100
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS CURSO: PSICOLOGIA SIGNIFICANDO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA A PARTIR DE UM CASO DE SÍNDROME DE DOWN LORENA ALVES SANTANA BRASÍLIA JUNHO/2006

Monografia -Significando a educao inclusiva a partir de um ...Dedico esta monografia aos meus pais, Elisete e Wilson, que acreditaram em mim e que estiveram sempre ao meu lado, a minha

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS CURSO: PSICOLOGIA

    SIGNIFICANDO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA A PARTIR

    DE UM CASO DE SÍNDROME DE DOWN

    LORENA ALVES SANTANA

    BRASÍLIA JUNHO/2006

  • 2

    LLOORREENNAA AALLVVEESS SSAANNTTAANNAA

    SIGNIFICANDO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA A PARTIR

    DE UM CASO DE SÍNDROME DE DOWN

    Monografia apresentada como

    requisito para conclusão do curso

    de Licenciatura em Psicologia do

    UniCEUB – Centro Universitário

    de Brasília.

    Prof. (a) orientador (a) Ciomara Schneider

    Brasília/DF, Junho de 2006

  • 3

    DDEEDDIICCAATTÓÓRRIIAA

    DDeeddiiccoo eessttaa mmoonnooggrraaffiiaa aaooss mmeeuuss ppaaiiss,,

    EElliisseettee ee WWiillssoonn,, qquuee aaccrreeddiittaarraamm eemm

    mmiimm ee qquuee eessttiivveerraamm sseemmpprree aaoo mmeeuu

    llaaddoo,, aa mmiinnhhaa iirrmmãã FFaabbiiaannaa ppoorr tteerr mmee

    aajjuuddaaddoo eemm ttuuddoo qquuee pprreecciisseeii..

    AAoo mmeeuu nnooiivvoo FFeelliippee,, qquuee ssooffrreeuu ccoomm aa

    mmiinnhhaa aauussêênncciiaa,, mmee ccoommpprreeeennddeeuu ee

    sseemmpprree mmee ddeeuu ffoorrççaa ppaarraa ccoonnttiinnuuaarr eemm

    ffrreennttee..

    EE aa ttooddooss aaqquueelleess qquuee aaccrreeddiittaamm nnaa

    eedduuccaaççããoo ee qquuee lluuttaamm eemm bbeenneeffíícciioo

    ddeessttaa pprrooppoossttaa..

    AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

  • 4

    Agradeço a Deus por ter me dado força e saúde para seguir em frente e concretizar

    mais um sonho.

    Aos meus amigos que em muitas horas me acalmaram e me divertiram, aliviando as

    preocupações. E em especial às minhas amigas Lú, que sempre me deu força e ânimo, Luma,

    que sempre me socorreu nas horas que mais precisei, e Luzinha, por ter sempre uma palavra

    amiga.

    Ao tio Carlos e toda sua família por terem aberto as portas de sua casa mais uma vez e

    por me receberem com tanto carinho.

    À minha orientadora Ciomara Schneider, que com toda sua tranqüilidade fez deste

    trabalho, mais um momento de crescimento e amadurecimento.

    À toda minha família e ao meu noivo por me apoiarem sempre.

  • 5

    SSUUMMÁÁRRIIOO

    1 -Introdução......................................................................................................................... 07 2 – Capitulo 1 – Transição histórica da educação para a educação inclusiva- algumas

    considerações................................................................................................ 10

    3 – Capítulo 2 – Significando a inclusão................................................................................ 19

    4 – Capítulo 3 – O que é Síndrome de Down......................................................................... 26

    5 – Capítulo 4 – Estudo de caso .............................................................................................. 33

    1.1 Descrição do caso................................................................................. 33

    1.2 Análise reflexiva....................................................................................43

    6 – Conclusão........................................................................................................................... 49

    7– Referência Bibliográfica .................................................................................................... 52

    8 – Anexo ................................................................................................................................ 54

  • 6

    RREESSUUMMOO

    Este trabalho analisa o processo de inclusão a partir de um estudo de caso. Para isso, analisa o

    histórico educacional de um indivíduo com Síndrome de Down. Para esta análise, foram

    realizadas entrevistas com a família e com profissionais que acompanham o indivíduo, além

    de observações em diversos contextos. A monografia ainda apresenta um breve histórico

    sobre a educação especial e o processo de inclusão, além de caracterizar a Síndrome de

    Down. A análise do tema proposto permitiu visualizar que a educação inclusiva é um

    processo lento e que ainda encontra muitas barreiras. Mas, apesar disso, o trabalho

    proporcionou um maior entendimento da proposta e das necessidades dos alunos especiais.

    Palavras-chave: Síndrome de Down, ensino especial, educação inclusiva.

  • 7

    O presente estudo visa tratar sobre a educação especial de alunos com Síndrome de

    Down no ensino brasileiro, além de discutir a problemática da educação inclusiva a partir de

    um estudo de caso. Com isso, a pesquisa propõe uma discussão sobre os aspectos do processo

    de inclusão, e sua contextualização histórica, analisando, o indivíduo com Síndrome de

    Down, mostrando suas habilidades.

    A educação inclusiva é um tema bastante discutido ultimamente, pois se trata de um

    assunto que instiga todos os indivíduos que lutam por uma educação como direito de todos.

    Visa promover uma reforma nas escolas com o objetivo de assegurar o direito de todos ao

    acesso e a participação em todas as atividades da vida escolar. E quando se fala em todos,

    estão incluídos aqueles com deficiência ou dificuldade de aprendizagem, minorias étnicas e os

    que estão sob o risco de exclusão.

    De acordo com Pinsky (2001), as pessoas com necessidades especiais correspondem a

    16 milhões de indivíduos da sociedade, mas a grande pergunta é: onde estão eles? A maioria

    se esconde, se exclui da sociedade e prefere ficar em sua casa, onde tem segurança e

    tranqüilidade, já que a sociedade não tem preparo e boas condições para lidar com eles,

    excluindo-os do convívio social.

    Com isso, além das pessoas com necessidades especiais já possuírem uma limitação e

    sofrerem por isto, ainda existe o preconceito, a falta de oportunidade nos aspectos

    educacionais e profissionais e o despreparo da sociedade em geral - dos professores e dos

    familiares - para receber e promover uma melhor adaptação das PNEs1 na sociedade.

    A exclusão é uma forma de violência, e como tal, deixa marcas. Por isso deve-se ter

    uma preocupação e atenção com esses indivíduos que sofrem esse tipo de violência e

    promover, ao mesmo tempo, a inclusão destes em todos os aspectos da vida, pois a inclusão

    não deve ocorrer somente na escola, mas sim na sociedade.

    Os alunos com necessidades especiais são indivíduos que precisam de uma olhar mais

    sensível e, por isso, são necessários muitos estudos que proporcionem alguma ajuda ou

    conhecimento sobre esses alunos. Todo o movimento da educação inclusiva possibilita que os

    _________ Nota 1- PNEs- Sigla que será utilizada no decorrer do texto que significa pessoas com necessidades especiais.

  • 8

    alunos especiais tenham uma oportunidade e o direito de permanecerem no ensino regular.

    As pessoas com Síndrome de Down são pessoas com necessidades especiais devido a

    uma deficiência no seu desenvolvimento intelectual, ocorrido por uma alteração

    cromossômica. Esta síndrome tem características especificas, porém é importante ressaltar

    que cada indivíduo vai ter suas próprias características, entendendo assim que não há uma

    padronização dos indivíduos com esta síndrome. É dada também uma grande importância

    para o trabalho de estimulação, a criação de vínculo e de um ambiente confortável para que

    estes indivíduos possam se desenvolver e ultrapassar as limitações da síndrome.

    Faz-se necessário destacar o papel da família neste processo, pois ela é o ambiente

    mais importante para que as crianças com necessidades especiais desenvolvam sentimentos

    positivos sobre elas mesmas, além de ser o primeiro espaço de integração e socialização da

    criança.

    Muitos estudos são feitos acerca do tema, visando proporcionar meios que

    possibilitem os alunos portadores de necessidades especiais vencerem as barreiras que

    ameaçam separá-los dos outros, levando à exclusão. Por isso se faz necessária qualquer

    contribuição, por menor que seja, mas que possibilite uma reflexão acerca do tema. Assim,

    acredita-se que tudo o que for feito em beneficio deles já esta por si só justificado.

    Todo o movimento da educação inclusiva possibilita que os indivíduos com

    necessidades especiais tenham uma oportunidade e o direito de permanecerem no ensino

    regular. Mas é importante ressaltar que a inclusão não depende somente da escola ou de lei,

    mas também de uma formação inicial e continuada dos professores, para que sejam capazes

    de possibilitar uma educação para todos.

    Analisando algumas pesquisas sobre o tema proposto, é possível observar também os

    benefícios da inclusão. Todos ganham com este trabalho, não só os alunos com necessidades

    especiais, mas todos os outros alunos que convivem com elas, além dos professores e toda a

    equipe da instituição.

    A Psicologia tem muito a contribuir com o processo de inclusão dos alunos portadores

    de Síndrome de Down, pois se preocupa com as conseqüências da exclusão vivida por estes

  • 9

    alunos e pode auxiliar neste processo, facilitando as dificuldades encontradas pelos

    professores e alunos.

    Este trabalho tem também realizar um breve histórico sobre a educação especial,

    conceituar e analisar a síndrome de Down. Analisar o processo de inclusão e pesquisar o

    papel do professor neste processo.

    Este é um tema de grande relevância social e que deve ser discutido por todos os

    profissionais da área de educação, com o intuito de aprofundar o conhecimento acerca do

    tema, além de criar alternativas e oportunidades para que se coloque em prática essa proposta.

    A monografia foi distribuída nos seguintes capítulos “Transição histórica da educação

    para a educação inclusiva- algumas considerações”, “Significando a inclusão”, “O que é

    Síndrome de Down”, “Estudo de caso”, além da introdução e conclusão, visando apresentar

    uma análise crítica do processo de educação inclusiva na rede do ensino brasileiro.

