MONOGRAFIA TPD E AMOR PATOLÓGICO SOB A ÓTICA DA GESTALT-TERAPIA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAU UESPI CAMPUS Dra JOSEFINA DEMES COORDENAO DE PSICOLOGIA BACHARELADO EM PSICOLOGIA

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE E AMOR PATOLGICO SOB A TICA DA GESTALT-TERAPIA

FLORIANO PIAU 2011

CSSIO JOS DE SOUSA VELOSO

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE E AMOR PATOLGICO SOB A TICA DA GESTALT-TERAPIAMonografia apresentada disciplina Trabalho Monogrfico II, do curso de Bacharelado em Psicologia, da Universidade Estadual do Piau, como requisito parcial para a obteno do grau de Bacharel em Psicologia. Orientao: Prof Evelyne Ellene Alves de Carvalho

FLORIANO PIAU 2011

FICHA CARTOGRFICA

Dados internacionais de catalogao na publicao Biblioteca da UESPI VELOSO, Cssio Jos de Sousa

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE E AMOR PATOLGICO SOB A TICA DA GESTALT-TERAPIA Reviso de literatura, Cssio Jos de Sousa Veloso, 2011. Apresentada como trabalho de concluso de curso de Bacharelado em Psicologia Universidade Estadual do Piau PI, 2011. Referncias: 1. GINGER, Serge. Gestalt:a arte do contato: nova abordagem otimista das relaes humanas/ Serge Ginger; traduo de Lcia M. Endlich Orth, Petrpolis, RJ: Vozes, 2007. 2. PERLS, HAFFERLINE e GOODMAN. Frederick, Ralph e Paul. gestalt-terapia. traduo Fernando Rosa Ribeiro. So Paulo: summus, 1997 3. RIBEIRO, Jorge Ponciano. O ciclo do contato: temas bsicos na abordagem gestltica. 2. ed., revista e ampliada So Paulo: Summus, 1997.

FOLHA DE APROVAO

CSSIO JOS DE SOUSA VELOSO

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE E AMOR PATOLGICO SOB A TICA DA GESTALT-TERAPIA

Aprovada no dia _____/_____/2011

____________________________________________ Nota_______ Professor examinador _____________________________________________ Nota______ Professor examinador _____________________________________________ Nota______ Professor examinador _____________________________________________ Nota ______ Professor examinador

AGRADECIMENTO

AGRADEO PRIMEIRAMENTE A MINHA FAMILIA, EM ESPECIAL AOS MEUS PAIS CLOVES VELOSO E ZULMIRA VELOSO, PELO APOIO SEMPRE PRESENTE DESDE O INCIO DESTA CAMINHADA

A UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUI UESPI, QUE NO DECORRER DESTES CINCO ANOS E MEIO PASSOU A SER UMA EXTENO DA MINHA CASA, NUNCA ESQUECEREI AS ALEGRIAS COMO TAMBM AS MUITAS DIFICULDADES QUE EXISTEM AQUI, DEFENDENDO-A E COBRANDO-A SOBRE TUDO

AOS MUITOS PROFESSORES QUE REALMENTE SE DEDICARAM AO TRABALHO DOCENTE E COM ISSO NOS DERAM O EMBASAMENTO TERICO, E ALM DISSO, TAMBM DIRECIONARAM A UM NOVO MODO DE VIDA. VALEU FRITZ... SHIRLEY, M AMLIA E PAULO

AGRADEO TAMBM AOS BONS AMIGOS CONQUISTADOS NO DECORRER DO CURSO, QUE AOS POUCOS FORAM SE TORNANDO PRATICAMENTE IRMOS, MUITAS FORAM AS ALEGRIAS, E MUITOS TAMBM OS PRETO/BRANCO. FRANCYS E ANNA

DEDICATRIA

DEDICO A TODAS AS PESSOAS QUE SE FIZERAM IMPORTANTES NA MINHA VIDA UNIVERSITRIA, AOS POUCOS PROFESSORES, AOS AMIGOS/IRMOS E A TODA MINHA FAMLIA, TODOS PELO APOIO SEMPRE PRESENTE.

O ESSENCIAL DA GESTALT NO EST EM SUAS TCNICAS, MAS NO ESPRITO GERAL DO QUAL ELA PROCEDE E QUE AS JUSTIFICA. ( Ginger, 2007)

TABELAS E FIGURASFIGURA 1. O CICLO DO CONTATO ----------------------------------------------------------- 35 FIGURA 2. O CICLO DO CONTATO CLIENTE D.B.S ------------------------------------- 32 TABELA 1. RESISTNCIAS E RESPECTIVOS FATORES DE CURA ---------------- 36

RESUMOO presente trabalho monogrfico: Transtorno de Personalidade Dependente e Amor patolgico sob a tica da Gestalt-terapia, tem como objetivo principal o de elaborar um conjunto de referenciais acerca dos temas propostos acima, com o intuito de proporcionar um entendimento de forma clara e simplificada. A personalidade dependente um transtorno que se inclui dentro daqueles inerentes a personalidade, pode ocorrer nas mais diversas culturas, classes sociais e em ambos as gneros, se caracteriza, como o nome j diz, pela dependncia exagerada tanto no mbito fsico como tambm nos afetivo, os indivduos que possuem essa especificidade de transtorno de personalidade sentem com isso uma necessidade invasiva e excessiva de cuidados por parte de seu objeto de desejo ou/e fixao, o que leva a um comportamento de submisso e grande medo de perda deste, e em especfico neste levantamento bibliogrfico elevaremos a ideia de que dentro das caractersticas presentes e formadoras do TPD est o Amor Patolgico, concebida tambm por dependncia e falta de autonomia. Relacionaremos estes conceitos com os da gestalt a psicologia da forma, conhecida corrente psicolgica, alicerada na percepo, no aqui - agora e nos contatos estabelecidos, atravs de um estudo de caso.

PALAVRAS-CHAVE: FIXAO; DEPENDNCIA; AUTONOMIA.

AMOR

PATOLGICO;

GESTALT-TERAPIA;

ABSTRACTThis monograph, "Dependent Personality Disorder and pathological love from the perspective of Gestalt therapy," has as main objective to develop a set of benchmarks on the themes proposed above, in order to provide an understanding of clear and simplified. The dependent personality disorder is one which falls within those inherent in the personality, can occur in many different cultures, social classes and in both the genders, is characterized, as the name implies, the overdependence on both the physical as well as in affective , individuals who have that specific personality disorder to feel that a pervasive and excessive need for care by your object of desire and / or attachment, which leads to submissive behavior and a great fear of this loss, and this specific literature will raise the idea that within the present and forming characteristics of DPT is the Love Pathology, also designed by dependency and lack of autonomy. Relate these concepts to the Gestalt psychology of form, known psychological line, based in perception, here - now and in the contacts established through a case study.

KEYWORDS: ATTACHMENT; PATHOLOGYCAL LOVE; GESTALT THERAPY; DEPENDENCY, AUTONOMY.

