante, a escala, nos ajuda a entender a distribuio ou
hierarquia desses atores e o lugar onde se espera ou se quer incentivar a
participao deles. Encontramos as escalas local, regional, nacional,
subnacional e internacional. O princpio 10 da Rio 92 nos apresenta um
panorama da ideia de escala,
Princpio 10 A melhor maneira de tratar as questes ambientais assegurar a participao, no nvel apropriado, de todos os cidados interessados. No nvel nacional, cada indivduo ter acesso adequado s informaes relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades pblicas, inclusive informaes acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisrios (...)
Segundo a Declarao da Rio+20,
(...) resolvemos trabalhar de uma forma mais estreita com os grandes grupos e outros interessados e incentiv-los a participar ativamente, conforme o caso, em processos que contribuam com as decises envolvendo as polticas e programas de desenvolvimento sustentvel, seu planejamento e implementao, em todos os nveis.
3
3 Idem. Pag. 9
13
Para o nvel internacional, existe a Assembleia Geral, o Conselho Econmico
e Social e um Foro de Alto Nvel Poltico o qual mobiliza e apresenta orientao
e recomendaes para o desenvolvimento sustentvel mobilizando os lderes
polticos de alto nvel, para definir as linhas de ao e identificar as aes
especficas assim como promover a transparncia e a aplicao atravs de um
maior reforo do papel consultivo e participativo de grandes grupos e outros
intervenientes relevantes no nvel internacional, a fim de melhor fazer uso de
seus conhecimentos, mantendo o carcter intergovernamental das discusses.
O terceiro eixo corresponde informao. A participao associada ao
acesso informao que facilitar a tomada de decises, dando nfase ao fluxo
de informaes entre os governados e governantes, procurando a transparncia
dos processos em todas as escalas e a capacitao e conscientizao a partir
da troca de informaes relevantes e sobre casos de sucesso. importante aqui
ressaltar que o fluxo de informaes no considerado como participao ativa,
mas essencial para tal fim. O fluxo de informaes se espera em vrios
sentidos, dos governantes para governados e governados para governantes e
entre os grandes grupos de forma a compartilhar know how, e tambm incentivar
a transferncia tecnolgica e conhecimento cientfico tcnico dos pases
desenvolvidos para os pases em desenvolvimento, procurando uma
centralizao e padronizao de dados.
(...) Reconhecemos que uma maior participao da sociedade civil supe, entre outros fatores, um melhor acesso informao, a capacitao e um ambiente propcio. Reconhecemos que as tecnologias da informao e comunicao (TICs) facilitam o fluxo de informaes entre governantes governados.
4
(...) instamos essas instituies a priorizar o desenvolvimento sustentvel, especialmente atravs da capacitao mais eficiente e eficaz, do desenvolvimento e da implementao de acordos e articulaes regionais convenientes, e atravs da troca de informaes, melhores prticas e resultados empricos apreendidos.
A cincia e a tcnica tem um papel primordial de prover as informaes
relevantes para uma melhor tomada de decises. Deve se capacitar a sociedade
no nvel local e principalmente nos pases em desenvolvimento para gerar dados
e lidar com informaes de forma a padronizar e conversar com a cincia
4 Idem. Pag. 22
14
incluindo os conhecimentos tradicionais. Neste aspecto, a Agenda 21 especifica
que5,
40.11. Os pases devem com a cooperao de organizaes internacionais, estabelecer mecanismos de apoio para oferecer s comunidades locais e aos usurios de recursos a informao e os conhecimentos tcnico-cientficos de que necessitam para gerenciar seu meio ambiente e recursos de forma sustentvel, aplicando os conhecimentos e as abordagens tradicionais e indgenas, quando apropriado. (Agenda 21, 1995:467)
O quarto eixo de anlise, mecanismos da participao para a
sustentabilidade, busca tentar responder a pergunta, de como pode ser
alcanada a participao de todos os grandes grupos em todas e em cada
escala? Segundo o documento, em primeira instncia consiste no reforo do
quadro institucional, ou seja, fazendo uso dos mecanismos institucionais
existentes de cada escala, os quais so primordialmente de carter
representativo e de carter judicial no caso de reparao de danos ambientais.
76. Reconhecemos que uma governana efetiva em nvel local, subnacional, nacional, regional e global que represente as vozes e os interesses de todos fundamental para a promoo do desenvolvimento sustentvel. O fortalecimento e a reforma do quadro institucional no devem ser um fim, mas um meio para alcanar o desenvolvimento sustentvel. (Agenda 21, 1995:15) 99. Encorajamos aes nos nveis regional, nacional, subnacional e local para promover o acesso informao, a participao pblica no processo decisrio e o acesso justia em questes ambientais, se necessrio. (Agenda 21, 1995:21)
O quadro institucional no seu papel principal de representatividade das vozes
e os interesses de todos, ou seja, no seu papel de garantir e ampliar a
democracia, considerado como um meio e no como um fim da
sustentabilidade, ou seja, que a democracia instrumental e no um fim em si
mesmo.
O documento insiste de forma transversal sobre a participao dos grandes
grupos na determinao de polticas e atuao no planejamento e
implementao do desenvolvimento sustentvel, mas no clarifica mecanismos
especficos dentro do quadro institucional, que permitiro a participao desses
grandes grupos na tomada de decises, alm das formas tradicionais de
representatividade (governana). Porm, o documento considera necessria a
5 O ltimo captulo do documento, o nmero 40, Informaes Para Tomada de Decises, inteiramente dedicado a este assunto a partir de duas reas: Reduo das diferenas em matria de dados e a melhoria da disponibilidade da informao.
15
inovao em matria de mecanismos para a participao, especificamente no
que concerne dimenso ambiental:
Garantir a participao ativa de todos os interessados, recorrendo s melhores prticas e modelos estabelecidos pelas instituies multilaterais e explorando novos mecanismos para promover a transparncia e a participao efetiva da sociedade civil. (Agenda 21, 1995:20)
A Agenda 21 ainda mais especfica em quanto ao tema da inovao na
participao nos assuntos especficos ao meio ambiente,
23.2. Um dos pr-requisitos fundamentais para alcanar o desenvolvimento sustentvel a ampla participao da opinio pblica na tomada de decises. (...) Ademais, no contexto mais especfico do meio ambiente e do desenvolvimento, surgiu a necessidade de novas formas de participao. Isso inclui a necessidade de indivduos, grupos e organizaes de participar em procedimentos de avaliao do impacto ambiental e de conhecer e participar das decises, particularmente daquelas que possam vir a afetar as comunidades nas quais vivem e trabalham. Indivduos, grupos e organizaes devem ter acesso informao pertinente ao meio ambiente e desenvolvimento detida pelas autoridades nacionais, inclusive informaes sobre produtos e atividades que tm ou possam ter um impacto significativo sobre o meio ambiente, assim como informaes sobre medidas de proteo ambiental. (Agenda 21, 1995:361)
Arnstein e Nunes
Frente a diviso de atores da Declarao da Rio+20 em governados e
governantes, Sherry Arnstein6 divide os atores em dois grandes grupos: os sem-
nada e os poderosos. Mas na verdade segundo ela, nem os sem- nada nem os
poderosos constituem blocos homogneos. Cada grupo engloba uma grande
gama de pontos de vista diferentes, divergncias significativas, interesses
encobertos que competem entre si e divises em subgrupos. Desde esse ponto
de vista, ela define a participao cidad como um sinnimo para poder cidado.
Participao a redistribuio de poder que permite aos cidados sem-nada,
atualmente excludos dos processos polticos e econmicos, a serem ativamente
includos no futuro e poder promover reformas sociais significativas que lhes
permitam compartilhar dos benefcios da sociedade envolvente.
