Monografia - o Trabalho Como Instrumento de Ressocialização Do Preso - Ano 2010

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    ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARAFaculdade de Direito

    O TRABALHO COMO INSTRUMENTO EDUCADOR DERESSOCILIAZAÇÃO DO PRESO

    Luiz Guilherme de Freitas

    Belo Horizonte2010

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    LUIZ GUILHERME DE FREITAS

    O TRABALHO COMO INSTRUMENTO EDUCADOR DERESSOCILIAZAÇÃO DO PRESO

    Dissertação apresentada ao programa degraduação em Direito como requisito parcialpara obtenção do titulo de bacharel emDireito.

    Orientador: Henrique Barbosa Resende

    Belo Horizonte

    2010

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    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO: ................................................................................................................. 42. HISTORICO DA PRISÃO: ................................................................................................ 5

    2.1 No Mundo: ........................................................................................................................ 52.2 No Brasil: .......................................................................................................................... 7

    3. AS LEIS DE EXECUÇÃO PENAL: ................................................................................. 93.1 O Papael da progressão de regime na execução penal: .................................................. 113.2 Lei de execução penal brasileira nº 7.210/84 (LEP): ..................................................... 12

    3.2.1 Princípios Constitucionais da LEP...............................................................................123.2.2 A Participação Comunitária.........................................................................................13

    4. O TRABALHO DOS CONDENADOS: .......................................................................... 13 4.1 Direito ao trabalho...........................................................................................................134.2 Trabalhos como dever social...........................................................................................154.3 Trabalhos como castigo...................................................................................................164.4 Finalidades do trabalho...................................................................................................174.5 Execuções do Trabalho...................................................................................................184.6 Tipos de trabalhos...........................................................................................................204.7 Jornadas de trabalho........................................................................................................204.8 Gerência e formação Profissional...................................................................................214.9 A Remuneração...............................................................................................................22

    5. REMIÇÃO DA PENA: .................................................................................................... 22 5.1 Remição da Pena em Outros Países....................................................................................25

    6. PESQUISA DE CAMPO: ................................................................................................ 256.1 Entrevistas: ..................................................................................................................... 27

    6.2 Observação......................................................................................................................287. CONCLUSÃO: ................................................................................................................. 288. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: ............................................................................ 30

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    1. INSTRODUÇÃO:

    A historia das civilizações tem nos mostrado que a sociedade humana sifre uma

    constante mutação no espaço e no tempo, sempre em concordância com as necessidadespróprias de cada grupo social.

    Com o direito não foi diferente. Este, como os demais ramos do direito, sofreu aolongo dos tempos, variações, de forma e conteúdo, visando a sua adaptação a novas realidadessociais. Através do estudo histórico, neste trabalho desenvolvido, sobre o surgimento daprisão no mundo e no Brasil, e seus aspectos evolutivos. Demonstrar-se-á que sistemapenitenciário segue esta tendência de adaptação às necessidades sociais de uma comunidade.

    Segundo esta premissa os legisladores tentam acompanhar a evolução histórica,principalmente no sentido de banir as penas corporais. Observar-se-á este aspecto de umestudo feito de algumas leis de execução penal que estão em vigor em diversos países.

    Serão demonstrados também os objetivos da pena privativa de liberdade e suaaplicabilidade no direito penal.

    Objetivou-se nesta pesquisa avaliar a representatividade do trabalho naressocialização do detento, considerando, para tanto, a realidade das instituições penais e alegislação penal e constitucional vigente.

    Através da pesquisa de campo realizada, verificar-se-á que o sistema penitenciárioexistente é insuficiente, não possibilitando a realização de trabalho por parte de todos oscondenados, e consequentemente não logra os efeitos desejados.

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    2. HISTÓRICO DA PRISÃO:

    2.1 No Mundo

    Embora com simultâneo e idêntico propósito – o de garantir proteção ao individuo-delito e punição percorreram caminhos diferentes.

    Nos Primórdio da historia do direito, além do Carter punitivo da pena, era elatambém usada com entretenimento. As execuções aconteciam em praça publica, onde osenteciamento sofria suplícios violentos, entre eles o esquartejamento, degolamento, asdecepções de partes do corpo, etc.., assistidos em geral, por toda a população do local, que sedivertia com o acontecimento. As prisões eram, na verdade, consideradas apenas com umaantecâmara, onde o sentenciado aguardava o momento crucial.

    Tais espetáculos melancólicos, que hoje seriam interpretados como uma afronta aosDireitos Humanos, foram comuns até o final do século XVII e meados do século XVIII.

    Com o decorrer dos anos, os profissionais do direito, em especial os doutrinadores,passaram a se preocupar com esta maneira de punir e a criticar tal pratica. Foi quando surgiu aidéia a ressocializacao do condenado e da pena privativa de liberdade, quando o confinamentodo preso deveria ter não só o caráter punitivo, como também educativo.

    Cesare Beccaria (2004) e John Howard ( 2004), entre outros, insistiram na idéia deestabelecimentos apropriados para o cumprimento da pena, onde deveria haver higiene,assistência medica e alimentar, e ainda trabalho obrigatório para condenados, alem deconsiderar o preso como ser humano detentor de direitos humanos, tal qual os homens emliberdade. O preso deveria ser tratado com o mínimo de dignidade. Tais doutrinadoresperceberam que a violência utilizada como punição só gerava violência e atingia somente ofísico do condenado, não lhes ensinando nenhum valor social, nem moral, deixando-os cada

    vez mais inconformados.Jeremias Bentham (1997), por outro lado, enfatiza a qualidade preventiva da pena

    privativa de liberdade, chamando a atenção dos legisladores penais para com o futuro docondenado.

    Desta forma, procurou-se através da pena privativa de liberdade, punir ao mesmotempo mostrar ao criminoso o dano que causou à comunidade retirando-lhe a liberdade eensinando-lhes como viver em sociedade, através do aprendizado e do trabalho.

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    As Formas desumanas de punição aos poucos foram sendo substituídas pela penaprivativa de liberdade que deixa de ser utilizada como castigo e passava a ter a função de

    reestruturar os condenados. Alem da proteção à sociedade e da ressocialização, este novo tipode pena trouxe consigo, também, a reinserção social do prisioneiro.

    Tais Idéias influenciaram países como a Prússia,1780; Áustria,1788; Rússia, 1769;Pensilvânia e Toscana, 1786; Franca,1832 e Inglaterra, 1834 que iniciaram um novo tempopara a justiça penal, legalizando o instituto da pena privativa de liberdade.

    As novas legislações demonstravam que a pena de detenção tinha o objetivo decorrigir os condenados. Diversos relatórios de varias nações que eram dirigidos aos conselhosgerais pleiteavam por prisões onde fosse possível a realização de atividades pelos detentos,como relatório de treilhard:

    A ordem deve reinar nas cadeias pode contribuir fortemente para regenerar oscondenados; os vícios da educação, o contagio dos maus exemplos, aociosidade...originam crimes. Pois bem, tendemos fechar todas a fontes decorrupção; que sejam praticadas regras de sã moral nas casas de detenção; queobrigados a um trabalho de que terminarão gostando, quando dele recolherem ofruto, os condenados contraiam o habito, o gosto e a necessidade da ocupação ; quese dêem vida pura; logo começarão a lamentar o passado, primeiro sinal avança dode amor pelo dever. (FOUCALT, 2002, p.197)

    Mesmo com todos estes avanços, pouco a pouco, foi se percebendo defeitos no novosistema punitivo.

