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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL ESPECIALIZAÇÃO EM ECONOMIA SOLIDÁRIA NA AMAZÔNIA Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva INICIATIVAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NA PRODUÇÃO ORGÂNICA DE BASE FAMILIAR Belém 2009

Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

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INICIATIVAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NA PRODUÇÃO ORGÂNICA DE BASE FAMILIAR

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Page 1: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

ESPECIALIZAÇÃO EM ECONOMIA SOLIDÁRIA NA AMAZÔNIA

Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

INICIATIVAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NA PRODUÇÃO ORGÂNICA DE BASE FAMILIAR

Belém 2009

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Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

INICIATIVAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NA PRODUÇÃO ORGÂNICA DE BASE FAMILIAR

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Economia Solidária na Amazônia da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Economia Solidária. Orientadora: Profa. Dra. Maria José

de Souza Barbosa

Belém 2009

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Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

INICIATIVAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NA PRODUÇÃO ORGÂNICA DE BASE FAMILIAR

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Economia Solidária na Amazônia da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Economia Solidária.

Data da defesa: 28/12/2009

Banca Examinadora:

________________________________________________ Profa. Dra. Maria José de Souza Barbosa

Orientadora/UFPA

________________________________________________

Prof. Dr. Farid Eid Avaliador Externo/UFSCAR

________________________________________________ Profa. Msc. Ana Maria Pires Mendes

Avaliadora Interna/UFPA

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Aos meus pais Rosilda e Vicente

A minha filha Monike

Ao meu Esposo Carlos Magno

Dedico.

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AGRADECIMENTOS

À Deus pelas forças nas horas de cansaço;

À meus pais pelas palavras de incentivo e por me propiciarem condições

necessárias aos estudos e por serem referências e bons exemplos de vida;

À minha filhona pela paciência nas horas ausentes;

Ao meu esposo pela dedicação e disponibilidade de auxílios;

Aos colegas Celso Gibson (EMATER-PA) e Martha Parry (MAPA) pelos incentivos e

contribuições;

À Universidade Federal do Pará, pela realização do curso;

Aos produtores da Feira de Produtos Orgânicos do Estado do Pará por

disponibilizarem tempo e paciência nas entrevistas;

À Profa. Dra. Maria José Barbosa pela paciência e ensinamentos;

À todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.

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“A produção estável somente pode

acontecer no contexto de uma

organização social que proteja a

integridade dos recursos naturais e

estimule a interação harmônica entre os

seres humanos, o agroecossistema e o

ambiente”.

Roberto Ribeiro Machado

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RESUMO

A construção de sociedades marcadas por desigualdades sociais é

decorrência da dissociação entre ação econômica e ação ecológica, como também

do desligamento dos fatores sociais intrínsecos à economia, resultando na divisão

de trabalho, entre os que planejam e os que executam as atividades. Nesse contexto

se consolida o projeto político do desenvolvimentismo econômico com base

produtivista. Contrapondo a esse modelo, destaca-se a Economia Solidária, como

direcionamento para a construção de uma sociedade equilibrada e justa,

desenvolvendo diversas atividades econômicas, da comercialização de produtos

primários à prestação de serviços. Como espaço de comercialização voltado para

agricultura, é na Feira de Produtos Orgânicos no Estado do Pará, que essa pesquisa

se desenvolve. Objetiva-se neste estudo mostrar as articulações existentes na

agricultura orgânica de base familia e identificar formas de organização para a

comercialização de produtores que integram a feira, como uma iniciativa de

economia solidária, ou não. Além de investigar como esse público está inserido nos

princípios da economia solidária e ainda as estratégias para amenizar os gargalos

da comercialização da produção orgânica. Sendo que a feira foi escolhida como

base da pesquisa por apresentar características no que se refere à organização da

comercialização de produtos orgânicos ao envolver agricultores familiares de

diversos municípios do Estado e suas organizações sociais. Essas organizações é

que se procura conhecer e aprofundar nas discussões sobre economia solidária.

Percebe-se que o paradigma orgânico de produção busca gerar sustentabilidade

aos agricultores familiares. A economia solidária também busca a sustentabilidade

não só de agricultores familiares, mas de diversos atores da sociedade que estão

excluídos do mercado de trabalho assalariado, sempre em busca de soluções a

partir dessa nova dinâmica da economia.

Palavras-chave: Economia solidária. Agricultura Orgânica. Agricultura

Familiar.

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ABSTRACT

The construction of societies marked by social inequalities is consequence of

the dissociation between economical action and ecological action, as well as of the

severance of the intrinsic social factors to the economy, resulting in the work division,

among the ones those programs and the ones that execute the activities. In that

context consolidates the political project of the economical developmentalism based

on production. Opposing to that model, stands out the solidary economy, as

guidance for the construction of a balanced and fair society, developing several

economical activities, of the commercialization of primary products to the services

rendered. As commercialization space gone back to agriculture, it is at the Fair of

Organic Products in the State of Pará, that the research grows. It is aimed at in this

study to show the existent articulations in the organic agriculture of base family and

to identify organization forms for the commercialization of producers that integrate

the fair, as an initiative of solidary economy, or not. Besides investigating as that

public it is inserted in the principles of the solidary economy and still the strategies to

soften the bottlenecks of the commercialization of the organic production. And the fair

was chosen as base of the research by presenting characteristics in what refers to

the organization of the commercialization of organic products when involving family

farmers of several municipal districts of the State and their social organizations.

Those organizations are that we try to know and to deepen in the discussions about

solidary economy. It is noticed that the organic paradigm of production looks for to

generate sustainability to the family farmers. The solidary economy also search the

sustainability not only of family farmers, but of several actors of the society that they

are excluded of the salaried job market, always in search of solutions starting from

that new dynamics of the economy.

Keywords: Solidary economy. Organic agriculture. Family agriculture.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Feira de produtos orgânicos do Estado do Pará, 2009.................. 45

Figura 2 – Bairro da cidade de Belém, onde acontece a Feira de produtos orgânicos do Estado do Pará, 2009 ......................................... 46

Quadro 1 – Avaliação da feira pelos consumidores, em um total de 20 entrevistados................................................................................... 46

Quadro 2 – Distribuição dos diferentes tipos de organização e seus respectivos municípios, identificados em de 19 entrevistas realizadas........................................................................................ 48

Figura 3 – Tipos de organizações de agricultores que participam da Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009............................. 49

Figura 4 – Cartão de uma das associações que participam da Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009................................................................................... 49

Figura 5 – Etiqueta de produtos de uma das cooperativas que participam da Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009.................................................. 49

Figura 6 – Fatores que influenciam os preços dos produtos, de acordo com agricultores que participam da Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009..................................................................................................................... 50

Quadro 3 – Avaliação dos produtores, em total de 14 entrevistados................ 51

Quadro 4 – Avaliação dos produtores, em total de 18 entrevistados................ 51

Figura 7 – Marcas de produtos comercializados na Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009............................................ 51

Figura 8 – Marcas de produtos comercializados na Feira de Produtos Orgânicos do Estado do Pará, mostrando também o selo da certificadora (IBD), 2009...................................................................................................................... 52

Figura 9 – Motivação para a conversão para agricultura orgânica, de agricultores que participam da Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009..................................................................................................................... 53

Page 10: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

LISTA DE SIGLAS

ANTEAG - Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão

AO - Agricultura Orgânica

ARTEMOS - Associação dos Artesões de Mosqueiro

BID – Banco interamericano do Desenvolvimento

CNPOrg - Comissão Nacional da Produção Orgânica

CONSOL – Cooperativa de Consumo e Comercialização Popular e Solidário

CPOrg-PA - Comissão da Produção Orgânica no Pará

CPOrg-UF - Comissões da produção Orgânica nas Unidade da Federação

CUT- Central Única dos Trabalhadores

EES - Empreendimentos Econômicos Solidários

ES – Economia Solidária

FBES - Fórum Brasileiro de Economia Solidária

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário

MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras

OIT- Organização Internacional do Trabalho

OPAC - Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade

PAA - Programa de Aquisição de Alimentos

PACs - Projetos Alternativos Comunitários

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRÓ - ORGÂNICO - Programa de desenvolvimento da Agricultura Orgânica

SENAES - Secretária Nacional de Economia Solidária

SIES - Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária

SISORG - Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica

SPG - Sistema Participativos de Garantia da Qualidade Orgânica

UNICAFES - União Nacional de Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia

Solidária

UNISOL - União e Solidariedade das Cooperativas

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 11

2. AGRICULTURA ORGÂNICA DE BASE FAMILIAR NO BRASIL E NO ESTADO DO PARÁ........................................................................................... 16

2.1. AGRICULTURA ORGÂNICA/AGROECOLOGIA SEUS PROGRAMAS E COMISSÕES........................................................................................................ 22

3. CRISE CAPITALISTA E ECONOMIA SOLIDÁRIA: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS.................................................................................................. 26

3.1. OS APORTES TEÓRICOS PARA COMPREENDER A CRISE CAPITALISTA.............................................................................................. 26

3.2. ECONOMIA SOLIDÁRIA: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS........... 31

3.3. INICIATIVAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA NA PRODUÇÃO ORGÂNICA.. 37

4. COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ORGÂNICA DE BASE FAMILIAR SEUS GARGALOS E AVANÇOS................................................................ 38

4.1. A FEIRA DE PRODUTOS ORGÂNICOS NO ESTADO DO PARÁ: DA GÊNESE AO MOMENTO ATUAL................................................................ 44

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 55

REFERÊNCIAS......................................................................................... 58

APÊNDICES.............................................................................................. 61

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1. INTRODUÇÃO

As desigualdades sociais resultam da divisão de trabalho, onde existe uma

separação entre o planejamento e a execução de tarefas, ou seja, entre aqueles que

planejam as atividades (que fazem parte da gerência) e que deverão ser executadas

por outras pessoas (trabalhadores de fato) (ZAPATA et al., 2007). Contrapondo a

esse modelo, a economia solidária nasce mostrando um jeito bem diferente das

pessoas se organizarem em torno do seu trabalho e dos benefícios que este pode

produzir. A economia solidária parte de um modelo o trabalho que não tem patrão e

nem empregado, dessa forma busca recuperar o sentido social e ético da economia,

enfrentado desigualdades, pobreza e exclusão.

Segundo Eid (2004, p. 165) “a economia solidária parte de valores distintos

aos valores predominantes na economia capitalista, destacam-se: autonomia,

democracia, fraternidade, igualdade e solidariedade”. Assim, associações ou

cooperativas agropecuárias, industriais, de transporte, de educação escolar, de

hotelaria ecovilas, entre outros, são exemplos de empreendimentos solidários

produtivos.

Estas organizações para Eid e Pimentel (2001, p. 3) “desenvolvem

principalmente atividades econômicas como: plantio, beneficiamento e

comercialização de produtos primários, prestação de serviços, confecções,

alimentação, artesanatos, entre outras”.

Nesta monografia demonstramos a feira de produtos orgânicos como um

espaço de comercialização voltado para agricultura, mas especificamente para

agricultura orgânica de base familiar em contraposição a agricultura chamada

convencional ou moderna, focada unicamente na produção que vem acarretando

alguns problemas ambientais e sociais. Seu objetivo é a maximização da produção e

do lucro, ignorando em suas práticas, a dinâmica ecológica dos agroecossistemas.

Isto porque leva, em determinadas situações, à insustentabilidade e à deterioração

das condições que possibilitam a produção de alimentos para a crescente população

mundial.

O processo produtivo, chamado convencional, está causando diversos fatores

negativos (contaminação da água, do ar, do solo, dos alimentos; perda da fertilidade

e da biodiversidade do solo; problemas de saúde do agricultor que manuseia os

insumos químicos e de toda a sociedade consumidora de alimentos, etc). Esses

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fatores deveriam está contabilizados nos custos de produção, já que o solo, a água,

o ar, a diversidade biológica, ou seja, todo ecossistema é responsável pela

manutenção dos sistemas agrícolas de produção. Sem a preservação desses

recursos naturais os mesmos tendem a diminuir, já que não se pode substituí-los.

O uso de insumos químicos tem sido o meio mais eficaz de garantir a

elevação da produtividade, criando um círculo vicioso, ao mesmo tempo,

degradando cada vez mais os agroecossistemas, o que tem gerado, dessa forma,

uma situação de insustentabilidade agrícola. Essa dependência por insumos

ocasiona maior gasto financeiro, já que muitos desses produtos são importados de

outros países, elevando assim os custos de produção.

Além dessa problemática econômica e ambiental, observamos também os

problemas sociais na agricultura familiar brasileira, devido ao êxodo rural que

acarretam graves pressões aos centros urbanos.

Diante do exporto, é de suma importância encontrar mecanismos que

motivem agricultores e seus familiares a continuarem no campo com qualidade de

vida.

Perante esse pensamento, é que estão sendo implantadas em todo Brasil,

alternativas ao atual modelo. Alternativas essas que diminuem a agressão ao meio

ambiente e não afetam a saúde do agricultor e a da população como um todo,

trazendo dessa forma melhor qualidade de vida para os agricultores familiares sem

que eles precisem sair do meio rural.

Esse novo modelo de produção além de basear-se em norma técnicas para

preservar a qualidade da produção, tem como preocupação as relações sociais e

trabalhistas, nas diversas fases do processo produtivo. Então é bastante visível que

esse novo modelo, chamado de Agricultura Orgânica (AO), está inserido no

paradigma agrícola sustentável, que procura atender as questões de preservação

ambiental, melhoria nas condições sócio-econômica e a produção de produtos de

qualidade e seguro ao consumo humano.

