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Mudança de Cultura sob a ótica dos princípios de Kurt Lewin Curitiba, 22 de Abril de 2003 SOCIEDADE BRASILEIRA DE DINÂMICA DE GRUPO CURSO DE FORMAÇÃO EM DINÂMICA DE GRUPO

Mudança de Cultura sob a ótica dos princípios de …...teoria como da prática em seu campo de visão, o presente estudo tem como objetivo analisar um caso real à luz dos princípios

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Mudança de Cultura sob a ótica dos

princípios de Kurt Lewin

Curitiba, 22 de Abril de 2003

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DINÂMICA DE GRUPO

CURSO DE FORMAÇÃO EM DINÂMICA DE GRUPO

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AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer aos coordenadores GLADYS SULIANI, DORALÍCIO SIQUEIRA

FILHO e KÁTIA PAVÃO pelos ensinamentos e pelo apoio que nos foram dados no decorrer

de nossa formação, aos nossos colegas que fizeram parte desta caminhada e que

contribuíram para o nosso crescimento e aprimoramento e também para todos os nossos

familiares que com sua compreensão e suporte permitiram que esta caminhada fosse

trilhada.

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AUTORES

1. Alba Terezinha Legnani

2. Ana Paula Valadão

3. Daniel Mateus Ferreira

4. Eliana Harumi Isikawa

5. Márcia M. Q. Linhares

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RESUMO E METODOLOGIA

Este estudo tem como objetivo analisar um caso real de mudança de cultura à luz dos

princípios de reeducação de Kurt Lewin.

Trata-se do estudo de um grupo de pessoas que incorporaram à sua vida um conjunto novo

de valores, quais sejam, os valores da visão holística do mundo.

Da mesma forma que Kurt Lewin teve como um de seus objetivos específicos construir uma

ponte que ligasse a teoria e a prática através da conservação, pelo observador, tanto da

teoria como da prática em seu campo de visão, o presente estudo tem como objetivo

analisar um caso real à luz dos princípios teóricos de Kurt Lewin.

Consequentemente tanto o concreto como o abstrato estarão sob o foco deste estudo para

que no final se estabeleça a ponte que os une.

Iniciar-se-á pela vida e obra de Kurt Lewin, para que se construa uma moldura onde se

desenvolverá o estudo. Em seguida, os dez princípios sobre reeducação ou mudança de

cultura serão apresentados, ainda teoricamente, para fixar o objeto do estudo.

Em seguida, será feita uma breve explanação sobre o que significa a visão holística, tanto

sob o ponto de vista físico como espiritual.

Já no campo do concreto, far-se-á um curto relato dos fatos sobre como foi sendo

implantada e sedimentada a nova percepção de mundo.

A ponte entre os dois territórios será construída na seqüência, através da superposição dos

fatos e os dez princípios, de forma a possibilitar a análise e conclusão sobre a incidência ou

não, destes sobre aqueles.

Como material para estudo foram utilizados questionários preenchidos pelos membros do

grupo em observação, sobre a importância e forma de funcionamento do grupo, bem como

das mudanças ocorridas.

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................................5

2. OBJETIVOS......................................................................................................................................................................6

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................................................................................7

3.1. VIDA E OBRA DE KURT LEWIN.....................................................................................................................7 3.2. 10 PRINCÍPIOS DE REEDUCAÇÃO ..............................................................................................................12 3.3. REEDUCAÇÃO OU MUDANÇA DE CULTURA ..........................................................................................15 3.4. UMA NOVA VISÃO DA REALIDADE – A CONCEPÇÃO SISTÊMICA DA VIDA.............................16

3.4.1. A Visão Atual....................................................................................................................................................16 3.4.2. Paradigma..........................................................................................................................................................17 3.4.3. O Novo Paradigma ..........................................................................................................................................18 3.4.4. O Novo Paradigma no Nível Espiritual.......................................................................................................19

3.5. AS TERAPIAS HOLÍSTICAS.............................................................................................................................21 3.5.1. Uma Mudança Evolutiva ................................................................................................................................21 3.5.2. Premissas Básicas .........................................................................................................................................21

3.6. RELATO DOS FATOS ........................................................................................................................................23

4. A PONTE ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA..........................................................................................................26

4.1. MUDANÇAS OCORRIDAS.........................................................................................................................................26 4.2. PRINCÍPIOS BÁSICOS SUBJACENTES A TODO O PROCESSO DE REEDUCAÇÃO................................................28 4.3. PRINCÍPIOS SOBRE O PROCESSO DE MUDANÇA DE COGNIÇÃO E ACEITAÇÃO DE NOVOS VALORES ...........33 4.4. CONDIÇÕES NECESSÁRIAS À MUDANÇA , OU DE NOVO CONJUNTO DE VALORES ..........................................35 4.5. IMPORTÂNCIA DO GRUPO.........................................................................................................................................38

5. CONCLUSÃO...................................................................................................................................................................47

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................................................................49

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1. INTRODUÇÃO

Em uma cidade do interior do Paraná, de economia e tradição eminentemente agrícolas um

fato inusitado vem chamando a atenção de algumas pessoas: têm sido realizados

anualmente Workshops de Renascimento, uma das terapias holísticas, reunindo entre

cinqüenta e noventa pessoas, o que os coloca como os maiores do Brasil. Ainda, verifica-se

que existem aproximadamente quinze pessoas com Formação Profissional de

Renascimento, enquanto que outras trezentas possuem iniciação em Reiki, método de

harmonização de energia vital. Aproximadamente trezentas pessoas submeteram-se a um

programa de desintoxicação alimentar, outras sessenta participaram de seminário sobre

Imortalidade Física. Além disso, e já como resultado de um movimento de expansão, têm

sido oferecidos, por três anos, estudos e vivências de Renascimento, de um ano de

duração, em Escola Pública Municipal, para professores e pais de alunos. Ainda na esteira

desse movimento de expansão, este ano, já em cidade vizinha, a abertura do ano letivo

para 350 professores municipais foi feita através de palestra e vivência sobre o Paradigma

Holístico e a Nova Visão de Mundo.

Pesquisando-se sobre a origem e a propagação desses eventos, constatou-se que

estavam ligados à existência de grupos de estudo de filosofia holística e terapia holística

cujos membros se reúnem a sete anos, de onde têm se irradiado os eventos citados acima.

Durante os estudos do Segundo Módulo da Formação Básica em Dinâmica de Grupos da

SBDG, o subgrupo Tamarachi constatou ainda que o sucesso desses grupos deveu-se ao

fato de terem sido aplicados, ainda que de forma intuitiva, os 10 princípios de Kurt Lewin

sobre reeducação ou mudança de cultura.

Como a implantação dessa visão holística está estreitamente relacionada com a existência

e funcionamento de grupos, o objetivo deste estudo foi analisar mais detalhadamente se os

princípios realmente foram seguidos e em que medida. E ainda, quais princípios tiveram

incidência maior ou se alguns deles não se fez presente.

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2. OBJETIVOS

O presente trabalho tem como objetivo analisar se efetivamente os 10 princípios de Kurt

Lewin sobre reeducação de mudança de cultura estão sendo seguidos no grupo de estudos

de filosofia holística e terapia holística da cidade paranaense de forma que se estabeleça

uma relação de causa e efeito que explique o sucesso da mudança de cultura verificada

entre seus membros e, em menor escala, em segmentos mais amplos da cidade. A

mudança de cultura diz respeito à aquisição da visão holística sobre o mundo, pelas

pessoas diretamente ligadas, ou seja, pelos membros dos grupos. E ainda, à criação de

uma “atmosfera favorável” à aceitação dessa visão, pelas pessoas indiretamente atingidas,

ou seja, pelos membros da comunidade.

A questão básica a ser respondida consiste em: “O sucesso da aquisição da visão holística

(ou de algumas das características dessa visão) pelos membros do grupo de estudo da

cidade paranaense é conseqüência da aplicação dos princípios de Kurt Lewin sobre

mudança de cultura?” Em caso positivo “alguns dos princípios foram mais importantes ou

preponderaram sobre os outros?”. E ainda “existem condições ou requisitos, extraídos do

conjunto de princípios de Kurt Lewin que manifestam como imprescindíveis ao processo de

reeducação”.

Em relação ao segmento secundariamente afetado, ou seja, aos membros da comunidade:

“A criação de uma atmosfera favorável à aceitação da visão holística deveu-se à aplicação

dos princípios de Kurt Lewin?” Em caso negativos, quais os fatores citados por Kurt Lewin

estiveram presentes na criação dessa atmosfera favorável?

Quais características da visão holística foram mais profundamente assimiladas pelos

membros do grupo e como elas se manifestaram no modo de agir?

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. VIDA E OBRA DE KURT LEWIN

Kurt Lewin, considerado uma das mais brilhantes personalidades da psicologia

contemporânea, nasceu em Mogilno, Prússia, em 09/09/1890.

Lewin estudou nas Universidades de Friburgo, Munique e Berlim, recebendo nesta última o

grau de doutor em 1914. Serviu ao Exército Alemão durante 4 anos, regressando depois à

Universidade de Berlim como instrutor e pesquisador assistente. Em 1926 foi nomeado

professor de filosofia e psicologia.

Quando ocorreu a subida de Hitler ao poder em 1933, Lewin, que era de origem judia, por

força das circunstâncias, tornou-se professor visitante na Universidade de Stanford,

passando a residir nos Estados Unidos. Durante 2 anos foi professor de psicologia infantil

na Universidade Cornelli, Nova York (1933/1935), passando depois à Universidade de Iowa.

Em 1940 entra como professor na Universidade de Harvard. Em 1945 aceitou a sua

indicação para professor e diretor do Centro de Pesquisa sobre Dinâmica de Grupo, do

Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Durante este período Lewin se centra

completamente na Psicologia dos Grupos. Por sua vez, desenrola uma atividade frenética,

tanto no que se refere a publicações (uma média de cinco publicações por ano), como a

investigações.

Seus trabalhos teóricos (Lewin, 1935 a, 1936 a, 1938, 1951) e sua obra experimental

deixaram marca indelével no desenvolvimento da psicologia moderna.

Lewin sustentou, sobretudo, a aplicação da Teoria de Campo a todos os ramos da

psicologia, cuja teoria baseava-se em um conjunto de conceitos através dos quais se pode

representar a realidade psicológica.

Os conceitos da teoria de campo foram aplicados por Lewin a uma ampla variedade de

fenômenos psicológicos, que incluem o comportamento infantil (Lewin, 1951, cap. X), a

adolescência (1951, cap. VI), a deficiência mental (1935 a, cap. VII), problemas dos grupos

de minoria (1935 b, 1946), diferenças caracterológicas dos povos (1936 b) e dinâmica de

grupo (Lewin, 1948).