    Em meados do sec. XIX percebeu-se que princípios fundamentais, tais como correção,classificação, modulação das penas, trabalho, educação, controle técnico de detenção, para umbom funcionamento da detenção penal não era totalmente obedecidos. O ideal que sepretendia de ressocializar os condenados dentro das penitenciarias ainda estava longe de serconcretizado, como podemos ver na França:

    Avalia-se na Franca em cerca de 108 mil o numero de indivíduos que estão em

    condição de hostilidade flagrante à sociedade. Os meios de repressão de que osdispomos são: a força o pelourinho, 3 campos de trabalhos forcados, 19 casascentrais, 86 casas de justiça, 362 cadeias, 2800 prisões de cantão, 2238 quartos desegurança nos pontos de policia. Apesar desta serie de meios, o vicio conserva suaaudácia. O numero de seres não diminui,...o numero de reincidência aumenta maisque decresce. (Revue frabcaise ET etrangere de legislation, 1836):

    Nem toda a teoria e legislação formuladas para as prisões foram colocadas empratica naquele tempo, como também não procede nos dias atuais. Mas é importante ressaltarque os objetivos de reinserir o condenado com melhores condições morais e sociais nasociedade, vêm impulsionando doutrinadores e legisladores penais a tentarem fazer da prisão

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    u instituto eficiente para cumprir a tarefa regeneradora da justiça penal, que lhe é confiadapela sociedade. Podemos observar através do conhecimento da historia prisional que areforma das prisões é almejada desde o seu surgimento com o intuito de alcançar umasituação perfeita ainda somente idealizada.

    No século XIX a prisão ainda podia ser considerada recente, e apresentava muitosaspectos a serem melhorados para concretizar o fim ressocializador da pena, mas, sob umaforma fragmentaria, alcançou alguns direitos para os presos (por via das liberações

    condicionais, das semi-liberdades, da organização da central de reforma). Apesar de dotadade imperfeições ainda era o melhor instrumento utilizado para punir e reformar oindivíduo condenado, encontrado pelos legisladores penais.

    2.2 No Brasil

    O Brasil conhece a privação da liberdade como instrumento de punição no final dosec. XVIII. Antes deste período a punição era a pena corporal, a pena de morte, os martírios.A prisão era usada apenas como sala de espera da sentença pelos acusados e era consideradacomo calabouços que serviam também para abrigar doentes mentais e pessoas privadas doconvívio social como mendigos, prostitutas, etc. As casas de recolhimento dos presos no

    inicio do sec. XIX ofereciam condições precárias de sobrevivência. A prisão do Aljubecontribuía em 1733 era o próprio exemplo de desrespeito a dignidade humana, misturando

    varias classes de criminosos, “sem distinção de sexo, idade nem condição”, os órgãospúblicos não monitoravam corretamente os carcereiros e estes comandavam oestabelecimento tratando com violência os detentos, desrespeitando sai integridade física emoral. Em 1837 este “calabouço” deixa de existir por ordem do governo, após uma visita feitapela comissão de vigilância penitenciaria.

    O Ideal de penitenciaria que pudesse realmente ressocializar indivíduos incentivavalegisladores que fizerem a constituição do império do Brasil, outorgada em 1824, citando emseu art. 179 que as cadeias deveriam ser limpas e bem arejadas e, conforme a natureza doscrimes e suas circunstancias, deveria haver casas separadas para cada categoria e réu; ficariamabolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente e todas as demais penas cruéis. Oobjetivo de construir a primeira prisão brasileira, que puniria retirando a liberdade doscondenados e mencionada na Carta Regia de 1769, e mandava estabelecer uma casa de

    correção no Rio de Janeiro. Porem, só em 1834 que o governo iniciou esta obra, que seguia omodelo das nações mais desenvolvidas. A Casa de correção da corte (atual penitenciária

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    Lemos Brito) foi regulamentada em 1850, destinada a execução da pena de prisão comtrabalho, que possuía o duplo objetivo de reprimir e reabilitar.

    O ideal era que o condenado cumprisse a pena no seu ambiente, perto da família,segundo o Código Criminal do Império de 1830. para isso, seria necessário que cada

    município tivesse sua casa de correção, oferecendo trabalho e condições favoráveis para osreclusos. Um ou outro município construiu, mas estas não eram suficientes para comportar ogrande numero de prisioneiros. Desta forma, os juízes, já sabendo da falta de casas decorreções nos municípios, determinavam que os indivíduos condenados a cumprir a penarealizando trabalho fossem encaminhados para a casa de correção da corte, que era a únicacom capacidade para abriga-los6. E Claro que este fator causou a super lotação desta que nãoalcançou a eficiência pretendida, não cumprindo com o papel de ressocializadora, já que não

    podia oferecer condições de realização de trabalho para todos condenados que ali chegavam.O Código penal de 1890 (código Penal dos Estados Unidos do Brasil) estabeleceu novasmodalidades de penas, como a prisão celular, reclusão prisão com o trabalho obrigatório eprisão disciplinar. Não deveria exceder a pena de 30 anos, sendo de caráter provisório. CadaTipo de pena deveria ter seu local apropriado para cumprimento, mas era dispendioso para oEstado construir quantidades suficientes de prisões que entendessem esse critério deindividualização da pena. Assim as antigas falhas continuaram vigorando, devendo ser

    encaminhado para qualquer estabelecimento prisional que o comportasse, mesmo que longedo local do domicilio.

    Em 1935, o Código Peninteciário da Republica foi aprovado e seguia os mesmopressupostos de regeneração do condenado do antigo código (Código Penal do EstadosUnidos). Neste novo código, o objetivo de disciplinar os detentos foi enfatizado, prevendo umrol de penalidades internas com uma diversidade bem maior que a prevista nos regimentosinternos das peninteciárias do tempo do código de 1890. Os castigos eram mais severos comoa privação de estudo e a proibição de encaminhar petições a justiça. A obrigatoriedade dotrabalho penitenciário tinha como objetivo aliviar os cofres públicos das despesas prisionais,assim como promover educação e readaptação social do preso.

    Em 7 de dezembro de 1940 foi promulgado um código com regras complexas, emuma nova tentativa de adequar cada preso ao seu local ideal para cumprir a pena. A pena dereclusão e de detenção deveria ser cumprida, “em penitenciária, ou à falta, em seção especialde prisão comum”, com trabalho remunerado e isolamento contínuo durante período de pena.O condenado a detenção deveria ficar separado do condenado a reclusão. A prisão simplesdeveria ser cumprida em seção especial de prisão comum, sendo facultativo o trabalho,

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    quando a pena não excedente 15 dias. As mulheres deviam cumprir pena em estabelecimentoespeciais. O cumprimento das medidas de segurança: manicômio judiciário, casa de custodiae tratamento, colônia agrícola ou instituto de trabalho de reeducação ou ensino profissional8.

    A legislação era plausível, mas os problemas práticos do passado ainda continuavam.

    Não era possível aos municípios adequar cada prisioneiro a seu tipo de prisão, pois estas nãoexistiam e não havia possibilidade de construí-las sem onerar demasiadamente os cofrespúblicos. O estabelecimento para qual era levado maioria dos condenados era a “prisãocomum”, que continuava sendo a única capaz de comportá-los. Neste e nas grandespenitenciárias (dotadas de aparatos e aparelhagem para realização de trabalho de presos),devido a super lotação, a separação de diversas classes de condenados determinada em lei nãoacontecia, com também não era possível que todos os detentos realizassem trabalhos, ficando

    impedido assim, o objetivo da pena de ser concretizado.Ainda hoje um dos grandes problemas encontrados para que sejam realizados os

    objetivos da pena privativa de liberdade é a superlotação das penitenciárias, que impede odesenvolvimento das políticas criminais e consequentemente do condenado como sersociável.

    2. A LEI DE EXECUÇÃO PENAL:

    A execução é parte mais importante do sistema penal, pois, sem ela, a condenação nãosurtiria o efeito desejado. Um dos aspectos mais importantes da legislação penal é a maneiracomo esta execução de pena é realizada pelos sentenciados e o Direito Penal mundial preza aque tenha como objetivo e reeducação do sentenciado e sua reinserção social. Para que esteobjetivo seja Alcançado é necessário que o Estado forneça aos condenados meios que possacumprir sua pena e ao mesmo tempo instruir-se profissional, social, educacional eculturalmente. A Pena na deve funcionar como castigo, e sim como instrumento dereestruturação do caráter social dos que estão sujeitos.

