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Métodos e Técnicas de Ensino e Recursos Didáticos para o Ensino do Empreendedorismo em IES Brasileiras. Autoria: Eda Castro Lucas de Souza, Cristina Castro Lucas de Souza, Simone de Araujo Góes Assis, Thais Zerbini Resumo Este trabalho tem como objetivo identificar métodos, técnicas e recursos didáticos, utilizados nos Institutos de Ensino Superior (IES), para o ensino de empreendedorismo. Os IES analisados fazem parte do Projeto de Ensino Universitário de Empreendedorismo – PEUE/IEL/CNI. Este Projeto, desenvolvido pelo Instituto Euvaldo Lodi, em parceria com o SEBRAE Nacional, visa a realização de ações, voltadas para a difusão da cultura empreendedora nas IES. Foram estudados aspectos relativos ao empreendedorismo e as variáveis que dizem respeito aos procedimentos instrucionais, estas analisadas no enfoque da psicologia instrucional. A pesquisa caracterizou-se como descritiva correlacional, sendo a população alvo as IES - que participaram do PEUE, de 1998 a 2003, em 16 Unidades da Federação, 131 (IES), 44% públicas e 56% privadas. Os resultado apresentados identificaram que os meios instrucionais adotados pelos docentes são, ainda, tradicionais, baseados em materiais impressos, o que é contrário à necessidade em criar ambiente favorável ao empreendedorismo, no qual estejam incluídos espaços de discussão e reflexão e um sistema de suporte que incentive o empreendedor. 1. Introdução O cenário mundial que se desenhou a partir do século XX, pela complexidade de uma sociedade em constantes e rápidas transformações, demanda por mudança no perfil das universidades que, passam a viver sob o impacto de um processo de transição não só de seu contexto interno como do externo. Para que se torne mais claro esse processo que, inclusive, atua diretamente na relação da universidade com o Estado e com o setor produtivo, torna-se necessário uma volta no tempo histórico dessa instituição que vem desde o século XII. A partir desse período, a universidade do modelo medieval institucionalizou-se baseada em três modelos, o de uma formação teológica, jurídica, filosófica que, segundo Trindade (1999, p. 13), respondia às demandas de uma sociedade “dominada por uma cosmo visão católica, com uma organização corporativa em seu significado originário medieval, e preservando sua autonomia face ao poder político e à Igreja institucionalizada local”. Do século XV em diante, o desenvolvimento da universidade renascentista sofre a influência da transformação resultante da afirmação dos Estados Nação, abrindo-se, nas palavras de Trindade (1999, p. 18), “ao humanismo e às ciências realizando a transição para os diferentes padrões da universidade moderna do século XIX”. Em meados do século XIX, o movimento encabeçado pela Universidade de Berlim acoplado ao da Universidade de Londres, instituiu as bases da universidade pública que influenciam, até hoje, as relações “universidade, sociedade, conhecimento e poder” (TRINDADE, 1999, p.18). Essa trajetória histórica permite dizer que a universidade inserida na tríade: Estado, setor produtivo e produção científica e tecnológica, mudou não só seus padrões científicos como sua relação com a sociedade e o mercado em função de sua produtividade. Hoje a universidade, por excelência a brasileira, é demandada a adaptar-se para enfrentar suas múltiplas tarefas de formação, pesquisa e difusão de cultura e informação em contexto caracterizado pela democratização, revolução tecnológica, mudanças nas relações de

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Métodos e Técnicas de Ensino e Recursos Didáticos para o Ensino do Empreendedorismo em IES Brasileiras.

Autoria: Eda Castro Lucas de Souza, Cristina Castro Lucas de Souza, Simone de Araujo Góes Assis, Thais Zerbini

Resumo

Este trabalho tem como objetivo identificar métodos, técnicas e recursos didáticos, utilizados nos Institutos de Ensino Superior (IES), para o ensino de empreendedorismo. Os IES analisados fazem parte do Projeto de Ensino Universitário de Empreendedorismo – PEUE/IEL/CNI. Este Projeto, desenvolvido pelo Instituto Euvaldo Lodi, em parceria com o SEBRAE Nacional, visa a realização de ações, voltadas para a difusão da cultura empreendedora nas IES. Foram estudados aspectos relativos ao empreendedorismo e as variáveis que dizem respeito aos procedimentos instrucionais, estas analisadas no enfoque da psicologia instrucional. A pesquisa caracterizou-se como descritiva correlacional, sendo a população alvo as IES - que participaram do PEUE, de 1998 a 2003, em 16 Unidades da Federação, 131 (IES), 44% públicas e 56% privadas. Os resultado apresentados identificaram que os meios instrucionais adotados pelos docentes são, ainda, tradicionais, baseados em materiais impressos, o que é contrário à necessidade em criar ambiente favorável ao empreendedorismo, no qual estejam incluídos espaços de discussão e reflexão e um sistema de suporte que incentive o empreendedor.