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Lewin não era um pensador fechado, com as costas voltadas para os problemas da

sociedade. Homem de espírito humanitário e democrático, procurou diretamente solução

para alguns problemas do mundo atual, dedicando para isso, a investigação conhecida

como pesquisa de ação. Essa pesquisa tem por objetivo a mudança das condições

sociais. Exemplos das pesquisas por ele levadas a efeito podem ser encontradas em

Bavelas e Lewin (1942) e Lewin (1943, 1946, 1947, 1948).

Lewin faleceu em 12/02/1947 em Newtonville, Massachusetts, com 56 anos de idade,

devido a um ataque de coração.

Posteriormente, sua esposa Gertrud Weiss Lewin junto com Gordon W. Allport e Dorwin

Cartwright editaram um conjunto de artigos de Kurt Lewin em dois livros “Resolving social

conflicts” e “Field theory in social science”.

Kurt Lewin transforma a Psicologia Social numa ciência experimental autônoma. Até suas

pesquisas, a Psicologia Social perseguia explicar macro-fenômenos sociais, a influência do

grupo sobre o indivíduo, a influência dos líderes sobre o indivíduo. Convida os psicólogos

sociais a focar suas pesquisas sobre os micro-grupos (por ele chamados face-to-face

groups), com o objetivo de reconhecer sua dinâmica em contexto de mudanças. Afirma que

cientificamente não se dispõe de técnicas de exploração e instrumental mental para fazer

experiências no nível de sociedade global ou dos grandes conjuntos sociais.

A experiência em laboratório segundo Lewin, não é válida para o fenômeno dos grupos. A

exploração válida e fecunda destes fenômenos deve ser operar no próprio campo

psicológico em que eles se inserem, ao invés de serem reconstituídos em escalas

reduzidas, nos laboratórios. As variáveis de qualquer fenômeno de grupo, em razão de sua

essencial complexidade, não podem ser identificadas e manipuladas, senão no próprio

campo, numa perspectiva de pesquisa-ação (Mailhot, p.23).

O termo dinâmica dos grupos, a partir de Lewin, associa-se à psicologia dos micro-grupos,

a psicologia coletiva associa-se ao estudo e interpretação dos macro-grupos.

Segundo Lewin, para que haja comportamento de grupo é necessário que vários indivíduos

experimentem as mesmas emoções de grupo, que estas emoções de grupo sejam

suficientemente intensas para integrá-los e deles fazer um grupo, que finalmente o grau de

coesão atingido por estes indivíduos seja tal que eles se tornem capazes de adotar o

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mesmo tipo de comportamento. Estes comportamentos de grupo podem variar em termos

de duração conforme sejam desencadeados por um agente exterior, ou por um agente

provocador ou por um líder. (Mailhot, p.26).

O comportamento do grupo é resultante de uma cadeia de fenômenos, que pode ser

decomposta em dois níveis:

Nível da Percepção: as atitudes coletivas de um grupo, seus esquemas mentais e afetivos,

determinam a percepção do conjunto de uma situação pelo membro do grupo;

Nível do Comportamento: as atitudes coletivas e pessoais criam inclinações para certos

tipos de comportamentos de grupo. Esta inclinação cria uma atração ou repulsa por certos

aspectos da situação.

A cultura ambiente tenderia a favorecer, segundo Lewin, vetores de comportamento, que

são as direções, as orientações dadas a um comportamento, ou, nos casos opostos,

constituem barreiras mais ou menos impermeáveis que dificultam a expressão de si. A

resultante das forças que interessam tal indivíduo em suas relações com um aspecto do

campo dinâmico de que faz parte, é atitude momentânea deste indivíduo em uma

determinada situação. Esta atitude momentânea se traduzirá por um comportamento de

grupo.

O termo campo social foi conceituado por Lewin, como uma totalidade dinâmica,

constituídas por entidades sociais coexistentes, não necessariamente integradas entre si,

uma gestalt, um todo irredutível aos sub-grupos que nele coexistem e aos indivíduos que ele

engloba. A partir do conceito de campo social, Lewin elabora quatro hipóteses sobre o

comportamento dos pequenos grupos (Mailhiot, p.54):

1. O grupo constitui o terreno sobre o qual o indivíduo se mantém. Sempre que uma pessoa

não consegue definir claramente sua participação social ou não está integrada em seu

grupo, seu espaço vital ou sua liberdade de movimento no interior do grupo serão

caracterizados pela instabilidade e pela ambigüidade;

2. O grupo é um instrumento para o indivíduo satisfazer suas necessidades psíquicas ou

aspirações sociais;

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3. O grupo é uma realidade da qual o indivíduo faz parte, mesmo aqueles que se sentem

ignorados, isolados ou rejeitados. A dinâmica de um grupo tem sempre um impacto

social sobre os indivíduos que o constituem. Nenhum membro dela escapa totalmente;

4. O grupo é para o indivíduo um dos elementos ou dos determinantes de seu espaço vital.

Para Lewin, duas atitudes típicas podem ser observadas em relação a toda mudança

social. A atitude conformista condicionada pelas percepções sociais cristalizadas, que

percebem toda mudança de status quo como catastrófica. A atitude não conformista, ao

contrário, é inspirada pelas percepções sociais que antecipam toda mudança do status quo

como desejável e esperada (Mailhiott, p.58). As atitudes dos não conformistas não são

suficientes para a mudança social, pelo fato de não possuírem as técnicas de comunicação

que lhes permitiriam operar as mudanças de clima e de atitudes, sendo necessários

átomos sociais radioativos, pessoas que dominem as técnicas de grupo, tornando-os aptos

a vencer as resistências emotivas à mudança social a ser introduzida no meio observado. A

mudança social implica em uma modificação do campo dinâmico no qual o grupo se

encontra.

Lewin identifica três tipos de fenômenos nos grupos quanto à mudança social:

1. Constância Social: os grupos não sentem nenhum desejo de mudar, evoluir. È o caso de

grupos conformistas, que se comprazem nas percepções estereotipadas da situação

social e cujas atitudes são determinadas pelo preconceito. Não constitui mais uma

dinâmica de grupo, mas uma estática de grupo. Neste caso, a mudança tem pouca

chance de prosperar;

2. Resistências à Mudança: membros conformistas no interior do grupo apresentam

resistência à mudança. Elementos não conformistas iniciam um processo de mudança,

mas os membros do grupo que têm interesse investido no status quo resistem,

utilizando-se de manobras geralmente clandestinas. Tendem a criar climas de grupo que

tornam as transformações difíceis. As mudanças sociais se operam lentamente, na

superfície;

3. Inclinação à Mudança: As percepções do grupo, os comportamentos são polarizados

por uma aspiração dos membros em crescer e superar a si mesmos como grupo. Grupo

com estruturas mais flexíveis e funcionais. Favorecem as relações interpessoais, laços

de interdependência e interações.

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O fator determinante, conclui Lewin, que tornará possível a mudança social será sempre o

clima do grupo dominante. O clima do grupo, descobre Lewin, é determinado pelo tipo de

autoridade que nele se exerce. Daí porque, enuncia Lewin, modificar as atitudes coletivas

ou produzir uma mudança social consiste, na quase totalidade dos casos, em introduzir um

novo estilo de autoridade ou uma nova percepção do poder no interior da situação que se

quer fazer evoluir (Mailhiot, p.59).

O processo reeducativo afeta o indivíduo de três maneiras:

1. Mudança da estrutura cognitiva: a maneira de ver o mundo físico e o social, abrangendo

todos os fatos, conceitos, crenças e expectativas;

2. Modifica valências e valores: que compreendem tanto atrações e aversões a grupos e

padrões de grupos, como sentimentos em relação a diferenças de status e reações a

fontes de aprovação e reprovação;

3. Afeta a ação motora: que inclui o grau de controle do indivíduo sobre seus movimentos

físicos e sociais.

A necessidade de reeducação surge quando um indivíduo ou grupo está em descompasso

em relação à sociedade, quando possui divergência em relação à norma ou à realidade de

fatos objetivos. O processo de reeducação tenta reconduzir o indivíduo aos valores e a

conduta que estão sintonizados com a sociedade em que vive.

O que é preciso acontecer no indivíduo para que ele desista da divergência e se torne a

orientar para uma norma, ou para manter um contato mais íntimo com a realidade?

A resposta para tal pergunta são os “10 Princípios de Reeducação”, base do nosso

trabalho, os quais serão descritos a seguir.

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3.2. 10 PRINCÍPIOS DE REEDUCAÇÃO

1) São fundamentalmente semelhantes os processos que governam a obtenção do normal

e do anormal.

Os processos que levam a preconceitos e ilusões, e os que levam à percepção correta e

a conceitos sociais realistas, são essencialmente os mesmos, o que conta é o efeito, no

indivíduo, das circunstâncias de sua vida, a influência do grupo em que se desenvolveu. O

que o indivíduo considera como “realidade” é em grande parte determinado pelo que é

aceito socialmente como realidade, sendo portanto diferenciado de acordo com o grupo

a que pertença o indivíduo. A aceitação do juízo do grupo aumenta de acordo com o grau

de confiança que o indivíduo tem na experiência do grupo.

2) O processo reeducativo tem de realizar uma tarefa que equivale essencialmente a uma

mudança de cultura.

Trata-se de um processo em que as mudanças de conhecimento e crenças, de valores e

padrões, de ligações e necessidades emocionais, de conduta cotidiana, não ocorrem

aos poucos, e independentemente umas das outras, mas dentro do quadro da vida total

do indivíduo no grupo. A reeducação equivale ao processo pelo qual o indivíduo ao

desenvolver-se na cultura em que se encontra, adquire o sistema de valores e o conjunto

de fatos que irão mais tarde governar o pensamento e a conduta. O indivíduo pode

ancorar sua própria conduta na cultura de um grupo, possibilitando estabilizar suas novas

crenças o suficiente para mantê-las imunes das flutuações dos estados de ânimos e de

influências a que ele está sujeito. Para proporcionar uma reeeducação eficiente é

necessária uma nova compreensão da dinâmica do processo, da constelação específica

de forças com que é preciso lidar sob diferentes condições.

3) Mesmo ampla experiência direta não cria automaticamente conceitos corretos

(conhecimento).

A reeducação não pode ser apenas um processo racional. Preleções ou outros métodos

abstratos semelhantes de transmissão de conhecimento têm pouco valor no que tange a

mudanças de pontos de vista e a conduta, o que levaria a pensar que a experiência

direta levaria ao resultado desejado, mas isto não ocorre.

4) A ação social não é menos dirigida pela percepção que a ação física.

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Em toda situação, agimos de acordo com o campo que percebemos, e a nossa

percepção se estende a dois aspectos diferentes: um tem a ver com fatos e o outro com

valores. As nossas ações sociais são orientadas pela posição em percebemos a nós e

aos outros. A tarefa básica da reeducação é alterar a percepção social do indivíduo, para

possibilitar a mudança de sua ação social.