  • 10

    1- TRANSIÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO

    INCLUSIVA ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

    Para compreender a educação inclusiva é importante remontar toda a história da

    educação e a idéia dos deficientes, assim como o conceito de deficiência e as modificações

    que ocorreram neste tempo.

    Desde a Idade Antiga as crianças com deficiência sofrem com a exclusão. Naquela

    época elas eram jogadas nas montanhas ou nos rios. O preconceito e a omissão com as PNEs

    vem de longo tempo. Na época cristã medieval não era diferente, esses indivíduos eram

    afastados da sociedade, perdendo suas vidas, pois podiam influenciar os indivíduos ditos

    ‘normais’.

    Segundo Cardoso (2003) e Mazzotta (2001), na Idade Média associavam a idéia de

    deficiência ao misticismos e à bruxaria. As pessoas com necessidades especiais eram vistas

    como indivíduos possuídos e não eram dignos da vida, e assim deveriam ser afastados do

    meio social. Estes indivíduos estariam sendo punidos por algum pecado ou tinham acesso à

    verdades que só eles podiam alcançar.

    De acordo com Mazzota (2001), a igreja colaborou ou colabora com a exclusão das

    PNEs, pois os indivíduos vistos como semelhantes a Deus são perfeitos como ele. Isto induz a

    idéia de que os deficientes não são semelhantes, não são perfeitos e assim eram colocados à

    margem da condição humana.

    Toda essa idéia, esse conceito de deficiente como sendo um indivíduo incapaz, sem

    direito à vida, sem possibilidade de mudança, faz com que a sociedade enxergue esses

    indivíduos desta forma e por isso se omitiu durante muito tempo os serviços de apoio,

    prejudicando seu desenvolvimento e a adaptação.

    Segundo Mazzota (2001), na Europa surgiram os primeiros movimentos a respeito do

    atendimento às PNEs. A primeira obra impressa sobre educação especial foi de Jean-Paul

    Bonet, França, em 1620, sobre deficiência auditiva e daí em diante outros trabalhos surgiram,

    como o método de sinais e leitura para cegos.

  • 11

    Cardoso (2003) enfatiza a importância de Jean Itard (1775-1838), considerado o pai

    da educação especial, por realizar estudos na área da reabilitação de PNEs. Seus estudos são

    utilizados até hoje por todos aqueles que trabalham com PNEs. Mas relata, ainda, que a

    educação especial surgiu com a institucionalização especializada das PNEs no final do século

    XVIII e inicio do século XIX, na América do Norte, ou seja, surgiu dentro de uma idéia de

    segregação. Só nesta época a sociedade começa a se conscientizar da necessidade desses

    indivíduos e possibilita um atendimento assistencial a eles, mas ainda com um caráter

    excludente. A assistência era proporcionada em centros, na qual pessoas com deficiência

    eram atendidas e assim a sociedade era protegida do contato o os anormais. (Cardoso, 2003,

    p.17) Fica claro que a sociedade tomou consciência da necessidade das PNEs, mas não quer

    ter contato, quer deixar esses indivíduos escondidos e fazer de conta que eles não existem.

    Este período é de “segregação” mesmo, pois as PNEs eram colocadas em escolas especiais e

    eram separadas e isoladas dos outros alunos.

    Segundo Mazzotta (2001), no Brasil, iniciou o surgimento de instituições

    especializadas no atendimento a cegos, mudos, deficientes mentais e físicos no século XIX,

    com um caráter oficial e particular. Em 1854 foi fundada no Rio de Janeiro o Imperial

    Instituto dos Meninos Cegos, que foi mais tarde chamada de Instituto Benjamin Constant. Em

    1857 foi fundado o Imperial Instituto dos Surdos –Mudos, que em 1957 foi denominado de

    Instituto Nacional de Educação de Surdos. Estes institutos eram voltados para a educação

    literária, ensino profissionalizante e aprendizagem de ofícios, como a tipografia. Essas

    primeiras iniciativas possibilitaram o 1° Congresso de Instrução Pública sobre a educação dos

    PNEs.

    De acordo com Mazzota (2001) e Cardoso (2003), no início do século XX surgiu a

    educação especial, com a criação de programas escolares e a elaboração de muitos estudos

    acerca do tema, como o ANEE, Alunos com Necessidades Educacionais Especiais. Em 1950

    já eram 40 escolas de ensino regular que prestavam atendimento especial as PNEs, mantidos

    pelo poder público. Outro fato importante que não se pode deixar de mencionar é a criação da

    Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, que no Rio de Janeiro, em 1954,

    conseguiu que algumas autoridades olhassem o problema dos excepcionais, e ao longo dos

    anos outras APAEs foram sendo fundadas em todo o Brasil, dando assistência, tratamento

    para as PNEs e treinamento para os profissionais dessa área, montando instituições autônomas

  • 12

    e com atendimento multi e inter-disciplinar. Em 1957, o governo federal assumiu a nível

    nacional o atendimento educacional das PNEs com a elaboração de campanhas. A primeira

    foi a campanha para a educação do surdo brasileiro. Em 1960 foi inaugurada a Campanha

    Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais - CADEME, que tinha a

    finalidade de: promover, em todo o território nacional, a educação, treinamento, reabilitação

    e assistência educacional dessas crianças retardadas e outros deficientes mentais de

    qualquer idade ou sexo.. (MAZZOTTA, 2001, p.52).

    Mazzotta (2001), afirma que em 1973 foi criado o CENESP, Centro Nacional de

    Educação Especial, que tinha como finalidade promover, em todo o território nacional, a

    expansão e melhoria do atendimento aos excepcionais (Mazzotta, 2001, p. 55). Mas em 1983

    foi transformado em SESPE – Secretaria de Educação Especial, que foi extinta em 1990,

    quando surgiu o SENEB e, mais tarde, incluindo o órgão DESE, Departamento de Educação

    Supletiva e Especial, que possui objetivos específicos para a educação especial. Finalmente

    em 1992, com a reorganização dos Ministérios, a SEESP, Secretaria de Educação Especial,

    reapareceu como principal órgão com interesse da Educação Especial, e assim surgiram as

    principais transformações nessa área.

    Cardoso (2003) esclarece que na década de 70 foram criadas as classes especiais

    restritas a esses alunos especiais. Já nos anos 80 surgiu a iniciativa e a preocupação de

    integrar esses indivíduos, mas ainda em um sentido restrito, não em um sentido de integração

    social amplo. Uma integração educativa, defendendo que o ensino dessas crianças e jovens

    deveria ser feito no ensino regular. Mas, apesar de todo o discurso teórico de igualdade de

    oportunidade, na prática esses indivíduos sofreram e sofrem com a falta do ensino regular.

    Porém, com toda essa mudança, as famílias também estão lutando contra a exclusão das PNEs

    nas escolas e no ambiente social em geral, não estão aceitando a segregação dos seus filhos,

    estão lutando por um direito que é deles. Mazzota (2001) enfatiza o trabalho dos pais:

    Historicamente, os pais têm sido uma importante força para as mudanças no atendimento aos portadores de deficiência. Os grupos de pressão por eles organizados têm seu poder político concretizado na obtenção de serviços e recursos especiais para grupos de deficientes, particularmente para deficientes mentais e deficientes auditivos (MAZZOTTA, 2001, p.64).

    A educação Especial pode ocorrer em diversas modalidades. Mazzotta (1993) relata

    que a educação pode se dar em classes regulares, onde o educando com necessidades

  • 13

    especiais é inserido nesta classe, na sala de recurso, que se caracteriza por sendo uma sala

    com materiais e equipamentos especializados, na qual um professor especializado auxilia o

    aluno especial em algum aspecto especifico, que precisa para se manter nas classes regulares.

    Este professor tem como objetivo atender o aluno e dar assistência ao professor da classe

    regular. Além disso, são utilizadas também as classes especiais, onde se agrupam alunos

    especiais sob a responsabilidade de um professor especializado. É considerado serviço

    especial quando o aluno freqüenta somente esta classe, e auxílio especial quando o mesmo

    freqüenta a classe especial e a regular.

    A educação especial passou por muitas transformações e é possível, analisando as

    mudanças históricas, observar os diferentes significados da Deficiência Mental que traz todo

    um preconceito da sociedade que não sabe lidar com o diferente e que às vezes não quer lidar

    com este diferente. Mas um grupo significativo luta pela mudança desse olhar sobre as PNEs.

    Mesmo esbarrado nas mais diversas barreiras, tem crescido, porém muito menos do que se

    esperava sob o ponto de vista da Ética e da Cidadania.

    1.1 MOVIMENTOS MUNDIAS

    Muitos movimentos foram realizados em prol da Educação Especial, já que todos têm

    direito à educação, mas é fácil constatar que esse direito não é assegurado verdadeiramente.

    Dois movimentos importantes que precisam ser destacados são a Conferência Mundial Sobre

    Educação para Todos e a Conferência Mundial Sobre Necessidades Educativas Especiais.

    A Conferência Mundial Sobre Educação para Todos ocorreu de 5 a 9 de março de

    1990, em Jomtien, Tailândia, com 1500 participantes que analisaram em mesas redondas e

    sessões plenárias os principais pontos e problemas da educação para todos. Elaboraram então

    a Declaração Mundial Sobre Educação para Todos e Planos de Ação para Satisfazer as

    Necessidades Básicas de Aprendizagem que, de acordo com Carvalho (1997), representa uma

    unanimidade sobre o papel e a importância da educação, além de um compromisso para

    assegurar esse direito de todos os cidadãos.