Nesse novo contexto, a agricultura familiar também vem apresentando

resultados e caracterizando um diferencial neste grupo, como de “agricultor

alternativo moderno” como é denominado por Brandenburg (apud SANTOS, 2006 p.

7) em suas pesquisas com os agricultores do centro-oeste paranaense, que

trabalham com agroecologia.

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Esse agricultor familiar “alternativo moderno” se encontra na sua maioria no

Sul e Sudeste do país, enquanto que nas regiões Norte e Nordeste encontra-se em

grande escala, agricultores familiares desamparados, mal produzindo o suficiente

para a própria subsistência.

Santos (2006) ressalta que para alguns autores é na agricultura familiar que

nasce e se fortalece a oposição ao modelo de agricultura “moderna”, não apenas

questionando o uso das tecnologias, mas também como uma forma de manutenção

das famílias de agricultores no campo, passando a ser “um modo de vida”.

No entanto, uma parcela significativa de agricultores familiar do norte do país,

mesmo aderindo às práticas da agricultura orgânica, do qual é baseada no uso de

recursos naturais (sem emprego de adubos químicos e agrotóxicos) ainda continua

com os gargalos da comercialização.

Santos (2006, p. 12) destaca que esses gargalos devem-se as muitas

dificuldades encontradas nos diferentes níveis da comercialização, pois os

agricultores familiares “numa feira que pertence ao subsistema artesanal, as

relações são diretas, já na comercialização com os supermercados [...] as relações

passam a ser de planejamento e contratuais”.

A legislação de orgânicos acaba se tornando outro gargalo, na medida em

que estabelece para os agricultores familiares que desejem realizar a

comercialização direta ou indireta, uma organização social, que deve estar

cadastrada em órgãos fiscalizadores, para isso é imprescindível o espírito de

associativismo entre os atores.

Essa monografia tem como objetivo mostrar as articulações existentes na

agricultura orgânica de base familiar no Estado do Pará, e identificar formas de

organização para a comercialização de produtores que integram a Feira de Produtos

Orgânicos, promovida pela Comissão da Produção Orgânica no Pará – CPOrg-PA,

como uma iniciativa de economia solidária, ou não. Além de investigar como esse

público está inserido nos princípios da economia solidária e ainda as estratégias

para amenizar os gargalos da comercialização da produção orgânica.

Nosso trabalho também procura chamar a atenção de gestores públicos,

agricultores, técnicos, estudantes e outros, em torno do tema da economia solidária,

como uma alternativa de ultrapassar alguns gargalos na medida em que estimula

novos espaços coletivos, como os de rede e movimentos, que debatam e definam as

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necessidades das comunidades, sempre em busca de soluções a partir dessa nova

dinâmica da economia.

A pesquisa focalizou agricultores que integram a Feira de Produtos Orgânicos

que é realizada na cidade de Belém-PA, tendo seu início em novembro de 2007 e

atualmente está na sua 7ª edição. A qual surgiu, a partir das metas traçadas pela

Comissão da Produção Orgânica no Pará, constituida a partir da PORTARIA Nº. 156

de 30 de agosto de 2006, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento –

Superintendência Federal de Agricultura no Pará, para dar suporte à produção da

agricultura orgânica no Estado. Esta comissão é composta por representantes de

organizações governamentais e não governamentais e vários outros segmentos

sociais como: SEBRAE, EMBRAPA, EMATER e outros que atuam no âmbito da

agricultura orgânica.

A feira foi escolhida como base da pesquisa por apresentar características no

que se refere à organização da comercialização de produtos orgânicos ao envolver

agricultores familiares de diversos municípios do Estado e suas organizações

sociais. Essas organizações é que buscamos conhecer e aprofundar nas discussões

sobre economia solidária.

A pesquisa foi realizada em dois momentos: primeiro uma análise documental

da Comissão e material a ela referente, fornecido pela coordenadora da referida

Comissão no Pará, além de utilizar dados de questionários estruturados, obtidos

pelos próprios membros da comissão, os quais continham informações sobre a

expectativa dos consumidores e os resultados dos processos de comercialização

que foram de suma importância para o conhecimento da realidade estudada;

segundo a pesquisa de campo com agricultores que participam da feira.

Ressaltamos, no entanto, que os questionários da Comissão perfazem um total de

14 (quatorze) agricultores entrevistados em um primeiro momento e de 18 (dezoito)

entrevistados em um segundo, enquanto a nossa pesquisa de campo atingiu 19

(dezenove) agricultores, como pode ser observado nos resultados apresentados no

terceiro capítulo desta monografia.

A metodologia de pesquisa de campo utilizada partiu de um roteiro de

entrevista com informantes-chave, ou seja, pelo menos um informante por barraca

de representação municipal foi entrevistado. As entrevistas, de caráter semi-

estruturadas, visavam coletar dados objetivos, com questões abertas para obter

informações relativas a questões como: que tipos de organização fazem parte da

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feira de agricultura orgânica, bem como de onde estes agricultores vêm; como eles

organizam a produção e a comercialização para participar da feira e além da feira;

se conhecem os princípios e práticas da economia solidária e o entendimento sobre

certificação orgânica; quais suas expectativas em relação à feira, bem como, a

expectativa dos consumidores. As entrevistas foram realizadas entre maio e agosto

de 2009 em momentos de realizações de feira.

Essa monografia está dividida em três capítulos. No capítulo 1, abordamos as

questões teóricas sobre agricultura orgânica de base familiar e seu contexto no

Brasil e logo em seguida no Estado do Pará, fazendo um breve diferencial em

relação à agroecologia, além de apresentar as políticas públicas voltadas ao setor. O

capítulo 2 apresenta os aportes teóricos para compreender a crise capitalista, em

seguida volta-se à economia solidária, relacionando essa nova dinâmica da

economia com a agricultura familiar e posteriormente com a agricultura orgânica. O

capítulo 3 parte de uma análise dos gargalos e avanços da comercialização da

produção orgânica de base familiar, a partir da feira de produtos orgânicos no

Estado do Pará, desde a sua origem até o momento atual. Finalmente, as

considerações finais procuram evidenciar os achados da pesquisa, destacando a

importância da construção da feira de produtos orgânicos, sues desafios e suas

potencialidades.

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16

2. AGRICULTURA ORGÂNICA DE BASE FAMILIAR NO BRASIL E NO ESTADO DO PARÁ

Há algumas décadas, quando se falava de alimentos do futuro, imaginavam-

se aqueles alimentos processados, industrializados e até em forma de cápsulas,

conforme se alimentam os astronautas ou se divulgam nos filmes de ficção

científica. Entretanto, não se imaginava que a maior preocupação da sociedade nos

dias atuais fosse à qualidade dos alimentos in natura. A composição bioquímica

desses alimentos foi brutalmente alterada pela forma de produzir. Portanto, a

agricultura precisa racionalizar o consumo de produtos químicos para “fertilizar” as

plantas e para “defendê-las” contra pragas e doenças, e passar a utilizar recursos

naturais e a observar um pouco mais o espaço onde se vive e dessa forma imitar o

comportamento da natureza.

Então, segundo Cierpka1, foi na Europa há 75 anos, através do movimento

Demeter com o intuito de trazer, pelo meio das forças da natureza, um equilíbrio

natural na agricultura assim como em todo o cosmo, que se inicia a agricultura

orgânica. Sendo que para esse autor a principal função da agricultura orgânica é dar

embasamento ao homem no desenvolvimento de um sistema mais sustentável de

agricultura, iniciando com um solo saudável e vivo, que sirva como base para a

saúde das plantas e animais, de forma que produza um alimento de qualidade sem

levar à destruição do meio-ambiente.

Portanto, Saminêz et al. (2007, p. 18), afirma que foi através dos trabalhos do

inglês Albert Howard, entre 1925 a 1930, que surgiu a agricultura orgânica. Esses

trabalhos ressaltam a importância da matéria orgânica nos processos produtivos e

mostram que no solo ocorre uma série de processos vivos e dinâmicos essenciais à

saúde da planta. 1 Para Souza e Resende (2006, p. 36) duas importantes explicações necessitam ser feitas para se conhecer adequadamente os alimentos orgânicos:

Primeira: não se pode confundir alimentos orgânicos com os alimentos naturais que são vendidos em lojas especializadas. Para se caracterizar um produto como orgânico, significa que durante todo o processo produtivo se empregou técnicas e métodos não agressivos ao meio ambiente. Por outro lado, “produtos naturais” se referem muito mais a “produtos integrais”, não identificando a

1 Conforme site sem data oficial de publicação. http://www.planetaorganico.com.br/comjusto.htm

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maneira como foi produzido, sendo quase sempre oriundos de sistemas agroquímicos de produção. Segunda: alimentos orgânicos não se referem apenas a alimentos sem agrotóxicos. Além de não conter esses agentes químicos, também não se utiliza adubos químicos e diversos outros produtos que possam deixar resíduos nos alimentos ou degradar o solo, as águas e outros componentes do meio ambiente.

Além disso, Souza e Resende (2006, p. 36) ressaltam que “o sistema orgânico

de produção se baseia em normas técnicas bastante rigorosas para preservar

integralmente a qualidade do produto. Consideram inclusive as relações sociais e

trabalhistas envolvidas nas diversas fases do processo produtivo”.

O sistema orgânico de produção envolve a cadeia como um todo, na fase de

campo emprega princípios, técnicas e métodos naturais, como cultivo em ambientes

diversificados em fauna e flora, uso de matéria orgânica, adubação verde,

biofertilizantes, dentre outros. Na fase de processamento, também não se emprega

aditivos, conservantes e outros artifícios. Na fase de comercialização, o produto

deve ser protegido contra possíveis contaminações por contato, motivo pelo qual

são vendidos em embalagens fechadas.

Então, é dessa forma que a agricultura vem se transformando, principalmente

pela necessidade de preservação ambiental e também pela preocupação por

alimentos mais saudáveis, menos maléficos para a saúde do agricultor e de seus

familiares.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (apud CASTRO, 2005,

p.1) ao explicar à expansão da agricultura orgânica ressalta que, “também pode ser

atribuída ao desenvolvimento de um mercado mais justo para produtores e

consumidores, que é altamente gerador de empregos”.

Para CASTRO (2005, p. 1) “verifica-se desta maneira a importância social deste

tipo de agricultura, que possui também como prerrogativa ser ambientalmente

correta e economicamente viável”.

É a partir dessas observações que Barbosa (2007a, p. 18) frisa que

o sistema de produção orgânico pode gerar um ambiente propício à geração de sustentabilidade no meio rural, ao tempo em que pode abastecer os centros urbanos com alimentos mais saudáveis e benéficos à saúde humana e diminui a pressão social nesses centros urbanos.

Page 19: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

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Segundo Souza e Resende (2006, p. 716) “A Agricultura Orgânica tem

apresentado um crescimento expressivo em nível mundial, principalmente em área

plantada e oferta de produtos”.

Na América Latina, Souza e Resende (2006), por sua vez, afirmam que as

estatísticas ainda são escassas, no entanto, Abreu (2005), ressalta que o Brasil

possui a segunda maior área de produção agrícola orgânica no mundo, perdendo

apenas para a Austrália.

Portanto, Souza e Resende (2006) frisam que na América Latina a maioria dos

países não possui uma legislação eficiente, que regula a produção e a

comercialização de alimentos orgânicos. A Argentina saindo na frente e sendo o

país mais desenvolvido no setor orgânico estabeleceu seu regulamento desde 1994,

mas países como Brasil, Chile e Paraguai também já iniciaram o processo de

regulamentação.

Com relação à regulamentação, a expansão da agricultura orgânica nos países

da América Latina dependerá, entre outros fatores, de uma legislação eficiente e

adaptada às condições regionais de cada país, regulamentando dessa forma o

produto orgânico. Além disso, os processos de certificação, de acordo com as

peculiaridades de cada país devem ser mais eficientes e participativos,

considerando não só aspectos tecnológicos, mas também sociais.

No Brasil Souza e Resende (2006), afirmam que praticamente todos os estados

brasileiros já apresentam produção orgânica, porém, os estados do Paraná e de São

Paulo são responsáveis por cerca de 80% da produção.

Brandenburg (apud SANTOS, 2006, p. 7) pesquisando os agricultores do centro-

oeste paranaense, que trabalham com a agroecologia, os denomina de “agricultor

alternativo moderno” como uma subcategoria do “agricultor familiar moderno” do

autor Lamarche (apud SANTOS, 2006 p. 7) que os define

com mais autonomia em relação ao mercado que os demais, não são totalmente do tipo camponês nem totalmente empresarial, a autonomia alimentar é considerada ponto importante, são mais ligados ao patrimônio, e são semi-intensivos no manejo da unidade de produção.

Mas Santos (2006, p. 7) ressalta que “deve-se ter o cuidado para não associar

agricultura sustentável ou agroecologia com agricultura familiar por não serem

sinônimos necessariamente e isso não deve ficar subentendido”.

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Partindo desse princípio podemos dizer que o agricultor familiar que trabalha

com agricultura orgânica, que não é o mesmo que agroecologia se diferencia dos

demais até ao ponto de se criar uma subcategoria dentro da própria agricultura

familiar.