5) Via de regra, não basta o domínio do conhecimento correto para corrigir a percepção

errada.

Resistências à reeducação não ocorrem apenas em termos de obstáculos emocionais,

dificuldades inerentes à mudança cognitiva não podem ser subestimadas. Não se

elimina a percepção errada mesmo com a experiência direta. Somente quando se

estabelece um vínculo psicológico entre a imagem que o indivíduo faz de si mesmo e o

estereótipo de um determinado grupo, somente quando o indivíduo se percebe como

representante típico deste grupo, é que a experiência do indivíduo tem a probabilidade

de afetar o estereótipo.

6) Os estereótipos incorretos (preconceitos) são funcionalmente equivalentes a conceitos

errôneos (teorias).

Também considerada como uma outra resistência à reeducação, ou dificuldade de

alterar a conduta. Isto pois a experiência por si só é insuficiente para mudar uma pessoa

ou as teorias de um grupo no mundo. Uma condição para que se instale novos conceitos,

mais adequados, é que o indivíduo e/ou grupo aceitem o fato de conceituações

alternativas de algum evento. Assim, as experiências poderão ser organizadas, podendo

fornecer evidências a favor ou não das hipóteses alternativas, tentando determinar qual

das alternativas é a mais adequada para explicar a evidência. Ou seja, sem ambivalência

o indivíduo não vê nenhuma necessidade para submeter os seus estereótipos a uma

prova experimental.

7) Mudanças em sentimentos necessariamente não seguem mudanças em estruturas

cognitivas.

Este princípio acentua a independência relativa de processos de mudança cognitiva e

mudanças em orientação de valor, ideologia de ação ou sentimento. Uma reeducação

superficial - ou seja aquelas que apenas alcançam o sistema oficial de valores e não

envolve a pessoa fazendo com que se dê conta da sua própria ideologia de ação

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(maioria das vezes inconsciente) – pode resultar uma discrepância entre o modo como a

pessoa deve se sentir e o modo que ela na verdade senti. A pessoa desenvolve uma

consciência de culpa. Tal discrepância conduz a um estado de tensão emocional, mas

raramente à conduta apropriada.

8) Uma mudança em ação-ideológica, uma real aceitação de uma mudança de fatos e

valores, uma mudança no mundo social percebido – todos os três são expressões

diferentes do mesmo processo.

Para uma compreensão da reeducação é necessário enfatizar a conexão íntima entre o

desenvolvimento de um sistema de valor por uma pessoa e o crescimento dela em

sociedade ou em um grupo. Um indivíduo é socializado por interiorizar a cultura normativa

dos grupos para os quais ele venha a pertencer. O sistema de valor dele é resultado de

reunião, talvez de um modo sem igual, das várias perspectivas normativas interiorizadas,

das associações significantes que contribuíram com o construção do seu ego social.

Reeducação requer o envolvimento em novos grupos com normas que contrastem de

modos significantes com aquelas dos grupos aos quais pertenceu previamente. As

normas do grupo reeducativo devem ser aquelas que apoiam e exigem que os membros

se ocupem da investigação experimental da sua própria socialização, como afeta o seu

presente, o seu funcionamento e o seu desenvolvimento no futuro.

9) Aceitação do novo jogo de valores e convicções normalmente não pode ser obtida

artigo através de artigo.

Introduzir novos valores que não sejam coerentes com outros valores na perspectiva da

pessoa pode aumentar o conflito interno e compartimentalização, que reduz uma parte da

motivação que traz as pessoas para um processo de reeducação. Ou seja, normalmente

a aceitação do novo conjunto de valores e crenças não pode ser efetuada ponto por

ponto. Pois a maneira como a nova cultura ou valores é apresentada influi no sucesso da

reeducação. Isto porque é tendência natural que o indivíduo guarde lealdade para com os

antigos valores e hostilidade para com os novos. Romper essa hostilidade é uma das

tarefas básicas para o sucesso da reeducação.

10) O indivíduo aceita o novo sistema de valores e convicções aceitando pertencer a um

grupo.

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Quando a reeducação envolve a renúncia de padrões que são contrários aos padrões da

grande sociedade, o sentimento de pertinência ao grupo parece grandemente exaltado

se os membros sentirem-se livres para expressar abertamente os mesmos sentimento

que serão desalojados por reeducação. Isto poderia ser visto com outro exemplo das

contradições que parecem inerentes no processo de reeducação: expressão de

preconceitos contra minorias, por exemplo, pode ser contrárias à meta desejada. Ainda

um sentimento de liberdade completa e uma identificação de um grupo exaltada é

freqüentemente mais importante, em uma fase particular de reeducação, que aprender a

não quebrar regras específicas. Este princípio torna compreensível porque a aceitação

completa de fatos previamente rejeitados pode ser alcançadas melhor pela descoberta

destes fatos pelos membros do grupo por eles mesmos. Então, reeducação influencia a

conduta somente quando o novo sistema de valores e convicções domina a percepção

do indivíduo. A aceitação do novo sistema é unida com a aceitação de um conhecimento

específico, um papel particular, uma fonte definida de autoridade como novos pontos de

referência. É básico para a reeducação que este encadeamento entre a aceitação de

fatos novos ou valores e aceitação de certos grupos ou papéis seja muito íntimo e que o

segundo freqüentemente é uma condição prévia para primeiro. Isto explica grande

dificuldade de mudança de crenças e valores de maneira gradativa. Este encadeamento

pode ser tornado um meio poderosos para o sucesso da reeducação.

3.3. REEDUCAÇÃO OU MUDANÇA DE CULTURA

“A reeducação eqüivale ao processo pelo qual o indivíduo, ao desenvolver-se na cultura em

que se encontra, adquire o sistema de valores e o conjunto de fatos que mais tarde lhe irão

governar o pensamento e a conduta”1.

Os quesitos básicos da mudança de cultura estão presentes na definição acima. São eles:

1) eqüivale a um processo, vale dizer, não se trata de ato único e isolado, mas de uma

seqüência de procedimentos com uma finalidade definida.

1 LEWIN, Kurt. Problemas de Dinâmica de Grupos, p. 74.

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2) o indivíduo não se submete ao processo em ambiente isolado da própria cultura, mas

sim dentro dele.

3) o indivíduo adquire um novo sistema de valores e conjunto de fatos, vale dizer, não se

restringirá a manter os valores que já possui. Esses valores e fatos irão governar-lhe não

só o pensamento como a conduta, como se verá com detalhes adiante.

Para que fique claro qual sistema de valores e conjunto de fatos foram apresentados para

aquisição, a seguir será feita breve explanação sobre a nova visão da realidade, ou a

concepção sistêmica da vida.

3.4. UMA NOVA VISÃO DA REALIDADE – A CONCEPÇÃO SISTÊMICA

DA VIDA

3.4.1. A VISÃO ATUAL

A humanidade vem passando por uma mudança de percepção. Os conceitos de uma visão

de mundo calcada na concepção mecanicista e fragmentada da ciência cartesiana-

newtoniana, onde o mundo era visto em termos de peças e engrenagens separadas já não

são suficientes no mundo globalmente interligado de hoje, onde os fenômenos sociais,

ambientais, psicológicos e biológicos são vistos como interdependentes.2

A visão atual é calcada em um sistema essencialmente auto-afirmativo, que se manifesta na

competitividade, poder, controle e dominação pela força, que se complementam, no outro

polo, com a exigência da submissão3. Outra característica é a da separação, que se

manifesta em múltiplos níveis, como entre ciência e religião, espírito e matéria, razão e

intuição, e entre aspectos biológicos e culturais da natureza humana.

Como conseqüência dessa visão unilateral, o sistema de valores da humanidade atingiu um

ponto de desequilíbrio ao lado do qual vem surgindo um novo paradigma, uma nova visão

da realidade, fundada na mudança fundamental de pensamentos, percepções e valores.

Trata-se da mudança da concepção mecanicista para a concepção holística de realidade,

2 CAPRA, Fritjof, O ponto de mutação, p. 44. 3 Idem, Ibidem, p. 37-72

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17

apontando em direção à unidade do universo, à inter-relação dos eventos, incluindo não só

o ambiente natural mas também os seres humanos4. Enfatiza o todo e não as partes, tendo

por base a consciência espiritual, definida como a forma em que o indivíduo se sente ligado

ao todo.

Como enfatiza o físico americano Fritjof Capra: “Quando o conceito de espírito humano é

entendido como o modo de consciência em que o indivíduo se sente ligado ao cosmo como

um todo, fica claro que a percepção ecológica é espiritual em sua essência mais

profunda...”5 Mais do que uma mera mudança de valores e percepções isoladas, trata-se de

uma mudança de paradigma.

3.4.2. PARADIGMA

É importante aqui determinar o significado de paradigma. Pierre Weil define paradigma

como “princípios subjacentes, implícitos a uma teoria. Tem origem no vocábulo grego

paradigma, que significa modelo”6.

Nesse contexto, Thomas S. Kuhn, autor do mais citado estudo sobre as revoluções

científicas, estrutura sua teoria sobre três conceitos importantes: o de paradigma, de

ciência normal, e o de revoluções. 7

Primeiramente, define paradigma como “aquilo que os membros de uma comunidade

partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham

um paradigma”8.

Nesses passo, “o estudo dos paradigmas (...) é o que prepara basicamente o estudante

para ser membro da comunidade científica determinada na qual atuará mais tarde”9. Daí se

segue que: “Homens cuja pesquisa está baseada em paradigmas compartilhados estão

comprometidos com as mesmas regras e padrões para a prática científica. Esse

4 Idem, Ibidem, p. 46-260. 5 Fritjof CAPRA, O tao da física, p. 242. 6 Pierre WEIL, Nova linguagem holística, p. 137. 7 Thomas S. KUHN, A Estrutura das revoluções científicas, p. 44. 8 Idem, Ibidem, p. 219. 9 Idem, Ibidem, p. 30.

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18

comprometimento e o consenso aparente que produz são pré-requisitos para a ciência

normal, isto é, para a gênese e a continuação de uma tradição de pesquisa determinada.”10

Define ciência normal como aquela que é composta por cientistas que estão

comprometidos na atualização e manutenção de um paradigma que prevalece em uma

determinada fase da ciência, com o qual se comprometem e o qual partilham.11

Constata que: “a ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécies de

fenômenos; na verdade aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma

freqüentemente nem são vistos. Os cientistas também não estão constantemente

procurando inventar novas teorias; freqüentemente mostram-se intolerantes com aquelas

inventadas por outros. Em vez disso, a pesquisa científica normal está dirigida para a

articulação daqueles fenômenos e teorias já fornecidos pelo paradigma.”

