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UNIVERSIDADE FUMEC FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA AVALIAÇÃO DA DOSE EQUIVALENTE NAS EXTREMIDADES DE MÉDICOS HEMODINAMICISTAS DURANTE PROCEDIMENTOS NEUROLÓGICOS. PETERSON LIMA SQUAIR LUIZ CLÁUDIO DE SOUZA BELO HORIZONTE, MARÇO DE 2005

monografia radiologia

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UNIVERSIDADE FUMEC

FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA

AVALIAÇÃO DA DOSE EQUIVALENTE NAS EXTREMIDADES DE MÉDICOS HEMODINAMICISTAS DURANTE PROCEDIMENTOS

NEUROLÓGICOS.

PETERSON LIMA SQUAIR LUIZ CLÁUDIO DE SOUZA

BELO HORIZONTE, MARÇO DE 2005

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UNIVERSIDADE FUMEC

FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA

AVALIAÇÃO DA DOSE EQUIVALENTE NAS EXTREMIDADES DE MÉDICOS HEMODINAMICISTAS DURANTE PROCEDIMENTOS

NEUROLÓGICOS.

PETERSON LIMA SQUAIR LUIZ CLÁUDIO DE SOUZA

Orientadora: ___________________________________ Dra. Maria do Socorro Nogueira

Aprovação: ____________________________________ ____________________________________

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iii

APRESENTAÇÃO

Este trabalho foi realizado pelos alunos Peterson Lima Squair e Luiz Cláudio de

Souza, do curso de Pós-Graduação em Proteção Radiológica, com finalidade de

conclusão do curso e aperfeiçoamento dos conhecimentos adquiridos. Como

orientadora, a professora Dra. Maria do Socorro Nogueira, auxiliou e propôs

métodos para uma realização adequada e satisfatória do trabalho.

O estudo foi realizado no setor de hemodinâmica do Instituto Biocor e no Laboratório

de Dosimetria Termoluminescente do CDTN/CNEN (Centro de Desenvolvimento da

Tecnologia Nuclear).

A avaliação dosimétrica foi realizada no equipamento de raios X hemodinâmico

marca Phillips modelo Integris Allura durante procedimentos neurológicos com a

participação voluntária da equipe médica do setor.

O trabalho tem como finalidade a avaliação e análise das doses equivalentes nas

extremidades de médicos ocupacionalmente expostos à radiação durante a

realização de exames neurológicos com utilização do equipamento hemodinâmico

baseando-se na Portaria 453/98 do Ministério da Saúde.

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iv

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................................. III

RESUMO..................................................................................................................V

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................6

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS............................................................................7 2.1. HEMODINÂMICA .................................................................................................7

2.1.1. Tubo de Raios X........................................................................................8 2.1.2. Intensificador de Imagem ..........................................................................8 2.1.3. Câmera de Vídeo ou Dispositivo de Acoplamento de Cargas.................10 2.1.4. Digitalização de Imagem .........................................................................11

2.2. PROCEDIMENTO HEMODINÂMICO, ANGIOGRÁFICO..............................................11

2.3. PROTEÇÃO RADIOLÓGICA ................................................................................14

2.3.1. Monitoração Individual.............................................................................15 2.3.2. Monitoração de Extremidades.................................................................15

2.4. GRANDEZAS DOSIMÉTRICAS.............................................................................16

2.4.1. Grandezas operacionais..........................................................................17 2.4.1.1. Equivalente de dose pessoal, HP(d) ..................................................17

2.4.2. Grandezas de proteção ...........................................................................18 2.4.2.1. Dose equivalente, HT.........................................................................18

2.5. DOSIMETRIA TERMOLUMINESCENTE ..................................................................20

3. MATERIAIS E MÉTODOS ...............................................................................23 3.1 EXAME HEMODINÂMICO NEUROLÓGICO.............................................................23

3.1.1 Características do Equipamento Hemodinâmico.....................................24 3.1.1.1 Biombo Móvel Suspenso......................................................................26

3.1.2 Características da Técnica do Exame Neurológico .................................27 3.2 SISTEMA DOSIMÉTRICO DE EXTREMIDADES.........................................................29

3.2.1 Leitora Termoluminescente .....................................................................29 3.2.2 Dosímetro de Extremidades ....................................................................30

3.2.2.1 Homogeneidade ...................................................................................31 3.2.2.2 Reprodutibilidade..................................................................................32 3.2.2.3 Linearidade...........................................................................................33 3.2.2.4 Exatidão da Leitura...............................................................................34 3.2.2.5 Dependência Energética ......................................................................35 3.2.2.6 Limite Inferior de Detecção...................................................................37

3.2.3 Características da Técnica Dosimétrica ..................................................37 4. RESULTADO ...................................................................................................38

5. CONCLUSÃO ..................................................................................................39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................40

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v

RESUMO

A avaliação da dose nas mãos dos médicos durante procedimentos que utilizam a

hemodinâmica é de grande importância para a verificação da real necessidade deste

tipo de monitoração exigido por norma nacional (MS, 1998), sendo que nesta

modalidade de exame pode-se expor as mãos dos profissionais a níveis próximos e

ate mesmo ultrapassar os limites máximos de dose equivalente estabelecidos pela

legislação vigente, devido suas características técnicas de exame intervencionista

(IAEA, 2002).

Realizou-se uma avaliação da dose nas extremidades, mãos, de médicos

ocupacionalmente expostos durante a realização de exames neurológicos com a

utilização do equipamento hemodinâmico.

Para processos de garantia da qualidade dos resultados da dosimetria de

extremidades, utilizam-se como parâmetros às normas internacionais ISO/DIS

12794-1 e IEC 1066, pois no Brasil não existe norma específica para este modelo de

dosimetria.

A realização deste trabalho permitiu uma melhor verificação dos níveis de exposição

das mãos dos médicos durante a utilização do equipamento hemodinâmico em

procedimentos neurológicos, demonstrando a necessidade da aplicação de

procedimentos adicionais adequados de proteção radiológica para minimizar os

valores das doses nas extremidades.

