Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - Wikipédia

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Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Origem: Wikipdia, a enciclopdia livre. Nota: Se procura o Metro Sul do Tejo (MST) em Portugal, consulte Metro Sul do Tejo. Este artigo ou seo foi marcado como controverso devido s disputas sobre o seu contedo. Para mais informaes consulte a pgina de discusso. Goinia, membros do MST marcham at Braslia. Foto: Valter Campanato/ABr. 2 de maio de 2005. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) um movimento social brasileiro que busca a reforma agrria . Teve origem na oposio ao modelo de reforma agrria imposto pelo regime militar, principalmente nos anos 1970, que priorizava a colonizao de terras devolutas em regies remotas, com objetivo de exportao de excedentes populacionais e integrao estratgica. Contrariamente a este modelo, o MST busca fundamentalmente a redistribuio das terras improdutivas. Joo Pedro Stdile, um dos principais lderes do MST. Foto: Antonio Cruz/ABr Apesar dos movimentos organizados de massa pela reforma agrria no Brasil remontarem apenas s ligas camponesas, associaes de agricultores que existiam durante as dcadas de 1950 e 1960, o MST proclama-se como herdeiro ideolgico de todos os movimentos de base social camponesa ocorridos desde que os portugueses entraram no Brasil, quando a terra foi dividida em sesmarias por favor real, de acordo com o direito feudal portugus, fato este que excluiu em princpio grande parte da populao do acesso direto terra. ndice [mostrar] [editar] As razes histricas da luta pela terra no Brasil A Lei de Terras de 1850, ao estabelecer a compra e venda como forma padro de aquisio da propriedade fundiria, limitando fortemente o usucapio, perpetuou a estrutura agrria desigual herdada dos tempos coloniais. deste marco legislativo que se valem os historiadores para dividir a histria dos conflitos agrrios no Brasil independente, a partir de 1850, em duas fases distintas: A primeira fase, que iria de 1850 at 1940, classificada como "messinica", pois estas lutas estavam associadas presena de lderes religiosos de origem popular, que pregavam ideologias de cunho milenarista (inclusive com elementos sebastianistas, isto , associados mitologia relativa ao retorno de Sebastio de Portugal), ligados ao catolicismo popular. Neste perodo um dos mais importantes movimentos foi o que se chamou de Canudos, na Bahia, de 1870 at 1897, e que teve como lder Antnio Conselheiro. Outro movimento desta fase o Contestado, que se desenvolve de 1912 at 1916 em Santa Catarina, liderado pelo monge Jos Maria. Finalmente, no podemos deixar de lembrar o movimento liderado por Lampio no nordeste brasileiro, no perodo de 1917 at 1938, na medida em que este possa ser tido como uma forma de banditismo "social", cujas causas encontrariam-se na excluso dos pequenos agricultores - como Lampio, por origem familiar, o era das estruturas de poder poltico regional dominadas pelo latifndio. Esta colocao, no entanto, muito favorecida pela historiografia marxista brasileira dos anos 1960 - muito especialmente pelo historiador Rui Fac, e recuperada mais tarde pelo historiador ingls Eric Hobsbawn - tem sido severamente contestada