Por outro lado, define revoluções científicas como: “aqueles episódios de desenvolvimento

não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por

um novo, incompatível com o anterior”12.

3.4.3. O NOVO PARADIGMA

O novo paradigma holístico desenvolveu-se, como ressalta Roberto Crema “a partir de uma

concepção sistêmica, nele subjacente (...) essa abordagem consiste na consideração de

que todos os fenômenos ou eventos se interligam e se inter-relacionam de uma forma

global; tudo é interdependente”13.

O significado da palavra holons bem como as duas tendências que apresenta, são

descritos por Fritjof Capra: “Arthur Koestler criou a palavra holons para designar esses

subsistemas que são, simultaneamente, todos e partes, e enfatizou que cada holon tem

duas tendências opostas: uma tendência integrativa, que funciona como parte do todo

maior, e uma tendência auto-afirmativa que preserva sua autonomia individual.”14

10 Idem, Ibidem, p. 30-31. 11 Idem, Ibidem, p. 30-33. 12 Idem, Ibidem, p. 45, 125. 13 Roberto CREMA, Introdução à visão holística, p. 72. 14 Fritjof CAPRA, op. cit., p. 40.

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O que mantém a harmonia e a saúde de um sistema é o equilíbrio entre as duas tendências.

A auto-afirmação é obtida através de um comportamento expansivo, agressivo, competitivo,

exigente e, no plano do comportamento humano, do pensamento analítico e linear. Seu

excesso resulta no poder, controle e dominação pela força. Já a tendência integrativa se

expressa como atividade cooperativa, receptiva, consolidadora, e no plano do pensamento

humano, como conhecimento intuitivo, direto, não intelectual, da realidade.

As duas tendências15 são necessárias ao equilíbrio do sistema, e não são intrinsecamente

más. O que é mau e desestabilizador é isolar uma das tendências de seu oposto polar e

conferir-lhe virtude moral e poder político.16

O movimento holístico representa, portanto, o voltar do pêndulo à polaridade oposta, vale

dizer, aos valores integrativos da cooperação, conservação, intuição, sabedoria,

espiritualidade e ética. Não se trata de uma mudança feita pela força, senão que fruto de um

ciclo natural de equilíbrio dinâmico, próprio da sustentação dos ecossistemas.17

Muitos dos pensadores atuais detectam a essência do novo rumo da humanidade. Dentre

eles, Stephano Sabetti, que enfatiza: “Sob a movimentada organização da sociedade está

acontecendo uma silenciosa (r)evolução que afeta nossos padrões de vida, nossa

compreensão sobre o funcionamento do universo e nossos conceitos sobre saúde e

doença. Trata-se de uma mudança sutil, embora radical, que penetra todos os segmentos

da vida moderna. Essa (r)evolução é a redescoberta do sendo de totalidade.”18

3.4.4. O NOVO PARADIGMA NO NÍVEL ESPIRITUAL

No nível físico, a física quântica demonstrou cientificamente a interligação e unicidade de

todas as coisas. No nível mental o espiritual o mesmo papel vem sendo desempenhado

pelas filosofias que mostram a unicidade e interligação dos seres humanos entre si, com o

universo e com uma inteligência maior, que tudo permeia e une. Dentre essas filosofias

situa-se “Um Curso em Milagres”, livro que expõe com clareza os dois sistema de

15 Idem, Ibidem, p. 35-41. 16 Idem, Ibidem, p. 36. 17 Idem, Ibidem, p. 38. 18 Sthephano SABETTI, O princípio da totalidade, p. 9.

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pensamento, que resultam de um e do outro paradigma. O primeiro, que rege atualmente os

conceitos e percepções da humanidade sobre si mesma e sobre o mundo, baseia-se na

premissa fundamental que diz respeito à nossa identidade: Quem sou eu? Eu sou um ser

separado (concepção mecanicista cujo fundamento é a separação e a fragmentação). Daí

se segue que me sinto só, tenho medo, então me defendo e ataco. Resulta daí, que me sinto

culpado, e consequentemente serei punido de formas variadas como, com escassez, dor,

sofrimento e morte.

Esse é o sistema de pensamento da vítima, já que percebe a si própria como fraca,

destituída de poder e joguete das condições externas. A vítima não tem autoridade nem é a

causa do que lhe acontece. Culpa as pessoas e as circunstâncias pelo que lhe acontece.

O Curso nos mostra um novo sistema de pensamento, que decorre da visão holística do

mundo, cuja premissa fundamental é “Eu sou uno”. Sou uno com minhas várias partes

(razão, sentimento, corpo, mente, espírito) com as demais pessoas, com o universo e com

Deus. Eu faço parte. Como conseqüência, não preciso atacar nem me defender: estou

sempre protegido. Sou inocente e sou o amor.

Ambos os sistemas têm origem na mente, que é consequentemente o único nível onde a

mudança é possível. É na mente que as mudanças de crença e de percepção ocorrem. Na

medida em que assumimos responsabilidade pelas mudanças, e as fazemos, não somos

mais vítimas e sim co-criadores.

A mudança para o novo paradigma tem início quando começamos a aquisição das

características do sistema de pensamento holístico, trazendo para o uso diário os novos

conceitos, crenças e percepções.

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3.5. AS TERAPIAS HOLÍSTICAS

3.5.1. UMA MUDANÇA EVOLUTIVA

No bojo da nova visão sistêmica ou holística de mundo, e como parte integrante do

paradigma emergente, situam-se as terapias holísticas. Fazem parte, consequentemente,

do enfoque que vê a saúde como um “fenômeno multidimensional, que envolve aspectos

físicos, psicológicos e sociais, todos interdependentes”19.

Segundo Norman Shealy, presidente fundador da Associação Médica Holística Americana:

“A visão de mundo holística não é uma moda passageira; ela marca um ponto crítico na

evolução de nossa compreensão”20. ... “sem dúvida, os conceitos da medicina holística são

válidos e irão formar a base da medicina do século XXI”21.

Caroline M. Myss, terapeuta americana que realiza trabalhos e pesquisas em colaboração

com Norman Shealy, compartilha desse entendimento quando afirma: “O aparecimento do

modelo de cura holística representa uma mudança evolutiva (...) a mudança evolutiva

representa uma virada tão completa no pensamento de uma sociedade, que a ordem social

vigente tem que ser reconstruída”.22

3.5.2. PREMISSAS BÁSICAS

Os tratamentos holísticos apresentam três premissas básicas: 1) A doença é conseqüência

de tensão emocional, psicológica e espiritual; 2) A cura envolve não apenas a supressão

dos sintomas no nível físico, como principalmente a resolução dessas tensões naqueles três

níveis; 3) O cliente é responsável pelo seu próprio processo de cura.23 Uma quarta premissa

tem sido acrescentada: a cura origina-se da fonte interior ou do recursos naturais inerentes

à própria pessoa.

19 Fritjof CAPRA, O ponto de mutação, p. 315. 20 Cf. Norman SHEALEY, Caroline M. MYSS, Medicina Intuitiva, p. 49. 21 Idem, Ibidem, p. 48. 22 Idem, Ibidem, p. 36. 23 Cf. Norman SHEALY, Caroline M. MYSS, Medicina Intuitiva, p. 32.

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A primeira das premissas é citada por Richard Gerber quando diz que “nossas doenças

freqüentemente são um reflexo simbólico de nossos próprios estados internos de

intranqüilidade emocional, bloqueio espiritual e desconforto.”24 E também por Stepahano

Sabetti: “... todos os tipos de doença, inclusive a espiritual, a física, a do meio ambiente e

da política, podem ser entendidos como distúrbios da energia vital no processo de busca de

equilíbrio.”25

A segunda premissa, é confirmada igualmente por este último autor: “no entanto, o

tratamento médico da ferida, combinando com o tratamento psicológico da causa

energética de terceiro grau e com uma atenção à divisão espiritual, cria uma abordagem

total do problema.”26

A terceira premissa, a de que o cliente é responsável pelo seu próprio processo de cura, é

talvez a mais enfatizada dentre as características dos tratamentos holísticos, pelo fato de

que é ela que dá a medida da eficácia de qualquer das técnicas empregadas.

Caroline Myss é clara ao explicar a razão dessa afirmação, ao mesmo tempo em que

através do exemplo que se reproduz a seguir, deixa patente que a cura deve ocorrer não

apenas no nível físico: “Dentro do modelo holístico, a responsabilidade pelo processo de

cura é do paciente. Remédios não podem eliminar a dor emocional e cirurgias não

conseguem remover o medo, a culpa ou ressentimento que possam estar devastando

internamente a pessoa. Esse é um trabalho que o paciente, e só ele, deve fazer.”27

O quarto requisito é igualmente uma das características que apartam drasticamente a visão

holística de cura da visão médica tradicional. “Igualmente importante para a integridade

pessoal é aprender como ativar e fortalecer os recursos naturais de cura da mente e do Eu

interior (...) o termo Eu refere-se à essência dos recursos internos da pessoa.”28

Do ponto de vista holístico, portanto, a doença é considerada um desequilíbrio energético,

que deve ser curado nos níveis emocional, psicológico e espiritual, acionando-se o próprio

24 Medicina vibracional, p. 388. 25 O princípio da totalidade, p. 12. 26 Idem, Ibidem, p. 284. 27 Cf. Norman SHEALY, Caroline MYSS, op. cit., p. 32. 28 Cf. Norman SHEALY, Caroline MYSS, op. cit., p. 32-33.

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poder interno de cura do paciente, sendo ele próprio responsável pelo seu processo de

cura.

3.6. RELATO DOS FATOS

No interior do Paraná, em 1995, a fundadora dos grupos em observação tomou

conhecimento de um livro denominado Um Curso em Milagres (UCEM), tendo em abril de

1996, reunido um grupo de aproximadamente trinta pessoas para estudá-lo, que se

encontrava semanalmente. Em junho do mesmo ano iniciou o curso de Formação em

Renascimento (uma terapia holística), em Florianópolis, com duração de cinco meses. A

cada retorno seu de Florianópolis compartilhava os novos ensinamentos com os membros

do grupo, que eram em tudo semelhantes às lições aprendidas em Um Curso em Milagres.

O que mais chamava a atenção dos participantes do grupo era a alegria que a colega

exibia ao retornar, despertando neles a curiosidade e a vontade de fazer também o mesmo

curso.

Em abril de 1997, tendo já terminado a Formação, iniciou os atendimentos individuais com

3 membros do grupo. Posteriormente aproximadamente dois terços deles tornaram

igualmente sessões individuais.

Em maio de 1997 foi realizado o primeiro Workshop de Renascimento na cidade,

ministrado pelo professor da Formação, ao qual compareceram cerca de cinqüenta

pessoas. É importante salientar que o número médio de participantes de eventos dessa

espécie é de vinte pessoas.