Logo, o “agricultor familiar moderno” caracterizado pelo autor Lamarche que

demonstrou em seus estudos que existe uma agricultura familiar heterogênea, com

especificidades em função das regiões em que se inserem, está localizado na sua

maioria no Sul e Sudeste do país, enquanto que nas regiões Norte e Nordeste,

encontra-se segundo Bloch (2008, p. 12) “a família camponesa pobre, a mercê das

variações climáticas e econômicas, mal produzindo o suficiente para a própria

subsistência”.

Já se referindo à região Norte, nos voltaremos aqui mais ao Estado do Pará,

onde os dados de produção de agricultura orgânica mais especificamente de base

familiar, ainda não foram lançados.

Dentre os produtos orgânicos certificados no Estado do Pará, segundo Planeta

Orgânico (2009), se tem óleos vegetais, guaraná, palmito e produtos de palma de

dendê.

Portanto, os dados pesquisados por meio da CPOrg-PA, revelam que há mais

produtos como cacau, açaí, pimenta, café e cupuaçu na Transamazônica; açaí em

Castanhal; castanha do Pará em Oriximiná; laranja em Capitão Poço; priprioca e

outros produtos extrativistas em Acará.

Atualmente, o Pará tem milhares de produtores orgânicos, ainda sem

certificação. É o caso dos que lidam com a produção de açaí, onde boa parte da

produção da fruta-símbolo do Estado é produzida sem qualquer tipo de intervenção

química, ou seja, sem nenhum agroquímico.

Portanto, a legislação brasileira e também a lei nº 7.043 de 2007, que dispõe

sobre política estadual para a promoção do uso de sistemas orgânicos de produção

agropecuária e agroindustrial no Estado do Pará, são fatos recentes, e o processo

produtivo no Estado ainda estar se fortalecendo. No entanto, é um mercado cada

vez mais em expansão no mundo todo, e no Pará não deixa de ser diferente, pois,

tem avançado, e agricultura familiar sendo inserida nesses avanços.

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20

2.1. Agricultura Orgânica/Agroecologia seus programas e comissões

No Brasil, a partir da década de 70, surgiram vários movimentos contestatórios à

chamada “modernização conservadora da agricultura”. Eles se unem, mais tarde,

dentro do movimento de “agricultura alternativa”, que, depois, parece se polarizar

entre a agricultura orgânica e a agroecologia. O principal marco legal da agricultura

orgânica brasileira é definido pela Lei nº 10.831 de 23/12/2003 (SANTOS, 2006, p.

1).

Dentro das diferenças ideológicas, o “movimento orgânico”, como é chamado

por Carvalho (apud SANTOS, 2006 p.1) “acredita que a mudança possa vir de forma

gradativa através do protagonismo da sociedade em geral, construindo novas regras

para regulamentação de relações sociais que sejam includentes da agricultura

familiar”. Já o “movimento agroecológico” segundo o mesmo autor “busca construir

um modelo alternativo de sociedade que se alicerce na concepção do protagonismo

do produtor”.

Buscando essa identificação ressaltasse Santos (2006 p. 16) que lembra que

no estudo do mercado de produtos orgânicos é possível identificar duas visões distintas. Para uns, os produtos orgânicos representam um “nicho de mercado”. Para outros, eles são uma possibilidade de inserção da agricultura familiar na construção de um modelo de desenvolvimento que vai muito além das questões agrícolas

A agroecologia como uma nova abordagem, apresenta uma série de princípios e

metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar sistemas de produção

de base ecológica. Tudo isso integrando os conhecimentos científicos (agronômicos,

veterinários, zootécnicos, ecológicos, sociais, econômicos e antropológicos) aos

conhecimentos populares para a compreensão, avaliação e implementação de

sistemas agrícolas com vista à sustentabilidade (SAMINÊZ et al., 2007).

Quanto à relação entre agroecologia e agricultura orgânica Saminêz et al.

(2007, p. 18), afirma que “agroecologia é a ciência que norteia os sistemas

orgânicos de produção 2, ao passo que a agricultura orgânica é a aplicação prática

dos conhecimentos gerados pela agroecologia”.2

2 Conceito de sistemas orgânicos de produção abrange os seguintes denominados: ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico, permacultura e outros que atendam os princípios estabelecidos na Lei nº 10.831 de 23/12/03.

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21

No entanto, quando o autor coloca que a agricultura orgânica é a aplicação

prática dos conhecimentos gerados pela agroecologia, ressalta-se que o conceito de

agricultura orgânica é antigo e que nem sempre foi norteado pela agroecologia, e

que o produto orgânico não pode ser dito como agroecológico, mas, todo produto

agroecológico é orgânico, já que a agroecologia vai muito além das técnicas de

produção.

Através do exposto, mostramos como os sistemas orgânicos de produção

estão atualmente sendo norteados pela agroecologia, quando seus princípios vão

além dos aspectos tecnológicos:

• Contribuição da rede de produção orgânica ao desenvolvimento local, social e econômico sustentável. • Manutenção de esforços contínuos da rede de produção orgânica no cumprimento da legislação ambiental e trabalhista pertinentes na unidade de produção, considerada em sua totalidade. • Relações de trabalho baseadas no tratamento com justiça, dignidade e equidade, independentemente das formas de contrato de trabalho. • Incentivo à integração da rede de produção orgânica e à regionalização da produção e comércio dos produtos, estimulando a relação direta entre o produtor e o consumidor final. • Produção e consumo responsáveis, comércio justo e solidário baseados em procedimentos éticos. • Desenvolvimento de sistemas agropecuários baseados em recursos renováveis e organizados localmente. • Inclusão de práticas sustentáveis em todo o seu processo, desde a escolha do produto a ser cultivado até sua colocação no mercado, incluindo o manejo dos sistemas de produção e dos resíduos gerados. • Oferta de produtos saudáveis, isentos de contaminantes oriundos do emprego intencional de produtos e processos que possam gerá-los e que ponham em risco a saúde do produtor, do trabalhador ou do consumidor, e o meio ambiente. • Preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais, a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção, com especial atenção ás espécies ameaçadas de extinção, à diversificação da paisagem e á produção vegetal. • Uso de boas práticas de manuseio e de processamento com o propósito de manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas. • Adoção de práticas na unidade de produção que contemplem o uso saudável do solo, da água e do ar de modo a reduzir ai mínimo todas às formas de contaminação e desperdício desses elementos. • Conservação progressiva de toda a unidade de produção para o sistema orgânico. • E outros (SAMINÊZ et al., 2007, p. 22).

Page 23: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

22

Contudo, a base do conhecimento agroecológico existente hoje no Brasil se

deu, fundamentalmente, pela troca de saberes e conhecimentos entre técnicos,

produtores e consumidores que se interessaram e se dedicaram a esse tema3.

Para expandir a temática o governo brasileiro começou a adotar algumas

medidas que objetivam um acréscimo na construção e socialização do

conhecimento agroecológico. Entre elas podemos destacar: Comissão

Interministerial para o estabelecimento de Políticas Públicas na Área da Educação

em Agroecologia e Sistemas Orgânicos de Produção3.

Nesta Comissão participam representantes de vários Ministérios como: da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento; da Educação; do Meio Ambiente; do

Desenvolvimento Agrário e da Ciência e Tecnologia e tem a finalidade de construir,

aperfeiçoar e desenvolver políticas públicas para a inclusão e incentivo à abordagem

da agroecologia e de sistemas orgânicos de produção nos diferentes níveis e

modalidades de educação e ensino, bem como no contexto das práticas e

movimentos sociais, do mundo do trabalho e das manifestações culturais3.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com o Pró-

orgânico (Programa de desenvolvimento da Agricultura Orgânica) disponibilizou

alguns recursos para o desenvolvimento da agricultura orgânica no Brasil.

Para assessorar esse programa, o referido Ministério determina através da

Portaria nº 158, de 8/07/04 a criação da Comissão Nacional da Produção Orgânica –

CNPOrg e as Comissões da produção Orgânica nas Unidade da Federação –

CPOrg-UF, posteriormente a Instrução Normativa nº 54, de 22/10/2008, revoga a

Portaria citada anteriormente, alterando as atribuições das comissões, que passam

a ter finalidade de auxiliar nas ações necessárias ao desenvolvimento da produção

orgânica, tendo por base a integração entre os diversos agentes da rede de

produção orgânica do setor público e do privado, e a participação efetiva da

sociedade no planejamento e gestão democrática das políticas públicas.

Além, desses incentivos e com o objetivo de articular e contribuir para o

desenvolvimento científico e tecnológico na área da agricultura orgânica a Embrapa

aprovou a criação de um projeto em rede denominado “Bases Científicas e

Tecnológicas para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica no Brasil”, formada

por representantes de 27 Unidades da Embrapa e 25 instituições parceiras, como

organizações não governamentais, universidades e outras instituições de pesquisa 3.

Page 24: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

23

Para minimizar a carência de profissionais capacitados a prestarem

assistência técnica aos produtores rurais que desejam trabalhar segundo princípios

agroecológicos o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) tem desenvolvido

uma política de capacitação de técnicos dos órgãos oficiais de assistência técnica e

extensão rural com ênfase na agroecologia e no desenvolvimento rural sustentável 3.

Outra prática que vem sendo estimulada é a criação de “Bancos Comunitários

de Sementes” que permitam o aumento do intercâmbio de materiais genéticos

adaptados regionalmente e mais apropriados aos sistemas produtivos dos

agricultores familiares. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento vem

incentivando e promovendo a criação desses Bancos para sementes de “adubos

verdes”, tendo como uma das principais finalidades a redução da dependência de

insumos externos3.

A participação da agricultura orgânica de base familiar como fornecedora dos

mercados institucionais vem crescendo, em particular por meio do Programa

Alimentação Escolar, que é o maior comprador público de alimentos. Também

crescem as experiências de fornecimento de alimentos orgânicos e de produtos da

sociobiodiversidade para populações sob insegurança alimentar e nutricional, com

alimentos adquiridos diretamente de agricultores familiares, por meio do Programa

de Aquisição de Alimentos (PAA)3.

A avaliação da conformidade4 por organismos credenciados junto ao

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento passou a ser obrigatória para

todos os produtos orgânicos comercializados no Brasil que passam a ser

identificados pelo uso do selo oficial do Sistema Brasileiro de Avaliação da

Conformidade Orgânica – SISORG. A exceção a essa obrigatoriedade só se aplica

para a venda direta aos consumidores, por agricultores familiares vinculados a

organizações de controle social5 cadastradas junto a um órgão governamental

fiscalizador3.

Page 25: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

24

3No Estado do Pará o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento –

Superintendência Federal de Agricultura no Pará, através da PORTARIA Nº. 156 de

30 de agosto de 2006, constituiu a Comissão da Produção Orgânica no Pará

(CPOrg-PA), que é composta por representantes de organizações governamentais e

não governamentais e demais segmentos do setor privado com atuação no âmbito

da agricultura orgânica. Essa Comissão está divulgando a produção orgânica no

Estado, assim como, incentivando os mecanismos de organização com controle

social e o sistema participativo de garantia da qualidade orgânica, que facilita a

venda direta e indireta por agricultores familiares.

O sistema participativo de garantia da qualidade orgânica é ressaltado por

Tedesco (2006, p. 66 apud BARBOSA 2007a, p.92) quando afirma que

[...] a certificação participativa é um sistema solidário de geração de credibilidade. O selo de certificação expressa que o produto foi gerado com respeito ao meio ambiente e que é fruto de relações sociais saudáveis. E o mais importante é que a aplicação dos princípios e a verificação das normas de produção ecológica são realizadas com a participação efetiva dos agricultores e consumidores envolvidos no processo, o que garante o aperfeiçoamento constante e o respeito às características de cada região.

Tedesco (2006 apud Barbosa 2007a, p.92) também destaca alguns “[...]

aspectos que caracterizam e fundamentam o processo de certificação participativa,

tais como: (a) a construção da autonomia; (b) a geração de identidade; (c) a geração

de credibilidade; e (d) o processo pedagógico”.

3 Conforme site sem data oficial de publicação: (http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/docs/PAGE/MAPA/MENU_LATERAL/AGRICULTURA_PECUARIA/PRODUTOS_ORGANICOS/AO_PRO_ORGANICO/CONFER%CANCIA%20FAO%20-%20DOCUMENTO%20CSAO%20%205.PDF). 4 A avaliação da conformidade é o procedimento que inspeciona, avalia, garante e informa se um produto ou processo está adequado às exigências específicas da produção orgânica. Essa avaliação pode ser feita por certificadoras ou por um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC). As certificadoras, não estão envolvidas no processo produtivo, que inspecionam as condições técnicas, sociais e ambientais, verificando se estão de acordo com as exigências dos regulamentos específicos da produção orgânica, certificando as unidades produtivas. 5 Os mecanismos de organização com controle social são os próprios produtores organizados localmente, garantindo e informando diretamente aos consumidores a qualidade de seus produtos. Nesse processo há co-responsabilidade entre os produtores envolvidos, sustentados na participação, comprometimento, transparência e confiança, podendo a veracidade da qualidade da produção de um produtor ser verificada e garantida por outro produtor, formando um Sistema Participativos de Garantia da Qualidade Orgânica (SPG). Esse sistema, quando em venda indireta, deve ser ligado a um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC), que é a pessoa jurídica que assume a responsabilidade formal pelo conjunto de atividades desenvolvidas num SPG.

