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IBSN: 0000.0000.000 Página 1 MORFOMETRIA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS ALOGÊNICAS ASSOCIADAS AOS SUMIDOUROS DAS CAVERNAS DO PARQUE ESTADUAL DE TERRA RONCA (PETeR) Guilherme Marques de Lima (a) , Lucas Espíndola Rosa (b) Luís Felipe Soares Cherem (c) Márcio Henrique de Campos Zancopé (d) (a) Geógrafo. (autônomo), Email: [email protected] (b) Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física/Instituto de Estudos Sócioambientais/Universidade Federal de Goiás, Email: [email protected] (c) Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física/Instituto de Estudos Sócioambientais/Universidade Federal de Goiás, Email: [email protected] (d) Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física/Instituto de Estudos Sócioambientais/Universidade Federal de Goiás, Email: [email protected] Eixo: Dinâmica e gestão de bacias hidrográficas Resumo O trabalho visa propor um modelo que auxilie o reconhecimento de potenciais áreas cavernícolas em regiões cársticas, bem como correlacionar os parâmetros morfométricos de densidade de drenagem e índice de circularidade com o desenvolvimento dos sumidouros das cavernas já catalogadas do Parque Estadual de Terra Ronca. A metodologia adotada reconhece sete bacias hidrográficas cujo canal principal que aporta dentro dos respectivos sumidouros. Com base em alimentação de um banco de dados SIG foram extraídas informações para as correlações entre as densidades de drenagem e o índice de circularidade com o desenvolvimento das feições cavernícolas cadastradas pelo Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil (CNC). Os resultados demonstram que a densidade de drenagem e o índice de circularidade apresentam uma relação inversamente proporcional ao desenvolvimento das feições cavernícolas, onde o índice de circularidade apresentou um r² de 0,46, podendo assim ser recomendado este método para seleção de áreas prioritárias. Palavras chave: Densidade de drenagem, Índice de circularidade, fluviocarste. 1. Introdução A região cárstica de Terra Ronca, no nordeste goiano, apresenta um mosaico de ambientes com características naturais distintas, exibindo domínios geomorfológicos bastante significativos, pois apresentam uma rica diversidade de formas de relevo (BRASIL, 1982), formando um dos conjuntos espeleológicos mais representativos da América do Sul.

MORFOMETRIA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS ......compreensão do comportamento hidrológico de bacias hidrográficas associadas a relevos cársticos, bem como ao seu desenvolvimento. Ferrari

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MORFOMETRIA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS ALOGÊNICAS

ASSOCIADAS AOS SUMIDOUROS DAS CAVERNAS DO PARQUE

ESTADUAL DE TERRA RONCA (PETeR)

Guilherme Marques de Lima (a)

, Lucas Espíndola Rosa (b)

Luís Felipe Soares Cherem (c)

Márcio Henrique de Campos Zancopé (d)

(a) Geógrafo. (autônomo), Email: [email protected]

(b) Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física/Instituto de Estudos

Sócioambientais/Universidade Federal de Goiás, Email: [email protected]

(c) Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física/Instituto de Estudos

Sócioambientais/Universidade Federal de Goiás, Email: [email protected]

(d) Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física/Instituto de Estudos

Sócioambientais/Universidade Federal de Goiás, Email: [email protected]

Eixo: Dinâmica e gestão de bacias hidrográficas

Resumo

O trabalho visa propor um modelo que auxilie o reconhecimento de potenciais áreas

cavernícolas em regiões cársticas, bem como correlacionar os parâmetros morfométricos de

densidade de drenagem e índice de circularidade com o desenvolvimento dos sumidouros das

cavernas já catalogadas do Parque Estadual de Terra Ronca. A metodologia adotada

reconhece sete bacias hidrográficas cujo canal principal que aporta dentro dos respectivos

sumidouros. Com base em alimentação de um banco de dados SIG foram extraídas

informações para as correlações entre as densidades de drenagem e o índice de

circularidade com o desenvolvimento das feições cavernícolas cadastradas pelo Cadastro

Nacional de Cavernas do Brasil (CNC). Os resultados demonstram que a densidade de

drenagem e o índice de circularidade apresentam uma relação inversamente proporcional ao

desenvolvimento das feições cavernícolas, onde o índice de circularidade apresentou um r² de

0,46, podendo assim ser recomendado este método para seleção de áreas prioritárias.

Palavras chave: Densidade de drenagem, Índice de circularidade, fluviocarste.

