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MPE Ministério Público Eleitoral Procuradoria Regional Eleitoral na Bahia EXCELENTÍSSIMA SENHORA PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL NO ESTADO DA BAHIA O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, por intermédio da sua Procuradoria Regional, vem, com amparo nos artigos 1º, § 2º c/c 4º, da Resolução TSE n. 22.610/2007, propor AÇÃO DE DECRETAÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO, em desfavor de ANTONIO LAPA SILVA DE SANTANA, Vereador do Município de Sapeaçu/BA, com domicílio funcional na Praça José Joaquim Seabra, n. 30, Centro, CEP 44.530-000, Sapeaçu/BA, pelos motivos a seguir explicitados: Consoante se verifica da documentação anexa (Expediente TRE-BA n. 51.885/2013), o requerido comunicou ao Juízo da 184ª Zona Eleitoral sua desfiliação do Partido Democrático Trabalhista (PDT) , cuja petição foi protocolada em cartório na data de 23/05/2013. Do relatório de registro de filiação acostado à inicial, depreende-se que o demandado, até a presente data, não migrou para os quadros de outro partido, conforme informações extraídas do Sistema ELO6, disponibilizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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MPEMinistério Público Eleitoral

Procuradoria

Regional Eleitoral

na Bahia

EXCELENTÍSSIMA SENHORA PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL

ELEITORAL NO ESTADO DA BAHIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, por intermédio da sua

Procuradoria Regional, vem, com amparo nos artigos 1º, § 2º c/c 4º, da

Resolução TSE n. 22.610/2007, propor AÇÃO DE DECRETAÇÃO DE

PERDA DE CARGO ELETIVO, em desfavor de ANTONIO LAPA SILVA DE

SANTANA, Vereador do Município de Sapeaçu/BA, com domicílio funcional

na Praça José Joaquim Seabra, n. 30, Centro, CEP 44.530-000,

Sapeaçu/BA, pelos motivos a seguir explicitados:

Consoante se verifica da documentação anexa (Expediente

TRE-BA n. 51.885/2013), o requerido comunicou ao Juízo da 184ª Zona

Eleitoral sua desfiliação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), cuja

petição foi protocolada em cartório na data de 23/05/2013.

Do relatório de registro de filiação acostado à inicial,

depreende-se que o demandado, até a presente data, não migrou para os

quadros de outro partido, conforme informações extraídas do Sistema ELO6,

disponibilizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Destaque-se, de logo, o que estabelece o art. 1º, da referida

Resolução, verbis:

Art. 1º - O partido político interessado pode pedir, perante a Justiça Eleitoral, a decretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa.

§ 1º - Considera-se justa causa:

I) incorporação ou fusão do partido;II) criação de novo partido;III) mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;IV) grave discriminação pessoal.

§ 2º - Quando o partido político não formular o pedido dentro de 30 (trinta) dias da desfiliação, pode fazê-lo, em nome próprio, nos 30 (trinta) subseqüentes, quem tenha interesse jurídico ou o Ministério Público eleitoral.

§ 3º - O mandatário que se desfiliou ou pretenda desfiliar-se pode pedir a declaração da existência de justa causa, fazendo citar o partido, na forma desta Resolução. (grifou-se).

Sucede, todavia, que não se entremostra no caso sob análise a

existência de qualquer fato que possa subsumir-se a uma das referidas

hipóteses de desfiliação por justa causa; tampouco consta que o requerido

tenha provocado esse Tribunal, como autoriza o artigo 1º, § 3º, da

mencionada Resolução, a fim de obter declaração de justa causa para o

rompimento do vínculo com a agremiação pela qual fora eleito.

Nessa perspectiva, resta configurada a violação à legislação de

regência, que determina a decretação de perda de cargo eletivo como

decorrência de desfiliação sem justa causa (art. 10, Resolução TSE n.

22.610/2007).

