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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA
MATHEUS GUILHERME KINACH CARIA
ASPECTOS JURÍDICOS DA APOSENTADORIA ESPECIAL ANTES E APÓS A
REFORMA DA PREVIDÊNCIA - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103, DE 12 DE
NOVEMBRO DE 2019
CURITIBA
2021
2
MATHEUS GUILHERME KINACH CARIA
ASPECTOS JURÍDICOS DA APOSENTADORIA ESPECIAL ANTES E APÓS A
REFORMA DA PREVIDÊNCIA - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103, DE 12 DE
NOVEMBRO DE 2019
Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito do Centro Universitário Curitiba. Orientador: Prof. Me. Henry Levi Kaminski
CURITIBA
2021
3
MATHEUS GUILHERME KINACH CARIA
ASPECTOS JURÍDICOS DA APOSENTADORIA ESPECIAL ANTES E APÓS A
REFORMA DA PREVIDÊNCIA - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103, DE 12 DE
NOVEMBRO DE 2019
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do
grau em Direito do Centro Universitário Curitiba,
Pela Banca Examinadora formas pelos professores:
Orientador:_____________________________
____________________________
Prof. Membro da Banca
Curitiba, de 2021.
4
Aos meus pais,
Alcides Caria Junior e
Shirlei Elenita Kinach Caria,
meus exemplos de vida.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me possibilitar e capacitar em todas as situações adversas.
Aos meus familiares e amigos, que estiveram ao meu lado dando todo apoio
necessário no decorrer desta caminhada.
6
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar os aspectos mais importantes sobre a reforma da previdência dada pela Emenda Constitucional 103 de 2019, visando evidenciar os pontos que foram alterados com o advento da nova lei e, explicar de que maneira afetou o regime previdenciário em geral e os benefícios previdenciários, abordando principalmente quais foram as alterações do benefício da aposentadoria especial, relacionando os aspectos jurídicos antes e após a reforma da previdência. Utilizou-se no presente trabalho, pesquisar bibliográficas, dispositivos legais, como a Constituição Federal, Leis de Regimes Previdenciários e Emendas Constitucionais. Assim, a presente monografia, constitui, um estudo aprofundando no que concerne as mudanças trazidas pela Emenda Constitucional nº 103 de 2019 no tocante aos benefícios previdenciários, com principal enfoque no benefício da Aposentadoria Especial. Palavras-chave: Aposentadoria Especial. Emenda Constitucional n° 103 de 2019. Reforma da Previdência.
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 9
2 A HISTÓRIA E OS PRINCÍPIOS DA APOSENTADORIA .........................................10
2.1 Surgimento da Aposentadoria no mundo .....................................................................10
2.2 Surgimento da Aposentadoria no Brasil ........................................................................12
2.3 Seguridade Social no Brasil ..............................................................................................15
2.3.1 Saúde ...................................................................................................................................16
2.3.2 Previdência Social ............................................................................................................17
2.3.3 Assistência Social .............................................................................................................18
2.4 Princípios Norteadores da Seguridade Social ......................................................19
2.4.1 Princípio da Solidariedade .............................................................................................19
2.4.2 Princípios da Constituição Federal de 1988 .............................................................19
2.4.2.1 Princípio da Universalidade .......................................................................................20
2.4.2.2 Princípio da Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais ....................................................................................................21
2.4.2.3 Princípio da Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios e Serviços ..........................................................................................................................................21
2.4.2.4 Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Benefícios ........................................22
2.4.2.5 Princípio da Equidade na Forma de Participação no Custeio .........................23
2.4.2.6 Princípio da Diversidade da Base de Financiamento ........................................23
2.4.2.7 Princípio do Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa ...........................................................................................................................................................24
3 ESPÉCIES DE APOSENTADORIA ...................................................................................25
3.1 Aposentadoria por Incapacidade Permanente ............................................................25
3.2 Aposentadoria por tempo de contribuição ....................................................................26
3.3 Aposentadoria por idade ....................................................................................................27
3.4 Aposentadoria Especial ......................................................................................................28
4 REFORMA DA PREVIDÊNCIA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103/2019 ...........................................................................................................................................................30
4.1 PEC 6/2019 ............................................................................................................................30
4.2 Alterações Constitucionais da Emenda n.º 103/2019 ...............................................35
4.3 Novas Regras de Contribuição ........................................................................................36
4.4 Direito Adquirido ...................................................................................................................37
4.5 Regras de transição.............................................................................................................38
4.5.1 Sistema de pontos ............................................................................................................39
8
4.5.2 Tempo de contribuição + idade mínima.....................................................................40
4.5.3 Pedágio de 50% ................................................................................................................40
4.5.4 Pedágio 100% para INSS e Servidores. ...................................................................41
4.5.5 Exclusiva para Servidores ..............................................................................................42
5 APOSENTADORIA ESPECIAL ..........................................................................................42
5.1 Aposentadoria Especial Antes da EC 103/2019 .........................................................44
5.2 Aposentadoria Especial após a EC 103/2019 .............................................................45
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................53
7 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................56
9
1 INTRODUÇÃO
A Seguridade Social surgiu no mundo a fim de prover a todos condições
mínimas de subsistência, utilizando-se para isso leis próprias no decorrer do tempo.
A presente monografia, em um primeiro momento, visa demonstrar de que
maneira a Seguridade Social surgiu e foi apresentada para o mundo, mostrando de
que forma essa Seguridade Social se deu início no Brasil. Em um segundo momento,
será apresentado de que maneira funciona a proteção dos indivíduos através de uma
assistência social, que visa garantir as necessidades básicas e dignas para a pessoa
viver, como a saúde por exemplo e, ainda o caráter assistencial na forma de
previdência nas relações de trabalho.
Por seguinte, serão apresentados princípios norteadores da Seguridade Social
no Brasil e, de que forma esses são utilizados para promover a assistência para
aqueles que necessitam de maneira equitativa, respeitando aqueles que mais
necessitam de assistência.
Em seguida, serão apresentadas modalidades de benefícios que podem ser
obtidos através da Previdência Social mediante a realização do labor, desde que
sejam preenchidos requisitos específicos para tais. No que concerne aos benefícios,
haverá enfoque ao Benefício da Aposentadoria Especial, explicitando quais foram as
mudanças advindas da nova Emenda Constitucional nº 103/2019 no que concerne a
suas características gerais e seus meios de obtenção.
Diante disso, o trabalho será divido em quatro partes, a primeira demonstrando
de que maneira se deu a seguridade social no mundo e no Brasil, evidenciando os
pilares que são seguidos para a Seguridade Social.
As espécies de aposentadoria serão a segunda parte, onde serão explicados
quais os meios de obtenção e os requisitos para poder gozar dos benefícios.
A terceira parte explicará de que maneira se deu a reforma da previdência com
o advento da Emenda Constitucional nº 103 de 2019 e quais foram os dispositivos
legais alterados.
Na última parte, o enfoque se dará especialmente na aposentadoria especial,
demonstrando quais foram as mudanças que ocorreram no benefício, fazendo uma
comparação com esse de antes e após a reforma.
10
2 A HISTÓRIA E OS PRINCÍPIOS DA APOSENTADORIA
2.1 Surgimento da Aposentadoria no mundo
Na Alemanha no século XIX, o governador e chanceler Otto Von Bismarck
visando conter o crescimento das ideias socialistas e diminuir a irritação social que se
espalhava pelo continente deu início ao primeiro sistema que pode ser chamado de
Aposentadoria, onde o trabalhador que tivesse mais de 70 anos, sendo ele do
comércio, agricultura ou indústria tinha direto a receber uma pensão, pois até o
momento da criação de tal medida, as pessoas trabalhavam até morrer ou eram
sustentadas por seus filhos ou parentes.
Após isso, a ideia de uma assistência social que amparasse os trabalhadores
que chegassem em uma idade avançada ou se tornassem inválidos foi se espalhando
por toda Europa, na Inglaterra em 1911 foi criada uma lei tratando da cobertura da
invalidez, à doença, à aposentadoria voluntária e a previsão do desemprego, sendo
até aquele momento o país mais desenvolvido e avançado quanto a legislação
previdenciária.
Por sua vez, o sistema denominado Beveridgiano, que teve como criador
William Beveridge, apresentava críticas ao modelo Bismarckiano, tendo os direitos um
caráter universal, sendo destinado a todos cidadãos garantindo mínimos sociais a
quem tinha necessidade, independente de uma contraprestação, pelo fato de seu
financiamento ser caracterizado mediante a tributos gerais, ou seja, pelo fato de a
pessoa existir ela já tem direito a proteção social.
Beveridge afirmava que o seguro social não abrangia as responsabilidades com
as famílias dos trabalhadores e, ainda, os benefícios eram concedidos de maneiras
desiguais em casos iguais, sendo necessária a redistribuição de rendas conforme as
necessidades de cada família através do seguro social.1
Portanto, nesse plano, a seguridade social era um dos pilares mais importantes
da proteção social.
1 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 19
11
Neste plano utilizado, o seguro social era um dos principais meios da proteção
social, sendo complementado pela assistência nacional e pelo seguro voluntário.
Na unificação um só fundo, a Caixa de Seguro Social, para uma maior
economia eficiente atendendo todas as formas de seguros, adequando com outro
princípio os valores para que fosse disponibilizado apenas o necessário para o
custeamento da subsistência e que fosse dividido de maneira correta, classificando
os diferentes modos de vida das várias camadas da população, assim, definindo a
classe dos segurados.
Esse conceito tido como seguridade social foi apresentado ao mundo na
convenção da OIT (Organização Internacional do Trabalho) em 1944, diante disso,
em 1948 a proteção social se torna um pilar base dos direitos humanos através da
Declaração Universal de Direito Humanos de 10 de dezembro de 1948.2
Dessa maneira, temos que a dignidade da pessoa humana deveria ser um
direito fundamental e, essa dignidade figurou pela primeira vez em um ordenamento
jurídico na Constituição Alemã de Weimar, em seu art. 1º, n. 1.3
A respeito do tema, Stuchi explica assim:
“A Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada e proclamada na
Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948
estabelece, de forma geral, que a dignidade é fundamento da liberdade, da
justiça e da paz no mundo e que todas as pessoas nascem livres e iguais em
dignidade e direitos, sendo dotadas de razão e consciência, devendo agir em
relação umas às outras com espírito de fraternidade. Essa mesma
Declaração estabeleceu uma estreita relação entre a dignidade e o trabalho
humano ao declarar, em seu art. XXIII, que toda pessoa tem direito ao
trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de
trabalho e à uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim
como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana.”4
Portanto, para que seja garantida a dignidade do trabalhador, é necessário ter
normas que irão garantir o mínimo existencial de alguma maneira.
2 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 2. 3 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Comentários sobre a Nova Previdência. 1. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020. p. 6 4 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Comentários sobre a Nova Previdência. 1. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020. p. 6
12
Na sequência, no ano de 1952 a OIT em sua 35ª conferência internacional
aprovou a convenção n.º 102, denominada de Norma Mínima em Matéria de
Seguridade Social, essa convenção tinha por objetivo garantir o mínimo de seguridade
social para todos e, ainda, sem deixar de acompanhar os implementos de novas
técnicas para proteção social. 5
Entretanto, nem todos os Estados tinham condições econômicas de respeitar tal
convenção, ficando apenas uma parte da população de alguns países com sua
seguridade mínima garantida.