1. Introdução

O cenário mundial que se desenhou a partir do século XX, pela complexidade de uma sociedade em constantes e rápidas transformações, demanda por mudança no perfil das universidades que, passam a viver sob o impacto de um processo de transição não só de seu contexto interno como do externo. Para que se torne mais claro esse processo que, inclusive, atua diretamente na relação da universidade com o Estado e com o setor produtivo, torna-se necessário uma volta no tempo histórico dessa instituição que vem desde o século XII. A partir desse período, a universidade do modelo medieval institucionalizou-se baseada em três modelos, o de uma formação teológica, jurídica, filosófica que, segundo Trindade (1999, p. 13), respondia às demandas de uma sociedade “dominada por uma cosmo visão católica, com uma organização corporativa em seu significado originário medieval, e preservando sua autonomia face ao poder político e à Igreja institucionalizada local”.

Do século XV em diante, o desenvolvimento da universidade renascentista sofre a influência da transformação resultante da afirmação dos Estados Nação, abrindo-se, nas palavras de Trindade (1999, p. 18), “ao humanismo e às ciências realizando a transição para os diferentes padrões da universidade moderna do século XIX”. Em meados do século XIX, o movimento encabeçado pela Universidade de Berlim acoplado ao da Universidade de Londres, instituiu as bases da universidade pública que influenciam, até hoje, as relações “universidade, sociedade, conhecimento e poder” (TRINDADE, 1999, p.18). Essa trajetória histórica permite dizer que a universidade inserida na tríade: Estado, setor produtivo e produção científica e tecnológica, mudou não só seus padrões científicos como sua relação com a sociedade e o mercado em função de sua produtividade.

Hoje a universidade, por excelência a brasileira, é demandada a adaptar-se para enfrentar suas múltiplas tarefas de formação, pesquisa e difusão de cultura e informação em contexto caracterizado pela democratização, revolução tecnológica, mudanças nas relações de

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trabalho e necessidade de estabelecer vínculos com o mercado. Isso traz como conseqüência renovação permanente de seus projetos pedagógicos, possibilitando o desenvolvimento de novas tecnologias e metodologias, bem como pluridisciplinaridade do conhecimento.

Por outro lado, no atual contexto de mudança e avanço tecnológico, a estrutura de emprego modifica-se, formações que respondiam às demandas do mercado, hoje perderam essa pertinência, novas carreiras e serviços surgem, ao sistema de ensino é demandado o desenvolvimento de novas competências. Torna-se, cada vez mais freqüente, a necessidade dos egressos do ensino superior criarem, por si mesmos, seus postos de trabalho, o que leva a um processo de revisão e adequação do processo ensino-aprendizagem universitário, e a importância da adoção de projetos pedagógicos desenhados com metodologias alternativas e inovadoras. Além disso, em uma visão shumpeteriana, as empresas são consideradas o lócus privilegiado da inovação e o empreendedor o ator principal do progresso técnico, do desenvolvimento sustentável das nações. Nessa lógica, podem ser considerados mais dois objetivos do ensino superior o desenvolvimento de competências empreendedoras e a disseminação da cultura do empreendedorismo, que, de certa forma, podem ser considerados estratégicos para a inserção do homem ao mercado de trabalho e a sustentabilidade, principalmente das pequenas empresas.

A importância da disseminação de uma cultura empreendedora nas instituições de ensino superior, na tentativa de propiciar um ambiente empreendedor para os futuros profissionais é fundamental, e Gimenez et al (2003, p.12), complementa dizendo que “traços de comportamento empreendedor podem ser conseguidos pela prática e experiências vividas, como, também, pela assimilação de conhecimentos estruturados e codificados em sala de aula”.

Na visão de Souza (2001), a formação do empreendedor passa pela aquisição de conhecimento e habilidades, experiências, capacidade criativa e inovadora. Essa autora refere-se ao desenvolvimento do perfil empreendedor como sendo a capacitação da pessoa para criar, conduzir e implementar o processo criativo, de elaborar novos planos de vida, de trabalho, de estudo, de negócio sendo com isso responsável pelo seu próprio desenvolvimento, pelo de sua organização e da comunidade. Nessa perspectiva, surge a questão central de como realizar essa capacitação, ou seja, como desenvolver competências empreendedoras? Questão essa que desafia a universidade, o setor produtivo e o próprio Estado a estabelecerem novas formas de relações, e a desenvolverem, novas metodologias de ensino.

Nesse sentido, o Instituto Euvaldo Lodi - IEL/CNI, dentre suas diversas linhas de atuação desenvolve em parceria com o SEBRAE Nacional, o Projeto de Ensino Universitário de Empreendedorismo - PEUE. Implementado em 1998, esse projeto visa a realização de ações de âmbito nacional, voltadas para a difusão da cultura empreendedora nas instituições de ensino superior - IES, estimulando e criando mecanismos de apoio para que as Instituições de Ensino, essencialmente as do ensino superior disseminem a cultura empreendedora.