1. Introdução

A região cárstica de Terra Ronca, no nordeste goiano, apresenta um mosaico de

ambientes com características naturais distintas, exibindo domínios geomorfológicos bastante

significativos, pois apresentam uma rica diversidade de formas de relevo (BRASIL, 1982),

formando um dos conjuntos espeleológicos mais representativos da América do Sul.

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Por estas peculiaridades, foi criado o Parque Estadual da Terra Ronca (PETeR), uma

unidade de conservação ambiental localizada nos municipios de Guarani de Goiás e São

Domingos, cujo objetivo principal destina-se à preservação dos relevos cársticos da região

(IBGE, 1995).

Desenvolvido predominantemente sobre rochas carbonáticas (BIGARELLA, et al.,

1994), os relevos cársticos tem a água e o CO2 como principal agente intempérico nos

processos relacionados à sua gênese e evolução (LLOPIS-LLADÓ, 1970). A dissolução das

rochas promove a espeleogênese, que é controlada pela remoção e precipitação geoquímica de

íons de bicarbonato no interior das cavernas e demais feições cársticas (WHITE, 1988).

Assim, o entendimento do regime hidrológico em ambientes onde predominam este tipo de

relevo é grande relevância, e para tal, é necessário o conhecimento de características físicas

existentes nas bacias hidrográficas (VILLELA; MATTOS, 1975; LIMA, 1976).

Neste sentido, têm-se utilizado diversos parâmetros morfométricos para a

compreensão do comportamento hidrológico de bacias hidrográficas associadas a relevos

cársticos, bem como ao seu desenvolvimento. Ferrari et al., (1998), por exemplo,

desenvolveram sua pesquisa relacionando alguns parâmetros com o desenvolvimento de

depressões no carste do Vale do Ribeira, no estado de São Paulo. Na ocasião, os autores

utilizaram a densidade de drenagem e o índice de circularidade para compreender o

desenvolvimento das depressões fechadas existentes na região. Faquim et al., (2017) também

utilizaram parâmetros morfométricos para averiguar o potencial de transferência de

sedimentos, visando quantificar a capacidade de transporte de sedimentos das bacias

hidrográficas e quais as que mais contribuem para o processo de assoreamento do sistema de

cavernas do PETeR. Lima et al., (2017) propuseram um modelo introdutório para

compreender o desenvolvimento de poljés existentes no Parque Estadual de Terra Ronca

(PETeR), utilizando também parâmetros morfométricos. Na ocasião, os autores identificaram

que a maior densidade de drenagem poderia estar associada às feições mais desenvolvidas.

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A densidade de drenagem é uma variável da bacia hidrográfica que indica a eficiência

do escoamento superficial até um determinado exutório (CHIRISTOFOLLETI, 1980),

enquanto o índice de circularidade indica que a água precipitada numa bacia chega com maior

eficiência ao exutório, podendo favorecer as enchentes (CHRISTOFOLETTI, 1969). Ambas

variáveis, portanto, poderiam contribuir para o entendimento do aporte hídrico às cavernas do

PETeR.

Considerando estes pressupostos, alguns parâmetros morfométricos poderiam auxiliar

previamente na escolha e distinção de locais com potencial ocorrência de feições cavernícolas

e contribuição hídrica alogênica, que apresentem padrões semelhantes no que diz respeito a

variáveis geológicas, geomorfológicas, pedológicas e climáticas?

Assim, este trabalho tem como objetivo correlacionar os valores de densidade de

drenagem e índice de circularidade das bacias hidrográficas alogênicas associadas aos

sumidouros das cavernas do PETeR com o comprimento das cavernas .

2. Materiais e Métodos

2.1. Área de estudo

Criada em 1989 e com uma área de aproximadamente 57 mil hectares, o PETeR é

atravessado por uma rede de drenagem que compõe as bacias hidrográficas dos médios e altos

cursos dos rios São Domingos e São Mateus, afluentes da margem direita do Rio Paranã,

integrando assim, a bacia hidrográfica do Rio Tocantins.

Estes rios, cujas nascentes se localizam na Serra Geral de Goiás, drenam para oeste e

atravessam patamares aplainados até alcançarem os sumidouros dos sistemas de cavernas do

PETeR (BRASIL, 1982), evidenciando uma importante recarga alogênica. A Serra Geral de

Goiás é constituída por arenitos cretáceos do Grupo Urucuia (BRASIL, 1982). Os sumidouros

das cavernas do PETeR ocorrem a partir dos afloramentos das rochas proterozóicas do Grupo

Bambuí, onde se desenvolve o carste da região. Ainda, no PETeR são encontradas as rochas

granito-gnáissicas do Complexo Almas Cavalcante, além de coberturas sedimentares

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inconsolidadas e depósitos colúvio-eluviais (Figura1) (LACERDA FILHO, 2008; ROSA,

2016).

Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo. 1) Sumidouro da Gruta de São Bernardo; 2) Sumidouro da

Lapa Palmeiras; 3) Sumidouro da Lapa de Terra Ronca; 4) Sumidouro da Lapa de São Mateus; 5) Sumidouro da

Lapa de São Vicente; 6) Sumidouro da Lapa do Bezerra; 7) Sumidouro da Lapa do Angélica.

Já o relevo da área de estudo (Figura 2) está dividido em unidades (i) agradacionais,

correspondentes predominantemente a Planícies Fluviais, Terraços e Faixas Aluviais, e (ii)

denudacionais, compostas pelas Superfícies Regionais de Aplainamento (SRA), Zonas de

Erosão Recuante (ZER) e Morros e Colinas (MC) (LATRUBESSE et al., 2006).

Figura 2: Perfil topográfico da área de estudo. Fonte: Rosa (2016). Adaptado.

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2.1. Procedimentos metodológicos

A realização deste trabalho consistiu da análise de imagens de satélites a partir do

Modelo Digital de Elevação do sistema orbital ALOS PALSAR, disponibilizado no portal

digital do Alaska Satellite Facility (ASF), que possibilitou a delimitação das bacias

hidrográficas associadas aos sumidouros das cavernas do PETeR. A pesquisa também utilizou

imagens de alta resolução dos satélites SPOT (2,5 m) e GeoEye (0,6 m), que permitiu a

obtenção de informações visuais acerca dos fundos de vale e das reentrâncias dos canais de

drenagem. Estes canais foram delimitados por intermédio de vetorização na escala de 1:

5.000, a fim de propor maior fidedignidade com ambiente de estudo.

Os sumidouros das cavernas do Parque Estadual de Terra Ronca foram obtidos in loco,

por meio do registro de suas coordenadas geográficas via a utilização de GPS, enquanto o

tamanho foi baseado nos dados disponíveis da plataforma digital da Sociedade Brasileira de

Espeleologia (SBE), cuja aturoria é do Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil (CNC).

O comprimento das sete cavernas estudadas do PETeR, em metros e ordem crescente,

são: Lapa Palmeiras (3.500m); Gruta de São Bernardo (3.800m); Lapa de Terra Ronca

(7.500m); Lapa do Bezerra ( 8.250m); Lapa do São Vicente (10.130m); Lapa de São Mateus

(10.828m; 7) e Lapa do Angélica (14.100m).

Para a obtenção dos valores de densidade de drenagem seguiu-se o determinado por

Horton (1945) apud Christofoletti, (1980), em que a densidade de drenagem corresponde à

soma do comprimento total dos canais divido pela área da bacia hidrográfica, conforme a

fórmula a seguir: Dd = Lt/ A. Nesse caso, o Dd corresponde à densidade de drenagem, Lt ao

comprimento total dos canais e A área da bacia. Este parâmetro está relacionado com o tempo

levado para a saída do escoamento superficial da bacia, ou seja, bacias com menor infiltração

apresentam maior escoamento superficial e consequentemente, maiores valores de densidade

de drenagem (LIMA, 1976; CHRISTOFOLETTI, 1978).

Já os valores referentes ao índice de circularidade foram obtidos por meio da equação

Ic = 12.57 x A/p², onde Ic corresponde ao índice de circularidade, A à área da bacia

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hidrográfica em km² e p² ao perímetro da bacia, também em km² (TONELLO, 2005). As

bacias hidrográficas com índice de circularidade superiores a 0,51 apresentam formas

próximas a um círculo, enquanto valores menores que 0,51 indicam bacias hidrográficas com

formas alongadas ou menos circulares. Assim, há maior acúmulo de água no exutório de

bacias mais circulares, enquanto há menor acúmulo nas bacias menos circulares (SCHUMM,

1956), isto é, maior suscetibilidade de inundação nas primeiras bacias e comportamento o

inverso nas segundas (STEVAUX; LATRUBESSE, 2017).

Os resultados obtidos dos parâmetros morfométricos das bacias hidrográficas

associadas aos sumidouros das cavernas do PETeR e o comprimento das cavernas associadas

a estes sumidouros foram correlacionados estatisticamente por regressão linear simples.