  • 14

    A Conferência Mundial Sobre Necessidades Educativas, que foi realizada em

    Salamanca, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, teve como propósito reafirmar o direito

    de educação para todos e segundo Cardoso (2003), lutar pela inclusão das PNEs que ocorria

    na Europa. Implementaram a Declaração de Salamanca sobre Princípios, Política e Prática na

    área das Necessidades Educativas Especiais, que firma que os alunos com necessidades

    especiais tenham o mesmo acesso à escola igual às crianças sem necessidades educativas, e

    que suas diferenças devem ser respeitadas e assim o processo de ensino ser adaptado às

    necessidades da criança e não a criança ao processo. Surge, com isso, o conceito de escola

    inclusiva, onde inclui aquele aluno com necessidades diversas ao ensino regular e proporciona

    meios para que ele consiga desenvolver suas habilidades.

    A Declaração de Salamanca (1994), afirma que as escolas devem se ajustar a todas as

    crianças e criar condições que favoreçam a educação dos alunos. Esta proposta já significa

    uma modificação das atitudes discriminatórias e a possibilidade de uma sociedade mais justa e

    inclusiva.

    A educação inclusiva visa promover uma reforma nas escolas com o objetivo de

    assegurar o direito de todos ao acesso e a participação em todas as atividades da escola. E

    quando se fala em todos, estão incluídos aqueles com deficiência ou dificuldades de

    aprendizagem, minorias étnicas e os que estão sob o risco de exclusão. A proposta da inclusão

    educacional das PNEs, também como toda proposta que requer mudança no modo de pensar

    e/ou conceber o ser humano, gera resistência.

    1.2 LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO

    A educação especial tem se modificado ao longo dos anos e pode ser observada

    acompanhando as mudanças históricas, o conceito de pessoas com necessidades especiais e as

    leis de diretrizes e bases da educação.

    Mas o que dizem as leis de diretrizes e bases sobre a educação especial?

    A lei 4.024/61 reserva dois artigos sobre esse tema:

  • 15

    Titulo X – Da Educação de excepcional Art. 88° - A educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integra-los na comunidade. Art 89° - Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de educação e relativa à educação de excepcionais, receberá dos poderes públicos tratamento especiais mediante bolsas de estudo, empréstimos e subvenções.

    É fácil observar as brechas nesses artigos e muitas são as críticas feitas por inúmeros

    autores. Carvalho (1997) e Mazzotta (2001) concordam quando apontam falhas na

    interpretação. A lei garante o direito de integração, principalmente quando coloca que todos

    têm direito a se matricular “preferencialmente” na rede regular de ensino, mas deixa claro

    que só ocorrerá se for possível, isso de alguma forma quer dizer que pode não ocorrer. Mas

    então, que direito é esse que é garantido, mas que pode não ocorrer? Não fica claro, também,

    se a educação das PNEs vai fazer parte do sistema do ensino ou será mais um sub-sistema da

    educação. Estas lacunas é que hoje são o pior foco do qual se utilizam aqueles que não saíram

    do preconceito.

    O artigo 89 também traz muitos questionamentos sobre a natureza dos serviços

    educacionais prestados para os alunos e sua eficiência.

    Na lei 5.692/71 só é dedicado um artigo para o tema trabalhado:

    Art. 9° - Os alunos que apresentam deficiências físicas ou mentais, os que se encontram em atraso considerável quanto a idade regular de matricula e os superdotados deverão receber tratamento especial, d acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação.

    Neste artigo observa-se a ausência de outras categorias de doenças, como síndromes

    neurológicas que também necessitam de tratamento especial, e a inclusão dos alunos que tem

    atraso quanto à idade regular de matricula como aluno da educação especial.

    A LDB em vigor, 9.394/96 dedicou um capitulo para a Educação Especial:

    CAPÍTULO V DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

    Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.

    § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.

  • 16

    § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.

    § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.

    Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

    I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;

    II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;

    III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;

    IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;

    V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.

    Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.

    Parágrafo único. O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo.

    Essa nova LDB demonstrou uma nova perspectiva sobre a educação especial, se

    preocupando com o aluno de modo completo, integrando-o ao meio social e abordando o

    papel do professor, dando melhores possibilidades para as PNEs, se aproximando do

    pressuposto da Declaração de Salamanca. Mas esta nova LDB ainda apresenta muitas

    deficiências.

  • 17

    Entende-se com a nova LDB que o ensino regular não é prioridade, mas preferencial.

    Se o educando tiver possibilidade, freqüentará o ensino regular. Podendo caso contrário

    freqüentar a classe especial.

    Com tudo isso, a educação especial visa dar oportunidade e possibilitar o

    desenvolvimento dos alunos com necessidades especiais e trabalhar suas habilidades e

    dificuldades, além de promover a inclusão desses indivíduos no meio social, pois em sua

    maioria são mantidos fora do convívio social.

    Com a nova LDB, se faz necessário esclarecer quem são as PNEs. São educandos que

    em algum momento apresentam dificuldades de aprendizado e que sentem dificuldades para

    acompanhar as atividades nas aulas. De acordo com a LDB, as pessoas com necessidades

    especiais são os educandos que têm alguma necessidade no campo da aprendizagem,

    originadas por uma deficiência física, sensorial, mental ou múltipla, ou caracterizada como

    altas habilidades, superdotação, além de outras minorias excluídas. Mas, acima de tudo são

    indivíduos que tem potencialidades e afetividade, sendo necessário apenas um ambiente

    estimulador e afetivo para que ele possa se desenvolver.

    As PNEs encontram na escola um espaço democrático para partilharem o

    conhecimento e a experiência com o diferente, e a educação especial é uma busca pela

    democracia e pela execução do direito à educação. Mas é importante que esse espaço seja

    mais que uma simples assistência, pois assim eles acabam sendo afastados, excluídos. Esse

    espaço deve promover a educação e a integração desses indivíduos.

    A educação percorreu um longo caminho para chegar onde está, mas ainda faltam

    muitas ações para se colocar na prática o que já está no papel.

    Ainscow (1999), apodt Mittler (2003) conceitua a educação inclusiva:

    A agenda da educação inclusiva refere-se à superação de barreiras, à participação que pode ser experienciada por quaisquer alunos. A tendência ainda é pensar em “política de inclusão” ou educação inclusiva como dizendo respeito aos alunos com deficiência e a outros com caracterizados como tendo necessidades educacionais “especiais”. Além disso, a inclusão é freqüentemente vista apenas como envolvendo o movimento de alunos das escolas especiais para os contextos das escolas regulares, com a implicação de que eles estão “incluídos”, uma vez que fazem parte daquele contexto. Em contrapartida, eu vejo a inclusão

  • 18

    como um processo que nunca termina, pois é mais do que um simples estado de mudança, e como dependente de um desenvolvimento organizacional e pedagógico continuo no sistema regular de ensino. (AINSCOW, 1999, p. 218)

    Com isso, entende-se que a educação inclusiva é um processo lento, mas necessário.

    Visa promover a participação de todos os alunos no processo educacional, mas não apenas

    incluir o aluno em uma sala regular, e sim possibilitar seu desenvolvimento e interação com

    os outros indivíduos. A inclusão não deve se restringir só à escola, mas deve compreender

    todos os âmbitos da vida do indivíduo, permitindo sua inclusão na sociedade.

  • 19

    2- SIGNIFICANDO A INCLUSÃO

    Com a proposta de escola para todos a partir da Declaração de Salamanca, afirmando que todas as crianças têm o direito à educação, inclusive os alunos com necessidades

    educativas especiais e preferencialmente em classes regulares surgiu, o termo inclusão.

    Inclusão, de acordo com o dicionário de Ferreira (2000), significa compreender,

    abranger, inserir e introduzir. O termo incluir é entendido como compreender, abranger,

    envolver, estar incluído ou compreendido, além de pertencer e estar junto com outros.

    Muitas são as tentativas de definir o termo inclusão. Algumas definições: Uditsky

    (1993) apud Tilstone, Florian e Rose (1998), Um conjunto de princípios que assegura que o

    aluno com uma deficiência seja considerado um membro válido e necessário da comunidade

    escolar em todos os aspectos (TILSTONE, FLORIAN E ROSE, 1998, p. 37). Sebba (1996)

    apud Tilstone, Florian e Rose (1998), A inclusão descreve o processo através do qual a

    escola tenta dar respostas a todos os alunos enquanto indivíduo, ao reconsiderar a

    organização dos seus currículos, organização e meios (TILSTONE, FLORIAN E ROSE,

    1998, p. 37)

    Estas definições ainda não se mostram completas e por isso, antes de tentar desvendar

    o verdadeiro significado da inclusão, se faz necessário percorrer o caminho da integração à

    inclusão.

    No final da década de 60 surgiu a termo integração, mudando todo um paradigma de

    exclusão que existia. O que se queria com a integração, de acordo com Guimarães e Ferreira

    (2003) e Mittler (2003), era preparar, modificar o aluno com necessidades especiais para que

    conseguisse se adaptar ao meio social, com isso o aluno deveria se preparar para poder ter

    acesso às escolas regulares. Nesta metodologia de integração fica claro que é o aluno quem

    deve se adaptar àquele meio, o qual não está preparado para recebê-lo e, como afirma Gil

    (2002), a PNE deve ser inserida na sociedade, mas deve também estar preparada para

    enfrentar as dificuldades, ou seja, não é assim cobrando da sociedade que ela se adapte às

    PNEs.

    Comparando a proposta da integração com a exclusão é possível observar um avanço

    significativo, mas também se observa que essa ainda não é a proposta ideal.

  • 20

    A questão da inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais na rede

    regular de ensino insere-se no contexto das discussões, cada vez mais em evidência, relativas

    à integração de pessoas com necessidades especiais enquanto cidadãs, com seus respectivos

    direitos e deveres de participação e contribuição social. A inclusão veio então tentar quebrar

    mais barreiras encontradas pelas PNEs, para garantir seus direitos como cidadão, isto é,

    direitos iguais para todos.