    Como exemplos de legislações modernas que seguem o raciocínio descritoanteriormente, ou seja, que são vinculadoras da pena à sua finalidade, podemos citar o art. 1ºda LEP; art. 1º da Lei Penitenciária da Espanha; art. 2º da Lei das Normas Mínimas doMéxico de 1971 e o art. 6º do Decreto – Lei 402/82 português. Outro aspecto importante a seraveriguado é o respeito aos princípios de humanidade e da dignidade dos indivíduos quedevem ser estritamente previstos pelos ordenamentos jurídicos em geral, como se segue oexemplo da constituição mexicana, a da Itália, Espanha, Iugoslávia, Alemanha, Suécia, Brasil,

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    e como o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos estabelece em seu art. 10,quando trata de indivíduos privados de liberdade.

    A Lei Penitenciária Alemã de 1976 faz oferta de ajuda ao delinqüente para suareinserção na comunidade em seu próprio beneficio e o da sociedade. A Convenção

    Americana sobre Direitos Humanos (Pacto as São Jose da Costa Rica) determina que as penasprivativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social docondenado”. O Projeto alternativo do código alemão, parágrafo 37 e o anteprojeto argentinode 1974 representam como o direito comparado, modernamente, considera em sua legislaçãoa finalidade da pena:

    Parágrafo 37..................................................................................................................A execução tem por fim obter a reincorporarão do condenado na comunicação jurídica.

    Na execução o condenado será exortado para sua auto-responsabilidade. Enquantopermita a personalidade do condenado, será aliviada a execução. As relações docondenado com o mundo exterior beneficiarão, enquanto sirvam ao fim da pena.

    Art. 19. As penas que estabelecem este código perseguem principalmente areeducação do condenado. São, por ordem de gravidade da prisão, a multa einabilitação. A lei de execução penal determinará as demais modalidades de seucumprimento.

    No Brasil a necessidade a necessidade de uma regulamentação para as normas deexecução penal, desde 1933, era percebida por doutrinadores como Candido Mendes, LemosBrito e Heitor de Carvalho. Essas Normas eram muitas e essenciais para um bomfuncionamento do sistema prisional, e o Código Penal e o Processo Penal não continhamlugares adequados para sua regulamentação. Após varias tentativas (diversos anteprojetos delei apresentados) de conquistar a autonomia legislativa do direito penitenciário, em 11 de julho de 1984 foi promulgada a lei de nº 7.210, em vigor aos dias atuais, que recebia o nomede Lei de Execução Penal.

    O objetivo desta lei é demonstrado em seu art. 1º: “A execução penal tem por objetivoefetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições paraharmonia integração social do condenado e do internado”

    Faz-se necessário que os presos tenham orientação adequada, instrução eensinamentos com vista à sua profissionalização ou aperfeiçoamento.

    Eles precisam de meios para que possam desenvolver suas habilidades, e uma vezdentro das penitenciárias, e principalmente em regime fechado, o estado tem obrigação de

    oferecer essas condições, contando também com o apoio da comunidade.

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    A natureza da LEP é jurídica, administrativa e social, sendo portanto complexa, sedesenvolvendo através de planos. Social porque conta com a comunidade para auxiliar osegressos, confiando no processo reabilitador oferecido palas penitenciárias, como porexemplo, na Mao de obra do ex- presidiário. Judiciária quando trata do conhecimento,

    Julgamento e execução de sentença (órgãos jurisdicionais). Administrativa é a tarefadesempenhada pelos estabelecimentos penais.

    Um dos instrumentos utilizados para que os objetivos do sistema penitenciário fossemalcançados foi o trabalho desenvolvido pelos condenados, que influenciou a legislação dediversos países no sec. XIX, que incluíram em seu ordenamento. Através do caráterprogressivo da execução da pena cumulado à remissão parcial desta pelas atividades laborais,aos poucos, os sistemas celular e auburniano de prisão foram sendo susbstituidos pelo regime

    progressivo.

    2.1 O Papel da progressão de Regime na Execução Penal

    O sistema progressivo nasceu na Inglaterra, em 1840 após a reforma de umapenitenciária na ilha Norfolk que mantinha os presos sob péssimas condições desobrevivências, não respeitando seus direitos básicos como integridade física e moral,

    alimentação adequada e trabalho. Maconochie foi o precursor desta idéia, que estabeleceu umsistema de prêmios e benefícios no lugar de castigo e severidade na sociedade prisional. Aochegar na prisão, o condenado ficava um período em isolamento para pensar em seu crime,depois era encaminhado para perto de outros presos onde desenvolvia trabalhos. Com umaboa conduta, podia ter a liberdade condicional e progressivamente a definitiva.

    Neste sistema, hoje inserido no regime de execução penal de países que apresentamum moderna legislação, o preso é responsável por sua liberdade, podendo adquiri-la sendofieis às atividades laborais e tendo boa conduta enquanto reclusos para merecerem seremreincluidos na sociedade. Podemos considerar este instituto uma maneira de incentivar oscondenados a comportarem de acordo com as regras impostas em seus estabelecimentosprisionais para manutenção da ordem e do bom desempenho profissional.

    No direito espanhol a redenção das penas está condicionada à disciplina docondenado, que exige a boa conduta do interno além da atividade laboral. Diz assim Mariadas Graças Morais Dias a respeito ao art. 100 do Código Penal espanhol com as alterações doDecreto de 23 Dezembro de 1944 e o Decreto de 28 de Março de 1963.

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    No Brasil o instituto da progressão é citado na LEP em sue art. 112, e trata datransferência do condenado de um regime mais rigoroso a um menos rigoroso, se demonstrarmérito, agindo conforme as regras de seu estabelecimento e demonstrado estar apto aconviver em um sistema de vigilância mais ameno, como o regime semiaberto, entrando aos

    poucos em contato coma liberdade. Além disso, deve o preso cumprir um sexto da pena ou dototal da pena que lhe foram designadas no regime inicial. Por isso podemos dizer que énecessário que realize dois requisitos materiais, um subjetivo e outro objetivo.

    Faz-se também necessário o exame criminológico na passagem do preso do regimefechado para o semiaberto, que consiste no estudo da personalidade do delinquente para aindividualização da pena. Desta forma as características de cada interno são consideradasisoladamente, e possibilita que cada um receba o tratamento ideal conforme suas necessidades

    psicológicas. Através deste exame deduz-se conclusões sobre probabilidades de reincidênciae a possibilidade de reeducação de cada individuo. O art. 8º da LEP determina aobrigatoriedade de exame criminológico para o interno que iniciará no regime fechado.

    Também é indispensável avaliação da comissão técnica de classificação, responsávelpelo programa de individualização e acompanhamento da execução.

    Caso seja cometida falta grave pelo condenado a regime fechado, será interrompida acontagem do tempo de pena para efeito de progressão e esta reiniciará. Esta é uma forma de

    punir o condenado que age contra regras impostas dentro dos estabelecimentos prisionais.

    2.2 Lei de Execução Penal Brasileira nº 7.210/84 (LEP)

    2.2.1 Princípios Constitucionais da LEP

    São Vários os princípios que regem a LEP, como: da Jurisdicionalidade (art. 2º), dalegalidade, da igualdade e da liberdade (art. 3º e parágrafo único), da individualização dapersonalidade e da proporcionalidade (art. 5º e 6º) e da humanização da pena. Este ultimo éextremamente importante para o caráter ressocializador da pena ser efetivado, pois garante opreso como “sujeito de deveres e direitos, que devem ser respeitados, sem que haja excessode regalias, o que tornaria a punicao desprovida de sua finalidade.”

    No Estado democrático de direito, o direito penal deve estar a serviço do interessesindividuais protegidos. Deve agir somente quando for imprescindível para a segurança doscidadãos, e só assim será legitimada sua atuação. Podemos dizer q ue a LEP está vinculadadiretamente aos princípios que regerem a nossa Constituição federal de 1988, principalmente

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    quando se trata de garantias individuas, não podendo o objetivo do Direito Penal implicar naviolação dos princípios Fundamentais. A dignidade da pessoa humana deve permanecersempre, não interessando qual situação que esta se encontra, se livre ou encarcerada.