3. Resultados e Discussão

As bacias hidrográficas que aportam nos sumidouros apresentaram variação quanto

aos parâmetros morfométricos, no que diz respeito à área das bacias, o comprimento dos

canais e consequentemente de densidade de drenagem. A Figura 1 evidencia variabilidade

quanto ao comportamento das variáveis da densidade de drenagem das bacias hidrográficas

associadas aos sumidouros das cavernas do PETeR.

Figura 3: Parâmetros morfométricos das bacias hidrográficas associadas aos sumidouros das cavernas do PETeR.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Lapa

Palmeiras

Gruta de

S.Bernardo

Lapa de

Terra Ronca

Lapa do

Bezerra

Lapa do São

Vicente

Lapa de São

Mateus

Lapa do

Angélica

6,56

9,05

11,49

4,33

11,32

7,37

9,26 9,53

12,04

17,79

6,51

12,61

7,43

12,78

1,45 1,33 1,55 1,51 1,11 1,01 1,38

Área da bacia - km² (.10) Comprimento dos canais - km Densidade de Drenagem (km/km²)

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Nota-se que os maiores valores dos parâmetros morfométricos foram registrados na

bacia associada ao sumidouro do rio da Lapa, que além de apresentar o maior valor de

comprimento de canais e tamanho de sua área, apresentou o maior valor de densidade de

drenagem em relação aos demais. Destaca-se que o rio da Lapa verte para a mais conhecida

caverna da região, a de Terra Ronca.

Já os menores valores de densidade de drenagem foram registrados nas bacias

associadas aos sumidouros das cavernas da Lapa de São Mateus e São Vicente, com valores

de 1,01 e 1,11 km/km², respectivamente.

Embora a bacia hidrográfica associada à Lapa do Bezerra apresente a menor

contribuição areal (área da bacia) em relação às demais, seu valor de densidade de drenagem é

o segundo maior (1,5 km/km) possivelmente pela natureza inversamente proporcional deste

parâmetro, que alavanca seu resultado.

Apesar possuir o segundo maior comprimento total dos canais e apresentar na sua

soleira o controle exercido por granitoides associados ao Complexo Almas-Cavalcante, a

bacia hidrográfica associada ao sumidouro da Lapa do Angélica possui baixa densidade de

drenagem pela sua grande contribuição areal em comparação as demais bacias.

É válido destacar que este controle litoestrutural do Complexo Almas-Cavalcante,

que é composto por granitoides, ocupa grande representação nas soleiras dos cursos hídricos

junto ao sistema cárstico do PETeR, sendo mais representativo na bacia que aporta

diretamente o rio da Lapa, na Caverna de Terra Ronca. A natureza dessas litologias apresenta

um amplo controle estrutural composto por fissuras, fraturas e falhas, que por vezes

contribuem com a maior densidade de drenagem constatada na região de pesquisa.

Do contrário, observa-se que as bacias dos rios São Vicente e São Mateus

apresentam grandes áreas compostas por Depósitos Colúvio-Eluviais, provavelmente

oriundos do recuo da escarpa da cuesta da Serra Geral de Goiás, por vezes produzindo amplos

interflúvios entre os divisores de água das bacias do rio São Vicente e São Mateus, o que

ajuda a compreender a diferenciação de até 0,5 km/km² entre bacias limítrofes.

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Em relação ao índice de circularidade (Ic) foram registrados os seguintes valores: i)

Bacia do rio Angélica – Ic: 0,4; ii) Bacia do rio São Vicente – Ic: 0,4; iii) Bacia do rio São

Mateus – Ic: 0,45; iv) Bacia do rio Palmeiras – Ic: 0.47; v) Bacia do córrego Bezerra – Ic:

0,55; vi) Bacia da Lapa de Terra Ronca: - Ic: 0,56; vii) e Gruta do São Bernardo - Ic: 0,58.

As correlações mostraram-se estatisticamente satisfatórias, já que os testes apontam a

existência de correlação entre as variáveis: comprimento da caverna x densidade de

drenagem; e comprimento da caverna x índice de circularidade. Os valores “P” da regressão

mostraram-se abaixo de 0,05 em todos os casos, sendo de 0,0006 para a densidade de

drenagem e de 0,0001 para o índice de circularidade.

Os valores de densidade de drenagem evidenciam uma correlação (r²) de 0,13, que

pode ser considerada muito baixa e por vezes nula (figura 4), isto é, uma relação inversamente

proporcional (negativa), onde os valores mais ajustados correspondem as menores cavernas -

São Bernardo e Palmeiras - mas que apresentam densidades de drenagens intermediárias

comparadas às demais observadas.