    Nas palavras de Mittler (2003):

    Inclusão implica uma reforma radical nas escolas em termos de currículo, avaliação, pedagogia e formas de agrupamentos dos alunos nas atividades de sala de aula. Ela é baseada em um sistema de valores que faz com que todos se sintam bem-vindos e celebra a diversidade que tem como base o gênero, a nacionalidade, a raça, a linguagem de origem, o background social, o nível de aquisição educacional ou de deficiência. ( MITTLER, 2003, p. 34)

    Entende-se assim que a inclusão visa incluir o aluno com necessidades especiais

    diversas ao ensino regular e proporcionar meios para que ele consiga se desenvolver,

    respeitando suas necessidades.

    Com isso, observa-se que o que se pretende com a inclusão é uma reforma geral para a

    escola se adaptar às necessidades dos alunos, criar meios para que os alunos com necessidades

    especiais consigam se adaptar e vencer as diferenças, mas o que precisa ser ressaltado é que a

    escola, os professores, eles sim vão se adaptar às necessidades dos alunos, e assim

    promovendo a participação de TODOS os alunos no processo de inclusão. O que é essencial é

    modificar, transformar a escola regular para que possa atender à diversidade dos alunos,

    explica Gil (2002).

    Gil (2002) afirma que a posição mais radical da idéia de educação inclusiva é que

    todos os alunos devem permanecer nas escolas regulares, mas é possível observar também

    outras modalidades de educação como instituições especializadas, salas de apoio e classes

    especiais em escolas regulares. E cada caso especial tem a possibilidade de escolher o melhor

    caminho para aquele educando. Mittler (2003) afirma que a inclusão é incompatível com as

    classes especiais nas escolas regulares, pois acredita que estas promovem a segregação.

  • 21

    Entende-se assim que os dois autores citados têm visões diferentes sobre a prática de ensino

    em salas especiais.

    Segundo Teixeira (2003), as escolas inclusivas consideram as necessidades dos alunos

    e se organizam em função delas, promovendo o convívio com as diversidades e

    singularidades de todos, esclarecendo que é ela quem deve atender às necessidades dos

    indivíduos (Teixeira, 2003; Ferreira e Guimarães 2003).

    Tilstone, Florian e Rose (1998), comentam que a igualdade de oportunidades na escola

    significa tratar com justiça e respeito as pessoas com necessidades especiais, de acordo com

    suas necessidades, capacidades e habilidades, sem qualquer forma de discriminação,

    proporcionando as oportunidades que se beneficiam na escola.

    De acordo com Carvalho (2004), a idéia de educação inclusiva ainda traz muitos

    questionamentos. Muitos professores, quando questionados sobre a prática inclusiva,

    associam com as pessoas com deficiência, nunca ou raramente associando com altas

    habilidades, dificuldade de aprendizagem ou com a minoria excluída (negros e pobres).

    Muitos pais também questionam sobre a qualidade do ensino das PNEs nas salas regulares,

    alguns acreditam que a aprendizagem possa não ser satisfatória, já que o professor vai ficar

    dividido, alega também que o ensino dos alunos ditos ‘normais’ está ficando cada vez mais

    prejudicado, que estes professores não estão conseguindo trabalhar em classes ditas

    “homogêneas”, sendo pior em classes mistas.

    Ainda de acordo com Carvalho (2004), os pais dos alunos sem necessidades especiais

    alegam que o professor, tendo que lidar com a diversidade, com as limitações e ritmos dos

    alunos com necessidades especiais, prejudicará o ensino dos outros alunos.

    E como relata Ferreira e Guimarães (2003), a inclusão não se limita àqueles que têm

    necessidades especiais, mas a todos os alunos com dificuldades e todos os indivíduos que se

    envolvem com o processo. O processo de inclusão traz benefícios não só para os alunos que

    são incluídos, mas para todos os membros da escola. O contato com alunos com necessidades

    especiais, faz com que as outras crianças entrem em contato com o diferente e aprendam a

    respeitar e lidar com as semelhanças e diferenças, atenuando-as. Carvalho (2004) afirma que

    as crianças aprendem a exercitar a tolerância, a paciência e o respeito pelo próximo.

  • 22

    Para os alunos com necessidades especiais, a possibilidade da inclusão traz muitos

    benefícios, pois eles vão poder se relacionar e ter uma vida mais saudável e ativa.

    O relacionamento interpessoal é importante para o desenvolvimento psicossocial do

    indivíduo. Quando o aluno especial entra em contato e desenvolve relacionamentos

    satisfatórios com os outros alunos, se sente acolhido e pertencente à sociedade. Este

    sentimento de pertença é importante para estes alunos ditos diferentes, pois se sentem iguais

    aos outros quando estão no meio deles.

    Para ocorrer a inclusão são necessárias muitas transformações tanto físicas,

    proporcionando um espaço adequado, como mudanças no currículo, elaborando um

    planejamento individualizado de acordo com a necessidade do aluno ou até mesmo tendo um

    assistente de apoio à aprendizagem, tanto para planejar como para acompanhamento em sala

    de aula. Mas, segundo Mittler (2003), o aluno com necessidades especiais pode ser excluído

    quando tem em sala de aula um apoio, pois ficará sempre segregado das outras atividades e da

    interação com os outros alunos, já que não participa das atividades que os outros alunos

    executam. Porém, no documentário “O lutador” de Keplinger (2000), onde retrata a vida e a

    luta de um jovem com paralisia cerebral e todo seu processo educacional, observa-se que

    devido à necessidade especial do educando, era necessário em uma fase de sua vida escolar o

    acompanhamento individual de uma professora, o que proporcionou um ótimo

    desenvolvimento. Observa-se também que essa exclusão questionada por Mittler não

    acontece. Dan, o educando com paralisia cerebral tinha uma participação e uma interação com

    os outros alunos, em nenhum momento sendo excluído, devido à presença de uma professora

    o acompanhando. Com isto, entende-se que as dificuldades existem, mas elas são superáveis

    quando existem oportunidades e acolhimento.

    Com isso, acredita-se que em alguns casos, dependendo da necessidade do aluno, vai

    ser necessário sim um professor em sala de aula dando assistência, mas cabe aos professores

    possibilitarem que o aluno com necessidade especial participe das mesmas atividades

    propostas para os outros alunos e se relacione com eles. Mas se a professora e a assistente não

    promoverem a inclusão, o bom relacionamento entre os alunos, as PNEs ficarão excluídas,

    não ocorrendo o processo de inclusão.

  • 23

    A formação dos professores é outro ponto chave do processo de inclusão, pois muitos

    autores como Mittler (2003) afirmam que os professores têm o direito de receber preparação e

    orientação durante sua vida profissional, além de apoio dos coordenadores e da escola no

    trabalho com as PNEs. Assim, Gil (2002) discute que o papel dos professores no processo de

    inclusão é de fundamental importância, pois são eles quem vão promover a integração, a

    interação dos alunos com necessidades especiais com os outros alunos, além de promover o

    desenvolvimento das habilidades dos alunos com necessidades. Muitos estudos mostram que

    a principal dificuldade dos professores é no que diz respeito à sua formação, muitos afirmam

    que não tem formação suficiente para trabalhar com PNEs. Desta forma, Gil (2002) destaca

    que para a inclusão acontecer, algumas variáveis são fundamentais, como a formação dos

    professores, sua preparação pedagógica para o fazer, mas também sua vontade, o que vai

    requerer todo um processo de sensibilização durante o período de formação do professor.

    Com isto Mazzota afirma (1993):

    A estruturação dos serviços e auxilio especiais exigem recursos humanos devidamente qualificados, currículos especializados ou adaptados à clientela a que se destina, além de recursos naturais apropriados ao desenvolvimento dos currículos. Para sua organização e desenvolvimento, um dos elementos essenciais é a formação do professor. (MAZZOTA, 1993, p 26)

    Mazzotta (1993) afirma também que os professores precisam também ter

    conhecimento sobre as características dos diversos tipos de crianças e das modernas práticas

    educativas, além de motivação para este tipo de trabalho. Assim, os cursos de formação

    devem preparar o professor sobre a natureza e as necessidades das crianças, além das técnicas

    especializadas que se fazem necessárias para este trabalho. Carvalho (2004) contribui

    afirmando que os professores questionam que não tiveram a oportunidade de vivenciar essas

    experiências no curso e por isso se negam a trabalhar com os alunos com necessidades

    especiais, e outros profissionais até aceitam para não criar conflito com a direção da escola.

    Carvalho (2004) alerta sobre as barreiras encontradas no processo de educacional de

    inclusão. Poucos profissionais mencionam sobre sua atitude como fator decisivo sobre a

    prática educativa e sobre os problemas ocorridos nesta prática. Alguns atribuem ao sistema,

    que não lhe oferecem justos salários nem condições necessárias para o trabalho com a

    diversidade. Alguns ainda localizam as barreiras nas famílias.

  • 24

    De acordo com Carvalho (2004), muitos profissionais localizam nos alunos as

    dificuldades de aprendizagem, colocando assim a culpa no aluno, eximindo-se de qualquer

    responsabilidade no desenvolvimento e na aprendizagem dele. Esta atitude se torna cômoda,

    pois desta forma os professores não precisam realizar nenhum trabalho com estes alunos. O

    mecanismo de buscar sempre o culpado da história mostra que, no geral, os professores não

    atingiram um grau suficiente de maturidade para compreender que o processo educacional

    não cabe em interpretações simplistas, tais como: “a culpa é do governo” ou “a culpa é do

    aluno que é deficiente e não aprende”. É preciso que todos tenham a noção do seu papel frente

    a educação, inclusiva ou não.

    O trabalho com a diversidade requer mudança na ação pedagógica em sala de aula e

    principalmente na visão dor professores. Eles precisam sair do comodismo e se

    responsabilizar por este trabalho e pela educação dos alunos. Precisam se preocupar e se

    engajar na formação completa do educando.