Em verdade, antes de pertencer ao Partido, o mandato

pertence ao povo (parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal), que

escolhe as diretrizes e ideais que deverão nortear a condução do Estado; daí

dizer-se que a retirada injustificada do candidato de determinada

agremiação enseja a manutenção do mandato com esta última, em tese a

defensora do ideário eleito, razão pela qual o cargo não pode ser objeto de

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conchavo ou negociata que retire da soberania popular o poder/direito de

escolha que lhe é inerente.

Veja-se, a propósito, deliberação do Tribunal Superior

Eleitoral em resposta à Consulta n. 1.720, in verbis:

CONSULTA. FIDELIDADE PARTIDÁRIA. DETENTOR DE CARGO ELETIVO. MUDANÇA DE PARTIDO. CONSEQUÊNCIAS. RESOLUÇÃO-TSE Nº 22.610/2007.Acordos ou deliberações de qualquer esfera partidária não têm o condão de afastar as consequências impostas pela Resolução-TSE nº 22.610/2007, considerando a pluralidade de interessados habilitados a ingressar com o pedido de decretação de perda de cargo eletivo por infidelidade partidária. (CTA 1720. Relator: Fernando Gonçalves. DJE de 16/10/2009, pg. 28). (grifou-se).

No mesmo sentido, os julgados adiante destacados:

Petição. Infidelidade partidária. Desfiliação sem justa causa. Vereador. Pedido de decretação de perda de cargo eletivo. Documento em que o partido libera o vereador para se desfiliar da agremiação. Ausência de justa causa. Procedência do pedido. - Para a configuração de grave discriminação pessoal, a jurisprudência exige a presença de conduta destinada a segregar, de forma injusta e desarrazoada, determinado mandatário, de molde a impedir ou prejudicar a sua participação no âmbito interno do partido, o que não restou demonstrado na hipótese aqui versada. […] Pedido julgado procedente, devendo ser comunicada a decisão ao Presidente do Órgão Legislativo competente para que, no prazo de 10 (dez) dias, dê posse ao suplente do Partido que estiver figurando como 1º da lista e que ainda permaneça filiado à agremiação. (TRE/PI, PET n. 70423, Relator Juiz João Gabriel Furtado Baptista, DJE: 15/08/2012, Tomo 169, p. 06). (grifou-se).

Petição. Ação de decretação de perda de cargo eletivo. Vereador. Preliminar de ausência de interesse de agir. Inocorrência. Desfiliação partidária. Comprovação. Autorização do partido. Não caracterização de justa causa. Alegação de grave discriminação pessoal. Não comprovação. Procedência. 1. Independentemente da existência de suplente para assumir a titularidade do cargo em caso de eventual cassação, há interesse jurídico do Ministério Público para propor a demanda, ante a natureza pública do direito nela versado; 2. Uma vez comprovada a desfiliação partidária do mandatário eleito, bem como não demonstrada a grave discriminação

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pessoal alegada em defesa, deve ser julgada procedente a demanda para cassar o mandato eletivo do infiel, valendo ressaltar que a mera autorização do partido para a desfiliação não é bastante para configurar justa causa, ante a ausência de previsão na Resolução/TSE nº 22.610/2007; (TRE/BA, PET n. 157953, Relator: Juiz Saulo Casali Bahia, DJE: 01/06/2012). (grifou-se).

A alegação de carência de ação, porque o Diretório Regional do PMDB deveria ter acatado a diretriz do Diretório Nacional que garantiria aos parlamentares o direito de desfiliação sem a perda do mandato, não está em conformidade à jurisprudência deste Tribunal Superior. (TSE. AC n. 85354, Decisão Monocrática de 10/05/2010). (grifou-se).

Para situações desse jaez é que o art. 1º, § 2º, da aludida

Resolução, prevê a legitimação do Ministério Público, para o manejo da

presente ação, pelo que cabe ao requerido, nos termos do art. 8º, do mesmo

diploma: “[...] o ônus da prova de fato extintivo, impeditivo ou modificativo

da eficácia do pedido”.