As estatísticas do Censo de Educação Superior, realizadas pelo INEP/MEC em 2002, indicam o registro de 1.637 instituições de ensino superior, públicas e privadas, no Brasil e de uma população universitária de 3 milhões de estudantes em 12.155 cursos presenciais de graduação, tornando-se, assim, um grande desafio à inserção do empreendedorismo nos cursos de graduação do sistema educacional brasileiro.

A falta de dados sistematizados sobre os conteúdos, as metodologias e os resultados pedagógicos e práticos relacionados ao ensino de empreendedorismo desenvolvido no âmbito do PEUE, constitui-se na principal dificuldade para uma avaliação desse Programa e para a

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elaboração de uma agenda para o ensino de empreendedorismo no Brasil. Visando identificar como os Institutos de Ensino Superior, IES, estão desenvolvendo o ensino de empreendedorismo e quais as metodologias empregadas, no âmbito do PEUE – IEL/CNI, foi realizada uma pesquisa, por meio da parceria IEL e Universidade de Brasília – UnB. Este texto tem por finalidade apresentar os resultados dessa pesquisa no que diz respeito a um de seus ângulos, aquele que se refere aos métodos, técnicas e recursos didáticos de ensino de empreendedorismo.

2. Empreendedorismo

As Instituições de Ensino Superior – IES - tem por missão educar, formar e realizar pesquisas, contribuindo para o desenvolvimento cultural, social e econômico da sociedade, promovendo, gerando e difundindo conhecimentos em um contexto de pluralismo e diversidade cultural, enfrentam o grande desafio de serem a alavanca da sociedade do conhecimento, em um momento de “sua expansão mais espetacular” (UNESCO/CRUB, 1999), tendo que promover mudanças internas e de relações com a sociedade. Assim, hoje a universidade necessita adaptar-se para enfrentar suas múltiplas missões como:

A formação inicial, mas, também a formação contínua durante toda a vida, a pesquisa científica e técnica, mas, também a valorização econômica dos seus resultados; difusão da cultura e da informação científica e técnica, dentro da cooperação internacional (UNESCO, CRUB, 1999).

Essa missão é ampliada por um contexto estimulante, caracterizado por mudanças nas relações de trabalho e a conseqüente abertura da universidade para o setor produtivo e o emprego, exigindo das universidades inovação permanente e o foco no cidadão. Isso é reforçado pela demanda de novas competências para o mercado de trabalho, deixando claro, conforme Martino (2004, p132), ser inviável a “dicotomia educação/formação profissional e a correspondente separação de campos de atuação entre instituições educacionais e de formação profissional”.

Segundo Leite (2001), não é possível tratar distintamente trabalho e cidadania, competência e consciência, considerando o indivíduo integral: trabalhador e cidadão competente e consciente. Por outro lado, observam-se dificuldades de absorção pelas empresas dos recursos humanos formados pelas organizações de ensino, essencialmente por não apresentarem como principais características, competência para enfrentar mudanças e mesmo antecipá-las; iniciativa de ação e reação, condições para compreender seu contexto social, político, cultural e econômico. Assim, a necessidade de desenvolver um espírito crítico e de análise, para a condução de um auto sustento se faz, cada vez mais, um diferencial, em um cenário onde as novas tecnologias de produção e de informação são a busca para melhores resultados nas empresas.

Para dar resposta a essas demandas, buscando novas estratégias institucionais e estruturas curriculares, além de alternativas metodológicas inovadoras, surgem movimentos de inserção da cultura empreendedora no contexto das universidades, com o propósito de redirecionar seu processo de ensino-aprendizagem.

Partindo da demanda por competências para que as pessoas estejam mais preparadas para se inserirem no mundo do trabalho, e de que essas competências necessitam para serem desenvolvidas uma ambiência propícia, cabe à universidade mais esse papel, o da disseminação da cultura empreendedora. Na América do Norte, segundo Vésper e Gartner (1999), praticamente todas as instituições de ensino superior apresentam em seus currículos cursos de empreendedorismo. Isso, talvez possa ser explicado pela necessidade, cada vez

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maior, de se enfrentar o risco, a incerteza, e ser a inovação o tema nuclear do desenvolvimento das organizações.

O empreendedorismo é um campo de estudo emergente, não existindo, ainda, uma teoria consolidada a respeito do tema. Tudo está em criação, inclusive a própria conceituação e, especialmente, uma metodologia para o desenvolvimento dessa competência que envolve bem mais do que a aquisição de conhecimentos, mas o aprender a apreender, a ser, a fazer e, principalmente a conviver (SOUZA, 2001). Nesse sentido, um dos maiores desafios da universidade é proporcionar que o aluno “desenvolva uma relação pró-ativa com o aprendizado” (FILION, 2000), para o que é necessário um conjunto de inter-relações estimulantes entre a razão à intuição e a imaginação.

