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Edlucy Costa e Costa Rio de Janeiro 2009

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Edlucy Costa e Costa

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do Coroadinho e Cidade Olmpica em So Lus MA

Rio de Janeiro 2009

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Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do

Coroadinho e Cidade Olmpica em So Lus MA

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Edlucy Costa e Costa

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do Coroadinho e Cidade Olmpica em So Lus MA

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Urbanismo.

Orientadora: Prof. Dra. Eliane da Silva Bessa

Rio de Janeiro 2009

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Coroadinho e Cidade Olmpica em So Lus MA

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C837

Costa, Edlucy Costa e, Morfologia urbana e desenho social: um estudo comparativo dos bairros do Coroadinho e Cidade Olmpica em So Luis MA./ Edlucy Costa e Costa. Rio de Janeiro: UFRJ/FAU, 2009. 170 f: il. 30 cm. Orientadora: Eliane da Silva Bessa. Dissertao (Mestrado) UFRJ/PROURB/Programa de Ps-Graduao em Urbanismo, 2009. Referncias bibliogrficas: p.161-167 1. Urbanismo. 2. Morfologia urbana. 3. Vizinhana. 4. Coroadinho So Luis (MA). 5. Cidade Olmpica So Luis (MA) I. Bessa, Eliane da Silva. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Ps-Graduao em Urbanismo. III. Ttulo.

CDD 711

Edlucy Costa e Costa

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do Coroadinho e Cidade Olmpica em So Lus MA

Rio de Janeiro, 19 de junho de 2009 ______________________________________

(Orientadora: Prof. Dra. Eliane da Silva Bessa) _______________________________________ (Prof. Dra. Maria Lais Pereira da Silva) _______________________________________ (Prof. Dr. Cristovo Fernandes Duarte)

_______________________________________ (Prof. Dra. Rachel Coutinho Marques da Silva)

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RESUMO

COSTA, Edlucy Costa e. Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do Coroadinho e Cidade Olmpica em So Lus MA. Rio de Janeiro, 2009. Dissertao (Mestrado em Urbanismo) - Programa de Ps-Graduao em Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

O objetivo desse estudo comparar a relao entre forma urbana e relaes de vizinhana em dois bairros localizados na cidade de So Luis no estado do Maranho, a saber: o bairro de Coroadinho e o de Cidade Olmpica. Os dois bairros apresentam caractersticas sociais semelhantes por se constiturem, ambos, locais de moradia de populao de baixa renda.

O ponto de partida do trabalho foi a formulao da hiptese de que a forma

urbana, tal como constituda, interfere no modo como se estabelecem as relaes sociais no interior de uma localidade. Os desdobramentos tericos e metodolgicos, focados nessa formulao, exigiram no s um aprofundamento do prprio conceito de forma urbana como exigiram, tambm, uma abordagem das relaes de vizinhana centrada em seus aspectos sociolgicos. Traou-se, para isso, um percurso analtico com autores de diferentes campos disciplinares, como a Arquitetura e Urbanismo, a Sociologia e a Geografia.

Embasado pela discusso terica da forma urbana e das relaes sociais de

vizinhana o estudo empreendeu a sua pesquisa emprica atravs da realizao de entrevistas, com os principais agentes representantes de Associaes de Moradores, e da aplicao de questionrios, tambm junto aos moradores, para levantar e comparar os aspectos fsicos que, no conjunto, compreendem a forma urbana; assim como entender os condicionantes sociais presentes nos bairros em questo, entre eles os conflitos ocasionados pela convivncia dos moradores que fazem uso diferenciado do espao urbano.

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ABSTRACT

COSTA, Edlucy Costa e. Urban Morphology and Social Design: a comparative study between the quarters of Coroadinho and Cidade Olmpica in So Lus MA. Rio de Janeiro, 2009. Dissertation (Master in Urbanism) Program of Post Graduation in Urbanism, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

This thesis intends to compare the relationship between urban form and the neighborhood some relations in two areas located in the city of So Lus, state of Maranho: Coroadinho and Cidade Olmpica. These two neighborhoods present similar socioeconomic characteristics since they are both low - income residential areas.

The hypothesis is that the urban form, such as constituted, interferes in the way social relationships are established inside these areas. The theoretical and methodological approach was based on the concept of urban form and on the sociological aspects of neighborhood social relations. The analysis was based on authors from the fields of architecture, urban design, sociology and geography.

The empirical research was based on interviews with local leaders and questionnaires applied to residents in order to know and to compare physical aspects that en compasses urban form; as well as to understand the social characteristics of the studied two areas en particular the conflicts that surfaced with the use of common spaces by different people.

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SUMRIO Pag.

Agradecimentos....................................................................................................... 09

Listas de Imagens e Ilustraes................................................ ............................... 11

Listas de Grficos e Tabelas................................................................................... 13

Lista de Siglas.......................................................................................................... 15

Introduo................................................................................................................. 17

1 - Referenciais Tericos da Forma Urbana............................................................. 22

1.1. Discusso Conceitual da Forma Urbana ........................................................... 23

1.2. O Estudo da Forma Urbana - A Morfologia...................................................... 32

1.2.1. As Escalas....................................................................................................... 41

1.2.2. Elementos da Forma Urbana................................. ........................................ 43

1.3. A Construo Social e Cultural da Forma Urbana........................................... 52

1.3.1. Relaes de Vizinhana...................................................................................52

1.3.2. Importncia Relativa das Relaes de Vizinhana..........................................53

1.3.3. A Unidade de Vizinhana na Organizao Espacial das Cidades...................56

1.3.4. As Relaes de Vizinhana e a Forma Urbana................................................59

1.3.5. Os Conflitos nas Relaes de Vizinhana.......................................................63

2 - Os Aportes Empricos da Pesquisa: O Caso do

Coroadinho e da Cidade Olmpica............................................................................68

2.1. Recorte Espacial para Anlise............................................................................68

2.2. Quadro Comparativo das Formas Urbanas dos Bairros Selecionados...............78

2.3. Os Desdobramentos da Pesquisa de Campo: Concepo e Realizao.............80

3 - Morfologia Urbana e Desenho Social: Construindo

a Relao entre a Forma e as Relaes de Vizinhana.............................................86

3.1. Perfil Socioeconmico, Moradia e Infraestrutura do

Coroadinho e Cidade Olmpica.................................................................................86

3.2. Anlise dos Elementos Morfolgicos dos Bairros do

Coroadinho e da Cidade Olmpica.............................................................................92

3.2.1. Coroadinho......................................................................................................92

3.2.2. Cidade Olmpica.............................................................................................103

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3.3. Anlise das Relaes de Vizinhana nos Bairros

Selecionados da Pesquisa Emprica......................................................................... 120

3.3.1. Vizinhana do Coroadinho............................................................................ 120

3.3.2. Vizinhana da Cidade Olmpica.................................................................... 130

3.3.3. Quadro Comparativo das Vizinhanas dos Bairros...................................... 137

3.4. Anlise da Interao entre Forma Urbana e Relaes

de Vizinhana no Coroadinho e na Cidade Olmpica.............................................. 146

Concluso.................................................................................................................153

Referncias Bibliogrficas.......................................................................................161

Bibliografia Consultada........................................................................................... 164

Anexos..................................................................................................................... 168

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Aos meus pais, os maiores responsveis pelas minhas vitrias.

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AGRADECIMENTOS

Deus pela beno da minha existncia e por no me abandonar nunca. A minha famlia: meus pais, irms e av, por serem a minha fortaleza e

meu apoio. Rogrio Tavares, meu companheiro, a pessoa mais presente durante toda

essa empreitada, por todo apoio. Ao PROURB e seu quadro de professores e profissionais, que

possibilitaram a realizao deste um sonho. minha orientadora Eliane Bessa, pela dedicao, respeito e carinho, da

qual dedicou a mim e a este trabalho. Aos Amigos: Barbara Prado, pela preciosa ajuda no inicio desta luta em 2004. A Patrcia Trinta, Gabriela Melo, Carol Braga, Marcelo Fiorotti, Digenes

Torres, Emanoel Sousa e Eduardo Santos, pela imprescindvel contribuio na realizao desta dissertao, em especial as amigas Patrcia Trinta e Carol Braga, pela amizade e apoio continuo em todo este processo.

A Tati Lima, Trajano Ubatuba, Jose Antonio Lopes, Cursino Raposo,

Francisco Barros e Auzira Mello, pelos exemplos e pelo apoio nessa jornada. E a minha amiga Andra e a seus pais, pela f, pelas oraes, pela amizade

e pela grande ajuda.

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Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado mas, nada pode ser modificado at que seja enfrentado.

Albert Einstein

http://www.pensador.info/autor/Albert_Einstein/

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LISTAS DE IMAGENS E ILUSTRAES

Imagem 01: Ilustrao dos propsitos do texto de K. Lynch: Imagem da Cidade

Imagem 02: Gordon Cullen: Townscape. Anlise da viso serial num pequeno percurso

Imagem 03: A Rua

Imagem 04: O Bairro

Imagem 05: A Cidade

Imagem 06: O Edifcio

Imagem 07: Loteamento

Imagem 08: O Quarteiro

Imagem 09: Fachadas

Imagem 10: Traados

Imagem 11: A Praa

Imagem 12: O Monumento

Imagem 13: Vegetao

Imagem 14: Mobilirio urbano

Imagem 15: Plano de uma UV esboado por Perry.