6 Sociloga Norte americana. O artigo foi escrito no ano 1968 baseado em exemplos de trs
programas sociais do Governo Federal dos Estados Unidos: o programa de renovao urbana, o programa de combate pobreza e o programa cidades-modelo. Foi escrito quando trabalhava como Diretora de Estudos Comunitrios do instituto no governamental de pesquisa The Commons. Faleceu em 1997.
16
Ela ilustra atravs de estudos de caso que a participao sem redistribuio
de poder permite aqueles que tm poder de deciso argumentar que todos os
lados foram ouvidos, mas beneficiar apenas a alguns, enfatizando que existe
uma diferena fundamental entre passar por uma participao vazia e dispor do
poder real para influenciar as decises finais. A participao vazia mantm o
status quo.
De forma similar, o socilogo portugus Arriscado Nunes considera que a
qualidade crtica e transformadora da participao pblica est vinculada a uma
definio clara do lugar ou da posio de onde se fala e a partir da qual se atua.
Na perspectiva de uma filosofia poltica crtica, essa posio dever ser a dos
silenciados, oprimidos, excludos.
Desde essa perspectiva, Nunes diferencia dois procedimentos participativos:
os hegemnicos, e os contra-hegemnicos. A primeira forma est associada
governao e regulao e organizada para confirmar ou legitimar modos
hegemnicos de conhecimento e autoridade poltica. Nestes casos, estamos em
geral perante iniciativas de instituies pblicas ou de grupos que protagonizam
formas hegemnicas de conhecimento, com poder para definir agendas, os
critrios de seleo dos participantes, as formas aceitveis de interveno e as
competncias e conhecimentos considerados como relevantes, a utilizao dos
resultados dos exerccios de participao nas tomadas de deciso. O segundo
tipo de procedimentos participativos, os contra-hegemnicos, esto associados
emancipao e a um horizonte de libertao. Esto marcados pela luta, pela
controvrsia, criando um espao para que todas as posies sobre um tema em
discusso possam ter voz. Estes sero mais inclusivos, incorporando os
cidados nos diferentes passos da sua realizao, desde a elaborao da
agenda at definio das questes de ordem processual, das formas de
expresso e das linguagens admitidas, at ampliao do leque de
conhecimento, de competncias e de experincias consideradas relevantes.
Segundo o autor, desde esta perspectiva e ampliando assim a viso de
Arnstein- se alarga a experincia da participao cidad fazendo parte de um
processo mais amplo, no qual formas institucionais de interveno podem se
articular com mobilizaes ou aes coletivas. O objetivo poder ser o de
colocar na agenda poltica os problemas em discusso e a obrigar a seu
reconhecimento como problemas pblicos, e no s a influenciar decises como
considera Airnstein.
A importncia conferida pelo autor a estas formas de experincias alargadas
de participao a sua possvel contribuio emergncia de novas formas de
17
esfera pblica7, que sero espaos de dilogo, de confrontao democrtica de
posies e de deliberao, capazes de reconhecer e de mobilizar diferentes
repertrios de linguagens, de recursos expressivos, de modos de conhecimento,
de narrativas e registros de experincias, de competncias e recursos
mobilizveis para a ao coletiva.
O formato das conferncias de consenso tende, assim, muitas vezes, a
reproduzir a diviso entre peritos e profanos. A fase final do processo, que
inclui a discusso pblica com um novo painel de especialistas e a elaborao
de um documento de posio sobre o tema da conferncia, a ser entregue s
instituies que iro tomar decises sobre as questes em debate, culmina,
assim, num processo que susceptvel de deixar pelo caminho as posies
sobre o tema consideradas como radicais. Estas, contudo, so frequentemente
aquelas que expressam de maneira mais clara e aberta os problemas de maior
relevncia para a sade pblica, a segurana alimentar ou o ambiente. 8
Arnstein faz um aporte importante discusso da participao no nvel local.
A autora cria oito degraus para medir a participao segundo o maior ou menor
grau de capacitao e influncia sobre as decises, principalmente do cidado
sem-nada. O degrau no depende diretamente do tipo de ferramenta o
mecanismo de participao usado. O que interessa aqui o resultado,
pragmtico.
Figura 1 Oito degraus da escada da participao
8 Controle Cidado Nveis de poder cidado
7 Delegao de Poder Nveis de poder cidado
6 Parceria Nveis de poder cidado
5 Pacificao Nveis de concesso mnima de poder
4 Consulta Nveis de concesso mnima de poder
3 Informao Nveis de concesso mnima de poder
2 Terapia No-participao
1 Manipulao No-participao
Segundo a autora, a escada constitui uma simplificao, mas ela ajuda a
ilustrar que existem graus bastante diferentes e conhecer esta graduao
7 Termo que Nunes confere a Boaventura de Sousa Santos.
8
18
possibilita cortar os exageros retricos e entender tanto a crescente demanda
por participao dos sem-nada, como o leque completo de respostas confusas
por parte dos poderosos. Os ningum destas arenas esto tentando se tornar
algum com poder suficiente para tornar suas organizaes mais adequadas
s suas opinies, aspiraes e demandas.
Numa participao real, h distribuio do poder, o que se traduz em
benefcios reais, materiais e imateriais como consequncia do processo de
participao efetivo. A participao influi nas decises para o beneficio das
comunidades, melhorando sua qualidade de vida.
Nesta percepo, a participao considerada como distinta dos momentos
de mobilizao e ao coletivas explicadas acima por Nunes. Airnstein centra
sua escada na deliberao. Segundo Nunes, os momentos de demonstrao e
de irrupo no espao pblico, em muitos casos, obriga a uma redefinio dos
atores e identidades que tem voz e visibilidade e a uma abertura de novos
espaos de debates e de deliberao orientados para a transformao das
situaes que geram sofrimento, desigualdade, injustia ou excluso.
O incentivo a novas e tradicionais formas de participao na Declarao da
Rio+20 no coloca de forma direta a relao entre as assimetrias de poder
claramente identificadas por Nunes e Airnstein, e as assimetrias econmicas e
ambientais. O Futuro que Queremos, recalca a inseparabilidade das trs
dimenses do desenvolvimento sustentvel, e coloca a participao como meio
essencial mas no como sustentabilidade em si.
Se a falta de participao uma das causas da insustentabilidade, o seu
incentivo no deveria ser um fim e no s um meio instrumental? O Relatrio
Brundtland, foi uma base de discusso, mas ele guardou independncia dos
consensos globais. Nele, a sua autora clarifica:
Muitos dos problemas de destruio de recursos e do desgaste do meio ambiente resultam de disparidades no poder econmico e poltico. Uma indstria pode trabalhar com nveis inaceitveis de poluio do ar e da gua porque as pessoas prejudicadas so pobres e no tm condies de reclamar. Pode-se destruir uma floresta pela derrubada excessiva porque as pessoas nela vivem ou no tm alternativa ou so em geral menos influentes que os negociantes de madeira. (Nosso Futuro Comum, 1991:50)
Mudar a realidade ambientalmente indesejada passa pela capacidade dos
grupos prejudicados de influenciarem as decises ou de inclurem assuntos
desconsiderados at o momento na agenda poltica.
Para a Declarao da Rio+20, a participao se apresenta como instrumento
necessrio de envolvimento da humanidade para atingir objetivos comuns e
19
criao de consenso e no como forma de incluso em si e a necessria
distribuio do poder como forma de diminuir as disparidades na distribuio dos
recursos.