A repercussão do Workshop foi extremamente favorável, não só entre os participantes

como em toda a comunidade. Essa fato foi inusitado porque a forma de trabalhar do

Renascimento, que faz uso da respiração energética bem como do conceito básico de que

o pensamento cria nossa experiência do mundo, contrariava vários conceitos, crenças e

valores da cultura da cidade, uma comunidade essencialmente agrícola e conservadora.

Dentre os participantes do Workshop cinco completaram formação Profissional nesse

mesmo ano. Em seu retorno, os cinco, juntamente com a Renascedora inicial, formaram um

grupo de reunião periódica para manter e aprofundar os conceitos aprendidos e dar

sustentação mútua nesse período de transformação. Falavam de forma empolgada sobre

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24

os novos conhecimentos influenciando os amigos e as pessoas com as quais tinham

contato.

Concomitantemente, continuavam as reuniões de UCEM da qual os renascedores também

participavam, onde, à semelhança do que ocorria no grupo de Renascimento, ao lado do

estudo teórico relatavam-se as primeiras experiências, resistências e dificuldades na

implementação dos conceitos novos.

Em maio de 1998 aconteceu o segundo Workshop de Renascimento, com 89 participantes,

muitos deles apenas curiosos para saber o que era aquilo de que se falava. Compareceram

pessoas das cidades vizinhas, algumas das quais participaram da nova Formação

Profissional nesse ano (mais cinco se formaram esse ano), iniciando o movimento em suas

cidades: Londrina, Maringá, Toledo, Pitanga. Foram percebidos aqui alguns movimentos de

reação contrária e de discordância.

Em 1999, do terceiro Workshop, participaram 60 pessoas, tendo 6 saído para Curso de

Formação. Nesse ano formou-se novo grupo de estudos de Renascimento, com 10

integrantes, que perdura até hoje, em seu quinto ano de funcionamento.

O grupo tem duas funções: proceder a estudos avançados na área da Visão Holística de

Mundo, dando ênfase à consciência de que o pensamento cria a realidade que

experimentamos e de que somos um com o universo; dar apoio mútuo na trajetória da

experiência diária das novas crenças e visão de mundo. Ao mesmo tempo continuavam as

reuniões do grupo de estudo de Um Curso em Milagres, da qual participavam os

integrantes do grupo de Renascimento, já que os conceitos, crenças e valores propostos

em ambas as sedes são os mesmos.

A partir daí, a cada ano tem acontecido novo Workshop de Renascimento, que tem atraído

participantes de outros estados, como Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, Rio de

Janeiro e Rio Grande do Sul, além de outras regiões do Paraná, e de onde são

encaminhados mais participantes para Formação.

Pela coordenadora e pelos membros do grupo foram trazidos para a cidade: cursos de

Reiki, que conta hoje com mais de trezentos iniciados; Medicina Tradicional Chinesa,

Acupuntura e Cromopuntura; Fitoterapia (em convênio com a Faculdade local);

desintoxicação alimentar pela Unibiótica pelo qual já passaram mais de 200 participantes;

cura da visão sem o uso de lentes; Seminário sobre Imortalidade Física, que teve excelente

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aceitação, inclusive por políticos e empresários locais; grupos de Renascimento, de um ano

de duração em escola pública municipal, para pais e professores (agora no terceiro ano de

funcionamento), abertura do ano letivo da cidade vizinha para 350 professores municipais,

de um dia de duração, sobre o Paradigma Holístico.

Quanto aos membros do grupo, alguns fizeram cursos independentes, em áreas afins:

Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e Acupuntura, Terapia Familiar Sistêmica de Bert

Hellinger, Terapia da Energia Vital com Stephano Sabetti, formação de terapeuta para

Pastoral da Saúde; dois outros membros construíram locais para atendimento de terapeutas

holísticos; dois atuaram junto a comunidades religiosas; outra hospeda em sua cada

Mestres de Reiki e MTC, onde sedia cursos; outra proporcionou para todos os seus

funcionários curso de iniciação em Reiki e desintoxicação alimentar. Esse programa de

desintoxicação e reeducação alimentar foi feito e é seguido por todos os membros do

grupo, à exceção de um. Todos receberam iniciação em Reiki.

O grupo de estudos do UCEM continua, com um número menor de membros, 7 anos após

iniciado. O grupo de Renascimento neste ano inicia seu quinto ano de reuniões

ininterruptas.

Atualmente constata-se que, após o ímpeto de expansão inicial, o movimento encontra-se

em fase de descanso nos segmentos onde primeiramente se expandira. Por outro lado, tem

se expandido em outras áreas em razão do trabalho voluntário que vem sendo realizado em

uma das escolas municipais. Lá em 2001 e 2002 foram liderados grupos de Renascimento

gratuitos, de professoras, mães e membros da comunidade, com um ano de duração, que

têm obtido aceitação e bons resultados. Dessa forma, o Renascimento se torna acessível e

conhecido em um círculo maior de pessoas, fora da clientela habitual.

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4. A PONTE ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

Após a descrição e o estudo sistemático e linear dos princípios de Kurt Lewin, serão eles

aqui separados em tópicos para facilitar a análise dos fatos ocorridos nos grupos em

observação. Assim, os mesmos princípios e os fatos serão agora analisados a partir dos

temas:

− Mudanças ocorridas;

− Princípios básicos subjacentes à mudança;

− Princípios sobre o processo da mudança;

− Condições necessárias à mudança;

− Importância do grupo:

a) Existência do grupo;

b) Atmosfera reinante;

c) Resistências;

d) Confiança;

e) Liberdade.

Iniciaremos cada tópico situando-o na teoria, e, sendo o caso, com a transcrição dos

princípios a ele relacionados, para em seguida transcrever as respostas dadas pelos

membros do grupo às perguntas que igualmente guardam relação com o tópico. O item 1

será exceção a essa seqüência, já que aqui serão enumerados apenas as mudanças

ocorridas, através da citação de trechos das respostas ali mencionadas.

4.1. MUDANÇAS OCORRIDAS

Para que haja uma clara compreensão do novo conjunto de valores adquiridos pelos

membros do grupo em observação, eles serão aqui enunciados a partir das respostas dada

às perguntas 1-4 e 11, de onde retiramos apenas as idéias centrais. O inteiro teor das

perguntas e respostas encontram-se nos apêndices 1 e 2. Para facilitar a exposição,

dividiremos o assunto em: a) novos conceitos, crenças e percepções; b) nova maneira de

ver o mundo; c) mudanças de comportamento daí decorrentes.

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A) NOVOS CONCEITOS, CRENÇAS, PERCEPÇÕES

P1: Vejo Deus de outra forma. Ele está dentro de mim, Ele não castiga. Sinto essa forma no dia-a-dia.

P2: Fiquei confiante que nada me faltará; confio em Deus e em mim.

P3: Mudou a crença de que estou aqui para sofrer. Agora tenho certeza que faço parte do todo, agora vejo que não há nada a ser modificado a não ser as crenças. Aqui é um lugar seguro, cada ser humano é divino. Isso me dá segurança.

P4: Vejo as pessoas como iguais. Não me sinto mais pecadora.

P5: Principalmente minha auto-percepção. Vejo a vida de modo diferente, o que antes era absoluto tornou-se relativo, o que era importante, deixou de sê-lo.

P6: Mudei minha crença de que tudo é difícil e escasso. Vejo que a doença no corpo é o último estágio: a origem é a mente e o emocional. A cura vem de dentro.

P7: Hoje vejo que podemos mudar o rumo e a qualidade de nossas vidas mudando nossos pensamentos. Tenho outra percepção sobre alimentação. Mudou minha crença no tempo. Só temos o presente para mudar algo. Mudou a crença de que sou só e só posso contar comigo mesma. Tomei consciência de que meu corpo é o único instrumento que disponho no presente para que eu possa evoluir. Percebo hoje que crio minhas doenças. A fonte de cura está em nós mesmos – e só curamos quando chegamos na raiz do pensamento que a criou.

B) NOVO MODO DE VER O MUNDO

P1: Mudou meu relacionamento com Deus, a família, o ser humano e comigo mesma. Percebi meus limites e os do outro.

P2: Não tenho mais medo, tenho confiança na vida, me sinto parte do universo. Sinto conexão e confiança plena em Deus. Conexão de ser um com Deus.

P3: Faço parte do todo, pertenço ao todo. Cada ser humano é divino.

P5: Minha conexão com Deus e com toda Criação foi ampliada – também minha fé e espiritualidade. Somos UM.

P6: Já não penso que o mundo está perdido – Acho que agora é que está melhorando.

P7: O mundo se tornou mais humano e a vida com mais sentido. Meu próximo é meu espelho por isso tenho mais respeito comigo e com ele.

As citações abaixo são parte das respostas às perguntas 4 e 11.

C) MUDANÇAS DE CONDUTA

P1: Sou mais livre suave, menos controladora, mais positiva e confiante. O medo desapareceu de minha vida. Não julgo aos outros nem a mim. Me amo, me aprovo. Respeito os outros e a mim. Faço o que gosto. Não preciso me anular para que meu marido seja feliz. Mudei a alimentação e fiz iniciação em Reiki.

P2: Fiquei menos crítica, mais tolerante, mais seletiva quanto às amizades, julgo menos. sou mais sincera comigo mesmo. Ouço minha voz interior. Perdi o medo de falar em público. Não me comporto mais com culpa ou inferioridade. Readquiri entusiasmo pela vida. Não tomo mais remédio para pressão alta. Patrocinei curso de Reiki para três dos meus empregados. Mudei radicalmente a alimentação – os empregados também.

P3: Respeito e aceito mais a mim e aos outros. Tornei-me mais calma e ponderada. O nervosismo não me embota mais o raciocínio. Não desejo mais modificar ninguém. Tenho mais segurança na maneira de ser e de agir.

P4: Minhas mudanças de comportamento são tantas. Não sinto mais necessidade de agradar. Hoje digo não sem sentir culpa. Tenho coragem de expor o que penso. Tenho respeito por mim, pelo que penso e sinto. Não me comporto mais como vítima. Aprendi a escutar. A autoridade já não me assusta, consigo me impor. Tentava resolver os problemas dos outros me fazendo responsável – hoje apenas colaboro. Não

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converso os mesmos assuntos que antes. Já não sou “boazinha”. Fiz cursos de Reiki e Medicina Tradicional Chinesa.

P5: Minhas reações aos outros foram suavizadas. Não sucumbo mais à desaprovação e não preciso tanto de aprovação. Minha vida era dos outros e agora voltei para mim mesma. Procurar tomar as coisas e pessoas como elas são – aceitá-las e respeitá-las. Mudei a alimentação e me tornei Mestre Reiki, além de ter freqüentado o Curso de Medicina Tradicional Chinesa.