SUMRIO

1 INTRODUO.........................................................................................................12 2 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE E O AMOR PATOLGICO............................................................................................................15 2.1 TPD Transtorno de Personalidade Dependente............................................15 2.2 Amor: O Saudvel e o Patolgico......................................................................19 2.3 Caractersticas Clinicas e Diagnsticas.............................................................23 2.3.1 Padro Familiar.........................................................................................26 2.3.2 Caractersticas Referentes ao Gnero.....................................................27 3 DA PSICOLOGIA DA GUESTALT GESTALT-TERAPIA...................................28 3.1 Gestalt Psicologia e Gestalt-Terapia: A Psicologia da Forma...........................28 3.2 Fundamentos da Gestalt....................................................................................32 3.2.1 A Figura e Fundo......................................................................................32 3.2.2 O Self........................................................................................................33 3.2.3 Percepo e Boa Forma...........................................................................34 3.2.4 O Ciclo do Contato....................................................................................35 3.2.5 Resistncias..............................................................................................37 4 ESTUDO DE CASO.................................................................................................40 4.1 O Caso D.B.S.....................................................................................................40 4.1.1 Histria......................................................................................................40 4.1.2 Diagnstico...............................................................................................41 4.1.3 A Gestalt-Terapia no Caso D.B.S.............................................................43 5 METODOLOGIA......................................................................................................48 6 CONCLUSO..........................................................................................................49 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...........................................................................51

1 INTRODUO

O transtorno de personalidade dependente dentre os transtornos relativos a personalidade um dos menos estudados e experimentados, apesar de levar a seus portadores um montante de sofrimento muito grande, e que afeta diretamente as relaes sociais e os contatos que estas pessoas estabelecem. Este estudo se justifica por ter a inteno de promover um levantamento que proporcionar tanto profissionais da rea da psicologia quanto aos prprios indivduos que tem este tipo de problemtica, como tambm aos que no esto ainda diagnosticados saber se seus sintomas se encaixam nessa comorbidade, alm de apresentar a gestaltterapia disponibilizando uma aplicao prtica desta corrente psicolgica em clientes com este transtorno. Proporcionando ao prprio redator deste trabalho um conhecimento bem mais aprofundado tanto do tema quanto da aplicabilidade da gestalt-terapia. Alguns questionamentos foram levantados quando da escolha deste tema e que no decorrer deste estudo procurou-se elucidar, como por exemplo: o transtorno de personalidade dependente bem como o amor considerado patolgico , dentro dos transtornos especficos da personalidade, um dos menos estudados ser ento possvel estruturar um levantamento sobre tal tema que atenda as necessidades do profissional, e tambm possvel se aplicar a gestalt-terapia, com todas as suas tcnicas, no processo de tratamento psicoteraputico de portadores de TPD. Tendo em vista o explicitado anteriormente acima os principais objetivos deste trabalho monogrfico so, portanto promover um estudo acerca do tema

transtorno de personalidade dependente e amor patolgico, com sua conceituao e critrios de diagnstico, sob a tica da gestalt-terapia de Friedrich Salomon Perls, e partindo-se dessa ideia analisar os aspectos inerentes a este tipo especifica de transtorno e a problemtica que o mesmo traz a vida de seus portadores, com isso confeccionar um levantamento terico que possibilite a compreenso maior sobre este transtorno e sobre a gestalt, promovendo concomitantemente um entendimento da formao da gestalt-terapia a partir de termos vindos da psicologia da gestalt que sero destacados no texto e finalmente discutir a aplicao da gestalt-terapia a este tipo de transtorno da personalidade. Para tanto o estudo monogrfico: o transtorno de personalidade dependente, amor patolgico sob a tica da gestalt-terapia, se embasar em uma pesquisa bibliogrfica permeando o tema atravs de anlises nos mais diversos meios informativos como, por exemplo: livros, revistas, textos, artigos cientficos e nos meios eletrnicos: internet. Ser apresentado tambm um estudo de caso, de um atendimento realizado durante a prpria elaborao deste trabalho, no intuito de ilustrar melhor a ao da gestalt-terapia nessa especificidade de transtorno. O texto est disposto em trs eixos, cada um deles procurando explicitar em seu contedo primeiramente o transtorno de personalidade dependente e amor patolgico, aqui trataremos do amor patolgico como caracterstica integrante dentro dos casos de TPD, este primeiro eixo ser dividido em 3 sub-tpicos, neles poderemos encontrar as principais caractersticas, formas de diagnsticos e ocorrncias; no segundo momento trataremos da gestalt, deste a sua germinao como psicologia da gestalt de Wertheimer at a sua formulao como gestalt-terapia por Fritz Perls, ainda sero destacados os principais termos inerentes a esta corrente. Por fim, traremos um estudo de caso de uma cliente com TPD e amor

patolgico, atendida sob a luz da gestalt-terapia, Para enriquecer a fundamentao terica e lanar luz sobre as hipteses aqui levantadas .

2 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE E O AMOR PATOLGICO

2.1 TPD Transtorno de Personalidade Dependente

Personalidade definida pela totalidade dos traos emocionais e de comportamento de um indivduo, quer dizer o carter + o temperamento, um inato e o outro adquirido atravs da interao com o meio. Pode-se dizer que o jeito de ser da pessoa, o modo de sentir as emoes ou o jeito de agir. J o termo Transtorno no um termo exato, porm pode ser usado para indicar a existncia de um conjunto de sintomas ou comportamentos associados, na maioria dos casos, a sofrimento e interferncia com funes pessoais. (WINKPDIA, 2011). Os transtornos relativos a personalidade surgem quando seus traos so inadequados e inflexveis diante das mais diversas situaes do cotidiano, e consequentemente causa incmodo ao prprio indivduo e tambm aos demais que esto prximos, causando muito sofrimento a ambos. Nessa especificidade de transtorno podemos encontrar o paranoide, esquizoide, esquizotipica, anti-social, borderline, histrinica, narcisista, ansiosa, obsessiva e o dependente da qual nos ateremos neste estudo. O Transtorno de Personalidade Dependente (CID10 60.7) segundo a Classificao Internacional de Doenas-CID(10) um Transtorno de Personalidade caracterizado pela dependncia afetiva e fsica de uma pessoa a outras. Por causa das suas grandes necessidades de aprovao, pessoas que so portadoras de TPD tentam agradar sempre aos outros. Em geral estas pessoas tm a tendncia de se

sentirem frustradas porque se sentem foradas a fazer coisas que no querem, alm de se culparem-se muito quando no conseguem satisfazer o outro. Segundo o Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais DSM-IV (301.6) uma necessidade invasiva e excessiva de ser cuidado, que leva a um comportamento submisso e aderente e a temores de separao, que comea no incio da idade adulta e est presente em uma variedade de contextos. Pessoas com transtorno de personalidade dependente em geral so bem carentes de ateno, de valorizao e de relacionamentos sociais. muito comum em clientes com transtorno de personalidade dependente trazerem consigo muitas queixas de falta de ateno, estilo de vida que leva, dificuldades nas relaes sociais, falta de sentido na vida, dificuldades profissionais, familiares, escolares e sociais, repetidamente durante o processo teraputico. A caracterstica essencial do Transtorno da Personalidade Dependente , como est explicitado no DSM-IV, uma necessidade invasiva e excessiva de ser cuidado, que leva a um comportamento submisso e aderente e ao medo da separao. Fica mais clara essa auto-percepo no que cerne as relaes de trabalho, comum identificarmos fuga, insegurana e ansiedade extrema quando so necessrias a estes indivduos respostas rpidas a questes importantes dentro de uma empresa. O relacionamento social em geral se restringe as pessoas de quem se depende. O comportamento dependente existe em todos ns, e s deve ser considerado caracterstico do transtorno apenas quando nitidamente excede em muito o contexto cultural do indivduo ou imergem de percepes irracionais, deve ser considerado tambm como limiar diagnstico idade, sexo e o aspecto cultural.

