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1 RUY MADSEN A METODOLOGIA DE JAN SCHOLTEN Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Homeopatia pelo Instituto de Cultura Homeopática – Escola de Homeopatia – ICEH. Orientadora: Dra. Mirian Mansour SÃO PAULO 2008

MONOGRAFIA Ruy - Scholten

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Page 1: MONOGRAFIA Ruy - Scholten

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RUY MADSEN

A METODOLOGIA DE JAN SCHOLTEN

Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Homeopatia pelo Instituto de Cultura Homeopática – Escola de Homeopatia – ICEH. Orientadora: Dra. Mirian Mansour

SÃO PAULO 2008

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DEDICATORIA

Para Regina e Vaneska

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! 3

AGRADECIMENTOS

À Dra. Mirian Mansour pela orientação no caminho da Homeopatia. Ao Dr Rodolfo Fernandes pelo exemplo e confiança. Ao Dr Mateus Marim por me apresentar a obra de Jan Scholten.

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Resumo O estudo dos medicamentos homeopáticos através da classificação em grupos é uma

característica comum entre os autores modernos. Jan Scholten é considerado pioneiro

no estudo sistemático do reino mineral. A “teoria dos elementos” reúne as estratégias

de classificação e estudo por temas; propõe que as características dos medicamentos

do reino mineral podem ser conhecidas pelo estudo de seus elementos constituintes e

pela posição do elemento na tabela periódica. Encontra-se em vários autores clássicos

a raiz da teoria e da metodologia desenvolvidas por Jan Scholten.

Palavras-Chave: Medicamentos homeopáticos. Jan Scholten. Reino mineral. Tabela

periódica.

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Abstract The study of the homeopathic medicines by classification into groups is a characteristic

of modern authors in homeopathy. Jan Scholten’s “element theory” combines the

strategies of classification and study of themes; he suggests that characteristics of

mineral medicines could be known by studying its compounds and by its position in the

periodic system. We can find the root of de theory and methodology of Jan Scholten in

many classical authors.

Keywords: Homeopathic medicines. Jan Scholten. Mineral kingdom. Periodic system.

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1. INTRODUÇÃO A Homeopatia clássica, fundamentada nos escritos de Samuel Hahnemann, 12, 13, 14 tem

como pontos centrais a lei da analogia ou semelhança, a experimentação em homens

sãos e consequentemente a administração de um medicamento para o quadro crônico

ou agudo do paciente. Assim, o objetivo principal do médico homeopata clássico

consiste em discernir o medicamento que corresponda a cada caso individual. 19, 26,28,30

Hahnemann estabeleceu que uma substância experimentada em pessoa saudável

desperta uma determinada totalidade sintomática e, se administrada a uma pessoa com

quadro sintomatológico semelhante, leva à cura4,12,14,19.

Portanto, para alcançar o objetivo de sua missão 14, i.e. a cura, caberia ao médico

homeopata encontrar dentre os medicamentos já experimentados aquele que fosse

mais semelhante possível ao quadro sintomatológico do paciente. A cura não seria

apenas da patologia apresentada pelo doente, mas sim de sua condição predisponente,

daqueles estados que deixariam o organismo passível de adoecimento, estados aos

quais Hahnemann chama miasmas. 13, 14, 19, 28,29

O fundador da Homeopatia nomeia três miasmas fundamentais: psora, sicose e

syphillis. Atribui à psora a causa básica da grande maioria das enfermidades. Por isso

enfatiza a necessidade de sua cura e do perigo da supressão dos sintomas com o uso

de medicamentos locais paliativos. A cura da causa das enfermidades ocorreria com a

administração do medicamento homeopático adequado chamado por ele de antipsórico.

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! 7

12, 14

O conceito de saúde e enfermidade na obra de Hahnemann é fundamentado no

vitalismo 29, 46. A homeopatia adota uma visão teleológica da vida, ou seja, saúde e

enfermidade têm um sentido, uma razão de ser 12, 14, 25, 30.

Com o conceito homeopático de saúde e enfermidade e com a teoria miasmática, a

administração de um medicamento deixa de ter um sentido apenas terapêutico para

certas entidades nosológicas como ocorria no nascimento da homeopatia12, 14. Com o

avanço da compreensão do processo de adoecimento, o tratamento homeopático

passa a ser visto como preventivo e promotor de qualidade de vida, entendido como

sensação de bem estar geral 6,7,29,30.

A Homeopatia clássica, dita unicista, busca deste modo o medicamento mais

semelhante possível, chamado de simillimum, medicamento constitucional,

medicamento de fundo, antipsórico ou homeopsorico. 6, 7, 29,30, 33.

A tomada do caso, ou anamnese homeopática, é o ponto de partida da busca do

medicamento. Não há paciente sem história 30.

O início da valorização do processo do adoecimento é atribuído a Hipócrates, médico

da escola de Cós na Grécia. 4 Ao longo de toda a história da medicina o registro das

queixas do paciente foi se adequando às práticas médicas vigentes em cada época.

Uma terapêutica centrada na fisiopatologia requer um tipo de anamnese, enquanto que

uma terapêutica focada no sujeito necessita de um registro diferente. A homeopatia,

enquanto medicina do sujeito , exige uma anamnese detalhada, contemplando todas as

esferas da vida do paciente. As dificuldades na realização deste tipo de registro passam

pela inexperiência do médico, disponibilidade de tempo e conhecimento de técnicas

adequadas. 30, 47

Outro ponto limitante na busca do medicamento é a eleição de sintomas. Trata-se da

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escolha de quais aspectos da história do paciente devem ser considerados como os

guias na busca do medicamento, ou seja, quais são os sintomas do caso que devem

ser cobertos pelo medicamento. As indicações de quais sintomas deveriam ser eleitos

variam conforme os autores. 14, 17, 19, 26, 28, 32

Em Homeopatia, hierarquização de sintomas significa atribuir valor a cada sintoma

eleito. Esta valorização de sintomas também difere com os vários autores. Porém

alguns pontos em comuns podem ser percebidos. Os sintomas devem individualizar o

caso. Sintomas raros, estranhos e peculiares são os mais importantes. Sintomas

mentais valem mais que os gerais e estes mais que os locais. Por sintoma mental

entendam-se todas as variações do psiquismo. Sintoma geral diz respeito à totalidade

do sujeito e sua relação com o meio; são exemplos as preferências alimentares, a sede,

a relação com o clima, a transpiração etc... São também valorizadas a intensidade e a

antiguidade dos sintomas. 2, 5, 6, 14, 16, 19, 26, 28, 32

Os livros de matéria medica contém as descrições dos medicamentos homeopáticos. O

registro das experimentações em homens sãos constitui a chamada matéria médica

pura. 13 Trata-se da descrição dos sintomas suscitados nos experimentadores pela

substância em questão utilizando-se as expressões dos mesmos. Com a experiência

clínica acumulada com o uso destes medicamentos alguns sintomas podem ser

somados àqueles que apareceram na experimentação. Essas são as chamadas

matérias medicas clinicas, que contém a descrição do medicamento segundo a

experiência de cada autor. 3, 20, 22, 31

Os instrumentos que auxiliam na busca pelo medicamento mais semelhante constituem

outro fator limitante. São os repertórios. 16 Dicionários de sintomas que apontam para

determinados medicamentos. Existem várias técnicas para o uso do repertório, sendo

na atualidade difundido o uso dos repertórios digitais que minimizam o tempo gasto na

técnica. 8

Além das limitações do médico homeopata expostas acima existem as limitações da

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própria ciência homeopática. A limitação mais citada é a necessidade da

experimentação de novas substâncias e de medicamentos ainda pouco conhecidos. 6, 7,

35, 36. Os medicamentos mais conhecidos e utilizados da matéria médica foram

denominados ‘policrestos’. Seu quadro sintomatológico já está bem estabelecido e por

isso são os mais prescritos na prática homeopática. No outro extremo estão os assim

chamados pequenos medicamentos. São aqueles com poucos sintomas característicos

e que, por isso, não aparecem com freqüência ao se utilizar as técnicas repertoriais. 6,7,

30

Hahnemann, com a experimentação em homens sãos, percebeu o surgimento de

conflitos profundos no psiquismo dos experimentadores 29. Estes sintomas mentais só

seriam realmente valorizados na história da medicina com o advento da psicanálise. As

pesquisas de Hahnemann permitiram perceber em cada medicamento um conflito

psicológico básico. As experimentações possibilitaram o nascimento de uma psicologia

empírica 29. Entre os policrestos este estudo profundo pode ser realizado com certa

facilidade, porém o mesmo não ocorre com os medicamentos pequenos. Além disso, a

técnica repertorial apenas sugere medicamentos e não contempla o estudo integral do

paciente. 4, 27

Como o objetivo da homeopatia é a cura através do medicamento mais semelhante

possível ao quadro de cada sujeito são justificadas as várias iniciativas para que esses

medicamentos “pequenos” se tornem mais conhecidos. 6, 7, 23, 35, 36. As dificuldades na

realização das experimentações clássicas têm levado muitos autores a adotarem

diferentes estratégias de experimentação e de compreensão dos medicamentos. 17, 23, 43

O estudo da maneira como os vários sintomas da matéria médica de um determinado

medicamento se relacionam entre si levou ao estudo dos “temas” 6, 7. Em homeopatia

entende-se por ‘tema’ os assuntos, as idéias, as palavras, os tópicos presentes de

maneira repetida nos sintomas de determinado medicamento.

