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Revista experimental dos alunos do curso de Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro

MP 20142

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Fronteiras

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Revista experimental dos alunos do curso de

Jornalismo da Faculdade 7 de Setembro

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A melhor faculdade particular de Fortaleza (SEGUNDO AVALIAÇÃO DO MEC E DE SEUS ALUNOS)

Bem vindos à FA7, uma instituição que já nasce com 66 anos de experiência educacional e o compromisso com um padrão de ensino de alto nível. A faculdade possui ensino superior diferenciado, contando com 12 cursos de graduação.

PedagogiaLogística

Engenharia de ProduçãoAdministração

Jornalismo

Arquitetura e Urbanismo

Sistemas de Informação

DireitoNegócios Imobiliários

Entre em nosso site e veja também nossos cursos de pós-graduação.www.fa7.edu.br.

Ciências Contábeis Publicidade e Propaganda

Design Gráfico

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A melhor faculdade particular de Fortaleza (SEGUNDO AVALIAÇÃO DO MEC E DE SEUS ALUNOS)

Bem vindos à FA7, uma instituição que já nasce com 66 anos de experiência educacional e o compromisso com um padrão de ensino de alto nível. A faculdade possui ensino superior diferenciado, contando com 12 cursos de graduação.

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Design Gráfico

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DIRETOR GERALEdnilton Soárez

DIRETOR ACADÊMICOEdnilo Soárez

VICE-DIRETORAdelmir Jucá

COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMODilson Alexandre

EDITORES CHEFESEdma GóisMiguel Macedo

PROJETO GRÁFICOE DIREÇÃO DE ARTETarcísio Bezerra

COORDENADOR DO NÚCLEO DE FOTOGRAFIAJari Vieira

BOLSISTAS DO NPJOR QUE PARTICIPAREM DESTA EDIÇÃOGuilherme Paiva | DiagramaçãoAlexandre Fernandes | Diagramação

Pensar em vida já é, por si só, um sinônimo de limite. Já nas-cemos dentro de um limite de tempo, de validade para a nossa estada nesse mundo... Limite é algo que, ao mesmo tempo em que nos incomoda, nos protege de nós mesmos. Que o digam crianças e jovens que rejeitam os limites impostos por pais e professores, mas que, muitas vezes, só chegam à idade adulta porque receberam os tais cuidados, a tal proteção, que é um dos sinônimos de limite.

Mas, qual o limite do limite? Ou ainda, qual a falta que o li-mite faz? Essa discussão, que pode parecer vã fi losofi a, é uma linha invisível que nos mantém livres. O que aparentemente aprisiona ou cerceia, garante a liberdade. Vejam que dirigir com velocidade até 60 km por hora na cidade e até 80 km na estrada, protege a nós e aos demais, de acidentes. Ter hora para entrar no trabalho ou na aula, signifi ca que, teoricamente, te-mos hora para sair. E por aí vai.

Aqui na FA7, a revista Matéria Prima, um produto da disci-plina de Jornalismo Especializado I, se sentiu livre para pensar em limites. E, como repetia abertamente Millôr Fernandes, “O livre pensar é só pensar”, por aqui deu de tudo. Nosso limite foi somente pensar em possíveis limites.

A defi nição formal de limite é matematicamente sofi stica-da, requerendo muitas horas de estudo para ser entendida. O leitor interessado poderá encontrá-la em bons livros-textos de cálculo. No nosso caso, porém, a defi nição de limite teve pouca ou nenhuma serventia, quando pensamos calcular todas pos-sibilidades de limites.

E cada estudante explorou o tema à sua maneira: da paixão por futebol ao uso das redes sociais; do limite da piada aos li-mites mais sociais do que físicos; da interferência da família nas escolhas dos fi lhos ao limite por alcançar o corpo perfeito... Enfi m, sabemos que temos freios, nas suas mais variadas inten-sidades. Convidamos, portanto, você, leitor, a refl etir se os limi-tes do ser humano são maiores ou menores do que pensamos...

Boa leitura!

Para romperos limites

Fronteiras]Nesta edição de Matéria Prima, optamos por trabalhar com o vermelho como cor prioritária, uma vez que é a cor dos “bricks”, da ação e do movimento.

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8 Os ícones que levam a outros mundos 10 Seu problema é meu20 Os meninos do Vila Velha e o Santo Expedito28 Calceteiro32 É hora do passeio42 Diversão é coisa séria.

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O forte sentimento nutrido por muitos brasileiros pelo futebol é inegável. O fanatismo pode fomentar, porém, paixões controversas e levar torcedores a ultrapassar os limites sociais

ATÉ QUE PONTO VAI

UMA

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REPÓRTER André Almeida FOTOS André Almeida DESIGN Felipe Gomes | Leilane Freitas

2014.1 MATÉRIA PRIMA // 7

PAIXÃO

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jogo por 1 a 0. Perdemos o segundo por 2 a 1, mas a decisão foi para os pênaltis. O Fabiano (goleiro) defendeu duas cobran-ças e conquistamos o inédito tetracam-peonato. Me arrepio só de lembrar”.

Mas, não apenas pela alegria da con-quista ficou marcado aquele 2 de maio de 2010. No mesmo dia, Henri celebrava três anos de relacionamento com a en-tão namorada que, cansada por compe-tir com o Fortaleza pela atenção do ama-do, disse que ele deveria escolher entre sair com ela ou assistir ao jogo. O con-tador justifica a escolha de forma bem humorada. “Ela me mandou escolher: ou ela ou o Fortaleza. Eu falei que conheci o Fortaleza antes dela, então meu amor era maior pelo clube. Ela ficou furiosa e terminou o relacionamento. Mas, não me arrependo. Esse dia valeu a pena”.

“Meu pai é francês, torcedor do Bordeaux. Veio para o Brasil por volta dos anos 80, quando conheceu e casou--se com minha mãe, que não torcia ne-nhum time. Apaixonado por futebol, ele disse que precisava de um time para torcer aqui no Estado. Pelas cores, não teve dúvidas que seria o Fortaleza, e eu o agradeço até hoje”, lembra Henri Bloc.

O amor pelo time do coração já o fez viajar inúmeras vezes para assistir aos jogos do clube. Sócio de carteirinha, não perde uma partida que seja na capital ce-arense. E conta com orgulho o prazer em ter presenciado um dos maiores momen-tos da história leonina. “Não tenho a con-ta de quantos jogos já fui, mas já viajei para acompanhar vários. Alguns eu nun-ca vou esquecer. Um deles foi em 2010, na final do Estadual, contra o Ceará. O time deles estava na Série A e o nosso na Série C. Mesmo assim, vencemos o primeiro

A ansiedade, a alegria, a tristeza, o choro. Infinitas são as emoções senti-das pelos aficionados por futebol em todo o mundo. Ainda mais no Brasil, que de tão identificado com o jogo, passou a ser conhecido como o “País do futebol”. O esporte ganhou tamanha proporção por aqui que passou a ser componente da vida e, por consequência, da cultura dos brasileiros. A paixão pelo futebol, por determinado time ou até mesmo por um único jogador, é capaz de quebrar bar-reiras sociais e unir torcedores de dife-rentes idades, raças, religiões e classes econômicas. Todos com uma só paixão.

O amor pelo futebol se torna aceitável e até óbvio em nosso país. O problema co-meça quando muitos torcedores se tor-nam tão fanáticos por determinado time que o exagero ultrapassa todos os limites.

Abandonar o trabalho e viajar para as-sistir aos jogos do clube em outras cida-des, deixar de vestir roupas com as co-res do rival, discutir asperamwente com colegas, colocando amizades em risco, e, até mesmo, terminar um namoro que já durava anos. Tais atitudes levam a ques-tionar: quais os limites entre a paixão e o fanatismo por um time de futebol? Quando esse sentimento deixa de ser po-sitivo e pode se tornar doença?

UM AMOR INEXPLICÁVELA família toda torce pelo Leão do Pici.

Entretanto, foi a influência europeia que fez com que o contador financeiro Bertrand Henri Bloc, 25, se tornasse tri-color. Filho de pai francês com mãe brasi-leira, o torcedor fala sobre a relação com o vermelho, o azul e o branco, que carre-ga desde o início da vida.

Quando o indivíduo passa a agir irracionalmente e não aceita a opinião de outra pessoa, acreditando que só é verdade aquilo que ele pensa, já é considerado um transtorno obsessivo compulsivoLeonardo Barbosa

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do indivíduo. Porém, em casos extremos, o tratamento para este comportamento obsessivo compulsivo deve ser realizado por meio de terapia psicoterápica.

O maior problema destacado por Leonardo é de que, na visão do torcedor fanático, seu comportamento é normal. “Há uma percepção equivocada. A pessoa não percebe que está investindo excessi-vamente, ou entende isso como algo po-sitivo, normal. É realmente uma paixão que controla a pessoa”, fi naliza.

prejudicar. Não me considero um torce-dor doente. Sou saudável”, brinca.

Porém, nem sempre foi assim. O aca-dêmico de direito, hoje mais tranqui-lo, lembra que já passou por momentos ruins graças ao comportamento como torcedor. “Não cheguei a me meter em nenhuma briga, mas já estive metido em algumas confusões. Foram alguns pro-testos mais exaltados, há uns seis anos, que acabaram de forma violenta. Por pouco eu não me machuquei seriamen-te. Isso me fez refl etir”.

ATÉ QUE PONTO ESSA RELAÇÃO É SAUDÁVEL?

O psicólogo e professor de psicolo-gia da Universidade Federal do Ceará, Leonardo Barbosa Nepomuceno, explica que a paixão pelo futebol é benéfi ca en-quanto a relação é tratada amistosamen-te, como forma de prazer. Entretanto, o excesso pode levar ao fanatismo e desen-cadear outros problemas.

Leonardo Barbosa afi rma que esse sentimento deixa de ser positivo quan-do se torna excessivo, rígido, e pas-sa a restringir a vida do sujeito a um campo específi co. “Isso acontece mui-to com torcedores de times de futebol, mas ocorre também em outras esferas da vida, como na religião, por exemplo. Quando o indivíduo passa a agir irracio-nalmente e não aceita a opinião de ou-tra pessoa, acreditando que só é verda-de aquilo que ele pensa, já é considerado um transtorno obsessivo compulsivo”.

O psicólogo lembra ainda que a melhor maneira de tratar esses comportamentos se dá por meio da forma educativa, para que haja uma modifi cação no pensamento

Após ter sido chamado de louco, do-ente e de ouvir que deveria ser interna-do, o torcedor reconhece que a paixão se tornou fanatismo e que, inclusive, já o prejudicou. Mas não há como expli-car ou deixar de lado esse sentimento. “Reconheço que sou fanático. Já che-guei a perder provas, inventar doença para faltar o trabalho e deixar de fazer coisas importantes para acompanhar o time. Já fi z muitas loucuras. Mas, é um

amor que não tem razão. Não tem como explicar, apenas como sentir”.

O sentimento é semelhante ao do es-tudante universitário Daniel José, 23. Apaixonado pelo maior rival do Fortaleza, o Ceará, ele reafi rma o “amor sem fron-teiras” pelo clube do coração. Entretanto, há uma diferença crucial entre ambos.

Ao contrário de Henri, Daniel põe a ra-zão sobre a paixão. “Sou apaixonado pelo Ceará. Assim como qualquer bom torce-dor, vou aos jogos, contribuo fi nanceira-mente e acompanho sempre o time. Mas procuro não extrapolar os limites. Há uns anos criei a consciência de que, se for muito fanático pelo clube, posso me

Há uns anos criei a consciência de que, se for muito fanático, posso me prejudicar. Não me considero um torcedor doente. Sou saudável

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Redes sociais:USE COM MODERAÇÃOREPÓRTAGEM Ariadne Sousa FOTOS Gleidson Lemos DESIGN Ana Clara Cabral | Eduardo Almeida

Canais para se comunicar, manter contato com os amigos, mas é preciso estar atento para não se expor

Com acesso cada vez mais fácil à internet e dispositivos móveis com câme-ras de alta qualidade, fica difícil resistir aquele simples selfie, não é? Depois da foto perfeita, com os seus devidos efeitos e cor-reções, é hora de postar e esperar as cur-tidas e comentários. Uma atitude que vem se tornando algo do nosso dia a dia.

Um estudo aponta que o internauta bra-sileiro com idade ente 15 e 35 anos possui, em média, sete perfis em redes sociais. A pesquisa foi feita pelo IBOPE/youPIX e entrevistou 1.513 internautas de todos os estados do país, em julho deste ano. O Facebook é a rede mais acessada, seguida por YouTube, Skype e Twitter.

Essa utilização crescente dos sites de re-lacionamento mostra a tendência das pes-soas quererem estar conectadas o tempo todo. Postagens nas situações mais varia-das, em todos os momentos do dia, sobre tudo o que acontece, a rede funciona como um diário virtual, onde fatos do cotidiano são narrados e comentados por todos.

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Você, algum dia, já olhou sua timeline, viu postagens dos seus amigos se diver-tindo e checkins em lugares badalados enquanto estava em casa em um sábado à noite de pijama, e se sentiu no mínimo um pouco triste ou pensou: “Poderiam ao menos me convidar”? Se sim, não pre-cisa se julgar alguém invejoso. Isso é re-sultado da tendência que as pessoas têm de querer mostrar aos outros que têm uma vida perfeita. As redes funcionam como um espelho melhorado ou defor-mado da vida real.

O estudante Rondney Mendonça se confessa um viciado em redes sociais. Ficar desconectado por um dia inteiro, lhe causa incômodo. Ele brinca ao falar sobre como se sente ao ver que uma foto ou postagem sua recebeu uma atenção

maior dos outros usuários. “Acaba sendo um pequeno afago no meu ego. Gosto dis-so e acho normal do ser humano, gostar de agradar, de ser aplaudido”.

Recentemente, o estudante se deu conta de que toda sua vida estava à mos-tra. Quem quiser saber os lugares que costuma frequentar, seus amigos mais próximos, sua família e trabalho, bas-ta olhar seu perfil no Facebook. “Estou tentando ponderar melhor o que posto sobre minha intimidade. Percebi que eu vinha me expondo demais e isso não é saudável”, completou.

O psicólogo Márcio Acselrad desta-ca a importância desse tipo de espa-ço para a interação e manifestação do pensamento dos indivíduos. Como du-rante muito tempo as mídias de massa, rádio, TV e jornal eram hegemônicos,

Hoje as pessoas podem se manifestar da forma que desejarem e ainda estão se acostumando com essa plataformaPsicólogo Márcio Acselrad

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as possibilidades do cidadão comum se expressar eram bastante reduzidas ou quase inexistentes. Para ele, a internet abriu uma possibilidade inédita de co-municação. “Com toda esta demanda reprimida, hoje as pessoas podem se manifestar da forma que desejarem e ainda estão se acostumando com essa plataforma”.

Além do famoso selfie, que nada mais é do que uma foto de si mesmo, outros tipos de postagem estão na moda e já fazem sucesso no mundo virtual. Um deles é o braggie, que é publicar uma foto com o objetivo de provocar inveja nos amigos ou nos seguidores. São tira-das de preferência em praias, baladas e lugares famosos. Outro queridinho é o belfie. A palavra é uma mistura de selfie e butt, que em português significa bum-bum, e é o que o nome sugere, uma foto do próprio bumbum.

Para o sociólogo Nelson Campos, o comportamento narcisista pode explicar os excessos na rede. É na tentativa de se mostrar como alguém feliz, amado, bo-nito e bem sucedido que muitos perdem

a noção de até onde sua vida deve ou não ser mostrada.

Mesmo se declarando como alguém que não gosta de sites de relacionamen-to, Nelson destaca que, para ele, o pro-blema não está nos aparelhos, mas no uso que as pessoas fazem deles. Para o sociólogo, eles devem ser usados para aproximar as pessoas e não para afas-tar. Ele sugere que as pessoas devem se perguntar o porquê do uso demasiado desses dispositivos. “Saber se é carência afetiva, desejo de se expressar ou de se comunicar é importante para perceber se seu comportamento está respeitando sua própria privacidade”.

As redes sociais são um universo re-lativamente novo, e é normal que exis-tam dúvidas quanto ao o que é aceitável ou não, ao que é interessante ou de mau gosto. Não há como calcular exatamente o que é excessivo ou ideal. Essa noção é individual. Cada pessoa tem uma relação diferente com o conceito de privacidade. Na falta de um medidor externo, o que deve prevalecer é o bom senso.