Page 26: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

25

Entre as atribuições da Comissão destacamos:

• Emitir parecer sobre regulamentos que tratem da agricultura orgânica;

• Propor à CNPOrg regulamentos que tenham por finalidade o

aperfeiçoamento da rede de produção orgânica no âmbito nacional e

internacional;

• Assessorar o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica;

• Contribuir para elaboração dos bancos de especialistas capacitados a

atuar no processo de acreditação;

• Articular e fomentar a criação de fóruns setoriais e territoriais que

aprimorem a representação do movimento social envolvido com a

produção orgânica;

• Discutir e propor os posicionamentos a serem levados pelos

representantes brasileiros em fóruns nacionais e internacionais que tratem

da produção orgânica;

• - Emitir parecer sobre pedidos de credenciamento de organismos de

avaliação da conformidade orgânica (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2009a).

A CPOrg-PA é coordenada por uma técnica nomeada pela

Superintendência Federal de Agricultura (SFA) do Estado, que é responsável por

conduzir o processo para escolha, pelo setor privado, de seus representantes. A

Chefia da Divisão Técnica da SFA-PA, é a responsável pela definição dos membros

representantes do setor público, devendo para isso ouvir os representantes do setor

privado.

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26

3. CRISE CAPITALISTA E ECONOMIA SOLIDÁRIA: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS

3.1. Os aportes teóricos para compreender a crise capitalista

Fazendo primeiramente uma reflexão aos momentos históricos, destaca-se a

Revolução Francesa que é considerada como o acontecimento que deu início à

idade comtemporânea e que está marcada de maneira geral, pelo desenvolvimento

e consolidação do regime capitalista no ocidente e, consequentemente pelas

disputas das grandes potências européias por territórios, matérias-primas e

mercados consumidores.

Essa dominação das grandes potências aos territórios e as matérias-primas,

nos remete ao que diz Lessa, (2007a, p.132) “que sem a transformação da natureza

o capital produzido ou valorizado pela exploração do trabalho abstrato não poderia

sequer existir”.

Com essas mudanças, o trabalho que antes só tinha valor de uso, ou de

troca, ou de consumo, passa a ter valor de mercadorias, ou seja, valor de venda,

sendo fundamental para acumulação do lucro, atravéz da exploração da atual forma

de trabalho, o trabalho abstrato, que é aquele que o trabalhador realiza mais que

não pertence a ele, ou seja, ele não tem acesso.

Além disso, com a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra entre 1770 e

1830, tivemos no espaço produtivo a introdução de maquinarias o que permitiu a

intensificação da inserção da força de trabalho feminina, além de enorme exploração

da força de trabalho infantil, como é retratado no filme “DAISEN”.

Isso também pode ser explicado com as palavras de Nogueira (2006, p.165),

“o capitalismo, ao necessitar de expansão da extração de mais-valia, ampliou seu

campo produtivo de exploração incorporando amplamente as mulheres e as crianças

nesse espaço, intensificando ainda mais a precaridade de toda a classe

trabalhadora”.

Para atender as demandas do capitalismo, o trabalho precisa obedecer a um

tempo médio para realizar uma atividade, passa a obedecer uma divisão social de

tarefas, caracterizado por Marx, (1890), “como trabalho coletivo” separando o

“trabalho intelectual” do “trabalho manual”, cabendo ao proletariado a função social

de produzir todo o “conteúdo material da riqueza social” burguesa, e ainda como

Page 28: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

27

ressalta Lessa (2007b, p.160), “o assalariado assim como o proletariado, se ocupam

das mais diversas funções de controle das pessoas e dos processos produtivos,

sendo integrantes do “trabalho intelectual” que se “opõe como inimigo” “ao trabalho

manual””.

E, além disso, para atender ao capital é preciso que o trabalho gere mais valia

e agregue valor à matéria prima, caracterizado por Marx, (1890), “como trabalho

produtivo”. Então, o trabalho proletariado está ligado diretamente a essa produção, e

o trabalho assalariado com a agregação de valor. E complementando,

esse fato acaba pó garantir, por um lado, a expansão capitalista e, por outro, a intensificação da exploração e da miséria da classe trabalhadora, uma vez que os salários, de certa forma, são determinados justamente por essa relação entre os trabalhadores ativos e os da reserva, gerando uma competição ininterrupta pelo excedente constante dos trabalhadores (NOGUEIRA, 2006, p.168).

Segundo Nogueira (2006) será a partir do final do século 19 e início do século

20, que o modo de produção capitalista, tendo como núcleo a grande indústria,

gerou, então, dois novos processos de trabalho, que se generalizarão no conjunto

da indútria capitalista: o taylorismo e o fordismo.

O modelo taylorismo foi proposto em 1911 pelo norte-americano Frederick W.

Taylor, cujo propunha uma intensificação da divisão do trabalho, ou seja, fracionar

as etapas do processo produtivo de modo que o trabalhadosr desenvolvesse tarefas

ultra-especializadas e repetitivas. Diferenciando o trabalho intelectual do trabalho

manual. Fazendo um controle sobre o tempo gasto em cada tarefa e um constante

esforço de racionalização, para que a tarefa seja executada num prazo mínimo.

O fordismo, foi quando o norte-americano Ford pôs em prática, na sua

empresa “Ford Motor Company”, as idéias do taylorismo. Inovando dessa forma com

o processo do fordismo, através do método de racionalização da produção em

massa, que consistia em organizar a linha de montagem de cada fábrica para

produzir mais, controlando melhor as fontes de matérias-primas e de energia, os

transportes e a formação da mão-de-obra.

O fordismo era no entanto um conceito limitado como o tempo veio a provar,

pois o que o sistema fordista não previa eram as crises cíclicas que se abatem sobre

o sistema capitalista. Várias foram as razões para o colapso desse sistema a partir

de 1973, entre as quais o fato de que a Europa e o Japão começarem a se

recuperar da guerra mundial e começarem, especialmente a Europa a criar

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28

excedentes de produção diminuindo de sobre maneira as importações vindas dos

EUA e também devido ao aumento do poder de compra e consequentemente baixa

dos juros nos EUA, mas o último e se calhar o mais importante, foi o choque

petrolífero da década de 70.

Então, a partir desse momento começamos a observar as transformações na

economia política do capitalismo no final do século XX, pois são abundantes os

sinais e marcas de modificações radicais em processos de trabalho, hábitos de

consumo, configurações geográficas e geopoliticas, poderes e práticas do Estado

etc. Portanto, de acordo com Harvey, 1989, podemos ressaltar que mesmo frente a

essas transformações, ainda é visível no Ocidente uma sociedade em que a

produção está em função do lucros e que isso permanece como princípio

organizador básico na vida econômica.

Com isso, nesse novo espaço social criado por todas as oscilações e

incertezas, uma série de experiências nos domínios da organização industrial e da

vida social e política começa a tomar forma e, tem início, através de um processo de

transição rápido, o regime de acumulação, que segundo Harvey, 1989, configura-se

dessa forma “uma passagem do fordismo para o que poderia ser chamado regime

de acumulação “flexível”, que é marcado por um confronto direto com a rigidez do

fordismo”.

Esse novo regime que ainda é uma forma de capitalismo, substitui a produção

em massa por uma produção em pequenos lotes, sem estoque e de variedade de

tipos de produtos, o que atende uma gama mais ampla de necessidades do

mercado, voltada dessa forma, para atender a demanda e não aos recursos. Ele

também permite uma aceleração do ritmo da inovação do produto, o que facilita a

exploração de nichos de mercado altamente especializados.

Com relação ao trabalhador, esse novo regime se apropria dos mesmos com

a realização de múltiplas tarefa, pagamento pessoal através de bonificações,

especialização em várias tarefas com longos treinamentos no trabalho e

organização mais horizontal no trabalho.

O Toyotismo, como também é chamado esse novo regime, é ressaltado por

Antunes (1995, p.28), por estruturar-se “a partir de um número mínimo de

trabalhadores, ampliando-se através de horas extras, trabalhadores temporários ou

subcontratação, dependendo das condições de mercado”.

Page 30: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

29

Portanto, isso tudo implica níveis relativamente altos de desemprego, que

também é consequência da substituição da força física humana por novas

tecnologias produtivas (automação e robôs).

Acumulação flexível, assim, é a nova maneira encontrada pelo capitalismo

para superar suas crises cíclicas e suas contradições internas e, dessa forma,

permitir a reprodução do capital e sua concentração nas mãos da elite capitalista. A

acumulação é de capital.

O sistema capitalista tem contradições internas insuperáveis, a taxa de lucro

depende diretamente da taxa de exploração da força de trabalho. Assim, se o

capitalismo visa sempre ao aumento do lucro, a exploração do trabalho é igualmente

intensificada.

Com essas profundas transformações no mundo do trabalho através do

sistema capitalista, observamos a exclusão de milhares de trabalhadores, onde

Antunes (1995, p. 15) afirma que “a classe-que-vive-do-trabalho sofreu a mais aguda

crise deste século, que atingiu não só a sua materialidade, mas teve profundas

repercussões na sua subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes níveis,

afetou a sua forma de ser”.

Então, com essas formas transitórias de produção, direitos e conquistas

históricas dos trabalhadores são substituídas e eliminadas do mundo de produção.

É a partir daí que começa a surgir o que Alves (2007, p.113), chama de

“processo de precarização do trabalho, que é o processo de diluição (ou supressão)

dos obstáculos constituídos pela luta de classe à voracidade do capital no decorrer

do século XX”. Isso causou o que é explicitado por Alves (2007, p.113), “a

precariedade como condição ontológica da força de trabalho como mercadoria”.

Além disso, essa mudança na estrutura produtiva e no mercado de trabalho

possibilitou também a incorporação e o aumento da exploração da força de trabalho

das mulheres em ocupações de tempo parcial, além de excluir desse mundo do

trabalho os mais jovens e os mais velhos. Com isso, Antunes (1995, p.53), ressalta

que

a consequência dessa processualidade, quando remetida ao mundo do trabalho, que também foi dito por Harvey, 1989, “ o trabalho organizado foi solapado”. Ocorreram altos níveis de desemprego estrutural e houve retrocesso da ação sindical. O individualismo exacerbado encontrou, também, condições socais favoráveis, entre tantas outras consequências negativas.

Page 31: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

30

Quando ele cita o desemprego estrutural se remete a classe de nível mais

baixo, aqueles da base da produção, e quanto ao retrocesso da ação sindical, este

passa a ser, a partir dessas transformações, um negociador coletivo, pois os

sindicatos existem por empresas e têm garantidas altas taxas de sindicalização.

Portanto, uma das marcas mais intensas do precário mundo do trabalho no

século XXI é o surgimento de um contingente imenso de trabalhadores vendedores

de mercadorias e prestadores de serviços com mercadorias dos mais diversos tipos.

Voltando-se um pouco para região Amazônica, essas marcas intensas do

precário mundo do trabalho, sempre existiram desde os primórdios da colonização

até o dia de hoje, começando no século XVI com a exploração de índios que eram

comercializados na Europa como escravos, depois sendo escravos em suas

próprias terras pela violência colonizadora, o chamado Sistema dos Capitães de

Aldeia.

Mais adiante com a consolidação do capitalismo como modo de produção,

voltado à acumulação de capital pela grandes potencias, a Amazônia passou a ser

foco mais ainda de exploração, já que se procurava toda e qualquer possibilidade de

contribuição da natureza para a acumulação capitalista.

Assim na segunda metade do século XIX, a borracha emerge como a grande

matéria prima para essa acumulação, o que marca como uma das maiores

transformações históricas sobre a região e também de muita exploração do trabalho,

deixando assim a miséria, como contribuição da Amazõnia à acumulação de capital.

Depois do declinío da borracha, na segunda metade do século XX, o Brasil

abriu seu patrimônio mineral à ação privada, significando o apossamento das mais

importantes jazidas minerais da Amazônia pelos grandes grupos de capital,

expulsando milhares de pessoas de suas terras e deixando assim mais uma vez a

miséria na Amazônia, não contribuindo assim ao real desenvolvimento pois não

tinha a massa da população nem a classe trabalhadora como alvo central a ser

beneficiada.

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31

3.2. Economia solidária: convergências e divergências

Eid e Chiariello (2007) por sua vez, afirmam que no percurso histórico de

precarização do trabalho e crescente desemprego, outras formas alternativas de

inclusão em atividades econômicas, que ofereça emprego e renda reaparecem no

debate contemporâneo. É afirmado por eles que uma dessas formas alternativas se

dar por meio da associação de trabalhadores em cooperativas.

Gonçalves (apud EID; CHIARIELLO, 2007) destaca três modalidades

diferentes de cooperativas: as convencionais ou capitalistas, cujo a gestão do

empreendimento se baseia por indicadores de eficiência econômica e otimização

dos resultados; as fraudulentas que são parte das capitalistas; e as populares

inseridas na Economia Solidária (ES), a qual será tratada neste trabalho. Ainda

segundo o autor, as cooperativas de economia solidária tem como objetivo oferecer

melhores condições de vida aos associados, como também manter eficácia e

permanência no mercado, preservando seus princípios de solidariedade e união,

oferecendo dessa forma, produtos de qualidades ao mercado consumidor. Nesse

tipo de cooperativa espera-se que a organização do trabalho, seja guiada pelo

pensamento marxista, cujo Eid e Chiariello (2007, p.4) ressaltam que

[...] se deseja que os resultados sociais sejam priorizados em relação ao econômico pela adoção de ferramentas de gestão que priorizem a dimensão sócio-econômica dos associados, focalizando as relações internas de produção e de trabalho sob a luz de suas demandas endógenas.