    2.2.2 A Participação Comunitária

    A Participação Comunitária está prevista no art. 4º da lei de execução brasileira: “OEstado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena eda medida de segurança”. Essa responsabilidade atribuída à comunidade é tão justa quantonecessária, o esforço do estado não logrará sucesso se não for aprovado e incentivado por seumaior beneficiário, a sociedade. A comunidade deve conscientizar-se da importância da

    ressocialização do condenado que será reinserido na sociedade e contribuir para que as açõesestatais previstas na LEP para realização deste fim sejam realizadas.

    Um dos órgãos da execução penal é o Conselho da Comunidade, que deve haver emcada comarca, que incumbido de visitar os estabelecimentos penais, entrevistar os presos,apresentar relatórios mensais ao juiz da execução e ao conselho, e diligenciar a obtenção derecursos materiais e humanos, para assistência ao condenado. Este órgão é uma forma deefetivar a participação da sociedade junto ao Estado na assistência destes.

    O Diretor do DEPEN, é a favor da parceria entre Estado e Sociedade para coordenaros trabalhos de assistência aos que estão dentro das cadeias e aos que já saíram dela. Segundoo DEPEM os trabalhos realizados por ONG`s sem fins lucrativos, já estão acontecendo emalguns Estados e os resultados são positivos.

    3. TRABALHO DOS CONDENADOS:

    3.1 Direito ao Trabalho

    Os Indivíduos que se encontram em estabelecimento penitenciários, por estaremprivados de sua liberdade, são cerceados de alguns direitos Constitucionais e legais, mas nãoperdem com a sua liberdade a condição de pessoa humana e a titularidade de direitos nãoatingidos pela condenação. O Estado tem a obrigação de garantir aos presos que seus direitoshumanos e sociais sejam respeitados sendo este invioláveis, imprescindíveis e irrenunciáveis eainda dar-lhes condições ara realização destes. Esta Obrigação parte do pressuposto de

    estarem os reclusos, muitas vezes, inaptos para concretizarem seus direitos

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    independentemente, principalmente tratando-se de presos que cumprem pena em regimefechado.

    No artigo 6º a Constituição Federal de 1988 assegura ao preso o trabalho com DireitoSocial.

    Art. 6º.“São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, asegurança, a previdência social, a proteção, à maternidade e a infância, a assistência aosdesamparados na forma desta constituição”

    Jason Albergaria enfatiza o trabalho como Direito Social junto ao direito à educação,que está vinculado ao desenvolvimento da personalidade do recluso:

    O Direito ao trabalho, como trabalho formativo, é, ao lado do direito à educação, umdos diretos sociais de grande significação. Na Participação das atividades dotrabalho, o preso se auto-aperfeiçoa e se prepara para servir à sociedade.

    Segundo art. 40 da LEP, “impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridadefísica e moral dos condenados e dos presos provisórios.” Segue o art. 41 que garante comodireito do preso:

    Alimentação suficiente e vestuário; Atribuição de trabalho e sua remuneração;Previdência social;Constituição de pecúlio;Proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e arecreação;Exercício de atividades profissionais, intelectuais. Assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;Proteção contra a qualquer forma de sensacionalismo;Entrevista pessoal e reservada com advogado;Visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;Chamamento nominal; Igualdade de tratamento, salvo quanto a exigência da individualização da pena; Audiência especial com diretor do estabelecimento; Representação e petição a qualquer autoridade em defesa de direito;Contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e deoutros meios de informação que não comprometem a moral e os bons costumes.

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    Alguns dos direitos do preso não podem ser excluídos, restritos nem suspendidos,outros, para a manutenção de disciplina do estabelecimento penal e controle da segurança,podem ser provisoriamente suspensos, como elencados nos incisos V, X e XV do art. 41 daLEP. É permitido ao diretor penitenciário suspender ou reduzir a jornada de trabalho, da

    recreação, das visitas e do contrato com o mundo exterior conforme a necessidade.A LEP, seguindo as regras mínimas da ONU, deixa bem clara a necessidade do

    trabalho remunerado desenvolvido em penitenciarias e considera o direito que o preso tem deexercê-lo.

    O recluso tem o maior interesse na realização deste trabalho, pois, é através dele queconsegue o recurso financeiro para sustentar a família, constituir pecúlio, ressarcir os danoscausados às vitimas e até mesmo ressarcir o Estado das despesas com sua manutenção e além

    de tudo isso, remir sua pena, adiantando o processo de sua liberdade.O que impede muitas vezes de ser cumprido o direito do detento ao trabalho é a

    insuficiência do Estado, que não fornece meios para que os presos possam trabalhar, comomaterial e local adequado para desenvolverem suas habilidades. Assim fica impossibilitadode exercer seu direito, não por vontade própria, mas sim por descaso estatal.

    3.2 Trabalho como Dever Social

    Segundo as regras da ONU, todos os presos devem ser submetidos à obrigação detrabalho, tendo-se em conta sua obrigação física e mental. As regras da ONU dão novoEstatuto Jurídico do Trabalho Penal, desvinculado de seu caráter desumano e afetivo, éorientando-o para reintegração social do recluso. Neste sentido manifesta-se a ONU:

    A Organização e os métodos de trabalho penitenciários deverão assemelhar-se osmais possível aos que se aplicam a um trabalhador similar fora do estabelecimento, afim de preparar os reclusos para as condições normais de trabalho. Todavia, osinteresse dos presos e de sua formação profissional não deverão ficar subordinadosao desejo de lograr benefícios pecuniários para uma industria penitenciaria.

    A Lei de execução penal, seguindo os valores jurídicos mundialmente reconhecidos,considera o trabalho como um dever do condenado e também como instrumento deaprimoramento de sua condição como ser humano detentor de direitos e deveres:

    “Art. 28. O Trabalho do condenado, como dever social e condição de

    dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva”.

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    “Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado aotrabalho na medida de suas aptidões e capacidade”.“Art. 39. Constituem deveres do condenado”.“V – Execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas”.

    O Art. 39 da LEP procura estabelecer uma relação de reciprocidade de tratamentoentre Estado e condenado, afirmando os deveres dos presos que se contrapõe ao direito que oEstado tem de executar a sentença.

    O condenado tem o dever de ressarcir as vitimas dos danos causados, e repor aoEstado os gastos com sua manutenção dentro da prisão. A forma deve efetuar taisindenizações é acumulando recursos financeiros com os trabalhos realizados enquanto

    recluso, que também é um dever dele, e posteriormente pagar as dividas.A Obrigação ao trabalho não conta com a coação para concretizar o seu cumprimento,

    não podendo as autoridades forçar física ou psicologicamente os condenados. Eles só podemsofre sansões disciplinares quando não desempenharem a função designada pelas autoridades,mas não coação.

    A Importância que é dada ao trabalho na execução penal, que é usado como uminstrumento reeducador de condenados, o torna necessário e por isso obrigatório, sendo

    beneficio tanto para o individuo que irá realizá-lo, quanto para o Estado.

    3.3 Trabalho como Castigo

    “Para punir um homem retributivamente é preciso injuriá-lo. Paratanto reformá-lo, é preciso melhorá-lo. E os homens não melhoráveisatravés de injurias”. Bernard Shaw

    A Punição do condenado se concretiza quando tem sua liberdade tomada pelo Estadoe é excluído da sociedade.

