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VIII ENCONTRO DA ABCP 01 A 04 de agosto de 2012, Gramado, RS, Brasil. Área Temática: Cultura Política e Democracia Condicionantes individuais e estruturais do protesto político na América Latina. Ednaldo Aparecido Ribeiro ([email protected]) Universidade Estadual de Maringá Julian Borba ([email protected]) Universidade Federal de Santa Catarina

Movimentos de Protesto Político na América Latina: bases ... · Unidos na década de 1960 são apenas dois dos vários exemplos que podemos recolher ao longo da história moderna

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VIII ENCONTRO DA ABCP

01 A 04 de agosto de 2012, Gramado, RS, Brasil.

Área Temática: Cultura Política e Democracia

Condicionantes individuais e estruturais do

protesto político na América Latina.

Ednaldo Aparecido Ribeiro ([email protected])

Universidade Estadual de Maringá

Julian Borba ([email protected])

Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo Estudos recentes sobre o tema do ativismo político têm verificado em termos globais a ocorrência de redução no envolvimento dos cidadãos em formas tradicionais ligadas ao processo eleitoral e as instituições representativas e a ampliação do engajamento em modalidades e movimentos relacionados ao protesto político. Diferentes fatores têm sido apontados como impulsionadores dessas modalidades contestatórias, alguns de ordem estrutural e outros de ordem individual. O presente artigo procura testar no plano empírico o impacto dessas duas ordens de fatores para a explicação do comportamento de protesto entre a população latino-americana. Para tanto utiliza dados produzidos pelo Latinobarómetro para um grupo de dezessete países dessa região.

Apresentação

O tema da participação e sua relação com a democracia provavelmente seja

um dos mais debatidos na história da reflexão política. Como muito bem destaca

Della Porta (2003), a própria etimologia do conceito de política já nos remete à

participação. Na democracia direta dos gregos os dois termos eram intercambiáveis.

Nas modernas democracias representativas, todavia, a participação passou a ser

vista mais como um insumo do processo político, desempenhando a função de

constituição do corpo político por meio dos processos eleitorais. Desta forma, uma

vez instituída a autoridade política, a participação cede lugar para a representação.

Ainda que ocupando papel de coadjuvante no funcionamento das modernas

democracias, resta à participação outras funções relacionadas ao controle e

fiscalização da autoridade política, à demanda por bens públicos e à proposição de

questões públicas. Confirmando a sua relevância, a moderna Ciência Política tem

dedicado grande atenção às diferentes formas de atuação política dos cidadãos. Os

esforços dos pesquisadores da área têm se orientado principalmente para a

definição conceitual do fenômeno, para a proposição de tipologias e também para a

identificação empírica dos seus condicionantes (Milbrath, 1965; Booth e Seligson,

1978; Axford, 1997).

Esses esforços, todavia, durante muito tempo se voltaram apenas para o que

podemos inicialmente chamar de formas “socialmente aceitas” de atuação, definidas

por uma literatura mais recente como modalidades de “participação convencional”.

Importantes pesquisadores, tais como Milbrath (1965), Almond & Verba (1963) e

Verba & Nie (1972), desconsideravam em suas análises formas de engajamento

ligadas ao protesto político. Criticando essa lacuna, Norris (2007) aponta que

Citizen-oriented activities, exemplified by voting participation and party membership, obviously remain important for democracy, but today this represents an excessively narrow conceptualization of activism that excludes some of the most common targets of civic engagement which have become conventional and mainstream. (p. 639)

As formas de participação relacionadas ao protesto, apesar de ocuparem

essa posição subalterna nos estudos sobre o tema, possuem uma história bastante

longa. A Revolução Francesa e o Movimento pelos Direitos Civis nos Estados

Unidos na década de 1960 são apenas dois dos vários exemplos que podemos

recolher ao longo da história moderna (Dalton, Sickle e Weldon, 2009). Na América

Latina merece destaque o recente movimento dos “piqueteiros”, que eclodiu na

Argentina diante da incapacidade das instituições típicas da democracia

representativa processarem os conflitos (Vitullo, 2007) e o movimento dos Caras

Pintadas no Brasil, que pressionaram pelo impeachment do presidente Fernando

Collor em 1992.

A partir dos anos de 1960, com a eclosão dos “novos movimentos sociais”,

assiste-se a expansão dessas formas de engajamento que Norris (2007, p. 639)

denomina de participação cause-oriented, fortemente ligadas às atividades de

protesto, que vão reconfigurar o campo das práticas e repertórios de ação daqueles

indivíduos engajados politicamente1. Verifica-se, nesse sentido, a difusão de formas

não convencionais de participação que podem ser também definidas como

contestatórias ou relacionadas ao protesto. Della Porta (2003, p. 92), elenca

algumas das formas pelas quais essa atuação pode se expressar2: escrever a um

jornal; aderir a um boicote; auto-reduzir impostos ou rendas; ocupar edifícios;

bloquear o trânsito; assinar uma petição; fazer um sit-in; participar numa greve;

tomar parte em manifestações; danificar bens materiais; utilizar violência contra

pessoas.

Levando em consideração essa distinção entre modalidades de envolvimento,

uma série de investigações empíricas tem apontado para o declínio ou estabilização

das formas convencionais (Dalton e Wattenberg, 2001, Putnam, 2003) e para

ampliação das contestatórias (Della Porta, 2003; Inglehart e Catterberg, 2002;

1 A pesquisa de Barnes et alli (1979) foi precursora no sentido de captar a emergência dessas novas

modalidades de participação. 2 Nesse Baquero & Prá (2007, p. 131) propõem a seguinte classificação quanto às modalidades de

participação: 1) ações expressivas (ex. patriotismo e votar em eleições), 2) ações instrumentais (participar em campanhas), 3) comportamentos não convencionais (movimentos de protesto, passeatas) Lúcia Avelar (2004) propõe a seguinte tipologia quanto às formas de participação: a) canal eleitoral (voto, partidos, etc...), b) canais corporativos (sindicatos, órgãos de cm lasse), c) canal organizacional (movimentos sociais).

Norris, 2007; Welzel, Inglehart e Deutsch, 2005; Catterberg, 2004). Algumas dessas

pesquisas têm revelado que o protesto vem sendo utilizado frequentemente por

diferentes públicos como ferramenta política para influenciar decisões

governamentais (Norris, 2007; Meyer e Tarrow, 1998; McAdam, Tarrow e Tilly,

2001). A sua própria definição como “não convencional” passou a ser criticada em

razão da frequente recorrência em diferentes regiões do planeta (Dalton, Sickle e

Weldon, 2009).

A crescente relevância dessa modalidade de ação tem inspirado a formulação

de algumas teorias e hipóteses sobre os fatores que favoreceriam o envolvimento

dos indivíduos nas modalidades de protesto político. Com algum esforço de síntese

poderíamos dividir essas iniciativas em dois grupos fundamentais: 1) abordagens de

nível macro que enfatizam variáveis estruturais nacionais; 2) abordagens de nível

micro que privilegiam variáveis e atributos individuais.

Pesquisadores representantes dessas duas vertentes têm apresentado

importantes evidências acerca da pertinência de cada um desses grupos de fatores

explicativos, entretanto, devido à complexidade do tema, continuam produzindo

conclusões limitadas pela falta de integração entre os efeitos dos distintos níveis

para a compreensão do ativismo contestatório.

Buscando contribuir com esse debate, o presente trabalho propõe um modelo

de análise que incorpora teórica e empiricamente esses dois níveis de fatores,

combinando atributos, atitudes e valores dos cidadãos (nível micro) com medidas

relativas ao nível nacional, sobretudo relacionadas às características do sistema

político e ao desenvolvimento econômico. Nossa intenção, portanto, é propor uma

integração teórica entre diferentes abordagens sobre o tema e investigar o seu

rendimento em termos empíricos. Para tanto, utilizamos dados de uma região em

que as análises sobre o tema são ainda escassas: a América Latina. Apesar de

algumas das nações dessa parte do globo aparecerem em pesquisas internacionais,

a sua análise agregada impede a consideração de alguns atributos e especificidades

nacionais inerentes à realidade latino-americana.

Tendo em vista esses objetivos, dividimos o texto em três partes. A primeira

delas concentra esforços teóricos de definição do protesto como modalidade de

participação política e também a proposição de um modelo que possa combinar

explicações de nível macro e micro. Essa integração é construída a partir da revisão

das principais teorias explicativas disponíveis na literatura recente sobre o tema. Na

segunda parte expomos algumas questões metodológicas que norteiam os modelos

de análise empregados. Finalmente, na terceira parte apresentamos e discutimos os

resultados encontrados.

Definindo protesto

Na apresentação anterior utilizamos termos como “não convencional”, “cause-

oriented” e “contestação” para nos referirmos ao fenômeno político objeto de nossa

atenção. Essa diversidade de termos geralmente associados ao comportamento de

protesto reflete a pluralidade de definições atualmente propostas.

