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Janaína Alves – Intensivo 3 4Act Performing Arts Texto 1 - D Eduarda – Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues D. EDUARDA - Eu disse tanto mal de ti... Te chamei de bêbedo, de louco... Rezei para que fosses embora e não pertencesses nem a mim, nem à minha família... Desejei que te afogasses para que nenhuma mulher beijasse teu corpo... Mostra os nomes. Escritos no corpo. (Enamorada do busto e lendo o nome muito repetido) - Sempre o mesmo nome, dentro do mesmo desenho - um coração atravessado... Eu queria tanto que fosse o meu nome, que estivesse escrito no teu corpo!... Texto 2 - D Eduarda – Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues D. EDUARDA - Ainda é tua mãe, e não eu... Não é por mim, é por tua mãe... Mas não importa. O que eu não quero é que ele me queime com o seu hálito... Nem que me olhe como se eu estivesse nua... Vamos... Leva-me... Para bem longe, para onde nem o sonho de meu marido possa me alcançar... Por que esperas, ainda? As coisas, que eu mais quero, não acontecem... Há muitos meses, eu ando com um veneno escondido no seio para misturar no remédio do meu marido... E na hora me falta coragem... Minha filha não gosta de mim, nem eu dela... Cada uma deseja a morte da outra... Mas eu já sei que sou eu que vai morrer... Porém, se eu morrer, quero que tu me ensines o caminho da ilha... Essa ilha onde tua mãe está... Onde tua mãe vive depois de morta... Esquece tua mãe! Ela te esqueceu... Também te esqueceu... Só pensa em teu pai e não em ti! A Bruxa Má do Oeste (The Wizard of Oz) Adaptação de Rafael Oliveira Em 28/09/2011 O Mágico de Oz conta a história de Dorothy, que foi parar na terra encantada de Oz depois que um tornado levou pelos ares sua casa numa fazenda no Kansas. Em Oz, ela tenta encontrar o Grande Mágico de Oz, que supostamente teria o poder de levá-la de volta

Monólogos

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Monólogos para estudo

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Janana Alves Intensivo 3

4Act Performing Arts

Texto 1 - D Eduarda Senhora dos Afogados, de Nelson RodriguesD. EDUARDA - Eu disse tanto mal de ti... Te chamei de bbedo, de louco... Rezei para que fosses embora e no pertencesses nem a mim, nem minha famlia... Desejei que te afogasses para que nenhuma mulher beijasse teu corpo... Mostra os nomes. Escritos no corpo. (Enamorada do busto e lendo o nome muito repetido) - Sempre o mesmo nome, dentro do mesmo desenho - um corao atravessado... Eu queria tanto que fosse o meu nome, que estivesse escrito no teu corpo!...

Texto 2 - D Eduarda Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues

D. EDUARDA - Ainda tua me, e no eu... No por mim, por tua me... Mas no importa. O que eu no quero que ele me queime com o seu hlito... Nem que me olhe como se eu estivesse nua... Vamos... Leva-me... Para bem longe, para onde nem o sonho de meu marido possa me alcanar... Por que esperas, ainda? As coisas, que eu mais quero, no acontecem... H muitos meses, eu ando com um veneno escondido no seio para misturar no remdio do meu marido... E na hora me falta coragem... Minha filha no gosta de mim, nem eu dela... Cada uma deseja a morte da outra... Mas eu j sei que sou eu que vai morrer... Porm, se eu morrer, quero que tu me ensines o caminho da ilha... Essa ilha onde tua me est... Onde tua me vive depois de morta... Esquece tua me! Ela te esqueceu... Tambm te esqueceu... S pensa em teu pai e no em ti! A Bruxa M do Oeste (The Wizard of Oz)Adaptao de Rafael Oliveira

Em 28/09/2011

O Mgico de Oz conta a histria de Dorothy, que foi parar na terra encantada de Oz depois que um tornado levou pelos ares sua casa numa fazenda no Kansas. Em Oz, ela tenta encontrar o Grande Mgico de Oz, que supostamente teria o poder de lev-la de volta para casa. No caminho ela encontra um Espantalho, um Homem de Latas e um Leo Medroso.

A Bruxa M do Oeste a vil da histria. Quando Dorothy chegou em Oz ela caiu com sua casa sobre a Bruxa M do Leste, e, incentivada pela Bruxa Boa do Norte, ela calou os sapatinhos de rubi que estavam nos ps da Bruxa. Por causa disso, a Bruxa M do Oeste quer vingar a morte da irm e recuperar os sapatinhos de rubi a todo custo.