Um ponto em comum das estratégias para o estudo da matéria médica, a compreensão

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de medicamentos novos e pequenos é o estudo dos “temas” e a classificação dos

medicamentos 37. Esta estratégia foi prevista pelo homeopata Constantin Hering 15, nos

primórdios da homeopatia. Tecendo comparações entre o trabalho do homeopata e dos

botânicos, Hering recomendava a classificação dos medicamentos em grupos para

aperfeiçoar o estudo da matéria medica.

Nomes como os de Jan Scholten, Rajan Sankaran e Massimo Mangialavore têm se

destacado no estudo de grupos, reinos ou famílias dentro da homeopatia, possibilitando

a compreensão de novos e pequenos medicamentos bem como de novas estratégias

para a tomada e análise do caso. 17, 23, 35,36

As descobertas do homeopata Jan Scholten têm sido divulgadas e discutidas

amplamente no meio homeopático 9, 10, 11, 17, 23, 24, 27, 34. Nos livros “Homeopatia e

Minerais” e “Homeopatia e os elementos” Scholten lançou as bases de sua teoria que

ficou conhecida pelo nome “Element theory” 23, 35, 36, 40.

Scholten propõe novas formas de obter informações sobre os medicamentos a partir de

classificações e categorizações 23,37. Seu foco principal é a descoberta de novos

medicamentos e a melhor compreensão de medicamentos pouco utilizados na prática

clínica homeopática. 35, 36

A teoria dos elementos de Jan Scholten associa as estratégias de estudo da matéria

médica por temas e por grupos de medicamentos. Sua metodologia já foi chamada de

“revolucionária” e “futuro da homeopatia” 9, 10, 24.

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1.1. OBJETIVO O objetivo do presente trabalho é a apresentação da teoria e metodologia desenvolvida

por Jan Scholten e a crítica aos seus pontos fundamentais por comparação de sua com

a literatura clássica da homeopatia.

1.2. MATERIAL E MÉTODOS Realizada revisão bibliográfica da obra de Jan Scholten, especialmente dos livros

“Homeopathy and Minerals” (1993) e “Homeopathy and the Elements” (1996) e

comparação da teoria deste autor com autores da literatura clássica da homeopatia.

Entendendo-se por autor clássico um autor conhecido e respeitado pela comunidade

homeopática.

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2. JAN SCHOLTEN Jan Scholten nasceu em Helmond na Holanda em 23 de dezembro de 1951. Estudou

bioquímica, filosofia e medicina. No internato desaponta-se com a prática médica

convencional. Após afastamento de três anos, período em que se dedicou a uma

galeria de arte moderna, conclui os estudos médicos em 1982. Passa se dedicar a

Acupuntura e Homeopatia. Estuda com homeopatas renomados como Jost Kunzli,

Roger Morrison, George Vithoulkas e Rajan Sankaran. 34, 41

É fundador da clínica homeopática “Homeopatisch Artsencentrum Utrecht” e da

“Stichting Alonissos”, organização para promoção da homeopatia através de publicação

de livros, realização de seminários, pesquisas e softwares. 41

Editor do periódico “Interhomeopathy” 18, um jornal internacional com tiragem mensal

gratuita exclusiva através da rede mundial de computadores. A primeira edição data de

Janeiro de 2006.

As obras de Jan Scholten até 2008 são: “Homeopathy and Minerals” (1993), “Mineral in

Plants” (1993), “Homeopathy and the Elements” (1996), “Mineral in Plants” (2001), “Wad

Stories” (2001), “Wad Stories” (2002), “Repertory of the Elements” (2004), “Secret

Lanthanides” (2005) 35,36,38,39,40,44

“Homeopathy and Minerals” publicado em 1993 tem 296 páginas, é o primeiro livro de

Jan Scholten. Nesta obra o autor inaugura seu método de estudo chamado de “análise

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de grupo”. Através do qual consegue descrever uma matéria médica do reino mineral

com ênfase no aspecto mental. 35

Os dois livros intitulados “Mineral in Plants”, publicados em 1993 e 2001, analisam a

composição mineral presente em determinadas plantas, com o objetivo de estabelecer

paralelos entre os medicamentos derivados dos dois reinos. 38

“Homeopathy and the Elements”, publicado em 1996, é a maior obra de Jan Scholten. É

o desenvolvimento das idéias de seu primeiro livro “Homeopathy and Minerals”.

“Homeopathy and the Elements” tem 880 páginas. As primeiras 72 são as explicações

sobre a estratégia que passou a ser chamada de “Element theory”. O restante do livro

constitui uma matéria médica dos elementos da tabela periódica. 36

Os dois livros “Wad stories”, publicados em 2001 e 2002, reúnem aulas de vários

homeopatas realizadas durante seminários em Wadden Sea na Holanda, tratando

basicamente de medicamentos novos ou pouco conhecidos em homeopatia. 44

“Repertory of the Elements”, publicado em 2004, inaugura um novo estilo de repertório

para agregar as informações originadas com a teoria dos elementos. As rubricas trazem

conceitos/temas e apontam não apenas para medicamentos individuais, mas para

grupos de medicamentos que compartilham determinado conceito. 39

Por fim, “Secret Lanthanides”, publicado em 2005, é dedicado ao estudo dos

lantanídeos, elementos da tabela periódica com numero atômico de 57 a 71. 40

Sendo o objetivo deste trabalho a exposição da teoria e da metodologia de Jan

Scholten e a comparação com a literatura homeopática clássica, concentraremos nossa

análise nas duas obras que explicam o desenvolvimento da “teoria dos elementos”:

“Homeopathy and Minerals” (1993) e “Homeopathy and the Elements” (1996).

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2.1. “Homeopathy and Minerals” Deve-se a Jan Scholten o pioneirismo no estudo aprofundado e sistemático do reino

mineral na terapêutica homeopática. 11, 27 Em “Homeopathy and Minerals” , livro que

foi chamado de “contribuição valiosa à nossa literatura” 9, muitos dos medicamentos

estudados por Jan Scholten nunca foram provados, experimentados ou mesmo

preparados pela farmacologia homeopática. 35

O objetivo do autor, tal qual explicitado no primeiro parágrafo da introdução é o

conhecimento de novos medicamentos. Sendo que a limitação da matéria médica

homeopática é imputada por ele como um fator para os casos de falha de tratamento.

Este ponto aparece também em “Homeopathy and the Elements” (1996), no capítulo

8.8- “ten propositions”, no qual Scholten enuncia: “um quadro desconhecido necessita

de um medicamento desconhecido”. 36

Vários são os autores que comentam esta limitação da matéria medica homeopática,

que parece ser a preocupação básica de Jan Scholten.

No Organon de Hahnemann, parágrafo 169, o fundador da homeopatia atribuía a

dificuldade da descoberta do medicamento mais homeopático possível “ao número

insuficiente de medicamentos conhecidos”, por isso também no parágrafo 165 diz que o

médico não pode esperar a cura se não encontrar entre os medicamentos conhecidos

aquele que for homeopaticamente adequado ao quadro de sintomas característicos do

paciente. Porém, Hahnemann, contraditoriamente, no parágrafo 166, classifica esse

caso como “muito raro, devido ao grande número de medicamentos cujos efeitos puros

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! 15

já são conhecidos”. 14

Kent (1990, p. , por sua vez, classifica como “raro” o oposto: “ocorre muito raramente

achar entre as patogenesias de nossos medicamentos a que corresponda aos traços

característicos de um caso”. 17

Também em Masi Elizalde aparece a questão da limitação da matéria médica

homeopática. Em palestra de 1988 cita os pontos que devem ser aperfeiçoados na

prática homeopática: “estudo da matéria medica, (...) mais medicamentos, (...) conhecer

melhor os que temos” 7

Uma voz diferente é a do homeopata George Vithoulkas que defende uma posição

semelhante a do parágrafo 166 do Organon. O homeopata grego refere em entrevista 24

à revista homeopática Links que em sua prática não vê necessidade de novos

medicamentos.

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! 16

2.2. A Análise de Grupo O método apresentado em “Homeopathy and Minerals” é chamado de método da

análise de grupo.

Nas palavras do próprio autor a análise de grupo consiste em:

extrair de grupos o que têm em comum (...) esses sintomas são posteriormente usados nos vários medicamentos que contém aquele elemento.(SCHOLTEN,1993)

Os temas e características comuns a determinados grupos de medicamentos

conhecidos, como alguns sais de sódio, são aplicados a medicamentos pouco

conhecidos ou inteiramente novos que em sua composição apresentem aquele

elemento químico. Em outras palavras, os conceitos de um determinado sal podem ser

previstos pela união dos conceitos de seu cátion e ânion. 11, 35, 36

Os medicamentos estudados por Jan Scholten em “Homeopathy and Minerals” são

apresentados nos seguintes agrupamentos:

1. Cátions: Calcareas, Magnesiuns, Kalis e Natruns.

2. Os “Carbonicums”: Grahites, Calcarea carbônica, Magnesium carbonicum, Kali

carbonicum, Natrum carbonicum.

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3. Os “Muriaticums”: Chlorum, Calcarea muriatica, Magnesium muriaticum, Kali

muriaticum, Natrum muriaticum

4. Os “Sulphuricums”: Calcarea sulphurica, Magnesium sulphuricum, Kali

suplhuricum, Natrum suplhuricum

5. Os “Phosphoricums”: Calcarea phosphorica, Magnesium phosphoricum, Kali

phosphoricum, Natrum phosphoricum

6. “Barytas”: Baryta carbônica, Baryta muriatica, Baryta suplhurica, Baryta

phosphorica.

7. Os ácidos: Sulphuricum acidum, Phosphoricum acidum.

8. Os “Ammoniuns”: Ammonium carbonicum, Ammonium muriaticum, Ammonium

suplhuricum, Ammonium.

