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NOVEMBRO 2011 continuação da edição Set./Out. págs. 38, 39 e 40 Manifestação repentina e inesperada de doenças pré-existentes Autoria: Eugénia Gouveia Instituto Politécnico de Bragança Morte Súbita do Castanheiro Os estragos fisiológicos associados ao frio resultam da formação de cristais de gelo no interior das células e nos espaços intra-celulares. Quando os cristais se formam no interior da célula ocorrem alterações no protoplasma da célula ficando a membrana plasmática mais permeável. A formação de cristais de gelo entre as células com o consequente aumento de volume provoca o colapso das células ao qual se atribui a morte dos tecidos. Muitas plantas perenes alteram os processos metabólicos para se ajustarem às temperaturas baixas do inverno ocorrendo uma redução do teor em água e um aumento do conteúdo em gomas e pectinas assim como um aumento da densidade da seiva pela presença de ácidos gordos e compostos azotados. Os estragos nos tecidos vegetais provocados pelo frio manifestam-se de forma visível nas folhas, ramos e raízes: . As folhas ficam enroladas e necrosadas nas extremidades ou em toda a sua extensão . Nos ramos e troncos ocorrem fendilhamentos com separação do córtex da madeira pela região do câmbio Causas ambientais e fisiológicas (condições extremas de temperatura) árvores é particularmente sensível às baixas temperaturas que ocorrem na primavera quando já se iniciou o ciclo vegetativo. Esta camada situa- se na parte mais interior da casca das árvores entre os tecidos do xilema e do floema. . As raízes também podem ficar afectadas ficando descoloridas e que acabam por se desintegrar. Os estragos ocorrem principalmente nas raízes mais finas e superficiais. Quando a camada cambial fica seriamente afectada o mais provável é a morte das árvores. Se apenas a parte terminal dos ramos ficou afectada devem ser retirados da árvore logo que as condições ambientais o permitam. Deve ainda aplicar-se um programa de fertilização com ênfase na aplicação de azoto para permitir uma melhor recuperação das árvores. Cuidados especiais devem ser adoptados na protecção das feridas para prevenir a entrada de agentes patogénicos como o fungo que causa o cancro do castanheiro, Cryphonectria parasítica, que uma vez instalado provoca também a morte do castanheiro. As doenças radiculares e as condições ambientais desfavoráveis induzem o aparecimento de um conjunto de sintomas que as árvores atacadas apresentam em maior ou menor grau de intensidade e que vão desde o amarelecimento das folhas, não formação dos frutos ou frutos demasiado pequenos, “die-back” dos ramos e crescimentos reduzidos que caracterizam o que genericamente é designado por declínio e que culminam na expressão apopléctica dos sintomas com a morte repentina da árvore. O declínio é assim um quadro sanitário de etiologia complexa que pressupõe, Interacção e potenciação dos factores de mortalidade do castanheiro Folhas e ouriços firmemente aderentes à árvore durante o Inverno devido a morte repentina pela doendça da tinta . Na região do câmbio são visíveis zonas acastanhadas que evoluem para enegrecimento que depois de abertos apresentam um odor desagradável e intenso. O câmbio dos ramos e troncos das no caso do castanheiro, a presença de agentes (bióticos ou abióticos) iniciadores que causam danos directos no hospedeiro a que se associam outros factores que aceleram a perda de vigor e que conduz de forma progressiva à morte da árvore. No castanheiro, o ataque dos insectos xilófagos como os escolitídeos, noticiados com frequência em conjunto com a designada morte súbita do castanheiro, constitui um exemplo desta interligação de factores. O ataque dos escolitídeos, pragas bem conhecidas do córtex e da madeira de muitas espécies lenhosas, ocorre em condições normais em árvores fisiologicamente debilitadas. A atracção inicial envolve o voo das fêmeas adultas para identificar o hospedeiro nestas condições específicas. Os estímulos olfactivos, nesta fase, são produtos voláteis que resultam do metabolismo anaeróbico cujo componente principal é o etanol. Nos castanheiros onde o frio danificou os tecidos do córtex ocorre a fermentação cambial que constitui assim o foco primário de atracção dos escolitídeos. O ataque ocorre em árvores fisiologicamente comprometidas mas em condições de 8

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continuação daedição Set./Out.págs. 38, 39 e 40

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Eugénia GouveiaInstituto Politécnicode Bragança

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Os estragos fisiológicos associadosao frio resultam da formação de cristaisde gelo no interior das células e nosespaços intra-celulares. Quando oscristais se formam no interior da célulaocorrem alterações no protoplasma dacélula ficando a membrana plasmáticamais permeável. A formação de cristaisde gelo entre as células com oconsequente aumento de volumeprovoca o colapso das células ao qualse atribui a morte dos tecidos.

Muitas plantas perenes alteram osprocessos metabólicos para seajustarem às temperaturas baixas doinverno ocorrendo uma redução doteor em água e um aumento doconteúdo em gomas e pectinas assimcomo um aumento da densidade daseiva pela presença de ácidos gordose compostos azotados.

Os estragos nos tecidos vegetaisprovocados pelo frio manifestam-se deforma visível nas folhas, ramos e raízes:

. As folhas ficam enroladas enecrosadas nas extremidades ou emtoda a sua extensão. Nos ramos e troncos ocorremfendilhamentos com separação docórtex da madeira pela região docâmbio

Causas ambientais e fisiológicas(condições extremas de temperatura)

árvores é particularmente sensívelàs baixas temperaturas que ocorremna primavera quando já se iniciou ociclo vegetativo. Esta camada situa-se na parte mais interior da cascadas árvores entre os tecidos doxilema e do floema.. As raízes também podem ficarafectadas ficando descoloridas e queacabam por se desintegrar. Osestragos ocorrem principalmente nasraízes mais finas e superficiais.