Imagem 16: Localizao/ So Lus

Imagem 17: rea urbana de So Lus / Localizao Coroadinho e Cidade Olmpica

Imagem 18: Mapa de evoluo urbana de So Luis

Imagem 19: Foto area do bairro do Coroadinho e entorno com destaque para malha

urbana em verde

Imagem 20: Foto area do bairro Cidade Olmpica e entorno com destaque para malha

urbana em verde

Imagem 21: Nveis e solo Coroadinho

Imagem 22: Traado urbano do Coroadinho

Imagem 23: Quadras do Coroadinho

Imagem 24: Quadra do Coroadinho

Imagem 25: Lotes do Coroadinho

Imagem 26: Edificaes do Coroadinho

Imagem 27: Edificaes do Coroadinho

Imagem 28: Praas e reas de lazer do Coroadinho

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Imagem 29: Praa do Coroadinho

Imagem 30: Fachadas Coroadinho

Imagem 31: Arborizao Coroadinho

Imagem 32: Nveis e solo Cidade Olmpica

Imagem 33: Traado urbano da Cidade Olmpica

Imagem 34: Quadras da Cidade Olmpica

Imagem 35: Lotes da Cidade Olmpica

Imagem 36: Edificaes da Cidade Olmpica

Imagem 37: Praas e reas de lazer da Cidade Olmpica

Imagem 38: Fachadas Cidade Olmpica

Imagem 39: Quintais Cidade Olmpica (arborizao)

Imagem 40: Arborizao Cidade Olmpica

Imagem 41: Detalhe traado Coroadinho

Imagem 42: Detalhe traado Cidade Olmpica

Imagem 43: Detalhe quarteiro Coroadinho

Imagem 44: Detalhe quarteiro Cidade Olmpica

Imagem 45: Detalhe lotes Coroadinho

Imagem 46: Detalhes lotes Cidade Olmpica

Imagem 47: Detalhe edificaes Coroadinho

Imagem 48: Detalhe edificaes Cidade Olmpica

Imagem 49: Fachadas Coroadinho

Imagem 50: Fachadas Cidade Olmpica

Imagem 51: Detalhe arborizao Coroadinho

Imagem 52: Detalhe arborizao Cidade Olmpica

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LISTAS DE GRFICOS E TABELAS GRFICOS Grfico 01: Evoluo da mancha urbana de So Luis em Km (1612-1996)

Grfico 02: Populao em domiclios Coroadinho

Grfico 03: Populao em domiclios Cidade Olmpica

Grfico 04: Tipo de domiclios Coroadinho

Grfico 05: Tipo de domiclios Cidade Olmpica

Grfico 06: Abastecimento de gua Coroadinho

Grfico 07: Abastecimento de gua Cidade Olmpica

Grfico 08: Esgotamento Coroadinho

Grfico 09: Esgotamento Cidade Olmpica

Grfico 10: Coleta de lixo Coroadinho

Grfico 11: Coleta de lixo Cidade Olmpica

Grfico 12: Rendimento moradores Coroadinho

Grfico 13: Rendimento moradores Cidade Olmpica

Grfico 14: Alfabetizao Coroadinho

Grfico 15: Alfabetizao Cidade Olmpica

Grfico 16: Escolaridade Coroadinho

Grfico 17: Escolaridade Cidade Olmpica

Grfico 18: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 19: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 20: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 21: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 22: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 23: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 24: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 25: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 26: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 27: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 28: Pesquisa de campo Coroadinho

Grfico 29: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

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Grfico 30: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 31: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 32: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 33: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 34: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 35: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 36: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 37: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 38: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 39: Pesquisa de campo Cidade Olmpica

Grfico 40: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 41: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 42: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 43: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 44: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 45: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 46: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 47: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 48: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 49: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 50: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 51: Pesquisa de campo comparativo

Grfico 52: Pesquisa de campo comparativo

TABELAS Tabela 01: So Luis: reas de ccupao (1930-1999)

Tabela 02: So Luis: Crescimento horizontal (1612-1996)

Tabela 03: So Luis: Populao/habitantes (1926-2004)

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LISTA DE SIGLAS

CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna

CRI - Rdio Internacional da China

UV - Unidade de Vizinhana

GMT - Hora Mdia de Greenwich

ALUMAR - Consrcio de Alumnio do Maranho

CVRD - Companhia Vale do Rio Doce

CODOMAR - Companhia Docas do Maranho

USIMAR - Usina Siderrgica do Maranho

COHAB - Cooperativas Habitacionais

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

ONGs Organizaes no Governamentais

UFMA Universidade Federal do Maranho

UEMA Universidade Estadual do Maranho

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INTRODUO

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Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do

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INTRODUO

O meu interesse por temas sociais iniciou-se muito antes do ingresso no

curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranho. Surgiu, junto

com a vontade de ingressar no curso, pela vivncia em ambientes com carncias sociais,

principalmente de infraestrutura, por se tratar de uma ocupao irregular na periferia de

um loteamento onde passei minha adolescncia, fazendo questionamentos sobre tais

carncias.

Durante o curso de Arquitetura e Urbanismo o interesse por questes

sociais foi intensificado na proporo que crescia o interesse por temas urbansticos e a

viso de que o convvio com disciplinas, cujos contedos poderiam contribuir ou mesmo

ajudar para resolver problemas de natureza social e urbanstica, acabaram me levando para

a profisso de arquiteta.

Na vontade de contribuir e tentar resolver problemas urbanos vislumbrei

dois caminhos, ambos atraentes, e analisados por mim como complementares.

Primeiramente como tcnica da Prefeitura de So Luis, onde pude acumular uma

experincia rica de trabalho prtico. E o outro o de ingressar na academia e desenvolver a

atividade de pesquisa. Nascia, ento, a meta de entrar no mestrado em Urbanismo,

objetivando realizar pesquisas dentro da disciplina do urbanismo, ajudando a responder

questes que venham a melhorar a vida nas cidades.

O foco em temas sociais e em urbanismo teve como consequncia a

intensificao do interesse pelas ocupaes de interesse social e pelas diversas formas

apresentadas por elas. Primeiramente, antes de qualquer embasamento terico, tinha uma

viso de forma urbana muito limitada, apenas remetida ao campo visual. Sabia que

visivelmente existiam diferenas entre as diversas ocupaes da cidade, pois era clara a

distino fsica, por exemplo, entre as reas ocupadas por moradores de pouco e de muito

poder econmico, embora essa diferena no fosse a mais atraente. O que me questionava

era se, dentro das ocupaes de interesse social, a maioria pobre economicamente porque

INTR

OD

U

O

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as ocupaes diferem umas das outras e se isso modifica o modo como vivem seus

ocupantes?

principio queria tentar resolver com apenas um projeto todos os

problemas de todas as ocupaes de baixa renda de So Luis. Pura iluso, mas como

continuava progredindo na mesma linha de pensamento tentava escolher um recorte

espacial menor para anlise. Assim cheguei ao Coroadinho e Cidade Olmpica, dois

bairros que sempre estiveram em foco, na mdia, pelos diversos problemas urbanos que

enfrentavam e ainda enfrentam.

Depois de trs anos lendo e aprendendo consegui enxergar o que acreditava

ser mais simples. Identifiquei problemas comuns a essas ocupaes, mas os problemas

eram to comuns que no se restringiam apenas a elas, apresentando-se em toda a cidade

como a questo da violncia urbana, a falta de cidadania, a ausncia de infra-estrutura

urbana, a falta de acessibilidade e de meios de transporte. Nesse momento entrou no

processo a orientao do PROURB, que me ajudou a definir o que hoje aqui me proponho

a defender, a dissertao de mestrado.

Proponho aqui avaliar se de fato ocorrem interferncias (ou no) da forma

urbana, tal como foi constituda, sobre o modo como se estabelecem as relaes sociais de

vizinhana nos bairros do Coroadinho e Cidade Olmpica, localizados em So Lus do

Maranho. Levando em considerao as diferenas entre a forma urbana de ambos, ou

seja, as caractersticas distintas da forma apresentadas pelos bairros em questo e como

elas podem afetar ou no, diferentemente, o modo como se relacionam os integrantes de

uma comunidade, estamos diante daquilo que poderia se constituir uma hiptese deste

trabalho: a de que a forma urbana interfere nas relaes sociais.

O Coroadinho um bairro de ocupao espontnea, no sentido de que essa

ocupao foi iniciada pelos prprios ocupantes do bairro. Possui um traado mais sinuoso,

uma densidade habitacional e construtiva alta, com ruas, na maioria, estreitas e lotes

pequenos e estreitos ocupados em quase sua totalidade pelas edificaes. J a Cidade

Olmpica teve uma ocupao mais rpida, apesar de tambm ter sido espontnea. Possui

um traado ortogonal com ruas mais largas e extensas, um tipo de planejamento

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proveniente dos prprios ocupantes, como veremos mais a frente. Neste bairro os lotes so

padronizados e, em grande parte, maiores que os do Coroadinho, possuindo uma

densidade habitacional e construtiva muito menor.

O levantamento e a comparao das relaes de vizinhana,

concomitantemente com a comparao da forma urbana em ambos os bairros fornecem os

subsdios necessrios que levam respostas, no sentido que podem refutar ou confirmar a

hiptese levantada.

Tem-se, para tanto, os seguintes objetivos especficos: identificar as

caractersticas morfolgicas dos bairros do Coroadinho e Cidade Olmpica; levantar dados

sobre as relaes de vizinhana, principalmente os referentes sociabilidade e aos

conflitos nas comunidades; e comparar as duas reas, levando em considerao a

conjugao entre as caractersticas da forma urbana e das relaes de vizinhana

identificadas.

