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artciencia.com Year VII . Number 15 . May 2012 November 2012
www.artciencia.com ISSN 1646-3463
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DE MORTE MACACA, AO BALZIO E AT PORQUE O CORAO PAROU
Mrio Beja Santos1, [email protected]
Vidas surpreendentes, mortes
inslitas da Histria de Portugal, por
Ricardo Raimundo (Esfera dos Livros,
2011), um apanhado calendarizado de
passamentos que oscilam entre o
inslito, o burlesco e o aparatoso. O
autor d-nos uma obra de divulgao
com assegurada leitura fluente e a
manuteno do empolgante em torno do
fim de vida de polticos, desportistas,
investigadores, poetas, caadores, entre
uma vasta categoria de tipos, j que as
56 narrativas vo desde Martim Moniz a
Joaquim Agostinho.
Na inteno e na estrutura, a
obra no indita, tem sido corrente a divulgao de celebridades,
desastres
navais ou areos, grandes batalhas, grandes vultos de
religiosidade, grandes
personalidades literrias ou musicais. O que h de cativante que
esta viagem
calendarizada acaba sempre com o fim da vida. Melhor dito, o
episdio regista
os ltimos momentos do personagem, como se exemplifica. Pero
Coelho, um
dos executores de Ins de Castro, na presena de Pedro o Cruel
resiste s
torturas e no revela outros nomes de gente implicada. E assim se
relata:
Quando o carrasco de Santarm se preparava para iniciar o
cumprimento da
1 Tcnico Superior da Direco-Geral do Consumidor, Professor do
Ensino Superior, autor de livros e artigos nas reas das polticas de
consumidores e qualidade de vida.
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De morte macaca, ao balzio e at porque o corao parou Mrio Beja
Santos
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deciso (arrancar-lhe o corao pela frente), Pero Coelho olhou-o
nos olhos e
ter-lhe- dito que o encontraria mais forte do que o de um touro
e mais leal do
que o de um cavalo. Depois de retirado o corao, e
devidamente
confeccionado, foi levado numa bandeja presena de D. Pedro, que
pegou
nele e o mordeu, como sinal de vingana do corao amado que o
acto
perpetrado por aqueles indivduos apartara de junto de si. Pedro
Julio, ou
Hispano, o papa portugus, entronizado como Joo XXI morreu
numa
exploso, e ainda hoje no h qualquer evidncia do que se teria
passado no
compartimento do palcio papal onde ele foi encontrado agonizando
por
debaixo de uma trave de madeira.
No final do sculo XIX, o director do Real Instituto
Bacteriolgico, Lus da
Cmara Pestana, depois de ter ido ao Porto assistir s autpsias de
cadveres
empestados, ele prprio deu sinais de contaminao. Internado no
hospital de
Arroios, apresentava um bubo no sovaco esquerdo e a lngua
esbranquiada,
foi visitado pelo rei D. Carlos, por polticos destacados e pelo
cardeal patriarca.
A partir dessa data o instituto passou a ter o nome de Instituto
Cmara
Pestana. Mouzinho de Albuquerque, ajudante de campo do rei D.
Carlos e aio
do prncipe Lus Filipe ps termo vida em Janeiro de 1902,
suicidou-se num
trem, depois de ter escrito algumas cartas a explicar o seu
acto, perto da
Quinta das Laranjeiras. Ainda hoje no se encontra uma explicao
plausvel,
era um militar coberto de glria nas campanhas de frica,
principalmente a que
levaria priso do chefe vtua Gungunhana.
Diz o autor que morrer sempre bastante ridculo, estas mortes
inslitas
que provocaram estranheza, que se fizeram rodear de peripcias,
por vezes de
aspectos cmicos, que contriburam para mudar o curso dos
acontecimentos,
so um repertrio de mortes no habituais ou incomuns. O autor
explica
mesmo que estes 56 episdios, em termos de organizao, descrevem
os
acontecimentos que antecederam e culminaram a morte, seguidos
por uma
pequena biografia que permite ficar a conhecer cada uma das
personagens, de
forma resumida. Ele atirou-se a este projecto na convico de que
este livro
pode contribuir para despertar o interesse por esta ou aquela
figura do
patrimnio histrico, levando o leitor a aprofundar conhecimentos
j que,
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nalguns casos, se tratam de personagens nem sempre bastante
iluminadas
pela nossa historiografia.
