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MORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Breve Anlise do Livro: MORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

O livro Morte e Desenvolvimento Humano, da autora Maria Jlia Kovcs e seus colaboradores, visa abordar a questo

da morte e do luto para o desenvolvimento humano, uma vez que ambos fazem parte do cotidiano de todos, sem excees.

Por isso, ela traz tona a importncia de aprendermos a lidar com essas questes de forma a amenizar a dor causada por

elas, tanto no nosso cotidiano enquanto pessoas, como no trato com pacientes que buscam auxlio profissional.

Ao longo de seus treze captulos, o livro nos proporciona uma reflexo sobre os aspectos essenciais para o tema

abordado, tais como o medo da morte, morte na viso sociocultural, separao e perdas, o processo do luto, profissionais da

sade diante da morte, entre outros.

Em seu livro, a autora procurou trazer para o leitor o significado cultural da morte - de forma subjetiva - e a dor do luto

vivenciada por todos, por meio da prpria morte ou de alguma perda afetiva, emocional.

A obra pode ser entendida como um recorte apenas de tais questes, pois os temas abordados so de uma amplitude

imensurvel, como a prpria autora descreve na apresentao do livro:

Este livro (...) neste vis, ou recorte, que ele deve ser compreendido. Ao escrever sobre um tema to

amplo e ao mesmo tempo to tabu correm-se srios riscos. (Apresentao, p. XI)

No primeiro captulo, a autora fala sobre morte, religio e Filosofia, esclarecendo o significado da morte para algumas

religies e tambm seu smbolo dentro da Filosofia, que busca incansavelmente compreender os caminhos do homem antes

do nascimento em vida e, tambm, aps a morte.

Segundo a autora, a morte surgiu como paradigma para a compreenso da evoluo da espcie humana e serve como

inspirao para artistas, msicos, poetas e todos os homens, por se tratar de uma questo enigmtica e envolvente, pois ao

mesmo tempo em que pode aparecer como perda, ruptura, desligamento, destruio pode se mostrar tambm como descanso,

paz, seduo e encanto.

Dessa forma, a obra mostra a morte no como sendo um problema para o final da vida, mas manifesta como rduo o

trabalho que o modo de vida do sculo XXI tem tido para matar a morte ou para fazer com que as pessoas esqueam seu

significado, mas de uma forma intil. Assim, ser mais fcil aprender a compreend-la e entender sua importncia, pois coloca

a vida em um parmetro com incio, meio e fim ao encar-la somente nos momentos de fatalidade, como declara a autora:

A morte faz parte do desenvolvimento humano desde a mais tenra idade. (...) Desde todos os tempos embusca da imortalidade, o homem desafia e tenta vencer a morte. Nos mitos e lendas essa atitude simbolizada pela morte do drago ou monstro. Os heris podem conseguir tal faanha, mas os mortaisno. (Captulo I, p. 2)

No segundo captulo do livro, a autora fala sobre alguns pontos que colocam o homem frente realidade do medo da

morte. Entre esses medos, ela cita: medo da morte do outro, medo da prpria morte, medo da extino, medo do que poder

vir aps a morte.

O medo, como descreve a autora, seria a resposta mais aceita diante da morte, pois um sentimento compartilhado

universalmente pelos seres humanos diante da possibilidade da mesma. O medo da morte pode estar associado ao medo do

desconhecido, medo da separao de quem se ama, medo do que possa ocorrer aos dependentes, medo da interrupo dos

planos, entre outros. So tantos os medos relativos morte que eles acabam por fazer parte tambm do nosso cotidiano

enquanto ainda estamos vivos.

No captulo trs, encontramos uma explicao mais ampla sobre a morte para o desenvolvimento e organizao social,

pois na viso da autora, a morte est presente na vida toda do homem e ajuda a nortear seus pensamentos e atitudes ao se

entender como sujeito finito e mortal, pois embora a sociedade lute contra a morte, a mesma est organizada e s existe em

decorrncia da existncia da ideia do fim individual e coletivo do homem enquanto sujeito social, conforme argumenta a autora:

A sociedade funciona apesar da morte, contra ela, mas s existe, enquanto organizada pela morte, com amorte e na morte. (Capitulo 3, p. 28)

Nos captulos quatro e cinco, teremos uma abordagem voltada para as fases da vida e a compreenso do processo da

morte em cada uma delas. Na infncia e na adolescncia, a autora comenta a importncia de ser introduzido o conhecimento

de morte em uma fase mais remota, pois a criana e o adolescente, de uma maneira ou de outra, iro passar pelo processo da

perda. Talvez com a morte de algum ente querido ou de um animal de estimao, por exemplo.

O livro trata que ao nos calarmos diante da realidade da morte perdemos a oportunidade de prepararmos a criana e o

adolescente para o fato que eles iro encontrar ao longo de suas vidas. Nesse contexto, uma compreenso mesmo que ldica

do que seja a morte ir ajud-los a se familiarizar com as perdas que tero de enfrentar ao longo de suas vidas.

J na velhice, existe a necessidade de tratarmos do tema da morte levando em considerao as possibilidades da

qualidade de vida e com o cuidado de no colocar o idoso em uma posio de final de carreira ou proximidade eminente da

morte, pois, como est relatado na obra, a morte no deve ser entendida como sendo parte da velhice e sim como parte da

vida:

(...) vida e morte para mim no so duas coisas separadas; elas fazem parte do mesmo processo. A gentecomea a morrer no instante em que nasce.(...) as clulas envelhecem e morrem o tempo todo, e oprocesso de pequenas mortes tambm acontecem o tempo todo, na medida em que a gente vai perdendocoisas atravs da vida. (Captulo 5, p. 70)

Do captulo seis ao captulo oito, a obra refere-se s diversas abordagens da Psicologia dentro das perspectivas da

Psicanlise, Analtica e Fenmeno Existencial.