Lipsky (1968), um dos primeiros autores a teorizar sobre essa modalidade de

atuação política, define protesto como

A mode of political action oriented toward objection to one or more policies or conditions, characterized by showmanship or display of an unconventional nature, and undertaken to obtain rewards from political or economics systems while working within the system. (160-1)

Turner (1969), de maneira semelhante, entende que esse tipo de ação

expressa descontentamento ou convicção de que algo está errado ou injusto. O

autor lista uma série de elementos presentes nesse tipo de ativismo

The action expresses a grievance, a conviction of wrong or injustice; the protestors are unable to correct the condition directly by their own efforts; the action is intended to draw attention to the grievances; the action is further meant to provoke ameliorative steps by some target group; and the protestors depend upon some combination of sympathy and fear to move the target group in their behalf. (816)

Norris (2007), como já mencionamos, associa o protesto as modalidades

cause-oriented, por se voltarem a temas e bandeiras específicas ou a rejeição de

políticas particulares.

Em um interessante trabalho de síntese, Opp (2009) procura reunir os

elementos comuns a essas e outras definições, com o objetivo de identificar um

conjunto de características básicas desse fenômeno. Primeiramente é possível

verificar que protesto é definido como uma ação ou comportamento que, apesar de

praticado por indivíduos, se caracteriza como coletivo. A natureza coletiva desse

comportamento não implica necessariamente em coordenação ou planejamento,

pois protestos podem ocorrer de forma relativamente espontânea (Opp, 1993). O

segundo elemento comum às definições diz respeito ao direcionamento dessas

ações a uma ou mais decisões ou situações específicas, configurando-as como

alvos da ação de protesto. Aqueles que protestam, portanto, possuem pelo menos

um objetivo. Uma terceira característica recorrente na literatura é o

descontentamento em relação a esse alvo específico (decisão, política ou situação),

o que indica que o objetivo comum não foi alcançado (ainda) pelos envolvidos na

ação coletiva. Além disso, como quarta característica, a literatura destaca a

incapacidade daqueles que protestam de, por meios próprios, atingirem seus

objetivos, o que os obrigam a exercer pressão sobre uma terceira parte que

efetivamente pode alterar o objeto de descontentamento. Por fim, como última

característica, podemos identificar a definição do protesto como comportamento não

regular ou não convencional uma vez que não existem regras institucionais

prescrevendo sua repetição ao longo do tempo.

A partir dessas recorrências nas definições disponíveis, propomos o seguinte

conceito: protesto é uma ação coletiva de indivíduos descontentes que procuram

atingir seus objetivos influenciando as decisões de outros atores políticos. Nestes

termos, passeatas, manifestações, petições, abaixo-assinados, boicotes, bloqueios

de vias públicas e ocupações, são alguns exemplos de protestos.

É claro que outros elementos poderiam ser adicionados a essa definição.

Protestos podem ser: 1) mais ou menos organizados; 2) podem ocorrer com distintas

regularidades ou frequências; 3) podem ser legais ou ilegais, em razão da sua

adequação (ou não) aos sistemas jurídicos específicos de cada contexto; 4) podem

ser violentos ou não. Essas características adicionais, todavia, nos parecem ser

secundárias e, como defende Opp (2009) podem ser tratadas como variáveis

dependentes ou independentes no estudo de ações coletivas de protesto

específicas. Nesse sentido, optamos por um conceito mais sintético, mas que

possibilita a incorporação de outros tantos atributos em modelos explicativos

específicos.

Teorias sobre o protesto político

Definido o objeto de nossa atenção, podemos então discutir as principais

teorias atualmente disponíveis para explicar esse tipo específico de ação coletiva.

Como mencionamos anteriormente, nos últimos anos diversos pesquisadores têm se

dedicado a identificação dos condicionantes ou determinantes do envolvimento dos

cidadãos em distintas modalidades de protesto político. Ainda que a diversidade de

abordagens seja significativa, acreditamos ser possível agrupar essas iniciativas em

duas grandes perspectivas que se distinguem principalmente em razão da natureza

das variáveis que são enfatizadas nos seus modelos explicativos.

Reunimos no primeiro grupo perspectivas teóricas preocupadas com fatores

macro sociais ou estruturais. A Teoria da Mobilização de Recursos, em função de

sua anterioridade histórica, merece nossa atenção inicial.

Podemos identificar o artigo “Resource Mobilization and Social Movements”

de John D. McCarthy e Mayer N. Zald (1977) como o trabalho inaugural dessa

abordagem. Os autores constroem seus argumentos a partir da crítica aos estudos

centrados na ideia da privação, como as propostas por Gurr (1970), Turner e Killian

(1972) e Smelser (1963), que defendiam a relevância de variáveis como

descontentamento e sentimento de privação relativa na explicação do

comportamento de protesto.

O objetivo fundamental dos pesquisadores é estudar as dinâmicas de

crescimento, declínio e mudança de movimentos sociais, definidos como atores

políticos que procuram atingir seus objetivos a partir de meios não convencionais

(McCarthy & Zald, 1977). Nesse sentido, o seu objeto de análise não é diretamente o

comportamento contestatório individual, mas sim os atores coletivos que se valem

desse tipo de modalidade de atuação política.

Mesmo sem sugerir um modelo causal específico, são listados no artigo uma

série de fatores que estariam relacionados a essas dinâmicas: apoio social ao

movimento; recursos variados necessários à mobilização, como dinheiro, trabalho e

instalações; ligações do movimento com outros grupos; suporte externo de

indivíduos e instituições; táticas de controle ou incorporação do movimento pelas

autoridades; condições infraestruturais, como meio de comunicação, nível de

afluência, grau de acesso às instituições políticas relevantes, redes pré-existentes,

dentre outros recursos; nível de repressão, controle social e liberdade política.

Esses fatores conduzem os pesquisadores à formulação de uma série de

hipóteses, ainda que não deixem claro qual a relação entre cada uma delas em um

modelo causal detalhado. As principais seriam: 1) o incremento dos recursos,

principalmente tempo e dinheiro, em uma sociedade conduzem ao aumento dos

recursos disponíveis para os movimentos de protesto; 2) quanto maior o volume de

recursos, mais movimentos surgem para competir por essas fontes; 3) quanto mais

recursos, maior o número de aderentes, ou seja, indivíduos que aceitam os objetivos

do movimento; 4) quanto maior a dependência do movimento em relação aos

recursos de grupos isolados, menor a estabilidade no fluxo de recursos do

movimento; 5) quanto maior a diversidade de composição dos membros maior a

tensão e o conflito interno; 6) quanto mais antigo movimento, maior a sua

estabilidade. Essa é apenas uma amostra das hipóteses, pois é possível identificar

pelo menos doze formulações explícitas semelhantes a essa no artigo.

Apesar de McCarthy e Zald focalizarem atores coletivos e recursos ligados a

esse nível macro, é possível identificarmos a existência de uma versão micro da

Teoria da Mobilização dos Recursos. Alguns pesquisadores, por exemplo, enfatizam

recursos associativos individuais como fundamentais para a explicação de

movimentos de protesto. Oberschall (1973), por exemplo, afirma que esse tipo de

movimento inicialmente recruta participantes entre aqueles que são bem integrados

em suas coletividades e não indivíduos em situação de isolamentos social. McAdam,

McCarthy e Zald (1988) defendem que a integração dos indivíduos em redes sociais

favorece o seu envolvimento em atividades de protesto. Como sintetiza Opp (2009),

essas abordagens de nível micro partem da afirmação de que

A person who is member of a social network – wich may consist of friendship relationships or relationships to group members – may dispose of resources in the sense that one may recruit others in the network to participate in protest action at relatively low costs. (p. 135)

A proposta de nível micro mais elaborada dessa teoria, entretanto, é a de

Verba, Schozman e Brady (1995), conhecida como modelo do voluntarismo cívico.3

Esses autores identificaram, através de pesquisas comparadas, uma

correspondência entre recursos individuais e coletivos (como tempo, dinheiro,

habilidades, pertencimento a redes associativas) e o engajamento político tanto nas

formas convencionais de envolvimento politico quanto nas modalidades relacionadas

ao protesto.

Mais recentemente essa perspectiva tem sido corroborada por investigações

em diferentes países. Pesquisa envolvendo Espanha, Brasil e Coréia, por exemplo,

confirmou a existência de relação positiva entre a educação dos cidadãos e o

comportamento de protesto (McDonough; Shin & Moisés, 1998).

A segunda abordagem macro que gostaríamos de rapidamente apresentar é

a da Teoria do Processo Político (McAdam, Tarrow & Tilly, 2001, Tarrow, 1998), que

em que pese suas diferenças e especificidades internas, tem no conceito de

3 Iniciativas anteriores a essa, como as de Milbrath (1965) e Verba e Nie (1972) precisam ser

mencionadas, entretanto, por focalizarem apenas as formas eleitorais de participação, escapam dos limites dessa revisão.