Considero este fator um ponto principal de divergncia entre O Futuro que
Queremos e as vises de Airnstein e Nunes. Para os socilogos, a participao
esta situada como um assunto de conflito de poderes, de atores divididos entre
quem detm o poder e toma as decises e de quem carece dele. Seja dentro
dos mecanismos tradicionais e institucionais analisados por Airnstein ou dentro
dos mecanismos de experimentao de Nunes, os atores esto em conflito e
nem sempre ser possvel um consenso, mas sim uma srie de momentos tanto
de controvrsia, denncia, crtica e luta como de avanos e acordos. Os dois
tipos de momentos so indissociveis.
Os processos de libertao e os processos de democratizao parecem
partilhar um elemento em comum: a percepo da possibilidade da inovao
entendida como participao ampliada de atores sociais de diversos tipos em
processo de tomada de deciso. Em geral, estes processos implicam a incluso
de temticas at ento ignoradas pelo sistema poltico, a redefinio de
identidades e pertencimentos e o aumento de participao, nomeadamente ao
nvel local. (Santos e Avritzar, 2002)
Os Pescadores, a Sustentabilidade e a Participao.
Os Pescadores de Subsistncia do mundo so mencionados nas
Declaraes internacionais, em dois momentos principais: fazendo parte dos
grandes grupos e no relativo a mares e oceanos. Os grupos de pescadores de
pequena escala so includos dentro do grupo de agricultores na Agenda 21, no
captulo 32. Neste documento h o reconhecimento de que uma parte
significativa da populao rural depende primariamente da pequena escala,
orientada para a subsistncia e baseado no trabalho da famlia a qual tem
limitado acesso aos recursos, tecnologia e mdios alternativos de produo e
subsistncia. Em consequncia, diz o texto, exploram em excesso os recursos
naturais, situao que pode ser superada com a combinao da autoajuda e
incentivos governamentais,
A chave para o sucesso da implementao de programas est na motivao e nas atitudes de cada agricultor
9 e nas polticas governamentais que
9 O termo agricultura na Agenda 21 inclui a pesca e a explorao de recursos florestais.
20
proporcionem incentivos aos agricultores para que gerenciem seus recursos de maneira suficiente e sustentvel. (Agenda 21,1992:399)
Reconhecidos como grupos vulnerveis pela incerteza econmica, jurdica e
institucional para investir nas suas terras e em outros recursos, esse captulo da
Agenda considera como condio chave, a descentralizao das tomadas de
deciso, entregando-as a organizaes locais e comunitrias. (Agenda 21,
1992:400). Esta viso contrasta com as opes de participao e tomada de
deciso propostos para as mesmas comunidades na mesma Agenda no captulo
17 sobre oceanos e mares, na qual os programas de gerenciamento, proteo,
uso sustentvel, anlise de incertezas e fortalecimento da cooperao,
planejada e organizada nas escalas nacional e internacional, visando
centralizao dessas funes. Os interesses das comunidades de pescadores
nos diferentes programas sero considerados por parte das instituies
tomadoras de decises a travs da sua consulta e representatividade nas
escalas local e nacional. Na escala internacional se deve assegurar que os seus
interesses sejam levados em conta, em especial seu direito subsistncia, mas
no destacado nenhum mecanismo de participao nesse nvel,
17.6 Cada Estado costeiro deve considerar a possibilidade de estabelecer ou quando for necessrio, fortalecer- mecanismos de coordenao adequados (por exemplo organismos altamente qualificados para o planejamento de polticas) para o gerenciamento integrado e o desenvolvimento sustentvel das zonas costeiras e marinhas e dos respectivos recursos naturais, tanto no plano local como nacional. Tais mecanismos devem incluir consultas, conforme apropriado, aos setores acadmico e privado, s organizaes no-governamentais, s comunidades locais, aos grupos usurios dos recursos e aos populaes indgenas. (Agenda 21,1992:233)
Os pescadores artesanais tem um papel mais especfico no programa sobre
Uso Sustentvel e Conservao dos Recursos Marinhos Vivos sob Jurisdio
Nacional, possivelmente porque nele a pesca encontra problemas cada vez mais
graves o que representa maiores ameaas para a subsistncia das
comunidades. O excesso de pesca local, as incurses no autorizadas de frotas
estrangeiras, a degradao dos ecossistemas, a supercapitalizao e o tamanho
exagerado das frotas, a subestimao da coleta, a utilizao de equipamento de
captura insuficientemente seletivo, bancos de dados pouco confiveis e uma
competio crescente entre a pesca artesanal e a pesca em grande escala, bem
como entre a pesca e outros tipos de atividade, so os problemas destacados
desta atividade. (Agenda 21, 1992:249). Os mecanismos de participao das
comunidades locais previstos para programa so a representao e
reconhecimento de direitos,
21
17.81 Os Estados (pases) costeiros devem apoiar a sustentabilidade dos pequenos empreendimentos de pesca artesanal. Para tanto devem, conforme apropriado: (a) integrar ao planejamento das zonas marinhas e costeiras o desenvolvimento
dos pequenos empreendimentos de pesca artesanal, levando em conta os interesses dos pescadores, dos trabalhadores de empreendimentos pesqueiros em pequena escala, das mulheres das comunidades locais e das populaes indgenas e, conforme apropriado, estimulando a representao desses grupos;
(b) reconhecer os direitos dos pescadores em pequena escala (...) inclusive seus direitos utilizao e proteo de seus habitats sobre uma base sustentvel: 17.82 Os Estados costeiros devem assegurar que, na negociao e implementao dos acordos internacionais sobre desenvolvimento ou conservao dos recursos marinhos vivos, os interesses das comunidades locais sejam levados em conta, em especial seu direito a subsistncia. (Agenda 21,1992:251)
No eixo correspondente a informao, prevista a capacitao em
gerenciamento integrado de desenvolvimento sustentvel das zonas costeiras e
marinhas, o qual inclui gerenciadores baseados na comunidade e a incluso dos
conhecimentos tradicionais aos sistemas de gerenciamento. Se pretende
assistncia tcnica e financeira para organizar, manter, intercambiar e
aperfeioar os conhecimentos tradicionais sobre recursos marinhos vivos e
tcnicas pesqueiras e melhorar os conhecimentos acerca dos ecossistemas
marinhos. necessrio promover o intercmbio de dados cientficos e
tradicionais e assegurar sua disponibilidade para os responsveis pela
determinao de polticas. buscada a considerao dos conhecimentos
ecolgicos tradicionais dentro dos currculos de ensino e campanhas de
conscientizao. (Agenda 21,1992:235,251,254,256)
Podemos sintetizar que no contexto das Declaraes Internacionais, o
desenvolvimento sustentvel dos pescadores artesanais significa manuteno
da subsistncia e do direito a posse e explorao controlada do seu habitat, o
que reflete sua posio de vulnerabilidade dentro do panorama dos recursos
martimos. As comunidades esto associadas a contextos de pobreza e
desvantagem ante outros grupos que fazem uso dos mesmos ecossistemas em
concorrncia por um recurso cada vez mais escasso. A condio de
desvantagem, se da tambm na capacidade de organizao politica que gere
uma representatividade capaz de ter voz na hora de garantir, por exemplo,
22
recursos financeiros para o desenvolvimento sustentvel10. O que garante que
os interesses das comunidades de subsistncia sero levadas em conta na
escala regional ou nacional e ainda na internacional? Num cenrio de disputa
por recursos escassos, quem vai defender os interesses dos pescadores
artesanais?