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1. INTRODUÇÃO O equipamento de hemodinâmica utiliza-se da técnica de fluoroscopia para a

formação da imagem com raios X, permitindo estudar as funções dinâmicas do

organismo. Os procedimentos em radiologia que utilizam a técnica de hemodinâmica

têm sido largamente utilizados não apenas para diagnóstico, mas principalmente em

métodos intervencionistas terapêuticos, na tentativa de evitar que o paciente se

submeta a um procedimento de maior risco, como é o caso da cirurgia. A realização

dos procedimentos intervencionistas realizados através de estudos hemodinâmicos

teve crescimento significativo devido a melhoria substancial dos equipamentos de

imagem por raios X e no próprio refinamento do projeto do cateter (FAULKERN,

2000).

As doses geradas para pacientes por esta técnica são relativamente altas, mas

justificado devido o benefício que pode ser alcançado. Entretanto, os níveis de dose

para a equipe médica que permanece próxima do paciente durante o procedimento

são altos, principalmente nas mãos dos médicos em casos onde esta fica bastante

próxima do feixe primário de raios X, podendo ultrapassar (IAEA, 2002) os limites

máximos que a legislação atual permite, Portaria 453/98 SVS do Ministério da Saúde

(MS, 1998).

O alto valor da exposição médica e ocupacional esta diretamente relacionada ao

tempo em que o feixe de raios X esta sendo emitido, a direção do feixe em relação a

equipe médica e a alta taxa de dose gerada pelo equipamento.

O objetivo deste trabalho é a obtenção dos níveis de exposição das mãos dos

médicos durante a utilização do equipamento hemodinâmico em procedimentos

neurológicos, demonstrando se há necessidade da aplicação de procedimentos

adicionais adequados de proteção radiológica para minimizar os valores das doses

nas extremidades.

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2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1. Hemodinâmica

O equipamento de Hemodinâmica consiste de um gerador de raios X, um tubo de

raios X, um intensificador de imagem, uma câmera de vídeo ou um dispositivo de

acoplamento de cargas (CCD's), monitores, dispositivos de armazenamento da

imagem e a mesa do paciente (Figura 2.1).

Figura 2.1 - Esquema de funcionamento de um sistema de Angiografia Digital. (WOLBARST, 1993)

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2.1.1. Tubo de Raios X

O gerador e o tubo de raios X (Figura 2.2) são responsáveis por produzir a radiação

que passa pelo paciente e chega até o intensificador de imagem. O tamanho do

ponto focal é muito importante para a formação da imagem. Um ponto focal menor

resulta em imagens mais nítidas (ECRI, 1999). Em equipamentos de hemodinâmica,

o foco fino é usado primariamente para fluoroscopia e o foco grosso é utilizado no

modo-cine ou em gravações de imagens digitais.

Figura 2.2 – Esquema representativo de um tubo de raios X e colimador. (LACERDA, 2002)

2.1.2. Intensificador de Imagem

O tubo intensificador de imagem é um dos componentes principais do sistema de

hemodinâmica. Este dispositivo é responsável por transformar fótons de raios X em

um sinal luminoso. Os componentes de um tubo II são mostrados na figura 2.3.

(Wolbarst, 1993)

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9

Quando um fóton de raios X chega à tela fluorescente de entrada do intensificador

de imagem (camada de CsI), é produzida uma cintilação. Os fótons de luz desta

cintilação expulsam elétrons do fotocatodo adjacente. Estes elétrons são acelerados

até o anodo por meio de eletrodos focalizadores que, quando atingem a tela de

saída (ZnCdS:Ag), criam um pulso de luz muito maior e mais brilhante do que aquele

produzido na tela de entrada. O sinal de saída é cerca de 5000 a 10000 vezes maior

que o sinal da tela de entrada.

Os intensificadores de imagem produzidos atualmente possuem telas de entrada

entre 15 e 30 cm de diâmetro, mas existem também os de 40 cm. A tela de saída

tem, geralmente, 2,5 a 3,5 cm de diâmetro. Os tipos de intensificadores são

escolhidos de acordo com procedimentos a serem realizados. Intensificadores de 11

cm de diâmetro produzem maior magnificação e melhor definição de detalhes. Os

tubos intensificadores de imagem são envolvidos por um encapsulamento metálico

que evita os campos magnéticos externos e previnem a radiação de fuga dos raios X

que interagem no mesmo.

Figura 2.3 - Esquema representativo de um tubo Intensificador de Imagem.

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2.1.3. Câmera de Vídeo ou Dispositivo de Acoplamento de Cargas

Um dos componentes mais críticos na cadeia de imagem em um sistema de imagem

é a câmera de vídeo. Sua função básica é produzir um sinal eletrônico que é

proporcional à quantidade de luz enviada pelo intensificador de imagem. O sinal

gerado pela câmera de vídeo é um sinal de tensão que varia em tempo e que é

enviado até o monitor por meio de um processo de varredura que pode ser de 525

ou de 1023 linhas. Atualmente estão sendo utilizados nos sistemas de

hemodinâmica dispositivos denominados CCDs ou dispositivos de acoplamento de

carga (Figura 2.4). Seu funcionamento baseia-se no seguinte princípio: durante o

período em que está ocorrendo exposição, o CCD transforma a iluminação incidente

em uma quantidade proporcional de cargas elétricas (Figura 2.5).

Figura 2.4 – Dispositivo eletrônico de acoplamento de cargas, CCD.

Figura 2.5 – Funcionamento básico de um dispositivo CCD.

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2.1.4. Digitalização de Imagem

A tensão analógica proveniente da câmera de TV ou CCD é digitalizada por meio de

um conversor analógico digital (ADC). A imagem pode então ser representada como

uma matriz de valores e endereços de pixel (Figura 2.6). O tamanho dessa matriz

depende do grau de resolução desejado, podendo ser de 512 X 512, 1024 X 1024

ou 2048 X 2048 pixels (Wolbarst, 1993).

