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MORADORES DE RUA: IDENTIDADE E RESISTÊNCIA Fabiana de Almeida Anjos [email protected] Profa. Maria José Coracini Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) UNICAMP- CNPq Procuramos estudar o imaginário dos chamados moradores de rua através das representações que eles têm de si mesmos e dos outros. Por meio de entrevistas feitas com os próprios moradores de rua em seus espaços de convivência, e posterior análise dos relatos, procuramos rastrear na materialidade linguística – com base na ideia de que a linguagem é simbólica, opaca, heterogênea e plural –aspectos da constituição identitária do sujeito, que se dá sempre pelo olhar do outro (HALL, 2001; CORACINI, 2007) P: então o senhor veio da Bahia? o senhor é da Bahia? E5: sou baiano sou de Ilhéus P: quando veio de lá veio por quê? E5: ah eu vim com a finalidade de arrumar um emprego [pra ajudar a minha família P: e aí como é que foi? E5: [risada] trabalhei: trabalhei: ajudar a minha família bem / [mas e aí CASEI moleque novo nunca tive juízo mas agora [eu tenho juízo [bem baixinho] (...) E5: vinte e dois anos eu fiz um filho mas não tô reclamando [hoje de viver nessa vida meu filho treina no Corinthians [ninguém acredita (...) E5: as pessoas não acreditam/ eles nos avaliam pelo que são (...) E5: eles são ladrões eles nos avaliam como ladrão imagens meramente ilustrativas P: mas o senhor foi encontrado na rua? [o senhor tava E4: não eu fui pedir ajuda P: tava na rua ou pedir ajudar? [ao mesmo tempo da fala anterior do entrevistado] E4: eu pedi ajuda P: e por que que o senhor foi pedir ajuda? E4: ah porque ficar aqui sem serviço sem dinheiro ah até [inc.] então tem que se virar / [o pessoal [inc.] três dias sabe que nós vamos / nós vamos se virar / [serviço eu tenho / profissão eu tenho / né? P: o que o senhor costuma: trabalhar em quê? E4: nós bota uma casa no alicerce até em cima P: ah igual pedreiro? E4: isso: eu fiz aqui na Alves Machado fiz um sobrado / no ano passado P: uhum E4: fiz três casas lá na Costa e Silva P: hum E4: bom bastante reforma / nós ganha dinheiro Alguns recortes de relatos Constituição Identitária - Identidade - Exclusão Rerefências Bibliográficas HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP & A, 2001. 6. Ed CORACINI, M. J. A celebração do Outro: arquivo, memória, identidade. Campinas: Mercado de Letras, 2007. Deseja-se contribuir para a reflexão acerca daqueles que, por contingências desconhecidas ou mal interpretadas, se encontram em situação de rua. Compreender, na medida do possível, rastros da sociedade hegemônica no modus vivendi daqueles que dela foram excluídos. Ao dar voz aos excluídos, talvez seja possível mobilizar o imaginário daqueles que, inseridos na sociedade, não conseguem ou se recusam a enfrentar a sua parte de responsabilidade social.

MORADORES DE RUA: IDENTIDADE E RESISTÊNCIA · os próprios moradores de rua em seus espaços de convivência, e posterior análise dos relatos, procuramos rastrear na materialidade

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MORADORES DE RUA: IDENTIDADE E RESISTÊNCIA

Fabiana de Almeida [email protected]. Maria José Coracini

Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) UNICAMP- CNPq

Procuramos estudar o imaginário dos chamados moradores de rua através das representações que eles têm de si mesmos e dos outros. Por meio de entrevistas feitas com os próprios moradores de rua em seus espaços de convivência, e posterior análise dos relatos, procuramos rastrear na materialidade linguística – com base na ideia de que a linguagem é simbólica, opaca, heterogênea e plural –aspectos da constituição identitária do sujeito, que se dá sempre pelo olhar do outro (HALL, 2001; CORACINI, 2007)

ppppppp P: então o senhor veio da Bahia? o senhor é da Bahia?E5: sou baiano sou de IlhéusP: quando veio de lá veio por quê?E5: ah eu vim com a finalidade de arrumar um emprego [pra ajudar a minha famíliaP: e aí como é que foi?E5: [risada] trabalhei: trabalhei: ajudar a minha família bem / [mas e aí CASEI moleque novo nunca tive juízo mas agora [eu tenho juízo [bem baixinho](...)E5: vinte e dois anos eu fiz um filho mas não tô reclamando [hoje de viver nessa vida meu filho treina no Corinthians [ninguém acredita(...)E5: as pessoas não acreditam/ eles nos avaliam pelo que são (...)E5: eles são ladrões eles nos avaliam como ladrão

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P: mas o senhor foi encontrado na rua? [o senhor tavaE4: não eu fui pedir ajudaP: tava na rua ou pedir ajudar? [ao mesmo tempo da fala anterior do entrevistado]E4: eu pedi ajudaP: e por que que o senhor foi pedir ajuda?E4: ah porque ficar aqui sem serviço sem dinheiro ah até [inc.] então tem que se virar / [o pessoal [inc.] três dias sabe que nós vamos / nós vamos se virar / [serviço eu tenho / profissão eu tenho / né?P: o que o senhor costuma: trabalhar em quê?E4: nós bota uma casa no alicerce até em cimaP: ah igual pedreiro?E4: isso: eu fiz aqui na Alves Machado fiz um sobrado / no ano passadoP: uhumE4: fiz três casas lá na Costa e SilvaP: humE4: bom bastante reforma / nós ganha dinheiro

Alguns recortes de relatos

Constituição Identitária - Identidade - Exclusão

Rerefências Bibliográficas HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP & A, 2001. 6. EdCORACINI, M. J. A celebração do Outro: arquivo, memória, identidade. Campinas: Mercado de Letras, 2007.

Deseja-se contribuir para a reflexão acerca daqueles que, p o r c o n t i n g ê n c i a s d e s c o n h e c i d a s o u m a l interpretadas, se encontram em situação de rua. Compreender, na medida do possível, rastros da sociedade hegemônica no modus vivendi daqueles que dela foram excluídos.

Ao dar voz aos excluídos, talvez seja possível mobil izar o imaginár io daqueles que, inseridos na sociedade, não conseguem ou se recusam a enfrentar a sua parte de r e s p o n s a b i l i d a d e s o c i a l .