Dentro dessa ordem, as universidades são chamadas a desempenhar um papel estratégico no desenvolvimento do setor produtivo, impondo-lhes a busca de novas abordagens curriculares e de relações com os demais setores da sociedade. Nesse sentido, surge a questão de como as universidades buscam alternativas para desenvolverem uma formação empreendedora nas diferentes áreas do conhecimento e, por excelência, na da administração da inovação, passando a formar pessoas pró – ativas, criativas, inovadoras, ou seja, empreendedoras, que na visão de Schumpeter (1997) são vistas como “motores da economia, agentes de inovação e mudanças, capazes de desencadear o crescimento econômico do país”.

A implementação de cursos voltados para o empreendedorismo justifica-se pela crescente conscientização e tomada de posição por parte das universidades, no sentido de proporcionar aos estudantes competências que possibilitem, não só a sua inserção no mundo do trabalho, como, também, a sua sobrevivência em uma sociedade altamente competitiva. Desenvolver o perfil empreendedor é capacitar o aluno para que crie, conduza e implemente o processo criativo de elaborar novos planos de vida, de trabalho, de estudo, de negócios, sendo, com isso, responsável pelo seu próprio desenvolvimento e o de sua Organização. Sob essa perspectiva, ao disseminar a cultura do empreendedorismo está sendo criado um novo comportamento, individual e organizacional, que ainda busca metodologias que possibilitem realizar essa formação de forma efetiva.

Os enfoques de maior destaque, no estudo sobre empreendedorismo, por estarem sendo utilizados com maior intensidade no campo científico, são: o econômico, representado por pensadores como Schumpeter (1997) e o comportamental, por pensadores como McClelland (1972). De uma maneira geral, os economistas tendem a alinhar empreendedores com inovação, enquanto os comportamentais concentraram-se nas características criativas e intuitivas dos empreendedores.

Schumpeter (1997) refere-se à essência do empreendedorismo como sendo a percepção e a exploração de novas oportunidades, no âmbito dos negócios, utilizando recursos disponíveis de maneira inovadora. Para esse autor, empreendedor e inovação interagem-se totalmente. A partir dessa concepção, os economistas passaram a ver os empreendedores como detectores de oportunidades de negócios, criadores de empresas e corredores de risco.

Mulholland (1994), ao considerar a ligação estabelecida, por Schumpeter (1997), entre empreendedor e inovação, confirma que essa relação tem permanecido como uma das características dominantes desse conceito, especialmente entre os economistas.

No enfoque comportamental, uma das maiores referências foi McClelland (1972) que relaciona empreendedor à necessidade de sucesso, de reconhecimento, de poder e controle. As primeiras pesquisas realizadas por esse autor apresentaram a necessidade de realização do

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indivíduo como a principal força motivadora do comportamento empreendedor. Essa força significa a vontade humana de se superar e de se distinguir, englobando um conjunto de características psicológicas e comportamentais que compreendem, entre outras, gosto pelo risco moderado, iniciativa e desejo de reconhecimento

Segundo Filion (1991) “o empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que mantém um alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-o para detectar oportunidades de negócio”.

Empreendedorismo, diz Souza (2001) está associado à inovação e empreendedor é o inovador com características, tais como, criatividade, persistência, internalidade (habilidade de assegurar que seus desejos sejam realizados), liderança, iniciativa, flexibilidade, habilidade em conduzir situações, habilidade em utilização de recursos.

Para Carland et al (1984), empreendedorismo está vinculado ao conceito de competência, pois a formação do empreendedor passa pela aquisição de conhecimentos, habilidades, experiências, capacidade criativa e inovadora.

A formação empreendedora, aqui, tem como princípios: aprender a compreender o mundo, analisando e definindo as diferentes facetas do seu contexto individual e institucional; comunicação e colaboração em contexto competitivo; raciocínio criativo e resolução de problemas encarando a vida em uma perspectiva criativa; domínio pessoal, processo no qual é desenvolvido o auto conhecimento e o auto desenvolvimento; pensamento sistêmico, possibilitando clareza na percepção do todo e das relações entre as partes; liderança, tratada muito mais como uma característica adquirida, envolvendo duas direções, à vontade e a determinação e o conhecimento acumulado em um dado setor, incluindo a aquisição de uma série de competências distintas (SOUZA, 2001).

Assim, essa formação baseia-se no desenvolvimento do auto conhecimento com ênfase na perseverança, na imaginação, na criatividade, associadas à inovação, passando a ser importante não só o conteúdo do que se aprende, mas, sobretudo, como é aprendido, em outras palavras, os padrões de ensino e aprendizado estabelecidos. Nesse sentido, cabe a instituição de ensino criar ambiente favorável ao empreendedorismo, incluindo espaços de discussão e reflexão, nos quais é possível o desenvolvimento de competências empreendedoras. Além do mais, entendendo que as condições externas à aprendizagem compreendem, entre outros, os meios e as estratégias de ensino, este texto buscou enfocar os resultados encontrados, quanto a esses procedimentos metodológicos, nas 131 universidades públicas e privadas brasileiras estudas em pesquisa para mapear o ensino de empreendedorismo no Brasil. Para tal será apresentado, a seguir, alguns dos estudos realizados nos primeiros quatro anos deste século, sobre os aspectos do planejamento instrucional - métodos, procedimentos e meios instrucionais e sua influência na aprendizagem.