Estruturas de Oportunidades Políticas uma dimensão analítica central. Tal conceito,

em linhas gerais afirma a importância das estruturas e dos processos políticos na

explicação das diferentes formas de engajamento. Essa perspectiva está ancorada

na ideia de que os interesses e preferências são constrangidos por mecanismos e

sistemas institucionais e que “[...] instituições podem fomentar ação coletiva criando

estruturas de oportunidade política para grupos sociais [...]” (Rennó, 2003). Tais

estruturas são vistas como fatores que afetam a participação e a capacidade de

mobilização dos diferentes setores sociais. Ou seja, as instituições geram incentivos,

oportunidades e restrições, impactando a organização e o comportamento político-

social. Assim, a participação dependeria fundamentalmente da constituição de

estruturas de oportunidade política que coíbam comportamentos oportunistas a partir

da geração de níveis de “previsibilidade de comportamentos e expectativas voltados

para o cerceamento de atitudes que prejudiquem quem busca soluções coletivas”

(Rennó, 2003).

O texto inaugural dessa abordagem é “The conditions of protest behavior in

american cities”, de autoria de Peter K. Eisinger (1973). Esse trabalho inicialmente

se apresenta como filiado à perspectiva dos recursos, entretanto, após a sua

publicação se inicia um movimento de autonomização que se completa na década

de 1980.

O autor concentra sua atenção sobre o ambiente político no qual as ações

ocorrem, definindo esse contexto como estrutura de oportunidades. Logo no início

do trabalho, Eisinger oferece uma lista de fatores que comporiam esse ambiente:

[...] the nature of the chief executive, the mode of aldermanic election, the distribution of social skills and status, and the degree of social disintegration, [...] climate of governmental responsiveness, and the level of community resources.

Sintetizando sua hipótese, afirma que

[...] elements in the environment impose certain constraints on political activity or open avenues for it. The manner in which individuals and groups in the political system behave, then, is not simply a function of the resources they command but of the openings, weak spots, barriers, and resources of the political system itself. There is, in this sense, interaction, or linkage, between the environment, understood in terms of the notion of a structure of political opportunities, and political behavior. (p. 11-12)

A partir desse esforço inicial de definição teórica uma série de estudos foi

desenvolvida e algumas subdivisões interessantes surgiram no interior dessa

perspectiva. A primeira delas opõe pesquisadores que adotam um olhar objetivista

versus aqueles que preferem uma perspectiva subjetivista do fenômeno. Os

primeiros tomam as mudanças nas estruturas como um dado objetivo concreto e a

avaliam os seus efeitos sobre o comportamento de protesto sem a preocupação de

verificar se os indivíduos tomaram conhecimento das alterações e às perceberam

como incentivos ou obstáculos (Kriesi et al, 1992). O segundo grupo reúne

pesquisadores que defendem que as mudanças institucionais só podem afetar

comportamentos se forem percebidas e reconhecidas pelos atores políticos

(McAdam, Tarrow & Tilly, 2001).

A segunda divisão está relacionada aos diferentes resultados empíricos, no

que se refere ao nexo causal. Alguns pesquisadores têm afirmado que estruturas

institucionais mais abertas facilitariam o envolvimento na medida em que permitem a

formulação de demandas e de críticas por parte dos cidadãos e fornecem

mecanismos de acesso político (Tarrow, 1998; Dalton e Rohrschneider, 2002). Desta

forma, na medida em que um sistema político se abre, maiores seriam as chances

do protesto ocorrer. Outro grupo de analistas vinculados a essa mesma abordagem,

entretanto, defende que são justamente os sistemas mais fechados que tendem a

impulsionar a atuação contestatória (Kitschelt, 1986; Brockett, 1991). Uma vez que

não existem mecanismos formais e institucionalizados de acesso político para o

encaminhamento de demandas e para a formulação de críticas, os descontentes são

forçados a utilizar formas não institucionais de mobilização.

A terceira abordagem macro que merece nossa atenção destaca a

importância do desenvolvimento socioeconômico das nações. Os pesquisadores

vinculados a essa perspectiva partem de proposições relacionadas às teorias da

privação, mencionadas anteriormente e criticadas pelos defensores da Teoria da

Mobilização de Recursos (McCarthy & Zald, 1977).

Robert Gurr, reconhecido com um dos fundadores dessa corrente, afirma em

diferentes estudos que pobreza, privação econômica e outras condições negativas

de existência impulsionariam as atividades de protesto (1968; 1970). As taxas de

mobilização em atividades contestatórias seriam influenciadas por fatores

econômicos de longa duração, mas também por mudanças conjunturais na

economia nacional, como a elevação da taxa de inflação e crescimento da produção.

Wilkes (2004) em interessante estudo sobre a participação em ações coletivas entre

grupos indígenas canadenses confirma a relação entre condições desfavoráveis em

termos econômicos e sociais e maior envolvimento com atividades de protesto.

Harris (2002) analisando os movimentos de resistência à globalização no contexto

latino-americano chega a conclusões semelhantes acerca da relevância da

experiência de privação.

Em contraste, outro grupo de pesquisadores também vinculados a essa

perspectiva macro tem sustentado a tese de que a contestação pressupõe um

conjunto de recursos que facilitam a mobilização e que só podem existir em uma

sociedade de afluência, com um público dotado de habilidades necessárias ao

envolvimento em associações voluntárias. Habilidades intelectuais e sociais mais

comuns em sociedades com níveis elevados de desenvolvimento econômico seriam

necessárias para a construção de uma extensa rede de organizações não

governamentais e voluntárias e também para a ocorrência de ações coletivas

(McCarthy e Zald, 1977). A afluência favoreceria o desenvolvimento desta estrutura

de engajamento, pois seria responsável pelo estabelecimento de uma vasta rede

comunicações, educação de massa, maior urbanização e ampliação da mobilidade

social (Norris, 2007; Inglehart e Catterberg, 2003).

Entre essas duas perspectivas, podemos encontrar ainda uma terceira que

associa a ação política a níveis médios de recursos. Meyer (2004), ao revisar uma

série de estudos sobre mobilização coletiva e protesto político conclui que em

contextos em que os recursos necessários são escassos existe probabilidade

reduzida de mobilização social e grande chance de submissão dos cidadãos à

opressão estatal. Em situações de afluência, por sua vez, o acesso facilitado a

canais convencionais de influência política pode gerar o mesmo efeito, ou seja, o

reduzido engajamento em modalidades de contestação.

Essa diversidade de hipóteses e interpretações envolvendo apenas

perspectivas que enfatizam fatores estruturais ou macro sociais revela o quanto o

debate sobre a capacidade explicativa dessa dimensão continua em aberto.

Assim como verificamos na Teoria da Mobilização de Recursos, é possível

identificar uma variação de nível micro nessa perspectiva da privação. Alguns

autores têm defendido que experiências de privação relativa, provocadas por

mudanças nas condições sociais, levariam os cidadãos a se engajarem em formas

alternativas de atuação política. Em estudo sobre eventos de protesto na América

Latina, com destaque para o já mencionado movimento dos piqueteiros argentinos,

Mara Loveman (1998) adota essa explicação. Essa hipótese, entretanto, parece ser

menos aplicável para os contextos das sociedades economicamente mais

desenvolvidas, nas quais alguns estudos constataram a existência de apenas fracas

associações entre descontentamento e contestação pública (Kaase et al., 1979). O

sentimento individual de privação, portanto, teria efeitos distintos em nações com

diferentes níveis de desenvolvimento econômico.

Também relacionada a esse nível micro gostaríamos de destacar uma

perspectiva que deriva dos estudos sobre mudança cultural, conduzidos

principalmente pelos pesquisadores vinculados ao Projeto World Values Survey,

liderado por Ronald Inglehart. O ponto de partida desse grupo é a afirmação de uma

reorientação valorativa que estaria ocorrendo principalmente em razão do

desenvolvimento econômico experimentado a partir da segunda metade do século

XX, especialmente pelas sociedades industriais avançadas (Inglehart, 1977; 1990;

2001; Inglehart e Welzel, 2009).

Dentre as várias consequências desse fenômeno cultural, no campo político

se relacionaria aos processos de democratização, pois estaria associado à adoção

de valores e atitudes congruentes com essa forma de governo (Inglehart e Welzel,

2009). Ainda que pareça paradoxal à primeira vista, tais orientações subjetivas

também seriam acompanhadas de uma postura crítica em relação ao funcionamento

das instituições políticas e, sobretudo, pelo questionamento dos mecanismos

tradicionais de representação (Inglehart, 1990; 2001; Inglehart e Welzel, 2009). O

reflexo dessa atitude crítica seria a redução significativa nas taxas de mobilização

política convencional verificada nas últimas décadas nas sociedades avançadas

industrialmente. A contradição, todavia, seria apenas aparente. Esse quadro não

seria um sinal de apatia por parte dos públicos dessas nações, pois em paralelo à

redução na participação tradicional estaria ocorrendo processo inverso nas

chamadas elite-directed political action, ou seja, nas atividades de contestação às

instituições e elites estabelecidas (Norris, 2007; Inglehart e Welzel, 2009).

