MONOGRAFIA-SIRLENE VERSÃO FINAL

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FACULDADE DE DIREITO PADRE ARNALDO JANSSEN CURSO DE DIREITO

BENEFCIO DE PRESTAO CONTINUADA E O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SIRLENE ALVES MOUTINHO LARANJO

BELO HORIZONTE 2009

SIRLENE ALVES MOUTINHO LARANJO

BENEFCIO DE PRESTAO CONTINUADA E O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

MONOGRAFIA APRESENTADA A FACULDADE DE DIREITO PADRE ARNALDO JANSSEN COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENO DO TTULO DE BACHAREL EM DIREITO.

ORIENTADORA: PROFA. CAROLLINE SCOFIELD AMARAL

BELO HORIZONTE 2009

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois sem ele no seria possvel realizar este sonho, aos meus pais que me deram a vida com muito amor e me ensinaram o caminho que deveria trilhar ao meu filho Rubens que foi o melhor presente que papai do cu mandou, ao meu Marido que muito contribuiu para que eu chegasse at aqui, te amo muito Bruno Laranjo, aos meus irmos e cunhados que sempre me incentivaram a D.Ruth com quem sempre pude contar nos momentos mais difceis dessa caminhada, com todo apoio e incentivo, aos meus sobrinhos Felipe, Matheus, Gustavo e Dbora que fazem parte da minha histria e a tia Lourdes, pessoa muito lutadora, exemplo de vida e que mesmo de longe esteve presente nesta conquista.

AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus por est presente em minha vida todos os dias, a professora e minha orientadora Carolline Scofield, por compartilhar seus valiosos ensinamentos para elaborao deste trabalho acreditando e incentivandome, que daria certo, muito obrigada Caroll por tudo. A Fabola Funcionria da faculdade pessoa que nunca me esquecerei em toda minha vida, quem abriu as portas para concretizao desse sonho. Aos meus pais ao meu filho Rubens que mesmo sendo to pequenino entendeu que a mame precisava se ausentar em alguns momentos ao meu amor Bruno por todo apoio e carinho e todos aqueles que direta ou indiretamente me apoiaram.

SUMRIO

1 INTRODUO ................................................................................................................. 7 2. SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIO DE 1988 .......................................... 9 2.1 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL ........................ 10 2.2 PREVIDNCIA SOCIAL NO BRASIL ..................................................................... 16 2.3 SADE .......................................................................................................................... 24 2.4 ASSISTNCIA SOCIAL E SEUS PRINCPIOS....................................................... 24 3. BENEFCIO DE PRESTAO CONTINUADA ....................................................... 28 3.1 HISTRICO.................................................................................................................. 28 3.2 REGULAMENTAO DA LEI ORGNICA DE ASSISTNCIA SOCIAL ....... 29 4. BENEFCIO DE PRESTAO CONTINUADA E O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ........................................................................................................................... 32 5. CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................... 39

RESUMO

Este trabalho busca demonstrar a importncia da Assistncia Social no Brasil, tratando especialmente do Benefcio de Prestao Continuada. Com o objetivo de demonstrar que, dentro da realidade social do Brasil, determinada pela imensa desigualdade econmica, no pode o judicirio deixar de buscar a justia material atravs das decises judiciais, principalmente, quanto concesso do Benefcio de Prestao Continuada. Atualmente discute-se a possibilidade ou no do judicirio dizer, ou melhor, decidir se uma pessoa ou no miservel a ponto de ter direito ao Benefcio Assistencial ao idoso e ao deficiente fsico. Na realidade a renda per capita utilizada como critrio para concesso do benefcio no deveria ser o critrio nico, tal como previsto na lei 8.742/93. A pesquisa procurou demonstrar que as decises proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, que foram insistentemente interpeladas, no se amoldam a realidade social do nosso pas. Aguardamos que a deciso do recurso extraordinrio que foi aceita a preliminar de repercusso geral mude o critrio da renda per capita, ou permita que o juiz, no caso concreto, possa incluir mais idosos e deficientes ao Benefcio de Prestao Continuada como beneficirios, abrangendo, de maneira mais consentnea, um numero maior de pessoas necessitadas de ter uma vida digna com o mnimo de garantia para sua manuteno.

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1 INTRODUO

O objetivo deste trabalho compreender o entendimento, do Supremo Tribunal Federal, com relao aos requisitos para concesso do Benefcio de Prestao Continuada. Este estudo de grande interesse para populao de idosos e deficientes carentes. Discute-se no Supremo Tribunal Federal o critrio de renda per capita familiar igual ou inferior a do salrio mnimo definido, na Lei orgnica da assistncia social, Lei 8.742/93, em seu art. 20 e 3 . Entretanto tal critrio limita o direito garantido na Constituio em seu art.203, V, garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei. Foi interposta pela Procuradoria-Geral da Repblica a ao direta de inconstitucionalidade n1232 alegando inconstitucionalidade no critrio de do salrio mnimo exigido para concesso do Benefcio de Prestao Continuada, a ADI 1232 foi julgada improcedente argumentando o Supremo Tribunal Federal que seria a Lei quem definiria o critrio para concesso do benefcio, prevalecendo a renda per capita familiar de do salrio mnimo. Posteriormente chegou ao Supremo Tribunal Federal a reclamao n 2303, interposta pelo Instituto Nacional de Seguridade Social, declarando o no cumprimento da deciso firmada na ADI 1232. O que provocou tal reclamao foi a concesso do Benefcio de Prestao Continuada, por um Magistrado a um requerente que tinha renda per capita de salrio mnimo. Entretanto o Tribunal manteve o decidido na ADI 1232, que tal critrio de do salrio mnimo seria o nico.

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Mesmo tendo ficado decido no Supremo Tribunal Federal o critrio nico de do salrio mnimo, a Justia Federal de 1 grau continua concedendo o Benefcio de Prestao Continuada no analisando somente o critrio da Lei. Ainda que, a renda per capita ultrapasse o calculo de do salrio mnimo, analisam o caso concreto do requerente, ou se baseiam nas Leis assistenciais que foram vigoradas aps a Lei 8742/93, a Lei 10.219/01 que regulamenta o benefcio do bolsa escola e Lei do benefcio da bolsa famlia que tem como critrio a renda per capita de salrio mnimo. Pelo motivo da continuidade da concesso do Benefcio da Lei orgnica da assistncia social, sem obedecer ao critrio estipulado em sua redao restou o Supremo Tribunal Federal aceitar o Recurso Extraordinrio n 567985 reconhecendo sua repercusso geral, devendo analisar novamente o critrio de renda per capita exigido pela Lei orgnica da Assistncia Social comparado com o critrio de renda de salrio mnimo exigido pelas Leis assistenciais mencionadas anteriormente. Ponderou-se no captulo II a Seguridade Social, no atual texto constitucional, percebendo que ela tem como obrigao proteger as pessoas que passam por momentos contingentes e no podem produzir o necessrio para garantir uma vida digna, so estas amparadas por vrios princpios constitucionais apurados neste trabalho. Abordamos os trs rgos que compem a Seguridade Social, fizemos um histrico breve da Previdncia Social desde o seu nascimento abordamos de forma sucinta os seus benefcios e regimes, sade e a Assistncia social e seus princpios. No captulo III fizemos o estudo do Benefcio de Prestao Continuada previsto no art. 203, V, do texto constitucional, estudamos o histrico do benefcio e adentramos na regulamentao da Lei Orgnica de Assistncia Social. No capitulo IV analisamos o Benefcio de Prestao Continuada e o Supremo Tribunal Federal a respeito do critrio da renda per capita de do salrio mnimo para sua concesso sendo, portanto tema de repercusso geral no Supremo Tribunal Federal.