Figura 2.6 – Esquema de uma matriz de resolução de um CCD.

2.2. Procedimento Hemodinâmico, Angiográfico

A técnica angiográfica foi inicialmente realizada um ano após a descoberta dos raios

X. Em 1896, Hascheck e Lindenthal realizaram o primeiro angiograma em uma mão

amputada utilizando giz como agente de contraste. Em 1927, Moniz desenvolveu o

primeiro angiograma cerebral utilizando iodo, tornando o procedimento aplicável em

seres humanos vivos, apesar da alta mortalidade inicial (MISTRETTA, 1998).

Em 1939, Robb, Seteinberg e Castelanos investigaram a possibilidade de

desenvolver a angiografia usando injeções intravenosas. Devido à diluição do

contraste na passagem venosa para a arterial, o procedimento necessitava de

quantidades de contraste altas para produzir sinais detectáveis nos filmes que

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estavam sendo utilizados. Apesar dos resultados promissores, as injeções arteriais

permaneceram o método padrão para a angiografia (MISTRETTA, 1998).

No final de 1970, Ducos De LaHitte e colaboradores da Universidade de Toulouse

revisaram a angiografia intravenosa utilizando técnicas de subtração por filmes.

Apesar dos excelentes resultados, algumas otimizações ainda seriam necessárias.

Este trabalho não foi continuado devido ao surgimento de uma nova tecnologia: a

subtração digital (MISTRETTA, 1998).

Em 1973, a construção de um processador de imagem fluoroscópica digital em

tempo-real foi iniciada na Universidade de Wisconsin. Este dispositivo gerava 30

imagens subtraídas por segundo e foi inicialmente construído para subtração por

energia, para garantir o cancelamento dos tecidos e ossos na imagem. O trabalho

com a angiografia por subtração digital utilizando computadores convencionais foi

iniciado na Universidade do Arizona. A técnica da subtração digital foi implementada

em Wisconsin adaptando o processador inicialmente designado para subtração por

energia (MISTRETTA, 1998).

Hoje, inúmeros avanços no processamento digital melhoraram significativamente a

qualidade da imagem dos equipamentos de aquisição e tornaram a angiografia

hemodinâmica a principal técnica de diagnóstico vascular. Técnicas alternativas e

menos invasivas para a obtenção da imagem angiográfica são utilizadas atualmente:

Angiografia por Ressonância Magnética, Angiografia por Tomografia

Computadorizada, Angiografia por Ultra-sonografia, entre outras.

A angiografia utiliza os raios X para a produção de imagens que trazem informações

sobre o sistema circulatório dos pacientes. Sua principal utilidade é a realização de

exames dinâmicos, onde se podem visualizar imagens de órgãos e fluidos internos

em movimento. (Goulart, et al 2003).

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Figura 2.7 – Imagem angiográfica de parte do sistema circulatório.

A angiografia gera imagens em tempo real e indica o estado de um vaso sanguíneo

após um trauma, doença ou cirurgia. Ela é utilizada para que se possa observar a

vasculatura anormal associada ao crescimento de um tumor e para gerar

informações anatômicas e fisiológicas antes e durante a cirurgia. Esta técnica é

utilizada no procedimento cirúrgico para possibilitar a contenção de fluxos

sanguíneos excessivos causados por hemorragias pos-traumáticas, sangramentos

pós-cirúrgicos ou tumores vasculares muito grandes. É utilizada também em

procedimentos cirúrgicos, para permitir o aumento do fluxo sanguíneo por meio de

balões de angioplastia e próteses (stents) em áreas onde o fluxo normal é reduzido

ou completamente ocluído (ECRI, 1999).

Este estudo hemodinâmico oferece com exatidão o diagnóstico de alterações

anatômicas e fisiopatológicas causadas por várias situações clínicas. Gerando

importantes informações para o tratamento e o prognóstico do paciente como

também é ferramenta importante de tratamento.

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2.3. Proteção Radiológica

O principal objetivo da Proteção Radiológica é proporcionar um padrão de proteção

do ser humano sem limitar os benefícios decorrentes da utilização das radiações

ionizantes. As recomendações publicadas pela ICRP (ICRP, 1991) servem de

subsídio para elaboração das normas e regulamentos emitidos pelos órgãos

nacionais de regulamentação de diversos países. No Brasil, em relação as

instalações radiativas e nucleares, cabe a Comissão Nacional de Energia Nuclear

CNEN, emitir normas e regulamentações pertinentes ao uso de material radioativo e

de fontes de radiação ionizante, assim como estabelecer as normas de Proteção

Radiológica (CNEN, 2005).

Na área médica, radiodiagnóstico, o órgão regulador é o Ministério da Saúde, por

meio da Vigilância Sanitária o qual estabeleceu as diretrizes básicas de Proteção

radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico (MS, 1998).

Os limites de dose, recomendados pela ICRP publicação 60 (ICRP, 1991), são

apresentados na tabela 2.1. Estes são os limites internacionalmente aceitos. No

Brasil, os limites anuais de dose individual de trabalhadores e indivíduos do público,

são estabelecidos pelas normas atuais, CNEN-NE-3.01 (CNEN, 2005) e Portaria 453

(MS, 1998), que seguem a ICRP.

Tabela 2.1 - Limites de dose recomendados pela ICRP 60 (ICRP, 1991)

Grandeza Limite de dose ocupacional Limite de dose do público

Dose Efetiva 20 mSv/ano* 1 mSv/ano Dose Equivalente

no cristalino 150 mSv/ano 15 mSv/ano

Dose Equivalente

nas Extremidades 500 mSv/ano 50 mSv/ano

* Valor médio de cinco anos, não podendo ultrapassar 50mSv em um único ano.