Uma vez superados os limites estritos da sobrevivência física e econômica, os

indivíduos estariam se preocupando cada vez mais com questões relacionadas à

sua auto-expressão, gerando uma “intervenção cidadã na política” (Inglehart, 2001,

p. 221). O desejo de tomar parte dos assuntos públicos de uma maneira mais ativa e

direta estaria acompanhando, portanto, a mudança pós-materialista.

Evidências empíricas robustas têm sido apresentadas desde o final da

década de 1970 para confirmar esses argumentos (Barnes et al., 1979; Norris,

2007). Em perspectiva mundial os valores pós-materialistas estariam fortemente

associados a ações políticas de protesto, como manifestações, passeatas, boicotes,

ocupações, bem como ao interesse por política em geral.

Por fim, é preciso considerar também alguma atenção aos estudos que

vinculam a atividade de protesto à orientação ideológica individual. Neste caso não

se trata propriamente de uma abordagem, mas de um fator explicativo que tem se

mostrado empiricamente relevante em diferentes pesquisas (Powell, 1982). O

envolvimento em modalidades de ação política dessa natureza seria mais comum

entre os identificados com a esquerda, que são também os mais favoráveis a

mudanças na estrutura de distribuição de poder. Algumas pesquisas de caráter

comparativo entre países têm recolhido evidências que associam o percentual de

extremistas de esquerda à maior ocorrência de protesto (Dalton e Sickle, 2005).

Em termos sumários, essas seriam as abordagens mais recorrentes na

literatura sobre as modalidades de ação política vinculadas a contestação. Na

próxima seção procuramos demonstrar que uma fragilidade comum reúne todas

essas formulações: a falta de integração entre fatores macro e micro.

Relações macro e micro

De maneira mais ou menos explícita, todas as abordagens mencionadas na

seção anterior pressupõem a interação entre fatores de nível macro e micro. Não

obstante, nenhuma delas detalha a natureza dessa relação, deixando de indicar

claramente de que forma variáveis estruturais, institucionais ou macro sociológicas

afetam atributos e fatores individuais que favorecem o engajamento individual em

formas de protesto.

A Teoria da Mobilização de Recursos apesar de explicitamente definida por

McCarthy e Zald (1977) como uma perspectiva macro, em diferentes momentos

transita para explicações de nível micro sobre o protesto. Em uma passagem

fundamental, os autores escrevem que sua proposta é “[…] sensitivity to the

importance of costs and rewards in explaining individual and organizational

involvement in social movement activity. Costs and rewards are centrally affected by

the structure of society and the activities of authorities.” (p. 1216) Além de

demonstrar preocupação com essa conexão entre níveis, essa citação também

favorece a identificação dos elementos básicos da Teoria da Escolha Racional nessa

consideração sobre os efeitos dos fatores estruturais sobre a ação individual. As

estruturas sociais e a atuação das elites, dentre outros fatores, afetariam o

comportamento de protesto dos atores políticos na medida em que elevam ou

reduzem os custos envolvidos na mobilização e as recompensas esperadas com

esse engajamento.

Todavia, como alerta Opp (2009), os proponentes desta teoria não avançam

em direção à especificação de quais fatores de nível macro afetam quais elementos

de nível micro, ou seja, não especificam um modelo causal no qual essas duas

ordens de fatores estariam conectadas de forma clara. McCarthy e Zald chegam a

listar uma série de recursos estruturais, como meios de comunicação, níveis de

afluência, acesso às instituições políticas centrais, estrutura ocupacional, meios de

transporte, liberdade política, nível de repressão e tecnologias de informação úteis à

mobilização (internet, redes sociais virtuais), mas não explicam quais os seus

impactos sobre os custos e benefícios da ação.

Na sua versão de nível micro, proposta por Verba, Scholozman e Brady

(1995) os atributos individuais relacionados ao cálculo de maximização dos

benefícios entram na explicação, mas de forma inversa a mesma fragilidade

permanece, uma vez que não fica claro como esses fatores individuais são afetados

por diferentes estruturais políticas ou econômicas de cada ambiente macro social.

Podemos reconhecer que a renda e a escolaridade dos cidadãos, por exemplo,

tendem a reduzir os custos da ação política, mas é possível formular a hipótese de

que esse efeito seja diferente em distintos ambientes institucionais.

McAdam (1982) e Koopmans (1995) identificam fragilidade semelhante na

Teoria das Estruturas de Oportunidades políticas. Esse último pesquisador escreve

que “a basic shortcoming of all existing studies using the POS concept is that they

lack a clearly stated motivational theory that would explain how these structural

phenomena enter the strategic choice situations of individuals and organizations […]

(p. 15).

Nessa perspectiva também fica evidente a adoção dos elementos básicos da

Teoria da Escolha Racional, a começar pela proposição inaugural de Eisinger

(1973), na qual a hipótese de que o protesto é produto de um cálculo envolvendo

custos/benefícios da ação é explicitamente formulada (p.13). Em Tilly (1978, p. 99)

podemos encontrar também de forma bastante clara que a ação coletiva tem um

custo, que os atores políticos nela envolvidos levam em conta esses custos, que

essas mesmas ações trazem benefícios na forma de bens públicos, e que os atores

comparam os custos e os benefícios esperados. A interpretação de que os atores

que procuram maximizar a utilização de seus recursos aparece de forma implícita

em vários outros trabalhos vinculados a essa teoria (McAdam, 1982; Kriesi et al,

1995; Tarrow, 1996).

Em síntese, apesar de defenderem a existência de efeitos das mudanças

estruturais sobre o nível individual (custos/benefícios), os partidários dessa

perspectiva também não especificam um modelo no qual esses efeitos são

detalhados, ou seja, não informam que tipo de fatores estruturais afetam quais

custos da ação individual.

As perspectivas de nível macro e micro, derivadas da teoria da privação

(Gurr, 1970), cada uma a sua maneira também deixam de desenvolver essa

conexão necessária entre fatores estruturais e os atributos e características

individuais que favorecem ou obstaculizam o engajamento em ações contestatórias.

O mesmo vale para a teoria do desenvolvimento humano proposta por

Inglehart (1990, 2001), que apesar de vincular a síndrome de valores pós-

materialistas aos níveis de desenvolvimento econômico nacional, quando formula

seus modelos explicativos se limita ao nível micro. Mesmo quando seu nível de

análise são países, a variável independente utilizada é sempre o percentual de pós-

materialistas de cada nação, sem considerar os efeitos diferenciais dessa variável

culturalista em distintos contextos políticos, por exemplo.

Um importante esforço de conexão foi recentemente realizado por Dalton,

Sickle e Weldon (2009). Utilizando uma ampla base de dados produzida pelo projeto

World Values Survey (Pesquisa Mundial de Valores) esses investigadores

procuraram identificar as conexões entre fatores estruturais e individuais testando

comparativamente os rendimentos explicativos de algumas das abordagens listadas

acima. As descobertas desse estudo são bastante interessantes, pois questionam

algumas hipóteses aparentemente plausíveis.

Primeiramente os resultados obtidos não confirmam os efeitos do sentimento

de privação e insatisfação individual sobre o comportamento de protesto. Ainda que

os indivíduos envolvidos em atividades contestatórias sejam motivados por alguns

sentimentos desta ordem, esse não parece ser um fator suficiente ou determinante

na explicação do seu comportamento. Confirmando a pertinência das abordagens

que enfatizam os recursos individuais, verificaram que os cidadãos que protestam

são os mais escolarizados e os mais envolvidos em associações o que “[...]

contradict the common claims that protest are primarily the tool of the disadvantaged

and those without substancial political resources.” (Ibid., p. 71) Além disso, suas

análises revelaram o forte impacto de variáveis culturais sobre essas formas de

engajamento. Indivíduos identificados como pós-materialistas e os que manifestam

orientações próprias de um posicionamento ideológico de esquerda tendem a se

envolverem mais em modalidades contestatórias.

A confirmação dessas hipóteses relacionadas ao nível micro ou individual,

entretanto, não conduz a desconsideração da dimensão estrutural do fenômeno,

pois os autores também identificaram que os efeitos dos recursos e valores são

diferenciados em distintos contextos políticos e econômicos. Cidadãos de países

democráticos com níveis elevados de desenvolvimento econômico têm maior

probabilidade de se envolverem em ações de protesto do que os cidadãos de

nações com regimes mais fechados e com níveis inferiores de desenvolvimento

material, ainda que esses dois grupos de pessoas possuam os mesmos recursos.