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2. SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIO DE 1988

A Seguridade Social um direito garantido no artigo 6 da nossa atual Constituio, veio para dar garantia de bem-estar e melhoria de qualidade de vida ao cidado, tendo como eixos norteadores, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, inseridos no artigo 1 do texto constitucional. A Seguridade Social destinada a garantir os direitos relacionados Previdncia Social, Sade e a Assistncia Social, da ser uma ampla rede de proteo social, podendo contar com a sociedade e o poder pblico garantido todos os direitos de quem dela necessitar. competncia privativa da Unio legislar sobre o tema podendo ser atribuda tambm aos Estados, nos termos do artigo 22, XXIII, da Constituio de 1988. O direito a seguridade social prprio para garantir os meios e recursos necessrios, para todos que dela necessitarem e tiverem passando por momentos de contingncias que no os deixem produzirem o necessrio para uma vida digna. Como leciona Srgio Pinto Martins: O direito da seguridade social o conjunto de princpios, de regras e de instituies destinado a estabelecer um sistema de proteo social aos indivduos contra contingncias, que os impeam de prover as suas necessidades pessoais bsicas e de suas famlias, integrado por aes de iniciativa dos poderes pblicos e da sociedade, visando assegurar os direitos relativos sade, previdncia e assistncia social. (MARTINS, 2006, p 19). Nota-se que a Seguridade social veio para diminuir a desigualdade entre as pessoas de classes econmicas diferentes e amparar os necessitados em momentos de desespero.

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2.1 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

Existem vrios princpios que organizam a seguridade social, elencados na constituio no artigo 194, e incisos I ao VII os quais mencionarei a seguir, temos um princpio que no est neste artigo citado e que jamais poderia deixar de falar a respeito, trata-se do princpio da solidariedade. O primeiro dos princpios a Universalidades da cobertura e do atendimento este um direito de todos. Para compreendermos este princpio precisamos dividi-lo em dois aspectos. Universalidade da cobertura direcionada do atendimento este para o sujeito que est passando por momentos inesperados ou tem a capacidade de trabalho reduzida, sendo este, segurado da previdncia. O segundo aspecto universalidade do atendimento compreende que seja, este o atendimento sade e a assistncia social, direcionado aos sujeitos que esto passando por contingncias e que no tenham como produzir o prprio sustento, ou que precisem de atendimento da rea de sade, ou seja, o SUS que o nosso Sistema nico de Sade direcionado para todos que dele necessitarem. O principio da Uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios as populaes urbanas e rurais, a igualdade que tem o trabalhador rural e o urbano, sendo os dois segurados pela previdncia social, mesmo o trabalhador rural nunca tendo contribudo para o sistema ainda assim ele amparado, tendo em vista o critrio que exerce atividade de economia familiar, ou seja, todos so iguais perante a Seguridade Social, melhor explica AUGUSTO MASSAYUKI TSUTIYA: Em obedincia ao principio da igualdade (art. 5 da constituio federal), o constituinte positivou o princpio da uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios s populaes rurais e urbanas. A partir da, em relao Seguridade Social brasileira, todos os cidados devem ter o mesmo tratamento. (...)

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A uniformidade refere-se ao objeto, s prestaes devidas em face do sistema de seguridade social, que devero ser iguais para todos. Equivalncia significa igualdade em relao ao valor pecunirio das prestaes. ( TSUTIYA, 2007,p. 37). Anteriormente Constituio de 1988, o tratamento entre os trabalhadores urbanos e rurais era muito desigual, sendo que o trabalhador urbano era mais beneficiado em relao ao rural. Fazendo uma comparao antes de 1988 o trabalhador rural poderia se aposentar com o teto mximo de meio salrio mnimo e se tratando de penso s teriam direito a 30% do salrio mnimo, a aposentadoria por idade era concedida somente aps os 65 anos e o benefcio era concedido apenas para os chefes de famlia ou arrimo de famlia. A Constituio trouxe uma previso que tambm ampara os trabalhadores rurais com mais igualdade em relao aos urbanos. O teto mnimo de benefcio para os trabalhadores rurais passou a ser de um salrio mnimo, j a aposentadoria passou a ser para mulheres aos 55 anos de idade e para os homens aos 60 anos. Uma importante mudana foi a igualdade na questo de poder aposentar no somente os chefes de famlia, mas todos que se encaixarem nos requisitos exigidos pelo sistema previdencirio. Seletividade e distributividade na prestao dos benefcios e servios, nas palavras de Marco Andr Ramos Vieira: Seletividade implica escolha- assim j se verifica que nem todos os segurados sero atendidos por todos os benefcios, como ocorre com o salrio-famlia e o auxlio-recluso, que somente so concedidos aos beneficirios de baixa renda. A funo da distributividade que, medida que as necessidades forem surgindo, as rendas iro sendo distribudas, com o objetivo de diminuir as desigualdades sociais. (VIERA, 2006, p.32). No entanto de grande importncia o entendimento que a seletividade uma ferramenta usada pelo legislador para direcionar os benefcios a quem realmente tem direito e est passando por momentos inesperados. A distributividade a maneira que se distribui o critrio de urgncia, se d o beneficio primeiro a quem tem mais necessidade de socorro reduzindo a desigualdade social.

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O principio da solidariedade tambm est atrelado seletividade e distributividade, no Direito Previdencirio os segurados so solidrios, em todo tempo, uns continuam contribuindo para o sistema enquanto outros so beneficiados por este, mas vale lembrar que no futuro tambm sero beneficirios. A nossa sociedade deve ser solidria como previsto em nosso Ordenamento Jurdico, ajudar ao prximo como a si mesmo, para termos uma sociedade em proporo de igualdade, para o mais favorecido contribuir com quem est desprovido de ter condies de uma vida digna, podendo a pessoa que passa por momentos contingentes ou mesmo quem se encontra em momentos de paz ter segurana de que no ficar sem o essencial para sua subsistncia e de sua famlia. Tambm de grande importncia o princpio da irredutibilidade do valor dos benefcios, que, a despeito da confuso doutrinria com outro princpio constitucional o da preservao do valor real dos benefcios expresso no artigo 201 4, entende-se que a irredutibilidade do valor dos benefcios visa proibir a reduo do valor nominal das prestaes. Enquanto o princpio da preservao do valor real dos benefcios visa preservar o valor real das prestaes, atravs da obrigao de se reajustar periodicamente os benefcios, mesmo que esse reajuste no seja o ideal. Seguindo o entendimento exposto j decidiu o STF: "Reajuste de benefcio de prestao continuada. ndices aplicados para atualizao do salrio-de-benefcio. Arts. 20, 1 e 28, 5, da Lei n. 8.212/91. Princpios constitucionais da irredutibilidade do valor dos benefcios (Art. 194, IV) e da preservao do valor real dos benefcios (Art. 201, 4). No violao. Precedentes. Agravo regimental improvido. Os ndices de atualizao dos salrios-de-contribuio no se aplicam ao reajuste dos benefcios previdencirios de prestao continuada." (AI 590.177-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 6-3-07, DJ de 27-4-07) O princpio da irredutibilidade do valor dos benefcios (Art. 194, IV) completado pelo princpio da preservao do valor real dos benefcios (Art. 201, 4) que, tambm, visa manter o padro econmico dos segurados que recebem os benefcios da assistncia social e da previdncia, corroborando com esse entendimento o julgado do TRF 4:

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Para melhor entendimento da questo, necessrio que se conceitue o que vem a ser o valor real do benefcio, que, de acordo com os ditames da Carta Poltica, dever ser preservado. O termo utilizado pela Constituio, valor real, no pode ser manobrado livremente pela Administrao. Refere-se a situao concreta, perfeitamente definvel. Em meu entender, o valor real, a ser preservado conforme posto na Constituio, s pode ser considerado como valor de compra, ou valor de moeda, ou seja, sua aptido para aquisio de mercadorias. De acordo com a garantia constitucional, o segurado dever poder adquirir com seus proventos, transcorridos cinco, dez ou mais anos, os mesmo, por exemplo, dez sacos de farinha que lhe eram possvel comprar por ocasio da concesso do seu benefcio. Certo que, para verificar-se sobre o cumprimento da referida garantia, tendo em vista o regime inflacionrio e a instabilidade da moeda, necessrio se faz que sejam utilizados pontos de referencia, sejam eles a variao do dlar, ou do ouro, ou de ndices de atualizao monetria, ou finalmente, da variao do preo de uma determinada mercadoria. (Tribunal Regional Federal 4 regio, AC 94.04.40607-4, RS 5a. Turma, Relatora Juza Dias Cassales, Dirio da Justia da Unio de 29.03.1995) Apesar do precedente pelo Tribunal Regional Federal 4 regio, o Supremo Tribunal Federal j decidiu que o legislador que dever definir os ndices de atualizao para manter o valor do benefcio, ou seja, manter o poder de compra, neste sentido o julgado: "Este Tribunal fixou entendimento no sentido de que o disposto no artigo 201, 4, da Constituio do Brasil, assegura a reviso dos benefcios previdencirios conforme critrios definidos em lei, ou seja, compete ao legislador ordinrio definir as diretrizes para conservao do valor real do benefcio. Precedentes." (AI 668.444-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 13-11-07, 2 Turma, DJ de 7-12-07). No mesmo sentido: AI 689.077-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 30-6-09, 1 Turma, DJE de 21-8-09. Com isso, caber ao Judicirio apenas a adequao no caso de patente desproporcionalidade do percentual adotado para o reajuste dos benefcios. O Supremo Tribunal Federal entendendo o INPC como o ndice acertado para o reajuste decidiu: A presuno de constitucionalidade da legislao infraconstitucional realizadora do reajuste previsto no art. 201, 4, C.F., somente pode ser elidida mediante demonstrao da

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impropriedade do percentual adotado para o reajuste. Os percentuais adotados excederam os ndices do INPC ou destes ficaram abaixo, num dos exerccios, em percentual desprezvel e explicvel, certo que o INPC o ndice mais adequado para o reajuste dos benefcios, j que o IGP-DI melhor serve para preos no atacado, porque retrata, basicamente, a variao de preos do setor empresarial brasileiro. (RE 376.846, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 24-9-03, Plenrio, DJ de 2-404). No mesmo sentido: AI 746.487-AgR, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 23-6-09, 1 Turma, DJE de 14-8-09. Como exposto, a jurisprudncia diferencia muito bem os princpios dispostos nos art. 194, IV e 201 4, o que no ocorre com alguns doutrinadores como Srgio Pinto Martins que ao discorrer sobre o princpio da irredutibilidade do valor dos benefcios diz, Assim, havia tambm necessidade de se determinar a irredutibilidade dos benefcios da seguridade social. uma segurana jurdica contida na constituio em benefcio do segurado diante da inflao. (MARTINS,2006,p 55). Nota -se que o autor se refere ao princpio da preservao do valor real dos benefcios, que ligado ao princpio da irredutibilidade do valor dos benefcios, ou seja, eles se completam. Equidade na forma de participao no custeio, nas palavras de Marco Andr Ramos Vieira: Este princpio implica um critrio de justia; quem pode mais, paga mais. No se confunde com igualdade, pois a equidade procura tratar desigualmente os desiguais. Ento, agindo por meio do tratamento desigual, procura-se alcanar a justia. Apenas aqueles que esto em igualdade de condies devem contribuir de forma igual. (VIEIRA, 2006, p. 32). Entende-se que so diferentes as condies de cada cidado para contribuir com o sistema previdencirio, tendo maior capacidade de contribuio os empregadores do que os empregados e variando as alquotas de arrecadao de acordo com a atividade econmica exercida por cada contribuinte. O princpio da diversidade da base de financiamento, segundo a Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, o financiamento da seguridade social se dar pela forma do art.195, in litteris:

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Art. 195. A seguridade social ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos oramentos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, e das seguintes contribuies sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salrios e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que lhe preste servio, mesmo sem vnculo empregatcio; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdncia social, no incidindo contribuio sobre aposentadoria e penso concedidas pelo regime geral de previdncia social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognsticos. IV - do importador de bens ou servios do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. (CF/88, art. 195). Essa diversidade de financiamento busca garantir que os benefcios da seguridade social, sejam sempre custeados por toda a sociedade em uma diviso que busca concretizar o princpio maior da igualdade. Por esse formato no custeio da seguridade social a Constituio de 1988 buscou tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida da sua desigualdade, concretizando, assim o princpio que corolrio dos direitos sociais. Carter democrtico e descentralizado da administrao A Carta Magna de 1988 menciona este princpio em seu artigo 194, inciso VII, com a seguinte redao: Carter democrtico e descentralizado da administrao, mediante gesto quadripartite, com participao dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos rgos colegiados. Segundo entende Augusto Massayuki Tsutiya: (...) o elemento motor da Seguridade Social a solidariedade, que, nessa instituio, adquire profunda conotao jurdica. Por isso, os prprios interessados so chamados a participar da discusso de seus problemas e a propor solues adequadas. Numa lamentvel involuo, a legislao previdenciria ptria suprimiu, por vrios lustros, a fecunda participao de trabalhadores e empresrios na direo do sistema. O constituinte acaba de resgatar a primitiva e louvvel estrutura

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democrtica e participativa dos rgos que gerem a Seguridade Social. (TSUTIYA, 2007, p.41). So estes os rgos que regem a Seguridade Social: Conselho Nacional da Previdncia Social. Conselho Nacional da Sade. Conselho Nacional da Assistncia Social. Conforme o texto Constitucional em seu artigo 10 assegurado a participao dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos rgos pblicos em que seus interesses profissionais ou previdencirios sejam objeto de discusso e deliberao.

2.2 PREVIDNCIA SOCIAL NO BRASIL

A Previdncia vem desde o seu nascimento passando por vrias mudanas, a Primognita Legislao foi introduzida em 1824 na 1 Constituio Brasileira que tratava sobre os aspectos da sade referente aos socorros pblicos. Mas anteriormente, em 1821, j havia um Decreto lei referente aposentadoria dos mestres e professores, como menciona Lazarri:

Segundo pesquisas feitas por Antnio Carlos Oliveira, o primeiro texto em matria de previdncia social no Brasil foi expedido em 1821, pelo ainda Prncipe regente, dom Pedro de Alcntara. Trata-se de um decreto de 1 de outubro daquele ano, concedendo aposentadoria aos mestres e professores, aps 30 anos de servio, e assegurando um abono de (um quarto) dos ganhos aos que continuassem em atividade. (LAZARRI, 2006, p.64). Em 1835, pelo Decreto de regncia de 10 de janeiro, criando o Montepio Geral dos Servidores do Estado, Mongeral, caracterizado pelo sistema mutualista e veio para

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dar segurana aos familiares de servidores pblicos garantido, que quando falecesse um empregado pblico sua famlia teria direito de receber o mnimo para sua subsistncia. Tambm foi instituda a garantia de remunerao de trs meses para comerciantes acidentados previsto no Cdigo Comercial em seu art. 79. Somente em 1891 esteve presente na Constituio pela primeira vez a aposentadoria, sendo beneficirios desta os servidores em caso de invalidez a servio da nao, sem exigncia de contribuio. Um marco muito importante foi o Decreto Legislativo 4.682, que entrou em vigor em 24 de janeiro de 1923, sendo consagrado como Lei Eloy Chaves. Sendo a primeira lei a instituir no Brasil a Previdncia Social, com a concepo da caixa de Aposentadoria e Penso dos ferrovirios, de nvel nacional. Sendo, portanto os benefcios aposentadoria por invalidez, penso por morte e assistncia mdica. A Constituio de 1934 trouxe vrias formas de proteo ao trabalhador, ao idoso, ao invlido e gestante. Ao trabalhador foi atribudo previso de assistncia mdica e sanitria juntamente com a gestante a qual tambm Foi reconhecido seu direito do descanso antes e aps o parto, sem sofrer prejuzo no salrio e emprego, Foi nesta data que inseriu a forma de trplice custeio tendo como contribuintes obrigatrios , o Estado, empregado e empregador. Passados trs anos veio a Carta Magna de 1937, que foi renovada com a expressa forma de seguro social, contendo seguro de velhice, seguro invalidez, seguro de vida e seguro para acidente de trabalho. Somente em 1946 apareceu a expresso Previdncia Social surgindo pela primeira, juntamente com riscos sociais, a doena, a maternidade, velhice, a invalidez e a morte. Mantendo o custeio tripartido. A Lei Orgnica da Previdncia Social, Lei 3.807 de 1960, instituiu o Ministrio do Trabalho e Previdncia Social. Nesta lei foram criados vrios benefcios: auxlio-natalidade, auxlio-funeral o auxlio-recluso. Reconheceu como segurados todos que exercessem emprego ou atividade remunerada no territrio nacional.