O trabalho foi estruturado em quatro partes. Primeiramente a introduo

aqui presente onde expomos as razes que nos levaram ao tema e como o trabalho foi

estruturado. A segunda parte, que corresponde ao captulo um, apresenta os referenciais

tericos sobre a forma urbana e sobre as relaes de vizinhana. Para construir um prprio

conceito de forma urbana, buscou-se apoio em diversos autores, dentre eles arquitetos,

gegrafos e socilogos. No universo da Arquitetura e do Urbanismo observamos a

orientao do conceito de forma urbana mais direcionada s questes fsicas do espao

urbano, o que compreensvel, mas quando nos propomos a relacionar a forma urbana

com aspectos sociais e dinmicos, percebemos que seria imprescindvel a ajuda de autores

e tericos de disciplinas como Sociologia e Geografia, onde o conceito de forma urbana j

tivesse sido discutido e assumido outros contornos tericos.

Farias (1997), Lamas (2004), Carlos (2003), Lefebvre (2008), Del Rio

(1990), Rossi (2001), Gambim (2007), Lynch (1981), Gomes (2002), Jacobs (2007), foram

os principais autores que ajudaram na construo do nosso prprio conceito de forma

urbana.

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Ainda buscando estruturar conceitos e entender o universo das relaes de

vizinhana que faz parte, junto com a forma urbana, do universo a ser analisado tenta-

se entender primeiramente o que seria vizinhana, dentro do contexto das relaes sociais,

quais as caractersticas, o universo e espaos para sua existncia, identificando sua

importncia e funo dentro da sociedade. Abordamos tentativas de solucionar os

problemas de enfraquecimento das relaes de vizinhana, atravs de planejamento e

projetos de formas urbanas especificas como o conceito de Unidade de Vizinhana,

proposto por Clarence Athur Perry, no inicio do sculo XX.

O trabalho tambm nos obrigou a buscar explicaes ou fatos que

abordassem temas direcionados relao entre os indivduos e o ambiente, ou os

ambientes onde eles interagem, ou seja, o espao com todas as suas caractersticas e as

relaes sociais que nele ocorrem, no caso especfico dessa pesquisa, as relaes de

vizinhana. Nesse contexto passeamos por disciplinas como a Psicologia Ambiental que se

preocupa com a inter-relao pessoa-ambiente e pelo Direito que se preocupa com a

relao pessoa-pessoa. Os juristas tem como dever buscar formas de mediaes de

conflitos dentro da sociedade em geral, e com esse objetivo que criam leis que ajudam a

mediar conflitos existentes no mbito do grupo vicinal, ou de vizinhana. A anlise dos

Diretos de Vizinhana, presentes no Capitulo V do Cdigo Civil Brasileiro, leva-nos a

perceber que muitos conflitos so causados por problemas na estrutura fsica dos

ambientes onde ocorre o contato de vizinhana, mas percebemos tambm que existem

muitos outros conflitos, que no esto includos nesta lei, conflitos gerados normalmente

pelas mudanas da vida contempornea.

Na terceira parte, referente ao captulo dois, procuramos primeiramente

identificar e contextualizar geograficamente os recortes espaciais escolhidos para anlise,

ou seja, os bairros do Coroadinho e Cidade Olmpica, sua localizao e um resumo do

histrico e das caractersticas socioeconmicas atuais. No segundo momento apresentamos

as anlises e procedimentos metodolgicos utilizados para a pesquisa de campo.

Realizamos a anlise individual da forma urbana de cada bairro, atravs do levantamento

das caractersticas dos elementos da forma urbana, e, ao final, elaboramos um quadro

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do

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comparativo dos bairros, atravs da abordagem de cada elemento: o traado, os

quarteires, as ruas, o mobilirio urbano, a vegetao, os lotes, as fachadas, as reas de

lazer e os equipamentos urbanos.

Ainda nessas anlises apresentamos a parte da pesquisa de campo onde

foram cumpridas as seguintes etapas: realizao de entrevistas, aplicao de questionrios

acrescidas das observaes, atravs de muitas visitas aos locais e relato das dificuldades

encontradas. As entrevistas foram aplicadas aos presidentes das Associaes de Moradores

e aos representantes locais. Os resultados das entrevistas subsidiaram a elaborao do

questionrio, que foram aplicados em oitenta residncias em cada um dos bairros. Depois

da anlise individual das entrevistas e da aplicao dos questionrios em cada bairro,

foram feitas as anlises comparativas entre eles.

O captulo trs rene, ento, os elementos morfolgicos com as questes

sociais de vizinhana nos dois bairros, para que sejam traadas as possveis formas de

interao entre os aspectos fsicos e sociais, permitindo, assim, averiguar se h ou no

interferncia da forma que passa a ser vista atravs das manifestaes de conflito

levantadas pela pesquisa.

Por fim, apresentamos a concluso na quarta e ultima parte desse trabalho.

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CAPTULO 1

REFERENCIAIS TERICOS DA FORMA URBANA

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1. REFERENCIAIS TERICOS DA FORMA URBANA

1.1. DISCUSSO CONCEITUAL DA FORMA URBANA

Ao tratarmos de forma urbana sentimo-nos inclinados a admitir que esta

uma especificidade do campo terico da Arquitetura e do Urbanismo, por se tratar,

fundamentalmente, da investigao da estrutura fsica da cidade, dos elementos

morfolgicos construdos pelo homem como os edifcios, as ruas, as vias, praas, parques

e os monumentos. Talvez, por esse motivo, o tema seja mais explorado e investigado por

arquitetos e urbanistas que procuram, mesmo citando conceitos de autores de outras

disciplinas, deixarem as discusses no recorte fsico, ver, portanto, a forma urbana apenas

como conjunto construdo, cristalizado, como materializao da histria da cidade.

O tema no , entretanto, explorado apenas pelos arquitetos. Outras

disciplinas possuem conceitos e trabalham com a forma urbana de maneira diferenciada

como o caso de socilogos e antroplogos. Para eles a forma urbana deve ser reescrita

em termos de relaes sociais e da dimenso cultural (FARIAS: 1997).

Os gegrafos so os que mais se distanciam da bipolaridade conceitual ao

aceitarem a complexidade da forma urbana defendida pelos socilogos, sem desprezar o

peso da forma fsica valorizada pelos arquitetos. Para o gegrafo Burgel o universo das

formas urbanas fluido, onde se interpolam as construes materiais, as prticas

concretas, as representaes dos habitantes e as ideologias de quem as conceberam (...).

De qualquer modo, a forma vista, vivida e edificada (BURGEL, apud FARIAS:

1997, p. 25). H uma noo implcita, nesse pensamento, sobre a territorialidade da forma,

isto , um reconhecimento de que as aes humanas se realizam sobre uma base concreta

que possui uma forma determinada.

Ainda na esteira desse entendimento as teorias classificadas no mbito da

Economia Espacial consideram a cidade uma mquina econmica e a forma urbana

vista como estruturas de atividades no espao que facilitam a produo, distribuio e

CA

PTU

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0

1

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consumo de bens materiais. Tais teorias vem a forma como palco das performances

(FARIAS: 1997).

J para os arquitetos pesquisadores da atualidade a forma urbana e o

pensamento fragmentaram-se enormemente. Desenvolvem, cada um a seu modo, reflexes

para entender a atual cidade contempornea. Destacam nesta abordagem os trabalhos de

Koolhaas, Venturi e Rowe. Para Koolhaas, a forma da cidade reflete um universo de

cidados urbanos isolados linguisticamente numa profuso de diferentes culturas, uma

exploso de estilos, cores e contrastantes ordenados horizontalmente numa malha

programada.

Voltando s reflexes dos gegrafos, Fani Carlos quando trata da forma

urbana diz que ela a aparncia, a manifestao do fenmeno ao mesmo tempo em que a

representao das relaes sociais reais, alm de ser produto da histria (CARLOS: 2003).

Diz tambm que a mesma est intimamente ligada ao uso, identidade e

memria, enfim, ela resultado do produto do trabalho da sociedade. O trabalho da

sociedade possui o espao urbano como palco, que se torna lugar a partir do momento que

se transforma em referncia, e capaz de produzir identidade e suporte para a memria.

(...) a forma imediatamente contedo (CARLOS: 2003, p. 51). Sendo assim, os atos

cotidianos vividos no espao ficam impressos nas formas. A partir do momento em que

esses atos so modificados, as formas perdem ou substituem o seu contedo, passando a

ser vistas de maneira diferente, apesar de fisicamente nada ter mudado. No entanto,

preciso deixar claro que mesmo no havendo mudanas fsicas no significa que no

ocorram transformaes. Nesse momento, podemos, sim, identificar uma ruptura.

Todos sabem que a cidade, como Fani Carlos mesmo defende, produto do

trabalho da sociedade, produto do homem, logo a forma urbana tambm. Ela ainda

declara no mesmo trabalho que as formas delimitam, impedem e permitem os usos, as

prticas e as aes (CARLOS: 1992).

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Milton Santos afirma que sem as formas, (...), a sociedade no se

realizaria (SANTOS, apud DUARTE: 2002, p.1), onde explica que a estrutura dita a

funo que se realiza atravs da forma, neste entendimento a forma pode ser vista como a

estrutura revelada.