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REPORTAGEM | FOTOS Beatriz Rocha DESIGN Maiane Almeida | Gabriela Rolim

Limites mais sociais do que físicos fazem com que pessoas com de� ciências não consigam mostrar bem suas capacidades e vantagens

de fato é

Nem tudo o que a maioria pensa ser

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de fato é

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Quando não se conhece algo ou não tem interesse de saber mais sobre determinado assunto, as pessoas ten-dem a criar seus próprios conceitos e suposições. Quando se trata de doenças e diferenças genéticas, não é diferente. Limites impostos que, em partes, po-dem ser “mais psicológicos do que re-ais”, segundo o psicólogo e médico es-pecialista em inclusão e exclusão social, José Pinheiro.

“Há alguns anos a inclusão social para pessoas defi cientes vem crescendo. Antes existiam barreiras físicas, mas hoje as maiores barreiras são as sociais, as opiniões”, destaca José Pinheiro. De acordo com o psicólogo, essa motivação oferecida através de programas sociais, associações especiais, oportunidades de emprego em várias empresas do Brasil, ajudam no tratamento dessas pessoas, tornando-as mais confi antes e capazes de realizar atos e tarefas que antes acha-vam difíceis ou até quase impossíveis.

Clara Fontes, uma dona de casa de 36 anos, é mãe de Claudiane, uma criança de 6 anos que tem síndrome de down. De origem humilde, Clara confessa que pas-sou por difi culdades para criar sua fi lha, não só por problema fi nanceiros, mas também por difi culdades encontradas por parte de outras pessoas, como pro-blemas na adaptação de colégios, limites encontrados devido à síndrome. “Eu não possuo dinheiro pra pagar médicos que acompanhem o tratamento dela nem pra pagar instituições particulares, mas na escolinhada rede pública que ela estuda as professoras e a direção fazem de tudo pra que ela se sinta bem. Minha fi lha me-lhorou muito, hoje ela fala mais certinho e sempre está sorrindo”, comenta a mãe emocionada. “A coisa mais linda é ver ela sorrir, feliz porque aprendeu coisa nova e querendo ensinar aqui em casa o que viu na escola”, fi naliza.

A síndrome de Down é causada por um acidente genético que ocorre no momento da concepção em 95% dos casos. Pessoas com a síndrome têm

características físicas semelhantes, e embora apresentem defi ciências intelec-tuais e de aprendizado, são pessoas que estabelecem boa comunicação e também são sensíveis e interessantes. Segundo especialistas, dependendo do estímulo dado a essas pessoas durante a infância, a tendência é o melhor aprendizado e de-senvolvimento intelectual delas.

Associações focadas em tornar me-lhor a inclusão de pessoas sociais na sociedade, existem e tentam auxiliar nesse processo. Uma delas é a Existir, Associação Inclusiva de Fortaleza, que surgiu em 2001, por iniciativa de um grupo de pais de crianças com síndro-me de Down, com o propósito de dar apoio e suporte a essas crianças. O di-retor-presidente João Manoel, é pai de um garoto com síndrome de Down e de-monstra o orgulho que possui da asso-ciação. “Tenho muito orgulho de fazer parte de um projeto assim, que visa só o melhor para o futuro das nossas crian-ças”, afi rma João Manoel.

Outro caso pouco conhecido, porém julgado por grande parte da socieda-de é o nanismo. De acordo com José Pinheiro, a discriminação contra anões ainda é grande e, de certa forma, esti-mulada por veículos de comunicação. “Existem programas de televisão que mostram o anão como alguém digno de risadas, com brincadeiras e zomba-rias em relação ao tamanho, à diferença genética, fazendo piada com problemas sérios”, ressalta o psicólogo.

Mesmo com o preconceito de uma parte da sociedade, a outra parte apos-ta em pessoas defi cientes, dando chan-ces e acreditando no potencial de cada uma. O mercado de trabalho aumentou para pessoas com defi ciência e é pos-sível ver isto no dia-a-dia. Benedito Rocha tem 29 anos e trabalha com pro-dução de eventos. Ele afi rma ter sofri-do preconceito e ter passado por situa-ções decepcionantes devido a sua baixa estatura e sua diferença em relação ao restante da população, mas destaca que hoje não se deixa abater mais. “Já per-di namorada, chances de emprego e fui zombado desde jovem. Eu reconheço que meu 1,42 metro tem certas limita-ções, mas o que são os limites? Eu posso ultrapassá-los se eu quiser, só depende de mim”, afi rma.

Analisando ambientes públicos pode--se perceber que ainda existem difi cul-dades encontradas por defi cientes tanto fi sicamente quanto “ideologicamente”, por parte da sociedade, mas também é fácil de notar as mudanças existentes. Maiores chances de empregos, cresci-mento de atletas defi cientes nos espor-tes, locais personalizados, maior cons-cientização das pessoas, ônibus com locais especiais, táxis, restaurantes, exemplos de pessoas especiais traba-lhando em televisão.

Nelson Silva, 30 anos, é empresário e teve uma perna amputada há 3 anos. “Mesmo com as diferenças nós somos iguais. Uns podem fazer certas coisas com mais facilidade, outros não. Mas os limites existem pra quem os deixa exis-tir. Eu não deixo não”, fi naliza.

A coisa mais linda é ver minha filha sorrir, feliz porque aprendeu coisa nova e querendo ensinar em casa o que viu na escola Clara Fontes

Mas o que são limites? Eu posso ultrapassá-los se eu quiser Benedito Rocha

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É A ÚLTIMA DOSE,

JURO!REPÓRTAGEM Camila Menezes FOTOS Gleidson Lemos DESIGN Brena Gomes | Lara Veras

Quantos jovens falam essa frase e a cumprem? A realidade é que muitos dos jovens que entram no mundo do alcoolismo nem sempre conseguem largar o vício

O tempo passa e uma se repete: jovens frequentando festas, e o pior de tudo, ficando bêbados e inconscientes, e pior de tudo, causando sérios proble-mas para a sociedade e para si. Muitos vão a esse tipo de evento desde muitos jovens, e, mesmo quando têm censura, sempre encontram de uma forma de bur-lar o acesso.

No Brasil a venda de bebidas alcoóli-cas para menores de 18 anos é proibida. Mas mesmo com essa restrição, ainda é possível fazer a compra desses produtos. O “primeiro gole” é, na maioria das ve-zes, influenciado por amigos, para pas-sar uma imagem de “pegador” ou coisa do tipo. Muitos chegam até a tirar piada

pelo fato de não beberem, ou nunca te-rem tomado um porre na vida.

A questão é: até que ponto esses jovens “enchem a cara” em uma festa? Será que eles sabem a hora de parar, ou não? Para alguns, o limite é quando perguntam para si se possuem condições para cha-mar um táxi ou ir dirigindo até chegar a casa. Para outros, o limite é quando sim-plesmente apagam ou vomitam.

O motoboy Cleyton Monte, 30 anos, diz que consome álcool desde muito jovem e sempre toma nos finais de semana, que é quando não trabalha. “Quando começo a beber, não consigo parar. Digo que é a sai-deira, mas continuo bebendo sem parar.Paro de beber não sei nem como, acho que é quando durmo(Risos). Já cheguei a beber

muito certa noite, e quebrar tudo em casa. Foi nesse dia que eu parei para refletir que deveria pegar mais leve na bebida”.

Para George Liberato, administrador de um dos escritórios de serviços locais de Alcoólicos Anônimos no Ceará, lem-bra que muitos nascem com essa tendên-cia para o alcoolismo, pelo fato que os filhos crescem vendo seus pais bebendo. Quando adultos, começam a beber com os pais, e por aí vai.

Liberato diz que muitos desses jovens apelam para a bebida, para se sentirem mais livres, para ter coragem, ficarem mais danados, ou, como em muitos dos casos, somente por curiosidade. Por ser um ex-alcoólatra, ele recorda que, quando era jovem, bebia para que assim

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pudesse ter coragem para paquerar com as garotas e chamá-las para dançar. Para as mulheres, não é muito diferente. Bebem para ficar mais vistas, para cha-

mar atenção, achando que sob o efeito do álcool elas podem mostra-se mais, cha-mando a atenção dos homens.

Ele também comenta que o caminho do alcoolismo é uma faca de dois gumes, se deixa levar, pode-se chegar a um está-gio avançado. Terá como consequências

complicações, na vida social, há casos em que jovens chegam a ter que largar faculdade e também o trabalho para se tratar, em muitos não procura a devida ajuda, ou nem mesmo sabe a quem pro-curar para se tratar.

O estudante Max Rodrigues, 22 anos, acredita que a maioria não sabe o limi-te, e são pouquíssimas pessoas que têm essa noção. Para ele, quando a pessoa é mais nova não tem a noção em relação ao consumo do álcool e não imagina que quando ficar mais velhos, pode virar um verdadeiro alcoólatra.

A psicóloga do CAPS Álcool e Drogas da Regional III, Dr. Micaela Farias, fala que muitos dos casos do alcoolismo en-volvendo jovens está relacionado em ten-tar se livrar da timidez. Cabe a família orientar desde o início. Se no seu lar a criança cresce vendo seus familiares reunidos, ingerindo esse tipo de bebidas, consequentemente, essa criança no futu-ro pode virar um consumidor do álcool.

Micaela também comenta que, por mais que o jovem consuma o álcool com freqüência, geralmente todos os fins de

semana, ele não se considera um depen-dente, e os efeitos desse tipo de consumo descontrolado só terá grandes efeitos na fase adulta, como por exemplo, após os trinta anos.

Ela ressalta que o acompanhamento é feito com jovens à partir dos dezoito anos de idade. Dependendo do caso, é enca-minhado para uma psiquiatra, quando tendo a necessidade de medicação. Os pa-cientes também são encaminhados para os grupos como o Alcoólicos Anônimos, mas conhecido como AA.

A doutora fala que se o paciente pas-sar por todas essas etapas, fazendo o tra-tamento regularmente, dependendo do profissional, o próprio paciente pode se dar alta, mas sempre tendo uma revisão com uma freqüência reduzida, pois eles estão dispostos a ter uma recaída.

Cabe a cada um saber seu limite, ou pelo menos, buscar o seu, pra que assim as conseqüências não sejam tão desas-trosas e ter uma sociedade onde se for-mam futuros alcoólatras. u

Quando começo a beber, não consigo parar. Digo que é a saideira, mas continuo bebendo sem parar.Paro de beber não sei nem como, acho que é quando durmo (risos)Cleyton Monte

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ENTRE O DESCONHECIDO E O PRECONCEITO

UMBANDA: O LIMITE

REPÓRTAGEM Gustavo Freitas |FOTO RAIZESDEUMBANDA.COM DESIGN Janaina Ramos e Sâmia Maia

A internet e suas possibilidades implantam barreiras na oferta do conteúdo do impresso e o ameaçam em diversas frentes

Edla Moura, 29 anos, frequen-ta regularmente, há um ano, reuniões em centros de umbanda. Movida pela curiosidade, decidiu conhecer uma nova religião, mesmo com todos os li-mites impostos por uma criação predo-minantemente protestante. Para Edla, foi libertador a busca por conhecer algo que causou, em primeiro momen-to, repulsa.

Nas primeiras reuniões houve “es-tranhamento inicial”, visto que, na-turalmente toda a carga religiosa ad-quirida entre evangélicos lhe traziam pensamentos de repulsa e negação. Tornar pública a escolha de conhecer a umbanda foi algo difícil, pois para ela, a sensação de religião marginalizada ficou bem evidente com a quantidade de críticas recebidas quando externa-va. “A desinformação é o pior e maior

obstáculo que limita ao conhecimento da umbanda”. Ela acredita que, assim como foi difícil se permitir, o maior li-mite que é imposto, mesmo que incons-cientemente, é ligar a umbanda ao sa-tanismo, fruto mais uma vez da falta de conhecimento do assunto.

Existe no Brasil um distanciamento das religiões de matrizes africanas devi-do à forte associação com rituais de ma-gia negra, que mostra claramente que

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existem dois problemas que precisam ser resolvidos. Como fatores históricos, destaca-se primeiro a conotação racista e excludente, resquício de uma cultura escravagista, uma vez que era utilizada pelos brancos para identificar os rituais praticados por negros escravos do tem-po do Brasil colônia. Segundo, ao reco-nhecimento, pelo Estado brasileiro, do catolicismo como única religião oficial.

Com um contingente de pouco mais de 407 mil pessoas, por que existem tantos preconceitos acerca dessa reli-gião? O fundamentalismo religioso, que segue na contramão dos direitos huma-nos, e o desconhecimento da umbanda são fatores que, somados à falta de re-presentatividade destes grupos pelo poder público a torna vulnerável quan-to ao crescimento entre os brasileiros e agridem todos os princípios consti-tucionais do Brasil como Estado laico.

Para Solange Maria Soares, da Casa de Oração Rei Salomão, a laicidade do Brasil é, sozinha, uma grande contradi-ção, uma vez que, em um país de múlti-plas miscigenações não pode ter apenas uma religião monoteísta como oficial.

Isto é, segundo Solange, negar a pró-pria miscigenação, característica forte do Brasil. Para ela, o termo “oficial” já desperta um desinteresse e é algo que dificulta a inserção de novos adeptos..

A mesma opinião é compartilhada pelo Sr. Sângelo dos Santos Ferreira, pai de santo, responsável pelo Centro de Umbanda Pai Luiz de Angola e Caboclo Ubirajara, que visualiza que, além da questão da oficialização da religião bra-sileira, existe uma forte deficiência de representantes da Umbanda no âmbito legislativo, que apresenta uma banca-da evangélica forte, sendo hoje uma das mais reacionárias quanto aos avanços da umbanda.

A desinformação é o pior e maior obstáculo que limita ao conhecimento da umbanda”Edla Moura.

como o pai, Jesus Cristo como filho, juntamente com o Espírito Santo.u De acordo com dados divulgados em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que em 2010, 0,3% da população brasileira seja adepta da Umbanda, sendo a Região Sul a que possui maior concentração: 0,6%. Fortaleza possui, de acordo com o IBGE, 5765 adeptos da umbanda.

A cabula e o candomblé foram as re-ligiões trazidas da África que são as ra-ízes da umbanda. Para os umbandis-tas, as entidades espirituais ou guias povoam o universo e, através do mé-dium, essas entidades conseguem, pela incorporação, contato direto com o ho-mem. Pomba gira, caboclo e preto ve-lho são alguns desses guias.

Certos elementos da umbanda se misturam com elementos catolicistas, visto que para os umbandistas, a ori-xá Iemanjá é representada no catolicis-mo por Nossa Senhora da Conceição. Já Oxalá, que, para os adeptos da umban-da, é a divindade que criou a humanida-de e para os católicos está representa-da pela figura da trindade, sendo Deus.

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Todos sentimos medo na vida. Alguns mais bobos, outros mais sérios, mas cada pessoa sente as pernas tremerem só de pensar em um determinado animal ou situação. O medo é uma das caracterís-ticas centrais do ser humano e serve de proteção em momentos de risco. Porém, algumas pessoas sentem tanto medo que acabam prejudicadas por esta rea-ção. Quando isso acontece tem-se o diag-nóstico de fobia, um medo excessivo que deixa de ser normal e vira prejudicial a quem o possui.

Ele surge na presença de um determi-nado objeto ou na antecipação de uma situação. Ao ser confrontada com aquilo que lhe causa temor, a pessoa pode ter as mais diversas reações como ficar pa-ralisada, suar frio ou até sair correndo e gritando.

Existem vários tipos de fobia, desde as mais comuns, como a aracnofobia

(medo de aranha), até as mais esquisitas, como a hidrofobia (medo de água). Mas, e quando a pessoa tem medo de sentir medo? Nesse caso, temos a síndrome do pânico que “não necessariamente surge de algum trauma vivido. Uma vida elétri-ca, estressante e cheia de preocupações é que seria o trauma dessa síndrome”, ex-plica Olinda Braga, psicólogo e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A síndrome do pânico é o transtorno de ansiedade mais comum da atualidade, isso por causa da sociedade causadora de estresse em que se vive. O principal sen-timento do portador dessa síndrome é o medo: de passar mal, de não conseguir pedir socorro, de morrer etc. O paciente tem tanto temor que começa a se sentir mal de verdade. Tem tremores, asfixia, os batimentos cardíacos aceleram, a pes-soa sente como se fosse enfartar e chega até a desmaiar.