Em contextos clnicos, este transtorno diagnosticado com maior frequncia em mulheres; entretanto, a taxa deste transtorno entre os sexos no difere significativamente da proporo geral. importante tambm ressaltar durante a fase diagnstica que com o TPD pode haver um maior risco de transtornos associados como o de Humor, Transtornos de Ansiedade e Transtorno de Ajustamento. Ele tambm pode coocorrer com outros transtornos da personalidade como Transtornos da

Personalidade Borderline, Esquiva e Histrinica. Os critrios relativos ao diagnstico do Transtorno da Personalidade Dependente TPD (CID 10 F60.7 DSM IV 301.6), segundo o manual diagnstico e estatstico de transtornos mentais quarta edio, indicado por pelo menos cinco dos seguintes critrios: I. Os indivduos com Transtorno da Personalidade Dependente tm grande dificuldade em tomar decises corriqueiras sem uma quantidade excessiva de conselhos e re-asseguramento da parte dos outros. II. Esses indivduos tendem a ser passivos e a permitir que outras pessoas tomem iniciativas e assumam a responsabilidade pela maioria das reas importantes de suas vidas. Os adultos com este transtorno tipicamente dependem de um dos pais ou do cnjuge para decidir onde devem viver, que tipo de trabalho devem ter e com que vizinhos devem fazer amizade. III. Como temem perder o apoio ou aprovao, os indivduos com Transtorno da Personalidade Dependente muitas vezes tm dificuldade em expressar discordncia de outras pessoas, especialmente quelas das quais dependem. Esses indivduos sentem-se to incapazes de funcionar sozinhos que preferem concordar com coisas que consideram erradas. Se as preocupaes do

indivduo relativas s consequncias de expressar discordncia so realistas, o comportamento no deve ser considerado uma evidncia. IV. Os indivduos com este transtorno tm dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas de maneira independente. Eles esperam que os outros "deem a partida", por acreditarem que, via de regra, os outros sabem fazer melhor. Estes indivduos tm a convico de serem incapazes de funcionar de modo independente e se apresentam como ineptos e carentes de constante auxlio. Uma vez que confiam nos outros para a soluo de seus problemas, frequentemente no aprendem as habilidades de uma vida independente. V. Os indivduos com Transtorno da Personalidade Dependente podem ir a extremos para obterem carinho e apoio, chegando ao ponto de se oferecerem para realizar tarefas desagradveis, se este comportamento for capaz de trazer-lhes os cuidados de que necessitam. Eles podem fazer sacrifcios extraordinrios ou tolerar abuso verbal, fsico ou sexual. VI. Os indivduos com este transtorno sentem desconforto ou desamparo quando esto sozinhos, pelo medo exagerado de serem incapazes de cuidar de si prprios. Eles podem "ficar colados" em outras pessoas importantes em suas vidas apenas para no ficar sozinhos, mesmo que no tenham interesse ou envolvimento no que est acontecendo. VII. Quando um relacionamento significativo termina (por ex., rompimento de um namoro; morte de um dos pais), os indivduos com Transtorno da Personalidade Dependente podem sair urgentemente em busca de outro relacionamento que oferea os cuidados e o apoio de que necessitam. VIII. Os indivduos com este transtorno em geral se preocupam com temores de que sero abandonados prpria sorte. Eles se veem como to

dependentes dos conselhos e ajuda de outra pessoa, que se preocupam com um abandono da parte desta, mesmo quando no h justificativa para esses temores. Para serem considerados como temores deste critrio, este deve ser irreais.

2.2 Amor: O Saudvel e o Patolgico

Amar algo altamente complexo e essencialmente subjetivo, inerente a singularidade de cada um. Por esta razo ningum ama da mesma maneira, assim como nem todos os vnculos conjugais tm a mesma caracterstica. Para quem possui um amor dependente comum ficar ansioso, ou at mesmo triste, quando essa pessoa no esta ao seu alcance. Essa sensao seria denominada de efeito ansiedade de separao e como o prprio nome j diz, o medo de ficar sozinho e de perder estaria presente a todo momento, mesmo quando o objeto de dependncia est presente. Segundo Attili, (2006) partindo da teoria do Apego de Bolwby (1978), os adultos, da mesma forma que as crianas em ambos os sexos, tm necessidade de que algum no os perca de vista, cuide deles quando esto doentes, conforte-os quando esto tristes, acalme-os na aflio e os aquea durante o frio. A viso de como o outro deve nos amar e o modo pelo qual nos ligamos pessoa que amamos e vivemos na relao conjugal so fortemente influenciadas pelas experincias que cada um teve quando criana com sua figura de apego, de tal forma que a relao me-criana pode ser considerada o modelo do vnculo conjugal, segundo a teoria do apego, caracterizando-se como a primeira.

Tem-se sempre a ideia de que muitas das emoes humanas mais intensas surgem durante a formao, manuteno, interrupo e renovao daquelas relaes em que um parceiro est fornecendo o holding ao outro, na relao figura-fundo de alternncia de papeis. Em contraponto que a manuteno inalterada de relaes dependentes experimentada como uma fonte de segurana, a ameaa de perda provoca ansiedade, tristeza e possivelmente raiva, e quando h perda realmente, o individuo se v em meio a um furaco de diferentes sentimentos, bem mais acentuados. A preciso de ter algum que lhe possa proporcionar segurana e sustentabilidade (holding) uma coisa inerente ao ser humano, sendo mais facilmente notada durante a infncia. Nas relaes amorosas, assim como ocorre em outros comportamentos em que podemos mais comumente encontrar excessividade, como jogo, sexo e compras, no tarefa fcil se estabelecer o limiar entre o que normal e patolgico, para ser real em nenhuma ocasio fcil definir o patolgico. O psiclogo Riso (2008) trata das possibilidades do indivduo escolher com quem se relaciona superando a dependncia afetiva e fazendo do amor uma experincia afetiva plena e saudvel. Ainda segundo o autor as escolhas que fazemos sobre tipos de relacionamentos em boa parte dos casos parte de um preceito de uma dependncia afetiva: a pouca capacidade para o sofrimento que seria demonstrado com muita tenso e ansiedade a cada adversidade; a baixa tolerncia para a frustrao que traria comportamento de birra infantil em pessoas adultas e at quebra de objetos por acesso de raiva e a iluso de permanncia que traria um sentimento de que o relacionamento para sempre e que no pode viver sem determinada pessoa. Alm disto, podemos encontrar associadas a baixa autoestima e facilidade ao sofrimento

Em termos psicolgicos Riso (2008) diz: sabemos muito mais da depresso do que da mania, ou dito de outra forma, a ausncia de amor nos preocupou muito mais do que o excesso afetivo. Com relao definio do termo amor, no possvel achar um termo cientfico, nem um significado preciso, uma vez que um sentimento e, portanto a experimentao laboratorial impossvel, contudo encontramos em Dorsch, Hacker e Stapf (2008) uma definio mais aceitvel sobre o afeto, para estes, como sentimento normal e saudvel definido como um termo originado do latim Affectus que significa paixo, sentimento, apetite. Segundo Piron (1996) todo e qualquer estado afetivo, sentimento e emoo. Podem-se considerar os afetos como ordenados entre dois plos: agradvel e desagradvel. Esse somente pode ser considerado patolgico quando estiver relacionado intimamente com o sentimento de posse. Tendo em vista o j explicitado, o amor patolgico pode ser caracterizado pelo comportamento de prestar cuidados e ateno ao parceiro, de maneira repetitiva e desprovida de controle em um relacionamento amoroso. infelizmente uma situao pouco estudada cientificamente, e em seu aspecto geral, apesar de no ser raro e de gerar sofrimento considervel. Esta questo relacionada a quantidade de amor foi abordada

especialmente pela psicoterapeuta de casal Norwood (2005), no seu famoso livro Mulheres que amam Demais, que fundamentou o grupo de auto-ajuda conhecido hoje como MADA (Mulheres que Amam Demais Annimas). O livro foi construdo em meio aos relatos de casos de diversas mulheres atendidas por ela no qual surge o fenmeno denominado no livro por amar demais que se expressa pelo comportamento de s pensar no outro, no cuidado excessivo e na necessidade

progressiva de dar amor e ateno ao parceiro, o qual levaria algumas mulheres a se tornarem viciada na relao e no parceiro, em geral, desatencioso e distante (NORWOOD, 2005). Seguindo estas concepes feitas por Dorsch, hacker e stapf (2008) o termo Amor Patolgico relativo doena ou conhecimento das doenas, e a ausncia de autonomia seria o ponto alto desse tipo de amor dependente, pois o que envolve um amor normal e sadio a reciprocidade das aes de carinho, holding e ateno, e o que a maioria de ns busca. A dependncia afetiva pode ser detectada, sob determinadas circunstncias e podemos criar imunidade, na verdade em termos da gestalt, ns podemos tornar esta relao de distorcida consciente, e ento nos relacionar de uma maneira mais tranquila e descomplicada buscando a to sonhada autonomia. A dependncia afetiva tem a perigosa propriedade de ampliar as virtudes e diminuir as deficincias segundo convenha a perspectiva da pessoa, ela cega e ao mesmo tempo se engana, podendo ter o sujeito dependente o disparate de dizer que o outro no vive sem ele e se for desprezado, o outro no saber o que fazer na vida e isso pode ser uma resistncia, uma vez que totalmente o contrrio. Uma pessoa audaciosa que ativa seu ajustamento criativo, livre e realizada um ser que ganhou autonomia e a batalha contra os apegos irracionais. Se eu vivo exclusivamente para meu companheiro, se reduzo todas as minhas opes de alegria e felicidade a essa relao, destruo possibilidades em outras reas que tambm so importantes para meu crescimento interior (RISO, 2008).