3. Procedimentos e Meios Instrucionais.

Entre os autores que estudam aspectos referentes à psicologia instrucional, Abbad, Pantoja e Pilati (2003) apontam a necessidade de se realizar mais estudos envolvendo as variáveis referentes aos métodos, procedimentos e meios instrucionais, já que poucas pesquisas procuraram relacionar estas características com os níveis de avaliação tradicionalmente estudados. A seguir será apresentada uma revisão de literatura sobre esses aspectos voltados ao ensino do empreendedorismo.

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Facilitar o processo de aquisição de aprendizagem é um dos principais objetivos desta área da psicologia. Diversos pesquisadores desenvolvem métodos, procedimentos, meios e estratégias de ensino que, usados adequadamente, promovem a aprendizagem. Segundo Borges-Andrade (1982), procedimentos são as “operações necessárias para facilitar ou produzir os resultados instrucionais” (p.31). Os procedimentos são planejados antes do início do evento instrucional.

Fontanive (1981) descreve diversos meios e estratégias instrucionais que podem ser utilizados em programas instrucionais. Segundo a autora, a escolha adequada desses meios e estratégias está diretamente relacionada com a formulação de objetivos instrucionais, bem como com as características da clientela. Além disso, a autora recomenda a observação de outros aspectos antes de iniciar a seleção, tais como: tipo de habilidade, conhecimento e desempenho envolvido na instrução; nível de complexidade do comportamento esperado; custo envolvido na escolha; fatores administrativos e logísticos; e vantagens e desvantagens educacionais e motivacionais de cada meio e estratégia disponível. É importante, também, que exista variedade de meios e estratégias utilizados durante o evento instrucional.

Laaser (1997) descreve aspectos gerais do planejamento de um curso os quais são fundamentais para a obtenção de um bom evento instrucional e entre eles considera a escolha dos meios e estratégias de ensino, descrevendo diversos exemplos dessa etapa e destacando a importância de suas escolhas.

Borges-Andrade (1982b) apresenta um modelo de processamento de informações e associa os processos cognitivos envolvidos com diferentes fases de aprendizagem. O objetivo do autor foi elaborar uma proposta de utilização de eventos instrucionais no planejamento de cursos relacionada com o processo de aprendizagem dos indivíduos. Segundo o autor, os eventos podem “ativar, manter, melhorar ou facilitar os processos cognitivos envolvidos na aprendizagem” (p.29) e “são específicos para o ensino de cada tipo ou conjunto de tipos de resultados de aprendizagem” (p.31). O autor relata alguns pontos que deveriam ser levados em consideração durante o planejamento de eventos instrucionais de um curso, a saber: os eventos deveriam criar expectativas de sucesso ou de confirmação de desempenho; informar os objetivos ao aprendiz; dirigir a atenção ao aprendiz; provocar lembrança de pré-requisitos; apresentar material de estímulo; prover orientação de aprendizagem; ampliar o contexto de aprendizagem através de situações ou exemplos novos; programar ocasiões de prática, visando repetir o desempenho; provocar o desempenho e prover retroalimentação, confirmando ou corrigindo o desempenho.

Lima e Borges-Andrade (1985), em meta-análise de avaliação de treinamentos, investigaram o relacionamento dos componentes do Modelo MAIS de Borges-Andrade (1982). O componente procedimento desdobrou-se em um componente chamado planejamento. Estes dois componentes agrupavam características referentes aos procedimentos instrucionais dos cursos. Exemplos de variáveis pertencentes ao componente planejamento: pré-requisitos, adequação dos objetivos, formulação e número dos objetivos, existência de avaliação de aprendizagem, relação entre testes e objetivos, carga horária, número de instrutores e alunos, homogeneidade da turma, adequação da quantidade de material didático, qualidade do material didático. Componente procedimento: experiência do grupo, objetividade do instrutor, técnicas didáticas utilizadas, incentivo à participação do aluno, esclarecimento de dúvidas. Estas variáveis dividiram-se nos grupos que tiveram nenhum poder preditivo, pouco e muito poder preditivo de reações ao curso. Entre as variáveis do grupo de maior poder preditivo estão: objetividade do instrutor, técnicas didáticas, carga horária, qualidade do material didático, formulação de objetivos, número de instrutores e existência de avaliações de aprendizagem. Estes dois componentes foram

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considerados os mais importantes pelos autores na compreensão do relacionamento entre as variáveis.