9. Os “Nitricuns”: Nitric acid, Calcarea nitrica, Kali nitricum, Natrum nitricum, Baryta

nitrica.

10. Os “Fluoratums”: Calcarea fluorata, Magnesium fluoratum, Kali fluoratum, Natrum

fluoratum, Baryta fluorata.

11. Os “Bromatums”: Bromium, Calcarea bramata, Magnesium bromatum, Kali

bromatum

12. Os “Iodatums”: Magnesium iodatum, Kali iodatum, Natrum iodatum

13. O grupo do Ferro: Vanadium, Kali bichromicum, Chromium matallicum,

Manganum, os “Ferrums”, Ferrum metallicum, Ferrum muriaticum, Ferrum

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! 18

sulphuricum, Ferrum phosphoricum, Ferrum iodatum, Niccolum, Cuprum,

Zincum.

Jan Scholten atribui a cada íon um determinado conjunto de conceitos ou temas. Estes

conceitos foram retirados da matéria médica clássica homeopática, partindo de

medicamentos bem conhecidos. Assim, presume que um outro medicamento pouco

conhecido pode ser melhor compreendido através de seus elementos (íons)

constituintes. 17

Um exemplo da aplicação da análise de grupo desenvolvida no livro “Homeopathy and

Minerals” é a descrição de Kali muriaticum. 35

Scholten inicia o estudo de Kali-m lembrando que se trata de um dos sais de Schussler

e que sua aplicação se limita à patologias, posto que não se conhece bem sua

essência.

A metodologia de Scholten leva neste caso à comparação dos conceitos e temas de

“Kali” (K- potássio) e de “muriaticum” (Cl – cloro).

Conceitos de Kali segundo Scholten: princípio de dever ; fechado; otimismo; trabalho,

tarefa; família.

Conceitos de Muriaticum segundo Scholten: auto-piedade; cuidado; nutrir; mãe;

atenção; auto-percepção.

Pela análise de grupo, Scholten atribui à Kali-m o seguinte tema: “o dever de ser uma

boa mãe e cuidar da família”. Podendo existir variações sobre o tema através de outras

comparações possíveis entre os conceitos, por exemplo: “se cumprir o dever, será bem

cuidado”.

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! 19

Scholten procura ilustrar cada medicamento com casos clínicos de sucesso a partir dos

quais, confirmando o tema sugerido pela análise de grupo, estabelece aquilo que

chama “essência” do medicamento. No caso de Kali-m a essência seria “o dever de ser

boa mãe”, ou seja, a união dos conceitos de princípio e dever de “Kali” e o conceito de

maternidade, comum a todos os “muriaticums”.

Na descrição dos medicamentos, Scholten enfatiza o quadro mental proveniente da

análise de grupo, mas cita as características gerais marcantes. No caso de Kali-m

destaca a lateralidade esquerda, a piora às 3 da manhã e o desejo de amido.

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! 20

2.3. A Análise de Grupo e os Autores Clássicos

O método assim denominado “análise de grupo” tem suas raízes em autores clássicos

da homeopatia.

Sintomas atribuídos a determinados elementos químicos aparecem combinados em

algumas matérias médicas formando o quadro sintomatológico de um novo

medicamento que contenha tais elementos. Scholten cita Clarke, Morrison e Vithoulkas

como homeopatas que usaram o método antes dele. 35

Na Matéria Médica de Kent 20 percebe-se que este autor considerava como

importantes as características dos elementos constituintes. Exemplo está na descrição

de Ferrum phosphoricum:

(…) é útil nas mais altas potências nas doenças crônicas, e é um profundo antipsórico. Não pode ser inferior a Ferrum e Phosphoric acid que o compõe. (…) a característica mais notável é anemia e clorose (como em Ferrum). A ansiedade física geral é mais parecida com Phos. acid. (KENT, 2005)

Na material médica de Kali sulphuricum 20 o autor homeopata norte-americano

concorda que os sintomas de determinada substância podem ser descobertos pelo

estudo dos elementos que a constituem:

...dois medicamentos profundamente atuantes unidos para formar este. (…) eles [os sintomas] são justificados pelo estudo dos dois medicamentos que entram em sua composição. (KENT, 2005)

Em Clarke 3 encontramos vários exemplos em seu Dicionário de matéria médica prática.

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! 21

Na descrição do medicamento Arsenicum sulphuratum flavum temos:

Os dois sulfetos de Arsênico, “Orpiment” e Rosalgar 68 são usados de um modo geral em casos que combinam sintomas proeminentes de ambos os elementos; mas observações e experimentações vêm sendo feitas com os dois sais independentemente. (CLARKE, 2005)

Na descrição de Arsenicum iodatum, Clarke 3 chama a atenção para a presença de

sintomas de um dos elementos constituintes: “As Condições se parecem mais fielmente

com aquelas de Ars. do que com as de Iod.: < por vento frio; > por calor.”

Comentário semelhante aparece na Matéria Médica de J. A. Lathoud 22: “Arsenicum

iodatum (...) é um Arsênico inicialmente que só nos faz pensar no Iodatum purum em

alguns detalhes.”

Em Kent 20 aparece sobre o mesmo medicamento: “ A partir de um estudo dos

elementos que compõe este agente, sabe-se que se trata de um medicamento

constitucional profundo”

Em Aurum sulphuratum e Aurum iodatum, Clarke 3 demonstra o emprego rudimentar

prático do método da análise de grupo que é base da teoria de Scholten 35:

Esta é uma valiosa preparação do ouro que eu usei com sucesso em casos de Aurum com algumas indicações de Sulphur”; “Este é outro sal de ouro não experimentado, apresentado por Hale e usado por ele com sucesso em casos das doenças acima mencionadas, onde os sintomas dos componentes estavam presentes. (CLARKE, 2005)

Os exemplos anteriores mostram que quando não havia experimentação de

determinada substância composta, a presença de sintomas que apontavam para dois

medicamentos diferentes seria indicação da prescrição de uma substância que

contivesse os dois elementos.

Também no homeopata Masi Elizalde 7 encontramos referencia à combinação de

sintomas. Em aula de Matéria Médica abordada segundo sua metodologia, o

homeopata argentino diz sobre Calcarea phosphorica : “Todo medicamento com o

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! 22

componente fosfórico tem o problema do conhecimento.”

Autores clássicos já classificavam os medicamentos em grupos e famílias,

característica comem aos autores modernos. Alguns ressaltavam mais os sintomas

locais - físicos e outros encontrando sintomas mentais que seriam comuns aos grupos

ou famílias.

Em Kent 20 temos os seguintes exemplos:

Como outras Magnesias há nevralgias violentas, dores nos trajetos dos nervos,(…) e aliviadas pelo movimento. É verdade para todos os Sódios, mas especialmente em Natrum carb; agravação pelo barulho de uma porta, um tiro, que causa dores de cabeça e queixas em geral, agravada pela música. (KENT, 2005)

Kent reúne sintomas mentais, gerais e locais semelhantes aos medicamentos

pertencentes a determinados grupos, no caso o grupo das Magnésias e dos Natrums,

grupos também estudados por Jan Scholten.

Outro homeopata norte-americano, Dr. George Royal 27, valorizava o estudo dos grupos

de medicamentos com um elemento químico em comum como nos seguintes exemplos:

O grupo da Calcareas é sem dúvida alguma o mais importante de todos os grupos de nossa Matéria Medica. Estou falando dos grupos e não dos medicamentos em particular. Permitam-me agora tratar da família das potassas (...) recordemos que as potassas têm afinidade pelo centro motor cardíaco... (ROYAL, 1982)

Em Hebert A. Roberts 28 notamos exemplos de divisão em grupos conforme os

elementos constituintes:

...voltemo-nos agora para o papel que os carbonos ocupam na lista dos medicamentos antipsóricos. Na lista de Boenninghausen encontramos Ammonium carb. , Baryta carb., Calcarea carb. , Carbo animalis, Carbo veg., Graphites, Kali carb., Magnesium carb., Natrum carb., Sepia; todos estes possuem a característica influência do carbono, mesmo se associados a outros elementos. Pode parecer estranho ao estudante superficial da matéria médica

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! 23

incluir Sepia nesta lista, mas para o homeopata Sepia é o carbono animal. (ROBERTS, 1985)

Roberts não cita apenas a divisão dos medicamentos em grupo, mas mostra também

uma utilidade prática desta divisão:

... um caso recente de câncer incurável desenvolveu uma micção involuntária sem absolutamente nenhum controle sobre a condição. O medicamento da paciente pertencia ao grupo Calcarea. Para este problemático sintoma de micção involuntária, o repertório nos dá cinco medicamentos de nível igualmente destacado, a serem considerados: Arsenicum, Natrum mur., Pulsatilla, Rhus tox e Causticum. Frente à similaridade constitucional da paciente com Calcarea, Causticum foi o único medicamento a ser considerado, e uma dose de Causticum 200 restabeleceu controle completo sobre este desagradável sintoma, fazendo com que a paciente se sentisse mais confortável em geral. (ROBERTS, 1985)

No exemplo acima, retirado da obra de Roberts, cuja primeira edição data do ano 1936,

observa-se um dos pontos importantes que Jan Scholten atribui à sua própria

metodologia na introdução de “Homeopathy and the Elements”: a possibilidade de

ampliação do diagnóstico diferencial através do método da análise de grupo. 35

Na obra “Repertory of the elements” 39 percebe-se essa contribuição da metodologia de

Scholten. As rubricas neste repertório indicam os grupos que contemplam um

determinado sintoma e não apenas medicamentos individuais, auxiliando dessa

maneira no diagnóstico diferencial.