recentemente, na medida em que o banditismo do cangao tem chegado a ser visto muito mais como vivendo numa relao de comensalidade com o latifndio do que opondo-se a ele,como o messianismo. A segunda fase da luta pela terra no Brasil definida como "lutas radicais localizadas" e que se desenvolvem de 1940 at 1955. Nesta fase ocorreram diversos conflitos violentos por terras e revoltas populares, em diversos lugares do Brasil, em lutas no mais de cunho messinico, mas agora com demandas sociais e polticas claramente definidas como tais.Estas lutas, embora localizadas, tiveram a adeso de milhares de pessoas, e em alguns lugares, como no Maranho e no Paran adquiriram tal magnitude que os camponeses tomaram cidades e organizaram governos paralelos. Com o a luta pela terra foi violentamente reprimida, sob pretexto da ameaa comunista. Com isto, o movimento pela reforma agrria no pode atuar e a maioria de seus lderes foram ou presos ou mortos. [editar] Mudanas no quadro legal Um dos grandes problemas do movimento pela reforma agrria antes de 1964 era o fato de que a Constituio brasileira de 1946 s admitia a desapropriao de terras mediante indenizao prvia em dinheiro, o que limitava fortemente tais desapropriaes. O maior esforo de impulsionar um projeto de reforma agrria foi um decreto do presidente Joo Goulart, no chamado Comcio da Central de 13 de maro de 1964, de declarar como terras pblicas as faixas circundantes de rodovias federais, ferrovias e audes decreto este que apenas acelerou o golpe de 1 de abril do mesmo ano. A ditadura militar, desejando enfrentar as tenses agrrias de forma controlada, emitiu, em 1965, um Estatuto da Terra que reconhecia, de acordo com a Doutrina Social da Igreja Catlica, a funo social da propriedade privada e permitia a desapropriao para fins de assentamento agrrio em caso de tenso social, e, mais tarde, na chamada Emenda Constitucional no.1, de 1969 (outorgada pela Junta Militar que assumiu o poder quando da incapacitao do presidete Arthur da Costa e Silva) Constituio Brasileira de 1967, passou a admitir a desapropriao mediante pagamento em ttulos de dvida pblica. Esta legislao, muito embora tenha permanecido largamente inoperante durante a prpria ditadura, daria o quadro legal para as tentativas de reforma agrria no ps-ditadura militar. A Constituio Brasileira de 1988 revalidou o princpio da desapropriao de terras mediante pagamento em ttulos pblicos (que j havia sido, como j dito, admitida pela ditadura militar). No entanto, por fora da presso da bancada ruralista na Constituinte, limitou as desapropriaes s terras improdutivas, conceito este de difcil avaliao prtica, e que viria a constituir-se em obstculo reforma agrria em grande escala. [editar] Movimento pela reforma agrria contemporneo A partir do fim da ditadura militar e da retomada democrtica no Brasil, os camponeses puderam se reorganizar e retomar sua luta histrica pela reforma agrria. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) surge no final da dcada de 1970, com a ocupao da fazenda Nonoai, no Rio Grande do Sul. Naquele momento, o governo estadual buscou reverter uma ocupao ilegal, para fins de reforma agrria, de terras de uma reserva indgena realizada nos anos 1960, para o que reassentou os ndios e expulsou os camponeses de seu assentamento na localidade conhecida como Encruzilhada Natalino. Como reao,os agricultores deslocados, espontaneamente, decidiram ocupar a vizinha Fazenda Nonoai. A partir