QUANDO O

MEDO VIRAD O E N Ç A

Sentir receio de algumas coisas é normal mas, algumas vezes, essa sensação �ca incontrolável e passa a prejudicar a saúde de pessoas diagnosticadas com fobia, ataques ou síndromes do pânico

REPÓRTER Gabriela Neres FOTOS Pintura O Grito de Edvard Munch DESIGN Janaina Ramos | Sâmia Maia

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QUANDO O

MEDO VIRAD O E N Ç A

Tanto os vários tipos de fobia como a síndrome do pânico são medos que atra-palham a vida social do paciente, seus re-lacionamentos e até, em situações mais extremas, a saúde. “As doenças psicosso-máticas, aquelas que tem seu princípio na mente, se instalam facilmente aí. É co-mum que nesses quadros de ansiedade as pessoas desenvolvam problemas respi-ratórios, na pele, no intestino, gastrite, úlcera ou até um câncer no estômago”, esclarece o professor Olinda.

Tratamento

O acompanhamento de um psicólo-go, através de uma terapia, é o principal tratamento para os vários tipos de fobia, transtornos e para o controle da síndro-me do pânico. O uso de remédio é indica-do em situações mais graves.

No caso de medos excessivos, o enfren-tamento daquilo que causa temor é um dos tratamentos feitos porque acredi-ta-se que quando você confronta o que lhe causa medo a tendência é que ocor-ra a superação dele. “Mas é um processo muito lento. É preciso ter cuidado por-que não é um enfrentamento feito sem nenhuma previsão ou elaboração”, aler-ta Olinda.

Medo na vida real

Há mais de 20 anos a síndrome do pâ-nico é a realidade de Maria Elenilza, 50. Ela foi diagnosticada com o transtorno após sair de um casamento onde sofria, junto com as duas filhas, agressões ver-bais e físicas.

Elenilza sentia medo de que o marido a matasse por causa das ameaças cons-tantes. As filhas também já estavam com traumas psicológicos e foi por causa de-las que buscou um psicólogo, começou a ir para a análise e recebeu o diagnóstico de síndrome do pânico.

“Eu sentia tanto medo de que ele fi-zesse algo com a gente que passava mal.

Corria pro hospital com a sensação de que ia ter um enfarto, sufocada. Quando eu chegava lá entrava em pânico porque sentia como se fosse morrer antes de al-guém me atender. Muitas vezes eu des-maiei porque a falta de ar e o medo eram demais”, relata.

Com medo de se sentir mal na rua, Elenilza começou a evitar sair de casa. Aos poucos, ela começou a ter problemas de saúde. Tosses alérgicas, que sempre pioravam diante de situações que lhe

causavam ansiedade, surgiram de ma-neira agressiva.

Mas, todo o quadro piorou quando sua filha mais nova sofreu uma tentativa de violência sexual. Nessa época, as visitas de Elenilza aos hospitais com graves cri-ses de alergia e da síndrome do pânico eram constantes. Por muitas noites ela não dormia por causa da sensação de sufocamento, as idas ao psicólogo pare-ciam não fazer mais efeito e elas deixa-ram de ir.

Hoje, Elenilza consegue viver um pou-co mais tranquila. As crises de síndrome do pânico já não são mais tão frequentes, aparecem apenas diante de situações de grande estresse e preocupação, mas ela ainda pensa procurar novamente um psicólogo. “Eu consigo viver com esse medo que parece uma fera adormecida em mim. As vezes ainda sinto falta de ar,

o coração acelerado e as mãos tremendo mas ai eu oro e tudo passa. Achei meu remédio em Deus”, conta aliviada. Maria Elenilza

Já Juliana (nome fictício), 25, foi diag-nosticada com fobia social – medo exces-sivo de estar em público, se expor e ser julgado – aos 16, mas o problema come-çou ainda na infância. A mãe super pro-tegia a menina e o pai era alcoólatra. Na escola, Juliana sentia medo de falar na frente dos colegas, de errar e ser julgada. Logo, os amigos começaram a se afastar.

Aos 10 anos, ela começou a fumar e na adolescência a situação só piorou por-que os pais não davam a atenção ne-cessária à filha. Por se sentir sozinha, Juliana tentou suicídio algumas vezes. O medo atrapalhava na alimentação, ela ficava sem comer quando estava longe da família e um problema de úlcera apareceu. Em locais com muitas pes-soas ela suava frio e tinha taquicardia. “Quando eu estava perto de muita gente sentia como se fossem monstros que-rendo me pegar”, conta.

Quando Juliana completou 16 anos a mãe percebeu que a situação tinha se agravado e a levou em um psicólogo. Durante dois anos ela fez tratamento e tomou remédios para tratar a ansieda-de. Hoje, Juliana está curada de sua fo-bia e cursa psicologia. “Meu problema e o bom acompanhamento que tive me in-fluenciaram a seguir essa profissão. Hoje eu me sinto uma vitoriosa e agradeço à minha mãe e à Deus por isso. Fobia é um atraso de vida”, relata aliviada.u

Eu consigo viver com esse medo que parece uma fera adormecida em mim. As vezes ainda sinto falta de ar, o coração acelerado e as mãos tremendo mas ai eu oro e tudo passa. Achei meu remédio em DeusMaria ElenilzaEdla Moura.

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até aonde vai

VOZ,

REPÓRTER Glenna Cherice FOTOS Wesley Lima DESIGN Felipe Gomes| Leilane Freitas

A voz é um som produzido pela vibração das cordas vocais. No entanto, quando estas são mal usadas surgem problemas como nódulos e pólipos

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REPÓRTER Glenna Cherice FOTOS Wesley Lima DESIGN Felipe Gomes| Leilane Freitas

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Cantar e falar, para alguns, diver-são, para outros, profissão. No banho, ou durante o engarrafamento, ao telefone ou em sala de aula. O uso da voz exige comportamentos vocais que, não reali-zados corretamente, desencadeiam pro-blemas futuros.

As atividades profissionais que exi-gem um esforço maior das cordas vo-cais como cantores, jornalistas e pro-fessores devem ter um preparo, de acordo com Natália Peter, fonoaudió-loga. “É preciso ter um cuidado porque existem várias patologias relacionadas ao abuso vocal como nódulos vocais e pólipos, causados por conta do mau uso da voz”, disse.

A respiração é outro comportamen-to exigido ao profissional da voz. “O não respirar bem provocará uma má qualida-de vocal”, afirma a fonoaudióloga.

O limite da voz, tanto cantada, quan-to falada varia de pessoas para pessoas, de acordo com Jaime Júnior, 35, regen-te de coral, formado pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA). Com sua experiência musical, ele afirma que, a fala estabelece o limite que alguém pode cantar. “Geralmente pela fala é

possível identificar o limite vocal que a pessoa suporta”, diz.

Segundo o regente, as quatro vozes mais conhecidas e usadas em coral são: soprano e contralto, (vozes femininas), tenor e baixo (vozes masculinas). A téc-nica realizada para diferenciar o limi-te alcançado pelo coralista é feita com o auxilio de um instrumento musical.

Embora existam aqueles que têm di-ficuldades para alcançar limites ex-tremos, há outros com facilidades em ir além, que Jaime classifica como dom vocal. No entanto, para o regente, o ideal é juntar o dom com a técnica. Ou seja, além da facilidade é preciso estu-dar para aperfeiçoar as técnicas vocais.

Lydia Neuman, 23, pedagoga, desde cedo começou a cantar. Aos 5 anos, seus pais a colocaram em uma escola de mú-sica em Natal, no Rio Grande do Norte (local onde família morava). “Fui matri-culada em um projeto de musicalização para crianças, chamada também de ini-ciação musical infantil, na universidade de Natal”, afirmou a pedagoga.

O treino com a voz, desde pequena, fez Lydia reconhecer sua facilidade para conseguir cantar. Mas ela sabe qual seu limite e procura não ultrapassá-lo.

Mesmo com técnica e treinamento, Lydia já passou por problemas na voz. “Segundo o laringologista já tive nódulos nas cordas vocais, mas nunca mais voltei para ver se tinha melhorado ou não. Fiquei com medo dele dizer que não poderia can-tar”, conta.

Técnica VocalCantar e falar requer disciplina e

força de vontade. No entanto, para evitar problemas com a voz o ideal é seguir as técnicas geralmente utiliza-das pelos regentes e fonoaudiólogos.

Para cantar bem, Jaime aconselha ou-vir músicas que condicionem o corpo a se acostumar com o ritmo. “Ouvir CDs orquestrais possibilita a identificação dos diversos timbres (característica so-nora que nos permite distinguir sons da mesma frequência) dos instrumentos, além de identificar a melodia”, afirma. Além disso, para o regente, beber água com equilíbrio de temperatura, fazer alongamentos que exercitem os múscu-los faciais eliminam problemas com a voz na hora de cantar.

Higiene vocal é uma atividade que pode auxiliar o uso com frequente da fala. “Beber água com frequência aju-da a lubrificar as pregas vocais. Não importa a quantidade, mas o tempo em que a ingestão é feita”, aconselha Natália.

De acordo com a fonoaudióloga, evitar alimentos gordurosos que desencadeiam problemas estomacais como refluxo, rou-quidão e pigarro, também pode auxiliar o profissional da voz a evitar o abuso vocal.

O que parece abstrato torna-se real quando a função vocal é desempenha-da. É com a voz que se tem o cantar, o fa-lar, o gritar, o chorar. São várias as ações que a envolvem no dia a dia. No entanto, saber o limite e cuidar para que ele seja respeitado pode oferecer conforto e pra-zer na transmissão desse som.

É preciso ter um cuidado porque existem várias patologias relacionadas ao abuso vocal como nódulos e pólipos, causados por conta do mau uso da vozNatália Peter

Ouvir CDs orquestrais posibilita a identificação de diversos timbres dos instrumentos além de identificar a melodiaJaime Júnior

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ENTRE O REAL E O VIRTUALPARA ALÉM DA DUALIDADE

REPÓRTAGEM|FOTOS Gustavo Freitas DESIGN Ana Clara Cabral | Eduardo Almeida

A internet e suas possibilidades implantam barreiras na oferta do conteúdo do impresso e o ameaçam em diversas frentes

Em contraponto às possibili-dades tecnológicas, da informação em vídeos, fotos, áudios e outros que facili-tam o entendimento e a imparcialidade do conteúdo (conforme as edições apli-cadas), o impresso parece obsoleto. Para os jornais, não há crescimento para ou-tra dimensão, não há possibilidade de uma animação, não há como direcionar o leitor para o conteúdo complementar hospedado em outra página, tampouco dar a ele uma variedade de imagens.

Muitos teóricos da comunicação, bem como os próprios jornalistas, fa-lam sobre o fim dos impressos. Outros, não tão extremistas, apontam para um enfraquecimento. Alguns, no entanto, mostram que ainda é possível a perma-nência da primeira mídia, mesmo com o entusiasmo acerca das novas tecno-logias e das ferramentas que só as ver-sões virtuais oferecem. O impresso re-sistiu ao rádio e à TV e ficou conhecido por pautá-los. Mas, desde o início deste

Como diria Marx, esse debate é uma questão dialética. Sempre vão existir pontos positivos e negativos e os dois extremos convivem e se completam

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século, ele começa a ameaçar a si mes-mo pela sua limitação em possibilida-des e urgência frente à internet.

Para o papel, há muros claros. Mas, para a criatividade, não. E é por meio dela que os impressos vêm se reinven-tando e levando o Brasil à contramão de outros países, como Espanha, República Tcheca e Romênia, onde a queda da cir-culação chega até 40%. O Instituto de Verificação de Circulação Brasileiro (IVC) aponta que, após dez anos de crise no impresso entre 2000 e 2010, houve um crescimento de 1,8% de consumo, no ano de 2012, em comparação ao ano anterior.

A editora e diretora responsável pela revista Cult, Daisy Bregantini, diz que o papel é mais propício quando o conteúdo é mais sério. O suplemento cultural de distribuição nacional só tem crescido, se-gundo Daisy. “A Cult não é uma revista de entretenimento. Valoriza textos longos, reflexivos, não publica matérias factu-ais e perecíveis. É uma revista de pesqui-sa com vigor acadêmico. O papel é mais indicado, adequado, desejado”, destaca.

Através do que é apontado por Daisy, as limitações do papel são supridas pela seriedade que ele dá ao conteúdo. Consistência, firmeza no discurso. Já o professor da rede estadual de educação, Anderson Pio, acredita que o método pelo qual o ensino é realizado determina a preferência ao meio. Para ele, a men-sagem não é a questão. “Eu uso muito as informações virtuais, mas prefiro o pa-pel. Sou das antigas. Gosto de riscar, fazer anotações. No digital, é possível, mas não é a mesma coisa. Acredito que isso acon-teça devido a minha formação. Bem dife-rente dos meus alunos, que já nasceram mergulhados nas tecnologias”, comenta.

A discussão entre os limites do papel vai bem além do que o meio palpável pode oferecer. Dentro desse amplo de-bate, todos os pilares do jornalismo en-tram em questão. Sempre haverá quem defenda e quem fale mal. Para a estudan-te de Ciências Sociais, Laís Cordeiro, se vê no livro uma proximidade com o conte-údo, uma relação pessoal que favorece o

entendimento. Chega a ser uma relação afetiva. Já o virtual, para ela, é que impõe limites e se apresenta de forma impesso-al. Mesmo assim, a estudante não deixa de apontar as qualidades do conteúdo transmitido em pixels. “Esses materiais virtuais também têm suas qualidades. São mais acessíveis, práticos, univer-sais... É mais fácil eu te mandar um link de uma revista ou livro, do que me des-locar ao seu encontro só para entregar o material”, aponta Laís, antes de lamen-tar o enfraquecimento do encontro en-tre pessoas, fato que tem as plataformas digitais como catalisador.

O editor do satírico Diário da Dilma na Revista piauí, Renato Terra, diz que, mes-mo a revista sendo uma das que ainda resistem em apresentar uma versão di-gital, procura-se hospedar os conteúdos publicados num site na internet. Alguns públicos, outros acessíveis apenas à as-sinantes. Tanto para a Cult, quanto para a piauí, é inegável reconhecer a necessi-dade de se adaptar à realidade digital, embora as duas tenham como parte de sua essência os usos do papel. De acor-do com Terra, a leitura online é mais uma possibilidade ao assinante, não um interesse direto em migrar. Ambas as

Eu uso muito as informações virtuais, mas prefiro o papel. Sou das antigas. Gosto de riscar, fazer anotações. No digital, é possível, mas não é a mesma coisa. Acredito que isso aconteça devido a minha formação. Bem diferente dos meus alunos, que já nasceram mergulhados nas tecnologiasAnderson Pio

revistas, às quais a Matéria Prima en-trou em contato, anunciam novidades para plataformas digitais em 2015. Mas nada concreto ainda. É válido ressaltar que a revista piauí, por exemplo, é famo-sa por seus longos textos e de repertório bastante apurado. O formato jornalísti-co para internet está à contramão dessa proposta. O que poderia gerar uma perda de identidade.

A estudante Laís Cordeiro faz ainda um paralelo entre a temática colocada em questão na entrevista e o conteúdo estudado por ela ao citar que, como diria Marx, esse debate é uma questão dialéti-ca. Sempre vão existir pontos positivos e negativos e os dois extremos convivem e se completam. “Acredito ser preciso ob-servar o sentido do uso do jornal, do li-vro, da revista de forma individual. O in-terlocutor é quem determina aquilo que o satisfaz. Sempre haverão defensores das duas vertentes”.

A dualidade é real. Até mesmo os fãs por periódicos e livros reconhecem a impossibilidade de armazenamento de tanto conteúdo e informação. O psicó-logo e missionário alemão no Brasil, Alfred Niedermaier, diz que, mesmo sendo apaixonado pela leitura mati-nal dos jornais e por arquivar matérias que poderão ser usadas posteriormente ou que o tenham despertado interes-se, reconhece que, especialmente hoje, é difícil de guardar tudo. “Os HDs e a 'nuvem (plataforma de armazenamento online)' são grandes atrativos. Sem con-tar que, quando viajo, só preciso levar meu tablet. Com esses aparelhos, acre-dito também que a informação tenha ficado mais democrática”, acrescenta.