    Analisando tudo isso, pode-se afirmar que o elemento central para o trabalho inclusivo

    é a vontade que todos os professores precisam ter, é o querer desenvolver um trabalho sério e

    se envolver realmente com sua proposta, que é a da educação.

    As escolas, em sua grande maioria, infelizmente não estão preparadas para receber o

    aluno com necessidades especiais e nem os professores, que como já foi destacado, não

    recebem uma formação adequada. Porém, estes alunos não podem ficar à espera da

    organização da escola, da preparação dos professores. A preparação vem com a prática, por

    isso os professores, a escola e todos aqueles que estão de alguma forma envolvidos com a

    educação precisam aceitar o desafio de trabalhar com a diversidade e acolher as diferenças.

    Deve-se reconhecer os direitos dos alunos a uma total participação em todos os

    aspectos da educação e a preparação para uma vida independente.

    Assim como afirma Sassaki (1997), a necessidade de se construir um sistema

    educacional de qualidade para todos, exige uma forma de atuação diferenciada por todos

    aqueles que trabalham na educação. A quebra de estereótipos e preconceitos é ponto de

    partida para a construção de uma escola inclusiva. A colaboração, cooperação e participação

    de todos envolvidos no processo educacional (pais, professores, alunos, coordenadores

  • 25

    pedagógicos, diretores, comunidade, etc) na tentativa de mudar os papéis e delegar

    responsabilidades, tornando o ambiente educacional mais flexível e amplo, são alguns dos

    objetivos pretendidos com este processo.

    A idéia de incluir tem sido satisfatória para os pais, educadores e sociedade, pois visa

    uma democracia e a igualdade. Mas, apesar da proposta da educação inclusiva ser vista com

    bons olhos, a prática ainda encontra muita resistência.

  • 26

    3- O QUE É SÍNDROME DE DOWN

    De acordo com Telford e Sawrey (1988), a Associação Americana para a Deficiência

    Mental define o retardo mental como um funcionamento intelectual geral significamente

    abaixo da média e um déficit no comportamento adaptativo, que se manifesta durante o

    período de desenvolvimento. Afirma ainda que esse prejuízo pode assumir a forma de

    retardamento maturacional, onde se observa um atraso na aquisição de aptidões como andar e

    interagir com membros semelhantes; deficiência na aprendizagem, acarretando um

    desempenho acadêmico insuficiente e ajustamento social inadequado. Fleming (1988)

    contribui afirmando que são muitas as causas do retardamento mental, mas que também não

    existe uma causa única.

    A Síndrome de Down é uma das síndromes mais freqüentes do retardamento mental

    grave. Telford e Sawrey (1988) afirmam que 10 a 20% das crianças com retardamento mental

    grave pertencem a este quadro.

    Esta síndrome é resultado de uma alteração numérica dos cromossômos, os indivíduos

    com esta síndrome possuem 47 cromossomos ao invés de 46, então ficou determinado que

    esta síndrome está associada a um cromossomo extra (trissomia) no par numero 21. Otto

    (1998) explica que possuem três tipos de desvios cromossômicos: a trissomia do cromossomo

    21, que é resultado da não-disjunçao e é um distúrbio genético, mas não herdado, que tem

    relação com a idade avançada da mãe (concepção mais antiga); translocação de um

    cromossomo que envolve a ligação de um cromossomo extra de numero 21 a outro

    cromossomo, e geralmente ocorre em filhos de pais mais jovens; e um outro mais raro é o

    mosaicismo, que é menos freqüente, onde ocorre duas linhagens no mesmo individuo, uma

    normal e outra trissomica quanto ao cromossomo 21.

    Werneck (1992) afirma que a Síndrome de Down pode ser classificada como leve,

    moderada, severa ou profunda e as causas podem variar desde uma alteração cromossômica,

    até infecções que afetam a gestante como rubéola e sífilis, desnutrição materna, uso de tóxico

    e meningite.

    As principais características da Síndrome de Down de acordo com Otto (1998) são o

    achatamento facial, nariz pequeno, olhos com pregas interna e fendas obliquas com ângulos

  • 27

    externos elevados, cavidade bucal pequena, língua com crescimento normal, mas

    apresentando fissuras grosseiras, e geralmente ela fica fora da boca. Possuem também orelhas

    pequenas, pescoço curto e largo, estatura baixa e mãos e dedos curtos. A musculatura

    geralmente é hipotônica. Os homens são estéreis e as mulheres apresentam hipogonadismo e

    amenorréia primária. Quando a mulher se torna mãe, metade de seus filhos são afetados pela

    síndrome.

    De acordo com Sampedro, Blasco e Hernández (1997), o indivíduo com Síndrome de

    Down precisa de mais tempo para permanecer atento para o que pretende e tem dificuldade de

    transferir de um aspecto para outro do estímulo, isto implica a necessidade de uma forte

    motivação para que se mantenha interessado. Algumas características desta síndrome e que

    podem ser um obstáculo no desenvolvimento é a apatia, a teimosia, a fatigabilidade e o curto

    tempo de atenção.

    Werneck (1992) completa algumas características, afirmando que geralmente as

    crianças com Síndrome de Down nascem com estatura e peso abaixo do normal, são

    bochechudos e tem os olhos em forma de amêndoas com uma distancia grande entre um olho

    e outro.

    Otto (1998) e Telford e Sawrey (1988) apresentam que o coeficiente intelectual médio

    desses indivíduos varia entre 20 a 50. Mas ressaltam que eles são capazes de serem educados,

    alfabetizados e executarem tarefas manuais. Entre outras características, pode se observar a

    capacidade de imitação que eles possuem, e que são bastante joviais, afetuosos, brincalhões e

    cooperativos.

    Sampedro, Blasco e Hernández (1997) comentam que o objetivo da prática educativa é

    desenvolver afetivamente e socialmente o indivíduo, e deve ser seguida de uma aprendizagem

    social continua no contexto familiar social e escolar. Com isso, percebe-se a necessidade

    destes indivíduos de serem incluídos e freqüentar a escola.

    A integração e interação é abordada por Pueschel (1993), quando comenta que se deve

    proporcionar para estas pessoas experiências normais para formação de amizade e de

    relacionamentos interpessoais com outras pessoas. A escola e a família devem auxiliar nesse

    desenvolvimento de relacionamentos, oportunizando encontros com outras pessoas. Assim,

  • 28

    ele afirma: os relacionamentos humanos amigos e contínuos resultantes, que são vitais para

    todo ser humano, também serão profundamente gratificantes para as pessoas com Síndrome

    de Down e uma importante dimensão em sua felicidade (PUESCHEL, 1993, p. 290).

    As pessoas com Síndrome de Down possuem uma aparência semelhante, mas as

    características citadas acima podem ocorrer em alguns indivíduos e em outros não, além de se

    manifestar em graus diferentes. Com isso, pode-se entender que a Síndrome de Down não

    deve ser compreendida como uma padronização, pois cada indivíduo vai reagir de maneira

    diferente, de acordo com sua história, com sua relação com o mundo que vive. Werneck

    (1992) afirma que o grau da deficiência vai variar de indivíduo para indivíduo, mas é difícil

    dizer o que vai determinar até onde ele pode ir. Não se deve limitar as expectativas sobre o

    desenvolvimento do individuo com esta síndrome, pois quando o indivíduo com Síndrome de

    Down tem um atendimento adequado, de estimulação desde cedo, pode desenvolver um

    potencial cada vez maior, chegando até a independência.

    Segundo Werneck (1992), a Síndrome de Down às vezes não é identificada cedo,

    quando não se faz os exames necessários, mas a partir dos seis meses as características citadas

    acima ficam mais evidentes.

    Hoje, com toda a tecnologia, com a informação, os cuidados com estes indivíduos

    foram se tornando cada vez melhores. De acordo com Werneck (1992), antigamente se falava

    que a expectativa de vida deles ia até os nove anos, hoje estudos comprovam que eles vivem

    até os cinqüenta anos e 20% da população com essa síndrome alcançam os sessenta e oito

    anos. Mas a preocupação que se deve ter hoje é com a qualidade de vida, para que eles vivam

    cada vez melhores e se sintam realmente parte da sociedade.

    Werneck (1992) argumenta que depois do diagnóstico feito, os pais devem se

    preocupar com a estimulação desde os primeiros meses de vida da criança. A APAE-

    Associação de Pais e Amigos Excepcionais - é um grande centro de estimulação que pode ser

    encontrado em todos os estados do país, e que tem muito a oferecer a estas crianças. Mas é

    importante ressaltar que uma estimulação sem vínculo, sem amor e carinho não levam a lugar

    nenhum. Os pais, a família precisa dar afeto e aceitar esta criança, que precisa se sentir amada

    e aceita. O afeto junto com um trabalho de estimulação sério só traz benefício à criança e ao

    seu desenvolvimento. A estimulação deve proporcionar a integração progressiva ao meio e à

  • 29

    vida social do individuo. Sampedro, Blasco e Hernández (1997) comentam que o programa

    de estimulação deve abranger todas as áreas do desenvolvimento, como a psicomotricidade

    fina e grossa, linguagem e comunicação, socialização e autonomia pessoal, desenvolvimento

    afetivo e cognitivo.

    A apresentação do diagnóstico não é fácil para os pais e muitas vezes as famílias

    passam pelo luto, pela raiva, pela culpa. São muitos os sentimentos envolvidos quando se

    recebe um diagnóstico desse, mas os pais precisam elaborar seu sofrimento, chorar , conversar

    e se reestruturar para aceitar incondicionalmente essa criança.

    Sampedro, Blasco e Hernández (1997) enfatizam o papel dos pais no processo de

    desenvolvimento:

    A criação de um clima familiar e afetivo adequado repercutir-se a positivamente no desenvolvimento da criança, cujas condições serão muito favorecidas se forem evitadas a supeproteção, ansiedade e rejeição e houver uma implicação ativa dos pais na sua educação. (1997, p. 247)

    Assumpção e Sprovieri (1991) também abordam a importância da família como fator

    de influencia na formação da personalidade, pois é o primeiro ambiente que recebe o

    indivíduo.