da, a sociedade local, a Comisso Pastoral da Terra, assim como o embrio do futuro Partido dos Trabalhadores passa a apoiar aquele grupo de camponeses que saem vitoriosos desta que seria a primeira ocupao, que deu origem ao MST. Em 1984 o Movimento passa a se organizar de maneira nacional. Uma das atividades do grupo consiste na ocupao de terras improdutivas como forma de presso pela reforma agrria, mas tambm h reivindicao quanto a emprstimos e ajuda para que realmente possam produzir nessas terras. Para o MST, muito importante que as famlias possam ter escolas prximas ao assentamento, de maneira que as crianas no precisem ir cidade e, desta forma, fixar as famlias no campo. [editar] Organizao e estrutura do MST Membros do MST ocupam a CONAB. Foto: U. Dettmar/ABr Crianas do MST cantam a Internacional durante comemorao dos 20 anos do MST em 2 de Agosto de 2004 em ItapevaSP. Foto Ana Nascimento/ABr O MST se organiza em 24 estados brasileiros. Sua estrutura organizacional se baseia em uma verticalidade iniciada nas brigadas (compostas por 50 famlias) e seguindo pelos ncleos (grupo de 200 famlias), direo regional, direo estadual e direo nacional. Paralelo a esta estrutura existe outra, a dos setores e coletivos, que buscam trabalhar cada uma das frentes necessrias para a reforma agrria verdadeira. So setores do MST: Sade, Direitos Humanos, Gnero, Educao, Cultura, Comunicao, Formao, Projetos e Finanas, Produo, Cooperao e Meio Ambiente e Frente de Massa. So coletivos do MST: juventude e relaes internacionais. Esses setores desenvolvem alternativas s polticas governamentais convencionais, buscando sempre a perspectiva camponesa. A organizao no tem registro legal por ser um movimento social e, portanto, no obrigada a prestar contas a nenhum rgo de governo, como qualquer movimento social ou associao de moradores. A maior instncia da organizao o Congresso Nacional, que acontece a cada 5 anos. No entanto, este congresso apenas para ratificao das diretivas, no um momento de decises. Os coordenadores e os dirigentes nacionais, por exemplo, so escolhidos no Encontro Nacional, que acontece a cada dois anos. A Coordenao Nacional a instncia operacional mxima da organizao, que conta com cerca de 120 membros. Embora um dos principais dirigentes pblicos do movimento seja Joo Pedro Stdile, a organizao prefere no rotular algum com o ttulo de principal dirigente, j que isso seria uma personalizao; O MST adota o princpio da direo colegiada, onde todos os dirigentes tm o mesmo nvel de responsabilidade. O movimento recebe apoio de organizaes no governamentais e religiosas, do pas e do exterior, interessadas em estimular a reforma agrria e a distribuio de renda em pases em desenvolvimento. Sua principal fonte de financiamento a prpria base de camponeses j assentados, que contribuem para a continuidade do movimento. O MST se articula junto a uma organizao internacional de camponeses chamada Via Campesina, da qual tambm faz parte o Movimento dos Pequenos Produtores (MPA) e agricultores da Europa, EUA, frica, sia e Amricas. A Via Campesina tem como objetivo organizar os camponeses em todo o mundo. Ele tambm est vinculado com outras campanhas nacionais e internacionais, como a Via Campesina Brasil, que rene alguns dos movimentos sociais brasileiros do campo, e a Campanha contra a implantao da ALCA. [editar] Incra

O Incra - Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria analisa se as terras ocupadas so ou no produtivas. Se forem improdutivas os sem-terra podem ser assentados, ou seja, recebem a posse das terras; no caso da propriedade rural ser produtiva expedida uma ordem judicial de reintegrao de posse. Na maioria dos casos, os camponeses se retiram sem maiores problemas. Porm, muitas vezes ocorre do grupo se recusar a cumprir o mandado judicial de reintegrao de posse, sendo desta forma desalojado atravs de fora policial. [editar] Opinies diversas O MST revindica representar uma continuidade na luta histrica dos camponeses brasileiros pela reforma agrria. Os atuais governantes do Brasil tem origens comuns nas lutas sindicais e populares, e portanto compartilham em maior ou menor grau das reivindicaes histricas deste movimento. Segundo outros autores, o MST um movimento legtimo que usa a nica arma que dispe para pressionar a sociedade para a questo da reforma agrria, a ocupao de terras e a mobilizao de grande massa humana. [editar] Alguns dos objetivos, sucessos e fracassos O MST procura organizar as famlias assentadas em formas de cooperao produtiva em vista de melhorar sua condio de vida. Entre centenas de exemplos que deram certo no Paran e Santa Catarina, no Sul do Brasil, destaca-se a COOPEROESTE, Cooperativa Regional de Comercializao do Extremo Oeste LTDA, sediada em Santa Catarina. Embora com Razo Social de Empresa no Regime de Sociedade Limitada, funciona como um verdadeiro condomnio produtivo. Assim, a criao de cooperativas estimulada, embora as famlias que hoje esto assentadas por fazerem parte desta organizao no sejam obrigadas a trabalhar em cooperativas. Dados coletados em diversas pesquisas demonstram que os agricultores organizados pelo movimento tm conseguido usufruir de melhor qualidade de vida que os agricultores no organizados. Muitos so os crticos do MST que consideram que estes assentamentos, dependentes de financiamento governamental, nada mais seriam do que a tentativa de preservar artificialmente uma agricultura de minifndios em regime de produo familiar economicamente invivel diante das presses competitivas da globalizao , as quais exigiriam o desenvolvimento do agronegcio. A resposta do MST tem sido a de apontar para o fato de que o agronegcio, ele tambm, tem dependido de fortes crditos governamentais em condies artificialmente favorecidas para realizar um desenvolvimento produtivo ecologicamente danoso e humanamente excludente, e ressaltar os ganhos polticos e sociais decorrentes da insero produtiva de seus assentados. Apesar de vrios sucessos em mbito nacional, ao estabelecer e organizar assentamentos produtivos, o MST sofre problemas tpicos dos movimentos polticos do Brasil. No assentamento So Bento (em Mirante do Paranapanema, So Paulo, lotes entregues aos sem-terra foram vendidos, o que proibido por lei. As acusaes levantaram a suspeita de que Ivan Carlos Bueno (ex-tcnico do Incra e membro da direo regional do MST), recebeu um lote ilicitamente, e contratou um sem-terra para trabalhar a terra. Alm de no se encaixar nos padres socioeconmicos para receber um lote, proibida a contratao de terceiros para trabalhar a terra recebida. Na regio sul, o MST foi acusado de usar os recursos recebidos pra promover propaganda ideolgica de extrema esquerda. Numa matria de 2005 entitulada As Madraais do MST, a revista Veja comparou escolas de assentamentos no Rio Grande do Sul com as madraais (ou madraas), escolas religiosas islmicas, muito abundantes no Paquisto, que educam seus alunos atravs do estudo do Coro