Aduza-se, outrossim, que, uma vez decretada a perda do

cargo eletivo, referida decisão deverá ser comunicada ao presidente do órgão

legislativo competente “para que emposse, conforme o caso, o suplente ou

o vice, no prazo de 10 (dez) dias” (art. 10, Resolução TSE n. 22.610/2007),

independentemente de sua publicação, conforme jurisprudência firmada no

âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, verbis:

Cuida-se de ação cautelar, com pedido de liminar e/ou anteci-pação da tutela recursal, ajuizada por José Hermes Rodrigues Damaso, objetivando suspender os efeitos de acórdão do Tri-bunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE/TO) que, julgando procedente ação ajuizada com base na Resolução/TSE nº 22.610/2007, decretou a perda do mandato eletivo do autor por infidelidade partidária (fls. 2-26).[...]Ocorre que, em relação ao processo de decretação de perda de cargo eletivo, esta Corte tem entendido não ser terato-lógica a execução imediata do aresto regional, tendo em vista o disposto no art. 10 da Res.-/TSE nº 22.610/2007, que determina a comunicação ao presidente do órgão legis-lativo sobre a procedência da ação de perda de mandato, para que emposse o suplente no prazo de 10 (dez) dias (Acórdãos nos 4.103/SE, DJE de 16.12.2008, rel. Min. Felix

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Fischer; 3.829/MG, DJ de 6.8.2008, rel. Min. Marcelo Ribeiro; 2.686/CE, DJE de 29.9.2008, rel. Min. Felix Fischer).Além disso, no que se refere à execução da decisão que decreta a perda de mandato com base na Res,/TSE nº 22.610/2007, já decidiu este Tribunal que: [...] para fins de cumprimento da decisão que decreta a perda de cargo eletivo, a jurisprudência do e. TSE faz clara distinção entre as hipóteses de ação de impugnação de mandato eletivo e as de infidelidade partidária, não se recomendando aguar-dar o julgamento dos embargos de declaração na ação que versa sobre infidelidade partidária […] (TSE. AC n. 39736, Decisão Monocrática de 31/05/2012, Relator Min. José Antô-nio Dias Toffoli, DJE: 08/06/2012, Tomo 107, páginas 10-12). (grifou-se).

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DECISÃO MONOCRÁTICA. RECEBIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSO. PERDA. CARGO ELETIVO. DECISÃO. CUMPRIMENTO. OBSERVÂN-CIA. ART. 10 DA RES. TSE Nº 22.610. [...]2. O art. 10 da Res.-TSE nº 22.610 determina que, julgado procedente o pedido, o Tribunal decretará a perda de cargo, comunicando a decisão ao presidente do órgão legislativo com-petente para que emposse, conforme o caso, o suplente ou o vice, no prazo de 10 (dez) dias.3. Em face da expressa disposição regulamentar, não há falar em exigência de trânsito em julgado para cumprimento da decisão em processo de perda de cargo eletivo" (Acórdão n. 2.694, Rel. Min. Arnaldo Versiani, 2.9.2008). (TSE. AC n. 85354, Decisão Monocrática de 10/05/2010). (grifou-se).

Ante o exposto, a Procuradoria Regional Eleitoral requer seja

decretada a perda do cargo eletivo de ANTONIO LAPA SILVA DE

SANTANA, comunicando-se a decisão à Presidência da Câmara de

Vereadores de Sapeaçu/BA, para que emposse o suplente, no prazo e forma

estabelecidos no artigo 10 da apontada Resolução.

Requer, enfim, seja citado o demandado, facultando-lhe

oportunidade para o oferecimento de resposta, bem ainda a produção de

outras provas que se fizerem necessárias.

Salvador, 17 de julho de 2013.

SIDNEY PESSOA MADRUGAProcurador Regional Eleitoral

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