2.2 Surgimento da Aposentadoria no Brasil
No Brasil, a constatação e a formação de que um sistema de proteção social
era necessário se deu de forma lenta, sendo a primeira lei a respeito criada em 1923,
com o decreto legislativo nº. 4.682/93, conhecido como a Lei Eloy Chaves6, sendo a
Caixa de Aposentadoria e Pensões para os empregados das Empresas Ferroviárias,
extensivo aos familiares, sendo assegurados, portanto, a aposentadoria aos
trabalhadores e eventuais pensões aos dependentes dele, contando ainda, com
assistência médica e barateamento de medicamentos.
Portanto, pode se ver que a Lei Eloy Chaves criou para os trabalhadores
vinculados as empresas privadas o que se pode ser comparado com o fundo de
pensão de hoje em dia, pois estabeleceu já naquela época o caráter contributivo e o
limite de idade, vinculados ao tempo de serviço.
Desse modo, o modelo de aposentadoria de Eloy Chaves teve três
semelhanças ao do modelo alemão de Otto Von Bismarck, a primeira sendo a
obrigatoriedade da participação dos trabalhadores para o funcionamento do sistema,
a segunda de modo que haja contribuição sendo regulada pelo Estado e a terceira
sendo as prestações definidas em lei, protegendo o trabalhador em casos extremos
assegurando sua subsistência.
5 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 19 6 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 3.
13
A primeira lei em âmbito constitucional a respeito da aposentadoria foi descrita
na constituição de 1934, onde regulou a respeito da contribuição dos trabalhadores,
do Poder Público e dos empregados em seu art. 121, §1, h.7
A partir disso vários projetos de leis para diversos setores dos trabalhos eram
criados versando a respeito dos direitos a uma seguridade social, em 1960 foi
promulgada a Lei nº 3.807, a Lei Orgânica da Previdência Social, mesmo que essa
não tenha unificado todos os organismos existentes, criou-se uma uniformidade para
o suporte dos segurados, entretanto, essa lei continuava com uma lacuna a respeito
dos trabalhadores rurais e domésticos8, que se encontravam a margem desse
sistema, e foi só em 1971, com a criação da Funrural, com a edição da Lei
Complementar nº 11/1971 que os trabalhadores rurais começaram a ser assegurados
da Previdência Social e no ano seguinte sendo a vez dos trabalhadores domésticos,
amparados pela Lei nº 5.859/1972, art. 4º.
O Estado brasileiro via que era necessário unificar todos os sistemas de
seguridade social para que houvesse um maior controle sobre estes, e foi na
Constituição de 1988 que isso começou a acontecer, onde o Estado, de forma
simultânea, começou a regular ao mesmo tempo na área da saúde, previdência social
e assistência social, de tal maneira que todas as contribuições sociais custeavam
essas três áreas para o Estado e não somente na área da previdência social.
Mesmo com a unificação para atuação de maneira conjunta nas três áreas
citadas, a previdência social continuou em seu caráter contributivo, ou seja, não
abrigando toda a população economicamente ativa, abrigando aqueles que, mediante
contribuição e nos termos da lei, fazem jus ao benefício, como está descrito no art.
201 da Constituição Federal de 1988.
“Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: [...]”9
7 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 31. 8 Ibid., p. 32. 9 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
14
No ano de 1990 os sistemas implantados que regulavam as contribuições e a
previdência foram substituídos com a criação do INSS, o Instituto Nacional de Seguro
Social, uma autarquia que começou a cuidar dos segurados quanto as suas
contribuições e o pagamento dos benefícios. Consoante isso, no ano seguinte, duas
leis foram publicadas, a 8.212 e 8.21310, que respectivamente, tratavam do custeio da
Seguridade Social e dos Benefícios da Previdência.
A primeira reforma constitucional no que concerne ao sistema previdenciário
brasileiro foi realizada em 1998, com a Emenda Constitucional n. 20 de 1988, tal
emenda reformou o então regime de previdência social e estabeleceu novas diretrizes
para os outros regimes que abrangiam a proteção previdenciária11. Para os
contribuintes que já reuniam os requisitos exigidos pela legislação anterior seus
direitos ficaram resguardados pelo fato do direito adquirido, portanto, regras
diferenciadas para os que já contribuíam antes da emenda e para os que começaram
após a emenda12.
Houve ainda outras duas reformas, a Emenda Constitucional n.º 41 de 2003
que tratou a respeito dos regimes próprios da previdência social e a Emenda
Constitucional n.º 47 de 2005, que regulamentou o que estava pendente da Emenda
de 2003, ficando conhecida como “Projeto de emenda constitucional paralela”13. João
Batista Lazzari descreve assim:
“As Emendas Constitucionais 41 e 47, por seu turno, em linhas gerais, tornaram a previdência dos agentes públicos não igual, mas pior que a dos demais trabalhadores brasileiros, em muitos pontos. E, com a Emenda ora aprovada, ter-se-á uma situação inusitada: mesmo que diversas regras do texto da Constituição de 1988 tenham sido revogadas e, em seu lugar, incluídas novas, valerão as regras “antigas” para servidores dos demais Entes da Federação, até que lei do Estado, Município ou do Distrito Federal altere o regramento dos seus servidores vinculados aos regimes próprios, como será visto no conteúdo deste livro.”14
10 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 36 11 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 4. 12 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 38 13 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 4. 14 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 8.
15
Ou seja, os servidores públicos que contribuíam antes das reformas de 2003 e
2005 ainda terão direito as regras antigas até que uma lei modifique esse regramento.
Por fim, a última reforma veio com a Emenda Constitucional n.º 103 de 2019,
que alterou de maneira significativa o RGPS e o RPPS da União e, instituindo novas
regras a respeito de idade mínima para as aposentadorias e alterando os benefícios
previdenciários15.
2.3 Seguridade Social no Brasil
O termo “seguridade social” pode ser conceituado como a proteção que a
sociedade deve proporcionar aos seus membros, sendo norteada por diversas
medidas públicas16.
Essas medidas, tinham por objetivo evitar privações econômicas e sociais em
consequência de uma redução dos recursos econômicos, sendo por maternidade,
doença, acidentes de trabalho, idade avançada, morte, doenças que tornavam
inválidos, essa atuando como uma forma de proteção em caráter assistencial.
Esse sistema de seguridade social foi introduzido no ordenamento jurídico
brasileiro pela Constituição Federal de 1988, onde até então era chamado de seguro
social. Esse novo conceito trouxe diversas mudanças, abordando principalmente a
respeito de quem eram os destinatários deste meio de política social.
Anteriormente a implantação desse novo conceito, apenas os trabalhadores
eram contemplados pelo então “seguro social”, com a nova mudança todos os
integrantes da sociedade passaram a ter direito a proteção social, mediante requisitos
constitucionais que são exigidos para tal.
No Brasil, a seguridade social quanto a gestão do RGPS é regulada pelo
Ministério da Previdência Social, executando as ações por meio do Instituto Nacional
do Seguro Social. Esse instituto tem auxílio na fiscalização e para exercer as funções
das secretarias estaduais, o Ministério da Saúde e ainda os Ministérios do Trabalho e
do emprego.
15 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 40 16 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 16.
16
A estruturação completa da seguridade social veio pela já citada Constituição
Federal de 1988, onde essa é regulada pelos arts. 194 a 204, abordando aos direitos
relativos à saúde, previdência social e assistência social17, visando a democratização
desses institutos citados para um maior acesso da população.
Tal seguridade é um direito social garantido pelo art. 6º da Constituição Federal
de 1988, sendo competência exclusiva da união para legislar a respeito desta.
Dessa forma, a Constituição Federal tem por objetivo nesses dispostos em
assegurar que todos estejam protegidos pela seguridade social, viabilizando uma
proteção adequada através do custeio e necessidade. Assim, quando necessário, e
se encaixando nos devidos requisitos legais para aqueles não segurados a nenhum
regime previdenciário terão direito a usufruir da assistência social e, para os
segurados, serão concedidos os benefícios previdenciários.18
2.3.1 Saúde
No que concerne à saúde, ponto que é abordado pela seguridade social, foi
dado ao Estado o dever de promover a saúde, visto que é um direito de todos, mesmo
que contribua ou não. Esse direito deve ser regulado por todos os entes da federação,
por meio de políticas sociais e econômicas, buscando com essa a redução de
doenças, disponibilizando o acesso a todos de maneira igualitária a todo cidadão,
conforme é citado no art. 196 da CF.
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”19
O meio utilizado para a disponibilização dessa saúde igualitária e
democratizada para todos foi o SUS – Sistema Único de Saúde, onde esse deve
17 AGOSTINHO, Theodoro. Manual de direito previdenciário. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 26 18 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 20 19 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
17
descentralizar, promover um atendimento integral e ter a participação da comunidade,
como descreve o art. 198 da Constituição. Assim, as prestações de serviços
realizadas pelo sistema do SUS são financiadas pela seguridade social e os entes que
dela participam, podendo participar também as entidades privadas a fim de
complementar por contratos de direito público ou por convênios.20
2.3.2 Previdência Social
Por sua vez, a Previdência Social é vista como um seguro coletivo para aqueles
que não possam mais exercer uma atividade remunerada21, que está disciplinada nos
arts. 201 e 202 da Carta Magna22, sendo este um meio de proteção social que requer
a contribuição dos segurados a fim de ampará-los.
Pelo fato do caráter contributivo, apenas aqueles que contribuírem para o
sistema terão a possibilidade de usufruir das prestações.
A organização da Previdência Social em seu regime geral está descrita nos
moldes das Leis 8.212/1991 e 8.213/1991, sendo vedada a adoção de critérios
diferentes para que o benefício seja concedido aos que tem direito pelo Regime Geral,
salvo casos definidos em lei complementar23, que irão disciplinar, ainda, a respeito da
relação entre a União, os Estados, o Distrito Federal ou os Municípios, no tocante a
serem patrocinadoras de entidades fechadas de previdência privada, regulando os
requisitos para que irá gerenciar as previdências privadas.24
20 AGOSTINHO, Theodoro. Manual de direito previdenciário. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 27 21 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Comentários sobre a Nova Previdência. 1. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020. p. 22 22 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 19 23 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Comentários sobre a Nova Previdência. 1. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020. p. 23 24 Ibid., p. 25.
18
2.3.3 Assistência Social
A Assistência Social tem por objetivo garantir a existência digna a todos os
indivíduos, de maneira que aquelas que necessitem sejam amparados pelo Estado25,
ou seja, aqueles que não tiverem condições de prover seu próprio sustento seja de
maneira permanente ou provisória, a Assistência Social irá agir a fim de promover o
mínimo existencial para o indivíduo.
O conceito de Assistência Social está descrito no art. 203 da Constituição
Federal e essa assistência não tem caráter contributivo, ou seja, diferentemente da
previdência social onde só tem abrangência para aqueles que contribuem para o
sistema, a assistência social é prestada de maneira gratuita aos que dela necessitam.
Tal assistência visa dar atenção especial aos idosos, deficientes e crianças, pelo fato
desses serem mais vulneráveis.