interpretado nos termos do fundamentalismo. O MST mantm tambm uma escola nacional de formao de quadros polticos, a Escola Nacional Florestan Fernandes, sediada em Guararema, a 60 kms de So Paulo,e construda em regime de mutiro pelos seus alunos, usando materiais de construo obtidos in situ por tecnologia de solo cimento. A referida escola, como todos os empreendimentos educacionais do MST, tem sido severamente questionada pela mdia mais conservadora como uma agncia de mera doutrinao poltica de Esquerda revolucionria. Quanto a isto pode-se dizer, no entanto, que a transmisso de uma determinada viso de mundo no uma exclusividade dos movimentos polticos de Esquerda: pode-se argumentar que, por exemplo, os ncleos universitrios privados de excelncia em Administrao de Empresas,Economia e Direito no realizam doutrinao poltica propriamente dita, mas transmitem a seus alunos uma viso de mundo situada nos antpodas da viso do MST. Em 17 de Junho de 2005 o MST fez a sua marcha de 300 km em direo a Braslia. Entre os dias 11 e 15 de junho de 2007, o MST realizar em Braslia seu 5 Congresso Nacional. [editar] Ver tambm Outros projectos Wikimedia tambm contm material sobre este artigo: Definies no Wikcionrio Citaes no Wikiquote Bibliografia da Histria do Brasil Comunismo Luta de Classes Movimento social Campons Posseiro Fazendeiros Grileiros Latifundirios Jagunos Massacre de Eldorado dos Carajs Reforma agrria. Ligas camponesas [editar] Ligaes externas Site Oficial do MST Site Oficial da Via Campesina Lula deve seguir exemplo de Chvez, diz MST, BBC 12/01/2005. Chvez encontra com MST e movimentos sociais brasileiros; ambos reafirmam apoio a Lula, Dirio Vermelho, 13/08/2005.

Chvez visita assentamento do MST e assina parceria Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Ano XXIII - nmero 248, fevereiro de 2005. Resposta matria da revista Veja Produo literria do MST Categorias: !Artigos em disputa | Sem-terra Artigo Discusso Editar Histria Criar conta | Entrar Navegao Pgina principal Os melhores artigos Eventos atuais Pgina aleatria Portais colaborao Portal comunitrio Mudanas recentes Ajuda Donativos Busca Ferramentas Artigos afluentes Novidades relacionadas Carregar arquivo Pginas especiais Verso para impresso Enlace permanente Citar este artigo Correlatos Wikiquote Wikcionrio

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