Os pescadores da Lagoa Rodrigo de Freitas so representados pela cmara
municipal. Mas quem controla atravs do processo representativo? Os projetos
ambientais que se apresentam como sustentveis para a Lagoa- despoluio da
gua, controle de esgoto, melhora da troca de gua com o mar- no incluram
uma consulta a Colnia ou a suas lideranas. Ainda o projeto de melhora de
troca de gua entre o mar e a lagoa, alm de no ter sido consultado, representa
uma ameaa direta para a pesca porque no garante a entrada do alevino do
peixe do mar para a lagoa. Em que medida pode-se dizer que o sistema de
democracia representativa falou por esta comunidade? Como sabem os
representantes o que os representados precisam?
Desde o ponto de vista de Arnstein, solicitar a opinio das comunidades,
assim como informa-los, pode ser um passo legtimo rumo participao. Mas
se a consulta no estiver integrada com outras formas de participao, este
degrau da escada continua sendo uma vergonha na medida em que no oferece
nenhuma garantia de as preocupaes e ideais dos cidados sero levadas em
considerao. Os instrumentos mais utilizados para consultar a populao so
pesquisas de opinio, assembleias de bairro e audincias pblicas. As pessoas
so vistas basicamente como abstraes estatsticas e a participao medida
pelo nmero de pessoas presentes nas reunies, quantos folhetos foram
distribudos ou quantas pessoas foram entrevistadas. O que os cidados
conseguem em todas estas atividades que eles participaram da participao.
E o que os tomadores de deciso conseguem a evidncia de que eles
cumpriram as normas de envolver aquelas pessoas. (Arnstein,1968)
Esta situao cria tenses sociais e deixa claro que seja pela via institucional
de representao ou pelos mecanismos anti-hegemnicos de participao
definidos por Nunes, h necessidade de incluir as vozes da comunidade nos
processos de planejamento e tomada de deciso porque nesses processos
que so definidas as condies reais de acesso aos recursos, defesa dos
10
No programa de Uso Sustentvel, onde parece maior destaque o papel para os pescadores artesanais, foram estimados $60 milhes de dlares em recursos a serem promovidos pela comunidade internacional em termos concessionais ou de doaes para o perodo 1993-2000.
23
direitos a posse e explorao do habitat e finalmente subsistncia, condio
mnima para o desenvolvimento sustentvel.
Alm dos obstculos desde as estancias de poder para permitir a
participao, tambm existem os obstculos dos grupos vulnerveis, o que
Arnstein chamou de obstculos da participao dos sem-nada: inadequao da
infra-estrutura poltica e socioeconmica, o limitado acesso educao e
informao, alm das dificuldades em organizar um grupo comunitrio
representativo e legitimado face s desavenas pessoais, a alienao e a
desconfiana mtua. (Arnstein, 1968). O reconhecimento da sua identidade, das
suas necessidades prprias e a valorizao dos conhecimentos relacionados ao
meio ambiente no qual vivem.
Novas esferas pblicas que incluam combinaes inovadoras de democracia
participativa com democracia representativa surgem do experimentalismo
democrtico. As novas experincias11 bem sucedidas estudadas por Santos e
Avritzer se originaram de novas gramticas sociais nas quais o formato da
participao foi sendo adquirido experimentalmente. Os autores consideram
necessrio para a pluralizao cultural, racial e distributiva da democracia que se
multipliquem experimentos em todas essas direes. No existe motivo para a
democracia assumir uma s forma. Pelo contrrio, o multiculturalismo e as
experincias recentes de participao, apontam no sentido da deliberao
pblica ampliada e para o adensamento da participao. (Santos e Avritzer,
2002:50).
No existe nenhum motivo para democracia assumir uma s forma. Pelo contrrio, o multiculturalismo e as experincias recentes de participao, apontam no sentido da deliberao pblica ampliada e para o adensamento da participao. (...) necessrio que se multipliquem experimentos em todas essas direes. (Santos e Avritzer, 2002:49)
Todos os casos de democracia participativa estudados pelos autores iniciam-
se com uma tentativa de disputa pelo significado de determinadas prticas
polticas, por uma tentativa de ampliao da gramtica social e de incorporao
de novos atores ou de novos temas na poltica.
Os pescadores da lagoa procuram seu reconhecimento como atores, com
identidade prpria e necessidades diferenciadas na determinao e
planejamento de programas e projetos ambientais na Lagoa dos quais eles
11
Os casos estudados pelos autores so entre eles, o oramento participativo em Porto Alegre, reivindicaes de direito a moradia em Portugal, direitos do reconhecimento da diferena na Colmbia, ndia, frica do Sul e Moambique.
24
sero diretamente afetados. Eles se reconhecem a si mesmos com
conhecimentos ecolgicos tradicionais para colaborar positivamente com as
pesquisas, o planejamento e tomada de deciso. Serem consultados nas
audincias pblicas quando os projetos j se encontram definidos e as
intervenes ou mudanas viram lutas polticas, no s colocam a Colnia em
desvantagem, se no tambm os projetos perdem a oportunidade de contar no
s com seus conhecimentos quanto com seu apoio na sua execuo e
monitoramento. Eles tm um permanente contato e vivncia com o ecossistema
da lagoa e lhes interessa pessoalmente o bem-estar do habitat, no s pelo seu
valor paisagstico se no pelo seu valor de subsistncia.
Deste este ponto de vista, a participao no s adquire importncia em
termos de incluso social, mas tambm um valor de eficcia. Paulo Freire
defendia esta ideia da participao como forma mais eficaz da sociedade, na
qual as formas dialgicas permitiam a evoluo do conhecimento e das formas
de se pensar e criar o mundo. (Freire, ........).
O fortalecimento dos grupos vulnerveis, o reconhecimento da sua
identidade prpria, direitos e necessidades especficas, a valorizao dos
conhecimentos no cientficos e o seu dilogo com a cincia e os tcnicos, a
considerao desses grupos e novos assuntos nos debates pblicos e
finalmente a influncia na tomadas de deciso, so os desafios que so causa e
efeito da sustentabilidade na sua relao com os processos participativos. As
novas esferas pblicas, se configuram como espaos onde podem ser
construdos esses novos valores democrticos chave para o desenvolvimento
sustentvel.
Estas experincias podem ter como objetivos, desde permitir uma maior
visibilidade e fortalecimento dos grupos sociais, neste caso, dos pescadores,
como atores do cenrio da lagoa, visando incluir temticas no consideradas at
o momento pelos projetos, como por exemplo, a entrada do alevino na lagoa, at
serem includos no planejamento e na tomada de deciso dos mesmos.
Os pescadores tm colaborado em vrias pesquisas iniciadas por
universidades e centros de pesquisa. Eles colaboram como fontes de dados
para os pesquisadores, mas ainda no foram envolvidos em pesquisas
participativas, ou processos de pesquisa-ao ou, ainda, como parte do
planejamento de algum projeto para a lagoa. Alguns deles trabalham na
manuteno dos manguezais contratados por Mario Moscatelli e um deles
funcionrio do INEA nas tarefas de fiscalizao da qualidade da gua. Todos
eles trabalham na despesca na poca das mortandades em conjunto com a
25
prefeitura e atualmente esto vinculados a um projeto de recoleco de garrafas
Pet e latas de alumnio no setor, projeto patrocinado pela Siemens. Os projetos
ambientais mais relevantes para a lagoa so feitos em parceria entre a prefeitura
e a empresa privada (Eike Batista) que realiza as audincias pblicas de forma
limitada na sua funo democrtica e participativa j que os pescadores so
escutados mas sentem que suas opinies, direitos e necessidades no afetam
as decises finais.