Para a Constituição Federal, Marisa Ferreira dos Santos explica que:
“Para a CF a Assistência Social é instrumento de transformação social, e não meramente assistencialista. As prestações de assistência social devem promover a integração e a inclusão do assistido na vida comunitária, fazer com que, a partir do recebimento das prestações assistenciais, seja “menos desigual” e possa exercer atividades que lhe garantam a subsistência. O art. 203 da CF foi regulamentado pela Lei n. 8.742, de 07.12.1993, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), alterada pela Lei n. 12.435, de 06.07.2011, que definiu a assistência social como Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada por meio de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. Isso significa que deve garantir ao assistido o necessário para a sua existência com dignidade. A Lei n. 12.435/2011 alterou substancialmente diversas disposições da LOAS e, inclusive, adequou a terminologia original — pessoas portadoras de deficiência — para referir-se, agora, a pessoas com deficiência.”26
Ou seja, essa assistência tem por objetivo maior garantir a vida daqueles que
necessitam, promovendo de certa maneira a prevenção dos riscos que possam vir a
correr.
25 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 17 26 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 69
19
2.4 Princípios Norteadores da Seguridade Social
2.4.1 Princípio da Solidariedade
No que tange ao princípios reguladores da aposentadoria no Brasil há um que
é tido como o princípio norteador, sendo esse o princípio da solidariedade e, mesmo
que esse não esteja arrolado no art. 194 da Constituição Federal, onde estão contidos
todos os outros princípios, é considerado o mais importante, pois a seguridade social
é baseada, em praticamente seu todo, na solidariedade entre os membros da
sociedade, sendo esse o que mais traduz o direito previdenciário, orientando todas as
medidas que o Estado deve tomar para proteção juntamente com o dever da
sociedade de financiar, de maneira direta ou indireta, a seguridade social. Daniel
Machado da Rocha destaca que:
“A solidariedade previdenciária legitima-se na ideia de que, além de direitos e liberdades, os indivíduos também têm deveres para com a comunidade na qual estão inseridos.”27
Assim, a solidariedade estará presente em toda seguridade social, sendo no
seu amparo, na sua instituição, na distribuição de seu ônus contributivo ou atuando
em prol de uma minoria necessitada, portanto, sendo visto como a bússola norteadora
de todo sistema da seguridade social.
2.4.2 Princípios da Constituição Federal de 1988
Na Constituição Federal de 1988 estão os princípios que norteiam a seguridade
social, tendo o sistema constitucional o dever de assegurar os direitos relativos à
saúde, a assistência social e a previdência e, no caso da última citada, visando a
proteção do trabalhador no caso da perda de sua capacidade de trabalho, sendo essa
temporária ou permanente. O rol taxativo dos princípios explícitos na constituição de
1988 estão mencionados no art. 194.
27 ROCHA, Daniel Machado da. O Direito Fundamental à previdência social na perspectiva dos princípios constitucionais diretivos do sistema previdenciário brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004.
20
Esses princípios são caracterizados pela generalização de proteção a certos
valores, tidos como essenciais para a norma jurídica de modo que são utilizados como
fontes do direito.28
2.4.2.1 Princípio da Universalidade
O Primeiro sendo a universalidade da cobertura e do atendimento é entendido
de maneira que a proteção social deverá alcançar a todos que necessitem para
subsistir, sendo tanto em termos da previdência social, observado seu caráter
contributivo, quanto na saúde e nos casos de assistência social. Esse princípio
compreende dois aspectos, a universalidade objetiva e subjetiva, descrita por Eduardo
Rocha Dias de tal maneira:
“O primeiro aspecto diz respeito às contingências sociais cobertas pela seguridade social. É missão da seguridade social cobrir todas as contingências sociais que possam ocorrer na vida as pessoas. A universalidade subjetiva, por sua vez, impõe que todos os habitantes da comunidade sejam protegidos pela seguridade social, sem qualquer discriminação.” 29
Entretanto, mesmo com o dever de atender todas as situações de
necessidades sociais, como o próprio nome do princípio já diz, é importante ressaltar
que, esse sistema não conseguirá dar cobertura a todas as necessidades sociais pois
irá encontrar limitações econômicas. Sendo assim, a capacidade para a cobertura
será determinada pela disponibilidade dos recursos do país e, pelo fato do
estreitamento das possibilidades da chamada cobertura universal, serão supridas as
contingências sociais eleitas como mais importantes pela coletividade.
28 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 21 29 DIAS, Eduardo Rocha; MONTEIRO DE MACÊDO, José Leandro. Curso de Direito Previdenciário. 3ª Edição. Editora METODO, 2021.
21
2.4.2.2 Princípio da Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às
populações urbanas e rurais
O princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às
populações urbanas e rurais, por sua vez, é um espelho do art. 7º da CF/88, ou seja,
as prestações da seguridade social devem ser idênticas para todos, independendo se
realizam atividades rurais ou urbanas, mas claro levando em consideração o tempo
de contribuição e afins. Tal princípio visa, portanto, a maior justiça no sistema, pois
impede o tratamento desigual, sendo assim de suma importância. Marisa Ferreira dos
santos explica assim:
“A uniformidade significa que o plano de proteção social será o mesmo para trabalhadores urbanos e rurais. Pela equivalência, o valor das prestações pagas a urbanos e rurais dever ser proporcionalmente igual. Os benefícios devem ser os mesmos (uniformidade), mas o valor da renda mensal é equivalente, não igual.” 30
Ou seja, serão equivalentes as prestações pagas a urbanos e rurais de maneira
proporcionalmente igual conforme suas contribuições, usando uma mesma
uniformidade para tal.
2.4.2.3 Princípio da Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios e
Serviços
O próximo princípio é o da seletividade e distributividade na prestação dos
benefícios e serviços, com esse podemos entender como funciona a distribuição
benefícios, vendo quem tem direito e a qual tem direito.
Como a própria palavra “seletividade” já diz, os benefícios devem ser
destinados a quem realmente necessita deles31, cumprindo todos os requisitos
necessários para a obtenção, portanto, alguém que necessite de um suporte pelo fato
de estar temporariamente incapaz de realizar as atividades para sua subsistência irá
receber o auxílio-doença e não será aposentado por incapacidade permanente, isso
30 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito Previdenciário Esquematizado. 6ª Edição. Saraiva, 2016. 31 SANTOS, Marisa Ferreira dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 22
22
irá ocorrer apenas no caso da pessoa se tornar incapaz de realizar suas atividades
permanentemente.
Então, entendemos que cada benefício se encaixa em uma certa situação,
sendo aplicados corretamente conforme cada necessidade dos trabalhadores,
cabendo a distributividade do legislador contemplar o maior número de indivíduos,
elegendo critérios de acesso que favoreçam quem mais necessite da proteção
social32, levando em conta que nem todos possuem as mesmas necessidades, uns
necessitam mais e outros menos e, a seguridade por sua vez proporcionando
condições dignas se existência para aqueles que dela necessitem.
2.4.2.4 Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Benefícios
O quarto princípio veda a redução do valor nominal dos benefícios, por isso é
chamado de Princípio da Irredutibilidade do valor dos benefícios, esse sendo uma
aplicação do princípio da suficiência, pois descreve que os valores dos benefícios não
devem ser reduzidos, tendo o seu reajuste periódico, para que haja a preservação do
seu valor real, conforme o art. 201, § 4º da Constituição Federal. Cláudio Rodrigues
Morales entende que dessa maneira e dispõe:
“As prestações de benefício de natureza previdenciária que constituem dívidas de valor não podem sofrer desvalorização; precisam manter seu valor de compra, trata-se de norma de eficácia limitada” 33
Assim, ao longo de sua existência o benefício deve se manter com o intuito de
suprir o mínimo necessário para a sobrevivência do indivíduo com dignidade, não
podendo sofrer redução no seu valor.34
32 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 22 33 MORALES, Cláudio Rodrigues. O Direito Previdenciário Moderno e sua Aplicabilidade ante o princípio da segurança Jurídica. São Paulo: LTR, 2009. 34 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 22
23
2.4.2.5 Princípio da Equidade na Forma de Participação no Custeio
A equidade na forma de participação no custeio é o quinto princípio do rol do
art. 194, esse é visto como um desdobramento do princípio da igualdade, pois trata
de uma forma que cada um deverá contribuir conforme suas possibilidades, portanto,
quem tem mais capacidade econômica contribuirá mais, para Claudio Rodrigues
Moraes é entendido da maneira que:
“Quem ganha mais deve pagar mais para que ocorra a justa participação no custeio; a contribuição do empregado recai sobre o lucro e o faturamento, além da folha de pagamento; deve-se tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais” 35
Esse conceito de equidade está conectado ao ideal de justiça, essa justiça na
forma de gerar contingências abrangidas pela cobertura da seguridade social.36
2.4.2.6 Princípio da Diversidade da Base de Financiamento
O penúltimo princípio da seguridade social descrito na Constituição é o da
Diversidade da base de financiamento, ou seja, a seguridade social deve ter seu
financiamento da forma mais diversificada possível, como está no art. 195, § 4º da
CF/88.
Portanto, não deve ter uma única fonte para seu custeio, gerando assim uma
maior estabilidade econômica da seguridade social, como descreve Fabio Camacho
Dell`Amore Torres:
“Visa a garantir maior estabilidade da Seguridade Social, na medida em que se impede que se atribua o ônus do custeio a segmentos específicos da sociedade.”37
35 MORALES, Cláudio Rodrigues. O Direito Previdenciário Moderno e sua Aplicabilidade ante o princípio da segurança Jurídica. São Paulo: LTR, 2009. 36 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 22 37 TORRES, Fabio Camacho Dell`Amore. Princípios da Seguridade Social. in Revista Âmbito Jurídico.com.br. Disponível em HTTP://www.ambito-jurídico.com.br/site/?n_link=revista_artigos-leitura. Acesso em: 10 de jan. 2021.
24
Dessa maneira, podem ser instituídas outras formas de custeio que garantam
a expansão da seguridade social e, essas novas fontes só podem ser criadas por meio
de leis complementares, não podendo ser cumulativas e que não estejam descritos
na Constituição Federal.38
2.4.2.7 Princípio do Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa
O Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a
participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e
aposentados é o último princípio citado na constituição, esse vem para definir que a
seguridade social deve ter a participação de empregadores, aposentados,
trabalhadores e o Governo, levando assim à uma aproximação entre estes, Fabio
Camacho Dell`Amore Torres explica assim:
“Caráter democrático da gestão administrativa, visa a aproximação dos cidadãos (aqui representados pelos trabalhadores, aposentados e empregadores) às organizações e processos de decisão dos quais dependem seus direitos. Ex. Conselho Nacional da Previdência Social (garante-se a participação dos trabalhadores, aposentados e empregadores, a fim de que estes possam apresentar sugestões acerca da Previdência Social); "caráter descentralizado da gestão administrativa, trata-se de conceito de direito administrativo. O serviço público descentralizado é aquele em que o poder público (União, Estados e Municípios cria uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a ela atribui a titularidade e a execução de determinado serviço público" Ex. (Instituto Nacional do Seguro Social) é uma pessoa jurídica de direito público, criada por lei para gerir a concessão e manutenção dos benefícios previdenciários.”39
Portanto, pode se entender que esse princípio visa a participação de toda a
sociedade, visando atingir a justiça para um fim social.