Lima, Borges-Andrade e Vieira (1989), Paula (1992) e Pantoja (1999) estudaram a influência de múltiplas variáveis no impacto de treinamento no trabalho, incluindo características dos treinamentos. Os autores analisaram a influência sobre resultados de treinamento, aspectos similares do planejamento e execução dos cursos: carga horária, área de conhecimento do curso, existência de avaliações de aprendizagem, aplicabilidade do curso, estabelecimento, quantidade e formulação dos objetivos instrucionais, especificação do conteúdo programático, diversos meios e recursos instrucionais, referências bibliográficas e metodologia de ensino-aprendizagem. Lima, Borges-Andrade e Vieira (1989) encontraram em seus resultados que aplicabilidade do curso ao trabalho teve um poder pequeno de predição no impacto do treinamento no trabalho. Paula (1992) não encontrou resultados significativos entre características dos treinamentos e impacto. Os resultados de Pantoja (1999) mostram que característica do treinamento (formulação de objetivos e número de avaliações) foi um dos componentes que explicou uma porção significativa da variabilidade de impacto do treinamento no trabalho, porém, com pequena proporção de explicação (R2 = 0,03).

Abbad (1999), após revisar a literatura de características de treinamento, verificou que algumas variáveis relacionam-se positivamente com impacto. São elas: exemplificação, sumarização de conteúdo, mapas e diagramas para facilitar a memorização, diversificação de problemas apresentados durante o curso, estabelecimento de objetivos, fornecimento de explicações teóricas e feedbacks. A autora também realizou observações de desempenho de instrutores em sala de aula e análises de materiais didáticos dos cursos que avaliou. Além de obter descrições dos procedimentos e recursos instrucionais utilizados, as informações foram transformadas em códigos numéricos e relacionadas com os níveis de avaliação reação, aprendizagem e impacto. Entretanto não foram encontrados resultados significativos entre as características dos treinamentos e os níveis de avaliação. Sallorenzo (2000), obteve os mesmos resultados que Abbad (1999).

Em relação a métodos de treinamentos, Cauble e Thurston (2000) estudaram o efeito de um treinamento interativo via computador sobre atitudes, aquisição de conhecimentos e eficácia instrucional. Os autores encontraram que, com o uso desta tecnologia, os estudantes aumentaram o conhecimento e desenvolveram um alto senso de competência. Tannenbaum e Yulk (1992) verificaram diversas vantagens no uso de computadores em treinamentos, embora ressaltem o alto custo financeiro e a necessidade de dedicar maior tempo no planejamento dos procedimentos instrucionais em cursos que utilizem este método. Verifica-se que, desde a revisão desses autores em 1992, poucos esforços foram feitos para comparar treinamentos via web e treinamentos por computador.

Para Filion (1990) a formação de empreendedores possui um diferencial visto que “o treinamento para a atividade empreendedora deve capacitar o empreendedor para imaginar e identificar visões, desenvolver habilidades para sonhos realistas”, isso traz uma complexidade para selecionar e mesmo criar procedimentos instrucionais que articulados entre si promovam o desenvolvimento do empreendedor, especialmente o auto desenvolvimento.

Na pesquisa que deu origem a este texto foram estudadas as IES nas quais foi desenvolvido o PEUE, baseado na metodologia da Oficina do Empreendedor desenvolvida por meio dos instrumentos metodológicos aqui apresentados: aulas expositivas, exercícios, jogos, casos, teoria aplicada à realidade dos participantes, teatro popular, recomendação de leitura, depoimentos de empreendedores, Brainstorming, exercícios “Teste sua idéia de empresa”, apresentação do plano de negócios, pesquisa de mercado, apresentação do clube de negócios, entrevistas reais, exercício “conceito de si”, adequação da empresa, análises de

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fechamento de empresas, o jogo da empresa emergente, auto-avaliação, geração de feedback, projetando o futuro, utilização de modelagem, o Software Make Mone, o livro Segredo de Luisa, perfil individual e perfil necessário ao empreendedorismo, entrevista com empreendedor, Leitura do livro “Um toc na cuca”, filme “A questão dos paradigmas, inovação no setor de atuação da empresa. A seguir, serão apresentadas as características metodológicas do presente estudo.

4. Metodologia

Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva correlacional. A população alvo compreendeu as Instituições de Ensino Superior - IES - que participaram do Projeto de Ensino Universitário de Empreendedorismo – PEUE, no período 1998/2003, em 16 Unidades da Federação. Sub populações: Distrito Federal, Pernambuco, Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraná, Alagoas, Maranhão, Amazonas, Ceará, Bahia, Mato Grosso, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Goiás e Paraíba.

A amostra estudada envolveu 131 (IES), 58 públicas (44%) e 73 privadas (56%), sendo os dados coletados, predominantemente pela técnica de entrevista. Em alguns casos, as entrevistas foram realizadas por telefone ou correio eletrônico com participantes que não puderam ser entrevistados pessoalmente pelos pesquisadores. Além disso, foram solicitados e analisados documentos referentes às atividades que vinham sendo desenvolvidas nas unidades de análise. As características da população são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Características gerais da população.