Durante os procedimentos angiográficos são ministradas dose elevadas aos

pacientes submetidos a este tipo de exame ou intervenção, também gerando doses

ao corpo clínico. Algumas pesquisas demonstraram que os departamentos de

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angiografia e hemodinâmica são os setores em que são ocasionadas as doses mais

elevadas aos trabalhadores de radiologia médica, onde já foram observados casos

de cataratas e danos sérios nas mãos dos médicos que realizam exames

fluoroscópicos (HOFF, 1996) (ARCHER, 2000). Percebe-se, portanto, que existe

atualmente uma preocupação muito grande com as doses ministradas tanto aos

pacientes quanto ao corpo clínico durante os exames fluoroscópicos diagnósticos e

intervencionistas.

2.3.1. Monitoração Individual

A monitoração individual inclui medições das grandezas relacionadas ao sistema de

Proteção Radiológica e, também, a interpretação dessas medidas para avaliação e

controle das exposições externa e interna (ICRP, 1997). A principal justificativa para

os programas de monitoração é demonstrar que um nível apropriado de proteção foi

alcançado e mantido (ICRP, 1997).

A monitoração individual da exposição à radiação externa avalia a dose efetiva ou

quando apropriado, como por exemplo na exposição de partes do corpo tais como

as mãos, a dose equivalente recebida por cada indivíduo por um período específico;

permitindo assim, a avaliação das condições de trabalho e a comparação com os

níveis de dose estabelecidos pelas normas vigentes.

2.3.2. Monitoração de Extremidades

Em certas atividades profissionais, a monitoração do tronco pode não ser totalmente

adequada quando está envolvida a exposição de outras partes do corpo humano;

tais como: as mãos, os braços, pés ou olhos. A decisão sobre em que situação se

deve recomendar a monitoração específica para um determinado órgão ou tecido é

complexa.

Os três tecidos de maior interesse do ponto de vista da exposição a radiação

ionizante das mãos e antebraços são: pele, tecido ósseo e medula óssea (Thind,

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1987). Os tecidos radiossensíveis no osso são as células endoteliais e epiteliais na

superfície óssea e na medula óssea vermelha (ICRP, 1991).

2.4. Grandezas Dosimétricas

Desde a descoberta da radiação, o homem percebeu a necessidade de quantificar a

radiação que interagia com o meio pelo qual ela atravessava. À medida que as

pesquisas foram desenvolvidas, aumentando os conhecimentos sobre as interações

da radiação com a matéria, sobre os efeitos biológicos causados por elas e com o

surgimento de novos métodos computacionais (método de Monte Carlo, por

exemplo), foram introduzidos novos conceitos quanto às grandezas mais

apropriadas a serem utilizadas (ICRU, 1998; ICRP, 1991).

A quantificação da radiação recebida pelo homem cumpre um importante papel para

os propósitos de planejamento e atuação da proteção radiológica e cumprimento de

normas regulatórias introduzidas em função dos conhecimentos adquiridos nesta

área.

Basicamente, as grandezas podem ser divididas em três grupos:

• Grandezas primárias ou físicas

• Grandezas dosimétricas ou de proteção

• Grandezas operacionais

As grandezas de interesse para a realização da avaliação da dose nas mãos dos

profissionais ocupacionalmente expostos são:

• Operacional, Equivalente de Dose Pessoal - HP(d),

• Proteção, Dose Equivalente - HT.

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2.4.1. Grandezas operacionais

As grandezas operacionais são grandezas definidas pela ICRU (ICRU, 1993), e

podem ser diretamente mensuráveis. São utilizadas tanto em monitoração de área

como em monitoração individual, fornecendo uma avaliação das medidas

suficientemente conservativa das grandezas de proteção para garantir a ausência de

subestimativas.

A grandeza operacional deve fornecer uma aproximação razoável das grandezas de

proteção, não devendo subestimar nem superestimar em demasia (ICRU, 1998).

Para tanto, é necessário que a razão entre o valor da grandeza de proteção Hprot e o

valor da grandeza operacional correspondente Hoper satisfaça a condição:

Hprot./.Hoper.≤.1. Neste caso, a grandeza operacional fornecerá sempre uma

superestimativa da grandeza de proteção.

2.4.1.1. Equivalente de dose pessoal, HP(d)

O equivalente de dose pessoal é o equivalente de dose em tecido mole, numa

profundidade d, abaixo de um ponto especificado sobre o corpo. A unidade utilizada

é o J.kg-1, sendo o nome especial de sievert (Sv).

Na utilização de HP(d), é necessário incluir a especificação da profundidade d em

milímetros, a qual a grandeza se refere. Para radiações fracamente penetrantes, são

empregadas as profundidades de 0,07 mm para pele e extremidades; e 3 mm para o

cristalino. Neste caso, a grandeza seria representada por HP(0,07) e HP(3),

respectivamente. Para radiações fortemente penetrantes é recomendado o valor de

10 mm.

Para a calibração dos monitores em HP(d) deve-se utilizar simuladores

confeccionados de PMMA – (polimetilmetacrilato) recomendado pela ICRU 47

(ICRU, 1992).

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2.4.2. Grandezas de proteção

As grandezas limitantes ou de proteção são aquelas definidas com a função de

indicar o risco para o homem da exposição à radiação ionizante.

A intenção da ICRP, ao recomendar a adoção destas grandezas, é prevenir o

aparecimento de efeitos determinísticos1, pela manutenção das doses abaixo de

níveis apropriados, e garantir que todos os passos exeqüíveis foram tomados para

reduzir a indução de efeitos estocásticos2.

2.4.2.1. Dose equivalente, HT

A dose equivalente é a dose absorvida média em um órgão ou tecido, multiplicada

por um fator de ponderação WR relativo à radiação incidente R.

RTRRT DWH ,, .= (2.1)

A unidade utilizada é o J.kg-1, denominado de sievert (Sv).

DT,R é a dose absorvida média no órgão ou tecido T, relativa à radiação R e definida

mais adiante.

WR são os valores apresentados pela ICRP (ICRP, 1991) como fatores de peso das

radiações conforme tabela 2.2.