Masi Elizalde 7 também considerava o conceito de família ou grupo de medicamentos

conforme vemos no seguinte trecho do estudo de Kali carbonicum :

Kali-c (...) recusou o fato de que o corpo é necessário para conhecer (...) Isto confirma a idéia de que há uma semelhança nas famílias de medicamentos, porque em Kali-n vemos o mesmo. (ELIZALDE, 2000)

No estudo de Kali phosphoricum a descrição de Masi parece antecipar integralmente o

método da análise de grupo de Jan Scholten:

Kali-p (...) tem sua parte da família dos Kalis, no desprezo do corpo, a debilidade do corpo, não querer depender do corpo; e tem sua parte da família dos fosfóricos, o problema do conhecimento... (ELIZALDE, 2000)

Page 24: MONOGRAFIA Ruy - Scholten

! 24

Neste trecho Masi sugere que a união de temas da “família dos Kalis” e da “família dos

fosfóricos” formaria o grande tema de Kali phosphoricum. É esta exatamente a

estratégia de Scholten em “Homeopathy and Minerals”.

Para Scholten corresponderiam ao elemento “phosphorus” os conceitos: comunicação,

curiosidade, viagem, compassivo, amigos.... A essência de Phosphorus seria então a

troca de idéias, pensamentos e sentimentos. Problemática que pode ser associada ao

tema “conhecimento” da metodologia de Masi Elizalde.

Os temas do grupo dos Kalis segundo Scholten seriam: princípios, dever, fechado,

otimismo, trabalho, tarefa, família. Todos os medicamentos deste grupo tenderiam a

viver de acordo a princípios e manter outros aspectos da vida sob controle, como as

emoções.

Pala análise de grupo o grande tema de Kali-p em “Homeopathy and Minerls” de

Scholten é: “o dever de manter o estudo e o círculo de amigos”. Basicamente é a

correlação dos temas que ele atribui ao grupo Kali e ao grupo Fosfórico.

Pelos exemplos acima, percebe-se que a metodologia da analise de grupo já estava

presente nos autores clássicos da homeopatia, que atribuíam sintomas e temas a

determinados elementos ou grupos de medicamentos, os quais podem ser usados para

prever a ação de outros medicamentos menos conhecidos que tragam em sua

composição um ou mais desses elementos.

Page 25: MONOGRAFIA Ruy - Scholten

! 25

2.4. “Homeopathy and the Elements” A maior obra de Jan Scholten é “Homeopathy and the Elements” 36, que foi chamado de

“potencialmente a maior aquisição para os conceitos da homeopatia desde as

descobertas originais de Hahnemann”. 10

Neste livro36 o autor leva adiante a proposta da análise de grupo de seu primeiro livro.

Em suas próprias palavras o autor afirma:

Em “Homeopathy and Minerals ” comecei a pensar em temas. No presente livro [Homeopathy and the elements] sigo a mesma linha de pensamento com o acréscimo de um novo nível de pensamento abstrato. Em “Homeopathy and Minerals ” comparamos grupos de medicamentos com um medicamento simples dentro deste grupo: por exemplo a comparação entre os Natrums. No presente livro comparo os elementos uns com os outros, assim podemos eventualmente prever o quadro de qualquer medicamento. (SCHOLTEN, 1996)

Ou seja, enquanto “Homeopathy and Minerals ” abordava os medicamentos dentro de

grupos mais ou menos conhecidos – daí o termo “análise de grupo”- “Homeopathy and

the elements ” propõe o estudo de todos os elementos da tabela periódica, inclusive

medicamentos que nunca foram experimentados, usados ou mesmo dinamizados pela

farmacotécnica homeopática.

Um comentário 35 de um revisor de “Homeopathy and Minerals ” já trazia o seguinte

desafio levado adiante por Jan Scholten em “Homeopathy and the elements”:

Tente imaginar o que significaria encontrar os conceitos-chave de todos os elementos da tabela periódica...talvez seja isto o que Kent sentiu quando disse que todos os medicamentos podem ser achados em um reino (minerais, plantas e animais)... Este livro nos deu o início. Nós homeopatas agora temos o trabalho de verificar e expandir esta informação... (in SCHOLTEN, 1993)

No livro “Homeopathy and the elements” , baseando sua investigação na tabela

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! 26

periódica dos elementos, Scholten descobre padrões de temas ao longo das linhas e

colunas. Denomina as linhas de Séries e as colunas de Estágios.

A tabela periódica dos elementos (Anexo A) foi uma descoberta importante para a

evolução da Química. Organizada por Mendeleev , cientista que percebeu os padrões e

periodicidades nas características dos elementos, permitiu prever a composição de

elementos até então desconhecidos. 23

O homeopata Roger Savage 35 atribui a autores contemporâneos como Jeremmy Sherr

e Rajan Sankaran o pioneirismo na exploração da tabela periódica dos elementos como

fonte de medicamentos homeopáticos.

No entanto, Herbert A. Roberts 28 cita a tabela periódica dos elementos em seu livro The

Principles and art of cure by homeopathy. Trata-se de uma obra onde o autor procura

equiparar a homeopatia com o que havia de mais atual nas descobertas cientificas de

seu tempo - a primeira metade do século XX.

Roberts antecipa Scholten na referência a elementos da tabela periódica nunca

experimentados e que poderiam se tornar medicamentos importantes.

Comparemos os seguintes trechos de Roberts 28 e Scholten36, respectivamente:

...notamos um espaço vazio entre Bromo (53) e Argentum (47) [n.t. entre os anti-sicosicos – ver tabela] . Por ordem de peso atômico os seguintes elementos compõem esse espaço: Krypton (36); Rubidium 37, Strontium 38; Yttrium 39; Zirconium 40; Columbium 4l; Molybdenum 42; indeterminado 43 [ n.t.: nomeado poateriormente de Technetium] ; Ruthenium 44; Rhodium 45; Palladium 46. Dentre esses, Stronium e Palladium sofreram experimentações consideráveis e mostraram-se úteis em condições sicósicas. (ROBERTS, 1985) ...por que há tão poucos remédios que conhecemos bem, remédios como Aurum ou Argentum nitricum, por exemplo? Que tal Hafnium ou Krypton ou qualquer outro? Eles são como clarões no mapa do mundo conhecido. Muitas das idéias neste livro precisam ser desenvolvidas posteriormente. Necessitamos de experimentações de muitos dos remédios para confirmar e aumentar a imagem que deduzimos através da análise de grupo. (SCHOLTEN, 1996)

Podemos perceber a preocupação em comum dos dois autores: “os clarões”, os

Page 27: MONOGRAFIA Ruy - Scholten

! 27

“espaços vazios” da tabela periódica, ou seja, elementos desconhecidos em

contraposição aos bem conhecidos policrestos. A própria expressão de Roberts –

“espaço vazio”- para designar aqueles elementos pouco conhecidos em comparação

aos policrestos da tabela periódica é retomada por Fernand Debat 36 no prefácio à

“Homeopathy and the Elements” de Jan Scholten:

...pegue a mais extensa matéria médica que puder achar e anote as rubricas mais importantes de cada elemento no seu espaço apropriado. Quando terminar, pare e olhe. Você notará que a maioria dos espaços está vazia. Faça a você mesmo a seguinte questão: ‘Por que tantos espaços vazios, enquanto outros estão preenchidos com policrestos como Ferrum metallicum, Phosphorus, Sulphur ou Aurum metallicum? (in SCHOLTEN, 1996)

Pode-se atribuir a Roberts 28 o pioneirismo na exploração metódica da tabela periódica

por sua hipótese miasmática; segundo ele a Psora estaria associada à deficiência na

assimilação de elementos básicos para o organismo, tais elementos seriam aqueles

essencialmente construtivos, ou seja, elementos que são encontrados naturalmente no

corpo humano. Roberts cita pesquisadores que afirmam que no organismo são

encontrados apenas elementos de baixo peso atômico, sendo que destes 53 elementos

o iodo seria o mais pesado. E estes elementos correspondem à grande maioria dos

antipsóricos de Hahnemann. Já os elementos de peso atômico maior constituiriam os

anti-sifilinicos, segundo Roberts “de Osmium para frente”. Faz uma analogia entre a

desintegração dos elementos de elevado número atômico com característica destrutiva

do miasma sifilinico. O autor faz também referência à pequena quantidade de

patogenesias disponíveis destes elementos mais pesados da tabela periódica,

escassez esta que constitui o argumento básico para o desenvolvimento da teoria de

Scholten.

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! 28

Quadro1. Os anti-psoricos de Boeninghausen segundo Roberts.