Nº de docentes Natureza e Nº de IES

pesquisadas Participantes do PEUE

Pesquisados Atuantes

Pública 58 44% 419 56% 266 54% 187 54% Privada 73 56% 334 44% 231 46% 159 46% Totais 131 100% 753 100% 497 100% 346 100%

Das 131 IES das 16 unidades federativas brasileiras, que fizeram parte desta pesquisa – Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, 44% são públicas e 56% privadas. Quanto aos 753 docentes que participaram do PEUE, 497 (64%) foram pesquisados e destes, aproximadamente 346 (66%) estão trabalhando com empreendedorismo, sendo a maior parte, 54%, em IES públicas.

A partir das informações das entrevistas realizadas, participaram das atividades de empreendedorismo, de 1998 a 2002, 74.060 alunos, dos quais 42% nas IES públicas e 58% nas privadas. Cerca de 69%, isto é, 90 das 131 IES pesquisadas, desenvolvem atividades de ensino nesta área. A maioria dessas IES localiza-se na Região Nordeste, sendo que a Região Sul foi a que apresentou um menor número de IES pesquisadas. No Gráfico 1 Para tal, serão apresentados, a seguir, uma revisão de literatura sobre empreendedorismo e são apresentadas as IES distribuídas segundo Região e Natureza.

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No. de IES pesquisadas segundo a Região e NaturezaN = 131

0

5

10

15

20

25

30

Nordeste Norte Sul Sudeste Centro-Oeste

Região Geográfica

No

. d

e I

ES

Pública

Privada

Gráfico 1: Nº de IES pesquisadas segundo a região e natureza

O instrumento de coleta de dados utilizado na pesquisa, roteiro de entrevista, foi apklicado em estudo piloto, no Distrito Federal, com a finalidade de ajustá-lo, bem como de treinar a equipe de pesquisa na aplicação padronizada e para definir o tratamento e a análise dos dados.

Os dados foram analisados com a utilização de estatísticas descritivas, sendo que as informações obtidas das questões abertas foram submetidas a uma análise qualitativa. Os dados foram analisados utilizando-se o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), software de análise e gerenciamento de dados de pesquisa em Ciências Sociais que permite trabalhar os dados e usá-los para gerar relatórios, gráficos, cruzamentos de dados, tabelas, estatísticas descritivas e análises estatísticas complexas. Os resultados e discussões do presente estudo são apresentados a seguir.

5. Resultados e Discussão

No que diz respeito aos métodos e técnicas de ensino de empreendedorismo observa-se, de um modo geral, Tabela 2 abaixo, que as IES utilizam, com predominância: exercícios, aulas expositivas, recomendação de leitura e depoimentos de empreendedores. Teoria aplicada à realidade dos participantes, estudos de casos e jogos que são técnicas recomendadas para o ensino do empreendedorismo, não aparecem com a freqüência esperada. Teatro popular é pouco utilizado pelas IES como pode ser observado.

Tabela 2. Métodos e técnicas de ensino de empreendedorismo utilizados nas IES Natureza da IES Métodos e técnicas de ensino de

empreendedorismo utilizados nas IES Pública Privada Exercícios 42 43 Aulas expositivas 42 42 Recomendação de leitura 40 43 Depoimentos de empreendedores 42 40 Teoria aplicada à realidade dos participantes 40 35 Casos 39 34 Jogos 29 28 Teatro Popular 5 8

Os recursos didáticos sugeridos na “Oficina do Empreendedor”, metodologia adotada no PEUE, mais utilizados pelas IES públicas e privadas podem ser observados na Tabela 3.

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Tabela 3. Recursos didáticos mais utilizados nas IES Natureza da IES Recursos didáticos para o ensino de empreendedorismo

Pública Privada Brainstorming 40 40 Exercícios de criatividade 38 35 Elaboração de casos 38 33 Concluir a elaboração do plano de negócios 38 33 Apresentação do plano de negócios 37 34 Pesquisa de mercado 36 39 Avaliação de aprendizado 36 33 Entrevista com empreendedor 35 36 Desenvolver a visão gerencial da empresa 35 29 Livro “O segredo de Luísa” 35 41

A técnica do Brainstorming, o livro “O Segredo de Luisa”, a Pesquisa de Mercado, e Exercícios de Criatividade destacam-se entre os recursos didáticos mais utilizados, seguidos de Elaboração de Casos e Concluir a Elaboração do Plano de Negócios.

Merece destaque o fato de que o ensino de empreendedorismo vem sendo desenvolvido por profissionais de diferentes áreas do conhecimento e unidades acadêmicas, no entanto, a predominância está nos cursos de Administração seguido pelos Para tal, serão apresentados, a seguir, uma revisão de literatura sobre empreendedorismo e

Engenharias, Ciência da Computação, Tecnologia de Informação, o que acontece de forma semelhante tanto nas IES públicas como privadas, como pode ser observado no Gráfico 2.