1Efeitos determinísticos são aqueles “causados por irradiação total ou localizada de um tecido, causando um grau de morte celular não compensado pela reposição ou reparo, com prejuízos detectáveis no funcionamento do tecido ou órgão”.(TAUHATA et. al., 1999) 2Efeitos estocásticos são aqueles para os quais “a relação entre dose e efeito é probabilística. Quando um grupo de pessoas é irradiado, esses efeitos aparecem em algumas pessoas, aleatoriamente; sendo chamados de efeitos estocásticos ou randômicos. Quando tais efeitos ocorrem, sua severidade é completamente independente da dose recebida. São efeitos tardios e aparecem apenas após um período de latência de alguns anos a algumas décadas. São indistingüiveis daqueles que aparecem espontaneamente.”(SOARES, 2001)

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Se o campo de radiação é composto por radiações com diferentes valores de WR, HT

é definido como:

∑=R

RTRT DwH ,. (2.2)

Tabela 2.2 – Fatores de peso da radiação. (ICRP, 1991)

Tipo e faixa de energia da radiação wR

Fótons, para qualquer energia 1

Elétrons e mesons µ, para qualquer energia* 1

Neutrons

<10 keV 5

10 keV a 100 keV 10

> 100 keV a 2 MeV 20

> 2 MeV a 20 MeV 10

> 20 MeV 5

Prótons, outros prótons além dos de recuo, energia > 2 MeV 5

Partículas alfa, fragmentos de fissão, núcleos pesados 20 * Excluindo os elétrons auger emitidos no DNA, para os quais são necessárias considerações microdosimétricas

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2.5. Dosimetria Termoluminescente

A termoluminescência é a emissão de luz por um isolante ou semicondutor,

termicamente estimulado após a absorção prévia de energia da radiação a este

material exposto.

O processo termoluminescente envolve dois estágios. No primeiro estágio, o

material é exposto à radiação em uma dada temperatura e armazena a energia

proveniente desta. No segundo estágio, o material é aquecido e a energia

armazenada é liberada em forma de luz (Figura 2.8).

Material em equilíbrio

Material metaestável 1º Estágio IRRADIAÇÃO

Material

metaestável Material em

equilíbrio 2º Estágio CALOR

luz

Figura 2.8 – Representação esquemática dos dois principais estágios do processo de

termoluminescência.

O processo físico da termoluminescência emprega o conceito de bandas dos sólidos

com relação aos seus níveis eletrônicos de energia. Quando um cristal

termoluminescente é exposto à radiação ionizante, esta fornece energia aos seus

elétrons no estado fundamental, banda de valência, de tal modo que eles se tornam

capazes de passar para a banda de condução, deixando um buraco (lacuna) na

banda de valência. O elétron e o buraco movem-se então através do cristal até que

ocorram recombinações ou a sua captura em estados metaestáveis de energia,

normalmente denominados de armadilhas e localizados na banda proibida

(Figura.2.9). Estas armadilhas estão associadas a impurezas ou imperfeições da

rede cristalina que criam poços de pontecial locais.

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Quando aquecidos, os elétrons adquirem energia térmica suficiente para migrarem

livremente pelo cristal ate serem capturados novamente por armadilhas ou

recombinados com portadores opostos. Se a recombinação ocorre com a emissão

de luz, uma curva de emissão TL pode ser observada. A curva de emissão TL de um

material representa a luz emitida pelo cristal como função da temperatura ou do

tempo de aquecimento (Figura 2.10), consistindo em geral de vários picos, sendo

que cada um deles esta associado a um tipo de armadilha e recombinação.

Figura 2.9 – Processo físico da termoluminescência (Maurício, 1988)

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Curva de Emissão - TLD-100

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1 11 21 31 41 51 61 71 81 91 101 111 121 131 141 151 161 171 181 191

Canal

Inte

nsid

ade

Figura 2.10 – Pico de emissão do TL LiF:Mg,Ti

Desta dose absorvida pelo fósforo TL, somente uma pequena parte da energia

depositada é emitida como luz quando a substância é aquecida. Para o LiF:Mg,Ti

(TLD 100), por exemplo, é estimada uma perda de 99,96% da energia depositada

pela radiação ionizante. (Attix, 1986)

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Exame Hemodinâmico Neurológico

A avaliação da dose nas extremidades de médicos hemodinamicistas foi

realizado juntamente com o corpo clínico de uma instituição de saúde de

médio porte com escopo de hospital geral localizada na cidade de Belo

Horizonte – Minas Gerais.

Os exames hemodinâmicos angiográficos do sistema nervoso central em

procedimentos diagnósticos e intervencionistas seguem os procedimentos

descritos na tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Tipos de exames realizados e suas patologias.

TIPOS DE EXAMES REALIZADOS DIAGNÓSTICO INTERVENCIONISTAS PATOLOGIAS MAIS

FREQUENTES Angiografias: - Cervical - Cerebral - Medular

- Angioplastias: Dilatação das artérias. - Embolização: Correção de patologias

- Isquemia - Hemorragia - Má formação artério-venosa - Embolia (cardíaca, vascular) - Trombose - Aneurismas - Tumores

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3.1.1 Características do Equipamento Hemodinâmico

O equipamento de hemodinâmica utilizado foi um Integris Allura Monoplane

fabricado pela Philips Medical Systems (Figura 3.1).

Figura 3.1 – Equipamento de hemodinâmica Integris Allura Monoplane.

O equipamento de acordo com literatura técnica do fabricante segue as

recomendações de funcionamento da ICRP e a NCRP com as seguintes

características técnicas:

• A combinação dos movimentos do arco em “C” e do braço em “L”

(Figura 3.2) favorecem as opções de rotação, angulação de

deslocamento longitudinal.

Page 25: monografia radiologia

25

Figura 3.2 – Arco em “C” de um equipamento hemodinâmico.

• Gerador de raios X com conversor de alta freqüência controlado por

microprocessador com potência de 100 kW. Possui faixa de seleção

de tensão de 40 a 150 kV com corrente máxima de 1000 mA para

100kV, 800 mA para 125 kV, 640 mA para 150 kV. Potência

máxima contínua de 1,5 kW e potencia nominal de 100 kW.