A est o comandante dos meus macacos alados! Eu tenho uma importante tarefa para voc! Meus inimigos vo entrar na Floresta Assombrada e eu quero que voc junte seus homens, ou melhor, seus macacos, e capturem aquela garotinha enjoada e seu igualmente nauseante cachorrinho. Cansado? Como assim voc est cansado? Mas tudo bem, vou conjurar um feitio para faz-la perder as foras.

Agora... Qual das minhas arrepiantes criaes rastejantes devo eu convocar para atazan-la? A Peonha Medonha? No... A Ranosa Espumosa? Tambm no... Ah! Eu j sei! O Jitterbug! Sim... Voc j pode comear a tremer! No existe ameaa mais infecciosa em todo meu livro de feitios! Uma vez mordidos, eles no vo parar de danar at que caiam desmaiados! E quando eles fizerem isso, voc estar l para capturar a garotinha insuportvel e sua pequena peste e traz-los para mim! E logo os adorveis sapatinhos de rubi vo adornar os meus pezinhos delicados... Agora v! Faa o que eu ordeno! Voe! Voe! Voe!

Tomara que ele tenha entendido direito. Da prxima vez que eu escravizar uma nao inteira, eu vou checar se eles so inteligentes primeiro... Ser que eu encontro um sapateiro decente acordado a essa hora?

Eliza Doolittle (My Fair Lady)

Adaptado por Rafael Oliveira

Em 20/12/2011

My Fair Lady conta a histria de Eliza Doolittle, uma mendiga que vende flores pelas ruas escuras de Londres em busca de uns trocados. Em uma dessas rotineiras noites, Eliza conhece um culto professor de fontica Henry Higgins e sua incrvel capacidade de descobrir muito sobre as pessoas apenas atravs de seus sotaques. Quando ouve o horrvel sotaque de Eliza, aposta com o amigo Hugh Pickering, que capaz de transformar uma simples vendedora de flores numa dama da alta sociedade, num espao de seis meses.

Na cena do monlogo Eliza est sendo "testada em pblico" pela primeira vez. Henry a levou at Ascot, numa corrida de cavalos, para ver como ela se portaria diante da sociedade. Apesar dela tentar pronunciar as palavras exatamente como havia aprendido com o professor Higgins ela comete uma gafe pois o assunto no exatamente o mais apropriado para uma conversa entre os membros da alta sociedade.

Minha tia morreu de uma gripe, assim eles disseram. Mas na minha opnio, despacharam a coitada. Sim, que Deus a tenha. Por que teria morrido de gripe se escapou de uma difteria no ano anterior? Ela ficou com o p na cova, toda azulada. Todos pensaram que estava morta. Mas meu pai pegou uma colher e ficou despejando gim goela abaixo e ela voltou a si to de repente que mordeu a colher e arrancou-a do cabo. Agora, diga-me, como uma mulher com essa fora iria morrer de gripe? E onde foi parar o chapu de palha novinho que devia ter ficado pra mim? Algum roubou! A verdade : quem despachou a coitada, afanou o chapu. Aqueles com quem ela morava a teriam matado por um alfinete, por um chapu ento nem se fala. E quanto ao meu pai t-la enchido de gim, isso no a teria matado. No a ela! Gim era como leite materno para ela. Alm disso, ele entornava tanto na sua prpria goela que sabia o que era bom.

Elle Woods (Legally Blonde 2)Adaptado por Carla Giuranno em 17/11/13

Legalmente Loira 2 um filme que conta a histria de Elle Woods, que descobre s vsperas de seu casamento que a me de seu cachorro de estimao vive num laboratrio de cosmticos que faz testes em animais. Inconformada com a situao, ela, que advogada, vai a Washington para tentar aprovar um projeto de lei que proba estes testes.

Elle Woods uma rica advogada patricinha que aprendeu na faculdade que a vida mais do que roupas e sapatos. Ela sempre positiva e acredita que tudo pode ser solucionado com bom humor e f nas pessoas. Nesta cena, Elle est no Congresso para fazer seu discurso sobre o projeto de Lei que proibir testes cosmticos em animais. Ainda faltam a assinatura de 15 congressistas para a lei ser aprovada e ela precisa convencer a todos que o Projeto de Lei muito importante.

Ol a todos. Meu nome Elle Woods e eu estou aqui hoje para falar sobre um projeto de legislao chamado Projeto Bruiser. Mas sabe de uma coisa? O dia de hoje deveria ser sobre aprendizagem, por isso eu vou falar sobre toda tudo o que aprendi com vocs aqui nos ltimos trs meses.