38 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 23 39 TORRES, Fabio Camacho Dell`Amore. Princípios da Seguridade Social. in Revista Âmbito Jurídico.com.br. Disponível em HTTP://www.ambito-jurídico.com.br/site/?n_link=revista_artigos-leitura. Acesso em 02 de janeiro de 2021.
25
3 ESPÉCIES DE APOSENTADORIA
3.1 Aposentadoria por Incapacidade Permanente
O artigo 42 da Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 dispõe a respeito da
aposentadoria por incapacidade permanente, o novo nome para antiga aposentadoria
por invalidez, como é visto nas palavras de Lazzari:
“A primeira espécie de aposentadoria de que trata a reforma é aquela não voluntária, cuja causa é a “incapacidade permanente para o trabalho”, antes chamada “aposentadoria por invalidez”.”40
Deste modo, a aposentadoria por incapacidade permanente pode ser deferida
em casos de agravo físico ou psíquico que por seus motivos acarretem a incapacidade
permanente do trabalhador de realizar seu labor. A concessão desse benefício irá
depender da verificação da incapacidade por um médico, por meio de um exame
pericial em favor da seguridade social e, tal incapacidade tem uma definição legal,
sendo de maneira total e que não há formas de reabilitação para o exercício das
atividades que garantem a subsistência do assegurado41, e independendo se essa já
preexistia antes de sua filiação, da maneira que vemos a seguir:
“A jurisprudência do STJ tem sido no mesmo sentido: “(...) 1. Os benefícios por incapacidade foram idealizados com o intuito de amparar o Trabalhador em situações excepcionais, quando, por eventos cujas ocorrências não podem ser controladas, o Segurado tem reduzida sua capacidade para exercer sua atividade de trabalho. Concretizam, assim, a proteção garantida ao Trabalhador no contrato de seguro firmado com a Previdência Social. 2. Importante a compreensão de que o requisito legal para a concessão do benefício é a existência de incapacidade para exercício da atividade laboral e que tal incapacidade não seja preexistente à filiação do Segurado ao Regime Geral de Previdência. 3. Assim, não há óbice que a doença que atinge o Segurado seja preexistente à sua filiação, desde que tal enfermidade não interfira em sua capacidade para o trabalho e fique comprovado que a incapacidade se deu em razão do agravamento ou da progressão da doença ou lesão que já acometia o segurado. 4. Na hipótese dos autos, a Corte de origem, com base no acervo probatório dos autos, concluiu que a incapacidade da Segurada é decorrente do agravamento progressivo da patologia que apresenta, não merecendo, assim, qualquer reparo o acórdão neste ponto. 5. O laudo pericial ou o laudo da junta médica
40 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 157 41 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 132.
26
administrativa norteiam somente o livre convencimento do Juiz quanto aos fatos alegados pelas partes, portanto, não servem como parâmetro para fixar termo inicial de aquisição de direitos. 6. O termo inicial da aposentadoria por invalidez corresponde ao dia seguinte à cessação do benefício anteriormente concedido ou do prévio requerimento administrativo; subsidiariamente, quando ausentes as condições anteriores, o marco inicial para pagamento será a data da citação. Precedentes (...)” (REsp 1471461, 1ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 16.04.2018).”42
Ainda, o período de carência para a concessão do benefício vem descrito no
art. 25, I, da Lei 8.231/91, essa menciona que serão necessárias pelo menos 12
contribuições mensais para ter direito e, no caso de a incapacidade permanente ser
decorrente de acidente de trabalho ou doença relacionada a atividade laboral
praticada, esse período de carência é dispensado.
3.2 Aposentadoria por tempo de contribuição
A aposentadoria por tempo de contribuição era regulada nos arts. 52 a 56 da
Lei nº 8.213/91 e no Decreto 3.048/1999, entre os arts. 56 a 6343, sendo concedida
quando o assegurado completa todos os requisitos necessários quanto ao tempo de
sua contribuição perante a Previdência Social.
Com a vigência da nova Emenda Constitucional n. 103/2019, essa modalidade
de aposentadoria passou a ser necessária uma idade mínima do contribuinte para que
pudesse gozar dos benefícios, conforme o art. 201, §7º, inciso I da referida emenda,
ficando estipulado o mínimo de 65 anos para os homens e de 62 para as mulheres.44
Tal medida foi tomada em razão do déficit do sistema, visto que a média de
idade das pessoas que estavam se aposentando por tempo de contribuição estava
em 54,22 anos45, sendo essa decisão vista como uma das soluções para diminuir o
déficit.
Aqueles indivíduos que contribuíram antes da nova emenda e já haviam
cumpridos todos os requisitos teriam direito ao antigo benefício de aposentadoria por
42 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 132 43 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Comentários sobre a Nova Previdência. 1. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020. p. 100 44 Id., 2020, p. 100. 45CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 84
27
tempo de contribuição, entretanto, aqueles que mesmo filiados ao regime antigo, mas
não tinham cumpridos todos os requisitos, iriam ser aplicada regras de transição,
como temos no quadro a seguir:
46
Assim, fica evidenciado que no tocante a mudança da aposentadoria por tempo
de contribuição para atual onde é necessário atingir uma idade mínima, foi feita a fim
de reduzir a quantidade de assegurados pelos benefícios com uma idade considerada
baixa.
3.3 Aposentadoria por idade
Com o advento da nova Emenda Constitucional n. 103/2019, a aposentadoria
por idade restou garantida apenas para os trabalhadores rurais e para aqueles que
exercem suas atividades em regime de encomia familiar47, portanto, esses
trabalhadores não se encaixam nas regras de transições da nova emenda.
No que concerne aqueles trabalhadores filiados ao regime antigos, terão direito
à aposentadoria por idade apenas aqueles que cumpriram os requisitos até
13/11/2019, tendo direito adquirido e, aqueles que não cumpriram os requisitos até a
referida data, irão ser aplicadas as regras de transição de tal maneira:
46 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 240 47 Id., 2021, p. 240.
28
48
Ou seja, da mesma forma que a aposentadoria por tempo de contribuição, a
aposentadoria por idade foi extinta e unificada a citada anteriormente visando reduzis
custos frente ao déficit do sistema previdenciário.
3.4 Aposentadoria Especial
A aposentadoria especial, por sua vez, é o benefício que será concedido para
aquele trabalhador que exercer atividades laborais exposto a agentes nocivos, que
com o passar do tempo podem vir a causar algum prejuízo a sua saúde ou integridade
física49, ou seja, tem por objetivo a reparação financeira ao trabalhador que exerceu
suas atividades sobre condições inadequadas.
Há nesse modelo uma diferenciação das atividades laborais de acordo com o
Decreto nº 3.048/99, pois poderá haver a concessão desse benefício com 15, 20 ou
25 anos de trabalho, isso levando em consideração as condições em que o labor era
exercido, como explica Victor Hugo Nazário Stuchi:
“A aposentadoria especial, uma vez cumprida a carência exigida, será devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual, este somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, que tenha trabalhado durante 15, 20 ou 25 anos, conforme o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
A concessão da aposentadoria especial dependerá da comprovação, durante o período mínimo acima mencionado do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente e da exposição do segurado aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou a associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física.”50
48 SANTOS, Marisa Ferreira Dos. ESQUEMATIZADO – DIREITO PREVIDENCIÁRIO. 11 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 151 49 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 59 50 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Comentários sobre a Nova Previdência. 1. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020. p. 108.
29
A Lei nº 9.032/95 implementou que é necessária a comprovação, pelo
trabalhador, da efetiva exposição aos agentes nocivos, que essa exposição seja de
maneira habitual e permanente, não apenas casual, cabendo a perícia do INSS
analisar cada caso, inspecionando o local de trabalho e as condições para dar
veracidade as informações levadas a eles.
Podem ser vistos como agentes nocivos:
1. Químicos: neblinas, gases, vapores de substâncias nocivas
presentes no ambiente de trabalho, etc...
2. Biológicos: Bactérias, parasitas, vírus, fungos, etc.
3. Físicos: Ruídos, vibrações, calor, pressão anormal, radiação, etc.
Esses agentes devem ser comprovados pelo INSS, isso sendo feito por PPP,
ou seja, Perfil Profissiográfico Previdenciário, emitidos pela empresa analisando em
um laudo técnico as condições de trabalho.51
O PPP é um documento que irá ser elaborado pela empresa, expondo as
condições em que as atividades laborais são realizadas, mostrando os agentes
nocivos químicos, físicos e biológicos e as associações prejudiciais a integridade física
ou a saúde.
Tendo o trabalhador direito a receber uma cópia autenticada desse PPP no
caso da ruptura do contrato de trabalho, que deverá ser fornecido pela empresa até
30 dias após sua rescisão, assim, tendo o trabalhador uma segurança para
demonstrar seu período de labor realizando atividades que se encaixam na
aposentadoria especial.
Por sua vez, o laudo técnico de contribuições ambientais do trabalho (LTCAT),
é um laudo com caráter pericial52, onde a empresa a fim de demonstrar ao INSS se
as atividades iram se caracterizar ou não na presença de agentes nocivos. Esse
documento não deve ser necessariamente apresentado ao INSS, mas deve estar na
empresa a disposição da Previdência Social.
Como já citado, a aposentadoria será concedida para o trabalhador que
comprovar que é exposto aos agentes nocivos de maneira permanente em sua
atividade, entretanto, tal norma pode ser questionada, visto que a Lei de Benefícios
51 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. Barueri-SP: Editora Manoele, 2011. p. 61 52 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 639
30
não estabelece nenhuma restrição e de acordo com a Sumula nº 62 TNU irá obter o
reconhecimento desde que comprove que era exposto a agentes nocivos.
“O segurado contribuinte individual pode obter reconhecimento de atividade especial para fins previdenciários, desde que consiga comprovar exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física.”53
Para todo assegurado com o benefício da aposentadoria especial, há a
possibilidade da conversão do tempo especial para tempo comum, desde que seja
cumprido o tempo necessário para que haja direito à aposentadoria especial,
conforme as leis que regulam tal dispositivo. Existem dois dispositivos legais que
amparam tal instituto, o primeiro sendo o art. 57, § 5º da Lei 8.213/91 e o segundo o
art. 28 da Lei nº 9.711/98 que autorizam essa conversão.
Portanto, conforme a legislação vigente, podemos ver que o tempo de trabalho
que for exercido sob condições especiais que sejam prejudiciais à saúde ou a
integridade física do trabalhador, irão ser somados, após sua respectiva conversão,
ao tempo de trabalho comum, não importando qual seja o período de trabalho.
Para o segurado que exerça duas ou mais atividades que possam vir a
prejudicar sua saúde ou integridade física, mesmo que essas não cheguem ao prazo
mínimo necessário para aposentadoria especial, serão somadas após sua conversão,
considerando a atividade dominante, tendo a concessão da aposentadoria especial
com o tempo exigido para a atividade não convertida.
4 REFORMA DA PREVIDÊNCIA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 103/2019
4.1 PEC 6/2019
A reforma da previdência mais recente teve seu início com a PEC 6/2019, onde
essa visava a modificação do sistema de previdência social e o estabelecimento a
respeito das regras de transições e suas disposições transitórias, como pode ser visto
na ementa da proposta.