• Tubo de Raios X MRC – GS 200 0310 com:

- Chaveamento de grade para melhor qualidade de imagem em

fluoroscopia pulsada.

- Ponto focal de 0,3 / 1,0 mm

- Capacidade térmica do anodo de 2400 kHu.

- Dissipação de calor contínua de 3500 W.

• A radiação de fuga para a montagem tubo de raios X e Colimador é

menor que 0,87 mGy/h, medido a uma distancia de 1 metro em

qualquer direção da fonte quando operada com uma técnica de 125

kV, 12 mA.

Page 26: monografia radiologia

26

3.1.1.1 Biombo Móvel Suspenso

O biombo móvel é utilizado como um equipamento de proteção radiológica

bastante eficiente para atenuação da radiação espalhada incidente no

profissional. Esta atenuação pode chegar a aproximadamente 20 vezes da

radiação incidente (IAEA, 2002).

O biombo móvel suspenso utilizado para proteção radiológica durante a

realização dos exames foi do modelo OT 60U01 marca Mavig (Figura 3.3)

com as seguintes características:

- 75 x 90 cm contrabalanceados por dois braços em suspensão.

- Placa de acrílico plumbífero de 40 x 50 cm ( equivalente de

chumbo de 0,5 mm).

- Folhas de fibra plumbíferas de 35 x 50 cm com equivalência de

chumbo de 0,5 mm.

Figura 3.3 - Biombo suspenso de vidro plumbífero.

Page 27: monografia radiologia

27

3.1.2 Características da Técnica do Exame Neurológico

Os exames neurológicos realizados na instituição seguem as técnicas

definidas como Digital Vascular com os seguintes protocolos descritos nas

tabelas 3.2 a 3.6:

Tabela 3.2 – Característica técnica da qualidade do feixe de raios X.

PARAMETROS DE TÉCNICAS PARAMETRO FAIXA

EXATIDÃO

kV (Radiografia) kV (fluorografia) kV (Fluoro pulsada)

50 – 150 kV 40 – 125 kV 40 – 125 kV

Para todas as técnicas • +/ - 5 %, para t exp. de 10 ms ou I x t = 5mAs. • +/ - 5% ou +/ - 1kV para t exp, . menor que

10 ms ou I x t menor que 5mAs. mA (radiografia) (fluorografia)

10 – 100mA De acordo com tipo de tubo.

• +/ - 5% ou +/ - 1mA para t exp, .de 10ms e I x t = 5mAs.

• +/ - 5% ou +/ - 3mA para t exp, .menor que 10ms ou I x t menor que 5mAs.

mA (fluoroscopia pulsada) 30 mA max. Tempo de exposição (texp) (radiografia, fluorografia, fluoro pulsada)

1ms – 10s

Para todas as técnicas • +/ - 2% ou +/ - 1ms para t exp, .de 10ms e

I x t = 5mAs.

kV (fluoroscopia cotinua) 40 – 110 kV • +/ - 5% ou +/ - 1 kV.

mA (fluoroscopia cotínua) 30 mA Max. • +/ - 5% ou +/ - 0,5 mA.

Manual técnico Philips Allura release 1

Tabela 3.3 - Técnica cerebral com aquisição pulsada.

Tempo de Aquisição Quadros

6s 3 frames / seg.

8s 2 frames / seg.

6s 1 frame / seg.

Tabela 3.4 - Técnica torácica com aquisição pulsada

Tempo de Aquisição Quadros

4s 3 frames / seg.

3s 2 frames / seg.

6s 1 frame / seg.

Page 28: monografia radiologia

28

Tabela 3.5 - Técnica de abdome com aquisição pulsada

Tempo de Aquisição Quadros

6s 3 frames / seg.

10s 2 frames / seg.

Tabela 3.6 - Técnica para periféricos com aquisição pulsada

Tempo de Aquisição Quadros

4s 3 frames / seg.

20s 0,5 a 1 frame / seg.

Durante o levantamento dos dados os valores médios da tensão ficaram

entre 77 e 90 kV. Os fatores que contribuem para variação da técnica e do

tempo de exposição são as características anatômicas da região em

estudo.

A fluoroscopia é o modo utilizado para localização das patologias em

estudo, colocação e posicionamento de cateteres e avaliação de

intervenções. No modo de fluoroscopia os valores de tensão são

selecionados pela técnica e a corrente fica sob controle automático da

fotocélula (fotodiodo).

Durante a realização dos exames neurológicos o clínico utiliza todos os

campos disponíveis do Intensificador de Imagem (12, 17, 22 e 30 cm). As

variações de técnicas são controladas pelo sistema automático de

exposição sendo observado que a seleção de qualquer técnica não

compatível com o equipamento provoca o seu bloqueio. As incidências

mais utilizadas durante os procedimentos neurológicos na instituição em

estudo estão descritas a seguir:

- PA ( Posterior / Anterior ).

- Lateral ( direito e esquerdo).

- Caudal

Page 29: monografia radiologia

29

- Cranial

- Oblíquo Anterior direito e esquerdo.

O tempo médio dos exames para as angiografias (diagnóstico de

patologias), fica em 20 minutos para as cerebrais e 50 minutos para as

medulares. As intervenções por angioplastias (dilatação das artérias

patológicas com o uso de Balão ou Stents) e embolização (correções de

má formação arterio-venosa, tumores e aeurismas), duram entre 1 e 2

horas. O tempo médio de aquisição pulsada das imagens é de 10

segundos para cada série, sendo que são realizadas aquisições com 15 a

30 séries por exame. O tempo total de fluoroscopia varia de 2 minutos a 1

hora, podendo chegar a 2 horas de acordo com a complexidade do exame

e da região em estudo.