Mtodos Participativos
A utilizao de mtodos participativos uma til ferramenta para a
viabilizao de novos espaos democrticos, mas para isso, sua utilizao deve
ocorrer no mbito de processos mais amplos que envolvam a mobilizao e
organizao social como evidencia o estudo de Santos e Avritzer os quais
mapearam experincias que vo alm do mtodo e que envolveram um conjunto
de mobilizaes e organizao social fora e dentro do mbito institucional no
hemisfrio sul.
Atualmente os mtodos participativos so amplamente usados e difundidos
por Ongs e movimentos sociais. Encontramos tambm mtodos participativos na
rea da pesquisa cientfica, no design, nas artes e no setor empresarial. Paulo
Freire um precursor internacional desta forma de enxergar a produo do
conhecimento, principalmente na sua obra A pedagogia do Oprimido e o mtodo
Crculos de Cultura. Existe um amplo leque de ferramentas, tcnicas, mtodos e
experincias que visam facilitar a participao ativa de diferentes pessoas no
processo de criao, construo e deciso.
A partir das reflexes sobre criao de Novas Esferas Pblicas e
demodiversificao, podemos definir esse leque de ferramentas como todas
aquelas que permitam mobilizar as comunidades dentro de um processo mais
amplo que incluem outras formas de interveno, seja dentro da
institucionalidade ou fora delas. O objetivo pode ser criar um efeito de
demonstrao, de maneira a colocar na agenda poltica os problemas em
discusso e a obrigar ao seu reconhecimento como problemas pblicos, ou a
influenciar decises. (Nunes 2007:89). A mobilizao das comunidades implica o
seu fortalecimento, em termos de legitimidade da sua representao,
fortalecimento de identidade prpria e necessidades diferenciadas, incluso de
seus conhecimentos e opinies.
26
Os mtodos participativos colaboram com o experimentalismo democrtico e
fortalecimento de grupos vulnerveis (libertao).
No objetivo de este trabalho classificar, nem comparar os mtodos.
Considerou-se importante apresentar alguns exemplos representativos
permitindo contextualizar de forma crtica o mtodo a Investigao Apreciativa,
objeto da pesquisa.
A Oficina de Cartografia de Conhecimentos inspirada em dois tipos de
iniciativa, na mapping workshops e os crculos de cultura do Paulo Freire. Os
Mapping Workshops realizados na Universidade de Tampere, na Finlndia,
(so) dirigidos a especialistas em ecologia, com o objetivo de cartografiar os
diferentes problemas e processos envolvidos em situaes caraterizadas pela
complexidade e a incerteza. Os Crculos de Cultura consistem em um meio de
construo dialgica de um conhecimento situado prximo das experincias e
linguagens de populaes ou comunidades locais.
A Oficina de Cartografia permite que os participantes explicitem, atravs de
linhas narrativas que incorporam as suas linguagens prprias e as suas
experincias, a sua definio da situao e dos problemas em discusso e
identificar as convergncias e divergncias entre as suas posies. Os
resultados do processo vo sendo registrados em tempo real atravs de
representaes grficas num quadro ou em papel de cenrio. Posteriormente
so trabalhados pelo facilitador e devolvidos aos participantes para comentrio e
aprovao final. O produto final de uma oficina um mapa de posies e de
atores que permite visualizar os diferentes modos de conhecer o problema em
discusso para poder atuar sobre ele. (Nunes, 2007:94)
O Jri de Cidados um procedimento deliberativo no qual os participantes
avaliam o conhecimento disponvel sobre o problema em discusso, que pode
ser apresentado seja sob a forma de resultados de uma oficina de cartografia,
seja sob depoimentos de testemunhas peritas expressamente convidadas para
expor as diferentes posies resultantes da deliberao, especificando os pontos
de acordo e de desacordo entre os membros do jri. O documento de posio
poder incluir recomendaes a dirigir as instituies pblicas que lidam com o
problema de debate. (Nunes, 2007:95)
O ZOPP uma ferramenta de planejamento introduzido pela GTZ
(cooperao tcnica alem) em 1983, quando integrou e aperfeioou estes
elementos em um sistema de procedimentos e instrumentos. Consiste da
integrao de trs elementos distintos: o Marco Lgico; o instrumental
27
METAPLAN (tcnicas de Visualizao e Moderao); e a sistemtica bsica de
planejamento. Deve ser aplicado em duas fases principais, diagnstico e
planejamento, e cada uma contm outras etapas que devem ser seguidas de
forma sucessiva e interligada. Faz uso de reunies e oficinas, onde um
moderador, no papel de facilitador, utiliza instrumentos como a visualizao de
ideias em tempo real a partir de fichas de diferentes tamanhos e cores afixadas
ao longo do trabalho do grupo, podendo estas serem modificadas ou removidas.
A moderao usa principalmente a problematizao: o grupo estimulado a
discutir, a pensar, a construir sobre determinado tpico a partir de perguntas
norteadoras, preparadas especialmente para aquele fim pelo moderador o qual
pode ser parte do grupo ou ser um convidado externo. A aplicao indicada a
grupos pequenos, de at 30 pessoas, no mximo. O moderador deve estar
capacitado para dar uso correto ferramenta.
A PRA (Participatory Rural Appraisal) - Avaliao Participativa Rural consiste
em um conjunto de tcnicas, em grande parte visual, para avaliar os recursos do
grupo e da comunidade, identificar e priorizar problemas e estratgias para
resolv-los. uma metodologia de pesquisa / planejamento em que a
comunidade local (com ou sem a ajuda de pessoas de fora) estuda uma questo
respeito da populao, prioriza problemas, avalia as opes para resolver o
problema e produz um plano de ao comunitrio para abordar as preocupaes
que foram levantadas. O mtodo visa que as mltiplas perspectivas que existem
em qualquer comunidade estejam representadas na anlise e que a prpria
comunidade assuma a liderana na avaliao de sua situao e encontre
solues. Pessoas externas podem participar como facilitadores ou na prestao
de informaes tcnicas, mas eles no devem tomar conta do processo. O
facilitado deve prover a estrutura e o estimulo, mas o contedo deve ser
resultado da escolha de todos os membros.
O HCD - Human Centered Design (Design Centrado no Ser Humano) um
mtodo Open Source que serve como guia de inovao e design, desenvolvido
principalmente pela equipe da empresa IDEO (http://www.ideo.com)
especificamente para Ongs e empresas sociais que trabalham com comunidades
que sobrevivem com menos de 2 dlares por dia na frica, sia e Amrica
Latina. , ao mesmo tempo, um processo e um conjunto de ferramentas que
tm como objetivo gerar solues, incluindo produtos, servios, ambientes,
organizaes e modos de interao. Conceitualmente est sustentada na
interao de trs pilares: o desejvel, o praticvel e o vivel. Pode ser usado em
28
exerccios de tempo curto como uma semana, ou em processos de maior
imerso de campo. Baseia-se em trs fases: ouvir, criar e implementar.
conduzido por um grupo de tcnicos, de preferncia de diferentes disciplinas,
que interagem com as pessoas da comunidade a partir de diferentes tcnicas
para se aproximar das suas necessidades e desejos e conseguir chegar a
prottipos que so criados em conjunto com o grupo.
A Pesquisa Participante busca envolver aquele que pesquisa e aquele que
pesquisado no estudo do problema a ser superado, conhecendo sua causa,
construindo coletivamente as possveis solues. A pesquisa ser feita com o
envolvimento do sujeito-objeto. O pesquisador no s passa a ser objeto de
estudo, assim como os sujeitos-objetos so igualmente pesquisadores onde
todos, pesquisador e pesquisados, identificam os problemas, buscam-se
conhecer o que j conhecido a respeito do problema, discutem as possveis
solues e partem para a ao, seguido de uma avaliao dos resultados
obtidos. A finalidade da Pesquisa Participante a mudana das estruturas com
vistas melhoria de vida dos indivduos envolvidos. Neste caso, pesquisador
aquele que teve formao especializada, mas tambm se estende aos indivduos
do grupo que participam da construo do conhecimento, tendo como princpio
filosfico a conscientizao do grupo de suas habilidades e recursos disponveis.