    Outras doenças estão associadas à Síndrome de Down. Werneck (1992) lista algumas

    delas: a doença de Alzheimer, que causa um comprometimento mental progressivo, atinge 50

    % da população com síndrome de Down, a calcificação da glândula basal e a epilepsia

    também são comuns à esta síndrome. Em media 48% desses indivíduos apresentam

    cardiopatias congênita operáveis, são suscetíveis também a distúrbios do aparelho digestivo,

    os meninos apresentam pênis relativamente pequeno e saco escrotal pouco desenvolvido e

    muitos tem predisposição a infecções no aparelho respiratório. Apresentam infecções de pele,

    e esta se apresenta áspera e seca, é preciso um cuidado com as vacinações devido ao alto

    índice de infecções, e com as doenças de gengiva e o alto índice de cáries. Podem apresentar

    problemas nos pés e quadris devido a uma frouxidão de ligamentos, e estudos comprovam que

    70 % desses indivíduos apresentam miopia e 50% estrabismo. Faz-se necessário ressaltar que

    estes problemas de saúde são comuns aos indivíduos com esta síndrome, mas podem aparecer

    ou não nos indivíduos com Síndrome de Down.

  • 30

    O atraso na aquisição da fala é um dos maiores problemas da Síndrome de Down.

    Pueschel (1993) afirma que as crianças com Síndrome de Down podem apresentar maior

    dificuldade para aprender a linguagem e a se comunicar com clareza do que as outras crianças

    e isso pode ocorrer, pois essas crianças apresentam com freqüência perda auditiva e problema

    no controle da respiração. Mas, além disso, o preconceito, o rótulo que as pessoas colocam

    nesses indivíduos, achando que eles não são capazes, que não vivem muito e por isso não é

    preciso uma preocupação e um incentivo na sua aprendizagem, faz com que esses indivíduos

    fiquem jogados à margem da sociedade sem uma interação, sem uma comunicação.

    A compreensão é atrasada em relação a uma criança sem a síndrome e possui também

    dificuldades em tudo o que exige operações mentais de abstração, operações de síntese,

    organização do pensamento, da frase, na aquisição de vocabulário e na estruturação

    morfossintática, contribui Sampedro, Blasco e Hernández (1997).

    Mas a linguagem é essencial para todos os indivíduos, inclusive para os indivíduos

    com Síndrome de Down. Schwartzman (2003) afirma que para as crianças com Síndrome de

    Down dizer é tão urgente e essencial como para qualquer um de nós (SCHWARTZMAN,

    2003, p. 206).

    Essas crianças vão se utilizar da linguagem verbal e não-verbal para interagir com o

    mundo, pois o que desejam é se comunicar, interagir e se constituir como sujeito. Devido a

    esse atraso a estimulação deve ocorrer desde cedo, proporcionando a comunicação e a

    interação. Assim, Pueschel (1993) relata que a partir das experiências, das atividades, dos

    objetos, das pessoas, é que a criança tem a possibilidade de construir suas habilidades

    comunicativas, ampliando seu mundo e organizando-o por meio da linguagem.

    A atividade sexual dos indivíduos com Síndrome de Down é sempre muito discutida,

    mas o desenvolvimento sexual destes indivíduos é igual ao de qualquer adolescente. E será

    necessário receber todas as informações sobre as transformações que estará passando e sobre

    os cuidados que devem ter nessa fase. Eles namoram, se casam, só precisam de uma

    supervisão para que encontrem relações satisfatórias. (PUESCHEL,1993)

    Muitas pessoas falam que os indivíduos com Síndrome de Down possuem uma

    sexualidade exacerbada, mas o que se pode observar é que na verdade eles não têm tabus e

  • 31

    não se reprimem, e sim demonstram o que sentem, falam o que pensam e às vezes

    surpreendem a sociedade e as pessoas com quem se relacionam. A sociedade impõe regras,

    normas moralmente corretas, estabelecendo como os indivíduos devem se portar, mas os

    indivíduos com Síndrome de Down não têm a noção do que é moralmente correto, em sua

    cultura, e com isso, não reprimem o que sentem. Mas é importante destacar que a família deve

    esclarecer algumas condutas relacionadas à sexualidade e transmitir informações acerca do

    tema. Pueschel (1993) confirma que sexualidade e casamento são temas que precisam ser

    discutidos com os jovens com Síndrome de Down.

    Assumpção e Sprovieri (1991) afirmam que o indivíduo com a síndrome estudada

    pode ter uma vida sexual normal e ativa, porém alguns estudos mostram que há uma

    incapacidade de manutenção de relacionamento e criação de filhos.

    Pueschel (1993) afirma ainda que na adolescência os jovens com a síndrome têm

    maiores dificuldades de se relacionar, pois as diferenças se tornam mais evidentes entre as

    crianças com síndrome e as que não tem. Por isso, é importante transmitir encorajamento,

    ajudar a sentir seu valor próprio e estabelecer amizades e socialização. Deve-se incentivar o

    cuidado com a aparência, com a higiene pessoal, pois são fundamentais para a aceitação na

    sociedade.

    É importante destacar também que os jovens com Síndrome de Down têm desejos

    iguais aos dos outros jovens, de serem aceitos, valorizados pela sua singularidade, capazes de

    participar em interações. E por isso devem ser tratados como todos os outros os indivíduos.

    A Psicologia ressalta a preocupação que se deve ter em desenvolver as inter-relações

    do indivíduo com esta necessidade especial, e em todos os indivíduos, pois é de fundamental

    importância para sua formação. Del Prette (2001) comenta que grande parte da vida ocorre

    nas interações com o outro e aqueles que evitam o contato social, isolando-se, estão mais

    propensos aos problemas psiquiátricos.

    Com isto, Brazelton (2002) enfatiza: Os relacionamentos emocionais interativos, são

    importantes para muitas de nossas habilidades essenciais, intelectuais e sociais.(p.25)

    Entende-se então, que a partir de relacionamentos saudáveis e seguros as crianças aprendem a

    desenvolver seus próprios relacionamentos com crianças e adultos, além de comunicar o que

    sentem e o que desejam, e ainda, de se comportarem de maneira adequada.

  • 32

    O indivíduo com Síndrome de Down pode trabalhar e, como afirma Pueschel (1993), o

    trabalho permite que ele adquira um valor próprio e um sentimento de que está contribuindo

    com a sociedade. E representa uma chance de provar para si mesmo e para a sociedade que

    são indivíduos capazes. Eles são capazes, e podem sim alcançar uma vida com independência,

    e o que se deve oferecer é treinamento, informações e estudo para eles desenvolverem suas

    habilidades para viverem melhor e interagir com o mundo. Mas a sociedade deve também se

    empenhar para desenvolver maneiras de tornar as vidas das pessoas com Síndrome de Down

    mais significativas.

  • 33

    4- ESTUDO DE CASO

    O presente estudo irá apresentar o caso de A G. P., um adolescente com Síndrome de

    Down. Primeiro será apresentado um relato sistematizado para esclarecer o caso,

    apresentando as atividades e características do sujeito estudado, além de observações e

    entrevistas que possibilitem um conhecimento mais aprofundado. Depois, uma reflexão

    buscando contribuir para uma melhor compreensão do quadro de ensino e aprendizagem e do

    processo de inclusão.

    4.1) DESCRIÇÃO DO CASO:

    A. G. P. tem 12 anos, mora com os pais e duas irmãs mais velhas.

    Ele é descrito pela família como uma pessoa amável, divertida e que adora música e

    filme. Mas observaram que ultimamente ele tem se isolado, ficado mais tempo no quarto, sem

    querer descer e sair, mas eles não conseguem relacionar com algum evento especifico. A

    família relata: Um downzinho muito sapeca, carinhoso, gostoso...Que a gente ama muito

    (C.H.F.P.), (...) uma maravilha que Deus me deu, me sinto tão realizada com o meu filho, é

    uma criança maravilhosa... (G.G.P.), É uma pessoa muito especial (C. G. P.). Super, ultra,

    mega amoroso, feliz da vida. (P.G.P.). Com isso, observa-se que ele é muito querido pela

    família.

    Seu processo educacional ocorre da seguinte forma: freqüenta a Escola Classe na Asa

    Sul, de terça a sexta, e na segunda freqüenta a Escola Parque na Asa Sul, pela manhã. No

    período da tarde, terça e quinta faz natação individual e segunda, quarta e sexta freqüenta uma

    clínica particular de estimulação.

    A. realiza suas atividades de vida diária (AVDs) de forma independente, mas o pai

    relata às vezes o ajuda com o “intuito de protegê-lo” (sic). O educando tem uma preocupação

    com a aparência e se cuida.

    Seu relacionamento com seus familiares é muito bom e ele tem um apego maior pelo

    pai, se mostrando sempre preocupado com este. Mas foi relatado também que após um

  • 34

    incidente no prédio onde moram, hoje o adolescente tem uma rejeição por criança, se

    relacionando melhor com adultos, pois estes o respeitam e entendem suas dificuldades.

    Segundo relato literal da irmã:

    Muitas vezes ele é agressivo, quando ele vê que alguém não está tratando ele bem ele fica agressivo, e às vezes ele para de falar com a pessoa, ignora. Igual aqui no bloco, as crianças começaram a ignorar ele, a ficar rindo dele, da fala dele, e ai acabou que ele sentiu que as crianças não estavam tratando ele bem e ele simplesmente parou de descer, não quer descer, não há quem faça ele descer. ( C. G P)

    Foi possível observar em todas as entrevistas que o educando não tem se sentido bem

    ao lado de crianças, mas que com as outras pessoas, em geral, se relaciona bem. Porém, na

    Escola Parque que o educando freqüenta, observou-se que ele interagiu com as outras crianças

    no intervalo, brincando e se divertindo, apesar de algumas crianças rirem dele, ensinar gestos

    pejorativos, se aproveitando da falta de compreensão de A..