3.2 Sistema dosimétrico de extremidades

A dosimetria foi realizada no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia

Nuclear CDTN/CNEN, no setor de Dosimetria das Radiações, no

Laboratório de Dosimetria Termoluminescente. Os equipamentos utilizados

foram a Leitora Termoluminescente da marca Harshaw-Bicron modelo

4500, anel dosimétrico de extremidades Harshaw-Bicron e cartão

dosimétrico de extremidades fabricado no CDTN.

3.2.1 Leitora Termoluminescente

Para a realização das leituras dos dosímetro termoluminescentes foi

utilizado a leitora Harshaw, modelo 4500 (Figura 3.4), acoplada a um micro

computador e um software denominado WIN-REMS da Harshaw-Bicron.

A leitora era sempre ligada com prazo de 20 minutos antes do início das

leituras para que houvesse a estabilização da máquina e redução do ruído

de fundo. (Bicron NE, 1998)

Page 30: monografia radiologia

30

Figura 3.4 – Leitora Harshaw modelo 4500.

3.2.2 Dosímetro de Extremidades

Utilizou-se um dosímetro especial para extremidades em forma de anel

(Figura 3.5) com um cartão contendo detector termoluminescente de

LiF:Mg,Ti, fabricado pela Harshaw-Bicron e comercializado com a

denominação de TLD-100.

Figura 3.5 – Anel com cartão dosimétrico.

Page 31: monografia radiologia

31

Antes de iniciar a leitura, a leitora é ajustada através do software WIN-

REMS, para produzir um ciclo de aquecimento de sua bandeja, ou seja,

para que tenha uma configuração do TTP (Perfil de tempo e temperatura),

para cada tipo de detector.

Para as características físicas do cartão dosimétrico com detector TL de

LiF:Mg,Ti, foram utilizadas as seguintes configurações para o perfil de

tempo e temperatura de leitura, TTP (Tabela 3.7):

Tabela 3.7 – Configuração do perfil de aquecimento “TTP” para o LiF:Mg,Ti

Função Característica Pré-aquecimento 50ºC

Tempo do pré-aquecimento 5 s

Taxa de aquecimento linear 6ºC.s-1

Temperatura máxima 300ºC

Tempo de integração da leitura 60 s

3.2.2.1 Homogeneidade

A homogeneidade do lote representa a variação das leituras em relação a

leitura do lote. O coeficiente de variação, conforme as normas ISO/DIS

12794 e IEC 1066, não pode exceder 15% e a irradiação deve possuir um

valor verdadeiro convencional menor ou igual a 10 mSv, considerando que

a irradiação deve ser realizada simultaneamente em todos detectores TL

para garantir o mesmo valor de irradiação.

15,0≤−

mín

mínmáx

EEE

(3.1)

O teste de homogeneidade dos dosímetros foi realizado com um valor de

irradiação de 5 mGy para uma série de 10 medidas, utilizando a média das

medidas de cada dosímetro, melhorando estatisticamente o resultado. A

Page 32: monografia radiologia

32

homogeneidade dos dosímetros utilizados ficou entre 0,034 e 0,039. Dentro

do limite recomendado pela norma (ISO, 1999).

3.2.2.2 Reprodutibilidade

A reprodutibilidade do lote representa a capacidade dos dosímetros

de manterem estáveis os resultados individualmente durante utilizações

sucessivas. Este teste deve ser realizado irradiando o lote dez vezes com

um valor verdadeiro convencional menor ou igual a 10 mSv. Conforme as

normas ISO/DIS 12794 e IEC 1066, o coeficiente de variação não pode

exceder 10%, e para estabelecer o critério de seleção utiliza-se a fórmula:

( )10.100 ≤

+

j

SEj

EIS

% (3.2)

jE , é a média dos valores das leituras do determinado detector TL.

EjS , é o desvio padrão do determinado detector TL.

SI , é o intervalo de confiança de 95% da leitura do detector, determinado

pela fórmula:

−=

15,0..)(

SnsSS nsTnI (3.3)

Sn , é o número de medidas realizadas.

S , é o desvio padrão das leituras do detector TL.

nsT , é o valor adotado estatisticamente da tabela T-Student (Tabela 3.8)

para o número de medidas realizadas.

Page 33: monografia radiologia

33

Tabela 3.8 – Tabela dos valores estatísticos de T-Student

Valores de T-Student

nS tns nS tns

2 12,71 15 2,15

3 4,30 20 2,09

4 3,18 25 2,06

5 2,78 30 2,05

6 2,57 40 2,02

7 2,45 60 2,00

8 2,37 120 1,98

9 2,31 ∞ 1,96

10 2,26

Fonte: ISO/DIS 12794-1, 1997

O teste de reprodutibilidade dos dosímetros foi realizada com um valor de

irradiação de 5 mGy para uma série de 10 medidas A reprodutibilidade dos

dosímetros utilizados ficou entre 6,20% e 8,02%. Dentro do limite

recomendado pela norma.

3.2.2.3 Linearidade

A linearidade consiste em verificar a estabilidade do dosímetro em relação

a variação da sua resposta com o valor da dose a que foi submetido. Deve-

se realizar o teste com doses de 1 mSv a 1Sv, não podendo ultrapassar o

limite de 10% de variação das leituras (ISO, 1997).

Foram realizadas 5 medidas para cada valor de dose aplicada nos

dosímetros de extremidades, sendo estas doses de 0,5, 1, 5, 10, 50, 100,

1000 mSv (Figura 3.6). O resultado encontrado da linearidade foi satisfeito

com relação a norma aplicada.

Page 34: monografia radiologia

34

Linearidade

0

1

10

100

1000

10000

0,1 1 10 100 1000 10000Hp(0,07) Real Convencional

Hp(

0,07

) Ava

liado

Figura 3.6 – Gráfico da linearidade do dosímetro de extremidades.

3.2.2.4 Exatidão da Leitura

Para ter confiabilidade nos resultados obtidos pela dosimetria, deve-se

realizar o teste de exatidão das leituras, onde verifica se o valor da dose

obtida pelo dosímetro corresponde a dose real (CASMIE, 1995).