Para Lefebvre as estruturas so igualmente duplas: morfolgicas (stios e

situaes, imveis, ruas e praas, monumentos, vizinhana e bairro) e sociolgicas (

distribuio da populao ativa ou passiva, categorias ditas scio-profissionais, dirigentes

e dirigidos). Quanto a forma no sentido habitual do termo, isto , geomtrico ou plstico,

trata-se de uma disposio espacial: quadriculada ou radiocntrica (LEFREBVRE: 2008).

Para esse autor o urbano uma forma pura: ponto de encontro, o lugar de

uma reunio, a simultaneidade. Essa forma no tem nenhum contedo especifico, mas

tudo a ela vem e nela vive (LEFEBVRE: 2008).

Segundo Lamas, a forma urbana a materializao da cidade capaz de

determinar a vida humana em comunidade. Diz tambm que essa cidade no apenas um

simples produto determinista dos contextos econmicos, polticos e sociais, mas tambm

resultado de teorias e posies culturais e estticas dos arquitetos e urbanistas. Encontra-se

indissociavelmente ligada a comportamentos, a apropriao e utilizao do espao e a vida

comunitria dos cidados (LAMAS: 2004). Podemos afirmar, ento, que a forma urbana

produto das atividades humanas (coletivamente - comunidade e individuais - arquitetos)

que por sua vez esto sujeitas a interferncia de uma forma urbana anterior. E ao afirmar

que a forma capaz de determinar a vida humana em comunidade, indica assim que o

prprio processo de construo da forma e das relaes sociais cclico, ou seja, sujeito

constantes mudanas.

Contribuindo para melhor entendermos a importncia da forma urbana, Del

Rio diz que a mesma o objeto de estudo da morfologia urbana, destacando que nesse

estudo imprescindvel compreendermos que o conjunto de elementos dessa forma so

produtos de evolues, transformaes e processos sociais, deixando clara a relao de

dependncia entre forma urbana e as atividades sociais no tempo. Apesar de considerar a

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forma urbana apenas como produto dessas atividades, ele coloca a necessidade da

compreenso dessas formas, a fim de identificarmos as mais apropriadas para intervir na

cidade existente e no desenho de novas reas (DEL RIO: 1990).

Farias quando investiga sobre a forma urbana demonstra concordar que a

mesma interfere na vida do homem e de suas relaes, intensificando ainda que a cultura

urbana modifica essa forma, qualificando-a, sendo essa capaz de influenciar nos valores,

nas crenas, nas prticas e nas instituies, ou seja, na vida humana. Podemos perceber

isso na afirmao a seguir:

a importncia da cultura urbana reside na constatao de que so os valores, as crenas, as prticas e as instituies que do conformidade qualitativa forma urbana, da qual tambm sofrem influncia (FARIAS: 1997, p.19).

Declara a existncia das muitas barreiras que se deve enfrentar para tirar da

forma urbana o papel secundrio que lhe atribuem em relao a sua influncia na

qualidade de vida das pessoas. Diz tambm que muitos acreditam e defendem o fato da

forma fsica no desempenhar nenhum papel significativo na satisfao dos valores

humanos importantes, como aqueles que se referem as nossas relaes com outras pessoas

(FARIAS:1997). Mas ao mesmo tempo afirma ser quase impossvel negar-se o papel

fundamental das relaes sociais e do carter individual para alcanar a satisfao,

entretanto, preciso reconhecer que quando se apresentam situaes realistas, como por

exemplo, as condies climticas adversas, as habitaes abarrotadas, a acessibilidade

difcil, a carncia de vegetao ou de gua, a forma passa a desempenhar um papel

importante.

possvel demonstrar que as pessoas se sentem infelizes ou felizes pelas condies fsicas tanto como pelas condies sociais, ainda que os efeitos sejam pouco claros (FARIAS: 1997, p. 20).

(...), apesar de haver algumas condies extremas em que a forma tem influncia independentemente do contexto social, na grande maioria dos casos reais, as influncias da forma fsica e da forma social so difceis de separar (FARIAS: 1997, p. 21).

As relaes (sociais) sempre se deterioram de acordo com uma distancia,

no tempo e no espao, que separa as instituies e os grupos (LEFEBVRE: 2008, p.109).

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J em Rossi (2001) a cidade tratada como um produto da historia, ele diz:

a forma urbana da cidade sempre a forma de um tempo da cidade, e existem muitos tempos na forma da cidade. No prprio decorrer da vida de um homem, a cidade muda de fisionomia em volta dele e as referncias no so as mesmas... (ROSSI: 2001, p. 57).

Diante disto podemos concluir que a arquitetura se modifica, algumas

coisas somem outras permanecem, e esse conjunto compe a forma da cidade nesse dado

momento.

Ele atrela a criao da cidade criao da arquitetura e vice versa: a

arquitetura assim, inseparvel da formao da civilizao e um fato permanente,

universal e necessrio, a cidade a prpria arquitetura (ROSSI: 2001, p.01).

(...) Desde os primeiros modos como os homens construram sua habitaes, as fizeram buscando criar um ambiente mais favorvel a sua vida, no entanto tambm as faziam com uma intencionalidade esttica (ROSSI: 2001, p.01).

Ainda explica que ao descrevermos a cidade estamos nos ocupando

predominantemente da sua forma, esta o dado concreto que se refere a uma experincia

concreta, ela se resume na arquitetura da cidade. Acredita que a arquitetura no representa

mais que um aspecto de uma realidade mais complexa, de uma estrutura particular, mas,

ao mesmo tempo, sendo o dado ltimo verificvel dessa realidade, constitui o ponto de

vista mais concreto com a qual se pode encarar um problema (ROSSI: 2001).

No tocante a questo especifica do estudo da forma, enquanto dimenso

fsica, um dos autores mais citados Lynch. Ele afirma que habitualmente a forma de um

aglomerado populacional encarada como padro espacial dos objetos fsicos grandes,

inertes e permanentes numa cidade: edifcios, ruas, servios pblicos, colinas, rios, talvez

mesmo as rvores. Porm, vai adiante e explica que o problema fundamental decidir em

que consiste a forma de um aglomerado humano: apenas objetos fsicos e inertes? Ou

tambm em organismos vivos? (...) e adota o conceito de que, a disposio espacial

resultantes de pessoas, produtos e informaes e as caractersticas fsicas que modificam o

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espao de um modo significativo para essas aes e que a estrutura social e a estrutura

espacial esto relacionadas parcialmente, na verdade esto mal interligadas, uma vez que

ambas se afetam mutuamente atravs de uma varivel interveniente o ser humano.

(LYNCH: 1981).

Carlos Nelson (1985) quando faz a anlise das apropriaes do espao

urbano de uso coletivo em centro de bairro, utilizando os casos do Catumbi e Selva de

Pedra no Rio de Janeiro, destaca como elemento principal da pesquisa a rua como local de

lazer. Isso nos faz pensar sobre a ambincia onde so estabelecidas as relaes sociais e

que fatores podem contribuir para as mudanas das mesmas.

O autor chamou a ateno que logo na primeira etapa da pesquisa

etnogrfica, atravs do contato com o bairro do Catumbi, puderam perceber, ao buscar

identificar como se realizavam as relaes sociais nos limites espaciais do publico e

privado e principalmente no espao da rua, que tinham ocorrido e continuavam ocorrendo

alteraes nas atividades da comunidade e em algumas relaes sociais. Isso acontecia por

causa da renovao urbana que estava sendo realizada pelo poder pblico na poca e que

promoveu demolies e incluso de novos elementos arquitetnicos como avenidas,

viadutos, o sambdromo, dentre outros. No podemos deixar de observar que a renovao

urbana, a incluso ou demolio de algum elemento urbano gerou uma alterao na forma

urbana do local, o que foi possvel perceber, apesar de no ser o objeto principal explorado

na pesquisa, que a forma urbana tambm contribuiu para as mudanas nas relaes

sociais e nas formas de apropriao do espao pblico, no caso a rua, e de outros espaos

pblicos criados e includos e que tambm ficaram sujeitos a novas formas de apropriao.

Ao descrever o caminho percorrido na Rua Pedro Mascarenhas o autor

afirma:

O ambiente vai se degradando pelos vazios fsicos e morais provocados pela interveno de limpeza. Criam-se buracos, casas vagas que possibilitam a invaso por estranhos ao bairro. Arma-se um crculo vicioso: a vida na rua vai ficando problemtica; a decadncia, artificialmente provocada, justifica que se acelere o processo de destruio (SANTOS: 1985, p. 28).

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Fica assim definido o contraste com a imensa rede de favores, confiana e crdito que definia a moral da Pedro Mascarenhas dos outros tempos (SANTOS: 1985, p. 28).

Os vazios entre as edificaes desorganizaram todo o sistema de comrcio

que se nutre do que chamam fregus de passagem (SANTOS: 1985, p. 32).

Carlos Nelson explica que no pensa na distncia social como algo

determinado apenas pelas peculiaridades fsicas do espao, no entanto, no nega que as

limitaes impostas por determinados recortes espaciais podem dificultar a renovao dos

laos de proximidade social (SANTOS: 1985).

Outro autor que trabalha a relao entre o fsico e o social Gambim, que

diz que a relao entre o meio fsico e os indivduos, os padres de comportamento e as

regras sociais que regulam a intensidade e o tipo de interao presente, tratam de um

sistema social inserido numa cultura especifica e dependente de um meio fsico tambm

especfico (GAMBIM: 2007).