P6: Meu comportamento mudou muito. Hoje penso com mais calma, procuro ser mais tranqüila e manter-me centrada. Não gosto de conversar com pessoas pessimistas. Não faço pré-julgamentos. Mudei alimentação. Não como mais carne vermelha. A mudança mais importante foi tomar consciência do que acontece comigo; perceber mudanças; dar-me conta de que o erro está se repetindo. Recuperei a auto-estima; amo mais as pessoas; respeito outras religiões.

P7: Tenho procurado não fazer aos outros aquilo que não gosto que façam comigo. Ajo com mais brandura e sempre surge um momento em que a consciência aparece e faço nova escolha. Comecei a resgatar meu poder pessoal e aos poucos reaver meu espaço; tenho um pouco mais de segurança em me expressar e expor minhas idéias para um grupo de pessoas desconhecidas. Tenho alimentação saudável com consciência. Tenho tido atenção e vigilância sobre meus pensamentos, que me dão chance de mudar muitas atitudes rapidamente. Fui iniciada em Reiki. Fiz curso de Formação Profissional em São Paulo de Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa.

4.2. PRINCÍPIOS BÁSICOS SUBJACENTES A TODO O PROCESSO

DE REEDUCAÇÃO

Dentre os 10 princípios de Kurt Lewin, alguns dizem respeito ao indivíduo e às etapas que

ocorrem no seu interior durante o processo de mudança propriamente dito. Serão

enumerados adiante no item 4.3. Outros dizem respeito ao grupo e pontuam sua

importância e forma de funcionamento. Também serão abordados adiante. No entanto,

existem alguns que são verdades pertinentes ao processo todo de reeducação. A eles,

denominamos neste trabalho de princípios básicos. São eles, especificamente:

a) Primeiro Princípio: São fundamentalmente semelhantes os processos que governam a

obtenção do normal e do anormal. Tendo os processos a mesma natureza, o resultado,

vale dizer, a aquisição da conduta de acordo com a norma ou divergente da norma social,

será ditado pelos efeitos que as circunstâncias da vida causaram no indivíduo. Isso

aproxima as fronteiras daquilo que é considerado terapia e o que é considerado educação.

As respostas citadas no item 4.1, letras a, b, c, se por um lado fornecem uma visão

abrangente sobre o conteúdo ou tema geral das mudanças, por outro lado comprovam que

o mesmo processo e o mesmo estímulo resultam em mudanças diferentes para cada

membro do grupo.

Se bem que não houve aqui divergência de resultado tão grande a ponto de chegar ao

anormal (de que fala o Primeiro Princípio), houve no entanto uma aquisição diferente para

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cada membro do grupo a partir do mesmo estímulo, como resultado das circunstâncias

peculiares de sua vida.

O objeto deste trabalho, qual seja, as mudanças operadas num grupo de estudos, não

comportou observação sobre aquisição do anormal. Sob esse aspecto, a pesquisa não foi

suficiente para comprovar o Primeiro Princípio. No entanto, se permanecermos dentro dos

limites da área de observação, poderemos notar, como dito acima, que o mesmo estímulo,

qual seja, as reuniões de estudo, resultou em aquisição de crenças, conceitos e percepções

diferentes para cada membro do grupo.

Feita essa ressalva, podemos afirmar que efetivamente as circunstâncias da vida levam a

aquisições diferentes diante do mesmo estímulo ou processo. Por outro lado, uma das

conseqüências desse Princípio é aproximar aquilo que poderia ser objeto da terapia e da

reeducação29. Isso também aconteceu no grupo em estudo, como demonstram as

respostas à pergunta 8: No processo de crescimento do grupo aconteceram ou foram

relatados fatos que poderiam ser considerados como passíveis de terapia?

P1: Sim. São muitos fatos relatados.

P2: Sim, em quase todos encontros do grupo.

P3: Praticamente todos.

P4: Certamente. As situações são muito adversas e a gravidade depende do Universo de cada um. O que vemos, no entanto, é que a “terapia” passa a acontecer ali mesmo no grupo. Já presenciamos situações dolorosas e gravíssimas se dissolverem em risos, calmaria e esperança.

P5: Sim.

P6: Sim.

P7: Eu acredito que sim. Aliás, para mim esse grupo funciona como terapia.

b) Segundo Princípio: O processo reeducativo tem que realizar uma tarefa que eqüivale

essencialmente a uma mudança de cultura. A mudança de cultura deve abranger três

níveis: o conjunto de valores, a forma de percepção do mundo e o comportamento. Significa

também, num segundo enfoque, que as mudanças não podem ser isoladas ou restritas a

uma só área da vida do indivíduo. Precisam ocorrer no contexto da vida total desse

indivíduo no grupo. Num terceiro enfoque, para Kenneth D. Benne esse princípio significa

29 Benne, Kenneth O. O processo de re-educação: uma avaliação da concepção de Kurt Lewin.

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30

que a reeducação deve abranger também outras pessoas e grupos que fazem parte do

cotidiano do indivíduo.

Considerando que a mudança de cultura deve começar pela mudança do conjunto de

valores, que resultará numa mudança de percepção do mundo e que desaguará na

mudança do comportamento, as respostas acima citadas espelham uma efetiva mudança

de cultura já que as mudanças aconteceram nos três níveis. As novas crenças têm em

comum: a certeza de fazer parte do todo, que pertencer, de que “aqui é um lugar seguro”, de

ter conexão com Deus, resultando daí a confiança na vida e a percepção do outro como um

ser divino.

Como se vê pelas respostas as mudanças de comportamento foram grandes. Elas

abrangem basicamente: o respeito por si próprio e pelos outros e consequentemente, o

abandono do controle, da crítica, da auto-anulação e do “complexo de inferioridade”, da

necessidade de modificar os outros e de ver as pessoas como superiores ou inferiores, ou

de agradar compulsivamente. Do auto-respeito decorre a capacidade adquirida de dizer

‘não’ sem sentir culpa, de não mais se comportar como vítima, de não depender tanto de

aprovação ou abater-se com a desaprovação. Um traço comum de mudança entre todos os

membros reside no comportamento mais suave e tranqüilo, na mudança de alimentação e

participação em cursos de Reiki.

Pelo teor das respostas e do que foi exposto acima pode-se concluir que o Segundo

Princípio, entendido em seu primeiro enfoque, foi posto em prática no grupo objeto deste

estudo, porque a atividade, que no início se propunha a ser apenas de estudo, tanto de

UCEM como de Renascimento, acabou se transformando em processo reeducativo, na

medida em que realizou uma tarefa equivalente a uma mudança de cultura.

Analisando-se o mesmo princípio pelos segundo e terceiro enfoques, isto é, que as

mudanças devem ocorrer em todas as áreas da vida do indivíduo bem como a que a

reeducação deve também abranger as pessoas que com ele convivem, as respostas

comprovam que isso também ocorreu. As mudanças relatadas nas respostas, já citadas, às

perguntas 1-4 e 11, não dizem respeito apenas a uma área da vida, mas aos valores e

comportamentos da pessoa em sua integridade.

De igual modo, as respostas às perguntas 10, 21 e 22 relatam que os membros do grupo

efetivamente experenciavam os novos valores em suas vidas, na família, com amigos e

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parentes e que estas pessoas foram igualmente afetadas pelas mudanças ocorridas com

aqueles.

Pergunta 10: Os membros do grupo efetivamente experenciavam os novos valores em suas

vidas? (na família, com amigos e parentes)? Como?

P1: Sim. Todos percebiam com as novas atitudes, e por que os outros correspondem às mudanças. Isso é fantástico. Isso faz muito bem.

P2: A absorção dos novos valores com mudança de comportamento e pensamento para os membros do grupo sempre foram evidentes nos seus depoimentos. Estes valores também foram assimilados, com mais ou menos intensidade nas pessoas de relacionamento mais próximo como: família, amigos, colegas de trabalho, etc. particularmente, minha família, que é bastante numerosa, a mudança foi tão grande que uma boa parte dela, já participou e praticam o Renascimento. Também percebi mudança de valores com o pessoal do meu trabalho, com meus amigos e com meus pacientes. Acho que muitos já foram contaminados... (pela nova idéia).

P3: Sem dúvida. As coisas acontecem naturalmente. O que era um “defeito”, deixou simplesmente de existir. As outras pessoas sentem que houve uma mudança sem alarde, aceitam admiradas. Não há comentários estrondosos, há sim uma simples aceitação do fato.

P4: Sim, pelos relatos e testemunhos, pelas atitudes novas tomadas até com relação ao próprio grupo. Ouso dizer que estamos mais abertos e dóceis à vida.

P5: Sim. Foi maravilhoso constatar isso, falar sobre isso e vivenciar, pessoalmente, valores novos. Sem alarde. Com o coração sorrindo. E um olhar amoroso a todos. No começo, houve um alvoroço interior que quis se exteriorizar, excitadamente. Mas, logo, diante das resistências e surpresas - , aprendemos a falar menos. A adotar apenas, firmemente, uma atitude interior nova.

P6: Eu acredito que sim, porque falávamos da mudança de comportamento da família, de amigos.

P7: Sim. Todos relatavam experiências com novos valores. Mas as vezes as mudanças dos valores eram percebidos algum tempo depois da experiência, isto é: para alguns as vezes demorava para cair a ficha.

Pergunta 21: Quais pessoas foram afetadas pelas mudanças ocorridas com o grupo e com

você? Comece pelas mais afetadas e vá distanciando, até onde você possa detectar uma

pequena influência (não cite nomes).

P1: Eu mesma, esposo, filhos, mães, irmãos, funcionários, amigos, clientes, fornecedores, líderes religiosos.

P2: Pessoas afetadas pelo grupo: amigos, irmãos, sobrinhos, equipe de trabalho, família – marido, clientes, filho.

P3: Família, marido e filhos, mas também irmãos, noras e até domésticas, sem contar amigos e outros parentes e as pessoas em geral com as quais me relaciono no dia-a-dia.

P4: Marido e filhos. Meus pais. Cunhadas. Amigas. Empregadas. Manicure. Alunos. Atendentes de lojas e clínicas (também nas filas).

P5: Filhos, neto, marido, clientes do Escritório, empregados do Escritório ou de casa, mãe, irmãs, sobrinhos, tios, primos, amigos, colegas de trabalho (e de cursos), fornecedores de alimentos e livros, família do marido, do genro, praticamente, todos com quem convivo ou cruzo eventualmente. Há uma nova luz, nas palavras, no olhar, nos gestos, nas reações, no jeito de encarar os fatos. Sempre aparece, seja no aspecto exterior, seja de forma mais sutil. As vezes, até nas roupas que se usa.