Agaricus Causticum Magnesium mur Alumina Clematis Manganum Ammonium carb Calocynth Mezereum Ammonium mur. Conium Muriatic acid Anacardium Digitalis Natrum carb. Arsenicum alb. Dulcamara Natrum mur. Aurum Euphorbium Kali nit. Baryta carb. Graphites Nitric acid Belladonna Guaicum Petroleum Bor. Ac. Hepar Sulphur. Phosphurus Bovista Iodo Phosporic acid Calcarea carb. Kali carb. Platinum Carbo animalis Lycopodium Rhododendron Carbo veg. Magnesium carb. Sarsaparilla Senega Stannum Sulphuric acid Sepia Strontium Zincum Silica Sulphur

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! 29

Roberts assinala que dos 50 medicamentos anti-psoricos 33 correspondem ao reino

mineral e são constituintes do organismo; questiona o fato de aparecerem nesta lista

Baryta, Platinum e Aurum com numero atômico elevado e classificados por ele como

anti-sifilinicos ou adequados a casos psóricos mesclados a uma tendência venérea. 28

Os medicamentos que teriam a maior chance de serem escolhidos como anti-sicósicos

para Roberts também corresponderiam aos elementos constituintes do corpo, tal qual

para os anti-psoricos, mas principalmente na forma de “duplo sais”, ou seja, substâncias

compostas de dois elementos. 28

Alumina 13 Ácido fluorídirco 1,9 Ammonium mur., 1,7,17. Graphites 6,14,26. Antimonio 51 Hepar Sulph. 16,20. Argentum 47. Kali bich. 10,24. Arsenico 33 Kali iod. 19,53. Aurum mur. 17,79 Kali mur. 17,19. Baryta mur. 17,56 Kali sulph. 16,19 Borax 1,5,8,11. Lithium 3. Bismuto 33. Mercúrio 80. Bromium 35 Merc. Cor. 17,80 Calcarea phos. 15,20 Merc. i.r. 53,80 Cinnabaris 16,80 Merc. sol. 1,7,8,80 Cloro 17. Natrum mur. 11,17. Ferrum iod. 26,53. Natrum sulph. 11,16. Ferrum phos. 15,26. Ácido nítrico 1,7,8. Phosphorus 15. Silica 14

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! 30

Quadro 2. Os antipsóricos de Roberts

Roberts chama atenção para o fato de estarem quase ausentes o grupo dos carbonos

e das calcareas, basicamente psóricos; também sublinha o fato de as substâncias

compostas serem formadas por elementos de baixo peso atômico. 28

Fogem à regra de compostos de baixo peso atômico os medicamentos Aurum mur.,

Baryta mur., Cinnabaris, Mercurium e Plumbum, mas Roberts explica que os três

primeiros trazem em sua composição elementos de peso menor e os dois últimos

estariam associados a uma tendência mais sifilínica. 28

Roberts buscou encontrar padrões para a prescrição miasmática dos medicamentos na

tabela periódica, constatou a escassez de medicamentos e chegou a prever o miasma

predominante de certos elementos ainda não conhecidos, atribuindo à falta de

experimentações o fator limitante para o uso dos mesmos. 28

Em Scholten 36 encontramos os mesmos passos de Roberts: constatação dos “espaços

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! 31

vazios” na tabela periódica, a busca por padrões, a previsão das características da

substância desconhecida e o reconhecimento da necessidade de experimentações para

comprovação da teoria.

As linhas horizontais da tabela periódica são chamadas de séries. 36

No livro “Homeoapathy and Minerals”, Scholten deu o primeiro passo na direção do

estudo das séries através do que ele chamava “grupo do ferro”, que correspondia aos

elementos de número atômico 22 a 30, ou seja, de Titanium a Zinco. Este tipo de

estudo difere do padrão da análise de grupo do livro “Homeopathy and Minerals”, a

comparação realizada é com medicamentos que não têm elementos químicos em

comum, mas que possuem similaridades entre si tanto do ponto de vista químico quanto

do ponto de vista homeopático. 35, 36

O “grupo do ferro” de “Homeopathy and Minerals” antecipa aquilo que seria chamado

de “série do ferro” no livro “Homeopathy and the Elements”. Porém, aqui o termo “série”

vai designar todos os elementos de uma dada linha horizontal da tabela periódica.

Scholten propõe que a tabela seja pensada na forma de uma espiral. O último elemento

de cada linha horizontal sendo sucedido pelo primeiro da linha posterior, com objetivo

de ilustrar uma cadeia ininterrupta. 36

A idéia que Scholten visa transmitir com esta disposição em espiral dos elementos é em

suas próprias palavras: a “expansão da consciência” 36. Conforme caminhamos pelos

elementos da espiral encontramos temas que abarcam áreas cada vez maiores: da

consciência do próprio corpo até a consciência de todo o mundo, correspondendo ao

processo do envelhecimento. 17

Esta idéia da vida como processo de expansão encontra ressonância em autores

clássicos da homeopatia.

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Hahnemann, em passagem célebre de seu Organon 14, faz referência aos "altos fins da

existência” humana, atribuindo assim uma finalidade para a saúde, e na obra Escritos

Menores diz ser destino do homem a busca de “conhecimentos que abarquem o

universo” 6. Idéia semelhante encontramos no homeopata argentino Tomas Pablo

Paschero 26, para quem saúde seria a libertação do egoísmo infantil em direção ao

altruísmo da vida adulta.

Na metodologia de Jan Scholten as séries da tabela periódica são vistas como

sucessão de temas básicos do desenvolvimento da vida. 17

Para cada série foi dado um nome correspondente ao seu elemento mais

representativo ou conhecido.

1. Série do Hidrogênio

2. Serie do Carbono

3. Série do Silício

4. Série do Ferro

5. Série da Prata

6. Série do Ouro

7. Série do Urânio

Cada série corresponde a um tema amplo que sugere um processo de amadurecimento

e expansão da consciência. Primeiramente a constituição do Eu como se vê nas séries

do H e C, depois a relação com o mundo nas séries da Si , Fe e Ag e por fim as séries

do Au e U.

Jan Scholten foca a atenção nas seis primeiras séries, fazendo pouca menção a série

do Urânio; as dificuldades peculiares de aquisição e manipulação destes elementos

parece ser a explicação. A única substância abordada desta série é Plutonium nitricum,

cuja descrição é baseada na análise de grupo e em experimentação realizada por

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! 33

Jeremy Sherr. 36

Cada série corresponde a temas básicos da vida. 17, 42

Os temas principais das 6 séries são:

1. Série do Hidrogênio: Ser (verdade, totalidade, espaço-tempo, psicose, não

nascido).

2. Serie do Carbono: Eu (valor próprio, valor - sentido, bom – mau, corpo – vida,

posses, herói, magia – mitos, infância).

3. Série do Silício: Outro (relacionamentos – família, amor – ódio, comunicação,

linguagem - aprendizado, apresentação, jogar, adolescente, casa – vizinhança).

4. Série do Ferro: Trabalho – tarefa – dever (artífice, oficial, habilidade –

perfeccionismo, útil – prático, controle – exame, observado – criticado, falha –

culpa – crime, perseguido – provado, adulto, vila).

5. Série da Prata: Idéias – cultura (criação – inspiração, único – admiração,

estética: belo – feio, arte – ciência-misticismo, performance – show, ambição,

humilhação, sexualidade, meia idade, cidade, audição).

6. Série do Ouro: Liderança – administração (organização – estrutura,

responsabilidade, seriedade, rei, poder, dignidade, sozinho, ofendido, religião –

sexualidade, visão).

A série dos Lantanídeos, que corresponde a uma sub-série da série do ouro, foi

também posteriormente estudada por Jan Scholten, sua descrição encontra-se no livro

“Secret Lanthanides” de 2005. 40

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Para Scholten as colunas - chamadas de estágios - permitem uma compreensão do

papel de cada elemento dentro da sua série. Os estágios correspondem na tabela

periódica aos grupos de elementos com o mesmo número de elétrons na última camada

e, por isso, com as mesmas propriedades nas reações químicas. 36

O nome estágio indica um processo, um caminhar dentro do tema. São 18 os estágios,

mas algumas séries não preenchem todos os estágios devido às lacunas que se

observam na tabela periódica.

A série do H, que é a primeira série, possui dois elementos e, portanto, dois estágios

dentro do seu tema. A série do Carbono e a série do Silício, 8 estágios . A série do Ferro

e da Prata, 18 estágios. A série do Ouro, 18 estágios além da sub-série dos

Lantanídeos.

Os 18 estágios e seus conceitos - temas são : 11, 36, 42

1- Começo: espontâneo, impulsivo,instintivo, ingênuo, simplista, infantil.

2- Achar espaço: incerto, tímido, passivo, confuso.

3- Comparando : procurando, investigando, testando, hesitando, recusa decidir.

4- Estabelecendo: decisão, comprometimento, oficial, surpreso, fazer pela metade.

5- Preparando: planos, seguir ou desistir, adiando.

6- Experimentando : desafio, inevitável.

7- Praticando: treinamento, aprendizado, cooperação, ajuda.

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! 35

8- Perseverando: resistência, força, oposição, pressão, concentração.

9- Sucesso à frente: estar pronto, apresentando-se, prova, ensaio.

10- Senhor e Mestre: sucesso, brilho, independente, ápice.

11- Preservando: mantendo, conservando, protegendo.

12- Divisão: exagero, repetição, decadência, inimigos.

13- Recolhimento: deixar para trás, nostalgia, deterioração, suspeitas, desistir.

14- Formalidade: vazio, indiferente, distante, máscara.

15- Perda: falido, passar adiante, supérfluo, render-se.

16- Relembrando: reconciliação, preguiçoso, negligenciando, decompondo.

17- Fim: saída, deixar partir, clímax, exilado, condenado.

18- Descanso: pausa, inércia, livre, confusão, autismo, desconectado.

Os conceitos - temas das séries mostram o processo de expansão da vida e os

estágios mostram as fases, os passos dentro de cada tema. Segundo Scholten, tudo na

natureza começa a existir, cresce, chega ao ápice e declina até desaparecer. 36

Assim, os primeiros estágios, ou seja, as colunas à esquerda da tabela periódica,

correspondem a um crescimento dentro do tema até atingir o ápice, o pleno

desenvolvimento, correspondendo às colunas centrais da tabela e os últimos estágios,

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! 36

as colunas à direita, correspondem à decadência dentro daquele tema. 17, 36

O estágio 18 também pode ser entendido como estágio 0, pois estaria entre duas séries

diferentes, uma pausa antes do início de um novo ciclo da espiral. 36

Scholten e seus comentaristas 11, 36 sublinham o fato de que os estágios são “normais”,

os seres humanos passam por eles constantemente, variam entre os estágios. O

problema aparece quando o sujeito fixa sua atitude em um determinado estágio.