Ou seja, “economic development and open democratic institutions facilitate the

translation of individual resources into political action.” (Ibid., 72)

Os achados presentes nesse trabalho são muito interessantes, todavia, por se

tratar de uma análise integrada envolvendo dados de mais de 70 países, algumas

particularidades regionais não podem ser exploradas. Sobretudo no caso das

nações latino-americanas em desenvolvimento, entre as quais os níveis de

desigualdade social são ainda muito elevados e os efeitos da mudança cultural pós-

materialista atingem apenas uma reduzida parcela da população, algumas das

questões apontadas pelo mencionado estudo precisam ser esclarecidas. Em países

como o Brasil, por exemplo, a questão da insatisfação com o regime democrático

continua sendo um fator aparentemente muito relevante e que merece ser analisado

cuidadosamente. Essas e outras particularidades nos inspiraram a conduzir a

investigação dessa relação entre fatores estruturais e individuais na determinação

dos níveis de ativismo contestatório entre o público latino-americano, cujos

resultados apresentamos a seguir.

Questões Metodológicas

Utilizamos nessa investigação os dados produzidos pela onda de 2005 do

Latinobômetro para um conjunto de dezoito países latino-americanos4. Essa base

traz uma bateria de questões relativas ao envolvimento nas seguintes modalidades

de contestação: abaixo-assinados, manifestações autorizadas, saques, ocupações,

4 As bases de dado e informações técnicas podem ser obtidas através do endereço

www.latinobarometro.org. Os países são: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e República Dominicana.

protestos não autorizados, bloqueio de tráfego. Bases mais recentes contendo

variáveis sobre o envolvimento de cidadãos latino-americanos já estão disponíveis,

entretanto, algumas exigências técnicas e também substantivas nos levam a fazer a

opção pelos dados de 1995. A primeira delas diz respeito à extensão da bateria de

perguntas sobre as distintas modalidades de ação. As pesquisas do próprio

Latinobarômetro de 2006, 2007, 2008 e 2009 não contém essa bateria completa, o

que torna inviável a análise que propomos. Nessas pesquisas mais recentes apenas

a assinatura de abaixo-assinados e a participação em passeatas e protestos não

organizados são cobertas. O mesmo ocorre com bases produzidas por outras

organizações como o Lapop e o WVS. Além disso, a base selecionada é a que

cobre o maior número de países latino-americanos, o que é fundamental para a

utilização da modelagem hierárquica.

Para operacionalizar os testes compatíveis com nossos objetivos, o primeiro

procedimento adotado foi a redução das variáveis relativas a cada uma dessas

formas a uma única medida integrada ou índice. Para tanto, inicialmente recorremos

à técnica de análise fatorial, na verdade um conjunto de procedimentos multivariados

úteis quando se pretende a redução de dimensionalidade de um conjunto de

medidas supostamente relacionadas (Hair, Anderson & Tathan, 1987). Os resultados

indicaram que a redução das seis variáveis a uma única medida latente resultaria em

45% de explicação da variação conjunta. Além disso, todas elas apresentaram

cargas fatoriais superiores a 0.5 nesse primeiro fator (componente) gerado.

Confirmando a pertinência dessa redução, o coeficiente Alpha de Cronbach de 0.7

claramente justifica a utilização do que denominamos de Índice de Protesto Político,

resultado do somatório dos valores das seis variáveis originais. Como cada uma

delas comporta os valores 0, 1 e 2, a medida integrada possui valores que vão de 0

a 12. Nesses termos, um indivíduo que não se envolveu em nenhuma dessas formas

de contestação, nem pretende se envolver, terá pontuação final igual a 0 e aquele

que declarou envolvimento efetivo em todas terá atingido o ponto máximo da escala.

O maior desafio dessa pesquisa, entretanto, foi a identificação de variáveis

independentes, sobretudo no nível macro, que representassem adequadamente os

fatores apontados pelas diferentes teorias revisadas anteriormente.

No que diz respeito aos fatores de ordem macro ou estrutural que afetariam a

propensão ao envolvimento em atividades de protesto, recorremos às teorias das

Estruturas de Oportunidade Política e da Mobilização de Recursos para identificar

duas ordens de variáveis: políticas e econômicas.

Diversos pesquisadores (Tarrow, 1998; Dalton e Rohrschneider, 2002;

Kitschelt, 1986; Brockett, 1991) têm afirmado que as estruturas políticas das nações,

ao oferecerem canais para a participação e formulação de demandas, poderiam

colaborar para a contenção ou ampliação das ações de protesto. Existe significativa

discordância quanto ao caráter positivo ou negativo dos efeitos da abertura política

sobre o protesto, todavia, a estrutura de oportunidades oferecida pela engenharia

institucional de cada país aparece como importante condicionante em boa parte da

literatura sobre o tema. Como medida da abertura política dos sistemas políticos dos

países latino-americanos selecionamos o indicador de Liberdade produzido pela

organização Freedom House que representa o respeito às liberdades civis e aos

direitos políticos dos cidadãos.5

Adicionalmente incluímos também uma medida sobre Liberdade de

Imprensa6, proposta por essa mesma organização. Assim como estruturas políticas

mais abertas que garantem os direitos e liberdades civis tendem a reduzir os custos

da ação política, uma imprensa livre atuaria na divulgação de informações

independentes que favoreceriam a atuação política.

A segunda ordem de fatores estruturais se relaciona ao desenvolvimento

material das nações. Aqui também existe considerável divergência quanto à

natureza dos efeitos dessa dimensão econômica. Conforme mencionamos

anteriormente, enquanto autores como Robert Gurr (1968, 1970) afirmam que

pobreza e privação econômica impulsionariam as atividades de protesto, outros

5 O indicador de Liberdade da Organziação Freedom House faz parte de um projeto amplo

denominado Freedom in the World, baseado em surveys que fornecem uma avaliação anual do estado global da liberdade como experiências individuais. Nos termos desse projeto a liberdade é definida como “[…] opportunity to act spontaneously in a variety of fields outside the control of the government and other centers of potential domination.”(FreedomHouse, 2005) A medida é produzida pela combinação de variáveis relativas a duas dimensões: direitos politicos e liberdades civis. Os direitos políticos habilitam [...] people to participate freely in the political process, including through the right to vote, compete for public office, and elect representatives who have a decisive impact on public policies and are accountable to the electorate. As liberdades civis, por sua vez, permitem a liberdade de expressão, crença, associação, bem como […]organizational rights, rule of law, and personal autonomy without interference from the state”. No índice a pontuação 1 representa situações de maior liberdade, enquanto o 7 representa o menor nível de liberdade. (FreedomHouse, 2005) Informações detalhadas dessas medidas podem ser obtidas em http://www.freedomhouse.org/report/freedom-world-2005/methodology.

6 O indicador de Liberdade de Imprensa produzido pela Freedom House é produzido também no

context do projeto mencionado na nota anterior. A avaliação do nível de liberdade de imprensa em cada país em 2005 decorria de 23 questões divididas em três categorias: o ambiente legal, o ambiente político e o ambiente econômico. Cada país é classificado nessas três categorias, sendo que pontuações reduzidas representam situações de maior liberdade e pontuações elevadas indicam contextos de menor liberdade. A pontuação final do país é baseada no somatório das pontuações obtidas em cada categoria, obedecendo a seguinte divisão: de 0 a 30 pontos indica a existência de uma imprensa livre; de 31 a 60 imprensa parcialmente livre; de 61 a 100 imprensa sem liberdade. Informações detalhadas dessas medidas podem ser obtidas em http://www.freedomhouse.org/report/freedom-press-2005/methodology

defendem que a contestação depende de um conjunto de recursos impulsionadores

da mobilização que só existiriam em sociedades economicamente desenvolvidas

(McCarthy e Zald, 1977; Norris, 2007; Inglehart e Catterberg, 2003). Para testar

essas diferentes hipóteses no contexto latino-americano, selecionamos como

medida de desenvolvimento primeiramente o Produto Interno Bruto (PIP) per capita7.

Entretanto, como é notória a persistente manutenção de altas taxas de desigualdade

econômica nessa região, optamos também por incluir o Índice de Gini com o objetivo

de analisar em que medida essa distribuição assimétrica dos frutos do

desenvolvimento econômico impactam nossa variável dependente.

Ligados diretamente a esse nível material estão alguns fatores da

infraestrutura dos países, como aqueles relacionados aos meios de comunicação.

Uma rede de comunicação extensa e com acesso generalizado pode favorecer o

engajamento político em protestos pela redução dos custos de mobilização e de

informação. Para verificar se tal efeito se confirma incluímos uma variável relativa ao

contingente de cidadãos de cada país com acesso à Internet (WorldBank, 2005).8

Passando ao nível micro, uma das abordagens mais recorrentes afirma a

relevância do descontentamento individual. Para autores já mencionados como Gurr

(1968) e Loveman (1998) as experiências de privação relativa dos indivíduos em

condições desfavoráveis conduziriam ao envolvimento em modalidades alternativas

de expressão das suas demandas e anseios, algumas delas de natureza

contestatória. Sobre esse ponto, selecionamos para compor nosso modelo quatro

variáveis que se relacionam a distintas dimensões do descontentamento individual.