Eu vim Washington para ajudar meu cachorrinho Bruiser e, em algum momento, eu aprendi uma lio inesperada. Eu sei o que vocs esto pensando: "Quem essa garota? E o que esta simples garota de Bel Air pode ter de importante pra dizer pra todos ns?"

Bem, eu vou dizer. sobre algo maior que eu mesma, ou qualquer ato de legislao. Trata-se de um assunto que deveria ser tratado como prioridade por cada cidado americano: o meu cabelo.

Tem um salo em Beverly Hills que muito chique e famoso, mas impossvel de se conseguir um horrio. A menos que voc seja Julia Roberts ou uma das meninas deFriends, pode esquecer.

Mas, um dia, eles me ligaram! Eles tinham um horrio vago! Ento eu finalmente teria uma chance de me sentar em uma daquelas cadeiras sagradas do salo. Eu fiquei to animada!

Mas, apesar da minha alegria, o cabeleireiro usou a corBriggitte Ferrugemao invs deAvel Mel. A menina do xampu lavou meu cabelo com xampu para permanente ao invs de xampu hidratante para intensificar a cor.Para terminar, o cabeleireiro cortou meu cabelochanelcom franjinha. Resumindo, saiu tudo errado! Tudo deu errado comigo, entende?

Primeiro, eu fiquei com raiva. Depois percebi que minha raiva estava completamente mal direcionada. Quero dizer, a culpa no foi do salo! Eu fiquei l sentada, testemunhei toda essa injustia e deixei que acontecesse. Eu no me envolvi no processo.

Esqueci de usar minha voz! Esqueci de acreditar em mim mesma! Mas agora aprendi a lio. Sei que uma voz honesta pode fazer mais barulho que uma multido! Sei que, se ns perdermos nossa voz ou se deixarmos que aqueles que falam por ns comprometam nossa voz, ento este pas, este pas ter um pssimo corte de cabelo!

Por isso, levante a voz, Amrica! Levantem a voz! Levantem a voz pela terra dos bravos, pelo pas dos brindes que vem com sua compra! Levante a voz, Amrica! Levantem a voz!

E lembrem-se: Vocs so lindos. Pela sua ateno, obrigada!

Jeanie (Hair)

Adaptado por Rafael Oliveira

Em 18/10/2011

O musical Hair (Cabelo) conta a histria de uma tribo, um grupo de hippies politicamente ativos de cabelos longos da "Era de Aqurio" que levam uma vida bomia em Nova Iorque que lutam pela liberdade em todos os sentidos, principalmente contra mandar os jovens americanos para a Guerra do Vietn.

Jeanie uma garota excntrica. Ela est grvida e ama Claude, que por sua vez est apaixonado por Sheila e no d ouvidos a Jeanie. Ela deseja estar grvida de Claude, mas ela foi engravidada por algum "muito rpido" que ela no tem certeza de quem foi.

Sabe Claude, eu mandei um telegrama pro meus pais pedindo dinheiro, disse a eles que eu tava grvida. Sabe o que eles responderam? "Problema seu, continue grvida". Claude, eu queria que esse filho fosse seu, mas isso impossvel a gente ter certeza. Eu morreria por voc, Claude, eu t perdida nas infinidades transcendentais do seu terceiro olho mstico! T viajando numa droga muita louca. Sabe da maior, Claude? Voc meu cido, minha viagem... Metedrina uma onda ruim, mas Claude me d paz, e o melhor de tudo que Claude me amaaaa!

Ai eu to chapadaaa, t muito doida pra sair no comcio, porque eu to muito grvida pra levar porrada da polcia hoje. Eu j levei at uma bolsada bem aqui agora nesse teatro. Uma senhora olhou pra mim e disse: "Olha a marginal grvida, fumando a erva assassina!" A eu disse: "Porque que a senhora acha que a erva assassina? A senhora sabe de algum que erva matou? Paz e amor vov!" A p, tomei uma bolsada na cara! Eu tenho direito de fazer o que eu quiser fazer, mesmo grvida ocorpo meu! ou no , Claude?

Sabe, eu j experimentei todas as drogas, menos uma, a da folha da videira selvagem. Eu tinha uma amiga que tomou e comeou a falar com ETs e ter muito contato com discos voadores... Ela desapareceu! deve ter ido com eles pro planeta deles. Ai, eu queria ter tomado essa da videira! Mas cismei em ter esse filho aqui na Terra. Voc no acha que eu fiz certo, Claude?

Nossa, sempre muito bom conversar com voc! Que a gente se comunica de uma outra maneira, voc nem precisa falar que eu j captei tudo. Muito obrigada!