Voltando ao sculo XX, temos o distinto poltico Hintze Ribeiro
que
morre no funeral do seu amigo Jos Frederico do Casal Ribeiro,
mesmo porta
do cemitrio. Miguel Bombarda v entrar um doente no seu
consultrio, o
tenente Aparcio Rebello dos Santos que lhe desfecha alguns tiros
queima-
roupa. Bombarda estava inequivocamente implicado no golpe que
implantaria a
Repblica em Portugal e morreu na antevspera. Ser sepultado com
o
almirante Cndido dos Reis no dia 6 de Outubro, a esse funeral
assistiram
milhares de pessoas como nunca se tinha visto na capital. Cndido
dos Reis
ter-se- suicidado na presuno que o golpe desencadeado em 4 de
Outubro
tinha redundado num fiasco. Francisco Lzaro o primeiro atleta
morto em
plenos Jogos Olmpicos, passa-se em Estocolmo, durante a
maratona, em
1912. Cinco dias depois da sua morte, 24 mil pessoas comparecem
no Estdio
Olmpico para as homenagens pstumas. Escreve-se: Para
proceder
trasladao do corpo do atleta para Portugal, o Comit Olmpico
Portugus
teve bastantes dificuldades financeiras. A chegada a Portugal s
viria a
concretizar-se dois meses aps a morte do atleta. Mrio de S
Carneiro
suicida-se em Paris, em 1916, quase que fez um espectculo da sua
morte,
vestiu-se a rigor e tomou 5 fracos de arseniato de estricnina,
agonizou
congestionado numa aflio pavorosa. O primeiro-ministro Antnio
Granjo foi
morto no Arsenal pelos radicais, na chamada Noite Sangrenta, em
que a
camioneta fantasma andou a recolher mais vtimas. O famoso
futebolista
sportinguista Francisco Stromp suicidou-se depois de descobrir
que tinha sfilis.
Outro futebolista, Pepe, do Belenenses morreu supostamente
envenenado. O
ministro Duarte Pacheco falece num brutal acidente de automvel
perto de
Vendas Novas, em 1943. O diplomata Lus Teixeira de Sampaio, um
dedicado
colaborador de Salazar, morre durante uma audincia concedida
pela rainha D.
Amlia, em 1945. Cottinelli Telmo, um arquitecto com
extraordinrio currculo
de obras pblicas e artista verstil levado pelas ondas na zona de
Cascais
em 1948. Aristides de Sousa Mendes, o cnsul de Bordus,
morreu
completamente esquecido em 1954. A sua pobreza chegou ao extremo
de, no
possuindo um fato prprio, ter sido enterrado num hbito
franciscano. Salazar
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De morte macaca, ao balzio e at porque o corao parou Mrio Beja
Santos
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caiu de uma cadeira, quando parecia recuperar de hematoma
subdural sofreu
um forte acidente vascular cerebral e ficou inutilizado, em
1968, viveu no
Palcio de So Bento talvez sem saber que deixara de ser
primeiro-ministro e
veio a falecer em 1970. O escritor Pedro Oom soube do golpe do
25 de Abril e
morreu cheio de alegria. Joaquim Agostinho, o lendrio ciclista,
teve um
acidente na 10 Volta ao Algarve, em 1984, quando dois ces
atravessaram a
rua e surpreenderam os corredores, Joaquim Agostinho bateu
violentamente
com a cabea no empedrado e no resistiu interveno cirrgica.
Na hora de morrer h situaes caricatas, h valentia e presena
de
esprito, h a sncope imprevista como tambm pode haver a encenao
do
suicdio. Pode haver de tudo, como este livro nos explica.