O Teatro do Oprimido um mtodo teatral que rene exerccios, jogos e
tcnicas teatrais elaboradas pelo teatrlogo brasileiro Augusto Boal. Os seus
principais objetivos so a democratizao dos meios de produo teatral, o
acesso das camadas sociais menos favorecidas e a transformao da realidade
atravs do dilogo (tal como Paulo Freire pensou a educao) e do teatro. Parte
do princpio de que a linguagem teatral a linguagem humana que usada por
todas as pessoas no cotidiano. Sendo assim, todos podem desenvolv-la e fazer
teatro. Do teatro do oprimido surgiu o teatro legislativo, no qual a atividade
poltica exercida para transformar em lei a necessidade expressa e debatida de
forma ldica atravs da cena.
O World Caf um mtodo de dilogo colaborativo a partir de perguntas
relevantes a servio de assuntos reais do dia a dia, em ambientes corporativos,
governamentais e comunitrios. Grupos de 4 pessoas discutem um assunto em
vrias mesas, trocando de mesa periodicamente para introduzir a discusso
anterior na nova mesa com ajuda de um anfitrio. importante criar um clima
aconchegante, como um caf, com mesas redondas, pano de mesa, papel,
canetas coloridas, flores, etc. O Caf construdo sobre a suposio de que as
pessoas j possuem dentro delas a sabedoria e criatividade para confrontar at
29
mesmo os desafios mais difceis. Dado o contexto e foco adequado, possvel
acessar e usar este conhecimento mais profundo sobre o que mais relevante.
A Desobedincia Civil prtica cujo autor americano Henry David Thoreau foi
o pioneiro em estabelecer uma teoria relativa mesma em seu ensaio de 1849.
Entre os vrios exemplos de desobedincia civil ocorridos na histria, podemos
destacar os protestos em que as mulheres britnicas se acorrentavam em praa
pblica a fim de conseguirem o direito ao voto. Entre as dcadas de 1920 e
1940, Mahatma Gandhi liderou milhares de indianos em marchas pacifistas que
requeriam o fim da dominao inglesa em seu pas. Hoje no Brasil temos
exemplos de milhares de pessoas ocupando as ruas o que se iniciou como
protesto pelo aumento da passagem de nibus em vrias cidades. So muitos os
exemplos ao redor do mundo de desobedincia civil por questes ambientais.
Hoje a Colmbia passa por grandes manifestaes12 contra a explorao mineira
incentivada pelo governo central a qual ameaa fontes de gua para agricultura
e uso domstico. Msicas, fechamento de vias, ocupao de prdios e espaos
pblicos, protestos, cartazes, criao de imagens, caricatura, passeatas, no
pago de impostos, abrao de rvores. O ato de desobedincia civil faz uso de
diversas tcnicas, hoje em dia tambm organizadas atravs das redes sociais na
internet.
A Desobedincia Civil considerada uma forma de expresso do Direito de
Resistncia que possui cunho jurdico, mas no precisa de leis para garantia. A
Desobedincia Civil est no mesmo patamar jurdico do Direito de Greve e do
Direito de Revoluo, o qual se refere ao direito do povo de resguardar sua
soberania quando ofendida.
Os mtodos de Oficina de Cartografia de Conhecimentos, ZOPP e PRA
so pr[oximas Investigao Apreciativa porque tem como objetivo fortalecer as
capacidades organizativas dos grupos nas quais so aplicadas. A Pesquisa
Participante e o HCD procuram resolver problemticas especficas das
comunidades a travs do trabalho conjunto com tcnicos de diferentes reas do
conhecimento. O Jur de Cidados e o World Caf, procuram gerar perspectivas
12
Essas manifestaes conseguiram que o Municpio de Piedras, Tolima convocasse uma consulta popular entre os 5015 cidados com direito ao voto para saber se eles querem que se assente uma planta de explorao de ouro na regio. Matria em jornal Nacional El Tiempo. Acesso 28/01/2013. http://www.eltiempo.com/colombia/tolima/consulta-popular-minera-en-el-tolima_12953231-4
30
sobre um assunto especfico para serem avaliadas ou includas dentro de outros
processos. O Teatro do Oprimido e a Desobedincia Civil se localizam em
esferas de libertao ante situaes consideradas como injustas.
Sabemos por Arnstein que o mtodo em si no garante uma participao
legtima nem processos mais ampliados de participao e democracia. Na
prtica, os processos participativos so usados tambm para cooptar, manipular
e inclusive para criar o que foi denominado tirania da participao13. A
autocrtica e a anlise permanente dos processos na sua aplicao so chave
para entender estas situaes.
As prticas de democracia participativa so suscetveis a cooptao ou
manipulao para legitimar interesses hegemnicos. Estes perigos se podem
prevenir atravs da aprendizagem e da auto-reflexividade constantes donde se
possam extrair incentivos para novos aprofundamentos democrticos. No
domnio na democracia participativa, mais do que em qualquer outro, a
democracia um principio sem fim e as tarefas de democratizao s se
sustentam quando elas prprias so definidas por processos democrticos cada
vez mais exigentes.
A Investigao Apreciativa.
A Investigao Apreciativa, tambm conhecida em portugus como
Indagao Valorativa, um mtodo que visa a anlise e mudana organizacional
e social. Identifica o melhor do que a organizao para perseguir sonhos e
possibilidades do que poderia ser. uma procura cooperativa pelas foras e
valores que do vida organizao a partir de uma srie de passos cclicos com
o envolvimento da maior quantidade possvel de pessoas de diferentes nveis ou
posies dentro da organizao, sob a liderana de pessoas capacitadas para
facilitar o processo. Nas palavras dos autores,
A Investigao Apreciativa a busca colaborativa e evolutiva em conjunto
pelo melhor que existe nas pessoas, nas suas organizaes e no mundo que as
rodeia. Ela envolve a descoberta do que d vida a um sistema vivo quando ele
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Essas crticas referem-se a situaes em que, no lugar de a participao ser considerada como um direito dos cidados passa a ser uma obrigao a que estariam sujeitos todos os que, por exemplo, esto envolvidos em projetos locais de desenvolvimento apoiados por organizaes internacionais, multilaterais ou no governamentais. O no cumprimento da obrigao de participar nessas condies estabelecidas pelas instituies implica em muitos casos, a suspenso desses projetos. (Nunes, 2007:90)
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mais eficiente, vibrante e construtivamente capaz em termos econmicos,
ecolgicos e humanos. A IA envolve a arte e a prtica de formular perguntas que
fortalecem a capacidade do sistema de assimilar, prever e realar o potencial
positivo. A investigao mobilizada atravs da criao da pergunta positiva
incondicional, que sempre envolve centenas ou milhares de pessoas. As
intervenes da IA focalizam-se na velocidade da imaginao e inovao - em
vez de diagnsticos negativos, crticos e espiralados geralmente usados nas
organizaes. Os modelos de descoberta, sonho, planejamento e futuro
vinculam a energia do ncleo positivo s mudanas que jamais se pensou
fossem possveis. (Cooperrider, Whitney e Stravos, 2008:19)
Comparada com outros mtodos similares, como por exemplo o ZOPP, o
METAPLAN, ou o PRA, a realidade de uma organizao no vista como
problemas a serem resolvidos, mas sim como oportunidades ou sonhos a serem
alcanados. O princpio positivo que caracteriza a IA diz que para construir
mudanas preciso esperana, inspirao e alegria pura na criao coletiva. As
pessoas preferem colocar seus esforos naquilo que as fazem sentir bem.