A primeira delas, de natureza bastante ampla diz respeito ao nível de satisfação dos

entrevistados em relação à sua vida em geral. Mais específica, a segunda variável

diz respeito à avaliação dos indivíduos em relação à situação econômica nacional.

Tratando da dimensão política, a terceira medida diz respeito à avaliação que fazem

os cidadãos do funcionamento concreto da democracia em seus países. Finalmente,

também sobre o aspecto político, a quarta variável incluída é um índice de confiança

nas principais instituições democráticas9.

A segunda abordagem de nível micro enfatiza os recursos individuais e

associa o ativismo político geral a atributos como escolaridade, classe social, status

7 A fonte para esses dados foi o Banco Mundial, que pode ser consultada no endereço

www.data.worldbank.org. 8 Medida indica o número de pessoas a cada 100 com acesso a rede mundial de computadores.

9 Apêndice metodológico contendo informações sobre as perguntas que geraram as variáveis e suas

respectivas codificações podem ser solicitados aos autores por meio do endereço [email protected].

de maioria étnica e nível de inserção social (Verba, Scholozman & Brady (1995);

McDonough; Shin e Moisés, 1998). Para verificar o impacto dos recursos individuais

sobre o envolvimento em protestos incluímos a escolaridade como medida dos

recursos intelectuais e também materiais, uma vez que está fortemente associada à

renda10. Para além dessa concepção restrita de recursos, resolvemos incluir também

as variáveis relativas aos níveis de informação política, interesse por política e

eficácia política subjetiva. Por fim, incluímos uma medida integrada de envolvimento

dos indivíduos em organizações e associações, como uma medida dos recursos

associativos e do envolvimento em redes de mobilização, concebidos pela literatura

recente como relevantes impulsionadores do engajamento político tanto tradicional,

quanto contestatório.

Na seção anterior incluímos entre as abordagens de nível micro as pesquisas

sobre mudança cultural que tendem a associar o ativismo de protesto à adesão aos

chamados valores pós-materialistas (Inglehart, 1977; 1990; 2001; Inglehart e Welzel,

2009). Em razão da falta de dados sobre essa questão da base por nós utilizada,

somos obrigados a assumir essa deficiência em nosso trabalho. Na realidade, a

identificação do impacto dessas novas prioridades valorativas sobre o fenômeno

objeto de nossa atenção demandaria a utilização da base de dados do projeto World

Values Survey, entretanto, o volume de países latino-americanos cobertos por essa

organização é pequeno se comparado ao coberto pelo Latinobarometro (9 contra

18). Além disso, a bateria de questões sobre protesto nessa última base de dados é

significativamente maior. Desta forma, contrastando os limites de cada coleção de

dados, optamos por essa última. Para tentar contornar a falta de informações sobre

a mudança cultural incluímos em nosso modelo uma medida sobre o apoio individual

à democracia. Ainda que essa variável não seja equivalente ao índice de pós-

materialismo, os pesquisadores vinculados a essa abordagem tem afirmado

repetidamente que essa reorientação cultural estaria associada à adoção de valores

e atitudes congruentes com a democracia (Inglehart e Welzel, 2009).

Para finalizar, verificamos anteriormente que alguns pesquisadores procuram

vincular a atividade de protesto à orientação ideológica individual. As evidências

apresentadas mostram que o envolvimento em modalidades de contestação são

mais frequentes entre os identificados com a esquerda (Powell, 1982; Dalton e

Sickle, 2005). Para testar o impacto dessa dimensão, incluímos em nossas análises

uma medida do posicionamento ideológico dos indivíduos.

10

Na base de dados utilizada a variável renda não está disponível.

Como nossa proposta de análise envolve a combinação de variáveis geradas

no nível individual e nacional, optamos por um modelo hierárquico linear que se

adequa a complexidade dessa estrutura de dados (Raudenbush & Bryk, 2002).11

Determinantes do protesto

Com o objetivo de determinar a quantidade de variação no Índice de Protesto

associada ao primeiro (indivíduos) e segundo (países) níveis que compõem nossa

matriz de dados, especificamos inicialmente um modelo de efeitos aleatórios de

Anova, que também pode ser denominado de modelo nulo. Esse procedimento

oferece uma série de informações fundamentais para a verificação da pertinência da

estruturação hierárquica dos dados e para posteriores comparações com os

modelos mais complexos que serão especificados a seguir (Raudenbush & Bryk,

2002).

Na primeira linha da Tabela 1 podemos observar a grande média do índice de

protesto, independente de qualquer outra variável dos diferentes níveis. Como nossa

medida de envolvimento em modalidades de protesto possui uma escala que vai de

0 a 12, o valor 1.47 releva média bastante reduzida levando em consideração a

totalidade dos entrevistados latino-americanos. A variância interindividual encontrada

é de 3.76, o que pode servir de incentivo à investigação dos fatores individuais que

poderiam explicar essas diferenças no comportamento de protesto. A variância na

média dos países em relação ao índice é de 0.17, significativamente menor do que a

anterior. Essa inferioridade também fica clara com o cálculo do coeficiente de

correlação intraclasse12 de 0.04, indicando que 5% da variância total no índice se

deve ao efeito de nível dois, ou seja, relacionado às variáveis nacionais. Todavia,

essa variância associada ao segundo nível, apesar de reduzida, é estatisticamente

significativa em um nível bastante exigente (0.000), o que indica ser possível rejeitar

a hipótese de que os países apresentam as mesmas médias de protesto. Essa

informação revela a pertinência estatística de uma análise sobre os fatores

estruturais envolvidos no fenômeno da contestação política.

11

Os modelos foram estimados com o uso do software HLM 6.08. 12

Esse coeficiente (rho) é encontrado com a fórmula 3.76/(3.76+0.17)=.04

TABELA 1. MODELO ANOVA DE EFEITOS ALEATÓRIOS PARA DETERMINAR A PRESENÇA DE ESTRUTURA HIERÁRQUICA NO PROTESTO POLÍTICO ENTRE

OS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA

Protesto Coeficiente Erro-padrão Valor t p

Intercepto 1.47 0.095 15,52 0.000

Componente de

variância

Desvio-padrão χ2 P

Média dos países 0.17 0.41 833.51 0.000

Efeito ao nível dos indivíduos 3.76 1.94

Coeficiente de correlação intraclasse =0.04 (5%)

Fonte: Latinobarometro 2005.

Na Tabela 2 apresentamos os resultados de dois modelos construídos para

identificar os determinantes de nossa variável dependente. O Modelo 1 contem

apenas as variáveis do primeiro nível, relacionadas ao que definimos como

abordagens micro ou individual, enquanto o Modelo 2 incluí as variáveis de segundo

nível, que dizem respeito às unidades nacionais.

Considerando os resultados do primeiro modelo, podemos verificar

inicialmente que dentre as variáveis relacionadas à satisfação/descontentamento

não se verificam efeitos estatisticamente significativos naquelas que dizem respeito

a dimensões políticas, ou seja, o nível de satisfação com o funcionamento da

democracia nacional e a confiança depositada nas principais instituições políticas

não afetam a medida de envolvimento em modalidades de protesto entre o público

em questão. Situação distinta pode ser verificada em relação à satisfação com vida e

ao nível de satisfação com a situação econômica nacional, que apresentaram efeito

significativo e no sentido esperado, uma vez que níveis mais elevados de satisfação

e avaliações mais favoráveis produzem reduções na medida de contestação. Pode

ser questionar a magnitude desses efeitos, uma vez que os coeficientes encontrados

foram -0.0835 e -0.0613, respectivamente, todavia, é preciso olhar mais atentamente

para essas informações. No caso da primeira variável, cujos valores se dispõem em

uma escala de dez pontos, a diferença entre os mais insatisfeitos e os mais

satisfeitos é de 0.8 no índice que mede o envolvimento nas formas de protestos, o

que não é algo desprezível diante da reduzida média verificada na região (1.46).

TABELA 2. PREDITORES INDIVIDUAIS E ESTRUTURAIS DO PROTESTO POLÍTICO

Modelo 1 Modelo 2

Intercepto 1.6235 (0.0987)**

2.9712 (0.6849)**

PIB per capita - 0.0001

(0.0000)

Gini - -0.0354 (0.0127)*

Índice de Liberdade (FreedomHouse) - 0.2631

(0.1024)**

Liberdade de Imprensa - -0.0083 (0.0066)

Acesso à Internet - 0.0266

(0.0116)**

Satisfação com a vida -0.0835 (0.0212)**

-0.0820 (0.0211)**

Avaliação da economia nacional -0.0613

(0.0242)* -0.0613

(0.0244)*

Satisfação com a democracia -0.0252 (0.0342)

-0.0246 (0.0333)

Índice de confiança nas instituições políticas 0.0142

(0.0164) 0.0142

(0.0164)

Escolaridade 0.0410 (0.0067)**

0.0409 (0.0066)**

Informação política 0.2247

(0.0304)** 0.2247

(0.0307)**

Interesse por política 0.2715 (0.0389)**

0.2720 (0.0389)**

Eficácia política subjetiva 0.0771

(0.0495) 0.0756

(0.0494)

Índice de participação 0.3384 (0.0462)**

0.3405 (0.0461)**

Apoio à democracia 0.0647

(0.0309)* 0.0654

(0.0311)*

Identificação ideológica (E/D) -0.0378 (0.0122)**

-0.0383 (0.0122)*

Observações 11677 11662 Número de Grupos - 18

Nota: ** p≤0.001 *<0.05 Fonte: Latinobarometro 2005.