Cursos que oferecem Disciplinas de Empreendedorismo nas IES Públicas e Privadas

N = 159

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Administração eCiências

Contábeis

Outros Ciência daComputação

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Pública Privada

Gráfico 2: Cursos que oferecem disciplinas de empreendedorismo

6. Conclusões e Recomendações

No que diz respeito aos métodos e técnicas de ensino de empreendedorismo, notou-se uma maior utilização de procedimentos tradicionais. Técnicas como estudos de caso, depoimento de empreendedores, são fundamentais para o desenvolvimento de competências atitudinais, visto que, segundo Rodrigues (1972, p.394) as atitudes “desempenham funções específicas para cada um de nós ajudando-nos a formar uma idéia mais estável da realidade

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em que vivemos”, além de serem a base de relações sociais como as de amizade, ou mesmo de conflito. No entanto, essas técnicas têm sido pouco adotadas nas IES pesquisadas, o que pode representar, em parte, à falta de recursos de apoio didático ou de divulgação dos recursos existentes (cases nacionais) e a inexistência de rede de intercâmbio de informações e conhecimentos sobre empreendedorismo.

Por outro lado, é provável que os atores responsáveis pelas atividades voltadas para o desenvolvimento de competências empreendedoras não estejam preparados para enfrentar esse desafio e não possuam uma consciência da importância do tema.

Além disso, o ensino do empreendedorismo em grande parte das IES pesquisadas não vem ocorrendo como conteúdo principal de disciplinas, mas como um tópico do programa, o que, restringe a carga horária destinada à formação dos alunos em empreendedorismo e, com isso, inviabilizando a aplicação de procedimentos instrucionais mais elaborados. Sugere-se o desenvolvimento de estratégias que visem incentivar a utilização com mais freqüência de técnicas voltadas para o desenvolvimento de competências atitudinais e cognitivas do empreendedor.

Quanto aos recursos didáticos sugeridos na Oficina do Empreendedor, observou-se que muitos deles foram adotados pelos docentes, o que pode ser um indicador de sucesso do PEUE, uma vez que mostra que os recursos de apoio didático, previstos no referido Projeto foram incorporados pelos docentes em suas atividades de ensino. Assim mesmo, alguns deles não são utilizados, porém, outros parecem ter servido de ferramenta de inserção dos conteúdos relacionados ao tema nas disciplinas das IES pesquisadas, como a recomendação das leituras do Segredo de Luiza e da Oficina do Empreendedor, adotada pela maioria dos professores das IES pesquisadas. Os meios instrucionais adotados pelos docentes como veículos de transmissão de conteúdos são, ainda os mais tradicionais, baseados em materiais impressos.

Recomenda-se, a partir destes resultados, a realização de mais pesquisas sobre a eficácia dos métodos, técnicas de ensino e recursos didáticos utilizados nas IES com o intuito de verificar a eficácia do ensino de empreendedorismo. Além disso, é importante o desenvolvimento de mais oficinas que ensinem a utilização de diversificados métodos, técnicas e recursos eficazes para o ensino de empreendedorismo.

No que diz respeito aos cursos que desenvolvem disciplinas voltadas ao ensino de empreendedorismo, nota-se uma certa concentração de oferta nos de Administração, Engenharias e Ciências da Computação e Informação e pequena ocorrência em outras áreas de atuação profissionais e unidades acadêmicas. Em sua maioria, os conteúdos de empreendedorismo estão sendo disseminados em disciplinas optativas de cursos de graduação. Os meios instrucionais adotados pelos docentes como veículos de transmissão de conteúdos são, ainda os mais tradicionais, baseados em materiais impressos.

A formação empreendedora baseia-se na imaginação, na criatividade, associadas à inovação. Dessa forma, passa a ser importante criar um ambiente favorável ao empreendedorismo, no qual estejam incluídos espaços de discussão e reflexão e um sistema de suporte que incentive o jovem empreendedor. Para tanto, sugere-se o planejamento de cursos presenciais e a distância, por meio de mídias diversificadas, tais como: material impresso, CDROMs, infovias, videoconferências, intranet, internet, entre outras.

A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa, entende-se que é fundamental estudar com mais profundidade o conceito de empreendedorismo para que se possa, realmente, disseminar essa cultura, não só internamente à universidade, mas, também, estreitar e

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reformular as relações desta com o mundo empresarial, que demanda, cada vez mais, pessoas com uma formação empreendedora.

Para disseminar essa cultura a universidade necessita desenvolver um processo de aprendizagem centrado na criatividade, na imaginação e na inovação o que requer novas metodologias, incorporação de valores organizacionais, desenvolvimento de atitude pró ativa nos alunos, e um perfil diferenciado para os professores. Isso leva à necessidade da universidade rever sua cultura e as estratégias de relação com a sociedade e, em especial com o setor produtivo.

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