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Os trabalhadores rurais foram agraciados em 1963 com a criao do Fundo de Assistncia do Trabalhador Rural, pela Lei 4.214. Em 1967 veio a Constituio que trouxe a precedncia do custeio e relao criao de novos benefcios. Desta forma toda vez que for criado pelo legislador novo benefcio dever informar sua fonte de custeio. Pela Lei 5.316, de setembro de 1967, foi interligado o seguro de acidente do trabalho ao sistema previdencirio. A nossa atual Constituio, inseriu em seu texto a Seguridade Social, que composta pela Previdncia Social, Assistncia Social e Sade. Importante marco a garantia de renda mensal vitalcia a idosos e portadores de deficincia, desde que comprovada a baixa renda per capita familiar, benefcio da assistncia social. No Brasil adotada a filosofia Bismarckiana de seguro social, como explica Augusto Massayuki Tsutiya: A filosofia Bismarckiana exclui aqueles que no possuem disponibilidade financeira para participar do sistema. (Tsutiya,2006,p.207) Mas o grupo excludo que no participa do sistema da previdncia no fica desamparado pela nossa Carta Magna como veremos adiante sero amparados por outro sistema, integrante da Seguridade Social. Ocorre que a Previdncia Social organizada em Regimes Previdencirios: Regime Geral de Previdncia, Regime Prprio, Regime de Previdncia Complementar de natureza Pblica e o Regime de previdncia Privada. Regime Geral de Previdncia sua filiao de carter obrigatrio, para todos que exercem atividade econmica e auferem lucro. Todos so filiados ao sistema, mas nem todos so inscritos. Tambm podem se inscrever no Regime Geral de Previdncia os segurados facultativos que se ingressam por opo no sendo obrigados a inscreverem no sistema.

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So segurados obrigatrios, o empregado, o empregado domstico, o contribuinte individual, o trabalhador avulso, e o segurado especial. O segurado empregado definido, em regra, como pessoa fsica que presta servios ao empregador, mediante remunerao, sob dependncia deste e em carter no eventual conforme a legislao (art.3 da CLT c/c art.12 da Lei n 8.212/1991). (...) Empresa, para Previdncia Social, tanto o empregador pessoa fsica como pessoa jurdica, podendo ser firma individual ou a sociedade que assuma o risco da atividade econmica, com ou sem fins lucrativos, incluindo os rgos e as entidades pblicas. (VIEIRA, 2006, P.74,75). A Lei 8.213 traz o rol dos segurados obrigatrios:

Art. 11. So segurados obrigatrios da Previdncia Social as seguintes pessoas fsicas: I - como empregado: Aquele que presta servio de natureza urbana ou rural empresa, em carter no eventual, sob sua subordinao e mediante remunerao, inclusive como diretor empregado; Aquele que, contratado por empresa de trabalho temporrio, definida em legislao especfica, presta servio para atender a necessidade transitria de substituio de pessoal regular e permanente ou a acrscimo extraordinrio de servios de outras empresas; O brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agncia de empresa nacional no exterior; Aquele que presta servio no Brasil a misso diplomtica ou a repartio consular de carreira estrangeira e a rgos a elas subordinados, ou a membros dessas misses e reparties, excludos o no-brasileiro sem residncia permanente no Brasil e o brasileiro amparado pela legislao previdenciria do pas da respectiva misso diplomtica ou repartio consular; O brasileiro civil que trabalha para a Unio, no exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que l domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislao vigente do pas do domiclio; O brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do capital votante pertena empresa brasileira de capital nacional; O servidor pblico ocupante de cargo em comisso, sem vnculo efetivo com a Unio, Autarquias, inclusive em regime especial, e Fundaes Pblicas Federais.

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O exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que no vinculado a regime prprio de previdncia social; O empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em funcionamento no Brasil, salvo quando coberto por regime prprio de previdncia social; O exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que no vinculado a regime prprio de previdncia social; (Lei 8213, art.11) Portanto como mencionado na lei todos os trabalhadores so segurados obrigatrios da Previdncia Social, no importa se so temporrios, rurais, urbanos, domsticos, ou se prestam servio no exterior, exercendo atividade remunerada j se caracteriza a qualidade de trabalhador e dever ter proteo dos seguros previdencirios. Empregado Domstico bem parecido com o Empregado, porm presta servio a pessoa fsica ou famlia. Como empregado domstico: aquele que presta servio de natureza contnua a pessoa ou famlia, no mbito residencial desta, em atividades sem fins lucrativos (art.11, II, Lei 8213/91) Contribuinte individual: V - como contribuinte individual: a pessoa fsica, proprietria ou no, que explora atividade agropecuria, a qualquer ttulo, em carter permanente ou temporrio, em rea superior a 4 (quatro) mdulos fiscais; ou, quando em rea igual ou inferior a 4 (quatro) mdulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxlio de empregados ou por intermdio de prepostos; ou ainda nas hipteses dos 9 o e 10 deste artigo b) a pessoa fsica, proprietria ou no, que explora atividade de extrao mineral - garimpo, em carter permanente ou temporrio, diretamente ou por intermdio de prepostos, com ou sem o auxlio de empregados, utilizados a qualquer ttulo, ainda que de forma no contnua; o ministro de confisso religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de congregao ou de ordem religiosa; d) (Revogado pela Lei n 9.876, de 26/11/99) e) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil membro efetivo, ainda que l domiciliado e contratado, salvo quando coberto por regime prprio de previdncia social;

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f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor no empregado e o membro de conselho de administrao de sociedade annima, o scio solidrio, o scio de indstria, o scio gerente e o scio cotista que recebam remunerao decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direo em cooperativa, associao ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o sndico ou administrador eleito para exercer atividade de direo condominial, desde que recebam remunerao; g) quem presta servio de natureza urbana ou rural, em carter eventual, a uma ou mais empresas, sem relao de emprego; h) a pessoa fsica que exerce, por conta prpria, atividade econmica de natureza urbana, com fins lucrativos ou no; ( Lei 8213/91,art.11,V). Os contribuintes individuais em regra so os autnomos, ministros religiosos, vendedores ambulantes, ou seja, todos trabalham por conta prpria sem terem vnculo empregatcio algum. O trabalhador avulso: VI - como trabalhador avulso: quem presta, a diversas empresas, sem vnculo empregatcio, servio de natureza urbana ou rural definidos no Regulamento. (Lei 8213/91, art.11, VI). O trabalhador avulso presta servio a diversas empresas, s vezes sindicalizado, podem prestar servio de natureza urbana ou rural, no possuem vinculo empregatcio, quando em diversas empresas deve ter a sindicalizao obrigatria, ou quando se trata de atividade porturia, do rgo gestor de mo- de- obra. E por ltimo os Segurados Especiais: VII como segurado especial: a pessoa fsica residente no imvel rural ou em aglomerado urbano ou rural prximo a ele que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxlio eventual de terceiros, na condio de; a) produtor seja proprietrio, usufruturio, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgado, comodatrio ou arrendatrio rurais, que explore atividade; 1. agropecuria em rea de at 4 (quatro) mdulos fiscais; 2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exera suas atividades nos termos do inciso XII do caput do art. 2 o da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, e faa dessas atividades o principal meio de vida;