2.3 Caractersticas Clnicas e Diagnsticas

A caracterizao do Amor Patolgico (AP) duvidoso (WINKPDIA, 2011). Alguns autores descreveram o quadro como fenmeno decorrente de transtornos ansiosos e depressivos. Para estes autores a manuteno dos relacionamentos por mais confuso e sofrimento inerentes a ele, se dariam pela gravidade e atuao destes transtornos. Esses mesmos autores propem que esta patologia pode ser comparada, nos estgios iniciais da doena, ao mesmo que acontece com o usurio de cocana ou outra droga estimulante de prazer, esse padro de relacionamento proporciona alvio da angstia, estimulado pela dopamina. De acordo com essa proposio os relacionamentos serviriam para, como uma droga, aliviar a ansiedade do indivduo. Assim como ocorre com o dependente qumico que inicia o uso de uma droga que ele prprio escolhe, o portador de AP acredita que o parceiro trar significado para sua vida, iluso que inicialmente, e por muito tempo, alivia a angstia torna mais fcil viver, uma vez que as decises e resolues de problemas esto na mo do parceiro. Ento, segundo Sofia, Tavares e Zilberman (2005) a essncia dessa patologia no ser amor descompromissado, muito pelo contrrio, psicologicamente falando, e sim medo, de estar s, de no ter valor, de no merecer amor, de vir a ser abandonado, de maneira que, apesar da falta de liberdade com relao s prprias condutas o que efetivamente gera um enorme desconforto e prejuzo tanto individuais como sociais ao indivduo, por outro, propicia alvio desses temores.

Algumas pesquisas que se referem ao AP podem ser destacadas como por exemplo: Em estudo americano realizado em 1999, por exemplo, os autores confirmaram que os padres neurolgico e comportamental (com relao ao amor romntico e parental) altamente conservados, assim como as mensagens genticas que guiam o seu desenvolvimento, esto associados com o transtorno obsessivocompulsivo (TOC). Outra pesquisa, realizada no mesmo ano na Itlia, comparou 20 sujeitos que referiram estar amando recentemente (ltimos seis meses), 20 com TOC (no medicados) e 20 normais (controles). Os resultados comprovaram ocorrer alteraes neuroqumicas semelhantes no transporte de serotonina (5-HT) em portadores de TOC e de AP. Outros autores, ainda, acreditam que o problema em questo caracterizase como dependncia de amor, um subtipo do transtorno de personalidade dependente, que mais se adequa aos estudos atuais e ao que se prope este estudo monogrfico. A pedra fundamental ento na avaliao diagnstica do Amor Patolgico (AP) para Sofia, Tavares e Zilberman (2005) a demonstrao sempre presente do comportamento, repetitivo e sem controle, na prestao cuidados e ateno ao objeto de amor, caracterizado aqui pelo parceiro, com a inteno de receber o seu afeto e evitar sentimentos pessoais de menos valia. Nesta avaliao diagnstica importante, tambm, constatarmos que essa atitude desmedida mantida pelo indivduo, mesmo aps concretas evidncias de que est sendo prejudicial para a sua vida e geralmente para a vida de seus familiares, amigos e demais relacionamentos sociais. No Amor Patolgico os critrios diagnsticos empregados so geralmente os mesmos usados na dependncia de lcool e outras drogas. Para esta avaliao

existem sete critrios que foram desenvolvidos pela Associao de Psiquiatria Americana citados em Sophia (2008), sendo que trs necessitam ser preenchidos para que esse diagnstico seja fechado. Colocando em comparao esses critrios para dependncia qumica com os apresentados normalmente pelos portadores de AP, constatamos que pelo menos seis critrios so comuns s duas patologias: 1) Sinais e sintomas de abstinncia - quando o parceiro est distante (fsica ou emocionalmente) ou perante ameaa de abandono, podem ocorrer: insnia, taquicardia, tenso muscular, alternando perodos de letargia e intensa atividade. 2) O ato de cuidar do parceiro ocorre em maior quantidade do que o indivduo gostaria - o indivduo costuma se queixar de manifestar ateno ao parceiro com maior frequncia ou perodo mais longo do que pretendia de incio. 3) Atitudes para reduzir ou controlar o comportamento patolgico so malsucedidas - em geral, j ocorreram tentativas frustradas de diminuir ou interromper a ateno despendida ao companheiro. 4) despendido muito tempo para controlar as atividades do parceiro - a maior parte da energia e do tempo do indivduo so gastos com atitudes e pensamentos para manter o parceiro sob controle. 5) Abandono de interesses e atividades antes valorizadas - como o indivduo passa a viver em funo dos interesses do parceiro, as atividades propiciadoras da realizao pessoal e profissional so deixadas, como cuidado com filhos, atividades profissionais, convvio com colegas. entre outras. 6) O AP mantido, apesar dos problemas pessoais e familiares - mesmo consciente dos danos advindos desse comportamento para sua qualidade de vida, persiste a queixa de no conseguir controlar tal conduta.

2.3.1 Padro Familiar

Os cuidados e demonstraes de afeio feita pela famlia, durante o desenrola da infncia fundamental para que as crianas se desenvolvam com o sentimento de segurana e proteo, necessrios para um bom desenvolvimento das prticas e dos relacionamentos que se faro futuramente, na adolescncia e na vida adulta. Entretanto, segundo Sofia, Tavares e Zilberman (2005) com pais relapsos, tanto fsico como emocionalmente, muitas vezes alcoolistas e/ou abusadores, em lares desajustados, as crianas tornam-se carentes dessa sustentao e comeam a nutrir o medo de serem abandonadas pelos pais. Para evitar o abandono, e tambm como tentativa de saber se realmente amada, a criana desenvolve ento estratgias como: assumir responsabilidades dos pais e o cuidado pelos interesses dos familiares, cuidando de irmos e trabalhando em casa e fora. Na vida enquanto adultos estes possivelmente vo levar consigo estas caractersticas quando forem se relacionar com as outras pessoas. Em recente estudo ingls, foi averiguado em entrevistas com mulheres e homens que na maioria de seus relacionamentos o lado emocional adquirido durante a infncia, em relao a dependncia, eram fator participativo. Assim, o padro de relacionamento entre o cuidador e o sujeito carente, apreendido pelo portador de Amor Patolgico na infncia atravs da observao na relao entre os pais, ou da prpria vivncia com o cuidador, pode ser aprendido e repetido.

2.3.2 Caractersticas Referentes ao Gnero

A questo patolgica de se relacionar pode acontecer tanto com homens como mulheres. Devido ao desenvolvimento da nossa sociedade patriarcal, parece que o Amor Patolgico prevalente na populao feminina. A probabilidade em chegar ao ponto de se tornar viciada, e viver pelo outro, costuma ser mais referida pelas mulheres, uma vez que, em geral, elas consideram a relao a dois como prioridade em sua vida. Este fato foi confirmado em pesquisa recentemente publicada sobre os comportamentos associados com o amor, onde o autor concluiu que, na atualidade, as mulheres ainda do maior nfase aos comportamentos amorosos, e que estes daro sentido a sua vida. Em relao a participao dos gnero masculino, considerada mais tmida, mesmo pelas caractersticas sociais. Alm dessa baixa demanda na populao masculina, mesmo para aqueles que vivenciaram o mesmo padro familiar de falta de carinho e ateno, mais comum e mesmo esperado, que o homem se vincule patolgica com atividades mais externas e impessoais, como jogo, trabalho, esportes ou hobbies do que com amor. evidente no tipo de sociedade em que vivemos e que foi construda pela cultura machista (SOFIA, TAVARES E ZIBERMAN, 2005).