    Desta forma não cabe ao Estado a função de explorar as atividades do condenado,como se esta fosse um instrumento punitivo. Ele deve agir somente como responsável pelaorganização laboral nos estabelecimentos. O trabalho deve ser usado como instrumentoreeducador de prisioneiros que serão reincluidos na sociedade, e não como castigo,objetivando vingar o ato criminoso. Se este for causar sofrimento para o individuo, é melhor

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    que seja realizado. Esta é a premissa do se. XX, que considera o sofrimento do preso umpropulsor para a revolta e violência. Beccaria (1997), foi um colaborador para a evoluçãodeste pensamento, considerava que os“os países e os tempos dos suplícios mais atrozes foram sempre aqueles das ações mais violentas e inumanas”

    Na idade moderna o trabalho forçado era realizado com intuito de castigar, ao lado dadeportação, interdição de domicilio, reclusão, acoites, mutilação física, morte.

    Beccaria (1997), diz ser a“justiça o vinculo necessário para manter os interesses particulares, que, do contrario, se desenvolveriam no antigo estado de insociabilidade. Todoas penas que ultrapassem a necessidade de conservar esse vinculo são injustas pela próprianatureza”. Desta forma a pena deve procurar ser justa, e violência, em tempo algum nahistoria, pôde ser considerada como tal.

    3.4 Finalidades do trabalho

    A pena possui finalidades próprias como: punição retributiva do mal causado pelodelinquente; prevenção da prática de novas infrações , através da intimação do condenado ede pessoas potencialmente criminosos; regeneração do preso. O fim da pena é de impedir queo réu cause novos danos aos seus concidadãos e demover os outros de agir desse modo.

    Características positivas apresentada pela realização do trabalho o fazem umimportante e essencial instrumento utilizado por legisladores penais pra que a pena alcanceessas finalidade. Desta forma o trabalho não deve ser considerado apenas como direito e deverdo condenado, pois, apresenta objetivo determinante para concretização do bem do condenadoe da sociedade em geral.

    Em vários aspectos o trabalho apresenta efeito positivo, como nos apresenta FranciscoBueno Arus: No âmbito disciplinar, evita os efeitos corruptores do ócio e contribuir para amanutenção da ordem dentro dos estabelecimentos prisionais; no educativo, contribuir para aformação da personalidade do individuo; no sanitário, conserva o equilíbrio orgânico epsíquico do condenado; no econômico, permite ao preso dispor de algum dinheiro para suasnecessidades dentro das prisões e para sustentar sua família; enfim, no âmbito ressocializador,aprenderá um ofício e terá mais possibilidades de exercer atividades remuneradas quando emliberdade, podendo conquistar uma honrada qualidade de vida com mais facilidade.

    Além destes pontos, evita a solidão, responsável por neuroses, muitas vezes motivo deviolência dentro dos estabelecimentos penais; inculta ao preso o sentimento de utilidade,

    incentivando-o; diminuem a promiscuidade carcerária e consequentemente o índice de

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    condenados com doenças sexualmente transmissíveis. Reafirmando, o trabalho é umnecessário instrumento reformador.

    O Diretor do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) acredita ser o trabalhodentro das casas de reclusão uma das melhores formas de ressocialização do preso,

    preparando-o para viver em harmonia com a sociedade da qual um dia foi excluído: “Otrabalho, no âmbito penitenciário, não tem só o caráter de repassar ao recluso um ocupaçãolaborterápico”. Também afirma que a superlotação prisional e grande causa de inviabilidadedo cumprimento das funções da pena: punição e reabilitação.

    `E claro que esta superlotação de que fala o diretor penitenciário impede tambémrealização do trabalho por todos os presos que tem interesse; organização destes de acordocom ordenado na lei (local determinado para cada tipo criminoso); segurança prisional, etc.

    3.5 A Execução do Trabalho

    O Trabalho e a providencia dos povos modernos; serve-lhes como moral,preenche o vazio das crenças e passa por ser o principio do todo o bem. O trabalhodevia ser a religião das prisões. A uma sociedade – maquina, seriam meios dereforma puramente mecânicos.

    A Mao de obra dos prisioneiros ‘e usada e considerada essencial em países como

    Rússia e Japão. Na Rússia o cenário destes trabalhadores ‘e completamente diferente doapresentado na maioria dos sistemas prisionais. Eles são levados para as áreas onde estãosendo construídas obras como pontes, estradas derrubamento de florestas, etc., para asrealizarem. São estes locais verdadeiros“campos de trabalhos”, onde se verifica umaconcentração de prisioneiros em atividades laborais com fim remunerado. Neste sistema todosos presos recebem e contribuem com parte dele para a manutenção das penitenciarias que sãousadas, na maioria das vezes, só como dormitórios. ‘E claro que para isto ocorra, o Estadodesempenha um papel propulsor, que ‘e essencial. Ele tem as despesas para criar condições detrabalhos para os presos, mas ‘e recompensado quando desonerado para a manutenção dosestabelecimentos penais.

    No Japão apenas 20% dos presos não trabalham, ‘e claro que ‘e fácil imaginar estasituação, sendo este pais considerado com uma “máquina de produção”, não se permite queexistia desperdício de mão-de-obra. Os condenados são aproveitados para realização detrabalhos, sendo devidamente remunerados. Este fato satisfaz tanto o Estado que ‘edesonerado, quanto os detentos, que realizam atividades e consequentemente tem seus ânimosrenovados, a partir do momento que podem arcar com s substancia da família.

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    No livro de Augusto Thompson, “A Questão Penitenciária”, são fornecidas algumasinformações sobre o sistema penitenciário sueco que merecem ser destacadas neste texto: oíndice de violência ‘e baixo; ‘e intensa a assistência educacional, psiquiátrica e de treinamentoprofissional mesmo para internos maior periculosidade; as prisões fechadas preparam visitas

    conjugais uma vez por semana; os detentos tem alojamentos individuais, que mais parecemquartos universitários; os prisioneiros enviados para instituições abertas mantém empregosonde recebem salário equiparado ao dos trabalhadores livres; na prisão Tillberga tem sauna,natação, esquiagem e até espaço para pratica de golfe. Realmente apresenta este sistemaprisional uma evolução ainda não vista em qualquer outro país.

    No entanto, o objetivo reabilitador deste não ‘e averiguado, por decepção de diversosestudiosos que nele confiaram. O índice de reincidentes assusta a todos que consideravam ser

    a Suécia em questão criminal um modelo a ser seguido.O que justifica este fato, foi explicado por funcionários e críticos, ‘e a indiferença da

    sociedade causada pelo preconceito desta em relação aos ex-detentos. Eles não sãoconsiderados com indivíduos dispostos ao trabalho, mas sim como criminosos, não sendoaceitos na sociedade.

    Mesmo sabendo que Thompson tem uma visão pessimista do sistema pena,considerando-o incapaz na função de reeducação social dos condenados, estes fatos citados

    em sua obra são alarmantes. Se o modelo considerado como ideal não atinge seus objetivos,qual conseguiria então? Bom, se não for alcançado o objetivo, nem com varias tentativas, dereformar os condenados no futuro, onde a integridade física e moral dos indivíduos serãorespeitadas, pelo menos eles estarão sendo tratados de acordo com os princípios humanos. Porisso nada justifica deixar de acreditar em sistemas ideais de reclusões, mesmo que algum játenha falhado.

    Os Estados Unidos apresentam, assim como países subdesenvolvidos, penitenciariascom situações precárias. Apesar de ser a nação mais rica do mundo, os recursos públicos sãolimitados. A desigualdade social contribui para a violência que aumenta em grandesproporções a população carcerária, e cada vez mais o Estado se torna inoperante para assisti-la. Os Estados Unidos encarceram indivíduos em numero muito maior e por períodos maioresdo que qualquer outro país desenvolvido. No entanto, seus índices de violência superam aodos países da Europa Ocidental. O estado da Califórnia construiu 21 prisões desde 1984 eabriu apenas uma faculdade, ou seja, a marginalidade, em todo o mundo, está superandoqualquer expectativa de paz.

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    No Brasil, em muitos presídios espalhados por todas as regiões do pais, existemoficinas instaladas pelos governos do estados onde são desenvolvidas, pelos detentos,atividades de marcenaria, serralheria, costura e carpintaria.