Quanto à dimensão dos recursos, o primeiro modelo revela que quase todas

as variáveis selecionadas impactam significativamente e de forma positiva a variável

dependente. Níveis mais elevados de escolaridade, maior informação e interesse

sobre política e, sobretudo, maior participação em organizações e atividades

voluntárias produzem elevação na medida integrada de protesto. A única exceção

fica por conta do sentimento de eficácia política subjetiva. Merece destaque a

medida relativa à participação, pois como se trata de uma variável composta por

uma escala de dez pontos, a distância entre os indivíduos que menos participam e

os mais participativos chega a 3.3 pontos no Índice de Protesto Político. No caso da

escolaridade, medida em anos de estudo e tendo como valor máximo 17,

verificamos que a diferença entre os menos e os mais escolarizados é de

aproximadamente 0.6, o que também é algo expressivo considerando a média para

a região.

As duas últimas variáveis desse modelo inicial também se mostraram

preditores relevantes e no sentido por nós esperados. A medida de apoio à

democracia produz efeito positivo sobre a variável dependente, indicando que o

envolvimento em atividades de contestação no contexto latino-americano está

associado a uma postura democrática, ou seja, a contestação ocorre em paralelo ao

sentimento de que a forma de governo democrática é a melhor dentre as opções

disponíveis.

A identificação ideológica dos entrevistados, por sua vez, produziu efeito

negativo sobre o índice, indicando que os que se consideram de direita tendem a se

envolverem menos em atividades de contestação.

Passando aos resultados do modelo completo, produzido com a adição das

variáveis de segundo nível, observamos a inexistência de efeito estatisticamente

significativo para a medida de desenvolvimento econômico sobre o índice de

protesto. Esse dado revela que a variação encontrada no nível individual não pode

ser explicada de maneira relevante por essa característica verificada no plano

nacional. Esse resultado contraria o que Dalton, Sickle e Weldon (2009) encontraram

em sua análise envolvendo tanto países desenvolvidos quanto em desenvolvimento.

Ao isolarmos apenas países membros desse segundo grupo econômico,

constatamos que a capacidade explicativa desse fator se reduz drasticamente.

O mesmo, entretanto, não ocorreu com a segunda variável relacionada a essa

dimensão econômica nacional, o índice de Gini. Essa medida foi inserida no modelo

como estratégia de identificação dos possíveis efeitos dos níveis de desigualdade

sobre a incidência do protesto e mostrou que o envolvimento em protestos é menor

entre os cidadãos de países mais desiguais. O contraste entre os efeitos dessas

duas variáveis relativas aos recursos materiais revela a saliência dessa dimensão na

explicação do protesto, mas aponta que a riqueza é menos relevante do que a sua

distribuição igualitária, ou seja, os recursos são relevantes e o seu padrão de

distribuição é uma variável que produz impacto sobre o envolvimento nessas

modalidades de participação política.

No que diz respeito à dimensão do desenvolvimento político, observamos

efeito significativo em um nível bastante exigente no indicador de Liberdade. O

coeficiente de 0.2631 revela que na região analisada sistemas mais fechados

tendem a ampliar o engajamento individual em modalidades de contestação. O

resultado confirma as formulações de Kitschelt (1986) e Brockett (1991) sobre o

efeito positivo das estruturas fechadas sobre o protesto. Por outro lado, esse

resultado contraria as conclusões de Dalton, Sickle e Weldon (2009) que

identificaram o efeito positivo de estruturas mais abertas, mas é importante destacar

que esses pesquisadores se valem de outra medida de desenvolvimento político,

mais ligada à observância das leis pelas autoridades políticas, o indicador Rule of

Law. Acreditamos que a medida que selecionamos seja mais representativa da

efetiva abertura política dos países, uma vez que leva em consideração o respeito às

liberdades civis e aos direitos políticos, fundamentais para a mobilização, sobretudo

em modalidades de protesto.

A liberdade de imprensa, que também pode ser entendida como um

componente da abertura política do sistema político, não produziu efeito

estatisticamente significativo no contexto dos países analisados. Entretanto, a

medida relativa ao acesso à rede mundial de computadores se mostrou preditora

relevante em um nível bastante exigente e seu efeito é positivo sobre a variável

dependente. Além de ampliar as fontes alternativas de informação para os cidadãos,

o acesso a essa ferramenta de comunicação também é relevante na redução dos

custos de mobilização de ações coletivas. Trata-se, portanto, de mais uma evidência

sobre a relevância dos recursos na explicação do fenômeno em questão.

A inserção das variáveis de segundo nível também produziu poucas

alterações nos impactos das variáveis de nível individual, mantendo-se significativas

apenas aquelas que já apareciam como preditoras relevantes no primeiro modelo e

com os mesmos sentidos nos efeitos.

Essa estabilidade nos efeitos confirma então a relevância das medidas

relacionadas ao descontentamento na sua dimensão material ou econômica e a

irrelevância das duas variáveis relacionadas à dimensão política. A satisfação com o

funcionamento da democracia e a medida de confiança nas instituições políticas

continuou a não atingir os níveis mínimos de significância estatística.

Tais resultados envolvendo a hipótese do descontentamento divergem

parcialmente dos encontrados por Dalton, Sickle e Weldon (2009) em sua análise

envolvendo países de diferentes regiões, inclusive nove nações latino-americanas.

Tomando a variável relativa à satisfação com a vida e uma medida de confiança no

parlamento, os autores concluíram que o descontentamento não era um bom

preditor do protesto em nível internacional. Entre os latino-americanos, todavia, a

insatisfação com dimensões mais pessoais e econômicas afetam de forma

considerável os níveis de contestação, como já afirmavam estudos sobre

movimentos específicos, como o do Loveman (1998). Acreditamos que esses dados

sejam compatíveis com uma realidade social própria dos países em

desenvolvimento, marcados por profundas desigualdades na distribuição dos

benefícios advindos do crescimento econômico.

No que diz respeito às variáveis relativas às teorias dos recursos, a inserção

das variáveis de nível nacional não alterou significativamente o efeito produzido por

escolaridade, informação política, interesse por política e pelo índice de participação.

A eficácia política subjetiva continuou não atingindo os níveis de significância

estatística. Os resultados dos dois modelos propostos, portanto, confirmam a

hipótese derivada do que chamamos anteriormente de teoria do voluntarismo cívico,

uma vez que o envolvimento em modalidades contestatórias entre os latino-

americano se apresenta claramente como uma questão de recursos intelectuais e,

especialmente, sociais na medida em que o engajamento nas formas de

contestação está fortemente relacionado ao pertencimento e participação em uma

rede de organizações e atividades de adesão voluntária.

A mesma estabilidade entre os dois modelos foi verificada em relação à

variável de apoio à democracia, que como vimos anteriormente apresentava efeito

positivo sobre o índice de protesto. Esse resultado confirma as conclusões de

Inglehart e Welzel (2005), uma vez que esses pesquisadores verificaram uma forte

associação entre adesão à democracia, valores pós-materialistas e comportamentos

de protesto. Entre o público latino-americano uma postura democrática em termos

abstratos está relacionada de forma relevante a posturas mais contestatórias.

Finalmente, no que diz respeito ao posicionamento ideológico, os resultados

do segundo modelo confirmam as evidências obtidas com o modelo contendo

apenas variáveis de nível individual. Neste sentido, os resultados encontrados

corroboram a hipótese de que o apoio ao protesto político continua sendo um

comportamento típico dos identificados com a esquerda do espectro político, tal

como Powell (1982) e também Dalton e Sickle (2005) afirmaram.

Considerações Finais

Os dados apresentados acima tanto corroboram quanto refutam algumas

interpretações existentes na literatura sobre protesto político. Corroboram no sentido

de reafirmar a importância dos recursos individuais e coletivos (como escolaridade,

informação, interesse e vínculos associativos) como importantes determinantes da

participação política13. Não é demais lembrar que esta associação tem sido

encontrada desde os primeiros estudos empíricos sobre participação (Milbrath,

1965), tendo sido confirmada em estudos comparativos orientados por diferentes

estratégias metodológicas (Della Porta, 2003; Verba, Schlozman & Brady, 1995;

Teorell, Torcal & Montero, 2007). Nesse sentido, pode-se afirmar que a dimensão da

centralidade social do indivíduo (que se materializa em maiores recursos individuais

e coletivos), exerce efeitos sobre a propensão ao engajamento político

independentemente do contexto em que se está inserido. Da mesma maneira, a

dimensão identitária da participação14 também foi reafirmada através do efeito

exercido pela identificação ideológica.