É impressionante que o consumo do papel mantenha-se firme. Seja ele em jornais ou em livros. Quando se inicia um debate sobre “o que é melhor”, difi-cilmente chega-se a um consenso. Além das questões econômicas, da praticidade, das possibilidades, haverá ainda as ques-tões afetivas, o contato, a relação subjeti-va ou objetiva, conforme o olhar daquele que busca a informação.

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A ESPERA DA MEDICINA

REPÓRTAGEM|FOTOS Janaina Flor DESIGN Darlan Araújo | Isabella Vasconcelos

Quando o sonho de ser aprovado em medicina, o curso mais concorridos do país, demora muito e pode prejudicar o estudante

O curso de medicina é o mais con-corridos do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e um dos mais concorridos de to-dos os vestibulares do País. Para ser aprovado e exercer, futuramente, a pro-fissão do sonhos, muitos jovens dedicam anos estudando e tentando entrar na fa-culdade, mas tanta espera pode prejudi-car o estudante.

Daniel Brandão,30, dá aula em cur-sinhos preparatórios para o vestibular há 12 anos e afirma que “os alunos que

passam mais tempo persistindo na apro-vação, sem dúvida, são os que estão con-victos de que querem cursar medicina”.

“Em todo esse tempo, percebi que aqueles que estão tentando vestibu-lar ou qualquer concurso pela primei-ra vez, ou até mesmo a segunda vez, são os que mais passam. Aqueles que estão há muitos anos tentando, dificilmente passam no curso desejado, pois devem ter algum problema com o modo que estão operacionalizando seus sonhos.

Então acredito que seja prejudicial ten-tar tantas vezes e não passar”, conta o professor.

Segundo o MEC, em pesquisa realiza-da em janeiro deste ano, para ingressar em algum curso de medicina no país, o estudante concorre a uma vaga com cer-ca de 60 vestibulandos.

Brenda Fernandes, de 22 anos, bus-ca nos vestibulares o sonho de cursar medicina. A estudante já conseguiu ser aprovada em outros cursos, mwas não

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abandona a possibilidade de ser uma fu-tura médica.

Estudando em casa, Brenda vai tentar pela terceira vez ingressar no curso de medicina. “Esse tempo não me foi dano-so de forma alguma, só me deu mais con-vicção sobre o que, de fato, desejo cur-sar”, conta. Contudo, ela já tem planos de fazer cursinho caso não passe em ne-nhuma universidade.

A jovem não acha que seja prejudi-cial tentar muitas vezes a aprovação no mesmo curso, mas pensa que a pres-são social é o que realmente atrapalha. “Honestamente, a pressão colocada em cima dos adolescentes recém saídos da escola para que escolham a carreira e prestem vestibular o mais cedo possível é o que prejudica”, conclui.

Você precisa definir o curso que quer, se tem aptidão e se tem a coragem de se sacrificar por um sonhoNátali Vieira, ex vestibulanda de Medicina

Os alunos que passam mais tempo persistindo na aprovação, sem dúvida, são os que estão convictos de que querem cursar medicinaDaniel Brandão,professor de cursinho há 12 anos

NOVAS METAS

O professor Daniel Brandão conta que a maioria dos estudantes, geralmente, trocam de curso após a terceira tenta-tiva sem sucesso, mas alerta que se o jovem não tiver um perfil para a nova profissão escolhida, terá muitas frus-trações no futuro.

Esse pode ser o caso de Nátali Vieira, 20, que após três anos de tentativa para ingressas em medicina, optou pelo Direito. “Apesar de querer medicina e fazer curso preparatório pra isso, sem-pre tive muito interesse em Direito, o que é bem estranho já que são bem di-vergentes”, declara.

Sobre ter doado tanto tempo ao estudo para ingressar em medicina, a estudan-te não se diz arrependida, nem sente-se prejudicada. “O essencial é manter-se fo-cado, saber organizar o tempo pra estudar e pro lazer, que é fundamental. Considero proveitoso todo aprendizado. Você pre-cisa definir o curso que quer, se tem ap-tidão e se tem a coragem de se sacrificar por um sonho.”

“Para tirar a dúvida, fui a eventos, as-sisti debates, palestras, conversei com diversos profissionais, com os formandos e até os calouros. Depois disso fui deci-dindo o que eu queria cursar e optei por Direito. Um dia quero ser Procuradora de Justiça,” declara com ânimo.

Para aqueles que ainda estão tentan-do medicina ou outros cursos, ela dá um recado: “recomendo que você corra atrás do seu sonho, estudando no cur-sinho, em casa ou no intervalo do seu trabalho. Faça o que você ama.” Mas mesmo sendo otimista, a jovem esta-belece que os limites são impostos com o passar do tempo, pela condição fi-nanceira, pelo cansaço ou, se em algum

momento, há identificação com outro curso.

As palavras do professor Brandão podem soar duras demais para aqueles que desejam cursar medicina ou outro curso, contudo o profissional também sabe ser otimista e aconselha que se o jovem estiver convicto de um sonho e quiser muito isso, o tempo é o que me-nos importa.

VAI TER MUDANÇA

O curso de Medicina no Brasil aumentará o tempo de duração. De 6 para 9 anos, é o que estabelece a nova grade proposta pelo Ministério da Educação. A partir de janeiro de 2015, os estudantes que ingressarem no curso deverão cumprir, obrigatoriamente, depois dos 6 anos de graduação, dois anos do trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS). Para o então Ministro da Saúde, Aloisio Mercadante, a proposta humanizará a formação acadêmica.

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CONHEÇA SEU COMPANHEIRO

REPÓRTEGEM l FOTO l Jarlesson Vanley l DESIGN Antonio Marcos | Samara Melo

Saiba mais sobre os limiters dos erros e acertos que cometemos ao criar um animal

O homem utiliza da prática de domesticar animais há mais de três mil anos antes de Cristo. Criar um animal de estimação é vincular-se a ele e essa relação tem que ser benéfica aos dois. Há casos de pacientes com câncer que passam a reagir melhor ao tratamento, quando possuem algum tipo de animal de estimação. Pessoas criam hábitos mais saudáveis quando se comprome-tem à cuidar de um animal. Ter um ani-mal de companhia, é comprometer-se a cuidar dele, fazer o que for de melhor para ele, assim como se cuidasse.

Adotar um animal de estimação é uma atividade muito complexa. O dono do animal antes de adotá-lo, deve pro-curar conhecer as necessidades que ele tem, conhecer sobre a alimentação, com-portamento e toda as informações fisio-lógicas da espécie. O que mais se vê, no entanto, são donos comprometendo os animais com uma alimentação precária e hábitos ruins. Não que os proprietários o façam de propósito. Mas, por falta de conhecimento.

Todo bicho tem as suas características. No caso dos cães, alguns podem ser de caça, de guarda ou de ataque, embora o comportamento do dono reflita direta-mente no do anima. Assim, um dono que crie seu animal de estimação com todo o cuidado que precisa, certamente ele será mais calmo e carinhoso. Mas, se o animal for criado hostilmente, provavelmente será um bicho agressivo.

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quando alguém for criar animais de es-timação, deve pensar sempre no bem estar em conjunto.

Para o especialista veterinário, o ser humano ao criar um animal, tem que ser menos egoísta, não usar o animal como troféu de exposição. Pensar se o que está sendo feito a ele é benéfico ou totalmente fútil.

Ao ter um animal de estimação deve--se pensar principalmente em conhe-cer os limites de como criar este bicho. Muitos donos passam a dormir com seus animais ou até mesmo beijar na boca, sendo que esses hábitos não são saudá-veis para nenhum dos dois em questão. Deve-se dosar o que pode ou não, ser fei-to. Quando adotar um animal, sempre levar em consideração o quanto se estar disposto a cuidar dele, pois abandonar um animal doméstico ou exótico, sempre vai interferir no ecosistema.

Deve-se tomar muito cuidado ao en-trar em contato com aves silvestre, alerta o professor, “esses animais são muito delicados”. Nos casos das águias e corujas, o perigo está na interferência dos hábitos selvagem, deste animal. O mínimo de influência pode desabituá--lo para a caça. Então, saiba que criar animais domésticos ou em cativeiro,

A criação de bichos exóticos como ani-mais de estimação pode trazer grandes problemas para a fauna local. Inserir uma espécie animal em um ambiente onde não haja um predador natural pode acarretar em um desequilíbrio, podendo levar, assim a extinção de animais típicos da região. Uma das soluções dadas são as chamadas crias de cativeiro. São animais criados em cativeiro e que não oferecem riscos à saúde ecológica.

Aparentemente quanto mais raro for o animal mais interessante é para o ho-mem. No entanto, animais raros e muito exóticos, como bichos peçonhentos, tanto oferecem riscos ao homem, quanto o ho-mem oferece riscos ao animal. Mas, para o médico veterinário e professor William Cardoso Maciel, mesmo os animais sendo peçonhentos, eles podem ser criados. O mais indicado é ter total conhecimento da espécie. Tudo se resume ao conheci-mento dos animais.

Os bichos de estimação devem ser cuidados da melhor forma possível, mas sempre focando no conhecimen-to do animal. Hoje em dia, os donos andam comprando muitos acessórios para os animais, colorindo seus pelos, sendo que nada desses procedimentos são benéficos para os bichos. O ambien-te onde será criado o animal também faz toda a diferença. Por exemplo, criar animais em apartamentos nunca é sau-dável para o animal. Ele pode adquirir doenças psicológicas e físicas, então

não é certo. É necessário que haja, pois, isso garante que determinadas espécies ainda existam por haver uma forma de cativeiro, no entanto, legalizado.

Imaginar animais enjaulados, não é algo bom. O cativeiro é uma práti-ca realizada, também como forma de preservação de espécies ameaçadas de extinção. Pois, se uma espécie de ani-mal sumir, ainda há uma possibilidade de continuar a espécie, com os animais existentes em cativeiro.

Não há limites para a criação de ani-mais domésticos, o comprometimento e o conhecimento que o dono busque, an-tes de adotar qualquer tipo de animal, é o principal fator. Adote, mas cuide com todo o carinho, pois ele retribuirá igualmente.u

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Serviços

Clínica veterinária Uece

Horário de funcionamento: 8h às

12h./ 14h às17:30h. Seg à sext.

Campos do Itaperi - Av. Parajana,

1700 , Serrinha.

Se não houvesse animais em cativeiro, muitas espécias já haviam sido extintasWilliam Cardoso Maciel

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REPORTAGEM |Julyta Albuquerque FOTOS Joaquim Saldanha| Max Defalt| Site Biogra� smo DESIGN Gabriela Rolin | Maiane Almeida

Aumentou a conexão, a piada chegou à internet e muita gente se pergunta: a brincadeira tem limite?

tem limitebrincadeira

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Existe uma tradição de humor transgressor, que poderia ser considerado de mau-gosto quando aborda o negro, o feio, o anão; ocorre que fomos refinando isso ao longo do tempoGilmar de Carvalho, professor universitário

Este assunto, decerto, provo-caria muitas risadas, senão tivesse in-vadido o judiciário.

O tema é destaque no meio jurídico, controverso e indicador dos novos tem-pos, onde fala-se tudo que pensa, ampli-fica-se e “seja o que Deus quiser”.

Mas, fazer humor, ser engraçado, pro-vocar o riso, não deve ter regras, nor-mas? - indagarão alguns. Afinal, o humor deve servir para nos fazer rir das dificul-dades pessoais, das barreiras difíceis de ultrapassar, daquilo que nos limita, uma catarse, enfim?

Na roda deste debate estão espe-cialistas, comediantes e a sociedade. Grupos como Porta dos Fundos, no ca-nal Youtube, com mais de um bilhão de visualizações, e o CQC, no canal de TV

aberta, Bandeirantes, contabilizam afe-tos e desafetos (haja processos!) ao longo dessa jornada.

Humor é, além da “arte de fazer cóce-gas no raciocínio dos outros”, como bem o disse Leon Eliachar, é meio efetivo de fazer a crítica e refletir e responder com o inusitado - a caricatura esconde, lá

detrás, o que é real. Deve fazer frente à tristeza com um pouco mais de alegria, dando uma forcinha nas horas amargas, refrigerando a brabeza cotidiana.

Mwas, perder o amigo, e não perder a piada... Ainda vale a máxima?

O que mudou, enfim, foi o jeito de fazer humor, as ferramentas ou a sociedade?

Há várias respostas para as perguntas e um consenso: a ética do humorista faz toda a diferença na hora da brincadeira.

No livro “Nos Labirintos da Moral”, Yves de La Taille, educador e psicólogo francês, conceitua ética, como sendo questões re-lativas à sociedade, à felicidade e, conse-quentemente, à “esfera do coletivo”.

Nesse aspecto, o humor, parte essen-cial da vida e da sociedade, seria regi-do por uma conduta ética nas relações, fundamental em todas as épocas, embo-ra “exista uma tradição de humor trans-gressor, que poderia ser considerado de mau-gosto quando aborda o negro, o feio, o anão; ocorre que fomos refinan-do isso ao longo do tempo”, traz luz as indagações, Gilmar de Carvalho, profes-sor universitário e pesquisador de cul-tura popular.

Então, a sociedade tornou-se mais crí-tica aos temas utilizados e, diga-se de pas-sagem, reutilizados, pelos humoristas?

Tarcísio Matos, estudioso do humor no Ceará, responde sem medo: “Passa o tempo e a sociedade se organiza, exige respeito e logo o negro e o gay e o crente deixam de ser vitrine de piadas, ao me-nos escancaradamente. Fazer chacota com essas grandezas teve freios”.

Os entrevistados, para essa reporta-gem, foram unânimes: O cerceamento de liberdades, sejam quais forem, não é a solução, embora, grupos que fazem humor com o “vômito do que entendem por verdade deles”, ou “cortem a carne

do outro com cruel ironia”, como exem-plifica Tarcísio Matos, perdem a piada.

“O cáustico está com quem brinca”

Augusto Bonequeiro, “humorista in-consequente” como mesmo se defi-ne, trabalha com teatro de bonecos há mais de trinta anos, e considera censu-ra as tentativas de regular o humor, em quaisquer esferas. “Acho que a liberdade de pensamento, cômico ou não, tem que ser total. Se ele (o humorista) praticar uma infâmia, pode pagar por isso; é pra isso que existe Lei. Agora proibir, não!”

A causa, segundo os estudiosos, dessa avalanche de críticas ao humor praticado, principalmente os que são disseminados na Internet, deve-se a vontade do humorista em fazer-se no-tar pelo apelo e não pela graça. “Se apelar, deixa de ser humor para ser expansão de recalque; perde a graça e a credibilidade, faz chorar e irrita”, explica Tarcísio Matos.

Qual a solução?Gilmar de Carvalho arrisca: “O cáus-

tico está com quem brinca! A solução? Quem vai dar é a sociedade! Ela vai di-zer o que fica, permanece. Se for ruim vai rejeitar, sem dúvida. Vá dá uma olhada na audiência desses progra-mas! Eles já estão caindo”.

O que mudou, enfim, foi o jeito de fazer humor, as ferramentas ou a sociedade?

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Mudança de

HÁBITOREPORTAGEM Lígia Duarte FOTOS Lígia Duarte | MorgueFile Free DESIGN Brena Gomes | Lara Veras

Mesmo com a preocupação com o cardápio do dia a dia, muitas pessoas se descuidam na hora de fazer dietas sem orientações médicas

A mudança de hábitos alimen-tares já virou rotina na vida dos brasi-leiros. Algumas pessoas preocupam-se mais com o corpo e a mente. Uma gran-de parte dos adeptos a esse tipo de com-portamento optam fazer dietas devido a crenças religiosas, ideologias e pelo bem estar com a saúde.

Aqueles que escolhem uma dieta saudá-vel necessitam de um acompanhamento

médico especializado para refazer seu regime alimentar. É de acordo com seu metabolismo,que o especialista mostra-rá quais os alimentos trarão benefícios proteicos e nutritivos para sustentar o corpo de cada pessoa no dia a dia. Mas ,no entanto existem os que buscam o caminho mais “fácil”, sem a orientação médica, adequando-se a dietas encon-tradas na internet,consequentemente

o futuro da saúde ficará comprometido sem um acompanhamento adequado, já que o metabolismo de cada ser humano é diferente.