    Estão sendo realizadas parcerias entre o Estado e empresas privadas para instalação de

    pequenas indústrias dentro das instituições prisionais. Nestes casos os condenados deverão sercapacitados pelas empresas para efetuarem as atividades. Essas serão devidamenteremuneradas conforme a LEP.

    Alguns institutos prisionais no Brasil, como APAC, por exemplo, cumprem a funçãoreeducativa da pena, mas, estes ainda são insuficientes para atenderem toda a demanda decriminosos a serem regenerados assistentes no país.

    3.6 Tipos de Trabalhos

    Os Tipos de trabalhos que podem ser realizados variam de acordo com a região emque se localizam as prisões e de acordo com os recursos materiais oferecidos pelaadministração de cada penitenciária. O art. 32 da LEP limita o artesanato, por não ser umaatividade rentável, senão em áreas turísticas. Mas também não pode proibir que sejamrealizadas se não tiverem como praticarem outras tarefas. O artesanato não é a melhor

    atividade, mas em muitas penitenciarias é a única possível de ser praticada.As Atividades mais aconselháveis são as agrícolas, industrial e intelectual que devem

    prosseguir depois da observância dos detentos, que devem ser examinados individualmente, afim de compreender quais suas aptidões, suas necessidades futuras e sua condição pessoal.Trabalho burocrático e outros não classificados acima, como por exemplo, o de faxina deveser considerado se bem controlados, pois contribuem para a formação de preso. Esta é acorrente seguida por maioria dos doutrinadores. Todo tipo de atividade é valido a partir domomento beneficia os condenados, por isso deve ser remunerada e utilizada para contagem daremição da pena a fim de incentivá-los.

    3.7 Jornada de Trabalho

    Dispõe a LEP que a jornada de trabalho realizada pelos detentos deve ser de noMaximo 8 horas e no mínimo 6 horas. Isto para evitar que o preso trabalhe dias a fio semcessar, para remir sua pena, com o fim de findá-la rapidamente. O problema aparece quandoo detento apesar de cumprir suas obrigações, não ocupa o tempo mínimo exigido, não

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    podendo computar o tempo trabalhado em prol da remição. Sobre este respeito à jurisprudência diverge, sendo favorável em algumas ocasiões. É fato que deve se fazeresforço para manter o recluso ocupado, para melhor disciplina nos presídios e qualificaçãodos detentos e a esta ocupação deve-se dar a devida importância.

    Tem também o preso, o direito a descanso nos domingos e feriados. Assemelham-seassim, regras do trabalhador livre à do prisioneiro. O objetivo é a integração do detentonovamente à sociedade, com capacidade de render tal qual um trabalhador jamais recluso, deacordo com as necessidades do mercado.

    Em meio às atividades deve ser garantido um horário para recreação, alimentação einstrução.

    3.8 Gerência e Formação Profissional

    A Legislação alterna entre o setor estatal e o privado para a gerência do trabalhoprisional. A empresa publica e a fundação instituída pelo poder público, que tem autonomiaadministrativa na organização profissional e também administração. O objetivo destaalternação é evitar que não somente o lucro seja visado pelo setor privado e ao mesmo tempogarantir a característica empresarial dos serviços prestados. Desta forma, tanto o lado

    profissional é valorizado quanto concretizado um de seus objetivos, que é a humanização dasatividades laborais.

    O produto resultado do trabalho dos prisioneiros deverá, segundo a Lei de Execução,ser vendido a particulares na maioria das vezes para garantir a competitividade com omercado e somente quando realmente necessário adquirido pela administração publica. Aimportância arrecadada reverter-se-á em favor da fundação ou empresa publica, ou na suafalta, em favor do estabelecimento penal.

    Paulo Lucio Nogueira traz idéias inovadoras, não no panorama mundial, mas nobrasileiro, quando sugere a privatização dos presídios. Lembra os benefícios que esta vemtrazendo para países com Estados Unidos, inclusive lucro para o próprio preso. Segundo ele,seria uma forma de ignorar o descaso do estado, e valorizar a iniciativa privada. Segundo oProfessor e Criminalista Luis Flavio Borges, citado em sua obra,“tanto o empresário quantoo Estado podem ganhar com a privatizava dos sistema penitenciário”. Mas, esta é umadiscussão que além de longa se torna mais complexa e interessante, e este não seria omomento ideal para tratá-la.

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    3.9 A Remuneração

    Como já foi dito antes, o trabalho realizado por condenados tem também o objetivo deigualá-lo em condições semelhantes à de indivíduos em liberdade, por isso nossa legislação

    prevê sua remuneração que deve ser de no mínimo três quartos do salário mínimo e proibihipótese que este seja forçado.

    A renda provida dos produtos prisionais destinar-se-á a pagamento da indenização dosdanos causados pelo crime, à assistência à família, ao pagamento de despesas pessoais, aoressarcimento ao Estado das despesas realizadas com manutenção do condenado e partedeverá ser depositada para constituição do pecúlio, em caderneta de poupança, que pertenceao condenado quando posto em liberdade.

    Esta remuneração é também uma forma de incentivo ao esforço do condenado, queapesar de ter cometido crimes no passado, busca uma forma de redimir seu erro. O preso quetem oportunidade de participar de atividades dentro das penitenciarias irá desenvolver aconfiança em si mesmo, aprendendo uma forma de sustento diferenciada da que lhe foiproposta enquanto estava em liberdade. Deixará a reclusão com novas capacidades e se fordada a devida assistência ao egresso, como um oportunidade de continuar desempenhando otrabalho que aprendeu quando incluso, pode jamais abandonar o habito de conquistar com

    seus próprios esforços, através de atividades laborais o seu sustento e de sua família.

    4. REMIÇÃO DA PENA:

    Através do instituto da remição da pena, a LEP em seus arts. 126 a 130 incentivam ocondenado a realizar o trabalho previsto na lei. Isto por que o preso tem sua pena diminuída.Para cada três dias trabalhados é remido um dia de pena. Esta é uma inovação da LEP, ligadadiretamente à atividade laboral do apenado e consequentemente ao caráter ressocializador dapena:

    “O Condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semi-aberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo da execução da pena”.

    Na lei não se faz destinação de qual tipo de trabalho deve ser realizado, podendo entãoser interno ou externo, agrícola ou industrial, manual ou intelectual, e até mesmo artesanal, seautorizado.

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    A autora Carmem da Silva de Morais Barros chama atenção para o caráterindividualizado da remição:

    Tendo-se a individualização como adaptação da pena abstrata, qualitativa equantitativamente ao delinquente real. continua dizendo que “para ter efeitosindividualizadores o trabalho do preso deve: ser facilitado pela administração ; ser

    visto como qualquer outro trabalho; não ter caráter aflitivo; ter em vista a formaçãoprofissional dos internos; ser escolhido de acordo comas aptidões individuais; serremunerado e produtivo, e eliminar as diferenças não necessárias entre o trabalhadorpreso e o trabalhador livre”.

    Paduani (2002), enfatiza que:

    Ressocializar o preso pelo labor significa tornar a socializá-lo, à vista de suaexclusão por força de sua conduta anti-social quando do cometimento da infraçãodelitiva. Teologicamente, se a condenação imposta ao infrator tem, por primeiro, opropósito de efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal, ao mesmotempo prepara condições especificamente pela execução do trabalho, para devolvê-lo sadiamente a sociedade.

    Acordando com Cesar Paduani, a remição é considerada pela maioria dosdoutrinadores como essencial à reabilitação do interno. ETs incentiva o condenado a aceitar otrabalho e a educação oferecida nas penitenciarias, fatores fundamentais do tratamentoreeducativo, segundo Jason Albergaria. O que ainda atrapalha muito a realização pratica dalei é o descaso do Estado, que em vários momentos não oferece aos condenados meios paraque possam ter suas penas remidas. O trabalho, apesar de obrigatório, muitas vezes nãoconsegue ser praticado com continuidade necessária. E este, quando esporádico e ocasionalnão logra os efeitos almejados pela lei.