    A partir das entrevistas realizadas foi possível observar que o adolescente foi bem

    recebido pelos pais e pelas irmãs, o pai foi quem apresentou mais resistência. A gravidez foi

    casual e a mãe tinha 38 anos. A mãe relata que ficou sem ação e que o pai entrou em

    desespero, chorou muito, ele ficou surpreso, e como já tinha um primo de segundo grau com

    Síndrome de Down, conhecia a síndrome. Como relata o pai:

    Mas foi um baque, você receber a notícia que seu filho não é perfeito, que não vai ser normal, que vai ter uma deficiência. G. já foi mais tranqüila, disse ‘mas ele é bonitinho’, e quando eu vi, ele é bonito mesmo...Eu fiquei meio assustado no início, mas depois foi mais tranqüilo. (C. H.F.P.)

    Logo após a confirmação do diagnóstico, A. começou o trabalho de estimulação, que

    faz até hoje.

    A gestação foi tranqüila, apesar da mãe ter tido uma ameaça de aborto. Mas, segundo

    ela, este fato ocorreu em todas as três gestações que ela teve, sendo assim um fato normal.

    Como os pais têm sangue O- e A-, a criança teve icterícia, com isso precisou de alguns

    cuidados, tomando banho de luz. Além disso, ele necessitou de incubadora, pois o leite da

    mãe era “fraco” (sic) e não estava sustentando a criança.

  • 35

    O desenvolvimento psicomotor foi normal, ocorrendo todas as fases na idade correta,

    fato este justificado pela mãe devido ao trabalho de estimulação realizado desde os 15 dias de

    vida da criança. O desenvolvimento psicomotor de A. é avaliado como satisfatório pelos

    profissionais que acompanham o educando estudado. A família avalia que seu

    desenvolvimento foi bom e até mais do que esperavam, pois os médicos falavam que ele teria

    muitos problemas e hoje está muito bem. A principal limitação do adolescente é a fala, ele se

    comunica, mas da maneira dele.

    Hoje A. apresenta muitos “tiques” e rói unha. De acordo com a mãe, ele já teve muitos

    tiques e em cada época ele se fixa mais em alguns, agora ele anda sorrindo sozinho e

    mexendo a cabeça. Ela acredita que, como o educando estuda em uma classe especial e tem

    uma colega com Autismo, ele pode estar “imitando” (sic) a colega. Pela observação feita

    durante a pesquisa, a autora não percebeu tal processo de imitação.

    O adolescente teve uma infecção no ouvido e fez duas cirurgias devido o problema.

    Ele necessitou colocar um “carretel” (sic) no ouvido, fez tratamento, mas ficou com seqüela,

    porém, insignificante. Sua irmã do meio também apresentou o mesmo problema.

    A. é um adolescente que não apresenta um quadro de muitas doenças, quando era

    pequeno teve três pneumonias, mas tomou vacina e nunca mais teve. Há dois anos ele

    começou a apresentar um problema de pele, uma infecção, o sistema imunológico abaixa e

    aparece essas infecções, que são muito perigosas, pois podem passar para o sangue e atacar os

    órgãos, e se atacar o coração, pode morrer. No ano passado A. se mostrou muito desanimado,

    sonolento, cansado e muito triste, pois estava com um problema na tireóide, mas hoje ele

    toma medicamento adequado e está com as taxas dos hormônios normais. Ele já fez uma

    cirurgia de hérnia, faz uso de óculos, mas seu grau é baixo. Faz também acompanhamento

    com pedagogo, psicólogo, psicopedagogo, fisioterapeuta, neurologista, infectologista,

    terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo.

    O educando se alimenta bem, tem uma alimentação variada e moderada, pois ele tem

    uma preocupação em não ficar gordo. Fez uso de mamadeira bem cedo, pois a mãe não tinha

    leite suficiente. Seu sono não é tranqüilo, com freqüência acorda no meio da noite, às vezes

    baba e pula. Tinha sudorese quando estava com as taxas hormonais alteradas.

  • 36

    O adolescente não faz amigos com facilidade, quando as crianças o rejeitam ele agride.

    As irmãs relataram que ele sente quando as crianças estão o rejeitando ou riem dele e, como

    forma de se proteger ou de se defender, ele agride. Quando estava mais novo ele descia,

    brincava de bola, de corrida, mas agora que se recusa a descer. Ele permanece no quarto

    ouvindo musica e assistindo filme sozinho, sua diversão é ouvir música. Quando ele sai com

    seus pais, se comporta muito bem, segundo o relato dos pais, ele se comporta como um

    adulto, sem dar trabalho algum. Com os professores ele se relaciona bem.

    Os pais dão muita importância para a formação acadêmica do adolescente e o objetivo

    é que ele aprenda as atividades sociais para ter uma vida independente. Ele entrou na escola

    na idade normal, com quatro anos. Ele estudou primeiro em uma escola particular regular da

    Asa Norte, entrou no Jardim I e ficou lá três anos. Lá ficava com uma professora e uma

    estagiária, que a ajudava. O pai pagava a estagiária, pois a escola exigiu, mas não deu certo.

    Depois desta escola, ele foi para uma Escola Classe na Asa Norte, para a educação infantil e

    depois para outra Escola Classe. Nesta escola ele ficava em uma turma regular, mas reduzida

    e o atendimento com ele era bom. A irmã afirma que A. teve um rendimento muito

    satisfatório nessa escola, tinha um relacionamento bom com todos e era bastante ativo. Ele

    ficou até a 1ª série, onde ele repetiu, ficou quatro anos e meio nessa escola. Na época o

    médico o diagnosticou como hiperativo. Com isso, a escola achou melhor ele ir para uma

    Escola Especial, para que ele tivesse um tratamento mais especializado. Os pais não queriam

    mudar a criança de escola, mas após muita conversa a escola convenceu-os, pois achavam que

    se A. ficasse um semestre na escola especial ele melhoraria muito.

    Os pais relatam que depois que o educando foi para escola especial, onde ficou um ano

    e meio, regrediu muito. As classes são só de alunos especiais, com três a quatro alunos em

    cada classe, mas o maior problema, de acordo com os pais, era a falta de professor. Em um

    ano e meio ele teve oito professores e, além disso, os pais descobriram que uma das

    professoras não desenvolvia nenhum trabalho sério com A., colocava ele em um colchão para

    ele dormir ou para assistir filme. Com isso, os pais começaram uma briga com a Secretaria de

    Educação para retirar seu filho da escola. Todo este fato está confirmado no laudo final do

    aluno, onde afirma sua regressão. O pai relata que A. passou por muitos professores,

    professores terceirizados e ainda denuncia a má administração da escola.

  • 37

    Apesar de tudo isso, não foi fácil para trocar o educando de escola, mas quando isto

    aconteceu ele foi transferido para uma Escola Classe na Asa Sul, onde tem aula em uma sala

    especial com uma professora com muita experiência nesta área. Mas o pai comenta que a

    classe especial, tendo 15 alunos, onde cada aluno tem uma síndrome, dificulta o trabalho. Mas

    ele conseguiu que a turma fosse reduzida para sete alunos, contribuindo para o trabalho do

    professor. Ele ainda relata que muitos professores também acreditam que realizar um trabalho

    com alunos com diversos tipos de síndrome é bem difícil.

    Destacando a importância da educação inclusiva para o pai de A.:

    Por um lado eu acho muito importante, por outro...Tudo depende da maneira como ela é feita, porque dependendo da criança, ela terá muito ganho. Por isso que tem que ter sempre a inclusão, mas tem que ter também a classe especial. Porque tem criança que não tem condição de ir para a inclusão, e eles querem acabar com a classe especial de todo o jeito, o objetivo é só a inclusão e pronto. Porque eles alegam que a criança fica excluída, mas tem criança que não tem condições de ir para a inclusão, porque ela não vai ter ganho nenhum e ainda vai prejudicar a sala. E sempre na inclusão tem que ter mais um professor para auxiliar o titular, porque esse negócio de colocar um professor só cuidando de uma sala com 20 alunos e mais uma ou duas crianças especiais, o sistema está cuidando, por um lado, da não exclusão da criança, mas por outro não se preocupa com a qualidade do ensino, não quer gastar dinheiro com mais um profissional dentro da sala de aula. Por isso o ensino fica comprometido. Está preocupado porque está resolvendo um problema que existe, mas não quer gastar, aí fica complicado. Antes uma sala especial tinha até oito alunos. Depois, eles alteraram, era até 12. Hoje, já são até 15 alunos. Eles ficam muito preocupados com os gastos, mas e a qualidade? Eu fico preocupado com isso.(C.H.F.P)

    Com isto, pode-se observar que os pais têm uma preocupação e um envolvimento com

    os estudos de A.

    Na sala especial onde o adolescente estuda tem três crianças com hiperatividade, mais

    um com Síndrome de Down, uma autista com baixa visão e uma garota com uma deficiência

    mental leve. Segundo a professora desta classe, o educando em questão está mais tranqüilo,

    se isola bastante, está muito fechado e se recusa a falar e a participar das atividades com

    freqüência. Sua avaliação sobre o rendimento de A. é que ele estagnou, ele só faz as

    atividades quando ela está ao lado, afirma que ele está fechado para muitas atividades que ela

    propõe. Em sala são desenvolvidas atividades com alfabeto móvel, jogos, trabalhando no

    concreto e principalmente tentando dar autonomia às crianças, trabalhar a oralidade e

    descobrir a habilidade de cada aluno para assim desenvolvê-la. Para ela, A. ainda está

    aprendendo o alfabeto e não aprendeu seu nome, mas sim foi treinado a entender o nome e a

  • 38

    escrever, mas com isso acaba esquecendo e trocando as letras, já que na verdade não aprendeu

    nada.