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b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faa da pesca profisso habitual ou principal meio de vida; c) cnjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alneas a e b deste inciso, que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo. 1o Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da famlia indispensvel prpria subsistncia e ao desenvolvimento socioeconmico do ncleo familiar e exercido em condies de mtua dependncia e colaborao, sem a utilizao de empregados permanentes. (Lei 8213/91 art.11, VII, 1). So especiais pelo motivo de possurem base de clculo diferenciada em relao aos demais segurados do Regime Geral de Previdncia Social. Enquanto a base de clculo dos demais segurados o salrio-de-contribuio, para os segurados especiais a receita bruta da comercializao da produo rural. O segurado facultativo, pertencente ao Regime Geral de Previdncia, porm em carter no obrigatrio. segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos que se filiar ao Regime Geral de Previdncia Social, mediante contribuio, desde que no includo nas disposies do art. 11 (art.13, Lei 8.213/91). Podem se inscrever como segurados facultativo exemplo: as donas de casa, os estagirios, os desempregados e os brasileiros residentes no exterior. A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 menciona em seu artigo 201, a Previdncia Social e prev o rol de contingncias cobertas pela Previdncia Social: Art. 201. A previdncia social ser organizada sob a forma de regime geral, de carter contributivo e de filiao obrigatria, observados critrios que preservem o equilbrio financeiro e atuarial, e atender, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doena, invalidez, morte e idade avanada; II - proteo maternidade, especialmente gestante; III - proteo ao trabalhador em situao de desemprego involuntrio; IV - salrio-famlia e auxlio-recluso para os dependentes dos segurados de baixa renda;

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V - penso por morte do segurado, homem ou mulher, ao cnjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no 2. (Constituio art. 201). Conforme previso da Lei 8.213/91, so estes, os benefcios da Previdncia Social: auxlio-doena, auxlio- acidente, auxlio-recluso, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuio, aposentadoria especial, aposentadoria por invalidez, salrio- famlia, salrio maternidade, penso por morte. Dentre todos os benefcios existem os que s podem ser pagos aos dependentes do segurado: auxliorecluso, penso por morte. Como todo seguro, Previdncia Social tambm faz meno aos requisitos, para o trabalhador ter a qualidade de segurado. Ser filiado ao sistema Previdencirio todo trabalhador , mas para ser um segurado preciso inscrever e contribuir para o sistema. Regime Prprio de Previdncia dos agentes pblicos e ocupantes de cargos efetivos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municpios. Conforme previso legal: O servidor civil ocupante de cargo efetivo ou o militar da Unio, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municpios, bem como o das respectivas autarquias e fundaes, so excludos do Regime Geral de Previdncia Social consubstanciado nesta Lei, desde que amparados por regime prprio de previdncia social (ART.12, LEI 8.213/91) O Regime Prprio, de Previdncia dos funcionrios pblicos dividido da seguinte forma servidor civil e servidor militar, os servidores civis tem o Regime previsto no art.40 da Constituio de 1988. J os servidores militares aparecem no art.142,3, X. Temos tambm os Regimes de Previdncia complementar: Fechada e aberta. A Previdncia Complementar fechada direcionada somente aos servidores pblicos, mas de forma facultativa. A Previdncia Complementar aberta direcionada para qualquer pessoa fsica que queira suplementar o benefcio previdencirio oficial.

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No Brasil , portanto adotado trs Regimes Previdencirios sendo Regime Geral de Previdncia, Regime Prprio e os Regimes Complementares abertos e fechados.

2.3 SADE

A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao, conforme previso legal constitucional. No Brasil adotado o sistema nico de sade, oferecido para todos que precisarem de atendimento mdico dentro do territrio nacional, para usufruir do sistema nico de sade no necessrio contribuio pecuniria, sendo este financiado (...), com recursos do oramento da seguridade social, da unio, dos Estados, do Distrito Federal, e dos Municpios, alm de outras fontes. (Constituio/88, art.1981). O atendimento pelo SUS um direito universal e igualitrio para toda populao, todos que esto em nosso Territrio Nacional tem direito sade.

2.4 ASSISTNCIA SOCIAL E SEUS PRINCPIOS

Segundo Augusto Massayuki Tsutiya: A Assistncia Social constitui-se num dos primeiros sistemas de proteo social, desde o Cdigo de Hamurbi (Babilnia), do Cdigo de Manu (ndia) e da Lei XII Tbuas, passando pela Era Contempornea por meio das famosas Poor Laws, de inspirao inglesa. No Brasil, tal sistema foi implantado na forma de Assistncia Mdica, tendo sido pioneira a Santa Casa de Misericrdia de santos. Como o prprio nome sugere, tratava-se

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de caridade, para os que nada tinham e viviam em estado de miserabilidade (TSUTIYA, 2007, P.415). Desde o surgimento da Assistncia Social, ela tem um carter de ajuda ao prximo ao desamparado, ocorreram mudanas quanto ao objetivo, mas a finalidade ainda continua sendo a mesma, ou seja, amparar o desamparado. No Brasil somente em 1988 Assistncia Social foi introduzida de modo sistemtico na Constituio com o seguinte texto: A assistncia social ser prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuio seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice; II - o amparo s crianas e adolescentes carentes; III - a promoo da integrao ao mercado de trabalho; IV - a habilitao e reabilitao das pessoas portadoras de deficincia e a promoo de sua integrao vida comunitria; V - a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei (CF/88, ART.203). A Assistncia Social direcionada a pessoas de baixa renda, que no tem como prover sua subsistncia, ou que sua renda no atinja o mnimo necessrio para sobreviver, podendo receber algum benefcio ou servio no sendo exigida prvia contribuio. Os Princpios que regem a Assistncia Social so estabelecidos pela Lei 8.242/93, vejamos. Supremacia do atendimento s necessidades sociais sobre as exigncias de rentabilidade econmica, bom j que Assistncia Social veio para suavizar o estado de miserabilidade da populao, atravs da solidariedade. Portando dever o atendimento ao carente satisfazer suas necessidades independentes do gasto que ter a Seguridade social.

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O princpio do respeito dignidade do cidado, Assistncia dever prestar servio digno, para indivduo que dela necessitar, no permitindo que este passe por situaes de vergonha ou que exponha sua realidade de vida ao ridculo. Ampla divulgao de prestaes, programas e projetos assistenciais, princpio adotado pela Lei 8742/93, art. 4, devero os programas assistenciais ser divulgados para toda populao. Tendo o objetivo de abordar a classe que realmente necessite de ser amparada pela Assistncia Social. Universalidade de cobertura e atendimento, todos que precisarem da Assistncia social e que realmente estiverem dentro dos requisitos exigidos pelo legislador, devero ser amparados por ela como estipula a Carta Magna de 1988. Seletividade e distributividade de benefcios e servios, deveramos ter um pas, mas justo e igual para todos, bom seria se todos pudessem gozar em igualdade os prazeres que a vida oferece, mas como infelizmente estamos muito longe desta realidade econmica, o legislador tem em suas mos o princpio em questo para selecionar e distribuir os benefcios a quem deles mais necessitarem. A proteo aos indivduos em situao de vulnerabilidade ou risco social, em se tratando de Assistncia Social tem est proteo as pessoas que esto passando por momento de precariedade, ou seja, no possuem nem o mnimo para sobreviver e devero ser protegidas, este princpio encontra-se inserido na Constituio de 1988 em seu art.203, I, II, V. O princpio da promoo da integrao sociedade e ao mercado de trabalho, o direito que todos tm de viver com dignidade na sociedade, j que no d para sermos todos iguais em condies econmicas, temos o direito que dever do Estado de prover a dignidade da humanidade. Princpio da descentralizao poltico-administrativa, nas palavras de