A Psicanlise, segundo o livro, entende a morte fora do dualismo morte x vida, mal x bem. Procura perceber o fenmeno

dentro de uma perspectiva que desmistifique o que seria o mundo idealizado, no qual a vida - representante do bem - vence a

morte representante do mal.

Na Psicanlise, a morte aparece como agente natural da vida, que vista de forma inconsciente por grande parte da

sociedade como algo aterrorizante, pois ao tratarmos de tal tema, abordamos algo desconhecido. Em decorrncia dessa

caracterstica enigmtica, ela no aceita amplamente na sua naturalidade, segundo descrito pela autora:

"(...) a morte est sempre presente em nossas vidas, e das mais variadas maneiras, A morte fsica ser altima, mas teremos mortes parciais ou totais na rea somtica, mental, e social, lembrando que estadiviso apenas didtica, pois todas se interpelam." (Captulo 6, p. 92)

Com isso, a Psicanlise ajuda a promover a compreenso da morte no apenas fsica, mas tambm as mortes parciais

que so representadas pelas perdas ao longo da vida como processos naturais.

A Psicologia Analtica aborda a morte de maneira que se assemelhe com questes cotidianas. Assim como o animal que

morre, a planta que perde o vigor, os fenmenos da natureza representariam a morte e a vida diariamente. Ex: O nascer e o

por do sol, a lua que surge e declina, as estaes que vo e vem ao longo do ano.

Para Jung, a vida se equipara ao percurso do sol que nasce e lentamente vai percorrendo sua trajetria at o cair do dia.

Dessa forma, a morte seria o descanso e o declinar inevitvel da trajetria de todos ns, que devemos aceit-la de forma

natural sem querer prolongar ou congelar os ponteiros do relgio, clamando o direito de permanecer no apogeu do meio-dia. A

partir dessa perspectiva, passamos a entender o fenmeno da morte de forma natural e fazendo parte do ciclo da vida.

A morte, para a abordagem fenomenolgico-existencial, no deixa a opo de morrer ou no morrer. Ela se impe e nos

cerca todos os dias, por isso a necessidade do preparo precoce para tal acontecimento.

A aceitao para esse fenmeno no deve se dar por meio da angustia ou pelo desespero, e sim de forma a entender a

morte como um dado estruturante de nossa existncia, como citado:

"Toda percepo que temos do que o homem, ser humano, sujeito ou indivduo fica repassada pela ideiade mortalidade. S podemos entender algum sentimento, algum afeto, alguma manifestao intelectual ousocial, a partir desse dado."

(Captulo 8, p. 147).

No captulo nove, o livro traz uma reflexo do que seria a morte em vida, pois muitas vezes o peso da morte vivido em

decorrncia de uma separao, distanciamento, doena, entre outros problemas que podero acatar uma pessoa querida.

Essa a morte que vivemos diariamente desde a infncia e precisamos aprender a lidar com ela e com o processo de luto que

ser necessrio para superarmos tais perdas.

A expresso dos sentimentos nesses momentos de fundamental importncia na superao da dor. Cada cultura ir

abordar de forma distinta a fase do luto, mas ele ser necessrio no processo de superao pelos enlutados.

No captulo dez, temos uma abordagem voltada para os comportamentos autodestrutivos e o suicdio que aborda a

questo da vida como valendo ou no a pena ser vivida. O suicdio aqui visto como ato destrutivo e de autoagresso, que

cometido por algum com vaga conscincia da morte e da vida e que provavelmente est acometida de alguma patologia.

colocada a questo do gnero, no qual temos um ndice maior de homens que cometem suicdio, pois so mais

frgeis e intolerantes a frustraes. Subgrupos minoritrios tambm so mais suscetveis essa prtica por estarem

vulnerveis a situaes tensas, assim como indivduos sozinhos - vivos, solteiros ou separados. A preveno ao suicdio

proposta como forma de esclarecimento, controle e preveno do ato autodestrutivo.

Nos captulos onze, doze e treze, vem tona a importncia da atuao dos profissionais de sade frente a realidade da

morte para pacientes terminais. O texto expe o conceito de terminalidade como relativo, pois muitas vezes pessoas tidas

como saudveis morrem mais rpido do que pacientes com doenas graves ou idosos. O que o profissional de sade precisa

ter em mente a questo do bem estar do paciente em todos os sentidos e da melhor maneira possvel. necessrio levar em

considerao o estado de sade de cada paciente, fazendo assim, um atendimento de qualidade e transparncia frente

problemtica da doena e da proximidade da morte em alguns casos.

O paciente dessa forma, no deve ser visto como campo de atuao do mdico e dos profissionais que lidam com sua

sade, mas como ser humano que precisa se sentir acolhido em todas as suas necessidades, retirando, dessa maneira, o

rtulo ''terminal'' de seu pronturio e sendo abandonada a falsa ideia de que no h mais nada a se fazer pelo paciente nessas

condies.

Assim, a obra chega ao seu fim, apontando a importncia do papel desenvolvido pelos profissionais da rea de sade

frente questo da morte, mostrando tambm a relevncia da compreenso da morte como parte do ciclo da vida para todos

ns e esclarecendo como as perdas que sofremos em vida, ao longo de nossa trajetria, so de suma importncia para nosso

desenvolvimento como seres humanos.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

KOVCS, M.J. - Morte e Desenvolvimento Humano. A casa do Psiclogo, 1992.

Colaboradores da Obra: Daniela Rothschild, Henriette Tognetti Penha Morato, Laura Villares, Rauflin Azevedo, Raquel La

Rosenberg, Roosevelt Moiss Smeke Cassorla e Vicente A. Carvalho.