3 DA PSICOLOGIA DA GESTALT AT A GESTALT-TERAPIA

3.1 Gestalt Psicologia e Gestalt-Terapia: Psicologia da Forma

O essencial da gestalt no est em suas tcnicas, mas no esprito geral do qual ela procede e que as justifica. ( Ginger, 2007)

A Psicologia da Gestalt ou teoria da forma tem o seu surgimento com os psiclogos alemes do incio do sculo XX, Koffka (1973), Kohler (1963), Wertheimer (1925) e Brown e Voth (1937). A gestalt-teoria deriva de teorias auditivas e visuais, com isso levando-se em considerao o contexto das percepes, nela os aspectos mais profundos da personalidade foram postos em segundo plano, diferente das teorias que reinavam naquela poca. Os princpios psicolgicos bsicos esto nos estmulos externos. Esses psiclogos experimentaram com figuras externas, especialmente as visuais e auditivas como dito anteriormente, e a priori no se preocuparam com as figuras que se produziram dentro do organismo, que tambm so verdadeiras gestalt. Eles iniciaram seus estudos pela percepo e sensao do movimento. Os gestaltistas estavam preocupados em compreender quais os processos psicolgicos envolvidos na iluso de tica, quando o estmulo fsico percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na realidade. (GONZLES, 1980) Wertheimer, assim como Kohler e Koffka que foram seus discpulos, atacaram as teorias psicolgicas que imperavam naquele momento, criticando as teorias cientificas vigentes que explicavam os fenmenos psicolgicos. Como relata

Gonzlez (1980) a posio destes gestaltistas era exatamente o oposto ao que prevalecia na poca no campo da investigao cientfica: foi baseada no fenmeno como um todo. Wertheimer(1925) apud Gonzlez(1980) observou que a percepo tem um carter integral, e que uma configurao, uma gestalt, destruda a partir do momento em que se procura entender ou analisa-la atravs de sua diviso e fragmentao de suas partes, essencial uma viso holstica do fenmeno para que se possa compreende-lo. Em suma para a gestalt impossvel realizar um estudo fidedigno partindo de fragmentos de um todo. A psicologia da gestalt v a necessidade de retornar percepo simples, a experincia imediata. Fica impossvel que as pessoas tenham uma percepo acertada de um dado fenmeno se uma das partes for analisada fora do contexto, mesmo que esta parte retorne ao contexto inicial trazendo-lhe um sentido de completude. Como por exemplo, quando nos deparamos com um quadro, ou pintura, vemos primeiramente o todo, pode ser uma paisagem, uma pessoa em algum contexto, e s depois de perceber o todo da imagem pode-se ento entender os detalhes, fragmentando a imagem e compreendendo-a. A palavra gestalt tem significados ou concepes diversas, tambm sendo uma das causas de no a traduzir ao portugus, pode ser: configurao, forma, formato, entre outros. Na prtica a mais aceita a de "formar", da o nome "teoria da forma." O verbo gestalten segundo Ginger (2007) quer dizer: pr em forma, dar uma estrutura significante, o resultado, a gestalt, pois uma forma estruturada, completa e que toma sentido para ns.

O valor da palavra tendencia a uma objeo que sugere um campo muito limitado, enquanto a palavra um sinnimo que mais se assemelha palavra alem gestalt e expressa o seu significado como a experincia como tal e como se da ao observador de forma direta. " (Koffka Khler, e Sander, 1969)

As pesquisas realizadas por estes primeiros gestaltistas alemes sobre os fenmenos que envolvem a percepo em sua natureza global permitiram que Wertheimer formulasse as primeiras concepes da teoria da gestalt. Wertheimer (1925), tendo como alicerce e norteador a psicologia organsmica, foi o primeiro a fazer uma tentativa de organizar, ordenar e entender a essncia da percepo, porm ainda estava longe de ser a sntese fabulosa que finalmente percebeu Fritz Perls, unindo percepo de sensaes, sentimentos e emoes. Com Frederick Perls em 1940, comeou ento a gestao da essncia da gestalt-terapia. Quando Fritz e Laura Perls imigraram para a Amrica, integraram-se a um grupo de intelectuais no conformistas com o sistema vigente, entre eles, Isadore From, Paul Weisz, Paul Goodman e Ralf Hefferline, os dois ltimos autores parceiros no livro marco do nascimento da gestalt-terapia. Fundada ento 1951, a partir da publicao do livro Gestalt-Terapia, de F. Perls, R. Hefferline e P. Goodman, a gestalt-terapia traz uma nova abordagem psicolgica, uma terceira via, que trata do homem e da sociedade, nas relaes que estes estabelecem durante a relao organismo/ambiente. Surge como uma crtica a psicanlise de Sigmund Freud, que dominava o contexto de atuao teraputica, afirmada no livro ego, fome e agresso, onde fazia uma crtica as concepes da psicanlise. Friederich Perls sofreu durante a formulao das bases da gestaltterapia a profunda influncia dos conceitos da Psicologia da gestalt de Wertheimer, nela podemos encontrar: o incentivo a formao flexvel de gestalt sucessivas,

adaptadas relao sempre flutuante do organismo como o meio, num ajustamento criador permanente. Segundo Ginger (2007) Fritz Perls utilizando-se de tijolos tradicionais, ele chegou a conceber um edifcio novo, completamente original. A gestalt-terapia poderia ser assim definida como a arte da formao de boas formas. A Gestalt-terapia fundamenta-se nas bases filosficas do existencialismo e na fenomenologia, considerando o encontro existencial interpessoal. Um encontro existencial visa a auto-atualizao e a gestalt-terapia considera todo o campo biopsicossocial, concluindo que a relao organismo/ambiente, fundamental ao estudo do indivduo. (GONZLEZ, 1980)

Pode ser considerado existencial tudo que diz respeito forma como o homem experimenta sua existncia, a assume, a orienta, a dirige. A noo de responsabilidade de cada pessoa que participa ativamente da construo de seu projeto existencial em sua relativa liberdade. (Ginger, 1987. p . 36)

Nos aspectos que cernem a proposta existencialista, prope-se a liberdade de ao do indivduo, uma ao consciente de responsabilidade, uma awareness que direcionada pela escolha de cada um. O objetivo descrever detalhadamente o sentimento ocorrido durante o acontecimento, levando-se em conta como o indivduo chegou at aqui e no o porque, ou seja descrevendo ao invs de explicar, baseado no aqui e no agora. necessrio como gestalt perceber um contexto mais amplo, este contexto s vezes muito mais imprescindvel para se entender um caso do que o texto.

A gestalt-terapia busca essencialmente o crescimento do indivduo, atravs da conscientizao destes de seus atos, de suas percepes disformes, em busca da boa forma, por meio de suas prprias foras, habilidades e recursos responsabilizando-os por seu desenvolvimento atravs de suas escolhas. Visa tambm uma manuteno e o desenvolvimento de um bem-estar harmonioso e no a cura, um termo na maioria das vezes utpico, de algum distrbio.

3.2 Os Fundamentos da Gestalt

3.2.1 A Figura e Fundo

Durante o contato que estabelecido na interao pelo indivduo, o trabalho que resulta em assimilao e crescimento a formao de uma figura de interesse contra um fundo ou contexto do campo organismo/ambiente ( Perls, 1969). O processo de formao de figura/fundo altamente dinmico nele as necessidades e recursos advindos do campo progressivamente emprestam suas foras, brilho e potencia para a figura dominante.

A figura especificamente psicolgica: tem propriedades especificas observveis de brilho, limpidez, unidade, fascinao, graa, vigor, desprendimento e etc., dependendo de se estivermos levando em conta essencialmente um contexto perceptivo, sensitivo ou motor. (Perls, Hefferline, Goodman, 1969 p. 52).