    Julio Fabrini Mirabete, argumenta que se o preso estiver disposto ao trabalho, masestiver ocioso porque não lhe fornece condições para realizá-lo, não deve ficar impedido deremir sua pena, pois não pode ser responsabilizado pela insuficiência estatal. Ou seja, paracada três (3) dias que supostamente estaria exercendo atividades, tem o interno o direito dediminuir um (1) dia da pena. Mas, a jurisprudência averiguada dos dias atuais desconsidera oEstado em sua responsabilidade, não permitindo a remição da pena quando provado os diastrabalhados. Assim, ao preso fica atribuída toda a obrigação de exercer a atividade laboral.

    Na própria obra de Mirabete (2002), Execução penal, sai citados alguns exemplos de jurisprudência que não redimem a pena se não provado o trabalho exercido:“Falta deatribuição de trabalho não dá direito à remição”, TJSP, alega utilizando os arts 41, inciso IIe 126 a 130 da LEP, que a falta de condições no presídio para o trabalho do preso não justifica

    resgatar parte do tempo da pena corporal, pois não esta de acordo com as regras da remição.

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    Esta decisão do TJSP é apoiada pelo TACRSP, que diz ser esta situação desamparadalegalmente, pois em nenhuma das leis penais existe a previsão do trabalho com direito docondenado e obrigação do Estado. “Falta de atribuição de trabalho a deficiente físico” TJSP,não admite a remição da pena nem mesmo para os presos que podem realizar atividades

    laborais por deficiência, alegando não ser o Estado obrigado a oferecer trabalho a todos ospresos.

    A LEP só considera ser possível a remição em casos de ausência de trabalhopenitenciário quando o preso acidentou-se realizando o labor e por isso ao pode prosseguircom as atividades. No Art. 126, parágrafo 2º, esta contagem prossegue para os dias em querealmente o preso estiver impossibilitado de trabalhar.

    Outra disposição legal que merece atenção é sobre revogação do direito a remição, art.

    127 LEP,“O condenado que for punido por falta grave perderá o direito ao tempo remitido,começando o novo período a partir da data da infração disciplinar”. O instituto da remiçãoapesar de ser considerado como beneficio tanto para o preso quanto para a sociedade e oEstado, é dificultado pela lei, até mesmo ferindo princípios constitucionais, como o dainviolabilidade dos direitos já adquiridos, art. 5º, XXXVI, CF. A remição trata de umaesforço feito pelo preso no passado e não deve ser este ignorado por atitudes futuras que estevenha apresentar. É notório que o art. 127 contradiz os artigos da legislação penal que

    defendem a individualização e humanização da pena.Neste caso a clausularebus sic stantibus não deveria ser aplicada, como entende

    Andre Gustavo Isola Fonseca e outros doutrinadores, citados na obra de Cesar Paduani quepessoalmente, apoiado por outra corrente que é contra esta teoria, acredita ser essa cláusulaperfeitamente aplicável às regras penais. O primeiro autor diz ser a sentença que reconhece aremição decorrente da natureza da decisão e não da forma, portanto, a regra que permita suaviolação é inconstitucional. Assim interpreta Andre Fonseca, que o art. 127 é aplicado noscasos em que já foi transitada em julgado a sentença concedendo a remição.

    Não seria justo punir o preso retirando-lhe um direito já conquistado. Existem variasoutras formas de punição possíveis de serem aplicadas e que são eficazes para manterem aordem. A expectativa de o trabalhador diminuir ao saber que apesar de todo um tempo quepassar na prisão apresentando boa conduta e trabalho incessante, o cometimento de uma faltagrave anulará todo esse mérito adquirido. Antes mesmo de ser punido, o condenado jádemonstra sinais de desanimo, sendo seu trabalho comprometido, injusta einconstitucionalmente.

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    4.1 Remição da Pena em Outros Países

    Segundo Jason Albergaria, na legislação comparada é expresso o requisito daparticipação do interno nas atividades de reeducação e reinserção, usando como método à

    remissão parcial da pena que faz o preso contribuir com a sociedade e também adquirir bonshábitos. Expressam desta forma a Lei Mexicana das Normas Míninas, Lei italiana(Ordinamento Penitenziario e Mizure Alternative Allá Detenzione) art. 20 e o RegulamentoPenitenciário Espanhol de 1981. 32

    Garcia Ramires, diz segundo ao art. 16 da Lei Mexicana das Normas Mínimas, que oobjetivo da remição da pena é a reabilitação do condenado. Muños Conde adverte que otratamento do interno não deve ser forçado, tendo ele o direito de escolha de qual caminho

    seguir. Neste mesmo seguimento outros doutrinadores renomados fizeram com que estapolítica criminal fosse mundialmente aplicada.

    5. PESQUISA DE CAMPO:

    Para um melhor conhecimento do sistema penitenciário brasileiro fez-se uma visita àPenitenciária Jose Maria Alquimim, localizada na Cidade de Ribeirão das Neves, municípiode Minas Gerais. Essa contém uma área extensa que é utilizada para realização de trabalhopor condenados que cumprem pena em regime semi-aberto. Esses são devidamenteremunerados por suas atividades de acordo com o previsto na LEP.

    São em torno de trezentos (300) presos que cumprem pena em regime semi-aberto dapenitenciaria e que são responsáveis por sua limpeza; auto-suficiência (produzem seu próprioalimento nos espaços reservados para o cultivo); organização (ex: vigias de portaria) e pelamanutenção em geral do ambiente (consertos). Demonstram interesse nas atividadesdesempenhadas, não sendo em momento algum obrigados a realizá-las. Respeitam as regras

    pelo regimento interno penitenciário sem serem coagidos.Para este presos do regime semi-aberto, existem dois (2) Assistentes Sociais, um

    Psicólogo, e outros poucos, mas eficientes profissionais da área da saúde como:Odontologistas, Psiquiatras, Enfermeiras, Médicos, Fisioterapeutas, etc. A área onde seencontram esse recursos é limpa, arejada e conta com o trabalho dos condenados para manterassim.

    Todo preso antes de ingressar para o regime semi-aberto, nesta penitenciária, passa

    pelo exame criminológico, fato que permite um melhor conhecimento deste condenado por

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    parte dos agentes penitenciários, gerando uma confiança recíproca entre os reclusos efuncionários.

    O fato desanimador observado foi os setecentos (700 mais ou menos) presos quecumprem pena em regime fechado que estão em condições bem diferentes dos últimos

    citados. Estão alojados em uma área restrita, incapaz de abrigá-los com um mínimo conforto,pois não possui área suficiente para a quantidade de condenados que nela habitam. Ascondições físicas do local são precárias (parede unida, falta de higiene, falta de claridade,etc.) ou seja, sub-humanas.

    Segundo depoimento de alguns dos prisioneiros que ali habitam, “a tensão interna étão grande com a externa. Ninguém ali dentro tem paz”. São setecentos (700) indivíduosinsatisfeitos e estressados dividindo o mesmo espaço e partilhando idéias inúteis, pois não

    possuem nenhuma atividade melhor para exercerem. Quando os diversos interesses sechocam, observamos ser desencadeadas cenas de violência, onde presos atacam presos etambém agentes penitenciários, que por sua vez, revidam da mesma forma.

    Somente quarenta (40) condenados que cumprem pena em regime fechado trabalham,dentro do próprio estabelecimento, desempenhando atividades na cozinha, de limpeza, etc.Os outros seiscentos (600 aproximadamente) estão ociosos. É importante enfatizar que a áreada penitenciaria é extensa e a maioria ainda improdutiva. Os presos que cumprem pena em

    regime semi-aberto e que trabalham são poucos para manterem produtiva toda a áreapertinente da Penitenciaria Jose Maria Alquimim.

    Para os condenados que cumprem pena no regime fechado, existem somente três (3)assistentes sociais, não é fornecida de forma adequada assistência medica, psiquiátrica,advocacia, etc. São muitos reclusos para poucos funcionários. Os Poucos reclusos queexercem função laboral são remunerados segundo a LEP.