Quando a camada cambial ficaseriamente afectada o mais provávelé a morte das árvores. Se apenas aparte terminal dos ramos ficou afectadadevem ser retirados da árvore logoque as condições ambientais opermitam. Deve ainda aplicar-se umprograma de fertilização com ênfasena aplicação de azoto para permitir umamelhor recuperação das árvores.Cuidados especiais devem seradoptados na protecção das feridaspara prevenir a entrada de agentespatogénicos como o fungo que causao cancro do castanheiro, Cryphonectriaparasítica, que uma vez instaladoprovoca também a morte docastanheiro.

As doenças radiculares e ascondições ambientais desfavoráveisinduzem o aparecimento de umconjunto de sintomas que as árvoresatacadas apresentam em maior oumenor grau de intensidade e que vãodesde o amarelecimento das folhas,não formação dos frutos ou frutosdemasiado pequenos, “die-back” dosramos e crescimentos reduzidos quecaracterizam o que genericamente édesignado por declínio e que culminamna expressão apopléctica dos sintomascom a morte repentina da árvore. Odeclínio é assim um quadro sanitáriode etiologia complexa que pressupõe,

Interacção e potenciação dos factoresde mortalidade do castanheiro

Folhas e ouriços firmemente aderentes àárvore durante o Inverno devido a morterepentina pela doendça da tinta

. Na região do câmbio são visíveiszonas acastanhadas que evoluempara enegrecimento que depois deabertos apresentam um odordesagradável e intenso.O câmbio dos ramos e troncos das

no caso do castanheiro, a presençade agentes (bióticos ou abióticos)iniciadores que causam danos directosno hospedeiro a que se associamoutros factores que aceleram a perdade vigor e que conduz de formaprogressiva à morte da árvore.

No castanheiro, o ataque dosinsectos xilófagos como osescolitídeos, noticiados com frequênciaem conjunto com a designada mortesúbita do castanheiro, constitui umexemplo desta interligação defactores. O ataque dos escolitídeos,pragas bem conhecidas do córtex e damadeira de muitas espécies lenhosas,

ocorre em condições normais emárvores fisiologicamente debilitadas. Aatracção inicial envolve o voo dasfêmeas adultas para identificar ohospedeiro nestas condiçõesespecíficas. Os estímulos olfactivos,nesta fase, são produtos voláteis queresultam do metabolismo anaeróbicocujo componente principal é o etanol.Nos castanheiros onde o frio danificouos tecidos do córtex ocorre afermentação cambial que constituiassim o foco primário de atracção dosescolitídeos. O ataque ocorre emárvores fisiologicamentecomprometidas mas em condições de8

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populações elevadas destes insectosas árvores sãs também podem seratacadas.

A interacção de factores é ainda maisabrangente uma vez que a extensãodos estragos associados ao frio podemestar directamente relacionadas comas condições de nutrição das árvores.As carências em micronutrientes comoo boro, em que os solos de castanheirosão frequentemente deficitários(Portela (2010), comunicação pessoal)podem potenciar os estragos nessasárvores e induzir por si mesmo estragossemelhantes. Por sua vez as carênciasnutritivas podem estar tambémdirectamente relacionadas com aextensão dos estragos nas raízesjovens e mais superficiais que ascondições de frio provocaram e quediminuem a absorção de água enutrientes necessários para ocrescimento normal da árvore.

Conclusão

A Morte Súbita do castanheiro,noticiada com frequência preocupanteem todas as áreas de produção, nãoserá o prenúncio de uma nova situaçãosanitária de etiologia aindadesconhecida mas antes amanifestação inesperada e repentinade doenças pré-existentes. Amanifestação apopléctica dos sintomasde doenças já conhecidas nocastanheiro não é, no entanto, ummotivo de menor preocupação mas aevidência da dificuldade em encontrarmeios de actuação que promovam asanidade e sustentabilidade doecossistema castanheiro.

Ataque de escolitídeos em árvores de castanheiro (Melhe - Vinhais)

Ramos de castanheiro em laboratório depois da saída dos escolitídeos(Desenvolvimento de fungos que decompõem a madeira de castanheiro)

BibliografiaErwin, C. & Ribeiro, K. (1996). Phytophthora Diseases Worldwide. The AmericanPhytopathological Society. St Paul, Minnesota. APS Press.McPherson, B, Mori,S.wood, D., Storer , A., Svihra, P.,Keely, N. & Standiford, R. 2005.Sudden oak death in California: Disease progression in oaks and tanoaks. Forest Ecologyand Management, 213.71-89.Whiteside, J., Garnsey, S, & Timmer, L. 1993. Compendium of citrus diseases. APS PressZentmeyer, G. A. (1987). The World of Phytophthora. In: D. C. Erwin, S. Bartnicki- Garcia,P. H. Tsao (Eds.) Phytophthora its Biology, Taxonomy, Ecology, and Pathology (pp.1-7)APS Press.Zentmeyer, G. A. (1980). Phytophthora cinnamomi and the Diseases it Causes. Monograph10. American Phytopathological Society. St Paul, USA.

Os baixos teores dehumidade do solo ao longo daépoca estival poderão terafectado a cultura dacastanha, prevendo-se amanutenção dos rendimentosunitários alcançados em 2010,ano de baixa produtividade,pode ler-se no Boletim Mensalde Agricultura e Pescas doInstituto Nacional deEstatística publicado emOutubro.

Rendimentos

semelhantes

a 2010

2006

2007

2008

2009

2010

2011*

produtividadekg/ha

1028

725

705

699

642

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Ano

* Dados Previsionais. Os anosanteriores foram revistos combase no Recenseamento Agrícolade 2009