O processo de ajustamento criativo a novas experincias, ou seja de alternncia de figura/fundo, a formao de uma nova figura em degradao de outra logicamente, compreende sempre uma fase de destruio. Quando uma nova configurao est prestes a se tornar primeiro plano, as antigas orgnicas e perceptivas sofre a agresso e so destrudas em funo do surgimento desta que agora far parte do indivduo.

3.2.2 O Self

Chamemos de self o sistema de contatos em qualquer momento. E como tal flexivelmente variado, pois responde as necessidades que o organismo apresenta e aos estmulos ambientais em determinado momento. Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1969) o sistema de respostas, diminui durante o sono, quando h menos necessidade de reagir. a fronteira-de-contato em

funcionamento, sua atividade formar figuras e fundos. Temos a preciso de diferenciar ento esta concepo de self como a conscincia freudiana na psicanalise radical antiga, nela tem a funo apenas de esperar pacientemente, o que no possui a capacidade de interagir livremente, apenas relatando e cooperando sem interferncias. Diferente disto, como diz Kant, o self precisamente o integrador, a unidade sinttica. o artista da vida. A diferenciao entre a sade, o normal e a doena e patologia, uma relao entre as identificaes e alienaes do self, como bem explicita Perls (1969) a seguir: se um homem se identifica com seu self em formao, no inibe seu

prprio excitamento criativo e sua busca da soluo vindoura; e, inversamente se ele aliena o que no organicamente seu e portanto no pode ser vitalmente interessante pois dilacera a figura/fundo nesse caso ele psicologicamente sadio, por que esta exercendo sua capacidade superior, e far o melhor que puder nas circunstncias difceis do mundo. Contudo se ao contrrio se ele se aliena, e devido a identificaes falsas, tenta subjugar sua prpria espontaneidade, viso bsica da gestalt com seu ajustamento criativo, torna sua vida inspida, confusa e dolorosa. Segundo Ginger (2007) o self vai ajudar a esclarecer meu funcionamento mental e social, a delimitar meus distrbios no contato.

3.2.3 Percepo e Boa Forma

A percepo o ponto de partida, e tambm um dos temas centrais da teoria em que se embasa a gestalt. para a gestalt assim como o inconsciente para a psicanlise e o comportamento est para o behaviorismo. Os experimentos com a percepo levaram os tericos da gestalt ao questionamento de um princpio implcito na teoria behaviorista: que h relao de causa e efeito entre o estmulo e a resposta. Para os gestaltistas entre a ao que o indivduo realiza e a sua respectiva resposta, o marco mediador a percepo. O que o indivduo percebe e como se d essa percepo so os aspectos imperativos para a compreenso do

comportamento. A gestalt procura entender o comportamento de forma holstica, ou seja em seu contexto mais global, e com isso considerar que quando estudado de

maneira isolada de um texto mais amplo, pode perder seu significado para o psiclogo. (Koffka Khler, e Sander, 1969) Na viso dos gestaltistas, o comportamento deriva de um contexto global, quando consideramos apenas um pedao isolado sem o todo que o completa, impossvel perceber a boa forma que este poderia apresentar impossibilitando tambm a compreenso acertada. Quando eu vejo uma parte de um objeto, ocorre uma tendncia restaurao do equilbrio da forma, norteado pela busca do fechamento dos pontos que compem uma figura ou objeto, todos ns estamos tendenciados a fechar a gestalt. A gestalt encontra nesses fenmenos da percepo as condies para a compreenso do comportamento humano. A maneira como percebemos um determinado estmulo ir desencadear nosso comportamento. (Bock, 2000). Se nos elementos percebidos no h equilbrio, simplicidade, no alcanaremos a boa-forma. Boa-forma resumidamente a percepo de algum acontecimento ou estmulo de forma adequada a situao em que ele ocorre, e que o comportamento respondente acontea de forma acertada. A tendncia inata da nossa percepo em buscar a boa-forma, permitir a relao figura-fundo.

3.2.4 O Ciclo do Contato

A experiencia se d na fronteira entre o organismo e seu ambiente, primordialmente a superfcie da pele e os outros rgos do sentido e motores. A fronteira um local privilegiado onde h o encontro das diferenas, quanto mais

prxima esta de ns maiores sero as energias dispensadas na proteo, mudana e transformao. No faz sentido falar dos contatos que todos nos fazemos sem considerar os elementos que esto envolvidos e sem eles esse contato no teria sentido ou no acorreriam, como por exemplo o ato de respirar sem a presena do ar. Podemos considerar essa interao como campo organismo/ambiente.

O contato primordialmente se da pela existncia de algo novo, o contato a awareness da novidade assimilvel e comportamento com relao a esta; e rejeio da novidade inassimilvel. Por que um organismo vive em seu ambiente por meio da manuteno da sua diferena, e na fronteira que os perigos so rejeitados, os obstculos superados e o assimilvel selecionado e apropriado. (PERLS, HEFFERLINE E GOODMAN, 1997. p. 44)

Por meio do contato posso pensar a minha existncia e a do outro, pois quando entro em contato supe-se que eu me veja como indivduo singular e completo no mundo, e de que se interajo existe o ns que prova a minha prpria existncia. Como diz Ribeiro (2007), o contato a base do crescimento, no se podendo pensar em contato sem que, implicitamente se pense em crescimento. E toda a experincia vivenciada por um indivduo segue um ciclo, ela comea, se desdobra e acaba. Em todos estes momentos alguma coisa nos mais significante, esta se torna a figura dominante, enquanto isso o resto do todo se finca como o fundo, a parte integrante desta experincia. Porm esta figura que dominante no aqui-agora, se tornar com o tempo o fundo de uma outra figura, esta alternncia que constitui o ciclo do contato.

FIGURA 1. O ciclo do contato:

As pessoas geralmente aprendem a fazer contatos reais, nisso aprendese a selecionar o que bom para si. Porm nesse contexto do contato que as pessoas mantm as diversas formas de interromp-lo, se tornando as chamadas resistncias. Contato sade, j qualquer destas interrupes a perda da sade, doena a parada do contato em um dos campos do espao vital da pessoa.

3.2.5 Resistncias

Essa alternncia de figuras e fundos, que embasa o contato nem sempre se desenrola de maneira regular, assim como se espera, o ciclo pode aparecer segundo Ginger (2007) com interrupes, deslizes ou derrapagens, saltos, recuos etc., e estes distrbios geralmente so denominados resistncias. Dentre elas podemos citar: a confluncia, a introjeo, a projeo, a retroflexo, a deflexo, fixao, dessensibilizao, proflexo, egotismo.

Na gestalt o conceito central o contato que se faz compreensvel com essa dinamicidade de formao e destruio de gestalts, no entanto no basta apenas formar e destruir, preciso fecha-las, que se configura como o caminho para a sade, uma vez que quanto mais gestalts inacabadas mais pobre ser o contato. Poderemos visualizar as resistncias e seus fatores de cura na tabela 1, a seguir:

TABELA 1 RESITNCIAS E RESPECTIVOS FATORES DE CURA RESISTNCIA FATOR DE CURA

FIXAO: processo pelo qual me apego FLUIDEZ: movimento-me, me excessivamente as pessoas, ideias ou coisas localizo no tempo e espao, deixo e temendo a surpresa diante do novo e da posies antigas, mais solto e realidade sinto-me incapaz de explorar espontneo sinto vontade de criar e situaes que flutuam permanecendo fixado recriar a minha vida. em coisas. DESSENSIBILIZAO: processo pelo qual SENSAO: processo pelo qual saio me sinto entorpecido, frio diante de um do estado de frieza emocional, estou contato, com dificuldade em me estimular, no mais atento aos sinais que mau diferenciando estmulos externos , perdendo corpo me manda e produz, sinto e meu interesse por coisas novas e mais at procuro novos estmulos. intensas. DEFLEXO: evito contato por meio de mais CONCINCIA: processo pelo qual vrios sentidos ou fao de maneira vaga e em me dou conta de mim mesmo de geral desperdio minha energia, usando maneira mais clara e reflexiva. Estou contato indireto, palavreado vago. Sinto me mais atento ao que ocorre a minha pouco valorizado afirmando que nada d certo volta. na minha vida. INTROJEO: processo pelo qual obedeo e MOBILIZAO: processo pelo qual aceito posies arbitrrias, normas e valores sinto a necessidade de mudar, de que pertencem a outros, sem conseguir exigir meus direitos, de separar defender meus direitos por medo. Desejo minhas coisas das dos outros, de mudar mas tenho medo da minha prpria no ter medo de ser diferente. mudana.