Como este trabalho refere-se mais especificamente para as organizações de

economia solidária no Brasil, destaca-se Singer (2006a) que por sua vez afirma que

essas iniciativas começam a desenvolver-se vigorosamente no país, a partir da

última década do século passado, mas tem sua origem quando ocorre o

renascimento dos movimentos sociais, oriundos da imensa crise social,

desencadeada por políticos neoliberais de abertura do mercado internos às

importações, de juros elevados e ausência de desenvolvimento, que caracterizou as

duas décadas do século XX como perdidas, o que acarretou o fechamento de

empresas, redução da produção e do emprego e conseqüentemente desemprego

em massa. Singer (2006a, p.201) também reporta que

A economia solidária surge como reação à crise, na forma de numerosas iniciativas locais: a Cáritas cria (já a partir dos 1980)

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32

milhares de Projetos Alternativos Comunitários – PACs, sob o lema “a solidariedade liberta; o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST passa desde o fim dos 1980, a construir cooperativas agropecuárias nos assentamentos de reforma agrária: da Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria – o maior movimento de massas da história recente do Brasil – surgem em meados dos 1990, as Incubadoras Universitárias de Cooperativas Populares; da transformação de empresas em crise falimentar em Cooperativas pelos seus próprios empregados surge, mais ou menos na mesma época , a Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão – Anteag, e alguns anos mais tarde, a União e Solidariedade das Cooperativas - Unisol. [...] a fundação da União das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária – Unicafes (com cerca de 700 cooperativas, do Banco de Palmas em Fortaleza e numerosas outras iniciativas de desenvolvimento local nos bolsões de pobreza.

Diante de tantas iniciativas, e mais especificamente as dos agricultores que

vivem no meio rural pode-se fazer uma pergunta: será que iniciativas de economia

solidária surgem no meio rural, muito antes da crise, já que os agricultores

familiares sempre estiveram fora do mundo de trabalho formal e já praticavam

iniciativas de produção agrícola, em forma de mutirões e realizavam trocas de

produtos?

Além disso, é interessante destacar que a partir de 2001, Singer (2006a)

afirma o surgimento de sucessivos Fóruns Sociais Mundiais que darão ensejo à

cristalização da identidade da economia solidária (também conhecida como

economia popular solidária, sócioeconomia solidária e outras variantes).

A partir da eleição do Presidente Lula, em 2002, surge a Secretária Nacional

de Economia Solidária – SENAES, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, e

através da III Plenária Nacional de Economia Solidária, fundou-se o Fórum Brasileiro

de Economia Solidária – FBES.

Diante de ações públicas, destaca-se Barbosa (2007b) que faz uma

abordagem sobre a política pública da economia solidária, ressaltando como essa

política, através das pressões sociais, ressurge formas de trabalho desprotegido,

como o trabalho assalariado perde o sentido e, como o Estado perde a função de

responsável social pela promoção do emprego.

A economia solidária no projeto de governo do presidente Lula, é exibida por

Barbosa (2007b) quando o MTE assume a economia solidária dentro de uma

secretaria própria SENAES e garante a cidadania através do cooperativismo.

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33

Mas nesse governo é perceptível tanto no sentido do cooperativismo

tradicional representado pela Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB como

pelo “novo cooperativismo” que se acomoda na SENAES, afirmando Barbosa

(2007b) a dubiedade política no investimento dessa área.

Mas perante tanta contrariedade, se tem a idéia da economia solidária, como

um tipo específico e passível de se multiplicar em diferentes modos produtivos,

porém Barbosa (2007b) confronta afirmando a dinâmica capitalista e as relações

sociais que engendra como totalidade social, e permanece assim tratada por ter um

sentido político severo e por não ter histórico e materiais concretos. Mas a autora

ressalta que os protagonistas dessa história, são oriundos das lutas sociais do

Brasil, e são essenciais nessa reforma moral que atinge o trabalho nos últimos anos.

Sendo assim, é possível encontrar iniciativas de economia solidária tanto no

meio urbano, quanto no rural, tanto em prestações de serviços como em cadeias

produtivas. E são estas diferentes especificidades e os responsáveis por elas é que

podem garantir que essa história não fique só como uma política de governo e sim

como uma política pública que apóie e garanta melhores condições de vida para

milhares de pessoas que estão fora do mercado de trabalho dito formal. Pois, Singer

(2006a, p.202) afirma que

A economia solidária avançaria mesmo se não contasse com políticas de apoio por partes de governos locais, regionais e nacional. Mas estas políticas são decisivas para ajudar os mais pobres a se auto organizar para coletivamente desenvolver trabalho e obter renda.

Mas ainda diante de tantas controvérsias, Barbosa (2007b) realça que a

economia solidária quando vinculada ao movimento social e contra o capitalismo,

mostra distintos enfrentamentos, o do desemprego estrutural e da informalidade do

trabalho, no entanto, quando acompanha programas de geração de renda no campo

da proteção social e fomenta a cultura do auto-emprego, apresenta controvérsia,

pois o primeiro excita formas de ocupação e o segundo idéias de classe dominante.

É verdade que no meio de diversos defensores desse meio, há os que

acreditam que as iniciativas de economia solidária podem substituir a forma de

trabalho capitalista, e há os que acreditam que essas iniciativas são alternativas de

ocupação e que no mundo de competições em que vivemos talvez essas sejam as

melhores saídas.

Page 35: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

34

É importante frisar que além do governo brasileiro, instituições financeiras

como o Banco Mundial e o BID também têm apontado diretrizes para pobreza e o

desemprego, e também para atender novos mercados. Nesse contexto, Barbosa

(2007b) comenta que o capital humano e os investimentos financeiros são chaves

para a geração de renda, e juntamente com a reforma da previdência social e do

mercado de trabalho, ampliam a desregulação de direitos trabalhistas, empurrando

maiores segmentos para o auto-emprego.

Tratando de assistência internacional a mesma autora ratifica que não é

cabível deixar de mencionar órgãos estratégicos como os das Nações Unidas, a OIT

e o PNUD, o primeiro com programas voltados ao desemprego estrutural e as

condições degradantes como eixos centrais e, o segundo com programas voltados a

pobreza, articulando ações para geração de renda. Assim a autora frisa que novos

campos semânticos alternativos ao trabalho assalariado vão sendo tecido e

implementados, mas com dependência junto às instituições financeiras multilaterais,

completando a proposta de dar estatuto social ao trabalho torto.

Além dessas iniciativas também é apresentado, as do empresariado

brasileiro, enfocando a diminuição de custos produtivos, difusão e esclarecimentos

sobre o uso de cooperativas de trabalho e com abordagem para o

empreendedorismo compartilhado através de arranjos produtivos locais, fomentando

financeira e tecnicamente iniciativas nessa direção. Isso tudo visa liberar a força de

trabalho com menores custos financeiros, causando dessa forma a diminuição da

apreciação de condições mínimas de proteção social do trabalhador perante o

mercado. Isso impulsiona os trabalhadores através da CUT a promover a

constituição, fortalecimento e articulação de empreendimentos autogestionários,

buscando a geração de trabalho e renda, através da organização econômica, social

e política dos trabalhadores inseridos num processo de desenvolvimento sustentável

e solidário.

Nesse cenário, Barbosa (2007b) também relata a criação da SENAES que

tem por base um lastro de experiências de economia solidária que já estavam em

curso, e que esta secretaria objetiva apoiar e induzir o crescimento das iniciativas,

mas tendo como diretrizes as experiências e propostas já vinculadas pelos grupos

envolvidos, pois o movimento social está no governo. Ela também chama atenção

para a importância que essa secretaria dá aos estudos e pesquisas, demonstrando,

possivelmente, a forte presença universitária no meio em que emergiu a economia

Page 36: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

35

solidária. Nesse sentido, não se trata da mera aderência do governo a proposta do

movimento social, mas da própria incorporação dos sujeitos políticos, de suas idéias

e arranjos constituídos em lutas sociais.

Além disso, é importante ressaltar a complexidade da tarefa para dar

sustentabilidade e longevidade a essas iniciativas econômicas, requerendo,

portanto, maior responsabilização pública com a estruturação do setor e amparo aos

trabalhadores. A não ser que a responsabilização individual pelo trabalho seja o

esperado, e que o elemento estratégico seja o de proteção pública. Além dessa

problemática ainda se apresenta a legislação brasileira que não atende à regulação

de trabalho coletivo, prevalecendo à visão individualista e mais centrada no capital

privado. Por isso não há cobertura prenunciada para o associativismo de economia

solidária, autogestão e cooperativismo popular.

Barbosa (2007b), afirma que basicamente, o que se anseia como marco legal

para a economia solidária se resume em três pontos: especificidade dessa economia

nas reformas (tributária, previdenciária e trabalhista); distinção da economia solidária

perante a dinâmica econômica geral e sua estrutura tributária, fiscal e de

comercialização; e regulação do trabalho.

Mas diante dessa falta de Leis que amparem a economia solidária é

importante destacar os dados mostrados no mapeamento da economia solidária

realizado pela SENAES, que segundo Singer (2006b, p. 19) relata que ”calculamos

em 15 mil empreendimentos, em que trabalham 1,25 milhões de pessoas, e a

tendência é de mais crescimento para os próximos anos”. Isso pode demonstrar o

tamanho da economia solidária e que o marco legal só ampliará essa realidade que

já vem tirando muitas populações sob imensa exclusão, como assentados da

reforma agrária, populações com sobrevivência relacionadas aos lixões e à catação

de materiais recicláveis, habitantes de antigos quilombolas, povos indígenas e

outros.

Ainda é importante ressaltar que desse montante de empreendimentos existe

um percentual caracterizado por Singer (2006b) como os da economia solidária rica,

que são principalmente as empresas recuperadas e que já nasceram com capital,

embora muitas das vezes pequeno, insuficiente e dissipado, e por isso precisam de

recuperação. Mas pelo menos 80% desses empreendimentos solidários são

afirmados por Singer (2006b) como informais e pobres, e é aí que se encontra o

maior desafio, pois muito desses que necessitam de subsídio e apoio, e não

Page 37: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

36

conseguem viabilizar-se economicamente acabam desistindo, a vontade de

abandonar a pobreza é grande, mas se não conseguem coletivamente, abandonam

aos poucos o navio para se virar de outra forma.

Singer (2006b) também faz um breve comentário sobre a imensa afinidade da

economia solidária tanto com a questão ecológica quanto com a de gênero, pois nas

áreas mais pobres a mulher tem uma presença mais forte do que a do homem, por

isso é uma economia democrática, não distingue gênero, já que para a sociedade é

o homem quem tem que trabalhar, se não é considerado desempregado, a

economia solidária permite reduzir as desigualdade e a emancipação da mulher.

Podemos destacar também o envolvimento da agricultura familiar com a

economia solidária, pelo impulso na constituição e na estruturação de cooperativas e

empreendimentos solidários pela União Nacional de Cooperativas de Agricultura

Familiar e Economia Solidária (Unicafes). Exemplos de iniciativas que mostram essa

proximidade são: a Cooperativa de Consumo e Comercialização Popular e Solidário

- CONSOL, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, que já tem um espaço de

comercialização, que envolvem calçados e roupas das grifes solidárias “Ecos” e

“Justa Trama”, além produtos da agricultura familiar, que reúne mais de 80

empreendimentos rurais; e o projeto de qualificação social e profissional de

produtores de mel e derivados, apoiado pelo Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE), está formando apicultores no Nordeste. O projeto de Economia Solidária está

concentrando informações e difundindo as tecnologias visando a produção orgânica

com a finalidade de assegurar a sustentabilidade social e solidária de famílias que

sobrevivem da agricultura familiar (MTE, 2009).

Quanto aos desafios enfrentados, com algumas vitórias e algumas derrotas,

destacamos também a comercialização dos produtos solidários, que Singer (2006b)

por sua vez afirma que apesar do comércio justo e o consumo responsável

proporcionarem efeitos políticos e culturais extremamente positivos não são capazes

de solucionar a comercialização da economia solidária.

No estudo de Eid e Pimentel (2009, p.11) sobre desenvolvimento local e

cadeias produtivas é ressaltado que os empreendimentos solidários para

sobreviverem se vêem obrigados a lidarem com o mercado, compreendendo-o

enquanto um procedimento de trocas, ou seja, os bens são trocados, conforme

interesses de cada uma das partes.

Page 38: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

37

Portanto, ir além da economia popular, onde há empreendimentos solidários

relativamente isolados, praticando solidarismo nas suas relações internas,

pressupõe pensar desenvolvimento auto-sustentável das comunidades, que pode

significar inicialmente, buscar planejar a integração de cada cadeia produtiva

solidária MANCE (apud Eid; Pimentel 2009, p.11). Isso é destacado por Eid e

Pimentel (2009, p.11) como uma “estratégica para aumentar seu impacto no

desenvolvimento local, endógeno e comunitário”, e indo mais adiante é

extremamente estratégico para do desenvolvimento territorial.

Contudo, a face conhecida da economia solidária não mostra a sua riqueza,

ou seja, é fundamental ampliar e aprofundar a sua percepção, para melhor

conceituá-la e avaliar suas potencialidades (LAVILLE; GAIGER, 2009).