O nutrólogo Enairton Rocha explica que é muito comum às pessoas procura-rem os especialistas quando fazem o uso de dietas erradas e o corpo sofre conse-quências causadas pela má alimentação. “Seria muito importante que se buscasse

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uma orientação profissional de um nu-trólogo ou nutricionista antes de se ini-ciar a dieta vegetariana. Infelizmente não é assim que acontece. Geralmente somos procurados para corrigir algum distúrbio nutricional decorrente de die-tas inadequadas, orientadas por amigos ou sites na internet.”

Atualmente muitas pessoas buscam fazer diferentes tipos de dietas vegeta-rianas, devido a vários motivos tanto para adequar ao seu organismo, como por crenças. Entre os tipos mais comuns estão o ovolactovegetarianismo que con-siste no vegetariano que aceita consumir ovo e leite como também o vegano sendo este último o mais restrito de todos con-sistindo em o individuo que não consome nada que venha de origem animal, limi-tando até mesmo vestimentas.

Um exemplo de adepto dessa roti-na diferente de alimentação é o pastor Ronaldo Luís (foto)wwww,que optou mu-dar totalmente seu cardápio para melho-rar seu problema com acne, e também o apoio da igreja que começou a frequen-tar, em que ensinam a ter uma vida mais saudável. Há 14 anos ele segue rigorosa-mente a dieta de ovolactovegetariano, que consiste em não consumir carne e inclui ovos e derivados do leite, o que di-minui os riscos de ter alguma deficiência em proteínas.

Apesar de alguns vegetarianos não terem nenhum problema, com as restri-ções de sua alimentação equilibrada, os veganos estão suscetíveis a terem algum problema devido à falta de reposição dos nutrientes que existem na carne já que no cardápio deles não entra nada de ori-gem animal incluindo o leite, fazendo com que eles fiquem vulneráveis a não obtenção da vitamina B12. Uma vitami-na gerada através de uma bactéria que somente os animais consomem.

O especialista Enairton explica sobre a falta de algumas vitaminas no orga-nismo das pessoas “A carne vermelha, por exemplo, é a principal fonte de ferro heme, que é o tipo de ferro mais facil-mente absorvido pelo nosso organismo.

NUTRICIONISTA x

NUTRÓLOGO

Nutricionistas e nutrólogos

são especialistas na área da

alimentação, onde ambos atuam

na correção de desequilíbrios

nutricionais e também são

responsáveis pela reeducação

alimentar, porém com funções

diferentes, um bem mais especi�co

que o outro. O primeiro é o

especialista formado em Nutrição,

sendo este o responsável por

prescrever a receita dietética dos

pacientes de acordo com cada

metabolismo. Já o Nutrólogo

ele é bem mais especi�co, é o

pro�ssional formado em medicina,

que é especializado em Nutrologia,

com o diferencial de poder receitar

medicamentos.

O ferro presente em alimentos de ori-gem vegetal, como o feijão e as horta-liças de cor verde escuro, não possuem boa biodisponibilidade, ou seja, não são bem aproveitados pelo nosso organismo. Portanto há de se ter atenção com deter-minadas carências nutricionais que po-dem ocorrer com as dietas vegeterianas.”

O professor universitário Tarcísio Bezerra é um exemplo de “ex--vegano”,que ao praticar a dieta teve problemas. O mestre foi adepto por um ano a dieta vegana e hoje em dia é ovo-lactovegetariano, a mudança se deu ao fato dele com seis meses de dieta sentir sintomas da falta da vitamina B12 em seu organismo, e ao consultar um médico foi constatado que precisaria de um acom-panhamento especifico, e o uso de um complexo vitamínico para suprir essa ca-rência. Ele garante que dos 11 anos esse episódio foi o único que afetou sua saúde, e que continua firme em sua rotina ve-getariana, agora com poucas restrições.

Apesar da busca de uma boa alimenta-ção, devido à preocupação com o corpo e a mente a diversidade de tipos de fru-tas, vegetais que se têm disponível, para repor os nutrientes do cardápio, as pes-soas que mudam drasticamente suas ali-mentações estão suscetíveis a ter alguns problemas de saúde. Havendo assim um limite para o organismo das pessoas, em que certas vezes a falta de certo alimen-to no cardápio pode acarretar indispo-sição. u

Seria muito importante que se buscasse uma orientação profissional de um Nutrólogo ou nutricionista antes de se iniciar a dieta vegetariana.Enairton Rocha

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O LIMITEREPORTAGEM| FOTOS Natasha Carvalho DESIGN Isabella Vasconcelos | Darlan Araújo

Enquanto alguns se esforçam para reduzir a maioridade penal no Brasil, pro�ssionais que dão apoio à criança e o adolescente, lutam para que jovens acusados possam ter uma segunda chance

Qual o limite de idade para responder por crimes e delitos? Para a lei penal brasi-leira a maioridade penal é a partir dos 18 anos de idade, o que dá a responsabilida-de para a pessoa responder por seus atos. Abaixo dessa faixa etária a criança e o ado-lescente podem sofrer punições leves e ser acompanhado por especialistas que traba-lham na recuperação de jovens acusados.

Em estados como nos Estados Unidos a maioridade penal varia conforme a le-gislação estadual. Em 26 estados dos 50 estados, não há idade fixa. O juiz decide, de acordo com isso, se o jovem pode cum-prir pena ou for punido como um adulto, caso infrinjam as leis americanas. Muitos questionam porque o Brasil não adota as mesmas medidas de países que conde-nam crianças e adolescentes por atos de criminalidade.

Pelo que diz a conselheira tutelar Océlia Souza entende-se bem o motivo. “Nos es-tados americanos há um sistema carce-rário organizado, ensino de qualidade para a juventude e mais famílias estrutu-radas”. Desse modo que a conselheira la-menta por não ver no nosso país a mesma organização que os países desenvolvidos. Océlia assumiu o cargo de conselheira por meio do voto secreto, do mesmo jeito que se vota num político para as eleições. Há

quatro anos que presencia e cuida de fa-mílias em situação de risco. Ela convive de maneira constante com adolescentes que começaram a desrespeitar os limites da lei, os cidadãos a sua volta e a própria família. Crianças em que cedo foram inse-ridas num ambiente familiar sem limites. Assim é o perfil dos que procuram o con-selho de Océlia e de uma equipe de servi-ço social: psicólogos, pedagogos e advoga-dos, todos unidos para resolver questões a área da família. Nesse ambiente de tra-balho que presenciamos o próprio lar não dando o rumo correto para as crianças e mais tarde essas crianças não respeitando os limites da lei.

O psiquiatra Ivan Ribeiro explica um pouco o perfil desse jovem. “Tudo come-ça na infância onde é formado o caráter do indivíduo, entre 4 e 5 anos. Nesta ida-de, a criança, principalmente a de hoje, é enxertada por uma publicidade que

Nos estados americanos há um sistema carcerário organizado, ensino de qualidade para a juventude e mais famílias estruturadasOcélia Souza

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incentiva a maturidade e a formação precoce da criança para se transformar em pessoa adulta. Quando a família não apresenta uma estrutura para dar limi-tes à criança e ensinar o certo do errado para determinada idade, ela vai achar que tudo pode, e assim vai inverter os papéis, se sentirá adulta, com responsabilidade para ser dona de si mesma e de maneira precoce perderá os limites”.

Ribeiro é enfático no que diz respeito à redução da maioridade penal. “Nem a criança, nem mesmo o adolescente pode-rá assumir responsabilidade por atos de criminalidade, pois a maioria é vítima do sistema do país”. E ainda pergunta: “você já parou para ouvir esses meninos que co-metem infrações? São respondões, donos da razão e agressivos. Isso é um disfarce para esconder a raiva, a falta de afeto, um jeito para chamar a atenção e dizer ‘ei es-tou aqui, me ajuda’”.

Enquanto isso a lei que vigora para adolescentes e jovens acusados é o res-tabelecimento deles, um tipo de reclu-são parecida com a reclusão carcerária,

que tem o intuito de recuperar o jovem. Mas, antes disso, ele passa pela Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). Lá, está a ficha completa de cada um e tudo é guardado em sigilo, para resguardar o jovem”, assegura Yolanda Fonseca, a de-legada titular da DCA.

Paralelo à reclusão dos menores, nas úl-timas eleições para deputado federal, em outubro de 2014, uma parcela que é a favor da redução da maioridade penal, foi eleita (de 513 deputados federais, 20 são ligados à área da segurança), inclusive o deputado federal do estado do Ceará Moroni Torgan, (DEM). Ex-delegado da Polícia Federal, ar-ticula com projeto de segurança durante suas campanhas.

Já na Ordem dos Advogados do Estado do Ceará (OAB-CE), as questões quanto ao limite da maioridade penal estão sempre sendo questionadas. Até o dado momen-to, seguem os preceitos dos direitos hu-manos, afirmando que a lei ainda deve vigorar para os maiores de 18 anos e não menos que isso. A OAB alega ser impossí-vel inserir adolescentes em prisões que

se encontram com superlotação, e não devem ser inseridos num ambiente que irá corromper mais do que o jovem está, dada as circunstâncias do modo de vida nos presídios.

Por fim o principal intuito dos profissio-nais da área da criança e do adolescente, é que esses meninos possam ter a consciên-cia dos atos ilícitos e crimes cometidos à população. Que cumpram as leis do país e que antes de atingirem o limite da maiori-dade penal possam ser recuperadas.

Nem a criança, nem mesmo o adolescente poderá assumir responsabilidade por atos de criminalidade, pois a maioria é vítima do sistema do paísIvan Ribeiro

DA MAIORIDADE PENAL

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Entre o

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FAZ-DE-CONTA

REPÓRTAGEM|FOTOS André Nina DESIGN Jéssica Farias | Bruna Cruz

Talvez uma das fases mais complicadas da vida do homem, a pré-adolescência marca a entrada da criança na vida adulta

Todos nós passamos, passare-mos ou estamos passando por um mo-mento da vida chamado de pré-adoles-cência. Esse período, que vai dos 10 aos 14 anos, é conhecido por ser a transição en-tre a infância e a adolescência, marcado pela puberdade, e é nele que a mente da pessoa vai sendo moldada para se tornar um adulto. Muda-se o corpo, os gostos, os pensamentos e as vontades quando a criança deixa os brinquedos para trás e passa a se interessar por coisas diferen-tes. Ao fi carmos mais velhos, é comum esquecer pelo o que passamos nessa fase, mas vale a pena ter uma atenção maior

sobre ela: o pré-adolescente de hoje é o adulto de amanhã.

Para se entender mais a fundo essa fase, vamos buscar em Jean Piaget, psi-cólogo suiço do século XX que foi o mais infl uente pensador dessa área, algumas defi nições. Piaget separava a infância em quatro fases: período sensório-motor, pré-operatório, emoções concretas e emo-ções formais. O período dos 10 aos 14 anos, chamado de pré-adolescência, engloba as duas últimas fases da infância. Nessas fa-ses, a pessoa desenvolve habilidades como a auto-análise, formação de conceitos abs-tratos como liberdade e justiça, crítica dos

Me importo mais agora com que roupa eu visto e com o meu corpo. Quando era mais novo, não tinha essa essa preocupaçãoLeonardo Jorge

e a

REALIDADE

Entre o

Z-DE-CONTATAT

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valores morais, uma maior relação com o seu grupo de amigos e a sexualidade. Essas habilidades são o verdadeiro limite entre a infância e a adolescência.

Para se entender a pré-adolescência, é preciso conversar com quem realmen-te sabe sobre ela: as crianças que estão passando por essa fase. Bruno Moreira, 12, conta que sentiu mudanças no seu comportamento e nos gostos, durante os últimos anos. “Tenho mais noção da vida e as coisas das quais gostava anti-gamente não me satisfazem mais”, frisa. As mudanças também já chegaram para Leonardo Jorge, 14, que lembra de como era descuidado antigamente. “Me impor-to mais agora com que roupa eu visto e com o meu corpo. Quando era mais novo, não tinha essa preocupação. Hoje, penso o mundo de uma forma diferente”, disse.

O psicólogo Alexandre Iório, que tra-balha com jovens nessa faixa etária, aponta que o pré-adolescente se enche de dúvidas devido a uma relação com-plicada que ele estabelece com os ou-tros. “A sociedade cobra do adolescen-te uma maturidade e, ao mesmo tempo, não possibilita autonomia. Essa situação provoca um sentimento de ‘desamparo’ que traz questionamentos para ele”, con-ta. Bruno diz que o números de deveres dentro de casa e o número de responsa-bilidades que ele adquiriu foi crescendo

com o tempo, aumentando na proporção que ele ia fi cando mais velho. Leonardo fala que a forma como os seus pais o en-xerga mudou completamente. “As pesso-as começam a ver que não sou mais uma criança. Passei a ter responsabilidade, pouca, mas já é um começo”, disse.

Renata Faria é mãe de Leonardo e diz acompanha-lo muito nessa fase, tentando sempre orientá-lo e o ajudá--lo a compreender suas mudanças. Ela enfatiza a importância de saber com quem Leonardo se relaciona. “Meu fi-lho sempre teve amizades com pessoas mais velhas, mas fico sempre atenta e não vejo que isso prejudica”, afirma a mãe. Alexandre lembra como é crucial a presença dos pais nessa fase da vida de seus filhos. “A família é de suma im-portância, pois será nas pessoas mais

próximas que a criança buscará apoio”, diz. O psicólogo também fala que é preciso balancear entre a ausência e a superproteção, pois ambas são igual-mente prejudiciais.

De uma hora para a outra, as opiniões das crianças podem mudar até se fi r-marem no que vai ser a personalidade dela pelo resto da vida. Sobre o que ele espera dele mesmo daqui a alguns anos, Leonardo mostra já ter algumas metas. “Espero entrar na faculdade e seguir uma carreira na edição de audiovisual”, enfa-tiza ele, lembrando que, da família, espe-ra ganhar cada vez mais responsabilida-des. Se mudaria muito o seu jeito de ser?, Bruno dá uma resposta curiosa. “Claro, pois estamos em constante mudança, como dizia o fi lósofo Heráclito de Éfeso”, afi rma o garoto de 12 anos de idade.

A sociedade cobra do adolescente uma maturidade e, ao mesmo tempo, não possibilita autonomiaLeonardo Jorge

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como dizia o fi lósofo Heráclito de Éfeso”, afi rma o garoto de 12 anos de idade.

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AUMENTA VÍTIMAS NO TRÂNSITO. FALTA DE RIGOR NA LEI

REPÓRTER | FOTO Mimosa Pessoa | DESIGN Junior Tavares, Lorena Pio

A pressão sobre os motoristas de ônibus, o descaso e desconhecimento dos motoristas acerca do Código Nacional de Trânsito e a pressa do pedestre em chegar no seu emprego são alguns dos motivos para a crescente taxa de acidentes fatais no trânsito.

“Trabalhei 30 anos como mo-torista de ônibus de uma em-presa. Sou aposentado. Hoje trabalho como motorista par-ticular, dirijo carro pequeno.

Na empresa de ônibus passá-vamos por consulta por psicó-logo constantemente. A pres-são era muito grande. Tínhamos

que cumprir um horário de cada rota que pegávamos. Não admi-tem atrasos e por isso nos pu-niam monetariamente.

Não podíamos atrasar. Cada parada de ônibus tem hora cer-ta para comparecer. Muitas ve-zes vi colegas não pararem nas paradas, avançarem na faixa

de pedestres colocando vidas em risco.

Os motoristas perdem a no-ção do dever por medo de ser punido monetariamente no seu salário. E o pedestre não é santo. Alguns deles, principal-mente em terminal de ônibus, saem feito louco na frente e nas

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costas dos ônibus e aí aconte-cem acidentes fatais.

Os pedestres têm pressa em chegar ao emprego. Nós tí-nhamos pressa de estar pon-tualmente em cada parada de ônibus. “O dinheiro era que nos movimentava. Tudo girava em torno do dinheiro, então o tem-po valia ouro.” Assim Manuel Carvalho Neto, motorista pro-fissional há 40 anos, narra o caos que é ser motorista e pe-destre num país em que as pu-nições para essa infrações são brandas e a fiscalização quase inexistente.

Estatísticas do DETRAN apon-tam um crescimento de 175,28% na frota do Estado do Ceará entre 2004 e 2014. Só na ca-pital são 515.652 automóveis, 240.706 motocicletas e 6.280 ônibus, o restante, 158.906 ve-ículos são compostos por cami-nhões, caminhonetas, micro--ônibus e outros, perfazendo 921.544 mil.