Avanando nessa linha de raciocnio Bonnes e Secchiaroli (1995) deram

ateno para a dimenso espacial, que segundo eles tem particular importncia quanto

definio de relaes de proximidade entre as pessoas e quanto ao tipo de mensagens que

emergem na definio de limites geogrficos (BONNES & SECCHIAROLI, apud

GAMBIM: 2007).

Gambim acredita que o relacionamento social na vizinhana trata dos

aspectos negativos como conflitos ou insatisfaes. Skjaeveland e Garling (1997)

argumentam que esses aspectos no tm sido muito investigados na literatura, mas so

influentes no desejo de contato social no lugar (SKJAEVELAND & GARLING apud

GAMBIM: 2007). Por exemplo, Ebbsen identificou que a formao de inimizades em

relao formao de amizades mais dependente da proximidade fsica (EBBESEN

apud GAMBIM et al., 2007) e, Kim e Kaplan (2004) observaram que a percepo de

quantidade elevada de residncias est associada falta de privacidade e atua como

obstculo a interao e que a maior possibilidade de interao scio-espacial pode ser

entendida, tambm, como aspecto negativo (KIM & KAPLAN, apud GAMBIM: 2007).

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Os espaos como caminhos, escadas, acessos comuns para residncias so

alguns dos componentes do ambiente residencial que favorecem altos nveis de contato

social e, consequentemente, formao de relaes pessoais. O espao, em funo da

maneira como configurado, e de acordo com os elementos fsicos presentes, influencia o

contato entre as pessoas, favorecendo ou desencorajando a interao (LAY, apud

GAMBIM: 2007).

Para Kaplan a dimenso espacial central no modo de pensar e agir

humano (KAPLAN e KAPLAN, apud GAMBIM: 2007), enquanto que Lang acredita que

o comportamento dependente de uma localizao geogrfica precisa, significando que a

interao social entre diferentes grupos est, necessariamente, referenciada a um entorno

especifico (LANG, apud GAMBIM: 2007). Alm disso, a dimenso espacial inseparvel

dos significados que o ambiente construdo pode assumir para o comportamento humano

(BONES & SECCHIAROLI, apud GAMBIM: 2007).

Os autores, apesar de vises diferentes, de estarem embasados por

referenciais tericos distintos eles tm em comum, em suas anlises, a estrutura espacial

urbana e a estrutura social, ou seja, o espao fsico-social da cidade tanto nos aspectos

especificamente fsicos da forma, como nos que determinam a dinmica da sociedade, os

seus aspectos imateriais, os fenmenos locais, econmicos, polticos e culturais, ambas as

estruturas reunidas ajudam a configurar essa forma urbana.

Apesar de alguns defenderem que a forma urbana tambm constituda

pela estrutura social e outros acreditarem que a forma apenas produto e de possurem

conceitos distintos sobre a mesma, nenhum nega a associao dessa forma com a ao

humana, no sentido de que a anlise da forma urbana no pode estar dissociada da ao do

homem.

Podemos perceber isso ao analisarmos as vrias posies tericas

apresentadas anteriormente. Fani Carlos acredita que na forma da cidade est a

representao das relaes sociais reais, declarando ainda que essa forma pode delimitar,

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do

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impedir e permitir os usos, as prticas e as aes. Para Lamas a forma urbana a

materializao da cidade capaz de determinar a vida humana em comunidade e Santos diz

que sem as formas a sociedade no se realizaria. Del Rio defende que ela apenas produto

das atividades sociais, no entanto, coloca a necessidade da compreenso dessas formas

para melhor intervir na cidade existente.

Farias tambm defende que so as atividades sociais que do caractersticas

forma urbana, mas, vai alm, ao acreditar que essas atividades tambm so influenciadas

pela forma. J Lynch diz que a estrutura social e a estrutura espacial esto relacionadas

parcialmente, na verdade esto mal interligadas uma vez que ambas se afetam mutuamente

atravs de uma varivel interveniente que o ser humano.

Nas anlises realizadas podemos perceber que os espaos pblicos so os

principais palcos para a concretizao das relaes de vizinhana, principalmente a rua,

entretanto, a forma como cada morador se apropria desses espaos pode aumentar ou

diminuir o nmero de conflitos, mas as caractersticas e qualidades do espao podem

interferir no nvel do conflito, por exemplo, uma rua estreita pode tambm fortificar os

laos entre dois vizinhos promovendo maior contato e maior amizade, ou o contrrio,

tambm pode acontecer que pela falta de espao poder haver ali um ponto forte e inerte

de acirramento do conflito. Outro exemplo que se pode citar a distncia entre as casas,

isto , casas muito prximas e em alguns casos, completamente coladas, podem

proporcionar uma menor privacidade dos moradores.

Atravs das vrias posies tericas apresentadas, pode-se concluir que a

forma urbana ajuda a afetar a vida do homem, principalmente sua vida em comunidade,

suas relaes sociais, no entanto necessrio descobrir o grau dessa interferncia e

enumerar os pontos positivos e negativos, pois os mesmos podero ser vistos como

problemas a serem solucionados, no caso negativo, ou modelos de solues para outras

reas, no caso positivo. Mas, o principal objetivo ser investigar se existem diferenas de

interferncia da forma urbana sobre as relaes de vizinhana entre lugares com formas

urbanas distintas, neste caso, atravs da anlise dos aglomerados urbanos do Coroadinho e

da Cidade Olmpica que possuem visivelmente caractersticas formais distintas, como o

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do

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caso do traado urbano, o primeiro possui um traado mais sinuoso, lotes mais adensados

e o segundo um traado ortogonal e uma menor densidade construtiva.

Baseando-se nas leituras realizadas e anlises de autores que tratam a forma

urbana por diferentes pontos de vista, o nosso entendimento de forma urbana a de um

conjunto de elementos fsicos, inertes, construdos pelo homem e passiveis de modificao

no tempo, em virtude do uso e ocupao que lhes so destinados pelas aes e prticas

sociais, delimitados numa determinada escala urbana.

Para efeito desse trabalho dividimos o estudo da forma urbana em duas

partes, a primeira que privilegia unicamente os aspectos fsicos da forma urbana dos

bairros em pesquisa e a segunda que apresenta um carter dinmico, que considera o papel

e a ao dos sujeitos na definio histrica da forma urbana dos bairros relacionados.

1.2. O ESTUDO DA FORMA URBANA - A MORFOLOGIA

Usa-se o termo morfologia para denominar o estudo da configurao e da

estrutura exterior de um objeto. Morfologia Urbana a cincia que se preocupa

essencialmente em estudar os aspectos exteriores do meio urbano, suas partes fsicas ou

elementos morfolgicos e na sua produo e transformao no tempo, o processo de

urbanizao - fenmenos sociais, econmicos, dentre outros - convertem como explicao

da produo da forma (LAMAS: 2004, DEL RIO: 1990, FARIAS:1997).

Para Lamas, morfologia urbana refere-se aos aspectos exteriores do meio

urbano e as suas relaes recprocas, definindo e explicando a paisagem urbana e sua

estrutura (LAMAS: 2004).

Os estudos sobre a morfologia urbana intensificaram-se aps a 2 Guerra

Mundial como reao perda de identidade e de unidade formal da cidade e para defender

uma poltica de salvaguarda dos centros histricos (MERLIN & CHOAY, apud FARIAS,

p.31).

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do

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So vrias as metodologias utilizadas na morfologia urbana, no entanto,

todas chegam a um mesmo senso comum que o da leitura e compreenso das partes da

cidade para estruturao do todo.

Para Rossi a arquitetura da cidade caracteriza a prpria cidade, sua

morfologia urbana, acreditando que essa arquitetura demonstra o tempo e o espao de

uma sociedade, seus hbitos e costume, seus modos de habitao, locomoo, trabalho e

lazer, ento ela deve ser o objeto de estudo para identificao da forma da cidade

(ROSSI: 2001).

Ao descrevermos a cidade estamos nos ocupando predominantemente da

sua forma, esta o dado concreto (...) (ROSSI: 2001, p.17).

Repito que desejo tratar aqui desse concreto atravs da arquitetura da cidade, atravs da forma, pois esta parece resumir o carter total dos fatos urbanos, inclusive a origem deles. Por outro lado, a descrio da forma constitui o conjunto dos dados empricos do nosso estudo e pode ser realizado mediante termos de observao. Em parte, isso que entendemos por morfologia urbana - as descries das formas de um fato urbano (ROSSI: 2001, p.17).

Camilo Sitte que defendia o conceito de cidade como arte e combatia os da

mediocridade formal da cidade industrial, ele pretendia identificar nas cidades antigas os

princpios intuitivos que levaram a sua expanso, e transform-los em procedimentos

conscientes, para adapt-las as circunstncias modernas (SITTE, apud FARIAS: 1997).

Para Sitte, o plano de uma cidade uma obra de arte, e como tal deve ser

implementado com criatividade e zelo, chegando ao requinte de compor detalhadamente

edifcios e espaos livres. O espao urbano ordena-se em funo dos locais de passagem e

de encontro (as ruas e as praas), que devem se inspirar nas ruas e praas medievais,

configurando um espao visual fechado e geralmente irregular (FARIAS: 1997).

Os pensamentos vanguardistas do CIAM (Congresso Internacional de

Arquitetura Moderna) e do movimento moderno eram outra maneira de ver a forma

urbana, desconsideravam as formas urbanas tradicionais, pois as enxergavam como algo a

ser destrudo para dar lugar a uma experincia formal completamente inovadora e

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racionalista. A forma urbana das cidades modernistas constitua a soluo para as crises

urbana e social.