PROJEO: a pessoa pela dificuldade em AO: expresso mais confiana nos estabelecer o que seu, atribui aos outros ou outros, assumo mais ao mau tempo por seus fracassos, sente-se responsabilidades, identifico em mim ameaada pelo mundo em geral, pensando mesmo as razes pelos meus demais antes de agir e identificando problemas. facilmente nos outros dificuldades e defeitos semelhantes aos seus, gostam que os outros faam coisas no seu lugar PROFLEXO: a pessoa deseja que os outros INTERAO: processo pelo qual ,e sejam assim como ela seja ou deseja, aproximo do outro sem esperar nada manipulando-os para que receba aquilo que em troca, ajo de igual para igual, dou precisa, seja fazendo o que eles gostam, ou pelo prazer de dar, convivo com as submetendo-se passivamente aos outros, dificuldades dos outros sem esperar sempre na esperana de ter algo em troca. retribuio. Tem dificuldade de se reconhecer como prpria fonte de nutrio. RETROFLEXO: processo pelo qual a pessoa CONTATO FINAL: sinto a mim meso deseja ser como os outros desejam que ela como minha prpria fonte de prazer, seja, ou deseja que ela seja com eles prprios nutro-me do que quero sem so, dirigindo para si mesma a energia que intermedirio. deveria dirigir a outra. EGOTISMO: processo pelo qual me coloco SATISFAO: vejo que o mundo sempre como o centro das coisas, exercendo composto por pessoas, que o outro um controle rgido e excessivo do mundo fora pode ser fonte de contato nutritivo, dela, impe tanto a sua vontade e desejos que que possvel desfrutar dividido. deixa de prestar ateno no meio circundante. CONFLUNCIA: processo pelo qual a pessoa RETIRADA: processo pelo qual saio se liga fortemente aos outros, sem diferenciar das coias no momento em sinto que o que seu do que deles diminuindo a devo, percebendo o que meu e o diferena para se sentir melhor e semelhante que dos outros, aceito ser diferente aos demais. Gosta de agradar os outros para ser fiel a mim mesmo. mesmo quando no solicitada. RIBEIRO, 2007

4 ESTUDO DE CASO

4.1 Caso D. B. S.

4.1.1 Histria

Neste estudo de caso sero relatadas o histrico teraputico da cliente D. B. S., atendida pelo relator desta monografia durante o perodo de 5 meses, com o objetivo de tentar ilustrar a prtica dos assuntos explicitados anteriormente. A cliente D. B. S. tem 20 anos de idade, mora com o companheiro h cerca de 2 anos, porm no casada oficialmente, na mesma casa vive ainda o seu cunhado com quem no tem um bom relacionamento. Parou os seus estudos apenas com o ensino fundamental, no desenvolve nenhuma atividade religiosa, nem tem emprego fixo, se restringe as tarefas de dona de casa. Seus familiares moram em outra cidade, e hoje em dia tem um bom relacionamento com eles, no inicio do casamento foram contra o que a levou a fugir da casa dos pais para viver com o atual esposo. Procurou atendimento teraputico com a queixa principal de cimes, que faziam com que o seu relacionamento com o companheiro estivesse se tornando insuportvel, baseado em brigas dirias. Tambm queixou-se de solido, falta de dilogo e ateno por parte do marido. Relata que durante os primeiros meses de casamento o seu relacionamento era altamente agradvel, o companheiro lhe

reservava muita ateno, carinho e o envolvimento sexual era bastante satisfatrio, porm aps cerca de seis meses depois de comearem a viver juntos comearam as discusses cada vez mais frequentes e intensas. Em sua histria pessoal a fase da puberdade a mais marcante, o pai sempre foi muito rgido e agressivo, principalmente com ela, tanto agresses fsicas quanto psicolgicas, o pai era atencioso e carinhoso com os outros dois irmos, porm com ela existiam muitas cobranas, segundo ela mesma era a ovelha negra da famlia. A me sempre foi muito passiva as atitudes do marido, e se envolvia muito pouco no que acontecia em casa, era muito obediente. Quanto a sociabilidade, em relao a famlia tem muitas reservas em comentar o que est acontecendo, tem receio em expor os problemas que tem em relao ao casamento, fala s vezes com a me por telefone. No ambiente social bem reservada, no tem amigas, raramente conversa com vizinhos e etc. Ela praticamente vive para servir ao companheiro, notado um processo muito agudo de dependncia tanto fsica, financeira e principalmente emocional, que aumentou causando enorme sofrimento no momento atual em que o companheiro no lhe d mais o apoio e o carinho de antes, segundo ela, que deveria existir em um casamento de verdade. Ainda, apresenta problemas na tireoide, porm hoje est controlado, os nveis hormonais esto estabilizados, e os efeitos so mnimos, no faz o uso da medicao pois est grvida.

4.1.2 Diagnstico

Neste estudo partiremos do pressuposto de que os casos de amor patolgico so parte integrante dentro do transtorno de personalidade dependente, pois atravs da pesquisa bibliogrfica realizada at chegarmos aqui, esta mostra-se como o modo mais acertado de se trata-lo. Podemos encontrar como critrios de diagnstico do amor patolgico, os desenvolvidos pela Associao de Psiquiatria Americana, utilizando-se dos mesmos critrios que so usados em casos de dependncia qumica, de alcoolistas e etc. Estes esto sintetizados em seis critrios, e para que o diagnstico de amor patolgico possa ser concludo pelo menos trs destes devem estar sempre presentes. No caso D. B. S. encontramos trs: 1. O ato de cuidar do parceiro ocorre em maior quantidade do que o indivduo gostaria - o indivduo costuma se queixar de manifestar ateno ao parceiro com maior frequncia ou perodo mais longo do que pretendia de incio. 2. Abandono de interesses e atividades antes valorizadas, como o indivduo passa a viver em funo dos interesses do parceiro, as atividades propiciadoras da realizao pessoal e profissional so deixadas, como cuidado com filhos, atividades profissionais, convvio com colegas. 3. O AP mantido, apesar dos problemas pessoais e familiares - mesmo consciente dos danos advindos desse comportamento para sua qualidade de vida, persiste a queixa de no conseguir controlar tal conduta. J no diagnstico do TPD, Transtorno de Personalidade Dependente, so oito os critrios, necessitando no entanto do fechamento de cinco destes para que se constate o indivduo como detentor deste transtorno. Foram encontrados no caso D. B. S. os seguintes:

1. Tendncia a ser passivos e a permitir que outras pessoas tomem iniciativas e assumam a responsabilidade pela maioria das reas importantes de suas vidas. 2. Tm dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas de maneira independente. Eles esperam que os outros "deem a partida", por acreditarem que, via de regra, os outros sabem fazer melhor. 3. comum ir a extremos para obterem carinho e apoio, chegando ao ponto de se oferecerem para realizar tarefas desagradveis, inclusive em questes sexuais. 4. observado sentimento de desconforto ou desamparo quando esto sozinhos, pelo medo exagerado de serem incapazes de cuidar de si prprios. 5. Os indivduos com este transtorno em geral se preocupam com temores de que sero abandonados prpria sorte. Partindo-se ento destas considerao e baseando-se nos critrios encontrados na cliente o projeto teraputico foi sendo estruturado e ser relatado a seguir.