53 Súmula 62 - TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS - DOU 03/07/2012. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/phpdoc/virtus/sumula.php?nsul=62&PHPSESSID=70r5tqsduath3h3f57r37p61r1
31
“Altera as regras de aposentadoria e pensão aplicáveis aos trabalhadores segurados do Regime Geral de Previdência Social, aos servidores públicos civis e aos detentores de mandato eletivo. Dispõe sobre a contribuição previdenciária extraordinária e a fixação de alíquotas progressivas para a contribuição previdenciária ordinária dos servidores públicos. Dispõe sobre a contribuição previdenciária devida pelo segurado empregado e pelo trabalhador avulso. Dispõe sobre o salário-família e o auxílio-reclusão. Retira da Constituição a possibilidade de ser aplicada a sanção de aposentadoria a membros do Poder Judiciário e do Ministério Público.”54
Essa proposta era estruturada em cinco pilares, sendo quatro deles explícitos
e um deles implícito.
O primeiro dos pilares explícitos é o de combate às fraudes e redução da
judicialização, esse está claramente descrito desde a publicação da MP n.º 871/2019
que em seguida foi convertida na Lei n.º 13.846/2019, criando meios para a eliminar
a possibilidade do recebimento indevido dos benefícios previdenciários, fazendo isso
por meio da criação de programas de combate as irregularidades, por dispositivos
legais, juntamente com a celeridade do processo de análise da revisão dos
benefícios55.
Com isso, consequentemente, reduzindo os litígios judiciais, por meio de
entendimentos jurisprudenciais, pacificando e deixando mais claros os pontos que
geram de forma reiterada ações judiciais.
A cobrança das dívidas tributárias previdenciárias é o segundo pilar, esse com
o intuito de aperfeiçoar o processo de cobrança, garantindo maior agilidade e
eficiência e sua arrecadação, entretanto, apenas esse aperfeiçoamento não seria
suficiente para quitar o déficit do Regime Geral de Previdência Social que no ano
anterior a proposta alcançou o valor de R$ 195,2 bilhões.56
Como terceiro pilar temos a equidade, esse, por sua vez, é a forma de tratar
desigualmente os desiguais, de acordo com a realidade de cada um, portanto, de
forma muito clara aqueles que recebem menos contribuem menos e os que recebem
mais contribuem mais.57
54 PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 6 DE 2019. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/137999. Acesso em: 10 janeiro 2021. 55 MARTINEZ, Luciano. Reforma da previdência: Emenda Constitucional n. 103, de 12 de novembro de 2019: entenda o que mudou. São Paulo: Saraiva, 2020. p. 14 56 Id., 2020, p. 14. 57 Id., 2020, p. 14.
32
O último pilar explicito é a criação de um novo regime previdenciário
capitalizado e equilibrado, destinado as próximas gerações, visando um novo sistema
previdenciário, de maneira que haja a capitalização, por meio de uma contribuição
definida e de forma obrigatória para quem aderir em uma conta individual e vinculada
para cada trabalhador, tendo assim, a noção do quanto contribuiu para cálculo de um
benefício no futuro. 58
O último pilar, sendo o implícito, é denominado como a tentativa de diminuição
das desigualdades no sistema previdenciário atual, onde buscava-se uma progressiva
melhoria na distribuição da renda previdenciária, uma das estratégias para isso foi a
definição de uma idade mínima para poder se aposentar, fazendo com que assim
todos se aposentassem pelo menos no mesmo limite de idade e que contribuíssem
até essa data.
Outro ponto importante que a PEC 06/2019 abordou foi a respeito da transição
demográfica de envelhecimento populacional, pelo fato da esperança de vida mais
longa que vem aumentando com o passar dos anos chegou-se à conclusão que cada
vez mais o número de idosos irão crescer e esses atingindo idades mais avançadas
vão necessitar mais de cuidados da saúde e benefícios previdenciários que lhes
permitam tal assistência pela perda da capacidade laborativa, sendo assim um
sistema que não conseguiria ser sustentando, como descreve Luciano Martinez:
“Dentro do discurso de envelhecimento populacional e de aumento da
expectativa de sobrevida surgiu, no texto da PEC n. 6/2019, a importante
problemática da deterioração da relação entre contribuintes e beneficiários,
destacando-se que, na atualidade, a relação estimada é de dois contribuintes
para cada beneficiário de aposentadoria e pensão por morte, considerando
alarmantes as projeções de uma futura relação de uma para um por volta da
década de 2040, ainda que se consiga reduzir muito a informalidade e a fuga
da contributividade.”59
Dessa maneira, o projeto teve que dispor a respeito das regras de transição
para os já filiados ao Regime Geral da Previdência Social, ficando assegurado de uma
forma diferenciada, o seu direito à aposentadoria por idade, especial e de contribuição
58 MARTINEZ, Luciano. Reforma da previdência: Emenda Constitucional n. 103, de 12 de novembro de 2019: entenda o que mudou. São Paulo-SP: Saraiva, 2020. p. 14 59 Ibid., p.,16.
33
e, ainda, estabelecendo regras de transição intermediárias entre as vigentes e as
futuras, pelo fato do direito adquirido e a expectativa do direito dos servidores que no
momento eram amparados pelos seus regimes próprios, observando as
particularidades de cada regime.
Dado o contexto, pode ver que outro objetivo da PEC 6/2019 é a economia e
corte de gastos, pois há um grande déficit financeiro no país, sendo a seguridade
social, com a previdência e a assistência social responsável por uma parte de tal
déficit, consumindo mais de 50% das despesas obrigatórias, como pode ser visto no
gráfico apresentado na página 10 da proposta.
“[...] as contas públicas revelavam-se como o maior desafio da atualidade,
uma vez que (i) a dívida bruta subiu de 51,5% do PIB para 77,2% do PIB entre
dezembro de 2013 e junho de 2018; (ii) desde 2014, há déficit primário nas
contas públicas e as projeções apontam para volta do superávit primário
apenas no início da próxima década; (iii) o grau de rigidez do orçamento vem
se elevando, comprometendo a execução de políticas públicas
discricionárias, especialmente de investimentos e gastos sociais. Dados
oficiais davam conta de que as principais despesas obrigatórias
acarretadoras da rigidez do orçamento da União estavam relacionadas a
gastos com pessoal, previdência, saúde, educação, subsídios, subvenções,
abono, seguro-desemprego e benefícios sociais previstos na legislação,
como aqueles relacionados ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e
benefícios de natureza especial.”60
60MARTINEZ, Luciano. Reforma da previdência: Emenda Constitucional n. 103, de 12 de novembro de 2019: entenda o que mudou. São Paulo-SP: Saraiva, 2020. p. 18.
34
Fonte: Resultado do Tesouro Nacional/STN/MF. (2018)61
Após demonstrada toda importância da PEC 6/2019 para o atual cenário da
previdência no Brasil, foi dado início a tramitação dessa na Câmara dos Deputados,
onde no dia 20/02/2019 foi apresentada passando pelas diversas fases para que no
dia 08/08/2019 a proposta fosse lida no Plenário, onde manteve-se até o dia
04/09/2019, dia em que o Relatório do Senador Tasso Jereissati foi aprovado pela
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, tendo um parecer favorável à
proposta.
No primeiro dia do mês de outubro houve então, a aprovação da PEC no
primeiro turno, sendo encaminhada para o segundo turno onde foi aprovada por
unanimidade.
Ao final, ocorreu uma emenda a redação da PEC, essa iria retirar a vedação da
aposentadoria pelo labor realizado em condições de perigo no trabalho, isso mediante
um acordo entre líderes partidários e o governo, ficando acordado que tal proposta só
seria promulgada após aprovação do projeto de lei que abordasse os casos de
trabalho prestados em condições de risco.
Dessa maneira, o texto final teve sua promulgação em 12 de novembro de
2019, dada pela Emenda Constitucional n.º 103, de 2019.
61 https://transicao.planejamento.gov.br/wp-content/uploads/2018/11/Informa%C3%A7%C3%B5es-Estrat%C3%A9gicas-Minist%C3%A9rio-do-Planejamento_vers%C3%A3o-publica%C3%A7%C3%A3o_completa.pdf. Acesso em: 26 abril 2021.
35
4.2 Alterações Constitucionais da Emenda n.º 103/2019
Com a promulgação da reforma da previdência dada pela Emenda
Constitucional n.º 103/19, houve várias alterações nos artigos da Constituição Federal
que regulavam sobre o assunto, o acréscimo de parágrafos nos artigos e, em
contrapartida, alguns dispositivos revogados. Essas alterações e a criação de novas
regulamentações aconteceram visando uma das propostas da PEC 6/2019, sendo a
diminuição de regimes próprios de previdência, concentrando apenas em uma lei para
que haja uma maior economia e eficácia.
Assim, é notável a que a proposta visa intensificar o processo de redução da
amplitude do sistema público no tocante a proteção previdenciária com essa nova
organização e funcionamento para os regimes próprios. O já citado § 22 do art. 40,
que foi introduzido pela EC 103/2019, não irá se limitar ao impedimento da criação de
novos regimes próprios, muito além disso, tem o objetivo de fortalecimento sob os
controles já existentes, prevendo a edição de lei complementar para que possam ser
estabelecidos novos regimes.62
Outro ponto abordado e que foi modificado, foi a vedação da acumulação de
aposentadorias, que ficou redigida pelo Art. 40, §6.º, já citado acima. Essa pode
ocorrer apenas nos casos estabelecidos.
“Excepcionalmente, a percepção de remunerações simultâneas dos cofres
públicos será possível nas hipóteses expressamente referidas, desde que os
horários sejam compatíveis e o teto remuneratório previsto no inciso XI do
mesmo artigo seja respeitado. Por isso, nas hipóteses de cargos que são
acumuláveis, é assegurado o direito à percepção de mais de um benefício de
aposentadoria para os agentes públicos, ainda que no mesmo regime
previdenciário.”63
Portanto, é assegurado, no mesmo regime previdenciário, o direito a percepção
de mais de um benefício para os agentes públicos. A redação desse novo dispositivo
visa esclarecer que essa nova regra não é taxativa, pois podem ocorrer vedações no
acúmulo de prestações, sendo essas limitadas pela legislação para o RGPS, como
62 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 272 63 Ibid., p. 84
36
pode ser visto no parágrafo 14 que foi acrescido ao art. 37 pela nova proposta, onde
foi cortado o acúmulo pelo tempo de contribuição decorrente de cargo, emprego ou
função pública, não retroagindo para aqueles que já obtiveram.
“Agora, o novo § 14 do art. 37 passou a prever que a aposentadoria concedida
com a utilização de tempo de contribuição decorrente de cargo, emprego ou
função pública, inclusive do RGPS, acarretará o rompimento do vínculo que
gerou o referido tempo de contribuição. O dispositivo não tem vigência
retroativa. Para as aposentadorias concedidas até a data de entrada em vigor
dessa emenda constitucional não há rompimento do vínculo (art. 6.º da EC
103/2019).”64
Dessa maneira, com o intuito de regular as vedações, antes reguladas pelo art.
124 da Lei de Benefícios da Previdência Social, a EC 103/2019 criou um dispositivo
específico, onde o enunciado dispõe que as vedações, regras e condições para o
acúmulo de benefícios previdenciários será dado pelo art. 201, §15.