Mais adiante comearam a surgir as crticas da viso modernista da forma

urbana, que passa a ser vista como um ecossistema cuja estrutura infinitamente mais

complexa do que qualquer um dos modelos j concebido, dentre os arquitetos deste

perodo destacamos Alexander e Lynch (FARIAS: 1997).

Os pensamentos de Lynch com os de Sitte conseguem se assemelhar no

momento em que Sitte se preocupa com a imagem esttica, acreditando que a

observao e busca da materializao de princpios intuitivos da construo da forma

urbana por civilizaes anteriores sirva para construo da forma urbana em seu tempo.

Lychn preocupava-se com a apreenso da imagem pelos diversos observadores,

moradores da cidade, e a produo da nova forma urbana por todos.

Na metodologia utilizada por Lynch a percepo dos elementos

morfolgicos feita a partir da imagem que a cidade produz e a anlise fundamentada a

partir de trs componentes: a identidade, a estrutura e o significado.

Identifica-se o objeto, distingue-o das outras coisas enxergando suas

particularidades, destacando-se assim sua identidade; na sequncia busca-se a relao

observador versus objeto e os demais elementos urbanos de seu entorno; e, por ltimo,

capta-se o seu significado.

O mtodo baseia-se na premissa de que os habitantes de uma cidade

formulam um mapa cognitivo com a imagem que observam e captam dela. Esse mapa

resulta tanto das interpretaes pessoais do indivduo quanto das caractersticas fsicas e

de traado da cidade, alm disso, utiliza tambm questionrios.

Ele prope cinco dimenses bsicas para anlise da forma urbana e para

identificao da boa forma da cidade:

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1. A dimenso vitalidade o grau em que a forma do aglomerado

populacional suporta as funes vitais, os requisitos biolgicos e as capacidades dos seres

humanos;

2. Sentido a que busca identificar o grau em que o aglomerado

populacional pode ser compreendido e mentalmente diferenciado e estruturado no tempo e

no espao pelos seus residentes;

3. Adequao a forma e a capacidade dos espaos quantidade de aes

desenvolvidas pelas comunidades, ou seja, a adequao dos cenrios comportamentais,

nomeadamente a sua adaptabilidade a aes futuras;

4. Acesso a capacidade de alcanar, incluindo quantidade e variedade,

pessoas, atividades, recursos, servios, informaes ou lugar;

5. Controle o grau em que os espaos e as atividades nele realizadas so

controlados por aqueles que os usam.

Dentre os autores que desenvolvem mtodos de apreenso dos aspectos

morfolgicos da cidade destacamos Cullen, que acredita que a paisagem urbana pode ser

apreendida e suscita reaes emocionais, e essa apreenso se d por meio de trs aspectos

Imagem 01: Ilustrao dos propsitos do texto de K. Lynch: Imagem da Cidade Fonte: LAMAS: 2004, p. 400

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que devem ser interligados: o primeiro o ptico, os elementos da cidade podem exercer

sobre as pessoas um impacto de ordem emocional despertado pela viso;

O segundo o aspecto local, a capacidade de identificao de nossa

posio no espao, nosso sentido de localizao; e o ltimo o aspecto contedo, o que

constitui a cidade, as cores, texturas, escalas, estilo, natureza e personalidade.

Lamas utiliza para anlise da forma urbana quatro aspectos: o quantitativo,

o qualitativo, o de organizao funcional e o figurativo.

O quantitativo representa todos aqueles que podem ser

quantificveis como densidades, superfcies, fluxos, coeficientes

volumtricos, dimenses, perfis, dentre outros;

O qualitativo est relacionado aos padres de conforto e

comodidade que o espao pode oferecer, atravs dele pode-se

verificar elementos do meio urbano como estado dos pavimentos,

acessibilidade e conforto;

O figurativo est relacionado aos elementos urbanos capazes de

serem captados por todos os sentidos humanos e assim podem

Imagem 02: Gordon Cullen: Townscape. Anlise da viso serial num pequeno percurso Fonte: LAMAS: 2004, p. 399

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comunicar. So elementos como: som, cheiros, temperaturas, luz,

visuais, e outros;

O de organizao funcional est diretamente ligado s atividades

humanas, como morar, estudar, trabalhar, adquirir e, tambm, ao

uso do solo.

(...) poderei definir a forma urbana como aspecto da realidade ou modo como se organizam os elementos morfolgicos que constituem e definem o espao urbano, relativamente materializao dos aspectos de organizao funcional e quantitativa e dos aspectos qualitativos e figurativos (LAMAS: 2004, p. 44).

Defendendo a importncia do Desenho Urbano na estrutura administrativa

governamental e na rea acadmica como rea de concentrao em cursos novos ou

existentes, Del Rio prope algumas temticas que conformam o leque de preocupaes

sobre o desenho urbano, e de onde podemos identificar os pontos principais para a anlise

e caracterizao da Forma Urbana, so elas:

As imagens da cidade - temos sempre que lembrar que a cidade

est permanentemente em transformao, essas transformaes so

ocasionadas principalmente pelo desenvolvimento e podem em

muitas vezes comprometerem a imagem constante no repertorio e

na identidade. Deve-se por este motivo identificar quais os

elementos mais importantes desse imaginrio, diagnosticando seu

estado mutvel e propondo aes para proteg-los;

Visualidades Preocupar-se em identificar e manter as

caractersticas mais fortes que promovem qualidade de vida, como

a percepo dos espaos abertos, as vistas, os panoramas, a busca da

qualidade visual;

Identidades Locais - Promoo e fortalecimento das identidades

locais, proporcionando ao homem nveis de conforto psicolgicos e

scio-culturais, pois ele necessita se identificar com o territrio e

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seu entorno imediato. E s tomando conscincia da histria, das

partes, dos limites e das comunidades urbanas que se deve propor

as aes de fortalecimento;

Relaes com o ambiente natural As agresses ao meio

ambiente, promovidas por processos urbanos, como por exemplo,

ocupaes irregulares em reas de encosta, margem de rios, etc.,

geram riscos de vida e muitas vezes resultam em visuais agressivos.

Evitar seria a soluo, mas existindo o problema, uma das maneiras

de resolver localizar geograficamente, identificando seus limites e

suas caractersticas, conhecer seria ento o primeiro passo;

Relaes com a arquitetura existente preocupao com a

insero das novas arquiteturas, com o objetivo de impedir o

desrespeito a nossa historia e conflitos tipolgicos, culturais e

funcionais. Conhecer e identificar a arquitetura da cidade o

caminho para alcanar esse objetivo;

Relaes morfolgicas - Ateno ao item - desrespeito morfolgico

- novas inseres urbanas que no se integram ao tecido existente, a

volumetria e tipologia, causam incoerncia urbanstica, como em

alguns casos, por exemplo, de shoppings, condomnios fechados,

etc;

Espao Pblico O espao pblico o local onde acontecem os

contatos sociais, ao invs de ser usado, valorizado e preservado, ele

vem sendo tratado como terra de ningum, tanto pelo poder

pblico como pela populao. Estes devem ser alvos de muitos

trabalhos, anlises e projetos, tanto com intuito de mudar a

educao e a cultura do povo em relao aos usos desses espaos,

assim como entender os diversos processos e mudanas intrnsecas

a eles;

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do

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O espao pblico , antes de mais nada, o lugar, praa, rua, shopping, praia, qualquer tipo de espao, onde no haja obstculos possibilidade de acesso livre e participao de qualquer tipo de pessoas (GOMES: 2002, p. 162).

Para Stephen Carr, o espao pblico sendo o local da vida pblica permite

que pessoas de diferentes grupos culturais estejam em convvio. Talvez por isso tambm

acredite que os problemas estejam mais visveis nesses espaos, problemas estes causados

por conflitos gerados pelos diferentes tipos de apropriao (CARR, apud GOMES: 2002).

Para Habermas pblico no necessariamente aquilo que tem acesso a

todos, mas com certeza envolvem um reconhecimento pblico como o caso dos rgos

pblicos, que muitas das vezes possuem restries forma e tempo de acesso, mas por

adquirirem um poder de representao adquirem a caracterstica de pblico

(HABERMAS, apud GOMES: 2002).

Chamamos de pblicos certos eventos quando eles, em contraposio s sociedades fechadas, so acessveis a qualquer um assim como falamos de locais pblicos ou de casas pblicas (HABERMAS, apud GOMES: 1984, p.14).

Adotaremos o conceito de espao pblico como sendo todos os espaos

pensados e projetados para no terem nenhuma restrio de acesso (extraindo-nos assim

da discusso de Habermas sobre o que publico e privado) onde podemos citar como

exemplos as praas, parques e a prpria rua (GOMES: 2002).

Variedade do acontecimento a necessidade de promover a

qualidade urbana, que vem diminuindo gradativamente desde o

perodo do movimento moderno, deve ser almejada, e s atravs da

diversidade urbana pode-se obt-la.

Uma cidade s se torna socialmente forte, com uma rica mistura social e de

usos (DEL RIO: 1990, p. 120).

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Whitehand e Larkahm afirmam que o estudo da forma urbana em pases

desenvolvidos um campo j estabelecido na geografia e no desenho urbano (Whitehand e

Larkahm, apud Lima: 2004) e que o mesmo no pode ser dito sobre os pases em

desenvolvimento. Nestes os estudos desenvolvimentistas e etnogrficos das cidades nem

abordam a forma urbana como um tipo a ser descrito, nem como um enfoque para o estudo

de mudanas sociais nas condies de vida (WHITEHAND E LARKAHM, apud LIMA:

2004).