3.3. Iniciativas de economia solidária na produção orgânica

O Ministério do Trabalho e Emprego tem um Sistema Nacional de

Informações em Economia Solidária (SIES), que é uma ferramenta que estar à

disposição da população que deseja encontrar informações georreferenciadas dos

Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), diante desses sistemas é possível

encontrar produção sem agrotóxicos em diversas regiões do Brasil.

Essa produção sem agrotóxicos, por si só não é caracterizada por muitos

autores como orgânica, já que esse tipo de produção atualmente envolve muito mais

que não usar insumos químicos. Portanto, nesse trabalho encara-se essas

iniciativas de produção sem agrotóxicos como orgânica, pois esse mapeamento foi

realizado in locu e confirmado por milhares de agricultores.

Dentre esses empreendimentos solidários de produção agrícola sem

agrotóxicos encontram-se 581 na região do Centro – Oeste; 2.892 no Nordeste;

1.060 na região Sul; 758 no Sudeste e 853 na região Norte e mais precisamente 149

no estado do Pará, no qual envolve 14 do município de Óbidos, 55 de Santarém, 3

de Almerim, 2 de Portel, 2 de Furos de Breves, 2 do Arari, 14 de Belém, 2 de

Castanhal, 1 do Salgado, 12 da região da Bragantina, 13 de Cametá, 4 de Tomé-

Açu, 10 da região do Guamá, 3 de Itaituba, 1 de Altamira, 2 de Tucuruí, 4 de

Parauapebas, 4 de Marabá e 1 de Redenção.

Page 39: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

38

Esses dados revelam que em diversas partes do Brasil se encontra iniciativas

de economia solidária na produção orgânica que também podem ser de base

familiar já que 80% desses empreendimentos são de economia solidária de pobre

como é afirmada por Singer (2006).

4. COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ORGÂNICA DE BASE FAMILIAR SEUS GARGALOS E AVANÇOS

A comercialização de produtos é uma prática bastante antiga, originada há

milhares de anos pelas civilizações mesopotâmica, egípcia, dentre outras. È através

do processo de comercialização que os produtores, industriais, prestadores de

serviços e comerciantes geram um fluxo contínuo de divisas monetárias, de maneira

que esses agentes econômicos procuram expandir seus mercados consumidores e,

consequentemente, obter maiores lucros.

Batalha e Lago da Silva, (2001 apud BARBOSA 2007a) ressaltam que o

princípio norteador dos sistemas agroindustriais, está baseado em que os

consumidores finais são os dinamizadores de todas as cadeias agroindustriais, pois as

suas características, preferências, tendências, mudanças de padrões, formas de

organização social, interferem diretamente sobre as cadeias.

Partindo desse norteador, é preciso que produtores (familiares e empresariais)

expandam seus conhecimentos para além da produção, devem buscar aspectos

ligados a agroindustrialização, distribuição e comercialização de seus produtos,

sempre visando adaptá-los às exigências do consumidor. Diante dessa visão

produtores rurais são obrigados a terem uma noção de práticas administrativas e

financeiras de seu estabelecimento, uma vez que precisam ser mais eficientes e

produzirem a um baixo custo sem perder a qualidade.

Barbosa (2007a) ressalta que a partir da globalização da economia e a

integração dos mercados internacionais, a comercialização passou a ser vista além

de um processo de venda de um produto específico, mas sim como um instrumento

fundamental para a inserção, consolidação e expansão dos produtos inerentes aos

produtores (familiares e patronais) nos mercados nacional e internacional.

Portanto, Tedesco (2006, p.56, apud BARBOSA, 2007a, p.31) reforça a

importância da comercialização, quando expõe que “[...] a necessidade da

Page 40: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

39

comercialização, do intercâmbio, que sempre esteve presente nas atividades

agrícolas, e talvez esse tenha sido e continue sendo um dos maiores entraves para

o desenvolvimento e a expansão da agricultura familiar”.

Em níveis gerais, Santos (2006 p. 26) ressalta que

segundo pesquisa realizada pelo BNDES em março de 2002, a cadeia produtiva dos orgânicos pouco se diferencia das demais cadeias agroalimentares, a não ser pela presença da figura da certificação e, o mais interessante, pela quase inexistência da figura do atacadista ou do intermediário entre a produção e o elo seguinte.

No entanto, a comercialização dos produtos orgânicos é mais complexa

quando comparados a outros produtos agrícolas convencionais, em função da

estrutura do mercado e do processo de certificação e embalagem.

Entretanto, a comercialização é um aspecto importante na busca de um

desenvolvimento rural sustentável, uma vez que o excedente da produção deve ser

escoado de forma eficiente e rentável. Barbosa (2007a p. 98) ressalta que

A comercialização de produtos orgânicos é um mecanismo de fundamental importância para que o paradigma agrícola orgânico possa se desenvolver e consolidar-se, pois não adianta produzir ou agroindustrializar se não houver quem irá consumir um produto orgânico.

Diante do exposto, a comercialização de produtos orgânicos é um instrumento

que consolida o segmento orgânico brasileiro e internacional. Além disso, uma

relação comercial direta entre produtor e consumidor, como ocorre no Brasil,

fortalece a comercialização, propiciando um ambiente favorável a consolidação

desse paradigma de produção.

Santos (2006, p. 11) afirma que “algumas estimativas indicam que nas

exportações brasileiras 80% dos produtos são originários de médios produtores, 10

% de pequenos e 10% de grandes produtores rurais, mostrando que existe um

grande potencial de expansão da produção orgânica no Brasil”.

Como vimos as propriedades de médio porte ainda dominam a produção e as

exportações de produtos orgânicos. Além da comercialização por exportações,

verduras, legumes e outros alimentos orgânicos podem ser adquiridos diretamente

nas propriedades agrícolas, entregues nas residências, ou comprados em feiras e

ainda em lojas especializadas ou em supermercados.

Page 41: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

40

Machado (2001), ressalta que inicialmente as experiências de

comercialização da produção orgânica de pequenos produtores eram realizadas

mais comumente através de feiras livres locais, que em alguns casos eram

exclusivas de produtos orgânicos e em outros casos não, e também por venda à

domicílio. Portanto, atualmente com a expansão tanto da produção quanto dos

números de produtores, essas experiências de comercialização passaram a ser

diversificadas, chegando até a grandes redes de supermercados.

Diante do exposto, a agricultura orgânica tem como meta a descentralização

da estrutura produtiva e de distribuição e venda.

O estado de Pernambuco, segundo Barbosa (2007a), é um exemplo da

difusão das feiras, denominadas Espaço Agroecológico, existindo uma em Serra

Talhada e duas em Recife nos bairros de Boa Viagem e Graças.

Souza e Resende (2006) por sua vez, afirmam que organizações de

agricultores, como cooperativas e associações, distribuidores e revendedores,

especializados em alimentos orgânicos e insumos naturais, também atuam na

comercialização dos produtos, industrializados ou não.

Segundo a Revista Arco (apud AROEIRA; FERNANDES, 2002), “no

crescente mercado de produtos orgânicos nacionais (incrementos de 30% ao ano)

está inserida a produção dos agricultores familiares, distribuídos em 4, 1 milhões de

estabelecimentos em todo o país”.

A produção orgânica dos agricultores familiares, segundo Aroeira e

Fernandes (2002), ainda é pequena, mas ajuda a incrementar o montante exportado

pelo Brasil.

De acordo com Carvalho (apud SANTOS, 2006 p. 2) o ““movimento orgânico”,

partindo da perspectiva da saúde do ambiente, do trabalhador e do consumidor,

orientou-se na expansão massiva, via mercado”. Portanto, Santos (2006, p.1)

ressalta que “o “mercado” nunca foi de domínio dos agricultores familiares e nem

das organizações que os assessoram e apóiam, sejam elas do governo ou não”.

Além disso, historicamente observa-se também uma maior participação dos

intermediários nos processos de comercialização. Cada vez mais agricultores

familiares recebem menos pelo seu produto, e o consumidor não é beneficiado por

um preço mais baixo. O ‘mercado’ teve a tarefa de afastar produtores de

consumidores, tornando as relações comerciais impessoais, baseadas pela lógica

do lucro máximo e da exploração.

Page 42: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

41

Além desses gargalos apresentados ainda é importante destacar outro

problema, que é a pequena oferta de produtos orgânicos. Como pensar numa

expansão do paradigma orgânico, se não há produtos suficientes desse gênero para

serem utilizados no consumo e ao mesmo tempo servirem de matéria-prima para a

industrialização de outros produtos orgânicos?

Essa oferta só será ampliada e só haverá uma maior regularidade de

produtos orgânicos se houver maior incentivo dos governos e se produtores

orgânicos se organizarem em cooperativas e/ou associações, aumentando dessa

forma a organização da produção.

No Brasil, a oferta é pequena, e os produtos orgânicos – em sua grande

maioria – são exportados para os mercados dos países desenvolvidos, os mais

lucrativos. Essas exportações só ocorrem porque a demanda pelo produto no Brasil

é muito pequena, uma vez que a maioria dos consumidores, ainda, não está tão

disposta a pagar mais caro pelos orgânicos.

Os preços desses produtos são maiores quando comparados com os

chamados convencionais, justificado em algumas vezes pela à agregação de valor

que os orgânicos possuem, quando comparados aos seus substitutos próximos, e

também pode está relacionado à pequena oferta, pois a maioria dos produtores

agropecuários brasileiros que manejam sua produção e criam seus animais com

técnicas orgânicas são agricultores de origem familiar, com pouco recurso financeiro,

com pequenas propriedades para a produção em larga escala, além de gozar de

equipamentos e maquinários inapropriados à produção intensiva.

Esses elevados preços são entendidos como forma de subsidiar uma

melhoria em seus estabelecimentos agrícolas, traduzindo-se em uma melhora na

produtividade e manejo e no escoamento da produção pelo canal de distribuição.

Além que esses alimentos são produzidos para atender os consumidores que

buscam uma melhor qualidade de vida e que possuem – em geral – um maior nível

de renda.

Quanto a essa questão de atender a um público diferenciado BLOCH (2008,

p.162) ressalta que não se pode

[...] repetir o ciclo de ver os consumidores como “clientes”, ou seja,

há o perigo de se trabalhar muito mais pressionando os

produtores (selos verticalizados, exigência de que não tenham

ambição de lucro, que saibam se organizar e trabalhar

Page 43: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

42

coletivamente, etc.) do que os consumidores, alimentando uma

elitização dos produtos agroecológicos e um acirramento da

assimetria entre quem consome e quem produz. Além disso, pode

ficar a idéia de que “consumir produtos saudáveis” é mais um dos

inúmeros privilégios de quem é mais rico.

Portanto, para Barbosa (2007a) esses preços elevados podem ser

considerados um obstáculo à expansão do seu consumo, sendo restrito a apenas

um nicho de mercado para consumidores com alto poder aquisitivo. Por isso,

políticas de incentivo a produção orgânica poderão se constituir em importante

instrumento necessário ao aumento da oferta desses produtos.

Com a ampliação da oferta de produtos orgânicos, segundo Barbosa (2007a

p. 103) irá chegar um ponto em que os preços dos produtos irão cair, pois

(i) haverá mais produtores no mercado. Esse fato fará com que exista uma maior negociação entre compradores e vendedores, de maneira a exercer uma pressão pela queda dos preços e (ii) esse aumento na oferta, em algumas décadas, poderá superar o número de indivíduos à procura dos orgânicos, dando um poder de barganha ainda maior aos compradores. Com preços relativos mais altos, o consumidor não irá comprar no volume desejado, retendo produtos perecíveis nas prateleiras por um tempo inadequado.

Portanto, para que esse consumo interno aumente Barbosa (2007a) ressalta

que é importante que haja uma maior divulgação do que venha ser um produto

orgânico. Esse produto é desconhecido por muitos consumidores e a maioria que os

conhecem não sabem sua real importância e o seu significado quanto alimento

seguro para o consumo e de seu valor nutricional. Ou seja, existe uma falha no fluxo

de informação dentro do canal de comercialização.

Portanto, alguns mecanismos para comercialização da produção orgânica de

base familiar apontados por Machado (2001) serão citados aqui como essenciais

para o desenvolvimento dessa parte da cadeia:

1- Venda direta ao consumidor – ambulantes e sacolas ou kits padronizados,

normalmente incluindo o serviço de entrega.

2- Feiras e lojas especializadas em produtos orgânicos.

3- Grandes consumidores e instituições.

4- Ceasa.

Page 44: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

43

5- Outras alternativas como organizações de consumidores, consumo comunitário,

local e regional.

Além desses, outro mecanismo é o equilíbrio no sistema de produção, que

possa favorecer custos de produção baixos, viabilizando dessa forma produtos com

valores mais em conta e atendendo diversos tipos de consumidores.

Contudo, a comercialização direta de produtos orgânicos pode ser uma

alternativa para a geração de sustentabilidade aos agricultores familiares. Estes

Espaços de contato direto favorecem a divulgação dos produtos, devido ao fato dos

consumidores se informarem melhor do que venha a ser um produto orgânico e

difundir essa concepção para outras pessoas, tornando-se assim um multiplicador

da iniciativa.