Rainha Aggravain (Once Upon a Mattress)

Adaptao de Rafael Oliveira

Em 29/07/2010

O musical Once Upon a Mattress (Era uma vez num colcho) uma adaptao do conto A princesa e a Ervilha. A Rainha sabe que perder o trono uma vez que seu filho, o prncipe, se case. Ento ela faz de tudo para impedir que isso ocorra.

A Rainha Aggravain fala pelos cotovelos, mandona e costuma falar sozinha. Nesta cena ela est mentindo descaradamente e todo o texto carregado de ironia. De fato, o que ela realmente quer exatamente o contrrio do que est falando.

Como voc pode me dizer uma coisa dessas? Eu quero que voc se case, quantas vezes eu preciso dizer isso? Esta manh mesmo eu estava dizendo ao seu pai Eu disse

"Sstimo, eu quero aquele garoto casado, afinal de contas ele logo herdar o trono. Eu no estou dizendo que somos as pessoas mais velhas do mundo, mas tambm no vamos viver para sempre e eu me sentiria to melhor, to aliviada, to... feliz se eu soubesse que aquele garoto iria se casar."

E foi exatamente isso, palavra por palavra, que eu disse para seu pai. claro que ele no respondeu nada, ele nunca responde. Ele pode ser um homem mal, mesquinho, egosta, estpido e idiota, mas ele seu pai e deve ser respeitado.

Mas um casamento para toda vida e eu no quero que meu garoto cometa o mesmo erro que eu e termine num casamento miservel. Voc um prncipe, e deve se casar com uma moa que seja boa o suficiente, inteligente o suficiente, e adorvel o suficiente para meu lindo, tenro, doce beb. E claro que ela tem que ser uma princesa. Eu digo, uma princesa de verdade, genuna, como eu era. E isso que voc quer, no ? Algum como eu? Claro que sim! Ah, Deus, se ao menos eu fosse 20 anos mais jovem! Apenas lembre-se disso: Voc precisa confiar em mim!

Sally Brown (You're a Good Man Charlie Brown)

"You're a Good Man Charlie Brown" (Traduo literal 'Voc um bom homem, Charlie Brown', traduzido no Brasil como 'Meu Amigo Charlie Brown') conta a histria de um dia comum na vida do famoso personagem de tirinhas de jornal Charlie Brown. A maioria dos personagens tem entre 5 e 6 anos de idade, mas o musical geralmente feito com adultos.

Sally a irm mais nova de Charlie Brown. Ela muito crtica e por vezes parece uma advogada ou uma psicloga quando fala. Ela muito teimosa e at que provem o contrrio ela sempre tem razo. Nesta cena ela reclama (com a vida? Com a professora?) sobre a nota baixa em seu trabalho de artes.

Um 'C'? Um 'C'? Tirei um 'C' na minha escultura de um cabide? Como qualquer um pode tirar um 'C' numa escultura de um cabide? Posso fazer uma pergunta? Eu fui julgada pela obra de arte em si? Se foi assim, no verdade que apenas o tempo pode dizer o valor de uma obra de arte? Ou ser que eu fui julgada pelo meu talento? Se foi assim, justo eu ser julgada numa parte da minha vida sobre a qual eu no tenho o menor controle? Se eu fui julgada pelo meu esforo, ento o julgamento foi injusto, pois eu me esforcei ao mximo! Fui julgada pelo que eu aprendi nesse projeto? Se foi assim, ento voc, professora, tambm no est sendo julgada em sua habilidade de transmitir seu conhecimento para mim? Voc est disposta a dividir comigo meu 'C'? Talvez eu estivesse sendo julgada pela qualidade do cabide que eu utilizei como modelo para minha criao... o que tambm no seria injusto? Devo eu ser julgada pela qualidade dos cabides que so utilizados pelas lavanderias que devolvem nossas vestes? No seria essa uma responsabilidade dos meus pais? No deveriam eles dividir comigo o meu 'C'?rsula (The Little Mermaid)Acrescentado em 03/10/2011

A Pequena Sereia um conto de Hans Christian Andersen sobre uma jovem sereia disposta a dar a sua vida nos mares e a sua identidade como sereia a fim de conseguir uma alma humana e o amor de um prncipe humano. Foi imortalizada no desenho de 1989 pelos Estdios Disney e em 2008 ganhou sua adaptao para os palcos na Broadway.

A bruxa rsula uma "mulher polvo" ardilosa e manipuladora. Foi expulsa do palcio por seu irmo, o Rei Trito e vive numa gruta enganando os seres do mar com apostas que eles no podem cumprir. Neste monlogo ela enxerga em Ariel, a pequena sereia filha de Trito, uma oportunidade de voltar para o palcio real.