Caberá a essa Lei complementar definir e separar todas a vedações, podendo
essas serem alteradas por ela. Por sua vez, no caso dessa acumulação de benefícios
ocorrer decorrente de óbito, sendo do pai ou da mãe da mesma criança, não irá incidir
tal proibição, tal dispositivo irá alterar apenas nos casos em que houver pensão ou
aposentadoria deixada por um companheiro ou cônjuge, ficando assegurado o valor
integral do benefício mais vantajoso e um percentual dos benefícios acumulados.
4.3 Novas Regras de Contribuição
Seguindo do ponto que a EC 103/2019 buscava um equilíbrio financeiro para
suprir o déficit dos últimos anos do sistema de Seguridade Social, o salário de
contribuição começou a ser definido de maneira diferente, ficando estipulado
conforme a classe que pertencer o segurado.
A discussão a respeito de alíquotas não deveria ser material de discussão
constitucional, porém, no art. 28 da referida Emenda, fica regulado as contribuições
que os trabalhadores avulsos e domésticos terão de contribuir, podendo essas
64 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 35.
37
sofrerem ajustes65. Apenas não houve mudança nos casos do contribuinte individual
e do segurado especial, entretanto, é possível que haja mudanças no caso de edição
da lei.
Nos casos em que o valor da contribuição seja inferior ao mínimo, o
assegurado, de acordo com o art. 29, poderá complementar sua contribuição para
alcançar o mínimo exigido, poderá utilizar o valor excedente do mínimo para outra e
ainda, juntar contribuições inferiores ao mínimo, sendo de diferentes competências,
para aproveitar delas.66
Para os servidores também houve alterações, entrando em vigor
imediatamente após a aprovada pela Emenda.
Assim, suprindo o julgado ADIn 2010-MC pelo STF, que foi contrário ao
estabelecimento das alíquotas progressivas dos servidores públicos sem que
houvesse autorização constitucional expressa. Os valores referentes as contribuições
serão ajustados pelo art. 11 da EC 103/2019.67
4.4 Direito Adquirido
O direito adquirido é compreendido onde o titular em face da implementação
de uma nova regra tem garantido os direitos que a lei velha estipulava68, podendo ser
visto em matéria previdenciária na Sumula 359 do STF.
“Ressalvada a revisão prevista em lei, os proventos da inatividade regulam-
se pela lei vigente ao tempo em que o militar, ou servidor civil, reuniu os
requisitos necessários, inclusive a apresentação do requerimento, quando a
inatividade for voluntária.”69
Com isso, na EC 103/2019 foram resguardados alguns direitos adquiridos pela
antiga lei, objetivando haver uma maior segurança jurídica.
65 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 39 66 Id., 2020, p. 39 67 Ibid., p. 41. 68 Ibid., p. 60. 69 Súmula 359 STF. http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=1580 Acesso em 07 de janeiro de 2021.
38
Dessa maneira, todos aqueles que contribuíam para o sistema antes da
reforma de 2019, tinham direito adquirido no tocante aos benefícios pela antiga lei,
não sendo afetados pela nova lei e, ainda, aqueles que iriam se utilizar da antiga e da
nova lei para sua aposentadoria, iriam existir regras de transição específicas para
regular esses casos.
Assim, a nova lei que crie restrições a contagem do tempo de serviço não pode
ser aplicada de forma retroativa, pelo fato da instituo do direito adquirido, ou seja, o
tempo de serviço sempre será regido pela lei na época em que o mesmo foi
prestado.70
4.5 Regras de transição
No nosso atual ordenamento jurídico a proteção das expectativas do direito é
ínfima, ou seja, é quase que natural considerar que os indivíduos não têm direito
adquirido em nosso regime jurídico.
Entretanto, a segurança jurídica serve para ir de afronte com isso, uma vez que
essa deve contemplar a estabilidade mínima entre as relações jurídicas dentro do
ordenamento, existindo até um princípio pra isso, o princípio da segurança jurídica,
portanto, esse serve para dar legitimidade constitucional para leis e atos de maneira
retroativa também devendo proteger os mesmos para dar expectativa ao direito para
os indivíduos.
Assim, esse princípio exerce uma função de demonstrar confiança aos
cidadãos garantindo que possam usufruir dos direitos a eles devidos, dando
continuidade ao direito, para isso podemos ver a explicação:
“Nas situações em que o legislador venha a suprimir posições jurídicas
relevantes – seja por lei, seja pela via de emenda constitucional –, em matéria
de direitos fundamentais sociais sempre haverá significativa controvérsia
sobre a ocorrência de violação ao princípio da proibição do retrocesso.
Na lição de Canotilho, uma vez que o legislador infraconstitucional tenha
realizado sua tarefa de conformar determinado direito fundamental social, a
70 AGOSTINHO, Theodoro. Manual de direito previdenciário. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 286
39
referida lei não apenas geraria um direito subjetivo, mas também seu
conteúdo estaria protegido contra a atuação do legislador que aspirasse
revogar o núcleo essencial de tais direitos.” 71
Portanto, as regras de transição foram criadas a fim de garantir um direito
adquirido pelo cidadão, de maneira que esse possa utilizar quando cumprir com os
requisitos não tendo prejuízo com a nova regra.
Nos novos moldes da previdência, a reforma prevê cinco novas regras de
transição para as aposentadorias voluntárias do Regime Geral de Previdência Social
e, uma específica para os servidores, ainda, com uma regra geral para todos.
4.5.1 Sistema de pontos
A primeira regra é semelhante a antiga fórmula utilizada para pedir a
aposentadoria integral, a fórmula 86/96, com a tendência de beneficiar quem começou
a trabalhar mais cedo. Funciona como um “score previdenciário”, onde o contribuinte
deve atingir, com a soma do tempo de contribuição e de idade, atingindo 86 para as
mulheres e 96 para os homens, respeitando o tempo mínimo de contribuição de 35
anos para os homens e 30 para as mulheres.
Essa transição prevê o aumento progressivo de 1 ponto por ano, até atingir o
máximo de 100 anos para as mulheres e 105 para os homens72, como está disposto
no art. 15 da EC.
O valor dessa aposentadoria seguirá a regra de 60% do valor do benefício
integral por 15/20 anos de contribuição, aumentando em 2% a cada ano até fechar os
100%.
Já para os professores, a transição começará com 81 e 91 anos
respectivamente para mulheres e homens, com o tempo de contribuição de 25 anos
para as mulheres e 30 para os homens, tendo esses que comprovar a efetiva função
no magistério sendo infantil, fundamental ou médio, como está no § 3º do art. 15.
71 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. 72 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 616
40
4.5.2 Tempo de contribuição + idade mínima
Essa modalidade demonstra grande semelhança com a primeira e deriva da
antiga aposentadoria por tempo de contribuição, que após a reforma passou a
estabelecer uma idade mínima para ter direito a mesma. Ou seja, somente haveria a
possibilidade da concessão de aposentadoria voluntária cumprindo o tempo de
contribuição e da idade mínima73.
Nesse sistema o beneficiário deverá cumprir requisitos de idade, começando
com a idade mínima de 56 anos para as mulheres e 61 para os homens, tendo um
aumento de meio ano a cada ano até que a idade chegue aos 65 para homens e 62
para as mulheres, sendo exigido o tempo mínimo de contribuição de 30 anos para
mulheres e 35 para os homens, como está no art. 16 da EC 109/2019.
Ainda no referido artigo, está contida a regra para os professores, esses terão
o tempo de contribuições e idade reduzidos em cinco anos, ficando estipulado até os
60 para homens e 57 para mulheres, sendo a remuneração calculada da mesma
maneira da regra anterior.
4.5.3 Pedágio de 50%
Por sua vez, essa regra apresenta três particularidades: não é acessível a todos
os segurados antigos, não exige idade mínima e será calculado conforme a Lei
8.213/91. Essa, de acordo com o art. 17 da Emenda, vale apenas para os contribuintes
que estão a 2 anos de cumprir seu tempo mínimo de contribuição, ou seja, mulheres
que já tem 28 anos de contribuição e 33 para os homens, assim, poderão aposentar
sem idade mínima desde que paguem um “pedágio” de 50% do tempo faltante. Para
ficar claro, no caso de o contribuinte precisar de mais dois anos para se aposentar,
esse trabalhará os dois anos e mais um, totalizando assim três anos.
73 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 84
41
O valor pago para esse benefício será calculado a partir da média das 80%
maiores contribuições, sendo reduzido pelo fator previdenciário, cálculo esse que leva
em conta a expectativa de vida do segurado conforme o IBGE.74
4.5.4 Pedágio 100% para INSS e Servidores.
Temos ainda, uma regra geral, essa que vai abranger tanto os trabalhadores
do setor público quanto os do privado, estando descrita no art. 20 da EC. Essa será
disposta da seguinte maneira, como explica Agostinho:
“Nessa regra, trabalhadores do setor privado e do setor público terão que
cumprir os seguintes requisitos: idade mínima de 57 anos para mulheres e de
60 anos para homens, além um “pedágio” equivalente ao mesmo número de
anos que faltar para cumprir o tempo mínimo de contribuição (30 anos, se
mulher, e 35 anos, se homem) na data de vigência da EC n. 103/2019.”75
Os servidores ainda dentro dessa regra têm uma disposição específica, onde
deverão ter 20 anos de efetivo exercício no serviço público e 5 anos no cargo onde irá
se aposentar, vide inciso III do art. 20.
Não diferente dos outros institutos, nesse os professores também terão a
redução de 5 anos para homens e mulheres, tendo direito quando atingirem as idades
definidas e com o mesmo requisito dos servidores públicos de 20 anos de serviço e
de 5 anos no cargo efetivo em que irá se aposentar.
A remuneração para tal regra será de 100% da média de todos os salários
somados, sendo que para os servidores é igual a 100% da média ou integral para
quem teve seu ingresso no cargo até 31/12/2003.
74 AGOSTINHO, Theodoro. Manual de Direito Previdenciário. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 393 75 Id., 2020, p. 393.
42
4.5.5 Exclusiva para Servidores
A Transição prevista apenas para os servidores públicos é de tal maneira que
contempla uma pontuação que soma o tempo de contribuição mais uma idade mínima,
com 86 anos para mulheres e 96 para homens e os demais requisitos a seguir.
“Não é requerido o tempo de carreira, o qual passa a ser totalmente
irrelevante do ponto de vista previdenciário, e não é autorizada a antecipação
em face de um maior tempo de contribuição. Os requisitos são os seguintes:
I – 56 anos de idade, se mulher, e 61 anos de idade, se homem;
II – 30 anos de contribuição, se mulher, e 35 anos de contribuição, se homem;
III – 20 anos de efetivo exercício no serviço público;
IV – 5 anos de efetivo exercício no cargo em que se der a aposentadoria; e
V – 86 pontos se mulher e 96 pontos se homem”76
Tal regra ainda prevê o aumento de 1 ponto a cada ano, tendo duração de 9
anos para os homens e 14 para as mulheres, esse período de transição se encerrara
quando alcançar a pontuação de 100 e 105 para mulheres e homens respectivamente.