AUGUSTO MASSAYUKI TSUTIYA:

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Esse princpio encontra-se positivado no art.204, I, da Constituio Federal, com intuito de atingir com mais eficcia os indivduos e as populaes em situao de maior necessidade. A coordenao e a expedio de normas gerais cabem esfera federal, s esferas estaduais e municipais, bem como a entidades beneficentes e de Assistncia Social que prestem servios na rea de utilidade pblica. Para operacionalizao do sistema descentralizado e participativo foi concebido o Sistema nico de Assistncia Social SUAS, que regula em todo o territrio nacional a hierarquia, os vnculos e as responsabilidades do sistema de servios, benefcios programas e projetos de assistncia social. (TSUTIYA, 2007, p.424). Com este princpio faz-se a diviso para cada rgo competente da Assistncia Social, de acordo com suas funes, portanto no de responsabilidade somente de um o desenvolvimento da Assistncia, mas de todos. Compete tambm populao participar da elaborao das polticas assistenciais e no controle de todas as aes em todos os nveis, conforme previso constitucional artigo 204, II.

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3. BENEFCIO DE PRESTAO CONTINUADA

A Constituio prev o Benefcio de Prestao Continuada em seu artigo 203, V: a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei. (CF/88, art.203, V). O Benefcio de Prestao Continuada um benefcio de carter assistencial, no necessitando o beneficirio de verter contribuies para o sistema de previdncia, podendo o idoso com idade mnima de 65 anos e o deficiente receber um salrio mnimo como garantia de uma vida digna. O Benefcio de Prestao Continuada est previsto nos artigos 20 e 21 da Lei 8.742/93 - Lei Orgnica da Assistncia Social LOAS, a seguir traaremos um breve panorama dos antecedentes histricos do aludido benefcio.

3.1 HISTRICO

Em 1974 foi instituda a Lei 6.179 que previa o amparo previdencirio, era um benefcio direcionado aos idosos com idade mnima de 70 anos ou invlidos, com requisitos de ser absolutamente incapacitados para o trabalho, no poderiam exercer atividade remunerada e no poderiam auferir renda com valor mensal correspondente a 60% do valor do salrio mnimo da poca. Passado quase vinte anos veio a Lei 8.213 de 1991 determinando que: (...) a renda mensal vitalcia continuaria integrando o benefcio da Previdncia Social, at que fosse regulamentado o inciso V do art. 203 da Constituio. Era devida ao maior de 70 anos ou invlido que no exercessem atividade remunerada, no auferindo qualquer rendimento superior ao valor se sua renda mensal, nem fosse mantido por pessoa de quem dependessem obrigatoriamente, no tendo outro meio de prover o prprio

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sustento. O valor do benefcio era de um salrio mnimo. Seria vedada sua acumulao com qualquer espcie de benefcio do Regime Geral de Previdncia Social ou de outro regime (MARTINS, 2006,p.482). A Lei 8.742, em seu art. 40, prescreveu que com o Benefcio de Prestao Continuada ficaria extinta a renda mensal vitalcia, a qual fazia aluso o art.139 da Lei 8.213. Em 1996 o art. 139 da Lei 8.213 foi revogado vindo o Benefcio de Prestao Continuada ser previsto no art. 20 e 21 da Lei 8.742/93. O Benefcio de Prestao Continuada foi regulamentado pelo Decreto 1.744 em 1995. Nos dias atuais prevalece a Lei Orgnica da Assistncia Social n 8.742 de 7 de dezembro de 1993, a qual analisaremos adiante.

3.2 REGULAMENTAO DA LEI ORGNICA DE ASSISTNCIA SOCIAL

A Constituio em seu art.203, V, prev a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei. Este artigo foi regulamentado pela Lei Orgnica de Assistncia Social 8.742/93, estipulando que Beneficio de Prestao Continuada, deve ser concedido para os idosos com idade mnima de 70 anos, e as pessoas portadoras de deficincia que no tiverem meios de prover a sua prpria manuteno ou t-la provida por sua famlia. O critrio da idade foi reduzido para 65 anos devido alterao pelo art. 34 da Lei 10.741 de 2003. Entende-se como famlia para concesso do Benefcio em tela o que prev o art.16 da lei 8.213:

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I- o cnjuge, a companheira, o companheiro e o filho no emancipado de qualquer condio, menor de vinte e um anos ou invlido; II - os pais; ou III - o irmo no emancipado, de qualquer condio, menor de vinte e um anos ou invlido. (Lei 8213/91, art.16). A Lei considera pessoa idosa e portadora de deficincia que so incapazes de produzir o prprio sustento, as pessoas cuja renda per capita familiar no exceda do salrio mnimo. Mesmo o beneficirio estando em situao de internado tem direito ao Benefcio de Prestao Continuada. A Lei regulamenta que para a concesso do Benefcio ficar a pessoa sujeita a exame mdico pericial realizado pelo INSS Instituto Nacional do Seguro Social. Explica Sergio Pinto Martins: Na hiptese de o exame mdico indicar procedimentos de reabilitao ou habilitao para pessoa portadora de deficincia, ser-lhe- concedido o benefcio enquanto durar o processo de reabilitao ou habilitao, de carter obrigatrio, ocorrendo quando for constatada a interrupo do processo mencionada. Inexistindo servios credenciados no Municpio de residncia do beneficirio, fica assegurado seu encaminhamento ao Municpio mais prximo que contar com tal estrutura. A renda familiar mensal dever ser declarada pelo requerente ou representante legal, sujeitando-se aos demais procedimentos previstos no regulamento para deferimento do pedido. Ser o Benefcio de Prestao Continuada devido a partir de 1 1-96. (MARTINS, 2005, p. 484).

O Benefcio deve ser reavaliado a cada dois anos, necessria uma avaliao para verificar se deve o beneficirio continuar recebendo ou no, o motivo da reavaliao para evitar fraudes. O Benefcio findar em hiptese de superao dos requisitos de sua concesso, em caso de morte do beneficirio ou ausncia declarada.

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O benefcio no tem carter sucessrio falecendo o beneficirio no ter seus dependentes direito penso por morte, e ser cortado quando for verificada irregularidade na sua concesso ou utilizao. A suspenso do Benefcio ocorrer quando for comprovada irregularidade, tendo o Beneficirio prazo de 30 dias para prestar esclarecimentos e produzir as provas que forem cabveis. Os beneficirios do Benefcio de Prestao Continuada no recebem o abono anual, pois este devido somente a aposentados e pensionistas. Quem recebe o Benefcio de Prestao Continuada no pode receber nenhuma outra prestao da previdncia, tendo direito a assistncia mdica pelo SUS. O Benefcio ser concedido depois de verificada toda documentao do requerente, exigindo que prove sua renda per capita familiar, sua idade e podendo ser exigido o laudo mdico feito pelo o INSS que comprove no ter o requerente condies de produzir sua manuteno. So beneficirias do Benefcio de prestao Continuada, as pessoas idosas com 65 anos e pessoas com deficincia. O benefcio destinado a idosos que no tm direito previdncia social e as pessoas com deficincia que no podem trabalhar e levar uma vida independente. O objetivo do Benefcio de Prestao Continuada est em garantir um salrio mnimo mensal s pessoas idosas e pessoas deficientes, que comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno nem t-la produzida por sua famlia.