, corra pra casa princesa. Ns no queremos perder a festinha do papai, no verdade?

Ah! Festinha do papai.(debochando)Ah, bah!

No meu tempo... fazamos festinhas fantsticas... quando eu morava no palcio.

E agora, olhem pra mim! Jogada fora como quem no vale nada... banida, exilada, quase passando fome! Enquanto ele e seus peixinhos idiotas festejam!Ora, eu darei a eles o que festejar logo logo.

(Chamando seus asseclas)Pedro! Juca!

Eu quero que vocs fiquem de olho nesta bela garotinha dele.

Ela pode ser a chave da queda de Trito.

Gota dgua Chico Buarque e Paulo PontesJOANA Pois bem, voc

vai escutar as contas que eu vou lhe fazer:

te conheci moleque, frouxo, perna bamba,

barba rala, cala larga, bolso sem fundo

No sabia nada de mulher nem de samba

e tinha um puto dum medo de olhar pro mundo

As marcas do homem, uma a uma, Jaso,

tu tirou todas de mim. O primeiro prato,

o primeiro aplauso, a primeira inspirao,

a primeira gravata, o primeiro sapato

de duas cores, lembra? O primeiro cigarro,

a primeira bebedeira, o primeiro filho,

o primeiro violo, o primeiro sarro,

o primeiro refro e o primeiro estribilho

Te dei cada sinal do teu temperamento

Te dei matria-prima para o teu tutano

E mesmo essa ambio que, neste momento,

se volta contra mim, eu te dei, por engano

Fui eu, Jaso, voc no se encontrou na rua

Voc andava tonto quando eu te encontrei

Fabriquei energia que no era tua

pra iluminar uma estrada que eu te apontei

E foi assim, enfim, que eu vi nascer do nada

uma alma ansiosa, faminta, buliosa,

uma alma de homem. Enquanto eu, enciumada

dessa exploso, ao mesmo tempo, eu, vaidosa,

orgulhosa de ti, Jaso, era feliz,

eu era feliz, Jaso, feliz e iludida,

porque o que eu no imaginava, quando fiz

dos meus dez anos a mais uma sobrevida

pra completar a vida que voc no tinha,

que estava desperdiando o meu alento,

estava vestindo um boneco de farinha

Assim que bateu o primeiro p-de-vento,

assim que despontou um segundo horizonte,

l se foi meu homem-orgulho, minha obra

completa, l se foi pro acervo de Creonte...

Certo, o que eu no tenho, Creonte tem de sobra

Prestgio, posio... Teu samba vai tocar

em tudo quanto programa. Tenho certeza

que a gota dgua no vai parar de pingar

de boca em boca... Em troca pela gentileza

vais engolir a filha, aquela mosca morta,

como engoliu meus dez anos. Esse o teu preo,

dez anos. At que aparea uma outra porta

que te leve direto pro inferno. Conheo

a vida, rapaz. S de ambio, sem amor,

tua alma vai ficar torta, desgrenhada,

aleijada, pestilenta... Aproveitador!

Aproveitador!...

Fazem nova evoluo pelo palco inteiro; agora os trs vizinhos que

estavam no botequim juntam-se s vizinhas, cantando e danando;

param em frente ao set de Creonte, no ritmo; interrompe-se o canto

para dar lugar a gemidos, sussurros e assovios de vento que, junto

com os atabaques, sublinham a fala de Joana.

JOANA O pai e a filha vo colher a tempestade

A ira dos centauros e da pomba-gira

levar seus corpos a crepitar na pira

e suas almas vagar na eternidade

Os dois vo pagar o resgate dos meus ais

Para tanto invoco o testemunho de Deus,

a justia de Tmis e a bno dos cus,

os cavalos de So Jorge e seus marechais,

Hcate, feiticeira das encruzilhadas,

padroeira da magia, deusa-demnia,

falange de Ogum, sintagmas da Macednia,

suas duzentas e cinqenta e seis espadas,

mago negro das trevas, flecha incendiaria,

Lambrego, Canheta, Tinhoso, Nunca-Visto,

fazei desta fiel serva de Jesus Cristo

de todas as criaturas a mais sanguinria

Voc, Salamandra, vai chegar sua vez

Oxumar de acordo com me Afrodite

vo preparar um filtro que lhe d cistite,

corrimento, sfilis, cancro e frigidez

Eu quero ver sua vida passada a limpo,

Creonte. Conto coa Virgem e o Padre Eterno,

todos os santos, anjos do cu e do inferno,

eu conto com todos os orixs do Olimpo!