Este conceito de oscilação-fixação foi ressaltado pelo homeopata argentino Masi

Elizalde 6, 7. Em sua teoria usa a expressão “dinâmica miasmática”, ou seja, a oscilação

da atitude do sujeito nos estágios da Psora. Adverte que só há lesão orgânica quando o

sujeito fixa sua atitude na psora terciária – que corresponderia à sicose e syphillis -

permitindo que o organismo tenha o tempo necessário para produzir alteração.

Enquanto a atitude oscila vemos apenas problemas de caráter funcional.

Apesar do foco da metodologia de Scholten ser o reino mineral, os estágios da tabela

periódica foram também entendidos como aplicáveis aos reinos animal e vegetal 17,23,42.

Trata-se de uma aproximação à teoria de Sankaran 17, autor indiano que em sua obra

“Insight into plants” apresenta estudos de famílias do reino vegetal com suas várias

espécies. Divisão que seria semelhante às séries da tabela periódica divididas em

estágios na teoria de Scholten.

Para Sankaran17, cada família dentro do reino vegetal teria conceitos (temas) próprios e

cada espécie desta família teria um tipo de reação peculiar, uma forma particular de ser

e de perceber o mundo. Tais reações são relacionadas à determinadas patologias: o

agudo, tifóide, tinha, malária, sicose, câncer, tuberculose, lepra e sífilis. Essas formas

peculiares de reação são chamadas de “miasmas”. Dependendo do miasma

predominante no paciente é possível escolher a espécie daquela família que seja mais

semelhante ao caso. Os miasmas de Sankaran têm em comum com os estágios de

Scholten a característica de crescimento-decadência, ou seja, os primeiros miasmas

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! 37

correspondem a reações com bom prognóstico (miasmas: agudo, tifóide) enquanto que

os últimos são formas fatais (miasmas: lepra, sífilis). Cada medicamento de uma grande

família como por exemplo a família das Solanáceas, no reino vegetal, a família das

serpentes, no reino animal, corresponderiam a um determinado estágio. 42

Quadro 3. Relação estágios de Scholten e miasmas de Sankaran

Para ilustrar a diferença entre a metodologia da análise de grupo utilizada no primeiro

livro de Jan Scholten daquela utilizada em “Homeopathy and the elements” utilizaremos

a descrição do medicamento Titanium metallicum 36, por ser pouco conhecido na

matéria médica homeopática.

Em “Homeopathy and minerals” 35, Scholten compara cada medicamento com um grupo

de medicamentos com determinado elemento em comum, por exemplo os sulfúricos, os

muriaticos, os fosfóricos... Em “Homeopathy and the elements” a análise de grupo

depende da série e do estágio a que o elemento pertence. No caso de Titanium

Estágios- Scholten Miasmas- Sankaran

1 Agudo

2 Tifóide

3 Tinha

5 Malária

10 Sicose

12 Cancer

15 Tuberculose

16 Lepra

17 Sifilis

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metallicum, série do ferro (ou seja, quarta linha da tabela periódica) e estágio 4 (quarta

coluna da tabela periódica).

Conforme exposto acima, os conceitos do estágio 4 são: Estabelecendo, Abrindo –

Começando, Posição – Oficial, Tomando parte, Decidindo, Surpreso, Fazer pela

metade...

Por sua vez, os conceitos da série do ferro são: Tarefa – Trabalho – Dever, Uso,

Habilidade – Perfeccionismo, Rotina – Ordem – Regras, Controle – Exames ,

Observado – Criticado, Falha – Culpa – Crime, Perseguido...

Pela análise de grupo de “Homeopathy and the elements”, Scholten associa os

conceitos da série com os do estágio e prevê o quadro correspondente ao elemento. No

caso de Titanium metallicum, a análise de grupo mostra as seguintes imagens: “ter que

começar a tarefa”, “falha no início do trabalho”, “começar significa falhar”, “prestes a

cometer um erro”, “indeciso por medo de falhar”, entre outras imagens semelhantes.

Para Scholten a essência de Titanium metallicum seria: “Incerteza e medo de falhar no

início de sua tarefa”.

O paciente Titanium metallicum tem que iniciar sua tarefa, dar o primeiro passo, está

inseguro a respeito do que o espera, tem medo de falhar, checa tudo várias vezes

porque quer fazer direito. 36

Essa imagem do medicamento é toda deduzida pela análise de grupo e aplicada na

clínica para confirmação.

Scholten cita Boericke e Clarke como autores clássicos que abordaram brevemente

Titanium metallicum. Na verdade, TF Allen 8 em sua Enciclopédia de Matéria Médica

Pura também cita o medicamento, mas todas as descrições desses autores se limitam à

indicação clínica nos casos de: visão imperfeita em que só se pode enxergar metade do

objeto e a ejaculação precoce.

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! 39

2.5. Matéria Médica Especulativa e Experimentação clássica Para Jan Scholten 35 a análise de grupo permite “predizer (...) o quadro de

medicamentos desconhecidos.” Essa característica “especulativa” é o maior alvo de

críticas à metodologia do homeopata holandês. 10, 23

Autores como Julian Winstom, Heudens e Vithoulkas são exemplos de críticos da

metodologia de Scholten no que se refere à falta de patogenesias. 33

O programa Radar 8 classifica sob o termo “especulativo” o estudo de Jan Scholten e

outros autores da atualidade. O manual do programa adverte que tal adjetivação não

visa ser julgamento sobre a qualidade das idéias do autor, mas uma comparação entre

a linha clássica da homeopatia e as novas propostas de abordagem.

O nascimento da homeopatia com os trabalhos de Hahnemann 14 é marcado pelo

repúdio com que este autor tratava qualquer forma de abstração. Para Hahnemann

somente a experiência poderia ditar as propriedades curativas das substâncias,

constituindo assim o pilar de toda a medicina homeopática: a experimentação em

homens sãos.

No Organon14, parágrafo 21, temos:

Assim, podemos confiar somente nos fenômenos mórbidos produzidos pelos medicamentos no corpo são, como única indicação possível de seu poder curativo inerente, a fim de descobrir que poder produtor de moléstias, e, ao mesmo tempo, poder de curar, possui cada medicamento. (HAHNEMANN, 2002)

O fato de a teoria dos elementos de Scholten permitir predizer as características de um

medicamento desconhecido levanta a discussão sobre a experimentação patogenética

clássica, base da homeopatia para a descoberta das propriedades curativas dos

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! 40

medicamentos. 36,43

Scholten 43 rebate as críticas utilizando o que ele chama “contradições” do Organon.

Afirma que Hahnemann necessitou tanto da experimentação quanto da clínica para

fundamentar a lei dos semelhantes, ou seja, foi necessária a comparação entre a

sintomatologia despertada pela ingestão da China e a por ela curada, não apenas da

ação em seres saudáveis como se lê no parágrafo 21.

Esta crítica às “contradições” de Hahnemann e ao “dogmatismo” da comunidade

homeopática é comum a vários autores que propuseram novas metodologias. Um

exemplo é o homeopata argentino Masi Elizalde 6, 7:

Naturalmente os textos [clássicos] estão cheios de contradições, de pontos obscuros, afirmações não comprovadas na prática; que somente quando se estuda levando em consideração os pontos doutrinários perfeitamente comprovados pela prática, é que se pode seguir o fio da meada e notar que existe uma coerência; apesar de haver contradição até no mais essencial. (ELIZALDE, 2004) …vem outro defeito humano- caem no dogmatismo. ‘Não se pode discutir! Ninguém se atreva a dizer que Hahnemann se equivocou, que se contradisse!’ Assim, fecham-se as possibilidades de análise crítica que nos permitiria, precisamente por poder deixar os erros da homeopatia de lado, ficar com as grandes verdades e os grandes descobrimentos – claros!(...)Mas, não!Em Hahnemann não se pode tocar! Hahnemann transformou-se em Alá, para alguns Kent é seu profeta e o Organon é o Alcorão. Intocáveis, sagrados. Isso não é uma posição científica. (ELIZALDE, 2004)

Compare-se com o seguinte trecho de Scholten43: Assim o § 21 do Organon contém uma derivação ilógica e uma afirmação em contradição com a lei básica dos semelhantes. Se o Organon fosse apenas um documento histórico isso não seria um grande problema, mas o Organon é frequentemente visto como um texto básico da homeopatia. É ensinado nas escolas homeopáticas como a teoria básica da homeopatia. O Organon é freqüentemente tratado como uma bíblia. Mas Hahnemann é falível, não é uma pessoa sagrada que não pode cometer erros, não pode ser criticada. Muitas vezes vejo-me em situações em que tenho que defender a mim mesmo quando critico Hahnemann, mas para mim criticar não significa que não admire Hahnemann. Vejo Hahnemann como o Newton da medicina.( SCHOLTEN, 2007)

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O nome do homeopata argentino Masi Elizalde é constatemente citado por Jan

Scholten em seus livros, textos e entrevistas 34, 36, 43. De Fato algumas semelhanças

podem ser apontadas entre os dois autores.

Compreendendo o processo de adoecimento dentro da filosofia aristotélico-tomista,

Elizalde 6, 7 promoveu uma revisão crítica de toda a literatura clássica homeopática,

tecendo críticas que abarcam desde a compreensão do processo patogenético até a

escolha das potências medicamentosas.