Por outro lado nossos dados refutam parcialmente alguns efeitos comumente

atribuídos pela literatura ao contexto. Contrariamente às conclusões de Dalton,

Sickle e Weldon (2009) o nível de desenvolvimento econômico não se mostrou um

preditor significativo para o comportamento contestatório. Por outro lado, o nível de

desigualdade econômica dos países, sim. Uma possível interpretação para a

discrepância em relação à primeira medida talvez esteja relacionada ao fato de que

a variação em termos de desenvolvimento econômico quando consideramos apenas

13

Em estudos anteriores, com análises que tomavam como parâmetro apenas a dimensão individual já havíamos encontrado evidências empíricas bastante robustas sobre a importância da dimensão dos recursos individuais e coletivos para a participação. Ver Borba & Ribeiro (2010), Ribeiro & Borba (2010a), Ribeiro & Borba (2010b).

14 A dimensão da identidade política como determinante da participação foi explorada no trabalho já

clássico de Alessandro Pizzorno (1966).

os países dessa região seja menor do que quando ampliamos nossa amostra, como

foi o caso dos autores mencionados acima, cujo estudo abrangeu mais de 70

países. Em síntese, no que diz respeito a essa dimensão material parece ser mais

relevante o padrão de distribuição da riqueza nacional do que o seu volume.

No que diz respeito ao efeito do contexto político nossas conclusões também

são contraditórias com o que propõem Inglehart & Welzel (2009), Dalton, Sickle e

Weldon (2009), e Norris (2002), ao interpretarem a expansão do protesto como

expressão de uma cidadania mais “crítica” que estaria presente, sobretudo, nos

países com maior solidez democrática. No caso da América Latina, a propensão à

participação em protesto aumenta à medida que passamos dos países mais livres

para os que apresentam menor liberdade e garantias individuais.

Enfim, para além da mensuração dos efeitos das diferentes variáveis

(individuais e de contexto) sobre o comportamento de protesto, o paper reafirma a

importância e necessidade de construção de modelos analíticos que integrem essas

duas dimensões. Nesse sentido, considerando especificamente a realidade latino-

americana podemos perceber que tal envolvimento contestatório está relacionado a

contextos de menor desigualdade e menor garantia de liberdades. Esse contexto

propicia a participação de cidadãos portadores de maiores recursos, que estão

insatisfeitos com a vida, com a economia (e possivelmente com a cerceamento das

liberdades), que apoiam normativamente a democracia e que se posicionam

preferencialmente na esquerda do espectro político.

Merece destaque especial a relação entre descontentamento e recursos que

emerge dos resultados apresentados, uma vez que nos remete ao intenso debate

travado entre os formuladores da teoria da mobilização de recursos e os defensores

das teorias do descontentamento e da privação relativa. McCarthy e Zald (1977), ao

defenderem que os recursos explicariam a mobilização, constroem uma contundente

crítica às hipóteses que associavam a contestação ao descontentamento individual e

coletivo. Mais recentemente, entretanto, os mesmos autores trataram de revisar

esse posicionamento afirmando que tais sentimentos de privação, apesar de não

exercerem efeito aditivo sobre o fenômeno, podem interagir com outros fatores

(Mccarthy e Zald, 2002). Neste sentido, a combinação entre descontentamento e

recursos é que impulsionaria o protesto político. Essa interação parece fazer sentido

entre os países latino-americanos aqui analisados, como apontamos acima.

Feitas essas constatações, cabe discutir o modelo teórico capaz de explicar

esse fenômeno. Nesse sentido, a proposta de Opp (2009) parece ser amplamente

plausível, mesmo que rejeitemos o ancoramento teórico de seu modelo na teoria da

escolha racional. Seu modelo explicativo para o comportamento de protesto é

composto pelos seguintes elementos:

1) Preferências pelo bem público: protestos podem ter uma grande variedade

de objetivos e as reclamações e descontentamentos ocorrem quando esses

objetivos não são alcançados. A intensidade desse descontentamento é uma função

da intensidade de preferência pelo bem que não está sendo provido e pode ser

direcionado a uma decisão de alguma autoridade específica ou ao sistema político

em geral.

2) Influência pessoal percebida: a ação individual tende a ocorrer quando o

ator se percebe como relevante para alcançar o bem público de interesse. Essa

percepção tende a ser afetada pelo tamanho do grupo envolvido na ação de

protesto, bem como pela expectativa de sucesso do movimento.

3) Custos: toda ação envolve custos, especialmente tempo no caso do

comportamento de protesto, sendo assim, quanto maior a quantidade de recursos

(ou custos) envolvidos menor a probabilidade de envolvimento.

4) Incentivos Seletivos: os incentivos que devem ser considerados no caso do

protesto extrapolam a dimensão puramente material contida na formulação clássica

de Olson e envolvem aspectos morais, sociais e situacionais. Alguns ativistas, por

exemplo, podem se sentir obrigados a protestar em razão da internalização de uma

norma favorável a esse tipo de atuação. Outros são levados a tais comportamentos

pela sua inserção em redes sociais cuja maioria dos membros se envolve em

protestos. Outros ainda podem ter sua ação favorecida por incentivos situacionais

específicos que contribuem para a redução dos custos da ação.

Todos esses componentes se referem ao nível micro, mas sofrem influências

de fatores que se originam em esferas que extrapolam o controle dos indivíduos. Os

recursos, tal como definidos pelos defensores da Teoria da Mobilização de

Recursos, afetam os processos de constituição e desenvolvimento de movimentos

sociais porque alteram no nível individual os custos e incentivos da ação, fazendo

com que se reconfigurem as relações entre preferência pelo bem público, eficácia

percebida e expectativa de sucesso do movimento. De forma semelhante, as

estruturas de oportunidades políticas ou o ambiente político no qual se desenvolve a

ação, nos termos de Eisinger (1973) impactam a contestação porque alteram

igualmente essas variáveis. Na medida em que um governo se torna mais ou menos

aberto à manifestação dos seus cidadãos se reconfiguram os custos envolvidos na

mobilização política contestatória e com isso todos os demais elementos de nível

micro também se alteram. O sentimento de privação relativa dos indivíduos, que

segundo Gurr (1970) e outros seria potencializador do protesto pode facilmente ser

interpretado como preferência por bem público distinto daquele que está sendo

prestado pelas autoridades políticas. Esse sentimento, por sua vez, é resultado dos

fatores econômicos e sociais macroestruturais de cada sociedade. A síndrome de

valores pós-materialistas, apontada por Inglehart (1990) como variável independente

na explicação da contestação pode ser vista adequadamente como um tipo

específico de incentivo moral, na medida em que reflete uma prioridade valorativa

individual pela auto-expressão que encontra no protesto político um mecanismo

interessante para a superação dos limites das instituições da democracia

representativa. Essa mudança valorativa, no entanto, é também o resultado de

alterações na composição social e econômica das nações. Essa mesma

interpretação pode ser estendida para a questão da orientação ideológica de

esquerda, vinculada a tipo de comportamento aqui analisado por alguns

pesquisadores (Dalton e Sickle, 2005), ou seja, seria um incentivo seletivo de

natureza moral.

Conforme já destacamos acima, acreditamos que os resultados de nossos

testes empíricos são perfeitamente interpretáveis a partir de tal modelo, de modo

que o protesto político na América Latina é produto de contextos que oferecem

maiores oportunidades (menores garantias de liberdade), com menores custos de

entrada para os participantes (menor desigualdade econômica)15. Sobre essa

primeira dimensão, a estrutura política “oportunizaria” o protesto justamente por não

disponibilizar canais institucionalizados para o encaminhamento de demandas e

para a expressão de descontentamento, o que conduziria os indivíduos para

modalidades de manifestação de natureza contestatória (Kitschelt, 1986; Brockett,

1991). Esse contexto, que gera oportunidades, possibilita que aqueles cidadãos

dotados de maiores recursos (individuais e coletivos) e/ou que compartilham

determinada identidade (de esquerda), se mobilizem para obter bens.

No que tange à motivação para ação contestatória, que Opp (2009) relaciona

aos incentivos seletivos (de ordem material, moral ou situacional), pela inexistência

de dados relativos a esse tema no survey do Latinobarômetro, infelizmente nos

deixa impossibilitados de avançar nessa dimensão específica do modelo16.

15

Vejam que tratamos as liberdades como um custo e uma oportunidade de participação. 16

Apenas a título de comentário, vale destacar o trabalho de Schlozman, Verba & Brady (1995), que

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