Além disso, é importante ressaltar o que é dito por Machado (2001), que na

implantação de um sistema orgânico de produção é necessário a organização de um

componente de comercialização que considere as características específicas desse

sistema, respeitando dessa forma seus princípios básicos, como, por exemplo:

• Os produtos devem estar ao alcance do consumidor para a valorização de

suas qualidades;

• O sistema deve está compatível com os conceitos agroecológicos, não

sofrendo influências de mercado;

• Além de ser coerente com as propostas agroecológicas o produto deve

atender os anseios do consumidor, evitando produtos que não tenham

mercado.

Carvalho (2008) ao analisar a expansão do mercado orgânico com a

concentração da renda de produtores orgânicos nos países desenvolvidos, afirma

que no Brasil o movimento orgânico internacional vem buscando caminhos para

fortalecer a construção de uma forma alternativa de organização da sociedade, onde

um desses caminhos é a agregação do selo de mercado justo ao orgânico, criando a

possibilidade de consumidores manifestarem efetivamente sua opção por “pagar”

pela melhoria das condições de vida dos agricultores familiares e/ou trabalhadores

da agricultura. Um exemplo desse enfoque é o que vem acontecendo com a

produção de cacau orgânico na transamazônica, que ao ser exportada também

recebe o selo de mercado justo.

Outra estratégia citada por Carvalho (2008) é a de aproximar produtores,

consumidores e diversos outros elos da cadeia produtiva, procurando criar dessa

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44

forma condições necessárias para o desenvolvimento local de uma estratégia

alternativa de organização social, viabilizando economicamente estabelecimentos

agrícolas e ampliando a participação nos mercados específicos.

Outro ponto, bastante interessante, está direcionado nos caminhos do

mercado institucional e das “cadeias éticas”. As “cadeias éticas” são apontadas por

BLOCH (2008, p.162) na idéia de

fortalecimento de “redes de distribuição solidárias”, que exigiriam

uma complexificação (bastante exigente) das entidades

interessadas em buscar transformações sociais (isto envolve não

só redes de comunicação, mas também de transporte – distribuição

– e venda).

Além desse contato direto, a parceria governamental é de suma importância

para o fortalecimento do paradigma orgânico, e essa estratégia está acontecendo

em alguns lugares, como discorre Tedesco (2006, p.57, apud Barbosa 2007a, p.

100) ao mostrar que existem “[...] Iniciativas de grupos ecológicos em parceria com o

poder público local e estadual de propiciar alimento ao mercado institucional

(escolas, creches, hospitais)”.

4.1. A feira de produtos orgânicos no Estado do Pará: da gênese ao momento atual

Lago da Silva e Machado (2005 apud BARBOSA, 2007a, p.34) ressaltam que

as feiras continuam sendo um importante canal de distribuição para determinados

tipos de produtos (principalmente hortaliças, legumes, etc). Esses autores definem

as feiras livres como uma loja que possui um formato tradicional (os atendimentos

são realizados em balcão).

As feiras livres, em qualquer região do Brasil, são compostas por barracas

onde os feirantes comercializam produtos agropecuários. Ocasionalmente os

feirantes são os próprios produtores agropecuários, mas, na maioria das vezes são

os intermediários (podendo ser um intermediário de outro intermediário e assim

sucessivamente) que comercializam os produtos diretamente para os consumidores

finais.

Os produtos nas feiras livres são expostos ao ar livre em barracas e

geralmente existe uma relação de comércio de vizinhança. Esse fato gera um clima

Page 46: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

45

de confiança no feirante, principalmente, porque há uma interação direta entre o

feirante e o consumidor.

A feira de produtos orgânicos no Estado do Pará (Figura 1), teve sua primeira

edição em novembro de 2007 na praça Batista Campos, do bairro também chamado

de Batista Campos da cidade de Belém, a capital paraense (Figura 2).

Essa feira nasceu a partir da criação da CPOrg-PA, sendo traçada através de

uma das atribuições dessa comissão quanto a organização da produção orgânica no

Estado, cujo posteriormente formou-se um grupo de organização da feira, composto

por algumas instituições membros da referida comissão. Esse grupo é responsável

por planejar, organizar e mobilizar os agricultores que participam das feiras. No ano

de 2008 realizou-se uma edição no mês de maio e outra em outubro. Já no ano

corrente ocorreram no mês de maio, junho, outubro, novembro e dezembro. É

importante frisar que todas as edições foram realizadas sempre no mesmo lugar.

Essa feira busca gerar um sólido elo entre os agricultores familiares e os

consumidores orgânicos, pois há uma comercialização direta dos produtos,

eliminando a presença do intermediário que reduz o lucro dos agricultores e

encarecem os preços para os consumidores.

Figura 1: Feira de produtos orgânicos do Estado do Pará, 2009. Fonte: Autora

Page 47: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

46

Figura 2: Bairro da cidade de Belém, onde acontece a Feira de produtos orgânicos do Estado do Pará, 2009.

Fonte: http://maps.google.com.br/maps?sourceid=chrome&q=batista+campos+belém&um=1&ie=UTF-8&hq=&hnear=Batista+Campos,+Belém+-+PA&gl=br&ei=N_3kSqCuBYbSlAfMoq3oCg&sa=X&oi=geocode_result&ct=image&resnum=1&ved=0CAkQ8gEwAA

Atualmente existe uma discussão e uma mobilização para realização de feiras

semanalmente, o que é justificado pelos resultados das entrevistas realizadas com

consumidores, conforme é mostrado no Quadro 1.

Questionamento Avaliação %

Realização da feira Ótimo 90%

Quantidade de produto exposto Boa 50%

Variedade do produto Boa 55%

Preço Bom 50%

Exposição dos produtos Adequada 85%

Periodicidade de realização da feira Semanalmente 55%

Quadro 1: Avaliação da feira pelos consumidores, em um total de 20 entrevistados.

Fonte: CPOrg-PA.

Existe atualmente uma mobilização para a criação de uma associação dos

Produtores Orgânicos do Estado do Pará ou dos Feirantes de Orgânicos, buscando

Page 48: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

47

os mecanismos de organização com controle social e o sistema participativo de

garantia da qualidade orgânica, que facilita a venda direta e indireta por agricultores

familiares, buscando dessa forma adequar-se a Legislação Brasileira de Produção

Orgânica6, onde estão normatizados os mecanismos de controle da garantia da

qualidade orgânica.

Dentre as leis, destacamos o Decreto 6323, do Ministério da Agricultura,

publicado em 27 de dezembro de 2007 estabelece que os agricultores familiares que

realizam a comercialização diretamente ao consumidor, sem certificação, deverão

estar vinculados a uma organização com controle social cadastrada no Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento ou em outro órgão fiscalizador federal,

estadual ou distrital conveniado.

A pesquisa de campo mostrou que a agricultura familiar no Estado do Pará

também já pratica agricultura orgânica, pois das 19 entrevistas realizadas na feira,

17 são de agricultores de base familiar, que estão organizados em associações ou

cooperativas. Desse total de agricultores familiares apenas 01 agricultor do

município de Acará, já está certificado, pois é uma exigência da empresa que

compra os produtos e que também presta assessoria.

Os resultados das entrevistas, conforme é ilustrado no Quadro 2, apontam

que 84% dos produtores que participam da feira estão organizados em associações,

cooperativas, movimentos ou grupos (Figura 3).

6 Lei n° 10.831, de 23/12/2003; Decreto n° 6.323, de 27/12/2007; Instrução Normativa n° 54, de 22/10/2008; Instrução Normativa n° 64, de 18/12/2008; Instrução Normativa Conjunta n° 17, 28/05/2009, Instrução Normativa Conjunta n° 18, de 28/05/2009; Instrução Normativa Conjunta n° 19, de 28/05/2009; Decreto n °6.913, de 23/07/2009.

Page 49: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

48

Nº de agricultores

entrevistados Organizações/Movimento/Rede Município

Produtos vendidos na feira

%

16

Associação de Produtores Rurais Familiares do Município de Tomé-Açu.

Tomé-Açu Geléia, doces e polpa de cupuaçu e cacau.

84

Associação São Lázaro de Pequenos Produtores e Pescadores – Irituia.

Irituia Coco e mandioca.

Associação São João de Pirabas. São João de Pirabas

Mel e subprodutos.

Associação de Produtores de Boa Vista.

Acará Priprioca, óleos e outros produtos extrativistas.

Associação de Produtores de Campo Limpo.

Santo Antônio do Tauá

Banana, Mamão, Batata doce, Uxi.

Associação dos Artesões de Mosqueiro - ARTEMOS

Mosqueiro Ecojóias, bolsas, pinturas em tecido, cestas e essências.

COOPEMADE Dom Elizeu Goiaba

COOPEFRAN São Francisco do

Pará

Alface, coentro, cebolinha, pimentinha

e mamão.

COOPSANT Marituba Hortaliças, plantas

medicinais e ornamentais.

Cooperativa da Produção Agroextrativista de Abaetetuba, Moju, Barcarena e Igarapé-Mirim.

Abaetetuba

Laranja, polpa de frutas, macaxeira, melancia, maracujá,

maxixe. Cooperativa Agropecuária de Benevides.

Benevides Hortaliças.

Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém.

Ilha de Cutijuba - Belém

Biojóias.

Grupo de Mulheres Filhos de Combú.

Ilha do Combú - Belém

Biojóias e bombons paraenses.

Rede Bragantina de Economia Solidária.

Santa Luzia do Pará

Artesanato, farinha de coco e macaxeira.

03

Agricultores isolados: - Sítio S.O.S Agroecológico; - Assentamento Mertires de Abril; - Sítio Cacá.

- Laranja; - Goma, tucupi e macaxeira; - Polpa de frutas, macaxeira ralada, farinha, hortaliças, frango caipira;

16

19 14 100

Quadro 2: Distribuição dos diferentes tipos de organização e seus respectivos municípios, identificados nas 19 entrevistas realizadas. Fonte: Elaborado pela Autora.

Page 50: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

49

Figura 3: Tipos de organizações de agricultores que participam da Feira de produtos

orgânico do Estado do Pará, 2009.

Fonte: Elaborado pela autora

Dentre as associações, cooperativas, movimentos ou grupos que integram a

feira, destaca-se na Figura 4 e 5.

Figura 4: Cartão de uma das associações que participam da Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009. Fonte: Associação.

Figura 5 : Etiqueta de produtos de uma das cooperativas que participam da Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009. Fonte: Cooperativa.

O rg aniz aç ão para partic ipaç ão da feira

37%

26%

21%

16%

Associação

Cooperativa

Grupos

Outros (Individual,Familia)

Page 51: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

50

É importante ressaltar que os produtos variam de uma feira para outra, ou

seja, nem sempre se encontra os mesmos produtos. Pois, a participação dos

produtores não é constante, somente 42% dos 19 entrevistados, participaram de

todas as feiras.

A maior parte desses produtores está organizada socialmente, entretanto, a

produção de 75% desses produtores é realizada individualmente, e os lucros obtidos

na feira são divididos de acordo com que cada um vende (respondido por 81% dos

entrevistados). Os preços dos produtos são estabelecidos, por 63% dos

entrevistados, de acordo com o que foi gasto para a produção para obter o lucro

(Figura 6).

Figura 6 : Fatores que influenciam os preços dos produtos, de acordo com agricultores que participam da Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009. Fonte: Elaborado pela autora.

Apesar desses produtores se deslocarem de seus municípios para a capital

para comercializar seus produtos na feira, a única do Estado, ainda torna-se viável

financeiramente continuar participando, pois consideram como sendo uma forma de

divulgação de seus produtos, conforme é mostrado no Quadro 3. Alguns produtores

ressaltam que ocasionalmente é necessário doar seus produtos ao término da feira

para não voltar para seus municípios com o excedente não vendido, conforme

Quadro 4.

63%

32%

5%

De acordo com o quefoi gasto paraprodução para obter olucroOutros (deve ser maiscaro porque é maistrabalhoso)

Page 52: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

51

Avaliação Porcentagem

Participação na feira para divulgação ou promoção do produto 53%

Participação na feira para comercialização 27%

Considera de boa a excelente a oportunidade de divulgação e

apresentação de produtos

100%

Conseguiram fechar algum negócio futuro 60%

O fluxo de visitantes atinge ou supera suas expectativas 83%

Atingiram seus objetivos na feira 93%

Quadro 3: Avaliação dos produtores, em total de 14 entrevistados.

Fonte: CPOrg-PA.

Avaliação Porcentagem

A feira tem de boa a ótima aceitação pelo público 89%

Não vêem reclamação quanto ao preço dos produtos 94%

Vendem metade ou mais da metade dos produtos expostos 61%

Consideram de regular a boa os resultados das vendas 83%

Estão satisfeitos com o local de realização da feira 95%

Quadro 4: Avaliação dos produtores, em total de 18 entrevistados.

Fonte: CPOrg-PA..

Desses 14 produtores entrevistados somente 53% possuem marca própria

em seus produtos, conforme mostra as Figuras 7 e 8.

Figura 7 : Marcas de produtos comercializados na Feira de produtos orgânico do Estado do

Pará, 2009.

Fonte: Sítio Cacá.

Page 53: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

52

Figura 8 : Marcas de produtos comercializados na Feira de Produtos Orgânicos do Estado do Pará, mostrando também o selo da certificadora (IBD), 2009. Fonte: S.O.S Agroecológico.