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4. BENEFCIO DE PRESTAO CONTINUADA E O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL O Supremo Tribunal Federal j se deparou com questes importantes sobre o benefcio em comento. O art. 203, inciso V da Constituio Federal de 1988, assevera:

A assistncia social ser prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuio seguridade social, e tem por objetivos: V - a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, conforme dispuser a lei. Com fulcro neste artigo e em outros princpios constitucionais o Supremo Tribunal Federal vem decidindo controvrsias como, a competncia da Unio para a manuteno do benefcio de prestao continuada: "Procedncia da alegao do Estado do Paran de afronta ao art. 203, V, da Constituio Federal, j que compete Unio e no ao Estado a manuteno de benefcio de prestao continuada pessoa portadora de deficincia fsica." (RE 192.765, Rel. Min. Ilmar Galvo, julgamento em 20-4-99, DJ de 13-8-99) Tambm, foi instado a decidir acerca da eficcia do dispositivo, nos seguintes arestos: "Previdencirio. Renda Mensal Vitalcia. Art. 203, V, da Constituio Federal. Dispositivo no auto-aplicvel, eficcia aps edio da Lei 8.742, de 7-12-93." (RE 401.127-ED, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 30-11-04, DJ de 17-12-04) "Embargos recebidos para explicitar que o inc. V do art. 203 da CF tornou-se de eficcia plena com o advento da Lei 8.742/93." (RE 214.427-AgR-ED-ED, Rel. Min. Nelson Jobim, julgamento em 21-8-01, DJ de 5-10-01) Questo das mais importantes foi decidida na ADI 1.232, DJ de 01.06.2001: "Impugna dispositivo de lei federal que estabelece o critrio para receber o benefcio do inciso V do art. 203, da CF. Inexiste a restrio alegada em face ao prprio dispositivo constitucional que reporta lei para fixar os critrios de garantia do benefcio

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de salrio mnimo pessoa portadora de deficincia fsica e ao idoso. Esta lei traz hiptese objetiva de prestao assistencial do Estado." (ADI 1.232, Rel. p/ o ac. Min. Nelson Jobim, julgamento em 27-8-98, DJ de 1-6-01) Cabe aqui uma considerao, qual seja, que o STF ao decidir o inciso V do art.203 da CF/88 um dispositivo de eficcia contida, que segundo o esclio de Jose Afonso da Silva tal dispositivo apenas se tornar eficaz, no sentido de apenas poder ser aplicvel na prtica, quando houver lei regulamentando-o. Aps essa deciso, tomada no RE 214.427, a discusso acerca da ADI 1.232, foi coerente com o entendimento consolidado. De tal modo, a deciso na ADI 1.232, determinando a constitucionalidade do critrio para receber o benefcio do inciso V do art. 203, da CF, mais precisamente determinou-se a constitucionalidade do 3 do art.20 da Lei 8.742/93, que dispe Considera-se incapaz de prover a manuteno da pessoa portadora de deficincia ou idosa a famlia cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salrio mnimo.. Confirmando a deciso tomada na citada ADI o STF j se pronunciou, citamos:

" constitucional a insuficincia tarifada do 3 do artigo 20 da Lei n. 8.742/93 viso da ilustrada maioria, em relao a qual guardo reserva, proclamada no julgamento da Ao Direta de Inconstitucionalidade n. 1.232-1/DF." (AI 473.378-AgR, Rel. Min. Marco Aurlio, julgamento em 26-4-07, DJ de 24-8-07) Ainda, esclarecendo a violao ao julgado na ADI 1.232 a jurisprudncia do egrgio Supremo Tribunal Federal: "Previdncia Social. Benefcio assistencial. Lei n. 8.742/93. Necessitado. Deficiente fsico. Renda familiar mensal per capita. Valor superior a 1/4 (um quarto) do salrio mnimo. Concesso da verba. Inadmissibilidade. Ofensa autoridade da deciso proferida na ADI n. 1.232. Liminar deferida em reclamao. Agravo improvido. Ofende a autoridade do acrdo do Supremo na ADI n. 1.232, a deciso que concede benefcio assistencial a necessitado, cuja renda mensal familiar per capita supere o limite estabelecido pelo 3 do art. 20 da Lei federal n. 8.742/93." (Rcl 4.427-MC-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 6-6-07, DJ de 29-6-07)

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Entendendo que no viola o decidido na ADI 1.232, o Recurso Extraordinrio de relatoria do Min. Cezar Peluso: Benefcio de prestao continuada. Art. 203, V, da CF/88. Critrio objetivo para concesso de benefcio. Art. 20, 3, da Lei n. 8.742/93 c.c.art. 34, nico, da Lei n. 10.741/2003. Violao ao entendimento adotado no julgamento da ADI n. 1.232/DF. Inexistncia. Recurso extraordinrio no provido. No contraria o entendimento adotado pela Corte no julgamento da ADI n. 1.232/DF, a deduo da renda proveniente de benefcio assistencial recebido por outro membro da entidade familiar (art. 34, nico, do Estatuto do Idoso), para fins de aferio do critrio objetivo previsto no art. 20, 3, da Lei n. 8.742/93 (renda familiar mensal per capita inferior a 1/4 do salrio-mnimo). (RE 558.221, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento 15-4-08, DJE de 16-5-08).

Neste Recurso Extraordinrio acima citado, o STF determinou que o dispositivo de outra lei, no caso o Estatuto do Idoso, que impe a deduo da renda proveniente de benefcio assistencial recebido por outro membro da entidade familiar (art. 34, nico, do Estatuto do Idoso), para fins de aferio do critrio objetivo previsto no art. 20, 3, da Lei n. 8.742/93, no viola o entendimento: segundo o qual na deciso proferida na ADI n 1.232 o Tribunal definiu que o critrio de do salrio mnimo objetivo e no pode ser conjugado com outros fatores indicativos da miserabilidade do indivduo e de seu grupo familiar, cabendo ao legislador, e no ao juiz na soluo do caso concreto, a criao de outros requisitos para a aferio do estado de pobreza daquele que pleiteia o benefcio assistencial. (Rcl AgR 2.303/RS, DJ 1.4.2005). Com isso, restou consignado que o critrio, determinado pela Lei 8.742/93, de do salrio mnimo objetivo, assim a miserabilidade do indivduo determinada pelo legislador. Destarte, recentemente o Supremo declarou que h repercusso geral no RE 567985 RG / MT, que foi impetrado contra deciso da Turma Recursal do Juizado Especial Federal do Matogrosso do Sul que determinou a concesso do beneficio

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assistencial, mesmo no preenchendo os requisitos da Lei 8.742/93. Contudo, o caso mpar, pois a Turma Recursal reconheceu que o critrio objetivo de aferio do estado de pobreza foi modificado de para meio salrio mnimo, pelo o disposto na Lei n 9.533/97 (art.5, I) e Lei n 10.689/2003 (art.2, 2). Vejamos a ementa que aceitou a repercusso geral na questo: REPERCUSSO GERAL BENEFCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAO CONTINUADA - IDOSO RENDA PER CAPITA FAMILIAR INFERIOR A MEIO SALRIO MNIMO ARTIGO 203, INCISO V, DA CONSTITUIO FEDERAL. Admisso pelo Colegiado Maior. (RE 567985 RG, Relator (a): Min. MARCO AURLIO, julgado em 08/02/2008, DJe-065 DIVULG 10-04-2008 PUBLIC 11-042008 EMENT VOL-02314-08 PP-01661 ) Salientamos como dito alhures, que entendimento consolidado no STF que o critrio de miserabilidade disposto no art. 20, 3 da Lei 8.742/93 apenas pode ser modificado por lei, no pode o Juiz utilizar de outros critrios para determinar a miserabilidade no caso concreto, entendimento esse muito contestado e que no aderimos visto que os objetivos da assistncia social no se coadunam com esse juzo restritivo. Mas no podemos nos apartar da realidade que impera, atualmente, na jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, que no nos deixa outra sada que aceitar o decidido na ADI 1.232. Contudo, sempre haver uma luz no fim do tnel, e esta luz o RE 567985 RG, que utilizou critrios legais e objetivos para aplicar normas mais favorveis ao assistido. A nosso ver a Turma Recursal equivocou-se ao dizer que as leis n 9.533/97 e n 10.689/2003 revogaram o critrio do art. 20, 3 da Lei 8.742/93, pois ocorreu na verdade foi uma interpretao mais favorvel aos objetivos da constituio. Segundo Luis Roberto Barroso Chama-se teleolgico o mtodo interpretativo que procura revelar o fim da norma, o valor ou bem jurdico visado pelo ordenamento com a edio de dado preceito. (Interpretao e aplicao da Constituio: fundamentos de uma dogmtica constitucional transformadora, 6 Ed. 2008, pag. 138). Ainda segundo o mesmo autor:

O legislador brasileiro, em uma das raras excees em que editou uma lei de cunho interpretativo, agiu, precisamente, para

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consagrar o mtodo teleolgico, ao dispor, no art. 5 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil, que na aplicao da lei o juiz atender aos fins sociais a que ela se dirige e s exigncias do bem comum.(BARROSO,2008,p.140). Assim, a CF/88, segundo Luis Roberto Barroso, no artigo 3 determina o vetor interpretativo de toda a atuao dos rgos pblicos ao dispor sobre os objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil, entre eles o inciso III define a erradicao da pobreza e da marginalizao e a reduo das desigualdades sociais e regionais como um dos objetivos. Contudo no apenas o mtodo teleolgico que dever ser utilizado neste caso, com mais razo ser o uso do mtodo da interpretao sistemtica, que busca uma viso estrutural de todo o sistema legal. A partir desses mtodos interpretativos podemos chegar a uma concluso que permita, no caso concreto, utilizar os critrios da Lei 9.533/97 e a Lei n 10.689/2003, para isso, vejamos a lei 9.533/97 que Autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro aos Municpios que institurem programas de garantia de renda mnima associados a aes socioeducativas., determinando em seu Art. 5 que: Observadas as condies definidas nos arts. 1 e 2, e sem prejuzo da diversidade de limites adotados pelos programas municipais, os recursos federais sero destinados exclusivamente a famlias que se enquadrem nos seguintes parmetros, cumulativamente: 0I - renda familiar per capita inferior a meio salrio mnimo; II - filhos ou dependentes menores de catorze anos; III - comprovao, pelos responsveis, da matrcula e freqncia de todos os seus dependentes entre sete e catorze anos, em escola pblica ou em programas de educao especial. J a Lei 10.689/2003 que Cria o Programa Nacional de Acesso Alimentao PNAA., dispe em seu art. 2, 2, que: Os benefcios do PNAA sero concedidos, na forma desta Lei, para unidade familiar com renda mensal per capita inferior a meio salrio mnimo.

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Dessa forma, utilizando-se outros dispositivos legais para se alterar no caso concreto o critrio objetivo da Lei 8.742/93, atravs de uma interpretao que permita revelar o bem jurdico visado pelo ordenamento e analisar o sistema jurdico da Assistencial Social como um todo. Asseveramos, que a interpretao da Lei 8.742/93, Art. 20, 3 em conjunto com a legislao posterior, no foi objeto da ADI n 1.232, com decidido e bem esclarecido na Rcl n 4.280/RS, Rel. Min. Seplveda Pertence, DJ 30.6.2006. Nos dizeres de Luis Roberto Barroso, como ocorreu na doutrina do equal but separate (iguais, mas separados), forma dissimulada de discriminao praticada, em diversos Estados do Estados Unidos, esperamos que no Brasil, tambm, o Supremo Tribunal Federal evolua da discriminao total, ocorrida antes da edio da lei 8.742/93, para a discriminao atenuada, com a no aceitao de critrios subjetivos aferidos em cada caso, para, depois chegarmos a no discriminao, quando os juzes puderem, ento, aferir a miserabilidade no caso concreto. Por oportuno cito parte do voto do Min. Gilmar Mendes na RCL 4374: A anlise dessas decises me leva a crer que, paulatinamente, a interpretao da Lei n 8.742/93 em face da Constituio vem sofrendo cmbios substanciais neste Tribunal. De fato, no se pode negar que a supervenincia de legislao que Estabeleceu novos critrios mais elsticos para a concesso de outros benefcios assistenciais - como a Lei n 10.836/2004, que criou o Bolsa Famlia; a Lei n 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso Alimentao; a Lei n 10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei n 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro a Municpios que institurem programas de garantia de renda mnima associados a aes socioeducativas; assim como o Estatuto do Idoso (Lei n 10.741/03) - est a revelar que o prprio legislador tem reinterpretado o art. 203 da Constituio da Repblica. Os inmeros casos concretos que so objeto do conhecimento dos juzes e tribunais por todo o pas, e chegam a este Tribunal pela via da reclamao ou do recurso extraordinrio, tm demonstrado que os critrios objetivos estabelecidos pela Lei n 8.742/93 so insuficientes para atestar que o idoso ou o deficiente no possuem meios de prover prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia. Constatada tal insuficincia, os juzes e tribunais nada mais tm feito do que comprovar a

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condio de miserabilidade do indivduo que pleiteia o benefcio por outros meios de prova. No se declara a inconstitucionalidade do art. 20, 3o, da Lei n 8.742/93, mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse parmetro objetivo seja conjugado, no caso concreto, com outros fatores indicativos do estado de penria do cidado. Em alguns casos, procede-se interpretao sistemtica da legislao superveniente que estabelece critrios mais elsticos para a concesso de outros benefcios assistenciais. Tudo indica que como parecem ter anunciado as recentes decises proferidas neste Tribunal (acima citadas) - tais julgados poderiam perfeitamente se compatibilizar com o contedo decisrio da ADI n 1.232. Atravs de uma interpretao sistemtica das leis que tratam do Beneficio Assistencial de prestao continuada, bolsa famlia e do auxilio alimentao, podemos dizer que seria incongruente uma pessoa que receba os dois ltimos no possa receber o primeiro por no conseguir cumprir o requisito objetivo do art. 20, pargrafo 3. O ordenamento deve ser entendido como um sistema harmnico, com isso, devemos entender a miserabilidade como um conceito a ser apreendido pela analise de todo o ordenamento relacionado com a assistncia social, no como um critrio isolado em que cada benefcio assistencial determinaria quem seria miservel para esse ou aquele benefcio. Dessa forma no podemos aceitar a interpretao em tiras do sistema assistencial existente no ordenamento brasileiro, pois o direito posto deve ser adequado ao direito pressuposto. Resta ao Supremo Tribunal Federal, com sua nova composio, re-analisar o tema e ao que tudo indica flexibilizar o entendimento firmado na ADI 1232, tendo em vista s peculiaridades do caso concreto, pois ele que mensurar a miserabilidade e no a lei abstrata e, muitas vezes, to distante da realidade de tantos brasileiros carecedores de Assistncia Social.

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5. CONSIDERAES FINAIS

Diversos foram os aspectos abordados neste trabalho acerca do Benefcio de Prestao Continuada. Primeiramente compreendemos que no texto constitucional buscou o legislador garantir a dignidade dos idosos e deficientes atravs de renda mensal, de um salrio mnimo para aqueles, que comprovem no ter condies de produzir a prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia. Podemos extrair deste trabalho que em razo das desigualdades sociais do Brasil, pas em desenvolvimento e de propores continentais, determina que a seguridade social auxilie na reduo das disparidades sociais. A luta pela igualdade material torna-se, neste atual cenrio, de grande importncia, o objetivo dos benefcios assistenciais justamente prover o mnimo de dignidade a pessoa humana. Atualmente o Supremo Tribunal Federal deve analisar a questo da aferio do critrio de miserabilidade, por um enfoque um pouco diferente do tratado na ao direta de inconstitucionalidade n 1232, qual seja, atravs da mescla de critrios objetivamente dispostos em outras Leis da Assistncia Social, esta questo ser tratada no recurso extraordinrio n 567985, esperamos que em fim seja consolidada a jurisprudncia no sentido mais adequado a atualidade social do Brasil.

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