Mais veículos, mais lentidão no fluxo, maior desgaste das vias, mais cansaço físico e mental de condutores e mais acidentes. Ainda segundo os números do DETRAN, só no ano 2013, do to-tal geral de acidentes contabi-lizados, 16,75% foram acidentes fatais, 83,25% não fatais. Entre as vítimas fatais e não fatais 25,34% e 48,55% são (ou eram) motociclistas, respectivamente.

Campanhas educacionais no trânsito

Numa tentativa de colocar ordem no caos, Código Nacional de Trânsito (CNT), instituído pela Lei nº 9.503, de 23 de se-tembro de 1997, trouxe normas mais severas.

Apesar das normas do Código Nacional Trânsito (CNT), das blitz e das multas aplicadas, o trânsi-to continua perigoso. Neste sen-tido a Autarquia Municipal de trânsito (AMC) e Departamento Nacional de Trânsito (DETRAN) vêm tomando providências para diminuir essas estatísti-

cas e conscientizar mais os pe-destres e motoristas quanto aos seus direitos e deveres.

A Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (ETUFOR) além de outras medidas edu-cacionais colocam nos termi-nais de ônibus fiscais de trân-sito como Renata Souza. De acordo com ela, o perigo acon-tece quando o pedestre avan-ça na hora em que os ônibus

estão passando. Ante de come-çar a trabalhar no trânsito ti-nha muito receio de atravessar uma faixa de pedestres.

Segundo Souza, ver no pedes-tre um vilão também, pois des-respeita o direito do motorista usar a faixa de pedestre na si-tuação determinado pelas nor-mas do CNT.

As campanhas de educação no trânsito ocorrem anualmen-te e envolvem as empresas de ônibus, pedestres e motoristas de todo País.

O Programa tem como ob-jetivo criar mais cultura e res-peito ao pedestre por meio de palestras, panfletos e blitz educacionais.

O pedestre é o personagem mais frágil no nosso caótico trânsito. Consequentemente, sua maior vítima. Segundo Campanha de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET) em 2010 50 % das vítimas fatais em acidentes de trânsito na cidade de São Paulo são pedestres, 83% dos pedestres mortos estavam atravessando a rua.

Estes resultados são explica-dos por pessoas como P.R.B.P, que não quis ter sua identida-de revelada. “Sou funcioná-rio do SINDIONIBUS (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará) trabalho como fiscal de tráfego há 14 anos. Antes fui motorista particular.

O dinheiro era que nos movimentava. Tudo girava em torno do dinheiro, então o tempo valia ouro.

Sinto uma sensação de prazer e poder e as mulheres olham muito mais. Dirigir carro pequeno é humilhante

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do veículo. O que temos real-mente comprovado é a falta de educação de motorista e pedes-tre independente de gênero.

Segundo Raimundo Holanda, psicólogo de uma empre-sa de ônibus explica este

comportamento agressivo atri-buído geralmente ao homem. “Numa sociedade estrutura-da a partir da lógica da falo-cêntrica, a vivência precoce e continuada do indivíduo num universo sustentado por esse referencial e por interações so-ciais marcadas pela medição de forças e subjugação de outro é facilmente estendida aos es-paços públicos, e talvez, isso ex-plique o porquê de tanto incô-modo que é ficar atrás de outro veículo e o gozo em ultrapas-sá-lo, não dar-lhe espaço, não respeitar a faixa de pedestre, o semáforo, a sinalização.”

Sempre gostei de dirigir car-ros grandes. Sinto uma sen-sação de prazer e poder e as mulheres olham muito mais. Dirigir carro pequeno é hu-milhante, qualquer um pas-sa por cima. Mas quando você está num carro grande, novo, aí todo mundo respeita. No trânsito posso passar por cima de qualquer coisa. E nem dá para me multar... É só ter habilidade.”

Esse comportamento agressi-vo no trânsito é folcloricamen-te atribuído à virilidade do ho-mem, assim como se atribui à mulher uma péssima condução

Segundo Souza, ver no pedestre um vilão também, pois desrespeita o direito do motorista usar a faixa de pedestre na situação determinado pelas normas do CNT.

u

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“Penso, logo existo”, concluiu o filósofo Descartes. Portanto, nós pode-mos pensar e ser autores das nossas de-cisões quando já fomos orientados para optar pelo correto e para saber que, para toda escolha, uma consequência. E os responsáveis por isso são, ninguém mais, ninguém menos, que nossos pais, através da educação.

Em cada fase da vida há uma maneira diferente de educar. Quando, na infân-cia, os pais devem, realmente, proibir a criança de fazer algo, no decorrer das fases eles podem deixá-la livre para es-colher, a partir daquilo que eles já ensi-naram. Para a psicóloga Tétis Falcon, o segredo de uma boa educação é tratar

a criança como sujeito do seu próprio processo, respeitando o futuro adulto dentro dela.

A estudante de jornalismo Niedja Amazonas, 21, saiu aos 18 anos da casa do pai, em Pernambuco, e veio morar com uma prima em Fortaleza. Foi criada até os 14 pela mãe e a avó, em Boa Viagem, e reconhece os bons ensinamentos que recebeu: “eu sou grata pelas interferên-cias que elas faziam quando eu era me-nor, porque me ensinaram muito”.

Niedja, que, atualmente, mora sozi-nha, conta que a interferência dos pais diminuiu muito quando saiu da casa deles. “Acho que tem a ver com a ida-de, com a faculdade. Mas eles viram

que eu fui crescendo e amadurecendo. No princípio, ficaram com medo de me deixar, porque sou muito desleixada, meio desastrada, mas eles deposita-ram a confiança em mim e está dando certo”, conta.

A psicóloga Tétis Falcon acredita que, entre 18 e 21 anos, as pessoas já devem saber se cuidar. Para ela existe sim, afi-nal, um limite entre a liberdade e a re-pressão dos pais com os filhos. E a falta dele, muitas vezes, pode acarretar sé-rios problemas. “Os sintomas vêm da relação dessa tríade: pai, mãe e filho, que é muito importante para a forma-ção da nossa personalidade e da nossa saúde”, explica.

REPRESSÃO X

LIBERDADE

Até onde os pais podem interferir nas escolhas dos �lhos? A censura não é uma coisa boa ou ruim, é necessária e faz parte de uma boa educaçãoREPÓRTEGEM Iane Everdosa FOTOS Daniel Silva l DESIGN Antonio Marcos | Samara Melo

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A mãe de Niedja, Erinete Alves, conta que sentiu medo quando a filha decidiu morar sozinha, mas aceitou o desafio. Ao sair de casa, Niedja aprendeu a se cuidar, organizou-se, começou a cozinhar e la-var roupa. E, mesmo com a distância, a relação entre mãe e filha não ficou aba-lada. “Eu e a filhota estamos sempre em sintonia. Quando tem alguma dúvida, ela me conta e dou a minha opinião sobre

o caso”.Além disso, Erinete reconhece que

os filhos não são criados para viverem sempre ao lado dos pais. “Nós precisa-mos educá-los, protegê-los e incentivá--los para a vida. É como um guerreiro que carrega a flecha, não apenas para tê-la sempre perto de si, mas para lançá-la no momento certo”, explica.

Intervenção na vida profissional

O papel da família nas decisões pro-fissionais é fator fundamental, mas não decisivo. O auxílio maior que os pais po-dem dar é durante o desenvolvimento de seus filhos, desde o seu nascimen-to, para que, quando fizerem suas esco-lhas, saberem que serão responsabili-zados por elas.

Isabela Miranda*, 19, sempre teve li-berdade na escolha do curso, mas tinha o desejo de estudar em uma universida-de pública. Foi nessa decisão que seus

pais discordaram, o que acarretou sé-rias discussões em sua casa.

O argumento de seu pai, que é profes-sor, era que, enquanto ela dependesse dele financeiramente, não poderia pen-sar por si e faria o que ele e sua mãe de-cidissem. Para cursar uma universidade federal teria que sustentá-la em uma ou-tra cidade, por isso, queria que ela cur-sasse na particular em que ele leciona. Então, Isabela decidiu fazer psicologia, que era o que gostava, e eles a induziram a cursar medicina e se especializar em psiquiatria. Mesmo assim, ela continuou o seu sonho e decidiu adiantar o máximo de disciplinas que pudesse na faculdade, chegando a cursar dez por semestre para concluir o curso, sair de casa e por um fim àquela dependência.

A psicóloga Tétis Falcon acredita que muitos pais querem para os filhos aquilo que tiveram ou gostariam de ter. Porém, nem sempre isso é o adequado para a criança. “O pai que teve uma educação repressora na sua infância pode ser mui-to repressor ou completamente o opos-to, numa tentativa de não ser como o pai dele”. Além disso, defende a autonomia dos filhos em suas decisões: “um bom pai e uma boa mãe, na minha visão, são aqueles que ensinam o filho a fazer boas escolhas e as respeita, mesmo sabendo que ele pode se prejudicar com elas”, explica.

Superprotenção:quando é demais?

Com a intenção de proteger, muitos pais acabam resguardando seus filhos de uma forma excessiva. Isso acaba ge-rando uma criança insegura, podendo causar dificuldades no desenvolvimen-to e aprendizagem da criança.

Tétis Falcon explica que a superprote-ção é consequência de pais inseguros e essa insegurança acaba passando, de cer-ta forma, para a criança. “Pessoas muito superprotegidas, por serem inseguras, quando atingem uma certa idade e vão para o mundo acabam gerando sintomas

sérios ou fazendo escolhas péssimas e sofrem muito mais”. A justificativa para pais que criam seus filhos “dentro de uma bolha” são muitas, a maioria apon-tada como fatores externos. “O defeito de uma pessoa superprotetora não está dentro dela, é uma atitude que vem de um meio, da relação do pai com o filho,

dos encontros dessa pessoa com a vida e, principalmente, do social e cultural”, explica a psicóloga.

Os pais da estudante de direito Rebeca Pinheiro*, 20, sempre foram superproteto-res. “Eu acredito que eles queiram o meu bem. Não é uma questão de desconfiança, mas sim, de considerarem que muitas coi-sas não vão me ajudar a crescer. Claro que há limites, mas acho que eles têm medo que eu me envolva com drogas ou álcool. Meu pai bebia muito e não quer isso pra mim. Já minha mãe, como me teve com 18 anos, tem receio que o mesmo aconte-ça comigo”, conta. Proibida de ir à festas, Rebeca já tentou argumentar com os pais, mas percebeu que realmente “não fazia parte daquele ambiente” e perdeu a von-tade de sair. “Por mais que eu quisesse es-tar com amigos em um lugar, sabendo que não me envolveria com drogas e álcool, sairia todo fim de semana e me desviaria do que eu considero correto para mim”, completa a estudante. u

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Por mais que eu quisesse estar com amigos em um lugar, sabendo que não me envolveria com drogas e álcool, sairia todo fim de semana e me desviaria do que eu considero correto para mimRebeca Pinheiro*

Os sintomas vêm da relação dessa tríade: pai, mãe e filho, que é muito importante para a formação da nossa personalidade e da nossa saúdeTétis Falcon

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o gosto musicalTÃO NATURAL QUANTO

REPÓRTER Caio Faheina | FOTO 1: Arquivo Marina Araújo FOTO 2: Stéphanie Sousa | DESIGN Junior Tavares, Lorena Pio

Assim deveria ser o relacionamento homoafetivo aos olhos da sociedade

Um toque no rosto, um passeio de mãos dadas pelo centro da cidade ou um beijo durante o fil-me de romance podem parecer gestos simples, mas não para casais homossexuais. Ações como essas são vigiadas com olhos que traduzem surpresa, julgamento – o tal do precon-ceito - e limitações.

A luta para “sair do armá-rio” não se limita à obtenção de uma confiança para tornar pú-blico a decisão de amar alguém do mesmo sexo. O medo da

reprovação social, mais teme-rosa do que a familiar, às vezes, ainda molda os que têm insegu-rança. Marina Araújo (foto), 24, diz que o processo de aceitação foi tranquilo. A empresária teve uma educação liberal e relata que o fato de perceber que gos-tava de pessoas do mesmo sexo foi uma constatação como ou-tra qualquer em sua adolescên-cia. “Opção sexual é tão natural quanto o gosto musical”, com-pleta. Para Marina, a sociedade causou mais incômodos do que

a família. Os olhares, comentá-rios e rótulos, segundo ela, são desnecessários e descartáveis.

Lorena Cordeiro, 20, também teve um processo de aceitação

Bom senso é para todos. Igualdade é o primeiro passo. Respeito logo em seguidaMarina Araújo

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familiar positivo. A estudan-te acredita que, com apoio fa-miliar, fica mais confortável ir às ruas. “Você não precisa ter medo de que alguém veja e conte pros seus pais”, afirma. Futura publicitária, Lorena não deixa de andar de mãos dadas, de trocar abraços ej beijos que demonstrem carinho, mas deixa claro que não pode ultrapassar o limite, existente a qualquer tipo de casal.

Assim como Lorena, Marina age naturalmente, sem restri-ções, dentro ou fora de casa. “Bom senso é para todos. Igualdade é o primeiro passo. Respeito logo em seguida”, des-taca a empresária.

Hannah Scarlet, 18, não é gay, mas almeja a igualdade e diver-sidade dos gêneros. Há pouco tempo, a estudante de Ciências Sociais sofreu preconceito em relação à sua aparência/sexu-alidade. Cansada de ir ao salão para manter o liso dos cabelos, decidiu raspar a cabeça e assu-mir os cachos que estariam por vir. A atitude da estudante fez com que ela ouvisse perguntas

sobre a possível namorada. “Perguntas baseadas no julgo da estética do cabelo. Na ideia de que toda lésbica é/quer ser masculinizada”, disse.

Segundo Hannah, as pesso-as utilizam um construto social abstrato - a moral - para que se perpetue uma suposta “ordem”, e acabam por marginalizar aquilo que está fora do padrão “normativo”. Isso vale, também, para o modo como a sociedade enxerga o relacionamento ho-mossexual. “Vejo como um re-flexo do preconceito ainda exis-tente na sociedade” acrescenta.

Jornalista e bacharel em Teologia, Tiago Fernandes diz que o pensamento social li-mitador tem suas origens no Iluminismo, onde a ideia da identidade de cada indiví-duo é inata. De acordo com Fernandes, todas as identida-des e relações que não estão en-quadradas no modelo religioso, que acredita no sujeito único e essencial, são imediatamente ignoradas. Sobre a posição so-cial como inibidora do relacio-namento gay, o jornalista fala que a “heterossexualidade é a condição sexual padrão para avaliar todas as outras sexua-lidades e relações”.

Ainda não é muito comum ver duas pessoas do mesmo sexo se beijando em público. Por essa “escassez” e pela “primeira im-pressão é a que fica”, muitas pessoas ficam com uma sus-peita íntima e silenciosa de que manifestações de afeto, prin-cipalmente o beijo, possam ser ilegais. A verdade é: um casal homoafetivo que se beija não pratica um crime ou contra-venção penal. Causando des-conforto ou não a quem presen-cia, a relação homoafetiva em

público é como qualquer outra demonstração de amor.

Microidentidades e suas limitações

Nessa era dos modismos, as relações modernas, principal-mente aquelas ligadas à sexu-alidade, trazem novas microi-dentidades. A mais recente são os “g0ys”, pessoas que se rela-cionam com outras do mesmo sexo, mas não se consideram gays. De acordo com o site bra-sileiro “Heterogoy”, o g0y é um “heterossexual mais liberal, que não faz sexo, apenas brincadei-ras sacanas”. É possível perce-ber que essa microidentidade tem um componente homofó-bico, pois preconceituosamen-te considera o gay como um estereótipo.

Será, isso, fruto da “ordem” social vigente, aquela de “ferir a moral e os bons costumes”? Será, também, que as fecha-duras dos famosos “armários” continuam travadas para al-guns por medo do pensamento social? Uma coisa é certa: é pre-ciso respeitar a liberdade sexu-al de cada indivíduo. u

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de dirigirO MEDO

REPÓRTER Assis Nogueira FOTOS Assis Nogueira DESIGN Rafaella Girão | Evelyn Barreto

Ansiedade, afobação, nervosismo. Sintomas característicos de pessoas que não tem segurança para dirigir

Pisar na embreagem, passar a marcha, e acelerar. Procedimentos co-muns para dirigir um automóvel. Porém, para algumas pessoas, esta tarefa gera estresse e nervosismo. Estes são sinto-mas claros do medo de dirigir.