P6: Eu, fui a mais afetada, meu esposo, filho, irmã e uma pequena influência ocorreu com os meus pais.

P7: Marido, filhos, mãe, pai, amigos, irmão, funcionários.

Pergunta 22: Que outros grupos de pessoas foram afetadas?

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P1: Eu acredito que qualquer pessoa que tenha tido contato comigo, ou, venha a ter, será atingida com a minha mudança. Hoje eu posso dizer com segurança que sou uma outra pessoa, que sou feliz.

P2: Amigos e parentes distantes e que pouco nos relacionamos surpreendem quando percebemos em conversas que estamos na mesma vibração e sintonia, em busca dos mesmos objetivos.

P3: Principalmente as que formam outros grupos, como por exemplo religiosos.

P4: As pessoas com quem trabalho e meus alunos.

P5: Grupos de Reiki, terapeutas, religiosos, médicos, associação ANABB...

P6: Meus clientes, meus amigos.

P7: Amigos distantes sem muita ligação.

Como se comprova através das respostas, o Segundo Princípio foi confirmado na prática,

sob os três enfoques a que aludiu acima.

O próximo princípio básico ao processo de reeducação, diz respeito à percepção e à ação

e está consubstanciado no Quarto Princípio:

c) Quarto Princípio: A ação social não é menos dirigida pela percepção que a ação física.

Assim, a percepção dirige tanto a ação física como social daí resultando que, para que se

mude a ação ou comportamento deve-se mudar antes a percepção.

Pelas respostas, fica claro que tanto a ação social dos membros do grupo como a ação

física foram alteradas com a mudança de percepção. Tome-se como exemplo a mudança

de percepção sobre os seres humanos, (eu e os outros): “Somos todos divinos e unos”. Daí

resultou uma mudança na ação social: P.2: “Fiquei menos crítica e mais tolerante aos atos e

comportamentos das outras pessoas”. (Perg. 3). E na ação física: P.7 “Escolhi ter uma

alimentação saudável com consciência”. (Perg. 4)

d) Sexto Princípio: Os estereótipos incorretos (preconceitos) são funcionalmente

equivalentes a conceitos errôneos/teorias. Daí resulta que os preconceitos agem como

causador de comportamentos mesmo contra o peso da evidência contrária. Isso significa

que mesmo a larga, a experiência com membros de determinados grupos não será

suficiente para mudar o preconceito em relação à totalidade do grupo. A resposta à

pergunta 7 pelo P3 comprova este princípio. “Eu tinha preconceito sobre ... religiosos.

Apesar de ter contato com eles há muito tempo vi que padres e freiras não são mais

infalíveis como eu pensava. São seres como eu...”.

Assim, a experiência e a convivência anteriores não haviam sido suficientes para mudar o

preconceito. Foi necessário o estabelecimento do “vínculo psicológico” entre a imagem dos

indivíduos específicos e o estereótipo do grupo para que o preconceito fosse alterado.

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e) Oitavo Princípio: uma mudança da ideologia de ação, uma aceitação real de um conjunto

modificado de fatos e valores, uma mudança do mundo social percebido; os três não

passam de expressões diferentes do mesmo processo.

Sobre o conteúdo desse princípio já se discorreu quando se falou sobre o Segundo

Princípio: a mudança de cultura deve abranger três níveis: o conjunto de fatos e valores, a

percepção do mundo social e o comportamento. Isto porque a ação é dirigida pela

percepção. Se muda a percepção de fatos e valores, mudará o modo de agir.

As respostas das perguntas que confirmam que o Oitavo Princípio ocorreu no grupo em

estudo foram transcritas quando se falou sobre o Segundo Princípio.

4.3. PRINCÍPIOS SOBRE O PROCESSO DE MUDANÇA DE COGNIÇÃO

E ACEITAÇÃO DE NOVOS VALORES

Sob esse tópico reunimos os três princípios que se referem ao processo de mudança de

cognição e aceitação de novos valores, em si mesmo considerado, ou aos passos que

precisam ser seguidos para que se processe a alteração de um para outro conjunto de

valores. A esse tema se referem os princípios números três, cinco e sete. Para facilitar a

abordagem dividimos o assunto em dois aspectos: a) princípios propriamente ditos; b)

quais ocorrências são necessárias para que a mudança aconteça. As respostas transcritas

abaixo são úteis para ambas as abordagens.

Terceiro Princípio: Até mesmo ampla experiência direta não cria automaticamente

conceitos corretos (conhecimento).

Quinto Princípio: Via de regra, não basta o domínio do conhecimento correto para corrigir a

percepção errada.

Sétimo Princípio: Mudanças de sentimentos não acompanham necessariamente mudanças

de estrutura cognitiva.

Vemos então que:

1) Para que se adquira conceitos corretos (conhecimento) é necessário experiência direta e

algo mais.

2) Mesmo após adquirido o conhecimento correto – para que se corrija a percepção errada

é preciso algo mais;

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3) Vencidas essas etapas e adquirida a percepção correta, mesmo assim os sentimentos

podem permanecer os mesmos. Para que mudem é preciso algo mais.

O que é preciso acontecer então, para que as mudança não seja superficial, situando-se

apenas no nível de expressão verbal? O que é necessário para que a mudança atinja o nível

dos sentimentos e da conduta?

A seguir, transcrevemos as respostas às perguntas 5, 6, 9 que comprovam tanto o presente

tópico (princípios sobre o processo de mudança) como respondem as perguntas acima,

sobre as quais trataremos no item 4.4, adiante.

Pergunta 5: O mero conhecimento de uma nova percepção, visão ou fato foi suficiente para

corrigir a percepção errada? Se não, o que mais foi preciso?

P1: Junto com o conhecimento vem a sessão de respiração, os exercícios, o desejo, as afirmações diárias.

P2: Foi o conhecimento de uma nova percepção, somado à ação (atenção) e também a constante ajuda do grupo de apoio para manter a incrementar esta nova percepção.

P3: Não. Foi preciso trabalhar muito as percepções erradas. O hábito nos faz voltar as mesmas; é preciso estar atento e ter humildade em dizer: “errei novamente”.

P4: Não. A nova percepção é mental e a mudança não é automática, nem imediata. É um exercício diário e PERSEVERANTE. O que ajuda nesse processo são os exercícios propostos pelo RENASCIMENTO.

P5: O conhecimento foi o “acionador”, a base. Os exercícios, a compartilha, a confiança com o grupo, as experiências práticas, e difíceis, no dia a dia foram, ou melhor, estão sendo, os principais fatores para correção da percepção. É um “continuum”, com altos e baixos. É um processo apaixonante.

P6: Foi preciso ler, debater, estudar, respirar, fazer exercícios.

P7: Não. A teoria sem a prática não tem sentido. E para praticar é necessário ter consciência e disponibilidade. Durante um longo tempo essas novas informações ficaram a nível mental o tempo necessário para serem processadas. Então... em um determinado momento, eu percebia que algo tinha mudado. A correção vai surgindo a passos lentos. Mas o tempo de correção da percepção de cada uma é individual. Fazer é muito mais difícil que saber.

Pergunta 6: A aquisição de uma nova percepção levou automaticamente e uma mudança de

sentimento? Se não, quando se deu também a mudança de sentimento?

P1: Sim, e se percebe isso claramente.

P2: Para mim, a mudança de sentimento aconteceu após um determinado tempo. Sinto que primeiro o balde teve que encher-se, e quando já estava transbordando. Aconteceu a “mudança de sentimento” – e neste momento é que esta nova percepção trouxe a parte saborosa da nova interpretação do mundo, dos fatos, etc...

P3: Sim e com muita segurança.

P4: Da mesma forma que na pergunta anterior, os exercícios do Renascimentos (afirmações, cartas, etc.) conduzem gradativamente a uma mudança de sentimentos. Para mim, particularmente, o sentimento se aloja com mais intensidade pois me sinto responsável quando percebo que estou relutante em mudar, em curar muitas atitudes equivocadas.

P5: Os sentimentos, devagar, vão-se alinhando com a mente. O coração com a cabeça.

P6: Sim.

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P7: No início, para mim foi muito conflitante porque uma coisa é você ter conhecimento que algo é de um jeito e outra coisa é sentir que esse algo é realmente desse jeito. A distância entre saber e sentir, para mim foi um caminho longo percorrido.

Pergunta 9: A partir de que momento um novo valor era incorporado e você passava e

considerá-lo como efetivamente seu?

P1: A partir do momento em que eu sentia como parte de mim e presenciava os resultados ao meu redor.

P2: Cada novo valor era incorporado imediatamente a tomada de consciência de conceitos, crenças ou padrões através de técnica de respiração ou exercícios como dietas de liberação, de perdão ou afirmações praticados diariamente.

P3: Era preciso ele se tornar claro...

P4: No momento do reconhecimento do novo valor já o considero meu, mesmo que não saiba aplicá-lo ainda à minha vida. No reconhecimento ele se instala!

P5: Um novo valor para mim era tido com incorporado quando eu sentia um novo sentimento em relação aos mesmos atos ou fatos antes vividos/encarados de forma diferente.

P6: Quando eu conseguia sentir a mudança no meu coração, quando eu me dava conta que estava sentindo as coisas diferentes de antes.

P7: A partir do momento em que ocorresse a mudança de sentimento.

Pelas respostas, e apesar de algumas respostas divergentes, vê-se que não é suficiente o

conhecimento mental para corrigir a percepção errada. É preciso acrescentar: a ação,

atenção, persistência, a ajuda ao grupo (P2); muito trabalho (P3), tempo, perseverança,

exercícios (P4); exercícios, compartilha, experiências práticas (P5); leitura, estudo,

respiração, exercícios (P6); prática, consciência, disponibilidade, tempo (P7).

Constata-se ainda que a real incorporação de um novo valor de forma que o participante do

grupo passasse a considerá-lo efetivamente seu ocorria: a partir do momento em que eu

sentia..., e presenciava resultados ao meu redor (P1); após a tomada de consciência, que

se dava através de exercícios praticados diariamente (P2); era preciso ele se tornar claro

(P3); no momento do reconhecimento (P4); quando eu sentia um novo sentimento... (P5);

quando sentia a mudança ao meu coração (P6); quando ocorria a mudança de sentimento

(P7).

4.4. CONDIÇÕES NECESSÁRIAS À MUDANÇA, OU DE NOVO

CONJUNTO DE VALORES

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O sucesso do processo de reeducação depende diretamente do sucesso na superação das

resistências, que na verdade significam a forma que assume a lealdade aos antigos

valores.30

As etapas percorridas entre o fato inicial, que é a exposição ao novo conjunto de valores,

até o resultado final, que é o novo comportamento, são analisadas por Kurt Lewin a partir do

Terceiro Princípio.