A contradição básica de Hahnemann, para Elizalde, estaria nas diferenças entre o que

se vê na teoria e na prática do fundador da homeopatia. Se por um lado Hahnemann

sublinhava a importância da totalidade sintomática, por outro lado receitava

medicamentos específicos para determinadas entidades clínicas ou miasmas, ou seja,

na prática há uma redução da totalidade em parcialidades sintomatológicas. 6, 7

...o grave problema interpretativo, de compreensão, é pelo fato de a homeopatia ser considerada de forma atomística. Vivemos numa absurda dependência do sintoma! O sintoma não é nada! O sintoma somente ganha valor indicativo de um remédio quando se insere num esquema completo de enfermidade, quando ganha significado graças a que se dispõe num lugar preciso de uma totalidade (...) O sintoma não é nada! A totalidade é que lhe dá seu significado, a intencionalidade! Todos os medicamentos, eu diria, podem ter todos os sintomas sempre que sejam reativos. (ELIZALDE, 2007)

Também em Scholten 34 e em outros autores contemporâneos, como Sankaran,

encontra-se essa relativização do valor dos sintomas. Buscam aquilo que estaria por

trás da sintomatologia, chamado por Scholten de “essência”, termo em

prestado de Vithoulkas 35, 36. A crítica de Masi Elizalde recai sobre as limitações de uma

homeopatia baseada somente no fenomenológico, ou seja, na coleta de sintomas

repertoriais. Elizalde 6 empresta de Emanuel Kant o termo ‘noumeno’ (em

contraposição à ‘fenômeno’) e inaugura o que denominou ‘homeopatia noumenica’.

Essa busca pelos temas que justificam o conjunto de sintomas das patogenesias

permitiria, com a metodologia de Elizalde, deduzir a imagem de um paciente que não é

possível conhecer somente pela soma de sintomas presentes na matéria médica

clássica.

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! 42

Sobre o caráter especulativo de sua metodologia, Masi Elizalde 6 diz:

... se fala muito sobre a oposição de Hahnemann às especulações metafísicas. E ele, nos Escritos Menores, escritos nas primeiras etapas de sua investigação, diz claramente a que ele se opunha: à especulação a priori da observação do efeito experimental ou terapêutico. Mas especular depois da constatação do feito experimental ou terapêutico é absolutamente legítimo e obrigatório por assim dizer. (ELIZALDE, 2007)

O a priori e o a posteriori constituem a diferença básica entre o caráter especulativo das

metodologias de Scholten e de Elizalde, respectivamente. Pois, enquanto o homeopata

argentino promoveu com sua metodologia um novo estudo das patogenesias para a

compreensão da totalidade do medicamento, e considerava como fundamental partir da

experimentação para chegar à temática e à simbologia, Scholten considera as

experimentações apenas um instrumento a mais na confirmação das hipóteses

levantadas com o método da associação de conceitos da análise de grupo. 34, 43

Na discussão dos casos clínicos, Scholten usa a sintomatologia como confirmação de

grupos ou famílias de medicamentos que foram suspeitados pela análise do discurso do

paciente. Constantemente essa análise recai sobre a situação vivida pelo doente na

época do início de seus problemas 35, 36. Assim, dá uma nova dimensão e novo valor à

biopatografia, não se limitando à coleta de sintomas.

Scholten rebate as críticas à relativização do valor dos sintomas e das experimentações

clássicas lembrando que a imagem que os homeopatas têm de vários medicamentos é

muito diferente daquela das patogenesias. Citando como exemplo Lycopodium, afirma

que 80% da sintomatologia utilizada por George Vithoulkas na descrição da essência

desse medicamento não consta da patogenesia hahnemaniana do mesmo, mas sim de

sintomas repertoriais de Kent, autor que usou muito a prática clínica para confecção de

seu repertório. 33

Em recente entrevista, Scholten relativiza o valor das experimentações clássicas, afirma

que consomem muito tempo e ressalta a soberania da experiência clínica na

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! 43

confirmação dos medicamentos. Em suas próprias palavras: “Minha prova são os casos

curados” 34

Tecendo comparação entre sua metodologia da análise de grupo e as pesquisas

clássicas, lembra que Hahnemann precisou de uma vida para desenvolver cem

medicamentos enquanto que o estudo da tabela periódica através da teoria dos

elementos pode contribuir com até dois mil medicamentos. 34

Em artigo sobre este tema43, Scholten cita como fatores que influenciam numa

experimentação: a substância, a sensibilidade e atenção do experimentador; aceita

como técnicas válidas a intoxicação, as experimentações clássicas completas,

experimentações oníricas, meditativas, através de banhos, por imagens e por

pensamento. Para cada técnica de experimentação cita vantagens e desvantagens,

afirmando que nenhuma é completa.

Defensor da teoria dos elementos, Makewell 23 acrescenta que as qualidades dos

medicamentos apontados por Scholten não poderiam ser captadas por

experimentações clássicas e, por isso, a necessidade de experimentação de toda

substância antes de sua aplicação clínica – para ele apenas uma “lealdade às

tradições” - manteria a homeopatia “algemada”, impedindo o desenvolvimento científico.

A metodologia de Scholten propõe novas formas de obter informações sobre os

medicamentos. Os fatos e generalizações, classicamente advindas das patogenesias e

da clínica, dão lugar às classificações e categorizações; a experimentação clássica

passa a ser vista então como um método a mais e não único. 23

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! 44

2. 6. O Medicamento Único e A Alternância de medicamentos A busca pelo medicamento mais homeopático, dito similimum, é o ideal da homeopatia

clássica. Porém, as opiniões sobre o medicamento único variam com os diversos

autores clássicos.

Em sua obra, Hahnemann14 insistia que a administração de um medicamento único ao

paciente era uma conseqüência óbvia da pesquisa patogenética e da aplicação da lei

dos semelhantes. Porém, adverte 13 que podem ser necessários mais de um

medicamento – administrados em momentos diferentes - para a cura da Psora, fonte

das doenças crônicas.

Kent 19, fazendo uma releitura de Hahnemann, conclui que o similimum é um só, mas

administra medicamentos diferentes para quadros agudos e crônicos.

Denis Demarque 4,16 aceita o medicamento único, mas refere que a prática clínica pede,

muitas vezes, a alternância de medicamentos. Em suas palavras: “Não creio haver

fatalmente um simillimum único”. 16

Masi Elizalde, compreendendo a Psora como causa básica de todo o processo do

adoecimento, seja nos quadros agudos ou crônicos, entende que o medicamento seria

sempre um e o mesmo. 6,7

Jan Scholten aborda a questão em “Homeopathy and the Elements” e no periódico

eletrônico “Interhomeopathy”. 18, 36

Citando dados de George Vithoulkas e de Masi Elizalde, Scholten diz que em apenas

5% dos casos um remédio único é suficiente para a cura. 36

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! 45

Em entrevista 34, Scholten não considera como conceito da homeopatia clássica o

medicamento único.

São vários os argumentos levantados por Scholten para defender a necessidade de

mais de um medicamento para cada caso: 36

1. Trabalhando com a idéia de doença e medicamento como expressões de uma ilusão

básica - de uma interpretação errada da realidade - Scholten afirma que durante a vida

pode existir mais de uma ilusão e por isso seriam necessários mais de um

medicamento.

2. Scholten afirma que a experiência clínica mostra que mesmo que o medicamento

prescrito tenha uma ação profunda no paciente e o organismo por inteiro reaja

positivamente alguns problemas permanecem intactos.

3. Scholten sublinha que o paciente não é um medicamento; recusa a expressão

“medicamento constitucional”.

4. A cura como um estado utópico de ausência de problemas é contrária à prática,

segundo Scholten. A vida apresenta sempre novos problemas e os medicamentos são

necessários para resolver partes dos problemas, um a um, até um estado de equilíbrio.

Sobre a questão das potências, os casos clínicos mostrados nos livros de Jan Scholten 35, 36 não apresentam variações. Em todos os casos de “Homeopathy and Minerals” e

“Homeopathy and the Elements” a potencia utilizada é 1M. Aqui também vemos

Scholten relativizar uma das grandes discussões da Homeopatia clássica. Em suas

palavras: “A escolha da potencia tem menor importância comparado à seleção do

simillimum.” 34

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! 46

2.7.Os Reinos O estudo aprofundado dos medicamentos de cada reino da natureza abre um campo

imenso de pesquisa36. Medicamentos desconhecidos ou pouco conhecidos

apresentam-se dentro do esquema proposto com mais nitidez.

Fundamentando-se nos estudo de Rajan Sankaran, alguns autores 11,27 consideram que

o primeiro passo na análise de cada caso seria a identificação do reino ao qual

pertenceria o medicamento do paciente. Numa tentativa de reduzir a incerteza na

prescrição ao reduzir o campo de diagnósticos diferenciais de medicamentos. Jan

Scholten se destaca nos estudos no reino mineral, Rajan Sankaran no reino vegetal e

Maximo Mangialavori, homeopata italiano, nos estudos do reino animal. 23

Também na seleção do reino mais semelhante ao caso são os temas que surgem do

discurso do sujeito que parecem guiar a escolha. O autor Geraghty 11 compara a

linguagem de cada reino a dialetos. Caberia ao médico reconhecer o dialeto para saber

a que reino corresponderia o paciente.

Os temas ou palavras-chave para o reino mineral seriam: Estrutura, função, rejeição,

isolamento, conexão, perdido, completo-incompleto, desempenho, trabalho, papel a

desempenhar. 11

Parece haver em todos os medicamentos do reino mineral um sentimento de estar

“incompleto”, o qual aparece em diferentes temas ao longo das séries e estágios.

Esse estudo dos reinos com comparação entre medicamentos aparece em vários

autores clássicos.

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! 47

O homeopata norte-americano James Tyler Kent dizia que “parece existir num reino

tudo o que existe no outro”. 20

Este comentário é exemplificado nas analogias entre medicamentos de reinos

diferentes.