    Esta situação de desrespeito a integridade física e moral do condenado, que hoje seaverigua nesta penitenciária, eram diferentes até o ano de 2002. Nesta época os presosdeixavam o estabelecimento fechado e iam para as oficinas de manufaturas e áreas de cultivopara trabalharem. Os indivíduos com maior índice de periculosidade trabalhavam dentro daspróprias repartições com materiais oferecidos por empresas privadas e o Estado. Segundoinformação cedida por funcionários lotados na penitenciaria, o sistema funcionava muitomelhor antes do que o atualmente. A razão para terem cerceado tais atividades, foi umarebelião que ocorreu em 200, responsável pela destruição de muito material e uma áreaconsiderável da penitenciária. Tal acontecimento desencadeou um processo de descaso doEstado e Empresas Privadas pelos condenados.

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    5.1 Entrevistas

    Através da entrevista efetuada com um das assistentes sociais da Penitenciária JoseMaria Alquimim, constatou-se que se os presos que chegam neste estabelecimento para

    cumprir pena em regime semi-aberto vindos da penitenciária de segurança máxima DutraLadeira (através da progressão de regime, conseguem mudar de regime) apresentamcondições físicas e mentais atrofiadas; o interesse em evoluir essas condições depende doincentivo externo e interno que cada condenado recebe; cada individuo lotado nesteestabelecimento apresenta um perfil, alguns mais agressivos e inconformados com a situaçãode prisioneiros, outros que estão arrependidos do crime cometido e tem a intenção derecompensá-lo, desenvolvendo atividades em prol da sociedade.

    Carlos Andre Rodrigues, lotado na Penitenciaria Jose Maria Alquimim há dois (2)anos, em entrevista efetuada relatou que passou oito (8) anos lotado na Dutra Ladeira,considerada por ele e por outros entrevistados um “pesadelo”, por ter cometido crime delatrocínio. Segundo ele “o dia mais feliz de sua vida foi quando conseguiu a progressão deregime, o que alcançou através de seu trabalho (costurava bolas), boa conduta e muito sanguefrio”. Trabalhava não por que gostava, mas porque precisava do dinheiro que recebia pelatrabalho para sustentar sua família.“Já matei dezenas de pessoas, perdi até a conta dequantas, estou no crime desde nove (9) anos de idade”. Mas, para ele, todo ilícito cometidofazia parte do passado, agora que estava na Jose Maria Alquimim, sentia que a liberdadecompensa mais que o crime,“Estou agora no paraíso”. Sente pelos seus companheiroslotados na Dutra Ladeira, que partilham as mesmas idéias que ele e que não conseguem aprogressão de regime, por falta muitas vezes de assistência judiciárias. Muitos delespreenchem os requisitos para estarem cumprindo pena no regime semi-aberto.“É gente boa,que foi levado pelo crime, mas que agora quer sair”. Para Carlos, a melhor a melhor maneirade ajudar seus colegas seria fornecendo-lhes condições para que pudessem realizar atividadeslaborais, pois, nem todos “tem bolas para costurar, ficam sem fazer nada, e ainda nãoconseguem remir a pena”

    Outros presos entrevistados, como “Deusinho”, disseram ser o regime de cumprimentode pena semi-aberto o ideal. Alguns deles estudam na Dutra Ladeira, o que também eraótimo, mas nada se comprara ao trabalho realizado ao ar livre,“que ale de ocupar o tempo, éremunerado”.

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    5.2 Observação

    Os Dados acima apresentados foram fornecidos pelos funcionários (responsávelfinanceiro, agentes penitenciários, da Penitenciária Jose Maria Alquimim. Não foram

    fornecidos dados oficiais pela gerencia do estabelecimento. Esta alegou em penitenciária emperíodo de transição e de mudança de diretoria e ter novos projetos para que sejam fornecidas,em um futuro próximo, condições para que os presos que cumprem pena em regime fechado,possam realizar atividades laborais.

    6. CONLUSÃO:

    O objetivo desse estudo foi demonstrar a importância do trabalho realizado porcondenados como instrumento ressocializador. Percebeu-se que nos ordenamentos jurídicospenais, inclusive do Brasil, esta valoração do trabalho é devidamente legalizada, entendendoser a formação para o trabalho uma alternativa para evitar a reincidência ao crime.

    Preocupa-se esta legislação, que considera as atividades lavorais dever e direito dodetento, em incentivar os condenados a trabalharem, através de institutos como o da remiçãoda pena e o da progressão de regime.

    O Problema maior aparente, dos dias atuais para a concretização do prescrito em lei éa insuficiência do Estado que não oferece condições para que o preso possa, a partir da suaprofissionalização, ressocializar-se.

    O que se percebe atualmente é que há uma dicotomia entre o que se realiza de fato naexecução penal em termos do que propõe a Lei de Execuções Penais no ordenamento dopoder judiciário e o que de fato se cumpre pelo executivo e conseqüente o que inverte naexecução penal e o retorno que tem em termos de resultados sociais, políticos e econômicos.

    Quanto se promoveu o aporte das informações coletas para buscar aprender o objetoque se referiu à analise do papel desempenhado pelo trabalho prisional na perspectiva daproposta de reinserção social o que se contou foi que a forma como a sociedade estáorganizada às classes populares a sua reinserção no mercado de trabalho. A grande maioria,ou seja, a quase totalidade da massa carcerária é formada por egressos, dessas classes deexcluídos sociais que não tem acesso à escola, as políticas e serviços públicos, detem muitasalternativas se não a marginalização e a delinquência.

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    É Preciso uma política penitenciária que de fato considere os investimentos empresídios como um capital invertido cujo retorno não pode ser outro se não a verdadeirareinserção social daqueles que permanecem privados da liberdade sob a sua custodia.

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    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:PRADO, Luiz Regis; BITENCOURT, Cesar Roberto.Código Penal Anotado e legislaçãocomplementar. São Paulo: Revista dos tribunais, 1997, p.46 e p.82,

    FOUCALT, Michel.Vigiar e Punir: crescimento da prisão, 26. Ed. Petrópolis: Vozes, 2002,

    p.197, p. 204 e p. 205MIOTTO,Arminda Bergamini.Temas penitenciários. São Paulo: Revista dos tribunais,1992, p.62, p.63, p.67 e p.70,

    MIRABETE,Julio Fabrinni.Execução penal: comentários a lei n° 7.210, de 11-07-84. Ed,rev. e atualizada ate Maio de 2002 São Paulo: Atlas, 2002, p.21, p.359 e p.489

    ALBERGARIA, Jason.Das penas e da execução penal. Belo Horizonte: Del Rey, 1992, p.2,p.53, p.97 e p.113

    NOGUEIRA, Paulo Lucio.Comentários à lei de execução penal: Lei n° 7.210 de 11-07-84.Ed, rev. e ampliada. São Paulo: Editora Saraiva, 1996, p.7 e p.48

    DIAS, Maria das Graças Morais citada por PADUANI, Célio Cesar.Da remição na lei deexecução penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p.74

    LOPES, Alfredo.Trabalho nas prisões recupera detentos. In: Centro de imprensa, p.1-3.Disponível em www.radiobras.gov.br (acessado em 15/10/2010).

    THOMPSON, Augusto.A questão penitenciária. 4 ed. rev. Atual. Rio de Janeiro: Forense,1998, p.3

    BECCARIA, Cesare.Dos delitos e das Penas, 2. ed. rev. São Paulo: Revista dos tribunais,1997, p.52

    MEDEIROS, Rui.Prisões abertas. Rio de Janeiro: Forense, 1985, p.68

    BRASIL, LEI DE EXECUCAO PENAL (1984).Lei de execução Penal. 12. ed. atual. SãoPaulo: Saraiva, 1999 (art.28 par. 1º)

    PADUANI, Célio Cesar.Da remição na lei de execução penal. Belo Horizonte: Del Rey,2002, p.10 e p.101