5 APOSENTADORIA ESPECIAL
A aposentadoria especial é um benefício oferecido aos segurados que atuam
em áreas insalubres, pode ser vista como um instrumento protetivo ao trabalhador
com intuito de compensar o mesmo pela exposição a riscos dos agentes nocivos como
agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
agentes.77
Nesse modelo, o nível de exposição/vulnerabilidade aos agentes nocivos é o
principal critério utilizado, ou seja, o benefício será dado levando em conta quais os
riscos a que ele está exposto e quais as consequências que esses podem levar a ter,
seja prejuízo a sua saúde física ou mental.
76 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 78. 77 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 629
43
O instituto da aposentadoria especial tem por objetivo a prevenção a um
possível risco a saúde e integridade física do trabalhador, de tal maneira que o
incapacite de realizar suas atividades laborativas, Maria Lucia Luiz Leira explica o
modelo assim:
“A finalidade do benefício de aposentadoria especial é de amparar o
trabalhador que laborou em condições nocivas e perigosas à sua saúde,
reduzindo o tempo de serviço/contribuição para fins de aposentadoria. Tem,
pois, como fundamento o trabalho desenvolvido em atividades ditas
insalubres. Pela legislação de regência, a condição, o pressuposto
determinante do benefício está ligado à presença de agentes perigosos ou
nocivos (químicos, físicos ou biológicos) à saúde ou à integridade física do
trabalhador, e não apenas àquelas atividades ou funções catalogadas em
regulamento”78
Para a concessão de tal benefício, há alguns critérios que devem ser seguidos
por todo segurado, sendo eles:
Período de carência de 180 contribuições
A comprovação do tempo de trabalho em condições insalubres,
durante o período fixado por lei.
Comprovação da exposição a agentes nocivos prejudiciais à
saúde e/ou integridade da pessoa.
Para validação de tais malefícios a saúde e integridade, a empresa fica
responsável pela confecção de um documento chamado Perfil Profissional
Previdenciário (PPP), onde deve conter as informações e o histórico do trabalhador e
testes realizados no ambiente de trabalho. Assim, tal documento tem por objetivo
confirmar as condições de trabalho em que o empregado exerce sua atividade afim
de produzir provas para que venha poder a usufruir do benefício previdenciário.
O segurado tem grande dificuldade para ter acesso a esse direito, com os
requisitos já citados juntamente com uma análise rigorosa que é feita pelo INSS,
diante disso, mais da metade dos pedidos desse modelo de aposentadoria são
apenas obtidos por vias judiciais devido as restrições que são aplicadas para
78 LEIRIA, Maria Lucia Luz. Direito previdenciário e estado democrático de direito: uma (re)discussão à luz da hermenêutica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 164.
44
reconhecer os meios de provas de exposição a agentes danosos a saúde e
integridade.
5.1 Aposentadoria Especial Antes da EC 103/2019
Começando a ser regulada em 1960 pelo art. 31 da Lei n.º 3.807 do referido
ano, tendo sequência pelas leis subsequentes do dispositivo, onde essa era favorável
ao trabalhador, com direito de se aposentar precocemente a fim de proteger o
segurado e antes do desenvolvimento de qualquer doença.
Portanto, com a referida lei ficou estipulado que o tempo mínimo de
contribuição para aposentadoria seria de 15 anos para o risco baixo, 20 para o risco
médio como no caso de trabalho com amianto ou atividade em minas que fossem
exercidas acima da terra e de 25 anos de risco alto, como trabalhar em minas
subterrâneas.
Tal aposentadoria poderia ser usada ainda juntamente com a aposentadoria
por tempo de contribuição, pois não atingindo todos os anos necessários de atividade
especial, poderá reverter de especial para tempo de contribuição tendo a possibilidade
de se aposentar antes. Essa conversão era feita calculando 1,4 para homens e 1,2
para mulheres, exemplificando:
Henrique tem 10 anos (antes da vigência da Reforma) como serralheiro exposto
a ruídos acima da média. Em 2002 ele sentiu que sua audição estava sendo muito
prejudicada e pediu para ser transferido para a área administrativa da empresa.
Como ele tem 10 anos de atividade especial, ele pode usar este período para
adiantar a aposentadoria por tempo de contribuição.
Pela redação da Lei 8.213/1991, em seu artigo 57, havia um enquadramento
para a caracterização da atividade especial, essa por sua vez considerava duas
formas para tal.
“A redação original do art. 57 da Lei n. 8.213/1991 admitia duas formas de se
considerar o tempo de serviço como especial:
a) enquadramento por categoria profissional: conforme a atividade
desempenhada pelo segurado, presumia a lei a sujeição a condições
insalubres, penosas ou perigosas;
45
b) enquadramento por agente nocivo: independentemente da atividade ou
profissão exercida, o caráter especial do trabalho decorria da exposição a
agentes insalubres arrolados na legislação de regência.”79
Entretanto tal dispositivo foi substituído pela Lei n.º 9.032/95, que acabou com
tal enquadramento por categorias, impondo a necessidade de comprovação da efetiva
exposição, de forma permanente e habitual. Com efeitos de direito adquirido, a TNU
sumulou alegando que o INSS não poderia exigir tal comprovação de permanência
para os períodos antecedentes a referida lei.
“49: “Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de
29.4.1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física não
precisa ocorrer de forma permanente.”80
A partir disso então cabendo então ao INSS, por meio de sua perícia médica
analisar os formulários do PPP e o local de trabalho do segurado.
Abordando a respeito dos equipamentos de proteção individual, questão que
era bastante alegada para afastar a atividade como perigosa, o STF tomou a frente
alegando que o mero fornecimento dos equipamentos não serve para exclusão do
risco.
5.2 Aposentadoria Especial após a EC 103/2019
Com a EC 103/2019 a aposentadoria especial ficou regulada em seu art. 201
de tal maneira:
“"Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral
de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e
atenderá, na forma da lei, a:
79 CASTRO, Carlos Alberto Parreira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 22ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 84 80 Súmula nº 49 TNU https://www.cjf.jus.br/phpdoc/virtus/sumula.php?nsul=49&PHPSESSID=kjt0t9h9qcbrhatkapve9mbm83 Acesso em: 05 de maio de 2021.
46
§ 1º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para
concessão de benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a
possibilidade de previsão de idade e tempo de contribuição distintos da regra
geral para concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos
segurados:
.....................................................................................................................
II - cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes
químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação.”81
Ou seja, a aposentadoria especial nesse sentido tem um caráter preventivo,
como demonstra o STF:
“A aposentadoria especial possui nítido caráter preventivo e impõe-se para
aqueles trabalhadores que laboram expostos a agentes prejudiciais à saúde
e a fortiori possuem um desgaste naturalmente maior, por que não se lhes
pode exigir o cumprimento do mesmo tempo de contribuição que aqueles
empregados que não se encontram expostos a nenhum agente nocivo
(Repercussão Geral Tema 555, ARE 664.335/SC, Rel. Min. Luiz
Fux, DJe 12.02.2015).
Também definiu nessa Repercussão Geral que:
I – O direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do
trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o EPI for
realmente capaz de neutralizar a nocividade não haverá respaldo
constitucional à aposentadoria especial;
II – Na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais
de tolerância, a declaração do empregador, no âmbito do Perfil
Profissiográfico Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do Equipamento
de Proteção Individual – EPI, não descaracteriza o tempo de serviço especial
para aposentadoria.”82
Nesse sentido, Carlos Alberto Pereira dos Santos explica que:
81 Brasil. Constituição (1988). Emenda constitucional nº103/2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc103.htm 82 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 84
47
“A EC n. 103/2019 alterou substancialmente a redação do § 1º do art. 201 da
Constituição, estabelecendo a possibilidade de previsão, em lei
complementar, de idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para
concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados cujas
atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos
e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedados a
caracterização por categoria profissional ou ocupação.”83
Portanto, estabelecimento dessas novas regras levaram a alteração de várias
regras dentro da aposentadoria especial, agora além do tempo de atividade insalubre,
deverão também cumprir uma idade mínima para terem direito ao benefício.
No tocante ao risco baixo a saúde, o segurado deverá cumprir 25 anos e ter
idade mínima de 60 anos, já no risco médico contribuirá por 20 anos devendo atingir
a idade mínima de 58 anos e, na última, sendo a de alto risco, esse deverá ter 15 anos
de contribuições e 55 anos de idade.
O valor do benefício também sofreu alterações, tendo os beneficiários por
atividade insalubres ganhos menores do que os outros beneficiários, pois antigamente
onde por um determinado tempo era recebido 100% do valor contribuído, com a nova
alteração esse valor caiu para 60%, sendo acrescido dois pontos percentuais por ano
de contribuição que exceder os 20 anos de contribuição e 15 anos nos casos das
mulheres, tendo direito a esses 2% a mais por ano também aqueles que exerce suas
atividades em minas subterrâneas.84
No que concerne aos agentes nocivos, esses ainda são estipulados pela Lei n.
9.528, de 10.12.1997, de maneira que esses são aqueles que afetam de maneira
física, biológica os segurados, levando então ao direito de pleitear a aposentadoria
especial.
Ademais, há ainda, uma interpretação de maneira literal no que concerne as
condições especiais que prejudiquem a saúde, os agentes nocivos, por sua vez,
deverão ser controlados pelo INSS, estabelecendo procedimentos para averiguar se
há ou não a possibilidade da concessão da aposentadoria especial.85
83 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 629 84 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 84 85 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Comentários sobre a Nova Previdência. 1. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020. p. 110
48
Ainda, tal benefício com as devidas alterações se tornou quase inacessível, ou
seja, os valores serão calculados de forma diferente, sendo acrescidos por pontos
durante cada ano que exceda o tempo de 20 anos de contribuição.
Antes da reforma havia um dispositivo que regulava a transformação de
atividade especial em comum, sendo transformada de maneira mais benéfica,
entretanto, com a nova lei, a reforma extinguiu tal dispositivo, ficando igualadas as
atividades especiais a qualquer outra que se encaixe no tempo de contribuição, tendo
direito apenas a conversão de maneira mais benéfica aqueles períodos realizados
antes da promulgação da referida emenda, pelo fato do direito adquirido.
Quanto ao direitos adquirido, no caso de o trabalhador ter realizado o tempo
necessário para se aposentar por 15, 20 ou 25 anos antes da reforma, esse irá receber
a aplicação da regra anterior, sem necessidade de regra de transição, mesmo que as
atividades ainda não tenham sido comprovadas ou o INSS não as tenha reconhecido
como especial e, no caso de ter exercido atividade especial antes da reforma mas não
ter atingido o tempo mínimo de contribuição, poderá converter o tempo especial em
comum utilizando o antigo fatos, tendo assim um tempo maior de contribuição.86
Essa regra de transição ainda pode variar de 10% a 30% se o benefício é
concedido pelas regras de transição ou regas permanentes.87
Para os segurados que não conseguiram cumprir com o tempo de contribuição
antes da Emenda, foram criadas regras de transição que estão dispostas no art. 21
da Emenda Constitucional 103/2019.
“Art. 21. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao
Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em
cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional
cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva exposição a agentes
químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação,
desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos
de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo
em que for concedida a aposentadoria, na forma dos arts. 57 e 58 da Lei nº
8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se quando o total da soma
86 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 653 87 https://ianvarella.jusbrasil.com.br/artigos/862891268/como-ficou-a-aposentadoria-especial-apos-a-reforma Acesso em 05 de maio de 2021.