Quanto mais positivo o processo, mais pessoas so cativadas e durante mais
tempo os benefcios permanecem.
A IA ao mesmo tempo uma abordagem e um mtodo. Nasce no mbito das
teorias organizacionais de corporaes norte-americanas e transnacionais. Foi
criado e pensado por um grupo de pesquisadores da Universidade Case
Western, liderado pelo professor e catedrtico de Programa sobre Negcios
como Agente em Benefcio do Mundo, David L. Cooperrider, junto com o Dr.
Suresh Srivastva em 1987. Eles consideraram que a linguagem e o ambiente
organizacional das empresas estavam sempre empregados de forma a procurar
problemas, encaminhando as pesquisas na procura das causas dos problemas e
no nas causas de aquilo que dava certo e entender quais so os fatores que
permitem essas coisas positivas acontecerem.
O mtodo tem sido testado em vrios cenrios organizacionais e culturais no
mundo como, por exemplo, grandes corporaes (Avon, British Airways), ONGs
(Myrada, World Vision Relief, Save the Children, Agncia Americana para o
Desenvolvimento Internacional), instituies educacionais (U. Tecnolgica de
Lawrence), organizaes governamentais (NASA). Nesses mbitos tem sido
usada para criar viso e estratgia comuns para o futuro, acelerar a
aprendizagem organizacional, unir a fora de trabalho e a gerncia em parcerias,
para melhorar a comunicao, fortalecer as implementaes de maiores
mudanas envolvendo a tecnologia da informao, contruir equipes de alto
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desempenho que facilitem a mudana, entre outros. (Cooperrider, Whitney e
Stravos, 2008:3)
No Brasil foi testada no Frum Futuro 10 Paran como parte da experincia
de planejamento participativo para o desenvolvimento regional sustentvel da
Regio Metropolitana de Curitiba, realizado no ano de 2005 com a participao de
centenas de lideranas regionais paranaenses14.
Em cada um desses cenrios, a IA foi adaptada aos propsitos especficos
de cada situao. Para o presente trabalho, consideraremos as adaptaes
realizadas pela equipe da ONG Myrada no sul da ndia, quem testou a IA com
500 comunidades rurais.
1.1.1 Como Funciona a Investigao Apreciativa
A Investigao Apreciativa est fundamentalmente constituda pelo ciclo das
4D das iniciais em ingls Discovery, Dream, Design, Destiny cuja traduo em
portugus se refere respectivamente a Descoberta, Sonho, Planejamento e
Futuro. No estgio da Descoberta o melhor do que em um sistema
identificado como o ncleo positivo. Envolve valorizar aquelas coisas que vale
pena serem valorizadas. O segundo estgio, o Sonho, procura visualizar o que
pode ser o que o mundo ou contexto est solicitando, a criao de uma imagem
positiva de um futuro escolhido. O terceiro estgio, o Planejamento define os
passos para criar o sistema ideal de uma organizao, baseia-se no ncleo
positivo e nos resultados previstos para os dois estgios anteriores. Ele define o
formato ideal do como pode ser. O estgio final, o futuro, abrange a
implementao e o modelo para apoiar um ambiente de aprendizagem
apreciativa, ou o que ser.
A Descoberta e o Sonho esto baseados principalmente em entrevistas
individuais15 cujos dados so organizados e avaliados por uma equipe
facilitadora que depois apresentam esses dados em sesses grupais nas quais
se fazem mais perguntas para gerar discusso e construo colaborativa de
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Para uma anlise crtica do mtodo desta experincia brasileira, vide CABALLERO e CONCEIO que fazem uma contribuio com a discusso analtica sobre o processo de planejamento participativo relacionado ao desenvolvimento regional sustentvel.
15 As entrevistas podem ser realizadas pelo Grupo Orientador ou podem
ser feitas em forma de cascata. Neste esquema, uma pessoaa depois de ser
entrevistada convidado para virar entrevistador.
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propostas. As fases podem incluir outras formas de expresso como imagens ou
msicas, mas a tcnica principal de todo o processo so os relatos ou story
telling. Para o estgio de Planejamento e Futuro, as tcnicas so criadas ou
proposta pela mesma organizao. desejado que o ciclo se repita quantas
vezes for necessrio para uma investigao, comeando sempre com as
perguntas fundamentais e depois passando para as perguntas especficas ou
tpicos selecionados para a investigao. A durao de uma Investigao pode
variar de algumas horas at Investigaes mais profundas de um ano ou mais.
Isso vai depender do tamanho da organizao, dos objetivos e da profundidade
requerida.
O grupo Orientador ou Facilitador: o grupo que vai planejar e lanar a
investigao. Deve compreender muito bem a ferramenta. Vai articular o
propsito e os objetivos, selecionar os tpicos positivos, formar subgrupos para
executar tarefas e responsabilidades, localizar o progresso e os resultados, criar,
analisar e interpretar as entrevistas, sintetizar e apresentar a informao. A
equipe composta de participantes de qualquer nvel organizacional, para que
seja formado um comit dirigente bastante representativo. Em nveis ideais, a
equipe envolve um microcosmo da organizao. Quanto mais pessoas melhor. A
equipe deve conter uma variedade de vozes que garanta pontos de vista e
experincias de diferentes nveis e de diferentes perspectivas da organizao.
No est limitada aos membros da organizao. Podem e devem ser convidados
atores externos que possam enriquecer a Investigao.
O Ncleo Positivo: A premissa da IA a ideia de que as organizaes
movem-se em direo daquilo que estudam. A IA faz a escolha consciente de
estudar o melhor na organizao, seu ncleo positivo. aquilo que da
significao e vida organizao, identificado na fase da Descoberta e
ampliado e desenvolvido durante todas as outras fases. O Ncleo Positivo est
entrelaado ao longo do ciclo das 4D. Sob esse aspecto, o ncleo positivo o
comeo e o fim da investigao. (Cooperrider, Whitney e Stravos, 2008:51)
Pode ser expresso de inmeras maneiras retiradas de um grupo, todas elas
passveis de serem identificadas com a Investigao. A seguir, esto algumas
das formas sob as quais o ncleo positivo pode ser expresso:
Melhores prticas de negcios, inovaes, valores, pontos fortes do produto,
tradies vitais.
Os tpicos positivos: Os tpicos so os assuntos principais que sero
tratados, o que definir a agenda da investigao e que conduzir o ciclo das
4D. Pode ser qualquer item relacionado eficincia organizacional. Geralmente
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so de trs a cinco em uma investigao. A escolha dos tpicos um ato
decisivo para o resto da Investigao. O mais importante que eles representam
o que as pessoas da organizao realmente desejam descobrir ou saber a
respeito, aquilo que desejam ver crescer e prosperar em suas organizaes.
Para garantir isso, os tpicos devem ser procurados numa primeira
rodada de perguntas fundamentais na qual vo aparecer esses assuntos. Essa 4
perguntas fundamentais da IA so:
1. Qual foi a experincia de pico ou ponto alto?
2. Que coisas voc mais valoriza:
Em si prprio?
Na natureza de seu trabalho?
Em sua organizao?