Figura 4: Coeficiente de Determinação entre os comprimentos das cavernas pela densidade de drenagem.

y = -2E-05x + 1,4951

R² = 0,1334

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000

Den

sidad

e de

Dre

nag

em (

km

/km

²)

Comprimento da caverna (m)

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Nota-se também que duas das três maiores cavernas, Lapa de São Mateus e Lapa de

São Vicente, apresentam os menores valores de densidade de drenagem, com 1,01 e 1,1

(km/km²). Este comportamento pode ser consequência do domínio geológico nas áreas de

recarga destas bacias serem constituído majoritariamente por Depósitos Colúvio-Eluviais, de

matriz arenosa, onde predominam o fluxo basal de natureza mais lenta e contínua ante aos

granitoides do Complexo Almas-Cavalcante que alicerçam, em grande parte, o percurso

superficial dos canais alogênicos da Lapa de Terra Ronca e da Lapa do Bezerra, que ao

contrário, apresentam os maiores valores de densidade de drenagem.

Quando observados os valores relativos aos índices de circularidade, constata-se que

estes são mais representativos em relação à densidade de drenagem, evidenciando uma

correlação negativa (r²) de 0,46, conforme Figura 5.

Figura 5: Coeficiente de Determinação entre os comprimentos das cavernas pelo índice de circularidade.

As bacias com correlações mais ajustadas a reta em relação ao índice de

circularidade foram as da Lapa da Angélica, de São Mateus e de São Vicente, sendo as duas

últimas as que apresentam as menores densidades de drenagem. Tais resultados já eram

y = -1E-05x + 0,5983

R² = 0,4586

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000

Índic

e de

Cir

cula

ridad

e

Comprimento da caverna (m)

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esperados pelo comportamento “negativo” da correlação da densidade de drenagem,

evidenciando que bacias com menores contribuições hidrográficas, visto as menores

densidades de drenagem, possuem menores riscos a enchentes (CHRISTOFOLLETI, 1980),

fato esse comprovado pelo menor índice de circularidade.

Os índices de circularidade nesses casos sugerem inferências quanto ao tempo de

concentração da bacia, onde bacias menos circulares ás águas demoram mais tempo para

passar pelo exutório, uma vez que a água advinda da rede de drenagem tende a atingir o canal

principal simultaneamente, na medida em que as distâncias entre a cabeceira e o tronco da

drenagem são aproximadamente equivalentes (STEVAUX; LATRUBESSE, 2017).

Ademais, esses valores do índice de circularidade associados à compreensão dos

valores de densidade de drenagem ser menores, sugerem que as bacias associadas à Lapa de

São Mateus e de São Vicente apresentam maior infiltração e percolação da água pelo fluxo

basal, fluxo esse importante para o desenvolvimento do carste tanto autógeno quanto alógeno

(FERRARI et al., 1998).

Nesse sentido, valores reduzidos tanto de densidade de drenagem ou de índice de

circularidade, evidenciam que o escoamento da bacia será mais bem distribuído ao longo do

tempo (BIAS et al., 2012), sugerindo assim, melhor aporte do fluxo basal, tendo em vista que

em condições físicas semelhantes, essas bacias apresentam melhor infiltração e por vezes

percolação, que consequentemente, contribui para cavernas.

4. Considerações Finais

Os resultados mostram que há uma relação significativa “negativa” entre o

comprimento das cavernas e o índice de circularidade (r² 0,46), em que a diminuição deste

índice tende a acompanhar o aumento do comprimento das cavernas, fato este também

observado para a densidade de drenagem, mas que pelos resultados levantados neste último

parâmetro, apresentaram tendência quase nula. Assim, os menores valores de densidade de

drenagem e de índice de circularidade estiveram associados às cavernas mais longas, ou seja,

de maior comprimento.

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Em pesquisas de prospecção espeleológica tais resultados indicam que este método

pode ser uma das variáveis a serem consideradas na programação com vistas a otimização e

seleção de locais prioritários de para trabalhos de campo.

Os resultados apresentados ainda em caráter preliminar sugerem que outras

correlações podem ser consideradas em relação ao desenvolvimento deste carste, por

exemplo, a relação entre o predomínio das unidades geológicas que aportam os cursos

hídricos alogênicos e o desenvolvimento dos carstes, que podem fazer inferências de

reconhecimento acerca da influência da água subterrânea e do fluxo basal até essas feições.

5. Referências

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