Por ser considerada uma feira de produtos orgânicos, é importante frisar que

em entrevista realizada com 19 feirantes, 53% dos entrevistados afirmam que

decidiram produzir organicamente para preservar a saúde dos próprios e dos

consumidores, 95% dos produtores estão com mais de três anos praticando as

técnicas da agricultura orgânica, 89% entendem o que é certificação7 da produção e

somente 10% são certificados.

Foram expostos também outros fatores decisivos para a conversão dos

sistemas agrícolas convencional para o orgânico, são questões de custos de

produção, preservação do meio ambiente e do preço do produto. Segundo os

agricultores familiares entrevistados, os custos de produção dos produtos oriundos

do sistema de produção orgânico são menores em relação ao sistema convencional,

e alguns deles ressaltaram a conversão por não terem condições de comprar

insumos químicos, mas poucos frisaram a conversão para obtenção de mais lucros

(Figura 9).

7 O produto que apresenta as características da conformidade orgânica pode usar um selo de qualidade, que é adquirido conforme autorização de uma certificadora ou por um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC).

Page 54: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

53

21

11

53

47

Para Preservar o Meio-Ambiente

Para Obter mais Lucro

Para Preservar a Saúde

Outros

Figura 9 : Percentual de motivação para a conversão para agricultura orgânica, de agricultores que participam da Feira de produtos orgânico do Estado do Pará, 2009. Fonte: Elaborado pela autora.

Além da comercialização através da feira é importante ressaltar que desses

19 produtores entrevistados 84% comercializam também por atravessadores e 32%

também comercializam seus produtos diretamente nas residências.

Desses produtores entrevistados, 63% afirmaram que a feira não é composta

somente por agricultores familiares, 26% afirmaram que sim e 11% não souberam

opinar. Isso caracteriza que o nível de relacionamento entre esses produtores é

baixo, pois uma pequena, mas considerada parcela não conhecem os componentes

da feira.

No entanto, 32% desses não acham importante a organização de uma feira

só de agricultores, pois existe espaço para todos, 26% disseram que é importante e

42% não souberam opinar.

Os resultados das pesquisas são corroborados por Machado (2001), o qual

aponta alguns mecanismos para comercialização da produção orgânica de base

familiar. Um deles é a venda direta ao consumidor, as feiras e lojas especializadas

em produtos orgânicos, grandes consumidores e instituições, e também através de

organizações de consumidores, consumo comunitário, local e regional.

Diante do exposto, ressaltamos que a produção orgânica no Estado do Pará

está sendo associada à agricultura familiar, com pequenos estabelecimentos rurais e

ainda em processo de formação de sistemas de produção mais eficientes. Estes

fatos provocam um problema referente à regularidade no abastecimento dos canais

de comercialização, sejam eles tradicionais ou alternativos.

Contudo, a comercialização de produtos orgânicos é um instrumento que

fortalece o segmento orgânico brasileiro e internacional, por isso o canal de

Page 55: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

54

comercialização alternativo através da venda direta da produção orgânica de base

familiar precisa ser fortalecida no Estado do Pará, seja pela permanência constante

da feira, organizada e fortalecida por uma associação de feirantes e de

consumidores e/ou pela venda direta nas residências de consumidores. Esse

contato direto entre o consumidor e o produtor segundo Barbosa (2007a)

proporciona uma renda maior a família e ao agricultor, além de um poder de

barganha maior com os demais elos da cadeia produtiva dos produtos orgânicos.

Portanto, uma feira precisa ser higiênica, possuir uma diversidade de

produtos, ter uma regularidade na oferta dos produtos e ter um potencial econômico

para que possa persistir por muitos anos. Caso contrário, a feira perde sua

importância para os consumidores e torna-se ineficiente e desnecessária

(BARBOSA, 2007a).

Page 56: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

55

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tudo que foi exposto, percebemos que o paradigma orgânico de

produção busca gerar sustentabilidade aos agricultores familiares. Essa

sustentabilidade é traduzida pela melhora ambiental, econômica e social de diversos

atores da sociedade.

A economia solidária também busca a sustentabilidade não só de agricultores

familiares, mas de diversos atores da sociedade que estão excluídos do mercado de

trabalho assalariado, a partir de práticas que estimule novos espaços coletivos,

como os de rede e movimentos, que debatam e definam as necessidades das

comunidades, sempre em busca de soluções a partir dessa nova dinâmica da

economia.

A agricultura orgânica apresenta princípios próximos aos da economia

solidária, pois ambas consideram o bem estar do ser humano como prioridade

principal, pois almejam o desenvolvimento sustentável de todos os agentes

envolvidos no processo. A agricultura orgânica é uma decorrência da insatisfação de

alguns agricultores com o sistema de produção convencional. A economia solidária

também é uma decorrência da insatisfação de milhares de pessoas excluídas do

mercado de trabalho dito formal.

Como foi apresentado no segundo capítulo, no Brasil a fora existem centenas

de iniciativas de economia solidária na produção orgânica, não podendo confirmar

com muita precisão se são de agricultores familiares, porém fica subtendido, pois as

iniciativas de economia solidária envolve os excluídos.

No presente estudo, não caracterizamos a Feira de Produtos Orgânicos,

como uma plena iniciativa de economia solidária, pois a feira surge da idealização

de instituições fomentadoras da agricultura orgânica no Estado do Pará. Além disso,

podemos observar a falta de integração entre os integrantes da feira e de uma

relação em rede, pois 89% dos entrevistados que são de Associações/Cooperativas

não contratam, não compram e nem trocam produtos entre si.

No entanto, pode-se dizer que algumas organizações de agricultores

familiares, que compõem a feira, desenvolvem princípios de economia solidária,

como por exemplo, a Rede Bragantina de Economia solidária, o Movimento de

Mulheres das Ilhas de Belém e o Grupo de Mulheres Filhos de Combú.

Page 57: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

56

Esses princípios se caracterizam pela auto-gestão, ou seja, todos são

responsáveis pelo empreendimento decidem em conjunto e se beneficiam

igualmente dos frutos gerados pelos mesmos, pelo agir coletivo em muitas das

vezes na produção e na comercialização e o bem estar de todos os associados e

dos consumidores, que está acima do lucro, pois 40% dos 19 agricultores

entrevistados praticam agricultura orgânica para garantir a saúde de agricultores e

dos consumidores.

Outra característica importante é que 13% dos 19 entrevistados que estão

organizados em associação ou cooperativas, repartem as sobras ficando certa

quantia, que diferencia de uma organização para outra, para a organização, para ser

repartido entre os sócios, isso caracteriza o princípio da partilha dos resultados.

Dentre as três organizações citadas anteriormente pode-se destacar a Rede

Bragantina de Economia Solidária e o Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém,

apresentando em suas práticas “o fazer de outro modo”, pois observamos em alguns

integrantes a busca de outras realizações além da renda e do trabalho.

Outros dados da pesquisa mostram que das 19 entrevistas 10% acreditam

que a feira é um espaço de iniciativas de economia solidária, já que todos estão

unidos em prol da agricultura orgânica e de qualidade de vida de produtores e

consumidores.

Os resultados da pesquisa mostraram que o entendimento sobre economia

solidária entre os agricultores que fazem a feira é muito variado, apesar de que 84%

dos entrevistados disseram conhecer, com as seguintes respostas: Partilha;

Produtor gasta menos e vende mais barato; Ajuda os necessitados, quando alguém

chega pedindo e não tem dinheiro, dar um produto que está em exposição; Pessoas

que se ajudam mutuamente; Cooperativa que segue o estatuto; Se transformou em

economia solitária, pois é um grupo isolado; Produtos diversificados; Formas de

comercialização diretamente ao consumidor; Coisa boa porque tudo que é solidário

é importante; Reunião de um povo querendo bem estar comum; Valoriza o Agricultor

Familiar e todos são beneficiados; Produtor visa o dinheiro e o consumidor a

qualidade. Apesar desses diferentes entendimentos 50% dos entrevistados

afirmaram ter participado de algum evento de economia solidária.

É importante frisar que os agricultores, que participam da feira de forma

isolada, ou seja, não estão organizados coletivamente, se unem para transportar

Page 58: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

57

suas produções até o local de realização da feira, o que caracteriza união entre a

categoria de agricultores familiares.

Outro fator importante é a discussão da formação de associação dos feirantes

de orgânico, que ainda não estar denominada, mas que pode no futuro ampliar as

ações de união e solidariedade entre os feirantes, e assim talvez ser considerado,

por completo, um espaço de várias iniciativas de economia solidária. Pois, essas

iniciativas são caracterizadas como inovação organizacional, que apresenta sistema

de produção coletivo, apropriação coletiva dos resultados, autonomia, gestão

democrática voltada ao associativismo e valorização do trabalho acima do capital.

Essa futura associação visa garantir a comercialização direta, o

aperfeiçoamento constante e o respeito às características de cada realidade,

buscando assim a certificação participativa que segundo a Rede Ecovida, (apud

BARBOSA 2007a) é uma forma diferente de certificação que além de garantir a

qualidade do produto ecológico, permite o respeito e a valorização da cultura local

através da aproximação de agricultores e consumidores e da construção de uma

Rede que congrega iniciativas de diferentes regiões.

Sendo assim, o Estado do Pará que possui um contingente significativo de

agricultores familiares precisa fortalecer esse segmento produtivo, pois por meio dos

orgânicos poderá ser gerada uma melhoria sócio-econômica e ambiental para os

agricultores. Além disso, para um Estado que está necessitando de novas

alternativas para geração de emprego e renda, essa seria uma das opções mais

promissoras, principalmente quando estiver conciliada com os princípios da

economia solidária que visa o bem estar de todos.

Portanto, nessa busca por transformações sociais, estrategicamente se faz

necessário procurar aproximar produtores, consumidores e os diversos elos da

cadeia produtiva.

Por fim, percebe-se também que entidades de mobilização popular e

assessoria técnica, apresentam um papel muito importante na luta pelo

estabelecimento de redes de comercialização/consumo solidários, já que várias

destas entidades já lidam com muitos agrupamentos de produtores.

Page 59: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

58

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Page 62: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

61

APÊNDICES

Page 63: Monografia - Mazillene Borges de Souza Wonghan da Silva

62

Entrevista aos agricultores da Feira do Orgânico no Estado do Pará.

Local: Praça Batista Campos

Nome:__________________________________________________________

Individual/Organização:_____________________________________________

Município:_______________________________________________________

1ª. Há quanto tempo é produtor rural? R_______________________________________________ 2ª. Por que utiliza as técnicas de produção orgânica? ( ) Para preservar o meio ambiente ( ) Para obter mais lucro ( ) Outras respostas________________________________ 3ª. A quanto tempo mudou de técnica de produção? R_______________________________________________ 4ª. Sabe o que é certificação da produção? R_______________________________________________ 5ª. Como começou a participar da feira de orgânicos? ( ) Através de Instituição de Assistência Técnica e Extensão ( ) ONG’s ( ) Redes ( ) Outros:________________________________________ 6ª. De quantas feiras de orgânicos já participou? ( ) Uma ( ) Duas ( ) Todas ( ) Outros:________________________________________ 7ª. Participa das discussões das datas e local das feiras de orgânicos? ( ) Sim ( ) Não Se sim como?______________________________________ 8ª. Além da feira de orgânicos de que outra forma comercializa os produtos? ( ) Diretamente nas residências dos consumidores ( ) Supermercados ( ) Lojas ( ) Outros:________________________________________

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63

9ª. Como a feira é organizada? ( ) Através das Instituições ( ) Através das Instituições e agricultores ( ) Outros:________________________________________ 10ª. Como faria para dar continuidade à feira quando o apoio institucional não mais existir? ( ) Já estão se organizando para garantir o local e comprar barracas ( ) Ainda não pensaram ( ) Outros_________________________________________ 11ª. Existe troca de saberes entre os agricultores que participam da feira? ( ) Sim ( ) Não 12ª. No final de cada feira os agricultores se organizam para dialogar? ( ) Sim ( ) Não 13ª. Existe alguma articulação para realização de feira de orgânicos no município onde reside? ( ) Sim ( ) Não 14ª. Como se organiza para participar da feira? ( ) Associação ( ) Cooperativa ( ) Outros_________________________________________ 15ª. Se associação ou cooperativa. Como fazem para produzir? ( ) Individualmente ( ) Coletivamente ( ) Outros________________________________________ 16ª. Se associação ou cooperativa. Como repartem o lucro? ( ) Igualitariamente ( ) De acordo com que cada um vendeu ( ) Outros_________________________________________ 17ª. Como estabelece o preço dos produtos que vem para feira de orgânicos? ( ) Observando o poder aquisitivo dos consumidores ( ) De acordo com o que foi gasto para produção para obter o lucro ( ) Outros:_______________________________________ 18ª. Está satisfeito com o local da feira? ( ) Sim ( ) Não Se não justificar______________________________________

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64

19ª. Para que tipo de consumidores comercializa na feira de orgânicos? ( ) Consumidores ricos ( ) Consumidores de classe média ( ) Outros:_________________________________________ 20ª. Na feira só participa agricultores familiares? ( ) Sim ( ) Não 21ª. Se não. Acha importante a organização de uma feira só de agricultores familiares? ( ) Sim ( ) Não Justificativa___________________________________________ 22ª. Conhece a economia solidária e seus princípios? ( ) Sim ( ) Não Explicações____________________________________________________ 23ª. Participa de alguma rede ou movimento de economia solidária? ( ) Sim ( ) Não