No Brasil os estudos sobre a morfologia urbana, mesmo de forma indireta,

j se estendem por um pouco mais de um sculo. Os primeiros estudos relacionam-se aos

aspectos econmicos, sociais e polticos das formas urbanas brasileiras, desenvolvidos por

historiadores, como Srgio Buarque de Holanda e socilogos, como Gilberto Freire, na 1

metade do sculo XX. Em ambos o foco das pesquisas no era a questo morfolgica em

si, mas ao tratarem de aspectos sociais e culturais da sociedade brasileira, ressaltados em

diferentes enfoques, indiretamente estavam contribuindo para o entendimento dos

contornos que configuravam a forma urbana no Brasil, nesse perodo histrico.

J os estudos morfolgicos propriamente ditos, realizados por arquitetos no

Brasil nos ltimos anos do perodo moderno, tiveram fortes influncias das arquiteturas

francesa e alem. Lcio Costa, por exemplo, desenvolveu estudos sobre as influncias

portuguesas na arquitetura brasileira, estudos que buscavam estabelecer os princpios das

tipologias construtivas detalhadas, dando ateno s caractersticas, dimenses e detalhes

das estruturas tecnolgicas da construo dos edifcios.

Nesse mesmo momento iniciaram-se pesquisas na Escola de Arquitetura da

Universidade Federal de Minas Gerais, como destaque pode-se citar o arquiteto Sylvio

Vasconcelos que contribuiu fortemente para consolidar uma das mais fortes tradies

desta Escola: o estudo da evoluo da forma urbana e tipologias das cidades coloniais

mineiras.

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Esses trabalhos podem ser considerados como ponto de partida para

diversas pesquisas realizadas sobre a morfologia urbana brasileira nas ltimas dcadas e

encontram-se presentes at os tempos atuais no contexto nacional.

1.2.1. AS ESCALAS

Quando se pretende estudar a cidade necessita-se compreender que nessa

palavra ou termo est intrnseco um mundo de coisas, fatos e fenmenos. Por isso

devemos delimitar bem nosso objeto de pesquisa e para isso nos oferecido, dentro da

escala urbana, trs dimenses territoriais, onde podemos escolher a escala mais apropriada

aos objetivos propostos.

A escala da rua nos oferece como objeto de estudo a menor unidade ou

poro urbana a Rua. Com esta escala a movimentao do observador pesquisador

quase nula, pois de um ou dois pontos ele consegue visualizar todo o conjunto urbano em

estudo. Os elementos morfolgicos passveis de anlise nesta escala so as fachadas, o

mobilirio urbano, pavimentos, cores, texturas, letreiros, rvores, monumentos isolados, o

que nos mostra que mesmo na menor escala o nmero de elementos presentes bastante

elevado.

J na escala de bairro conseguimos identificar uma verdadeira rea urbana,

uma estrutura com ruas, quarteires, praas, ou seja, nela podemos encontrar escalas

Imagem 03: A Rua Fonte: Autora

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inferiores. Os bairros correspondem s partes homogneas e identificveis em uma cidade,

nesta podemos identificar um dos elementos que no cabe dentro da escala da rua, o

quarteiro, sendo que o conjunto dos quarteires que d espessura ao bairro.

A escala da cidade nos oferece principalmente a possibilidade de entender

as relaes ou articulaes estabelecidas entre as diferentes dimenses urbanas, as ruas,

mas principalmente entre os bairros e as reas com suas respectivas tendncias

(habitacional, comercial, industrial, etc.). Somente atravs dessa escala que se pode

conseguir uma viso global da cidade e das visadas de certos pontos e identificar as

principais caractersticas do maior conjunto urbano juridicamente falando, a cidade.

Podemos citar alguns tipos reconhecveis: cidades lineares, radioconcntricas, em

malha ortogonal, radiais, etc.

... a cidade como sistema espacial formado de vrias partes com

caractersticas prprias (

Imagem 04: O Bairro Fonte: Autora

ROSSI: 2001, p.70).

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Escolheu-se para a realizao deste trabalho a escala de bairro. Atravs da

anlise dos bairros do Coroadinho e da Cidade Olmpica que conseguiremos alcanar os

objetivos propostos. No entanto, devemos destacar que como esta escala engloba escalas

menores, iremos tambm utilizar a escala da rua, para realizar a anlise de recortes

urbanos menores nas reas selecionadas do estudo em questo.

1.2.2. ELEMENTOS DA FORMA URBANA

Identificar a forma urbana pressupe conhecer as partes dessa forma e o

modo como se estruturam nas diferentes escalas identificadas e pressupe, tambm,

conhecer os elementos morfolgicos e as suas caractersticas. Sendo isso um dos primeiros

passos para se estudar e entender essa forma. Entender o traado - sua origem,

caractersticas, como so as ruas - estreitas ou largas, retas ou curvas, as edificaes

densidades, os gabaritos, a tipologia, a relao entre cheios e vazios, como se articulam os

espaos pblicos, a vegetao tipo, densidade, posio, o mobilirio, nos ajuda a

entender todo o conjunto e caracteriz-lo.

Imagem 05: A Cidade Fonte: Autora

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A identificao de elementos morfolgicos pressupe conhecer quais as

partes da forma e o modo como se estruturam nas diferentes escalas (LAMAS: 2004,

p.79).

Por isso, necessrio saber quais so esses elementos:

O SOLO

O solo tambm entendido como pavimento um elemento de grande

importncia no espao urbano, pois nele ou a partir dele que se desenha ou constri a

cidade. No entanto, tambm um elemento de grande fragilidade e sujeito a contnuas

mudanas por no consistir apenas do solo com sua topografia, mas, tambm dos

revestimentos e dos pavimentos, dos degraus e dos passeios empedrados, dos lances, das

faixas asfaltadas e de tantos outros aspectos.

OS EDIFCIOS

O edifcio o elemento morfolgico mnimo identificvel na cidade.

atravs dos edifcios que se constitui o espao urbano e se organizam os diferentes espaos

identificveis: a rua, a praa, beco, avenida, e outros espaos mais complexos.

uma construo destinada a usos pessoais de diversos tipos, habitao,

recreao, trabalho, lazer, culto, etc.

A tipologia edificada determina a forma urbana e a forma urbana

condicionadora da tipologia edificada, numa relao dialtica (LAMAS: 2004, p. 86).

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O LOTE

O lote um princpio essencial da relao dos edifcios com o terreno. a

unidade bsica resultante do parcelamento de outro lote ou de uma gleba. Sua forma , na

maioria das vezes, condicionante da forma do edifcio e, consequentemente, da forma da

cidade.

O conjunto de lotes resultantes da diviso de uma gleba produz um

loteamento.

Na unidade de habitao de Le Corbusier, o lote deixa, por assim dizer, de existir, uma vez que o edifcio no ocupa o solo definido pela sua projeo vertical. Assenta em pilares que saem de um terreno pblico, como pblico todo espao circundante...ruptura provocada pela cidade moderna... (LAMAS: 2004, p. 88).

Imagem 06: O Edifcio Fonte: Autora

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O QUARTEIRO

O Quarteiro um contnuo de edifcios agrupados entre si em anel, ou

sistema fechado e separado dos demais; o espao delimitado pelo cruzamento de trs ou

mais vias e subdivisvel em parcelas de cadastro (lotes) para construo de edifcios.

tambm um modelo de distribuio de terra por proprietrios fundirios. Como tambm

o modo de agrupar edifcios no espao delimitado pelo cruzamento de traados.

Agrupa subunidades, mas pode tambm constituir a parte mnima

identificvel na estrutura urbana.

O quarteiro agrega e organiza tambm os outros elementos da estrutura

urbana: o lote e o edifcio, o traado e a rua, e as relaes que estabelece com os espaos

pblicos.

Imagem 07: Loteamento Fonte: Autora

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A FACHADA

A fachada o invlucro visvel da massa construda, e tambm o cenrio

que define o espao urbano. Atravs das fachadas dos edifcios (e dos seus volumes) que

se definem os espaos urbanos.

A fachada tambm tem a funo de transio entre o mundo coletivo do

espao urbano e o mundo privado das edificaes, ela assume de determinada poca a

concentrao do esforo esttico, procurando o aparato, a representatividade, a ostentao

e o prestgio, moldando a imagem e a esttica da cidade.

A partir do urbanismo moderno, o edifcio, consequentemente a sua

fachada, deixa de ocupar no espao urbano a posio que detinha na cidade tradicional,

passando a ser objeto isolado em redor da qual existe espao livre. Desaparecem as

empenas e os lados passam a serem vistos e a pertencer imagem da cidade. Nesses casos,

a orientao dos edifcios deixa de ser determinada pela orientao dos traados, deixa de

existir a fachada principal para rua. Neste contexto modifica-se fortemente a posio e a

importncia da fachada na morfologia urbana.

Imagem 08: O Quarteiro Fonte: Autora

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O TRAADO / A RUA

O traado um dos elementos mais claramente identificveis tanto na

forma de uma cidade como no gesto de projet-la. Assenta num suporte geogrfico

preexistente, regula a disposio dos edifcios e quarteires, liga os vrios espaos e partes

da cidade e confunde-se com o gesto criador.

