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II SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2013 155 Morfoanatomia foliar de Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze (Arecaceae) da restinga do norte do Espírito Santo Amina Carvalho da Silva¹ ², Elisa Mitsuko Aoyama¹ ¹ Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Centro Universitário do Norte do Espírito Santo – Universidade Federal do Espírito Santo. ² Autor para correspondência: [email protected] Introdução A família Arecaceae possui cerca 1.500 espécies em 200 gêneros endêmicos (Henderson et al., 1995). No Brasil, consideram 39 gêneros e 264 espécies (Leitman et.al., 2013). O conhecimento das características morfológicas e anatômicas das folhas das palmeiras é importante para o entendimento das suas estruturas, fornecendo dados para futuros trabalhos de conservação em seu ambiente natural, já que poucas são as informações sobre a significância biológica da estrutura foliar e sua variação a condições ecológicas (Passos & Mendonça, 2006). Allagoptera arenaria planta típica de restingas, conhecida vulgarmente como guriri, ocorre desde a Bahia até o Rio de Janeiro, podendo apresentar-se associada a moitas ou então formando populações extremamente densas no ecossistema alterado pela ação do homem (Sylvestre, 1989),podem ocorre nas formações abertas, possuindo elevado sucesso regenerativo devido à sua forma de vida geófita (Carvalho & Sá, 2011). Essa espécie acumula matéria orgânica no solo proveniente das folhas senescentes, que pode caracterizar microclimas, propiciando o estabelecimento de outras espécies (Menezes &Araujo, 1999). A restinga é o conjunto da vegetação litorânea estabelecida sobre sedimento arenoso marinho. Abrange 7.000 km da costa brasileira, que corresponde a 80% do litoral brasileiro (Suguio & Tessler, 1984). Na planície litorânea ocorrem plantas de porte variado, desde herbáceas, junto à praia, até formações florestais em porções mais continentais (Kuster, 2010). O local estudado possui relevo plano e é constituído por vegetação arbórea baixa, por vegetações herbáceas e gramíneas. O solo é constituído por depósitos arenosos aluviais de origem fluvio-marinhos (Teixeira, 2001). Objetivo se dá para caracterização morfoanatômica da espécie Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze (Arecaceae), em seu ambiente natural para subsídio de mais informações sobre a espécie. Material e métodos O material foi coletado na praia da Ilha de Guriri município de São Mateus, Norte do Estado do Espírito Santo (18º45’S, 39º44’W). Três indivíduos, uma folha de cada, retiradas do décimo nó, foram utilizadas. O material foi levado para o laboratório de Fisiologia vegetal do CEUNES, onde ocorreu os procedimentos anatômicos. Para análise biométrica foram avaliadas 20 folhas, sendo mensurados os seguintes parâmetros: comprimento do limbo (folha composta inteira), largura do limbo (folíolo), comprimento do pecíolo, comprimento da raque e quantidade de folíolos. O material coletado foi fixado em FAA (formaldeído: ácido acético: álcool etílico 50%, 2:1:18, v/v) (Johansen, 1940), mantidas por 48 horas e posteriormente transferidas para

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II SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2013 155

Morfoanatomia foliar de Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze (Arecaceae) da restinga do norte do Espírito Santo

Amina Carvalho da Silva¹ ², Elisa Mitsuko Aoyama¹

¹ Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Centro Universitário do Norte do Espírito Santo – Universidade Federal do Espírito Santo. ² Autor para correspondência: [email protected]

Introdução A família Arecaceae possui cerca 1.500 espécies em 200 gêneros endêmicos (Henderson et al., 1995). No Brasil, consideram 39 gêneros e 264 espécies (Leitman et.al., 2013). O conhecimento das características morfológicas e anatômicas das folhas das palmeiras é importante para o entendimento das suas estruturas, fornecendo dados para futuros trabalhos de conservação em seu ambiente natural, já que poucas são as informações sobre a significância biológica da estrutura foliar e sua variação a condições ecológicas (Passos & Mendonça, 2006). Allagoptera arenaria planta típica de restingas, conhecida vulgarmente como guriri, ocorre desde a Bahia até o Rio de Janeiro, podendo apresentar-se associada a moitas ou então formando populações extremamente densas no ecossistema alterado pela ação do homem (Sylvestre, 1989),podem ocorre nas formações abertas, possuindo elevado sucesso regenerativo devido à sua forma de vida geófita (Carvalho & Sá, 2011). Essa espécie acumula matéria orgânica no solo proveniente das folhas senescentes, que pode caracterizar microclimas, propiciando o estabelecimento de outras espécies (Menezes &Araujo, 1999). A restinga é o conjunto da vegetação litorânea estabelecida sobre sedimento arenoso marinho. Abrange 7.000 km da costa brasileira, que corresponde a 80% do litoral brasileiro (Suguio & Tessler, 1984). Na planície litorânea ocorrem plantas de porte variado, desde herbáceas, junto à praia, até formações florestais em porções mais continentais (Kuster, 2010). O local estudado possui relevo plano e é constituído por vegetação arbórea baixa, por vegetações herbáceas e gramíneas. O solo é constituído por depósitos arenosos aluviais de origem fluvio-marinhos (Teixeira, 2001). Objetivo se dá para caracterização morfoanatômica da espécie Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze (Arecaceae), em seu ambiente natural para subsídio de mais informações sobre a espécie.