Os valores da exatidão das leituras em relação ao valor da dose e ao seu

limite correspondente estabelecido pela norma de dosimetria individual está

demonstrada através do gráfico “trombeta” (Figura 3.7) (CASMIE, 1995).

Quanto mais próximo da normal, ou seja, mais próximo do valor unitário (1)

do eixo Y, melhor é a exatidão do sistema dosimétrico.

Page 35: monografia radiologia

35

Gráfico Trombeta Individual (137Cs)

0,000

0,500

1,000

1,500

2,000

0,1 1 10 100 1000 10000

Hp(0,07) Real (mSv)

Hp(

0,07

) Ava

liada

/ H

p(0,

07) R

eal

Figura 3.7 – Representação da exatidão da dosimetria de extremidades.

O resultado do teste de exatidão da leitura está em conformidade com o

recomendado pela norma nacional de dosimetria pessoal (CASMIE, 1995),

sendo que não há norma que regulamenta o teste de exatidão para a

dosimetria de extremidades.

3.2.2.5 Dependência Energética

O teste de dependência energética constitui em determinar o

comportamento da resposta dos dosímetros de extremidade com relação a

energia da radiação incidente a ser monitorada.

Os dosímetro foram irradiados para teste de dependência energética no

Laboratório de Calibração de Dosímetros LCD/CDTN em campos de

radiação gama do 137Cs, 60Co em condições de equilíbrio eletrônico e raios

X da série ISO de espectro largo, W60 e W80 (ISO, 1996).

Para uma verificação mais precisa da dependência energética de um

dosímetro, deve-se utilizar o espectro estreito da série N (Narrow) da

norma ISO. A escolha da utilização do espectro largo da série W (Wide),

Page 36: monografia radiologia

36

ocorreu pelo motivo de estar implantada no Laboratório de Calibração de

Dosímetros do CDTN com a metrologia envolvida bem determinada, dando

maior qualidade aos resultados obtidos.

Em todos os casos os dosímetros foram irradiados no fantoma de dedo

padrão da Agência Internacional de Energia Atômica com diâmetro de 19

mm e comprimento de 30 cm (Figura 3.8).

Foram realizadas 5 irradiações para cada qualidade de radiação para

determinar o fator de dependência energética do dosímetro de

extremidades (ISO, 1996).

Figura 3.8 – Fantoma de dedo padrão com cinco anéis dosimétricos.

O resultado do teste de dependência energética segue na tabela 3.9

abaixo:

Tabela 3.9 – Dependência energética do dosímetro de extremidades em relação ao 137Cs.

Técnica Energia Média Hp(0,07) (mSv) Hp(0,07) (mSv) Dep. Energética keV Irradiado medido (%) para Cs-137

W60 45 7,15 7,98 ± 0,15 11,68 W80 57 7,70 7,48 ± 0,12 -2,79 60Co 1250 5,55 5,46 ± 0,11 -1,62

Page 37: monografia radiologia

37

3.2.2.6 Limite Inferior de Detecção

Este teste tem como objetivo assegurar que o requisito mínimo de

detecção referente ao limite inferior do intervalo de medidas dos

dosímetros é alcançada, sendo de 1 mSv pela norma ISO (ISO, 1997).

O resultado do limite inferior de detecção foi realizado com uma média de

10 leituras de todos dosímetros de extremidades utilizados, ficando o

resultado final em (141,94.± 50,19) µSv.

3.2.3 Características da Técnica Dosimétrica

A dosimetria foi realizada na mão esquerda, sendo o anel dosimétrico

utilizado no dedo anelar. Este posicionamento do anel dosimétrico é devido

a localização do médico durante os exames em relação ao campo de

radiação primário; tendo a mão esquerda mais próxima do campo de

radiação primário que a direita e o dedo anelar o mais próximo do dedo

mínimo, onde o valor da dose é maior em relação as outras posições

(Whitby, 2002). O dosímetro foi utilizado sob a luva cirúrgica sem provocar

nenhum evento adverso à rotina estabelecida.

Os dados foram levantados em um período de 40 dias sendo realizado um

total de 50 exames. O estudo foi realizado de acordo com as programações

de rotina do corpo clínico e da instituição onde foi realizada a coleta dos

dados. Os dados adquiridos foram adquiridos através do acompanhamento

dos procedimentos bem como pelos registros realizados pela equipe

médica nos livros de sala que fazem parte do controle interno da

instituição.

Durante todos os procedimentos neurológicos, o médico utilizou o

dosímetro de extremidades, equipamentos de proteção radiológica,

incluindo a utilização do biombo suspenso para otimizar a dose e

empregando os procedimentos básicos de proteção radiológica.

Page 38: monografia radiologia

38

4. RESULTADO

O valor da dose na mão esquerda dos médicos durante procedimentos

hemodinâmicos neurológicos, ficou no total de 2,056 mSv, já subtraindo a

radiação de fundo (background), de 0,272 mSv e aplicando todos fatores

de correção. Este valor encontrado de dose equivalente para extremidades

é relativo ao total de 50 exames realizados no período de 40 dias.

A dose média por exame de um procedimento hemodinâmico neurológico é

de 41,120 µSv com incerteza expandida de 20% para um fator de

abrangência k=2.

Page 39: monografia radiologia

39

5. CONCLUSÃO

Com o valor médio encontrado da dose equivalente de extremidades por exame,

torna-se possível a realização de um planejamento das doses mensais para médicos

que realizam apenas exames hemodinâmicos neurológicos.

A avaliação da dose nas mãos dos médicos durante procedimentos neurológicos

utilizando a técnica de hemodinâmica demonstrou através das medidas a

necessidade da monitoração de extremidades.

Sabendo que o valor da dose encontrada pode variar conforme a técnica

empregada, equipamentos de proteção utilizados, experiência profissional entre

outros; este valor médio deve ser avaliado através da monitoração de extremidades

mensal e havendo alguma alteração deste valor, buscar descobrir e sanar o fator de

acréscimo da dose, aperfeiçoando a proteção radiológica da instituição.

Page 40: monografia radiologia

40

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