Para Pote, Lavedon e Tricart, o traado tem um carter de permanncia,

no totalmente modificvel, que lhe permite resistir s transformaes urbanas. Assim,

encontramos o traado romano ainda visvel em muitas cidades (LAMAS: 2004).

O traado estabelece a relao mais direta de assentamento entre a cidade e

o territrio. Na anlise de M. Pote, a rua ou o traado relaciona-se diretamente com a

formao e crescimento da cidade de modo hierarquizado, em funo da importncia

funcional da deslocao, do percurso e da mobilidade de bens, pessoas e idias. o

traado que define o plano interferido na organizao da forma urbana a diferentes

dimenses. tambm de importncia vital na orientao em qualquer uma cidade

(LAMAS: 2004).

Imagem 09: Fachadas Fonte: Autora

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Desde a rua de pedestres travessa, avenida, ou via rpida, encontra-se

uma correspondncia entre a hierarquia dos traados e a hierarquia das escalas da forma

urbana.

A PRAA

A praa um elemento morfolgico das cidades ocidentais e distingue-se

de outros espaos, que so resultados acidentais de alargamento ou confluncia de

traados. A praa pressupe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa

(LAMAS: 2004).

(...), a praa o lugar intencional do encontro, da permanncia, dos acontecimentos, de prticas sociais, de manifestaes de vida urbana e comunitria e de prestigio, e, consequentemente, de funes estruturantes arquiteturas significativas (LAMAS: 2004, p.102).

A geometria de uma praa pode variar do quadrado ao tringulo, passando

por crculos, semicrculos, elipses, paralelogramos regulares e irregulares (LAMAS:

2004, p.102).

Imagem 10: Traados Fonte: Autora

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O MONUMENTO

O monumento o fato urbano singular, elemento morfolgico

individualizado pela sua presena, configurao e posicionamento na cidade e pelo seu

significado. Para Poete, um dos elementos que fundamenta o princpio das permanncias

um dos fatos urbanos que melhor persiste no tecido urbano e resiste a transformao. A

sua presena determinante na imagem da cidade.

No se localiza em qualquer ponto, tem o seu lugar marcado. Serve para

compor a fisionomia urbana.

O monumento desempenha o papel essencial no desenho urbano,

caracteriza a rea ou bairro e torna-se plo estruturante da cidade. Nas urbanizaes

operacionais a ausncia de monumentos representa, de certo modo, o vazio de significados

destas estruturas e o vazio cultural das gestes urbansticas contemporneas.

Imagem 11: A Praa Fonte: Autora

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A RVORE A E VEGETAO

As estruturas verdes constituem tambm elementos identificveis na

estrutura urbana. Uma rua sem as suas rvores mudaria completamente a imagem. A

simples rvore e a vegetao existentes so de grande importncia na forma urbana. Um

traado pode ser definido tanto por um alinhamento de rvore como por um alinhamento

de edifcios (LAMAS: 2004).

O MOBILIRIO URBANO

O mobilirio urbano constitudo por elementos mveis que mobiliam e

equipam a cidade: o banco, o chafariz, o cesto de lixo, postes de iluminao, o marco do

Imagem 12: O Monumento Fonte: Autora

Imagem 13: Vegetao Fonte: Autora

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correio, a sinalizao, dentre outros, ou j com dimenso de construo, como o quiosque,

abrigo de transporte, dentre outros. O mobilirio urbano situa-se na dimenso setorial, na

escala da rua, no podendo ser considerado de ordem secundria dada as suas implicaes

na forma e equipamentos da cidade. tambm de grande importncia para o desenho da

cidade e da sua organizao e para a qualidade do espao e da comodidade.

As particularidades de cada elemento da forma urbana e suas combinaes

mediante caractersticas, disposies, existncias, produzem o palco, o suporte, para a

realizao dos acontecimentos sociais. Dentre os acontecimentos pertinentes podemos

registrar as relaes de vizinhana, que por ser o contato entre um indivduo e o(s) outro(s)

chamado(s) vizinho ou vizinhos se configuram como acontecimentos pertinentes a um

determinado raio das residncias, onde dependendo do tamanho do bairro podem se

configurar em uma nica unidade de vizinhana.

1.3. A CONSTRUAO SOCIAL E CULTURAL DA FORMA URBANA

1.3.1. RELAES DE VIZINHANA

Quando falamos e ou discutimos sobre relaes de vizinhana estamos

antes de tudo entrando no universo das cincias sociais, e buscando dentro do conjunto dos

diversos tipos de relaes sociais destacar e explorar o tipo de relao social denominada

de relaes de vizinhana, que neste contexto, e para os objetivos almejados, da maior

importncia.

Imagem 14: Mobilirio Urbano Fonte: Autora

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Ao tratarmos de vizinhana devemos buscar primeiro a origem, ou a

palavra que possivelmente gerou o termo vizinhana, o vizinho, isto , o individuo que

mora mais perto e com quem dividimos os mesmos espaos nas escadas, no elevador, no

parque, no estacionamento, na rua, na praa mais prxima, enfim, os espaos pblicos do

mesmo bairro.

A vizinhana um grupo social, a natureza humana exige que os homens se

agrupem e vivam em sociedade, sendo essa uma condio necessria sobrevivncia da

espcie humana. De acordo com o Departamento de Direito do Centro de Investigao e

Estudos de Sociologia de Lisboa, o homem durante toda sua vida participa de diversos

grupos sociais, o familial, o vicinal que o de vizinhana da qual destacamos, o religioso,

o de lazer, o profissional, dentre outros. Esses grupos por sua vez podem ser classificados

em primrios - so aqueles em que predominam contatos mais pessoais, diretos, como a

famlia, os vizinhos, etc.; os secundrios - so mais complexos, como as igrejas e o

Estado, os contatos sociais, neste caso, realizam-se de maneira pessoal e direta, mas sem

intimidade ou de maneira indireta, atravs de cartas, telegramas, telefone, etc, e o grupo

intermedirio que so os que alternam e complementam as duas formas de contatos

sociais (primrios e secundrios), exemplo deste tipo de grupo a escola (CAMPOS:

2008).

Para Gottdiener & Hutchison, as caractersticas de uma vizinhana esto

intimamente ligadas ao ciclo de vida dos habitantes, diz que o estreitamento entre vizinhos

mais perceptvel em comunidades onde existem muitas famlias, com presena de

crianas e idosos (GOTTDIENER & HUTCHISON: 2006).

1.3.2. IMPORTNCIA RELATIVA DAS RELAES DE VIZINHANA

Por causa do crescimento espacial e populacional das cidades e tambm

pelo crescimento tecnolgico devemos concordar que as relaes de vizinhana se

enfraqueceram ou at mesmo desapareceram em alguns contextos. Quando lembramos da

nossa infncia no to remota ou at mesmo das histrias dos nossos pais e avs

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do

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percebemos que os vizinhos faziam parte delas, hoje, com a correria do dia a dia, com o

movimento frentico e com o tempo que j no d tempo para nada, a maior parte das

pessoas passa muito tempo no trabalho, longe de casa e at mesmo dentro de casa

trabalhando, e quando chegam ou quando resolvem sair a vida na rua j adormeceu, desse

modo no se sabe quem mora ao lado, frente, ou na esquina. Isso acontece at em

prdios residenciais, onde o contato deveria ser facilitado pelo cruzamento dos moradores

nas torres de escada e elevadores de acesso, isto, no entanto, no acontece. Esse

procedimento vai se intensificar mais ainda, nos bairros, nos espaos comuns como: a rua,

a calada, a praa, o parque.

Podemos dizer, ento, que a vizinhana um fenmeno que est em

transformao, vtima de uma nova dinmica econmica e social que alterou

profundamente o modo como se opera a socializao nos pases. Nessa perspectiva,

cultivar relaes com os vizinhos constitui hoje em dia uma dificuldade, no sendo assim

reconhecida porque os indivduos no valorizam os laos de vizinhana, no sentem a sua

falta, como era antes no passado.

Nas dcadas de 20 e 30, com o aumento do xodo rural, por causa das

indstrias, a preocupao da sociologia urbana com influencia do espao sobre o

comportamento, foi intensificada. Acreditavam que s nas pequenas cidades existiam

sentimentos comunitrios resultantes de laos mais estreitos nas relaes sociais. Luis

Wirth, da Escola de Chicago, acreditava que fatos como criminalidade, os divrcios,

doenas mentais, dentre outros, eram ocasionados pelo declnio e estreitamento das

relaes sociais na comunidade, existentes nas grandes cidades (GOTTDIENER &

HUTCHISON: 2006).

Alteram-se assim as formas como interagimos e nos relacionamos nos

ambientes urbanos devido s mudanas de hbitos e de costumes de vida. O espao fsico

conheceu uma nova organizao, alargaram-se as ofertas para a ocupao do tempo e com

estas transformaes desapareceram do meio urbano, em muitos lugares, os laos de

vizinhana assentados em valores como a proximidade, a solidariedade, valores que

Morfologia Urbana e Desenho Social: um estudo comparativo dos bairros do

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intensificam a prpria importncia dos laos de vizinhana. A falta destes pode ser vista

como um fator que estimule a solido, a insegurana e at a excluso social.

Em uma matria da rdio internacional da China chamada Festival dos

vizinhos estreita relaes de setembro de 2006, podemos observar o seguinte comentrio

em relao aos contatos de vizinhana, em que pese as diferenas culturais entre o mundo

ocidental e o oriental:

(...) antigamente, vrias famlias dividiam um ptio em comum e usavam a mesm