HC Allen 1 cita várias dessas analogias em seu livro de sintomas chave:

“Natrum muriaticum é o crônico de Ignatia, que é seu análogo vegetal”; Cuprum: “Ipeca é o vegetal análogo”; Dulcamara: “Kali-s é seu análogo químico”; Ferrum: “Chin é o vegetal análogo”; Mag-p: “Cham é o seu análogo vegetal.”; Merc: “Mezereum, seu análogo vegetal”; Phos: “all-c , seu análogo vegetal”; Phytolacca: “Kali-i, seu análogo”; Puls:”kali-m, seu análogo químico”, (ALLEN,1995)

Jan Scholten apresenta em suas obras um estudo sistemático do reino mineral como

fonte de medicamentos homeopáticos. 11, 35

Porém, foram vários os autores clássicos que enfatizaram a importância do estudo dos

elementos na compreensão da ação dos medicamentos sobre o organismo humano.

Herbert. A. Roberts 28 ilustra tal importância fazendo uma correlação entre os 3 reinos:

De ação ainda mais profunda que os venenos, encontramos os elementos minerais e químicos. A vida vegetal, através de seu poder de simplificar rapidamente estas substâncias, forma o mais próximo relacionamento com o reino mineral, pois os elementos são freqüentemente absorvidos pelas plantas e postos à disposição da ingestão pelo animal, diretamente ou em novas combinações que as tornam ainda mais ativas. Deste modo, vemos as razões para a forte ação de Pulsatilla na economia humana. O Dr. Underhill nos fala que Pulsatilla é um dos laboratórios químicos conhecidos mais eficientes, assimilando o conteúdo mineral e os elementos do solo e recompondo-os na forma de uma influência ainda mais penetrante e complicada em sua ação sobre o organismo humano. (ROBERTS, 1985)

Sessenta anos antes de Jan Scholten publicar “Mineral in plants” 38, Roberts chamou

atenção para a análise da composição mineral de algumas espécies de plantas:

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! 48

A análise química de alguns de nossos medicamentos vegetais comuns revela a presença de um ou mais destes elementos terrestres comuns, assimilados, cindidos numa forma que fornece à planta a energia de vida. Vemos, num rápido exame de Lycopodium clavatum, que ele contém alumínio... (ROBERTS, 1985) Equisetum hymenale contém silício (na forma de óxido) e magnésio; segundo a análise, a quantidade de silício pode ir de 7,5% a 41,2%. Se, ao nascerem, estes elementos registram uma energia assim tremenda como o revelam as ondas cósmicas, que eficiência deve ser esperada quando tiver sido assimilado, cindido, primeiro na vida vegetal e, a seguir, pela trituração e pela potencialização, mesmo em quantidades mínimas? (ROBERTS, 1985)

3. ENTREVISTA COM JAN SCHOLTEN Entrevista concedida pelo homeopata Jan Scholten para elaboração do trabalho de

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conclusão de curso de especialização em homeopatia do entrevistador. Respostas

enviadas em mensagem pessoal no dia 24 de Julho de 2008.

1- Há vários tipos de homeopatia. Parece não haver consenso na comunidade

homeopática sobre os princípios. Em sua opinião quais os princípios da homeopatia? O

que é homeopatia?

Scholten: Basicamente vejo que há muito consenso na comunidade homeopática. Há

consenso sobre:

- a lei dos semelhantes

- as leis de Hering (ou como queira chamar Diadoxy, ekdioky)

- o uso de potências

Estes são os aspectos básicos da homeopatia.

Mas há muita discordância sobre coisas menores:

- que potencias usar

-alternar ou misturar medicamentos

- Como chegar ao quadro dos medicamentos

-como realizar experimentações

E por aí vai.

2- Quais autores são essenciais na Homeopatia?

Scholten : Autores não são essenciais, apenas as idéias são.

3- No Brasil a homeopatia é uma especialidade medica. Qual sua opinião sobre a

prática da homeopatia por não médicos?

Scholten : Minha opinião é que a homeopatia seja bem feita, seja por médicos ou não

médicos. Depende muito do país: - na Noruega, Austrália e Nova Zelândia a

homeopatia é praticada quase somente por não-médicos; seria uma omissão não

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deixa-la ser praticada. – em paises como Brasil e Índia é uma profissão para médicos. –

em paises como Holanda e Alemanha é praticada por médicos e não médicos. Para

mim a qualidade da homeopatia é mais importante do que quem a pratica.

4- Em “Homeopathy and Minerals” os conceitos ou temas dos elementos são

derivados de medicamentos bem conhecidos e pela análise de grupo podemos prever o

quadro de medicamentos desconhecidos. E sobre “Homeopathy and the Elements”?

Podemos dizer que o senhor prediz o quadro de elementos desconhecidos estudando

outros elementos da mesma série ou estágio?

Scholten : A princípio é o mesmo modo em Minerals e Elements. É o princípio da

classificação, um conceito básico em ciência (Homeopathy and classification). Ocorre

que “elements” é mais abstrato e encaminha para medicamentos mais desconhecidos e

não familiares.

5- O Sr aplica a “teoria dos elementos” a todos os pacientes? Ou o Sr escolhe o reino

antes de escolher o medicamento e depois escolhe o melhor medicamento do reino

mineral?

Scholten : Sim, aplico a “teoria dos elementos” a todos os meus pacientes, mesmo

quando prescrevo um medicamento planta ou animal. As idéias da “teoria dos

elementos” também são aplicáveis ao reino das plantas e dos animais. Os estágios de

desenvolvimento são mais universais do que apenas o reino mineral.

6- Nos casos mostrados em seus livros não vemos variação de potencia. O Sr usa

outras potencias ou diluições?

Não uso potencias ‘LM’. Prescrevo mais ‘M’, às vezes 200, 30 ou Xm.

7- A dificuldade para adquirir alguns elementos da tabela periódica é uma limitação em

seu trabalho? Como podemos adquirir Plutonium nitricum (medicamento abordado em

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! 51

“Homeopathy and Minerals”) por exemplo?

Scholten : Na Hélios [ n.t.: laboratório farmacêutico homeopático]

8- O que o sr acha do termo “especulativo” que vem sendo dado ao seu trabalho (como

vemos no programa Radar) ?

Scholten : Especulativo é um termo relativo. Hahnemann foi especulativo quando iniciou

seu trabalho. Mais tarde se tornou menos especulativo e mais confirmado. O mesmo

pode ser dito do meu trabalho.

9- Qual a importância que o sr atribui à experimentação clássica em sua teoria?

Scholten : Escrevi sobre isso em “Teoria das experimentações”.

10- O que o Sr acha do termo “revolução” que vem sendo dado ao seu trabalho?

Scholten : Revolução é um termo relativo. Mas tenho que dizer que mudou minha

prática de um modo drástico.

11- George Vithoulkas disse que a doutrina das “assinaturas” está de volta com “alguns

professores” que estão usando “sensações e outros métodos”. O que o Sr pensa sobre

isso?

Scholten : George Vithoulkas está dizendo muitas coisas sem apóia-las em

argumentos. Expliquei minha posição em “Homeopatia e classificações”.

12- No Brasil a Homeopatia tem ganhado espaço na saúde pública, mas o volume de

pacientes é grande e o fator tempo é uma limitação. Em sua opinião qual a duração de

uma boa tomada de caso?

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Scholten : Não há boa duração. A tomada de caso deve ser tão longa quanto

necessária para ver o estado, o medicamento. Pode ser 5 segundos ou 2 anos.

13- A Homeopatia precisa ser aceita na Universidade?

Scholten : A homeopatia enquanto ciência não necessita nada, assim como a lei da

gravidade não necessita nada. Apenas ela é como ela é. Sociedade está muito

necessitada de homeopatia, mas na maioria das vezes ela não sabe disso.

14 - A Homeopatia necessita mais pesquisas? Que tipo?

Scholten: Homeopatia precisa de muita pesquisa. O que é necessário é quadro de

medicamentos, bons quadros com essências e keynotes básicos. Mas só havia

conhecimento de poucas centenas de medicamentos, que têm se expandido para

poucos milhares. Mas há mais ou menos 250000 espécies de planta. Então há muita

pesquisa. O conhecimento de medicamentos é essencial para a homeopatia. Pode-se

dizer que a qualidade de um homeopata é igual à quantidade de medicamentos que ele

conhece e pode manejar.

15- Qual a maior dificuldade da aplicação da “teoria dos elementos”?

Scholten: A tomada de caso é a maior dificuldade. A aplicação da “teoria dos

elementos” necessita uma modificação na tomada de caso. Chamo a antiga maneira de

tomar o caso como coleta de sintomas. A que é necessária é a análise de problema.

4. CONCLUSÃO

A análise de grupo, base da metodologia de Jan Scholten, foi amplamente

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utilizada por autores clássicos da homeopatia; permite a dedução de novos

medicamentos, bem como uma melhor compreensão dos já utilizados na prática

homeopática. A assim chamada ‘teoria dos elementos’ de Scholten enuncia

padrões temáticos na tabela periódica, possibilitando prever as características de

elementos pouco ou nunca utilizados pela homeopatia. A obra de Jan Scholten

propõe a revisão de pontos fundamentais e aspectos controversos da literatura

homeopática. O principal alvo de críticas à teoria é o fato de Scholten relativizar o

valor das experimentações clássicas e considerar a prática clínica como

soberana na confirmação de suas hipóteses.

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ANEXOS

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! 58Anexo A: Tabela Periódica dos Elementos

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Anexo B: Tabela Periódica Espiral36