Uma característica marcante na pessoa que se encaixa neste perfil é a falta de confiança. Caso da servi-dora pública Juliana Montezuma, 28. Esporadicamente pegava o carro da fa-mília para dirigir, mas quando o fazia, não sentia total confiança.

Juliana percebeu a falta de confiança ao volante quando não conseguia colo-car o carro pra andar após o semáforo em que ela estava parada, abrir. “O esto-pim pra esse medo de dirigir foi quando eu estava no carro com meu pai quan-do chegamos num sinal. Quando o sinal

abriu e eu tentei sair com o carro, o carro estancou. Os outros motoristas que vi-nham atrás começaram a buzinar, e meu pai que vinha ao meu lado também me deixava nervosa.”, relata.

A partir desta situação, Juliana se diz ter adquirido um bloqueio para não mais dirigir. Foi então que com a ajuda do na-morado, ela procurou especialistas para reverter tal situação. “Resolvi tentar mais uma vez. Cheguei e pedi logo pra que me colocasse com o melhor instru-tor do centro, pra me ensinar do zero mesmo.”

A servidora conta que logo na primei-ra aula, seu instrutor a colocara em uma situação que a fez pensar em desistir de ser ajudada, mas no final, ela julga ter superado o medo da direção, antes mes-mo do tempo estipulado de aulas pelo

instrutor. “Foi uma ladeira que no meio tinha um semáforo e logo atrás tinha um caminhão. Eu me aperriei, chorei, mas o instrutor foi apurando um pouco o meu psicológico e ai deu pra tirar de letra essa situação. Agora já saio no carro pra shop-ping, pra supermercado, tiro e boto car-ro da garagem.”

Para a responsável do Centro de Capacitação GS Dirija Sem Medo, Juliana Gaspardi, antes de procurar os servi-ços de um profissional da área, a pessoa deve passar por um acompanhamento psicológico para saber o que de fato ela tem. Pânico ou medo dirigir, já que ela julga serem duas coisas completamente diferentes.

Atualmente a procura pelos serviços, de acordo com a responsável pelo Centro, tem sido mais de mulheres do que de

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homens. “Só pra você ter uma ideia, de trinta alunos hoje, um é homem. Porque há todo aquele machismo do homem que sabe que precisa de ajuda, mas não quer procura-la” destaca Juliana.

Já para a professora Valéria de Oliveira (foto), 35, o não hábito de dirigir um au-tomóvel fez com que tal medo surgisse. “Eu já tenho carteira há uns seis anos e desde então raríssimas vezes dirigia. Não tinha carro disponível. Quando pe-gava em um também não tinha aquela confi ança toda em comandar os pedais e olhar pro transito ao mesmo tempo. Não gostava quando buzinavam atrás de

mim nas vezes que enganchava no tran-sito. Então, esse medo mais a falta de dis-ponibilidade fez com que eu procurasse ajuda pra sair dessa situação”, ressalta.

O método usado pela empresa é divi-dido em três etapas, como explica a res-ponsável. O procedimento em etapas aju-da que o motorista realmente perca tal medo. “Primeiro, a pessoa dirige no nos-so carro, acompanhada do instrutor. No segundo momento, o cliente vai no pró-prio veiculo com o acompanhamento do instrutor, praticando situações reais de como se portar no transito. E no terceiro momento, a pessoa dirige seu carro sozi-nha, ou seja, sem a companhia do instru-tor sentado no banco do lado. Ele acom-panha o aluno em outro carro, atrás do automóvel do nosso aluno”, explica.

O numero de aulas necessárias para tirar o medo da pessoa que procura tais serviços varia, como ressalta Juliana. Tal defi nição é feita pelo aluno em

acompanhamento com o instrutor que avalia a pessoa. “Tem uns que com dez aulas já se sentem seguros em enfrentar o transito sem a ajuda dos nossos instru-tores, outros com 15, outros até com 20 aulas”, ressalta.

“Resolvi tentar mais uma vez. Cheguei e pedi logo pra que me colocasse com o melhor instrutor do centro, pra me ensinar do zero mesmo.”Juliana Montezuma

acompanhamento com o instrutor que avalia a pessoa. “Tem uns que com dez aulas já se sentem seguros em enfrentar o transito sem a ajuda dos nossos instru-tores, outros com 15, outros até com 20

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As limitações impostas por barreiras linguísticas

VOCÊ FALA MINHA LÍNGUA?

REPÓRTER Caio Túlio Costa | FOTOS Arquivo Pessoal DESIGN Cleber Gomes | Raimundo Machado

De onde vieram as barreiras?

Desde os primórdios da huma-nidade e suas origens, o homem desen-volvia formas de comunicação. Hora por gestos, grunhidos e até posturas, os nossos ancestrais tentaram suprir as necessidades da época. Com a evo-lução de sentidos e uma capacidade de expressão mais refinada, o homem modificou também a comunicação. O que antigamente fora uma forma de se

comunicar entre um grupo específico, passou a se adequar para a interação com outros grupos distintos. E isso ge-rou muitos enganos no que diz respeito a compreensão. Nessa evolução, barrei-ras impostas acarretaram em modifica-ções sócio-culturais nos povos primiti-vos, mas foram imprescindíveis para as diferenças linguísticas que temos no mundo de hoje. Entretanto, até mesmo atualmente, os povos ainda enfrentam barreiras ao se comunicar, mesmo que

o sentido seja compreendido, como ve-mos no simples exemplo de um “miado de gato”: “Miau” em português, “meow” em inglês, “yaong” em coreano e “nyan” em japonês. São a mesma coisa, ditas e compreendidas de forma diferente.

Mesmo que tenhamos estatísticas que comprovem as línguas mais ou menos faladas no mundo em que vivemos, nos contextos sociais em que elas estão inse-ridas, fazem toda a diferença na rotina e modo de viver de um povo. O estudante

Do you habla mein langue?

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norte-americano de medicina Benjamin Hugo (foto à esq.), de Utah, EUA, venceu barreiras linguísticas quando recebeu um chamado para realizar uma missão religiosa no Japão. Total desconhecedor da língua japonesa, Benjamin teve de estudar e se dedicar em tempo integral

para a tarefa a qual fora incumbido. “Graças a imersão na língua, o proces-so de aprendizado foi mais rápido. Mas ao mesmo tempo é desesperador caso o estudante de línguas não tenha um apoio ou alguém que o possa socorrer em alguma dificuldade. Mesmo sendo muito difícil, era o meu sonho e dedi-cação foi minha guia para vencer qual-quer barreira”, disse.

O caso de Benjamin Hugo (foto aci-ma) é apenas mais um em na realida-de do mundo globalizado em que vive-mos. Hoje em dia, o inglês é considerado a língua dos negócios. Muitas vezes, a “válvula de escape” de culturas distin-tas que desejam se comunicar. Segundo dados do Instituto de Pesquisas Summer Institute of Linguistics Internacional, mesmo que seja apenas a terceira língua mais falada do mundo (perdendo para o

chinês mandarim e o hindi), é uma das únicas em que se pode falar em qual-quer lugar do globo.

Qual é o limite?Para que se compreenda as barreiras

culturais impostas pelas línguas, é ne-cessário perceber que, para entender uma língua, a tradução não é o único processo que tem de ser realizado. É pre-ciso relevar também a “adaptação”, que vem do conhecimento cultural dos falan-tes. Tomando como exemplo a expressão idiomática da língua portuguesa “abrir o coração”, temos o sentido de desabafar, ser sincero e se declarar. Entretanto, na língua inglesa a mesma expressão não faz o menor sentido a não ser o literal. Esse é o valor cultural de uma língua, e exatamente o que o estudante de design

Graças a imersão da língua, o processo de aprendizado foi mais rápido [...] mesmo sendo muito difícil, era o meu sonho e dedicação foi minha guia para vencer qualquer barreira.Benjamin Hugo

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industrial Matheus Vale, 22, vem en-frentando como barreira em seu inter-câmbio acadêmico em Dublin, Irlanda.

“É muito difícil quando não se tem o domínio total da língua. Na nossa cabeça traduzimos do portugês e então falamos em inglês. Aos poucos vamos aprendendo a nos conter e falar no automático, mas até lá vou continuar vendo muitas caras de dúvida nas pessoas ao meu redor”, brinca Matheus. Quando se está em um país diferente do seu de origem e não se compreende o aspecto cultural por com-pleto, as dúvidas são mais que naturais. Muitos têm dificuldades em compreen-der uma nova língua por conta de suas diferenças extremas. “Eu tinha aplicado para uma universidade na Espanha e ou-tra na Irlanda. Mas quando não fui acei-to na instituição espanhola fiquei muito preocupado pois meu inglês era muito limitado para suprir as demandas da irlandesa. Assim que tive os resultados corri para me matricular em um curso

de inglês, até a última semana antes da viagem”, completa Matheus.

Já para o mestrando em automação in-dustrial Renê Olímpio, 33, iniciar o mes-trado foi um dos passos mais difíceis a serem tomados na vida. Com autores aca-dêmicos e grandes referências da área na língua inglesa e alemã, Renê teve de en-frentar bloqueios linguísticos para dar continuidade aos seus estudos. “Meu plano era terminar minha graduação em engenharia elétrica e já aproveitar meus projetos para o mestrado, sem per-der tempo. Mas grandes textos e conteú-dos em alemão, por exemplo, me fizeram adiar muito tempo enquanto fazia Casa de Cultura Alemã”, completa Renê. “Mas agora fica muito mais fácil, com quatro anos de estudos em alemão já me sinto seguro para me aventurar por congres-sos e encontros em países como Áustria e Alemanha”, adiciona o mestrando.

Infelizmente muitos não têm a mes-ma sorte e facilidade de Renê, pois os

Mas quando não fui aceito na instituição espanhola fiquei muito preocupado, pois meu inglês era muito limitado para suprir as demandas da irlandesa. Assim que tive os resultados corri para me matricular em curso de inglês, até a última semana antes da viagem.Matheus Vale (foto acima)

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investimentos para aprender uma lín-gua estrangeira são muitas vezes ina-cessíveis para a grande maioria, assim como tempo e dedicação necessários.

Superando limites linguísticos

Barreiras linguísticas podem ser an-tes de tudo interpretadas como limita-ções culturais. Compreender uma lín-gua estrangeira e totalmente distinta de sua língua-mãe é como ir para a China e comer grilos por ser um prato típi-co. Países da Ásia Oriental como Vietnã e países do continente africano como Nigéria, mantinham hábitos de comer carne de cachorro. Para o Ocidente, onde o cachorro é tido como melhor amigo do homem, essa é uma prática abominável. Mas ao mesmo tempo, é comum se co-mer carne de vaca em nosso país, práti-ca repulsiva na Índia. O mundo em que vivemos é muito grande, e assim como centenas de culturas distintas, também

temos e tivemos centenas de formas de expressar nossa cultura por sons, gestos e demais manifestações. De acordo com a linguista especialista da Universidade do Porto, Cecília Morais, “o desconheci-mento da linguagem de um país consti-tui em um dos maiores problemas para as pessoas ao redor do mundo. Obter a coisa mais simples se torna um pesade-lo nessa situação. Entretanto, o conhe-cimento da língua gera processos de inclusão social além de alavancar uma espécie de ascenção cultural e social que muitos ambicionam”.

Para termos um controle considerá-vel e dominarmos uma língua estran-geira, temos que superar as barreiras linguísticas e culturais entre dois po-vos. Através de conversas, programas culturais, imersão, contato e paciência, resultados almejados podem ser con-quistados mesmo quando cada pessoa tem seu próprio ritmo. Ser seu próprio exemplo é a chave para esse domínio u

O desconhecimento da linguagem de um país constitui em um dos maiores problemas para as pessoas ao redor do mundo. Obter a coisa mais simples se torna um pesadelo nessa situação. Entretanto, o conhecimento da língua gera processos de inclusão social além de alavancar uma espécie de ascenção cultural e social que muitos ambicionam.Cecília Morais

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REPÓRTER Camila Gadelha FOTOS Camila Gadelha DESIGN Evelyn Barreto | Rafaella Girão

Pessoas que estão sempre conectadas ao mundo virtual podem ter problemas de relacionamentos

As tecnologias estão presentes em todos os lugares, sejam nos trabalhos, nas escolas, nas faculdades. As vantagens trazidas por esses avanços tecnológicos nos possibilitam fazer coisas que antes podiam levar muito tempo, e que agora podem ser resolvidas num clique de um computador ou celular, porém também há desvantagens. E essas, podem trazer muitos problemas sociais, principalmen-te para a nova geração, que está muito mais envolvida com essas tecnologias.

Aplicativos e redes sociais estão dia-riamente na vida dos jovens, ocupando cada vez mais tempo do dia a dia e fazen-do com que muitos deles se desliguem do mundo real e fiquem sempre conectados ao mundo virtual.

A psicóloga Carlota Fiúza acredita que o uso da tecnologia se torna prejudicial quando é usada como refúgio, como fuga do enfrentamento dos problemas. A sua utilização de forma massiva aliena o sujeito, bem como paralisa a sua vida.

Outro fator preocupante, segundo a psi-cóloga, é quando o relacionamento hu-mano é substituído pelas redes sociais, ocasionando o empobrecimento das ex-periências afetivas. O medo de se machu-car com o outro faz com que as pesso-as por vezes se isolem e prefiram ficar conectadas a celulares e computadores, evitando assim, mais frustrações. Na expectativa de viver experiências reais as pessoas buscam satisfação afetiva no mundo virtual.

como limitadoras de relações humanasAS TECNOLOGIAS

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A estudante e usuária dessas tecnolo-gias, Beatriz Peixoto, confessou que uti-liza bastante os aparelhos tecnológicos e que muitas vezes não se dá conta do tempo que passou enquanto usava o ce-lular. “A verdade é que no momento nem percebo, mas depois noto o quanto perdi tempo mexendo no celular. Não sei o mo-tivo específico, acredito que são as várias atratividades que o meio oferece em vis-ta de uma ociosidade que perpassa por quase todos nós. Muitas vezes as pessoas querem falar comigo e eu não dou muita atenção por estar entretida com o meu celular. Então, quando ocorre comigo é que eu percebo o quanto é ruim”, conta.

Nem tudo que está nos celulares, po-rém é para fazer com que as pesso-as fiquem ligadas na rede. O aplicativo Offzone, criado por dois cearenses, trás exatamente a proposta de se desconec-tar das tecnologias. “Sempre fui contra esse movimento de falar mais do que fa-zer, da necessidade das pessoas que pre-cisam usar dessas ferramentas para se mostrarem melhores. E quando isso co-meça a se tornar um vício, o sujeito per-de a noção do respeito e a coisa começa a se inverter: quem está perto fica longe e quem está longe acha que está perto”, conta Rafael Coelho, um dos criadores do aplicativo.

O aplicativo que pode ser baixado em sistemas Android e iOS, fez parcerias com estabelecimentos de Fortaleza, que

vão de bares a salões de beleza, com a finalidade de premiar os clientes que possuem o aplicativo, com algum brinde dado pelo próprio estabelecimento, seja um desconto ou algum produto. O cliente que possuir o aplicativo deve permane-cer sem usar o celular durante um deter-minado tempo já fixado. Isso faz com que as pessoas saiam desse mundo virtual e comecem a perceber ao redor o mundo real, conversar com amigos, familiares, ou até mesmo fazer novas amizades, re-lações pessoais que no mundo de hoje es-tão sendo enfraquecidas pelos usos ex-cessivos dos celulares, principalmente pelos jovens.

Ao contrário dos que ficam antenados 24 horas por dia no celular e computado-res, há também aqueles jovens que pre-ferem o mundo real. É o caso de Mikaelle Lima, 20 anos. A estudante disse que já se sentiu incomodada com o uso excessi-vos dos celulares pelos amigos e chegou

a tomar o celular deles para que se des-conectassem. “Acho isso uma falta de respeito, por isso, confisco o celular de todos quando saímos para nos divertir e conversar”, conta.