49
resultante da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de efetiva
exposição forem, respectivamente, de:
I - 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de efetiva exposição;
II - 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e
III - 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) anos de efetiva exposição.
§ 1º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo
do somatório de pontos a que se refere o caput. § 2º O valor da aposentadoria
de que trata este artigo será apurado na forma da lei.
§ 3º Aplicam-se às aposentadorias dos servidores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios cujas atividades sejam exercidas com efetiva
exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou
associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria
profissional ou ocupação, na forma do § 4º-C do art. 40 da Constituição
Federal, as normas constitucionais e infraconstitucionais anteriores à data de
entrada em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto não promovidas
alterações na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de
previdência social.”88
Stuchi aborda o tema nesse mesmo sentido:
“A Emenda Constitucional 103, de 2019, também estabeleceu, em seu art. 21, outra regra de transição. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor da Emenda Constitucional 103, cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria, na forma dos arts. 57 e 58 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se quando o total da soma resultante da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de efetiva exposição forem, respectivamente, de:
I – 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de efetiva exposição;
II – 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e
III – 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) anos de efetiva exposição.”89
88 Brasil. Constituição (1988). Emenda constitucional nº103/2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc103.htm
89 STUCHI, Victor Hugo Nazário. Comentários sobre a Nova Previdência. 1. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020. p. 113.
50
Portanto, o segurado que tenha se filiado ao Regime Geral da Previdência
Social até a promulgação da reforma, onde esse tenha exercido as atividades sob
exposição de agentes químicos, biológicos prejudiciais à saúde ou fisiológicos, não
entrando os por categoria profissional ou ocupação.
Não havendo nenhuma diferenciação para homens ou mulheres, ambos
deveram alcançar a mesma pontuação e o mesmo tempo de atividade especial.
Mesmo nas regras de transição o valor será calculado em 60% do benefício,
levando em conta a média salarial de todas as contribuições a partir de julho de 1994,
corrigidos conforme o tempo.90
Com a nova regra ainda pode haver mais demandas judiciais, como explica
Lazzari:
“Outro aspecto da regra de transição que poderá gerar demandas judiciais é
a previsão de aplicação apenas para os segurados “cujas atividades tenham
sido exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos
prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização
por categoria profissional ou ocupação”.
Não há razão para essa restrição, pois antes da EC 103/2019 não havia
impedimento legal para o reconhecimento de tempo especial em face da
periculosidade, e a vedação por categoria profissional surgiu apenas com a
Lei 9.032/1995.
APOSENTADORIA ESPECIAL: REGRA DE TRANSIÇÃO
Tempo Mínimo de Atividade
Especial
Pontos (soma da idade + tempo de contribuição)
15 anos 66 anos
20 anos 76 anos
25 anos 86 anos
RMI: 60% do valor do salário de benefício (média integral de todos os salários de
contribuição desde julho de 1994, corrigidos monetariamente), com acréscimo de dois
pontos percentuais para cada ano que exceder o tempo de 20 anos de contribuição para os
90 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. p. 84
51
homens e de 15 anos para as mulheres. O acrescimento de dois pontos percentuais será
aplicado a partir dos 15 anos, inclusive para homens, em caso de atividades que geram
aposentadoria com esse tempo.”91
Assim, respeitando todas as regras e requisitos apresentados, o segurado terá
direito ao início do benefício quando foi desligado da empresa, ou quando der entrada
ao requerimento.
O beneficiário que continuar ou retornar a praticar atividades que sejam
comprovadamente insalubres, irão deixar de receber seu benefício, tendo sua
aposentadoria cancelada, como determinado pela Lei n.º 9.732/1998.
Essa norma veda a continuidade do trabalhador de exercer atividade especial,
mas não veda que exerça atividade comum, portanto, esse deverá se realocar para
trabalhar em funções que não se enquadrem como atividade insalubres. Não
respeitando tais normas, esse empregado terá sua aposentadoria cassada, como
explica Castro:
“Na regulamentação do art. 57, § 8º da LBPS, o Decreto n. 3.048/1999 (art.
69, parágrafo único) estabelece que o segurado que retornar ao exercício de
atividade ou operação que o sujeite aos riscos e agentes nocivos constantes
do Anexo IV do Decreto n. 3.048/1999, ou nele permanecer, na mesma ou
em outra empresa, qualquer que seja a forma de prestação do serviço ou
categoria de segurado, será imediatamente notificado da cessação do
pagamento de sua aposentadoria especial, no prazo de 60 dias contados da
data de emissão da notificação, salvo comprovação, nesse prazo, de que o
exercício dessa atividade ou operação foi encerrado. Curiosamente, não há
penalização prevista para o empregador que exija do segurado já aposentado
que trabalhe em condições nocivas à saúde.” 92
Consoante a isso o STF adotou duas teses a respeito do tema:
91 CASTRO, Carlos Alberto pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a Reforma da Previdência. Rio de Janeiro-RJ. Editora Forense, 2020. 92 CASTRO, Carlos Alberto Parreira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 648
52
“o STF, ao julgar o Recurso Extraordinário com Repercussão Geral – Tema
709, validou o referido dispositivo, fixando as seguintes teses:
I) É constitucional a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria
especial se o beneficiário permanece laborando em atividade especial ou a
ela retorna, seja essa atividade especial aquela que ensejou a aposentação
precoce ou não.
II) Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a
exercer o labor especial, a data de início do benefício será a data de entrada
do requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os efeitos financeiros.
Efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial a implantação
do benefício, uma vez verificado o retorno ao labor nocivo ou sua
continuidade, cessará o benefício previdenciário em questão (RE 788.092,
Tribunal Pleno, Sessão Virtual, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 16.6.2020).”93
Assim, temos que a partir do momento em que o indivíduo passa a receber o
benefício de aposentadoria especial, esse fica impossibilitado pela Lei de laborar
novamente na função pelo qual foi utilizado para o requerimento do benefício, ficando
sujeito a retirada do mesmo em descumprimento a essa lei. Entretanto, o beneficiário
não fica proibido de laborar outras atividades, desde que não seja relacionada com a
do requerimento, como citado.
Assim, devido a essas novas mudanças a aposentadoria especial encontrou
novos obstáculos para sua concessão, em decorrência da grande dificuldade do
cumprimento de todos os requisitos necessários, ou seja, os assegurados, por
consequência, deixarão de exercer atividades especiais pelo fato de que esse será
difícil de ser requerido e não será computado de maneira diferente no caso da
transformação em tempo comum.
93 CASTRO, Carlos Alberto Parreira de. Manual de Direito Previdenciário. 24ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 541
53
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo tema apresentado, podemos ver que a previdência foi
implantada no mundo todo de maneira lenta, começando por Von Bismarck apenas
no 19 na Alemanha.
Por sua vez William Beveridge vem e apresenta críticas ao sistema
bismarckiano, pois alegava que esse não era divido de maneira justa entre todos
aqueles que necessitavam.
Diante disso, o conceito de proteção social só veio a ser pautado mundialmente
a partir de 1948 na Declaração Universal de Direito Humanos.
No Brasil a aposentadoria demorou para ser regulada de maneira bem
estruturada e com seus moldes estipulados na lei. O país, para dar início ao sistema
que hoje apresenta utilizou de vários modelos já existentes em outros países.
Tivemos no decorrer das nossas constituições artigos e leis que regulavam
algumas espécies se assistência social e modelos nesse sentindo, entretanto, até a
constituição de 1988 não havia ainda a regulação por completa de todos os institutos
que cuidavam do assunto.
A criação da seguridade social pode ser vista como um grande marco, onde
antes desta existia apenas um “seguro social” onde apenas os trabalhadores eram
aparados por tal dispositivo.
Após dado início a seguridade social em si, essa passou a regular não apenas
a respeito dos trabalhadores que contribuíam, mas sim, com todos os indivíduos da
sociedade, visando prover a saúde a todos de maneira democratizada e igualitária e
o mínimo para sobreviver para quem não tinha condições de exercer atividades que
lhe rendessem a possibilidade de se manter. Sendo assim, portanto, esse um direito
a todos que está na Constituição Federal.
Ainda, no tocante a seguridade social, foram criados princípios para nortear
como essa deveria ser usada, esses estando arrolados no art. 194 da constituição e
mais um que não está no texto da carta magna, a fim de que todos esses usados de
maneira conjunta promovessem o acesso a todos, de maneira que cobriria desde os
que contribuem para o sistema até os que não contribuem e necessitam, promovendo
assim uma solidariedade entre todos.
54
Levando em conta tudo que foi exposto, podemos ver que a Emenda
Constitucional n.º 103 de 2019 foi promulgada com intuito de reduzir custos e suprir
os déficits deixados pelos anos que se passaram, contrariando os princípios que
tinham por motivo ajudar os indivíduos.
A proposta de eliminar regimes próprios é um bom exemplo disso, já que com
o Regime Geral da Previdência Social sendo regulado por apenas uma lei e apenas
um órgão daria mais eficiência, tanto no que tange aos benefícios quanto aos valores
econômicos disponibilizados para isso.
Os novos benefícios da aposentadoria foram drasticamente reduzidos, alguns
sendo até excluídos, ficando mais difícil de serem obtidos em algumas ocasiões.
Mesmo com a criação de regras de transição, o segurado que tinha uma boa
perspectiva acabou sendo “premiado” com a reforma da previdência, devendo se
adequar as novas leis.
No caso da aposentadoria especial, antes da reforma os meios para obtenção
do benefício já eram difíceis pelo fato da quantidade de anos a serem cumpridos em
uma atividade que podia lhe causar danos à saúde e integridade física e pelo fato da
dificuldade da obtenção do benefício não sendo pelas vias judiciais, pois era difícil
comprovar as atividades insalubres e o INSS reconhece-las, agora, com a instituição
desse novo regime que regulamenta a aposentadoria ficou ainda pior, visto que agora
além do segurado ter que cumprir o tempo de contribuição para suas atividades, tem
que atingir uma idade mínima como requisito para que consiga ter direito ao benefício.
Não obstante, um dispositivo que deveria ser preventivo para o segurado,
passou a ser algo totalmente longe disso, onde em diversas vezes o trabalhador teve
que apresentar em quais pontos a função lhe foi prejudicial, sendo que o benefício
deveria evitar tal situação.
Outro ponto bastante criticado que piorou, versa a respeito da conversão do
tempo especial em comum, onde agora esse não será mais convertido de uma forma
mais benéfica, ficando igualado com o tempo de contribuição normal, ou seja, o
trabalhador que exerce atividade insalubre será contabilizado como trabalhador que
exerce funções normais no caso de uma conversão ao não atingir o mínimo para o
benefício especial.
Dessa maneira podemos ver que a Emenda Constitucional focou apenas nas
melhorias financeiras e visou reduzir custos com a concessão das novas modalidades
55
de benefícios, deixando, portanto, o segurado a deriva de leis que vão em
desencontros com os princípios que norteiam a seguridade social, principalmente no
que tange ao segurado por atividade especial.
56
REFERÊNCIAS
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Educação, 2020
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CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista Direito. Comentários a
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12 de novembro de 2019: entenda o que mudou. São Paulo-SP: Saraiva, 2020
57
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hatkapve9mbm83
Súmula 62 - TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS
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