Material e métodos O material foi coletado na praia da Ilha de Guriri município de São Mateus, Norte do Estado do Espírito Santo (18º45’S, 39º44’W).

Três indivíduos, uma folha de cada, retiradas do décimo nó, foram utilizadas. O material foi levado para o laboratório de Fisiologia vegetal do CEUNES, onde ocorreu os procedimentos anatômicos. Para análise biométrica foram avaliadas 20 folhas, sendo mensurados os seguintes parâmetros: comprimento do limbo (folha composta inteira), largura do limbo (folíolo), comprimento do pecíolo, comprimento da raque e quantidade de folíolos. O material coletado foi fixado em FAA (formaldeído: ácido acético: álcool etílico 50%, 2:1:18, v/v) (Johansen, 1940), mantidas por 48 horas e posteriormente transferidas para

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etanol 70%. As folhas foram seccionadas transversalmente e seccionadas paradermicamente, em ambas as faces (adaxial e abaxial). Cortes foram obtidos a mão livre da região mediana do quinto folíolo, com auxílio de lâmina de barbear e isopor, posteriormente clarificados com solução de hipoclorito de sódio a 10%, corados com azul de Astra 1% e safranina 1% (Bukatsch, 1972), montados entre lâmina e lamínula com gelatina glicerinada. As lâminas foram analisadas ao microscópio fotônico e posteriormente, as ilustrações foram obtidas em fotomicroscópio LEICA DM 750 com câmera LEICA ICC 50 HD, com projeção de escalas micrométricas.

Resultados e Discussão Observando a morfologia a planta apresenta folhas compostas com folíolos sendo inserida em diversos ângulos na raque formando uma pluma característica dessa espécie. Pecioladas, folíolo com forma lanceolada, estreito, paralelinérveas, superfície lisa de borda inteira, ápice acuminado, sendo invaginante e com disposição alterna espiralada. As medidas de comprimento do pecíolo tiveram média de 55,6 cm ± 8,38 cm. A raque teve média de comprimento de 92,2 cm ± 12,97 cm, cada folha composta teve número médio de folíolos de 121,8 ± 11,26. Cada folíolo apresentou média de comprimento de 43,8 cm ± 6,61 cm, e largura média de 2,5 cm ± 0,30 cm. Com folíolos inseridos em grupos de 2 -5 em diferentes planos. A partir da análise anatômica, em vista frontal da face adaxial é recoberta por cutícula lisa, possui células epidérmicas de formato quadrangular. As células da face abaxial apresentam contorno ligeiramente sinuoso; no plano transversal é multisseriada em ambas as faces. A folha é hipoestomática, com o predomínio de estômatos tetracíticos. Em secção transversal a epiderme na face adaxial apresenta paredes lignificadas. As células são tabulares recobertas com cutícula espessa. Essa característica é uma adaptação das plantas ao ambiente xérico onde elas crescem e está recobrindo toda a superfície, protegendo contra os raios solares (Alquini, 2006). Estômatos ligeiramente abaixo do nível das células epidérmicas comuns. O mesofilo é homogêneo, formado por parênquima clorofiliano paliçádico, com sete a oito camadas, sendo observado também nas espécies A. robusta com A. campestris e A. leucocalyx em Martins (2012), com presença de células papilosas na face abaxial e também observadas em Allagoptera leucocalyx (Martins, 2012). Esclerênquima logo abaixo das células epidérmicas da face adaxial e bem como se encontram presente formando bainha ao redor dos feixes vasculares. Região da nervura principal é saliente na face adaxial e a região dos tecidos vasculares está envolto por fibras esclerenquimáticas. Os feixes vasculares são colaterais com floema partido por tecido esclerenquimático, sendo dispostos em grande número no mesofilo, todos acompanhados com células de paredes espessas.

Conclusão

As folhas de Allagoptera arenaria mostraram características comuns ao gênero Allagoptera, como estão localizadas em ambientes que tem fatores de estresse como altas temperaturas, baixa umidade e solos pobres, elas tem modificações morfológicas e anatômicas, como cutícula espessa, mesofilo estreito e fibras em todo o mesofilo, que servem para se adaptar ao ambiente em que se desenvolvem para ter sucesso.

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Carvalho, D. A. & Sá, C. F. C. 2011. Estrutura do estrato herbáceo de uma restinga arbustiva aberta na APA de Massambaba, Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguésia In: http://rodriguesia.jbrj.gov.br/, 62(2): 367-378.

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Figura 1: Inserção dos folíolos na raque em grupos de 2 -5 em diferentes planos.

Figura 2: Secção transversal de folíolo de Allagoptera arenaria. Epiderme da face adaxial, cutícula espessa, células epidérmicas com parede espessada, fibras esclerenquimáticas, Parênquima Clorofiliano.