    A falta de socialização de A. está preocupando a professora, ele não se relaciona com

    os colegas, apesar de ter uma boa relação com ela. Ela entende que a tireóide, a idade e a

    sexualidade talvez esteja influenciando neste isolamento, mas acredita que não é um fato bom

    para o desenvolvimento dele, questionando o envolvimento dos pais no processo de

    socialização e a importância de tarefas com pessoas da idade dele.

    A idéia de inclusão para a professora de A.:

    Inclusão é quando aquela escola, aqueles professores, está tudo pronto para receber aquele aluno, quando eu tenho condições de prestar um atendimento verdadeiro e real a essa criança. Na minha concepção não é a criança que tem que estar preparada tem que haver pessoas e espaços preparados. (G.C.)

    Ela ainda afirma que a escola e os professores precisam estar preparados e para isso o

    governo precisa dar condições de aplicação e contextualização. Relata ainda que uma sala

    com tanta diversidade não favorece o trabalho, deste modo não tem como realizar um trabalho

    personalizado.

    Esta escola é considerada inclusiva parcial, pois como explica a professora G., a

    instituição tem como objetivo fazer uma ponte entre o centro especial e a classe regular, e a

    grande vantagem é que ele está em uma escola regular, podendo assim ter um convívio com

    as outras crianças. E, além disso, o objetivo da classe especial é trabalhar algumas

    necessidades fundamentais do aluno para que em algum momento ele seja incluído na classe

    regular.

    Segundo a professora, A. tem dificuldade de auto-percepção, característica esta que se

    desenvolve gradativamente na criança, sendo que neste caso esta característica ainda está

    sendo formada, ou seja, a noção de si mesmo, do que deseja fazer ou não fazer, da

    importância da escola para sua vida. Isso tudo poderá ser despertado em A.desde que seus

    interesses e habilidades sejam levados em consideração. Outra limitação muito significativa é

    a oralidade, pois influencia na construção de palavras e na compreensão. Outra limitação

  • 39

    muito significativa identificada pela professora é a oralidade, pois influencia na construção de

    palavras e na compreensão delas.

    A partir da observação realizada foi possível constatar que realmente o trabalho na

    classe especial é difícil, pois são muitas exigências a serem cumpridas. Observou-se que

    quando A. chegou na sala ele se manteve um tempo parado, sem participar e só realizava o

    que era pedido quando a professora explicava com mais calma e ficava ao seu lado por um

    tempo.

    A professora G. afirma também que para se realizar um trabalho sério com esses

    alunos, o que é mais importante é gostar do que se faz, ter um conhecimento e uma

    experiência, além de acreditar no potencial do aluno.

    O adolescente freqüenta também uma Escola Parque na Asa Sul todas as segundas-

    feira. Lá ele tem aula com alunos de terceira série com idades entre oito e 13 anos. Apesar de

    não ter tido muito acesso e uma boa receptividade, foi possível observar a falta de interação,

    pois A. passou a maior parte do tempo sentado, isolado, sem participar das atividades, e

    quando a professora o chamava ele se negava a participar e se mantinha sentado sem fazer

    nada. Nesta escola, A. tem aula de música, teatro, artes plásticas e educação física, na aula de

    artes plásticas ele realizou uma das tarefas após a professora passar as instruções com clareza

    de forma individual, mas se sentou isolado enquanto os outros alunos sentaram-se em grupo.

    Porém, de acordo com a professora, ele prefere sentar sozinho e quando é obrigado a fazer

    atividades com os outros alunos é agressivo.

    Todas as professoras relataram que sua participação era boa. Mas o que se pode

    observar é que só na aula de educação física o educando interagiu, participou, se mostrando

    feliz e motivado, mas em todo o momento a professora exigiu a participação dele e explicou a

    atividade, fazendo com que todos os alunos o esperassem. Mas, de acordo com a professora,

    este fato não ocorre com freqüência e assim relata:

    Ele nem sempre participa, hoje foi o melhor dia dele em dois anos que ele está comigo. Eu nunca tive uma aula assim, eu estou impressionada, não sei se é porque você está aqui, mas hoje ele participou, foi ótimo”. Tem aula que ele não quer participar, sai correndo pelo pátio e alguém tem que ir atrás dele. E às vezes as crianças se irritam também, não gostam de esperar e isso prejudica. Mas hoje foi ótimo, eu estou assim impressionada.

  • 40

    No intervalo da aula o adolescente ficou sozinho, não quis lanchar, mas depois de uma

    professora chamá-lo e leva-lo ao refeitório ele lanchou, mas ficou isolado e depois ficou

    olhando algumas crianças brincarem. Nas aulas A. não interagiu com ninguém e nenhum

    colega se dispôs a fazer dupla com ele quando era necessário. A interação com as professoras

    também foi pouco percebida.

    Como já foi exposto, o adolescente realiza um trabalho de estimulação em uma clínica

    no Lago Norte há oito anos, onde faz diversas atividades acompanhado por pedagogas,

    fisioterapeuta, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e psicóloga. Os profissionais

    entrevistados relataram que A. está muito passivo, sem ânimo e até mesmo apresentando um

    retrocesso no seu desenvolvimento. Pode-se observar que A. estava bastante disperso,

    desinteressado e sem motivação durante as sessões. Nas duas primeiras aulas estava bastante

    sonolento e com muita dificuldade de responder às atividades, porém em todas as atividades

    propostas o adolescente era muito lento para responder ou não respondia, levando muito

    tempo para realizar uma atividade.

    Na pedagogia é trabalhada a leitura, escrita, compreensão e interpretação, Foi relatado

    pela pedagoga que A. tem dificuldade de ler e transpor para o papel devido a dificuldade na

    fala, afirmou também que ele demora para realizar a atividade e por isso a pouco tempo ele

    passou a realizar algumas atividades com outro garoto com Síndrome de Down para um

    incentivar o outro, além de criar uma amizade. A pedagoga relatou que A. chega a dormir em

    algumas aulas e a partir da observação foi possível constatar que A realmente se comporta de

    maneira sonolenta e sem motivação para as tarefas propostas, demorando a executa-las e às

    vezes nem as realizando.

    Na terapia ocupacional é trabalhada a coordenação motora fina, força muscular,

    esquema corporal, coordenação visiomotora, além de treinar atividades da vida diária como

    vestuário, e higiene pessoal. Foi relatado também que o educando esta mais lento para

    realizar as atividades, mas coopera e participa. Avaliam também que ele está mais recatado,

    fechado, se isolando, diferente de como se comportava antes, mas não conseguem ligar a

    nenhum fato especifico. Mas ele se relaciona bem com todos os profissionais da clínica,

    sendo descrito como carinhoso e afetuoso.

  • 41

    No reforço escolar A. resolve os deveres de casa passados pela escola. A profissional

    relatou que A. está tendo muita dificuldade, até em coisas que ele já sabia, desaprendendo o

    que já sabia. Na fonoaudióloga, o educando trabalha ritmo, memória e entonação, mas de

    acordo com ela não se tem tido progresso nesta área, pois ele se apresenta muito lento e sem

    ânimo para as tarefas.

    Já na fisioterapia é realizado um trabalho muscular, postural, com o objetivo de

    prevenir deformidades, pois o adolescente tem hipotemia muscular. Mas, apesar disso,

    percebe que ele tem um desenvolvimento psicomotor bom, porém, mais uma vez é relatado

    que A. tem se mostrado desinteressado, passivo, sendo necessário estar sempre o motivando,

    cobrando, incentivando e impondo limites.

    A partir de entrevista realizada com o dono da clinica onde A. faz estimulação, pode-

    se constatar mais uma vez que este teve uma estagnação no seu desenvolvimento e tem se

    mostrado triste. De acordo com este profissional a clínica fornece a base, mas é fundamental

    um trabalho conjunto com a escola e a família, além de desenvolver a socialização dele. Com

    isso, este questiona a urgência de uma participação da família, a construção de um vínculo

    mais forte, além de ampliar seu ciclo social. Como todos os outros profissionais desta clinica,

    ele questiona que o psicossocial foi abalado, mas também não sabe o que ocorreu. Em todas

    as atividades observadas, pedagoga, reforço escolar, fonoaudióloga, fisioterapeuta, terapia

    ocupacional A se mostrou sem interesse e com muita dificuldade de realizar as tarefas.

    Nas terças e quintas A. faz natação individual, onde é realizado um trabalho de

    desenvolvimento psicomotor relacional. De acordo com o instrutor, A. tem um

    desenvolvimento psicomotor bom e sua principal dificuldade neste trabalho é a respiração,

    mas expõe que A. está mais confiante e seguro. A partir da observação feita, pode-se afirmar

    que o adolescente se mostrou interessado e afetuoso com o instrutor de natação.

    A partir de todo o esclarecimento do caso estudado, é interessante ressaltar as

    expectativas da família para o futuro de A.:

    A nossa grande preocupação com o estudo, com a escola, é ele aprender a ser independente, ele se virar. No básico, ele já sabe...Até ele vir a ter o emprego dele, esse é

  • 42

    o objetivo. Agora ele está na natação, para futuramente ele competir nas paraolimpiadas.(C.H.F.P.)

    É ver meu filho se virar sozinho, ser independente (G.G.P) (...) que ele consiga um emprego para ele, que ele tenha muitos amigos, que ele consiga ser independente, porque eu tenho certeza que ele vai ser porque ele aprende as coisas muito rápido também. E .. que ele seja muito feliz. (P..G.P) Eu espero que ele vá conseguir arranjar uma menininha com Síndrome de Down bem bonitinha.(... ) Em relação a ter nível superior, eu não espero nada, porque eu acho que é muito difícil. Mas ele adora música, adora dançar, adora fingir que é DJ. (...). Acho que vai ser tipo isso, vai se envolver com a área das artes vai seguir por esse caminho. (P.G.P)

    Com tudo isso,