4.1.3 A Gestalt-Terapia no Caso D. B. S.

Na gestalt-terapia o terapeuta se mostra como naturalmente um interveniente e ativo, ele age e faz agir. O terapeuta no decide sozinho a direo que o trabalho toma, preciso colocar-se com toda a sua competncia disposio do cliente, que o demandante, livre e responsvel de suas demandas e aes. A

tarefa acompanhar atentamente no caminho da explorao que o prprio cliente determina, o papel essencial permitir e favorecer, mais do que compreender ou mandar fazer algo. O gestaltista oferece aos seus cliente um contato verdadeiro, de um parceiro atento e competente, em um dilogo tambm verdadeiro. E so nestes contatos feitos pelos indivduos nos mais diversos momentos da vida, na fronteira entre o self e o meio, que podem ocorrer certas irregularidades. As transies entre figuras e fundos podem no acontecer de maneira harmoniosa e com percepes distorcidas, quando isto ocorre surgem ento as resistncias ao contato. Neste estudo de caso especificamente foi usado o ciclo do contato, estruturado em Ribeiro (1997), nele o self colocado no centro por ser segundo o referido autor como o sistema da personalidade, cuja funo colocar-se alternativamente como figura ou como fundo nas relaes com o mundo exterior, e na fronteira do contato so dispostos as resistncias e seus respectivos fatores de cura. Figura 2. Ciclo do contato no caso D.B.S.

No inicio da terapia a cliente chegou ao set teraputico com a queixa de que era muito ciumenta, e que estes ciumes to grandes estavam dificultando o relacionamento e o dilogo. Durante a primeira conversa foi-se notando que essa viso de ciumes era apenas do seu companheiro. Alm disto muitas de suas percepes, do mundo e principalmente de si mesma estavam distorcidas como por exemplo: o seu casamento no era o que ela sempre desejou, o companheiro no lhe presta nenhuma ateno e mesmo assim tem expectativas irracionais de que ele ira mudar. Nota-se com isso o processo de resistncia ao contato, a deflexo (nem ele nem eu existimos,RIBEIRO, 2007), a cliente sente-se apagada, incompreendida, pouco valorizada, e afirmava que nada d certo em sua vida, nem sabe o por que disto acontecer. O fator a ser trabalhado neste caso primeiramente a conscientizao do cliente sobre seus verdadeiros sentimentos para tanto o terapeuta procurou atravs do estabelecimento do contato e do dilogo, e aps a exposio de textos sobre amor, cimes, relacionamentos e as bases de um casamento, hotseat e vivncias. A tcnica da cadeira vazia contribuiu para que a cliente pudesse expor os seus sentimentos e desejos e as vivncias permitiram que ela comeasse a compreender os sentimentos naquela determinada situao. A conscientizao foi percebida pelo terapeuta nas seguintes frases: ele me humilha, reclama de tudo que eu fao, eu j no tenho lgrimas pra chorar por ele, o pior saber que sofro por que quero e eu quero e vou pensar mais em mim. O segundo ponto de resistncia observado foi a fixao (parei de existir, RIBEIRO, 2007). A cliente se apegou excessivamente tanto ao companheiro, quanto a ideia de de casamento que tinha antes de se casar, mesmo este no contemplando o seu desejo. Ela preferiu se acostumar com o sofrimento que se

aventurar em coisas novas, e sem levar em considerao os benefcios ou malefcios envolvidos nestas situaes. Na sua percepo causaria menos sofrimento continuar fixada onde estava do que por exemplo deixar o casamento, sentia-se mais segura continuando com o marido, mesmo que a dor emocional fosse enorme. Com isto a ao do terapeuta foi colocar em prtica a fluidez, com a inteno de que a cliente pudesse deixar de lado as posies antigas, renovando-se e promovendo a vontade de criar e recriar a sua vida. A inteno mudar a percepo da cliente de que a nica razo de sua vida o companheiro, colocandose em primeiro lugar, entendendo que a responsabilidade sua pela prpria felicidade, retornando as rdeas da vida em suas mos. Para tanto foram utilizadas as tcnicas da vela, das pessoas mais importantes de sua vida, das escolhas, hotseat e do dilogo. Com isto o awareness foi estabelecido, a cliente disponibilizou a energia necessria como explicitado nas falas: eu sei que tenho que mudar, eu tenho que mudar e eu tenho que olhar mais pra mim, me colocar em primeiro lugar. Porm apesar da presena da awareness e da energizao, mesmo assim a cliente no conseguia se desvincular da fixao, estava enormemente enraizada em todos os aspectos de sua vida, o que era afirmado e dado como certo durante as sees era esquecido em casa, durante cerca de 5 sees a cliente apresentava-se repetidamente a mesma awareness, a energizao e retornava a prxima seo com a mesma queixa. Com isso o posicionamento do terapeuta foi de colocar meus sentimentos sobre a terapia, e que sem a responsabilizao e ao o processo no seria eficaz.

Trabalhadas estas duas resistncias a cliente durante a sua ultima seo demonstrou uma maior firmeza sobre suas prprias opinies, se apercebeu de que era nica responsvel pela sua felicidade e que no poderia ter futuro sem que sua percepo de si mesma como incapaz de viver sozinha e que o nico modo de vida era viver este casamento e servir o companheiro no mudasse. Hoje em suas prprias palavras percebvel sua mudana, o companheiro no aceitou com alegria sua gravidez, porm disse que: no estou nem ligando, estou feliz com meu filho, e agora existe mais alguem na minha vida que eu posso cuidar e que vai gostar de mim.

5 METODOLOGIA

O trabalho monogrfico: Transtorno de Personalidade Dependente e Amor Patolgico sob a tica da Gestalt-terapia, foi realizado atravs de pesquisa bibliogrfica, possuindo um carter qualitativo dos objetos pesquisados, nos mais diversos meios informativos como: livros, textos, artigos cientficos, revistas, peridicos e em meio eletrnico a internet, em sites especializados e trabalhos online. Esta monografia foi sendo construda em etapas, as quais sero descritas a seguir: 1. Primeiramente foi feita a escolha do tema, e em seguinte foi estruturado o projeto de pesquisa, e a diviso de captulos e a escolha pela presena do estudo de caso; 2. Aps isto partiu-se para a pesquisa propriamente dita, analisando e compilando os dados julgados essenciais para o objetivo da monografia; 3. Com o levantamento bibliogrfico em mos, comeou-se a confeco dos elementos textuais, pr-textuais; 4. E por ltimo foi feito o estudo de caso, como instrumento de ao prtica.

6 CONCLUSO

Portanto chegamos ao fim desta empreitada com algumas concepes tanto sobre o transtorno de personalidade dependente e com ele o amor patolgico como tambm sobre a gestalt-terapia e a sua aplicabilidade. A principio fica muito claro que o TPD dentre os transtornos da personalidade um dos menos estudados, mesmo este como todos os outros trazendo ao indivduo um sofrimento psicolgico enorme, tanto no que se refere ao contexto psicolgico quanto as interaes sociais. Pessoas com este tipo de transtorno ficam extremamente ligadas, principalmente, a um companheiro ou companheira em um relacionamento amoroso. As hipteses apresentadas durante a elaborao deste foram, ao ver do redator, solucionadas e os objetivos foram, em sua maior parte, atingidos. Fica tambm neste estudo clarificados os critrios de diagnsticos do amor patolgico e de TPD, mais aceitos e utilizados atualmente, o que permitiu entender um pouco mais, e tambm fechar o diagnstico da estudo de caso presente nesta monografia. No que cerne a aplicabilidade da gestalt-terapia, ela demonstra-se como uma alternativa dentro das principais correntes psicolgicas no tratamento do amor patolgico. Analisando-se todo o desenvolvimento apresentado durante o tratamento psicolgico ocorrido no estudo de caso da cliente D.B.S. podemos concluir que as tcnicas que so utilizadas por um terapeuta gestaltista como: cadeira vazia, vivncia, escolhas, vela, bem como as ideias referentes a ela como a conscientizao, a responsabilizao no aqui-agora e tambm a utilizao do ciclo

do contato como uma metodologia propiciando a elucidao das resistncias e formulao de um projeto teraputico conduziu a eficcia no processo de mudana.

REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS

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