3. Quais so os principais fatores que do vida para organizar?
4. Quais so seus trs desejos para melhorar a vitalidade e a sade?
Segundo a teoria da IA, os sistemas humanos geralmente crescem na
direo de suas imagens de futuro, suas imagens de futuro so informadas pelas
conversaes que mantm e pelas histrias que contam, as histrias que
contam so informadas pelas perguntas que fazem, ento, as questes feitas
so decisivas, isto , elas afetam as respostas dadas.
A escolha dos tpicos uma funo geralmente exercida dentro do Grupo
Orientador. As escolhas de tpicos afirmativos encorajam as pessoas
escolherem os tpicos que desejam ver crescer e prosperar em suas
organizaes.
Os tpicos devem ser afirmativos ou baseados no positivo. So desejveis e
identificam os objetivos que as pessoas desejam. Alguns exemplos de tpicos
positivos so: Felicidade no trabalho, parcerias revolucionrias, liderana
inspiradora, aprendizagem contnua, comunicaes empolgantes. (Cooperrider,
Whitney e Stravos, 2008:50-60).
Podemos observar nos exemplos que os tpicos incluem um adjetivo que
informa uma situao ideal de um aspecto da organizao. Isto caraterstico do
mtodo, que defende a importncia da linguagem usada no processo de
mudana a qual procura ser positiva, apreciativa e entusiasta.
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O ciclo das 4D: Descoberta, Sonho, Planejamento e Futuro.
Figura 2 Ilustrao do Ciclo das 4D da autora.
A fase da Descoberta est fundamentalmente composta por uma entrevista
individual, de preferncia annima. O entrevistado convidado a relatar
momentos de pico da organizao ou da sua vida, tanto de questes gerais
como seguindo os tpicos especficos definidos para a investigao. A partir da
anlise desses momentos, sero identificados os valores e circunstncias que
permitiu isso acontecer, mapeando histrias de sucesso, desejos, exemplos e
prticas. A tarefa desta fase identificar e avaliar o melhor do que . A ideia
identificar o que deve ser conservado e valorado na organizao, aquilo que no
deve mudar.
O Grupo Orientador prepara o guia de entrevistas a qual tem uma introduo
formal para explicar o propsito da entrevista e contm trs tipos de perguntas:
as perguntas de abertura, as perguntas tpicas e as perguntas conclusivas.
As perguntas de apertura seguem este formato abaixo,
Descreva uma experincia importante em sua organizao, um
tempo em que voc estava mais vivo e envolvido.
Sem modstia, o que voc mais valoriza em si, em seu trabalho e
em sua organizao?
As perguntas tpicas devem ser feitas sob a forma de perguntas com
uma introduo presumindo que a matria em questo j existe. No exemplo a
continuao, o tpico positivo era o valor de ser pescador artesanal. A
introduo ao tpico e uma das perguntas do tpico segue embaixo:
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O ofcio da pesca artesanal representa uma riqueza ancestral em
conhecimentos, em tcnicas e ferramentas de explorao sustentvel dos
recursos naturais, ou seja, uma forma de produzir alimentos permitindo a
reposio natural dos recursos para garantir a sobrevivncia das espcies e a
alimentao das geraes humanas futuras.
Conta-me histrias onde a colnia beneficiou a Lagoa, os
vizinhos, o pblico em geral.
As perguntas conclusivas devem ser provocativas. Convidar o
entrevistado a imaginar, desejar e pensar no futuro. Alguns exemplos desse tipo
de perguntas segue embaixo,
Olhando para um futuro, o que estamos sendo chamados para
nos tornar?
Quais so os trs desejos que voc possui para mudar a
organizao?
Os resultados da Descoberta da entrevista individual devem ser organizados
e interpretados pela Equipe Orientadora. O objetivo achar as histrias,
assuntos e valores destacados pelas pessoas que participaram e o que permitiu
isso acontecer. aqui onde encontramos o Ncleo Positivo e aquilo que vai
conduzir o resto da Investigao. Deve-se organizar os dados para serem
apresentados na reunio de grupo na qual as pessoas sero convidadas a
compartilhar e analisar em pblico algumas das histrias como forma de
aquecimento para entrar fase do Sonho.
Na Investigao Apreciativa no existe uma nica forma correta de analisar
os dados. O que importante encontrar formas criativas de organizar, escutar
e compreender o que est sendo dito a partir de mltiplas perspectivas. Os
autores recomendam procurar tanto tramas comuns, como anomalias para
identificar temas emergentes.
A fase do Sonho tem como objetivo criar vises de futuro compartilhadas
baseadas nas fortalezas, sucessos e valores identificados na Descoberta, ou
seja, baseados na realidade, nas experincias. As pessoas so desafiadas
positivamente a criar cenrios futuros contendo o que elas acham que o mundo
precisa deles e o que a organizao poderia ser. Esta fase acontece em grupo.
Geralmente iniciada com um breve processo de Descoberta, relembrando
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histrias de sucesso surgidas da entrevista individual. usada uma pergunta
que estimula os dilogos entre os participantes sobre criar o futuro desejado.
Segue o tipo de perguntas da fase do Sonho,
Imagine que voc acordou aps um sono de 5 anos. Como voc
espera que a sua organizao esteja? O que estar acontecendo
no mundo externo? Como sua organizao est contribuindo para
esse novo mundo? Em que voc est contribuindo para fazer a
diferena?
Se voc for ser visitado por voc mesmo daqui a 5 anos, o que
gostaria encontrar?
Quais so seus trs desejos para o futuro da sua organizao?
Depois de dar o tempo de reflexo individual, se criam grupos de at mximo
12 pessoas para falar sobre as coisas que experimentaram durante as
entrevistas de Descoberta. Esta atividade finaliza quando o Grupo tenha
compartilhado e tenham criado um cenrio verbal coletivo do futuro desejado.
O grupo convidado para descrever o que viram nesse sonho se valendo de
qualquer forma de expresso como poesia, pintura, msica, uma histria, uma
pardia, um jornal, um comercial, mapas de oportunidades, colagem, etc. Cada
equipe prepara um breve Relatrio Apreciativo de seus sonhos.
Segundo os autores, no se pergunta se a nova viso atingvel, os
participantes j demostraram seu desejo, sua vontade e sua capacidade de
torna-la possvel. Essa energia e sinergia que conduzir o grupo fase do
Planejamento.
A fase do Planejamento define a estrutura bsica que permitir que o sonho
ou a viso torne-se realidade. Est baseada no dilogo. Pode-se fazer uso de
tcnicas como grupos de enfoque, brainstorm, mapeamentos, entre outros.Os
autores acreditam que a transformao organizacional muito mais do que uam
massa crtica de transformaes pessoais. Ela requer mudanas em nvel macro
na prpria estrutura da organizao, a arquitetura social. (Cooperrider, Whitney e
Stravos, 2008:181).
O planejamento comea com a criao de proposies provocativas escritas
no presente indicativo. Elas recriam a prpria imagem da organizao
apresentando figuras claras e convincentes de como as coisas sero quando o
ncleo positivo for eficaz em todas suas estratgias, processos, sistemas,
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decises e colaboraes. Estas proposies so geradas a partir dos resultados
das fases anteriores. Um grupo de proposies provocativas o tipo de
Arquitetura Social para a organizao ideal. Ele trata dos elementos de
planejamento crticos para uma organizao para sustentar o ncleo positivo. Os
passos do planejamento so a seguir:
Selecionar os elementos do planejamento.
Identificar relaes internas e externas.
Identificar temas e estabelecer o dilogo.
Anotar proposies provocativas.
Os participantes podem optar por articular sua prpria arquitetura social
ou escolher elementos de outros modelos16. Segue os elementos de
planejamento que os autores apresentam como sugesto para serem
considerados:
Figura 3 Elementos do Planejamento.
Elementos do Planejamento a Considerar