A psicóloga Carlota Fiúza ainda ressal-ta que as pessoas não nascem viciadas em tecnologias, mas, vão se apegando a esses aparelhos cada vez mais. As boas relações familiares, o companheirismo, respeito ao próximo e diálogos, são as melhores formas de se evitar que essas tecnologias passem a ser mais importan-tes do que as pessoas, e que as relações pessoais fiquem escassas em um mundo cada vez mais tecnológico.

“Sempre fui contra esse movimento de falar mais do que fazer, da necessidade das pessoas que precisam usar dessas ferramentas para se mostrarem melhores.Rafael Coelho

DESCONECTE-SE

Estabelecimentos que aderiram ao

aplicativo O�zone:

• Sherlocks Pub

• Sacada Bar Petiscaria

• Longslide SkateBar

• Groove Pub

• Zug Chopperia

• Deck 5

• Chocoberry Chocolateria

• Salão Rituale

“Acho isso uma falta de respeito, por isso, confisco o celular de todos quando saímos para nos divertir e conversar”Mikaelle Lima

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REPÓRTER Camila Vasconcelos FOTOS Camila Vasconcelos DESIGN Cleber Gomes | Raimundo Machado Neto

Foi-se o tempo em que sinônimo de diversão era brincar de pega-pega, esconde-esconde e amarelinha. Quando andar de bicicleta e patins era um dos prazeres favoritos nos fins de semana. E, ao invés do celular, as crianças se distra-íam com brinquedos lúdicos que estimu-lam a imaginação. Hoje, computadores, tabletes e smartphones têm se tornado passatempo favorito das crianças, preo-cupando pais e psicólogos.

É bem verdade que os tempos muda-ram. Não se pode mais correr e brincar livremente nas ruas. A insegurança não permite que as crianças tenham uma vida semelhante à de outrora, o que es-timula o consumo de produtos que as prende dentro de casa. Para os país é sempre difícil dizer “não” aos filhos,

quando estes se deparam com algum ar-tigo tecnológico nas prateleiras de lojas e supermercados. Os antigos brinquedos permanecem lá, mas os produtos “hite-ch” com diferentes cores e funções cha-mam atenção da “criançada”.

A assistente social Cilma Peixoto, 35, admite não ser fácil conter o ímpeto do filho, de sete anos, quando o assunto são produtos eletrônicos: “Mateus insistiu muito para que eu comprasse um ta-blet e um celular, pois os amiguinhos da escola já tinham e ele queria também”. Entretanto, busca impor limites sobre o conteúdo que ele acessa. “Sabemos que a internet é uma porta larga para todo o mundo lá fora, tanto para o bem quanto para o mal, e temos que vigiar e orientar

Sabemos que a internet é uma porta larga para todo o mundo lá fora, tanto para o bem quanto para o mal, e temos que vigiar e orientar nossos filhos sobre o que eles encontram nela”Cilma Peixoto

Apelo tecnológico na infância

Tema amplamente discutido na sociedade e que preocupa pais e psicólogos

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nossos filhos sobre o que eles encontram nela”.

Existem pais que são mais rígidos quanto à criação de seus filhos e pre-ferem mantê-los distantes destas fer-ramentas. É o caso da universitária Nayana Motta, 27, mãe de Mariana, de apenas dois anos. ”Sempre estimulo mi-nha filha a brincar e ler livros. Sei que isto é importante para sua formação e vai ajudá-la no futuro. E, por enquanto, é melhor deixá-la longe da tecnologia, pois não acho adequado uma criança tão nova se envolver com este univer-so”. Nayana ainda estipula a idade que sua filha terá contato com estes artigos. “Dez anos é o ideal”.

Para a psicóloga infantil Raisa Arruda, especializada no tema, até os cinco anos não existe a necessidade de incentivar o contato da criança com aparelhos tecno-lógicos. “Nesta idade, ela ainda não sepa-ra completamente realidade de fantasia, por isso, um sonho ou pesadelo podem ser bastante reais”.

Raisa explica que o uso da tecnologia tolhe a capacidade criativa da criança, caso seja estimulada muito cedo, sem orientação e sem limites. “As imagens chegam prontas e ela não se dá ao pro-cesso de raciocinar em cima do que é apresentado. Com o tempo, tudo fica muito marcante passando a ter dificul-dades de abstrair, criar, dialogar e se co-locar no lugar do outro, podendo apre-sentar queda na vontade de aprender, já que isto requer raciocínio e lógica.”

A psicóloga ainda diz, que o ideal é que a criança tenha um contato gradual com estas ferramentas. “O melhor é que ela seja exposta por tempos limitados, com orientação, e que veja programas de acordo com sua faixa etária”. Contudo, ela afirma que o mais indicado é esti-mular atividades lúdicas e de criação, pois ajudam no desenvolvimento e na formação infantil. “Desenhar no papel, brincar com caixas, potes, chocalhos e

brinquedos caseiros, são algumas boas opções que contribuem para o seu de-senvolvimento e ela mesma pode fazer”. Para os pais o conselho é sempre man-ter diálogo com os filhos e explicar de forma honesta os motivos pelos os quais se permite ou não, já que é fundamental que ela compreenda e sinta-se respeita-da no ambiente familiar.

Diante disto, é importante haver equilíbrio entre diversão, educação, socialização e comunicação, já que são pontos chaves para formação infantil e jamais devem ser desprezados, além da interação entre os novos meios e as brincadeiras mais clássicas. Desta for-ma, se construirá uma infância mais in-teligente e saudável.

O melhor é que ela seja exposta por tempos limitados, com orientação, e que veja programas de acordo com sua faixa etáriaRaisa Arruda

Desenhar no papel, brincar com caixas, potes, chocalhos e brinquedos caseiros, são algumas boas opções que contribuem para o seu desenvolvimento e ela mesmaRaisa Arruda

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benefícios e malefícios aos atletas

SUPERAÇÃODE LIMITES

REPÓRTER André Cavallari FOTOS Arquivo Max Ferrer DESIGN Isabelly Lima | Lérida Freire

Alguns números e recordes estão cada vez mais difíceis de serem superados e o mundo não sabe ao certo até onde vai o limite do corpo humano

Até onde vai o limite do corpo hu-mano? O desempenho dos atletas tem algum limite? Ou, com esforço, talento e treinamento eles podem superar suas marcas a cada dia? Essas perguntas são feitas frequentemente quando se trata de limite físico de um esportista.

Superação e determinação são aspec-tos importantes para a quebra de recor-des, mas é necessário que haja uma do-sagem ideal, para que o corpo do atleta não seja prejudicado.

Max Ferrer, 19, é goleiro do Taubaté-SP. O jovem atleta saiu do Ceará para seguir

a carreira de jogador profi ssional de fu-tebol. Ele procura sempre superar os seus próprios limites.

“Limite é muito relativo e depende de cada atleta. O que coloco na cabeça é que quando acho que cheguei no meu limite, ainda posso dar um pouco mais”, disse.

Porém, a ultrapassagem dos limites físicos pode acarretar algumas conse-quências para os atletas. Max aponta alguns desses malefícios. “Se for ultra-passado o limite físico de forma muito exagerada, os riscos podem ser as lesões,

o próprio cansaço e o rendimento nos treinos seguintes”, complementou.

Pedro Soldon, 23, educador físico que trabalha no Clube do Vôlei, em Fortaleza, aponta alguns dos riscos que a extrapo-lação de limites pode causar nos atle-tas. “Atividades físicas praticadas no limite, de forma indiscriminada e por muito tempo, podem danifi car o corpo humano. O organismo pode ser lesiona-do e sofrer estresse oxidativo. O mesmo

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oxigênio que faz você viver em longo pra-zo, vai causando danos no DNA celular e vai induzindo à morte celular”, alertou.

A busca por conquistas e títulos, no en-tanto, faz com que muitos atletas supe-rem os próprios limites, sem que o corpo seja prejudicado. Para isso, é necessário um acompanhamento de profissionais e alguns cuidados fundamentais.

Um dos papéis do preparador físico, na opinião de Pedro, é precisar o limite físi-co do atleta. Quando o preparador faz a periodização do esportista, ele percebe se o treinamento vai ultrapassar o seu limite. “Ultrapassando esses limites, o atleta pode ter o chamado overtraining, que é o excesso de esforço”, complemen-tou o educador físico.

De acordo com alguns especialistas, em todos os esportes, os recordes estão chegando ao seu teto. Os artifícios tec-nológicos ou dopings sempre são citados na discussão sobre a relação dos recordes esportivos com os limites humanos.

Recordes não são inquebráveis. Frequentemente marcas consolidadas como “imbatíveis” são superadas e no-vos atletas chegam ao topo de modali-dades esportivas. No entanto, os índices de progressão em algumas modalidades esportivas diminuíram nos últimos anos. Algumas marcas não são superadas a muito tempo.

“Os recordes podem ser quebrados sim, mas há recordes muito difíceis de serem quebrados, como o do Usain Bolt, que é de 9’’58 nos 50m livre de atletismo. Há tam-bém recordes que já faz algum tempo que

não são quebrados. Para mim, talvez não existe um limite a ser alcançado. Depende muito de como o atleta treina, de como esse atleta se alimenta, etc. De vez em quando nasce um atleta fora do comum e bate esses recordes”, destacou Pedro.

Max também concorda com a supera-ção de marcas, principalmente por causa do avanço tecnológico.

Estudos do laboratório do Instituto Nacional do Esporte Francês (INSEP) apontam que até 2027, metade das 147 modalidades esportivas estudadas terão chegado ao seu limite. A estimativa é que, após essa data, os recordes mundiais não serão superados em mais de 0,05%.

Por outro lado, alguns cientistas de-fendem a tese de que não sabemos o que está por vir. Novos atletas podem surgir, com desempenhos superiores e propensão para novas quebras de re-cordes. Para esses cientistas, os atletas continuarão quebrando marcas, embo-ra possa ser por uma pequena diferen-ça. Previsões erradas nos anos anterio-res servem de base para as teses desses estudiosos, que defendem a continuida-de da quebra de recordes e da superação de limites nos esportes.

Infelizmente algumas pessoas exage-ram na busca pela melhora do seu cor-po. Muitos não têm o acompanhamento ideal e acabam exagerando na acade-mia, no treino ou em outra prática es-portiva. O exagero e o despreparo po-dem causar até a morte. Recentemente, um estudante cearense morreu nos Estados Unidos após sofrer uma desi-dratação enquanto fazia uma trilha com os amigos, no Arizona.

Para Pedro, é preciso ter alguns cui-dados na prática de exercícios, princi-palmente quando os atletas procuram superar os seus limites. Ele dá algumas dicas para que eles percebam os limites dos seus corpos no dia a dia:

“O nosso corpo dá alguns sinais de cansaço quando chega no limite. Nosso rendimento não é mais o mesmo. Todo atleta tem seu auge e depois desse auge o rendimento começa a cair. Claro que isso

depende muito do esporte. Em alguns, o atleta consegue aguentar mais tempo e mais intensidade do que em outros”.

Os limites podem e devem ser supera-dos. Mesmo com o avanço da tecnologia e com o ‘estopim’ dos atletas, as marcas deverão continuar sendo superadas nos próximos anos.

Para superação de limites no esporte, porém, são necessários alguns cuidados listados acima. O principal é o acompa-nhamento de um profissional da área. Com os cuidados fundamentais, o talento e a superação do próprio atleta, os ‘limi-tes’ devem continuar surpreendendo os amantes do esporte nos próximos anos.

“Creio que os recordes podem ser quebrados sim, principalmente por causa do avanço da tecnologia, que está aumentado na forma e no período dos treinamentos”.Max Ferrer

“Atividades físicas praticadas no limite, de forma indiscriminada e por muito tempo, podem danificar o corpo humano”.Pedro Soldon

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SAÚDE E ESTÉTICACORPORAL

REPÓRTER FOTOS Pedro Lopes DESIGN Isabelly Lima | Lérida Freire

Com a busca pelo corpo ideal, o mercado de suplementos alimentares tem crescido, mas algumas pessoas esquecem a importância de nutricionistas e pro�ssionais da saúde.

De acordo com o Sebrae, nos úl-timos cinco anos o número de academias cresceu 133% no Brasil. Esta informação apenas reforça o que podemos constar com fácil observação: as pessoas têm se importado mais com saúde e estéti-ca corporal. Porém, todos esses esforços demandam paciência e disciplina, seja

ao objetivar um emagrecimento ou um crescimento muscular. Com tal realida-de, algumas pessoas recorrem ao uso de substâncias perigosas e até ilegais.

Para Leorne Junior, educador físico, um dos erros mais comuns cometidos pe-los iniciantes da musculação é achar que irão conquistar seus objetivos com muita

facilidade, sem grandes esforços e disci-plina. Ele também conta que sem a ajuda de profissionais, o aluno pode vir a ter problemas de coluna. Além disso, Junior observa que muitos jovens supervalori-zam a suplementação, sem antes pensar nos benefícios maiores da alimentação de qualidade e na rotina de treinamento.

podem andar juntos?

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“Com isso, é comum encontrar prati-cantes recebendo indicações de educa-dores físicos. Alguns até vendem este-róides anabolizantes”, disse Junior. Para ele, o ideal é sempre procurar um nutri-cionista, e o personal trainer deve ser ético e não se aproveitar do meio para comercializar suplementos. “Nem con-sidero profissional quem vende esterói-des, e muitos nem possuem formação de fato”, frisou.

Milena Carvalho, 21, começou a pra-ticar atividade física para adquirir mais massa muscular. Procurou um nutricio-nista e entrou em um processo rígido de disciplina. “Foi quando decidi procurar uma academia para obter bons resulta-dos estéticos e ficar de bem com minha autoestima”, afirmou. Milena conta que também se importa com a saúde, e pas-sou a valorizar ainda mais o fato da mus-culação prevenir doenças como diabe-tes, hipertensão, artrite etc.

Para a praticante, é importante sem-pre ter acompanhamento de um profis-sional, para evitar lesões e para aper-feiçoar o treinamento. Milena tem a musculação como algo fixo na sua rotina, faltando apenas em casos excepcionais. “Coloquei meu treino como regra, assim como o trabalho e os estudos. Isso é algo que me trará benefícios, então procuro seguir corretamente com os treinos e fal-tar apenas em casos de extrema necessi-dade”, conta.

Leorne Junior informa ainda sobre o crescimento da busca pela saúde pro-priamente dita, mas entende que o

interesse pela estética ainda é majori-tário. “Cardiopatas, diabéticos, recém operados, entre outros, estão utilizan-do a musculação com maior frequên-cia”, disse. De acordo com ele, as pes-soas devem unir os dois interesses, e assim a saúde e a autoestima melhoram proporcionalmente.

Roberto Guimarães, 21, compreen-de a necessidade de suplementos, prin-cipalmente quando não há tempo para se alimentar perfeitamente. “Fica difí-cil arranjar tempo para se alimentar de acordo com a dieta quando você trabalha e estuda. Os suplementos acabam ofere-cendo muita praticidade”, falou. Roberto também sentiu necessidade de procurar o esporte por não se sentir bem com o próprio corpo, por ser magro. Hoje, além da musculação, ele pratica futebol duas vezes por semana. “A musculação, jun-tamente com o futebol, melhoram meu sistema imunológico e me dão um maior bem estar no cotidiano, mas apenas a malhação me garante o corpo que dese-jo”, afirmou Roberto.

Turibio Barros, fisiologista, mostrou outro ponto de vista, em matéria para o portal do Globoesporte.com. Ele obser-va que existe um preconceito por par-te de algumas pessoas, que encaram os

suplementos sempre como algo perigo-so e desnecessário , além de confundi-rem estes com as populares “bombas”. De acordo om ele, o fato de alguns utili-zarem esses produtos de maneira erra-da contribui para prejudicar a imagem das marcas.

“Os suplementos são recursos nu-

tricionais importantes, e seu consu-mo bem orientado atende a diferentes necessidades, com resultados muito convincentes”, informou o fisiologista. Turibio compreende ainda que os suple-mentos demonstram importâncias que vão além do mercado esportivo, pois se-gundo ele, esses nutrientes extras auxi-liam até mesmo crianças e idosos com carências nutricionais. u

Os suplementos são recursos nutricionais importantes, e seu consumo bem orientado atende a diferentes necessidades.Turibio Barros

Os suplementos são recursos nutricionais importantes, e seu consumo bem orientado atende a diferentes necessidades.Turibio Barros

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ANÚNCIO

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