No Terceiro Princípio, ao afirmar que a experiência direta não cria automaticamente

conceitos corretos (conhecimento) fundamentou-se no exemplo da teoria da gravidade, que

não pôde ser corrigida apesar da experiência do homem por milhares de ano com objetos

que caem. Foi preciso que, na busca sistemática da verdade, fossem feitos experimentos

(seqüência de experiências) que provocassem uma mudança para conceitos mais

adequados.31

Esses experimentos foram feitos no grupo em observação: tanto que, uma das

características do grupo em exame é o fato, que freqüentemente era repetido, de que o

grupo se constituía em um laboratório. O grupo tinha dois instrumentos de trabalho: um novo

conjunto de crenças e valores que era objeto de estudos bem como formas de trabalho

específicas como exercícios escritos e vivências. A partir daí os experimentos eram feitos: o

elemento variável era o conteúdo das resistências, que dependiam das circunstâncias de

vida de cada um dos membros. Dependendo das resistências, o processo de aquisição

dos novos valores e crenças era diferente. Variava também quais valores e crenças eram

mudados. Esse Princípio Terceiro, foi portanto, vivenciado no grupo.

Quanto ao Quinto Princípio, o qual afirma o fato de que a percepção errada não é

corrigida apenas com o conhecimento correto, isto é, com uma informação mais

adequada, (nem com ampla experiência direta, como afirma o Terceiro Princípio), Kurt

Lewin deixa claro que um dos maiores obstáculos à mudança de percepção é o

preconceito. Aqui não basta ter o conhecimento intelectual de que, por exemplo, as

mulheres são competentes, nem a convivência diária com as mulheres competentes

30 A forma como se lidavam com as resistências dentro do grupo será objeto de análise no título sobre a importância do grupo.

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(experiência direta). É preciso que exista o vínculo psicológico, descrito a seguir, para que

o preconceito se desfaça, como explica Lewin.

O preconceito é tratado no Sexto Princípio. Ao falar sobre estereótipos sociais incorretos

(preconceito) e as dificuldades de vencê-los em relação a um determinado grupo (ex.: de

negros) apesar de se ter tido experiências favoráveis com um ou vários membros deste

grupo, Kurt Lewin afirma: “Só quando se estabelece um vínculo psicológico entre imagem

dos indivíduos específicos e o estereótipo de um determinado grupo; só quando os

indivíduos podem ser percebidos como ‘representantes típicos’ desse grupo, é que a

experiência com indivíduos tem a probabilidade de afetar o estereótipo.

As respostas à pergunta 7 dão conta que no grupo em estudo alguns preconceitos foram

superados (vide anexo) exatamente quando se estabelece ou o vínculo psicológico. Um

exemplo disso foi narrado no item 4.2, retro, tornando-se desnecessário repeti-lo aqui.

No Sétimo Princípio, após afirmar que as mudanças de sentimentos não acompanham

necessariamente as mudanças da estrutura cognitiva, ressalta que o fator mais importante

para que a mudança de sentimentos ocorra reside no “grau em que o indivíduo se envolve

ativamente no problema”. Sem esse envolvimento, nenhum fato objetivo conseguirá atingir

condição de fato para o indivíduo implicado e dessarte influenciar-lhe a conduta social”.

(grifo nosso).

As respostas às perguntas 5, 6 e 9 (item 4.3) expõem claramente tanto o processo dos

experimentos, como o envolvimento e o comprometimento dos membros do grupo, que se

empenhavam em exercícios, trabalho, experiências práticas, ação, atenção e

disponibilidade. Verificou-se então que estavam presentes, no grupo em observação, os

seguintes requisitos, que levaram em conjunto à mudança de cognição, aceitação dos

nossos valores e mudança de conduta:

− conhecimento correto;

− experiência direta qualificada (experimentos);

− envolvimento;

31 LEWIN, Kurt. Problemas de dinâmica de grupo, p. 76.

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− no caso dos estereótipos incorretos, o vínculo psicológico.

4.5. IMPORTÂNCIA DO GRUPO

Conforme enfatiza Kenneth D. Benne32, para Kurt Lewin o grupo é indispensável como meio

da efetiva reeducação.

Como se verifica na leitura dos comentários sobre os princípios 9 a 1033, para Kurt Lewin, a

existência de um grupo solidário, no processo de reeducação, é de fundamental

importância, por vários motivos.

Em primeiro lugar, porque o sentimento grupal forte de solidariedade que todos passam

pelas mesmas experiências e dificuldades cria as condições para reeducação, como foi

comprovado com alcoólatras e delinqüentes.

Em segundo lugar, porque o grupo favorece a aceitação do novo conjunto de valores,

entendida como a mudança gradual de hostilidade para a cordialidade.

Em terceiro lugar, porque o grupo solidário oferece a liberdade necessária para que o

indivíduo expresse abertamente as resistências que sente contra o novo conjunto de valores,

como expressão da lealdade que dedica aos valores antigos.

Ainda, o grupo fornece a estabilidade e o caráter supra-individual com os quais o indivíduo

pode contar para evitar que as flutuações de seu estado de ânimo o impeçam de adquirir os

nossos valores.34

Por último o grupo se presta ao papel de “fonte definida de autoridade com novos pontos de

referência”35, facilitando ao indivíduo que o novo sistema de valores e crenças, dominem

sua percepção, o que é imprescindível para que a reeducação resultem em mudança de

conduta.

32 O Processo de reeducação: uma avaliação de concepção de Kurt Lewin. 33 LEWIN, Kurt. Problemas de Dinâmica de grupo, p. 82-84. 34 Ob. cit, p. 75. 35 Ob. cit., 84.

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No questionário em anexo, as perguntas 12 a 20 dizem respeito ao grupo: a sua existência

(19, 20); à atmosfera reinante (12-18); ao modo de trabalhar as resistências (14, 16, 17); à

confiança (15, 17); e à liberdade (12, 18).

Os três primeiros estão agrupados:

A) EXISTÊNCIA DO GRUPO

Pergunta 19: Caso não tivessem sido formados os grupos para estudo e acompanhamento,

teria, mesmo assim, havido mudanças em seus valores, crenças e comportamento?

P1: Talvez alguns pudessem ter sido mudados mais creio que não todos, pois talvez a insegurança ou um outro sentimento pudesse impedir a caminhada fazendo que aos poucos fosse esquecido o objetivo principal. Mas como o grupo, com o acompanhamento do grupo nos sentimos mais fortes, seguros, merecedores e determinados.

P2: Acho que a participação no grupo fez com que a assimilação destes novos conceitos fosse muito mais rápida e mais eficaz.

P3: Muito pouco. Como eu procurei primeiro outros meios que me deram uma abertura para a mudança, tudo cairia no esquecimento sem esse apoio contínuo e pouco restaria. Muita coisa também foi clareada, inovada e sempre colocada com carinho e afeto, que calaram mais fundo do que uma simples informação.

P4: Para mim, acredito que NÃO.

P5: Talvez sim. Mas, não sei como, nem quando. Provavelmente, de modo muito mais demorado e inconsciente. Ou mais traumático, sofrido.

P6: Não, penso que para ocorrer isso, é preciso buscar discussões, aprendizagens...

P7: Acho que teria tido sim algumas mudanças pois sempre há mudanças pelo natural amadurecimento, mas tenho a certeza de que não seria nem com a rapidez nem com o nível de consciência que tudo aconteceu.

Pergunta 20: Qual o papel do grupo nesse processo de mudança?

P1: Eu particularmente dou muito valor ao grupo.

P2: O grupo me deu apoio, constância e direção para o meu objetivo. Os resultados foram significativos para um espaço de tempo muito mais curto.

P3: O grupo exerce o papel de apoio, de esteio. São pessoas que dão o melhor de si sem pedir nada em troca, isto é gratificante.

P4: O papel de provedor. Ele me manteve firme na vontade de mudar.

P5: Principalmente, de APOIO. Para mim, funciona como alimentador, provedor de energia nova. Funciona também como espaço de “descanso”.

P6: O papel do grupo é abrir caminho, é mostrar novos conceitos, é procurar ajudar uns aos outros.

P7: O grupo teve papel fundamental de estímulo de apoio e de suporte. Para mim o grupo funciona como uma mola mestra que me impulsiona sempre para frente. Nunca pensei na hipótese de não mais existir.

As respostas comprovam a afirmação de Kenneth D. Benne de que, para Kurt Lewin, o

grupo é indispensável como meio de efetiva reeducação. Quer seja para dar a segurança

de que a “caminhada” continua, para fazer com que a “assimilação” dos conceitos fosse

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mais rápida, ou impedir que os novos valores caíssem no esquecimento. Também foi

importante como provedor ou fonte de apoio ou mola mestra.

Tudo o que Kurt Lewin descreve como vantagens do grupo está presente aqui. As respostas

indicam que, caso o grupo não tivesse existido, provavelmente as mudanças não teriam

ocorrido nessa profundidade.

Afirmamos, consequentemente, que o Décimo Princípio ficou cabalmente provado no grupo

em observação. Décimo Princípio: O indivíduo aceita o novo sistema de valores e

crenças quando aceita pertencer a um grupo.

B) ATMOSFERA REINANTE NO GRUPO

As perguntas 12 a 18 dizem respeito à atmosfera ou aos sentimentos reinantes no grupo.

Ao transcrever as respostas nos ateremos apenas às características principais, para que

não nos tornemos repetitivos. Para efeito de consulta, o conteúdo integral das respostas

encontra-se em anexo.

P1: Segurança, liberdade para expressar todo e qualquer sentimento, união, amor, igualdade, alegria, gratidão.

P2: Segurança, apoio emocional, união, liberdade, compreensão, respeito, lealdade, confiança.

P3: Segurança, apoio emocional, união, liberdade, paciência, cumplicidade, fraternidade.

P4: Segurança, apoio emocional, união, liberdade, além de confiança cumplicidade e amor.

P5: Amorosidade, compaixão, alegria, confiança, conforto, apoio.

P6: Solidariedade, prazer de estar juntas, companheirismo, humildade, confiança, apoio incondicional.

Uma atmosfera de respeito, cumplicidade, confiança, liberdade de expressão, alegria, amor

está presente no grupo, facilitando com que as resistências sejam minimizadas, abrindo as

portas para a aquisição do novo sistema de valores. Pode-se afirmar que se trata de um

grupo solidário, nas palavras de Kurt Lewin.

C) RESISTÊNCIA: COMO O GRUPO LIDA COM ELAS

Toma muitas formas a lealdade ao sistema antigo de valores, e elas se expressam através

de resistências, nos vários momentos do processo de reeducação. As resistências podem

estar presentes: no processo de mudar estereótipos sociais inadequados, quando, nem

mesmo a larga experiência direta, unida ao conhecimento correto conseguem afetar o

estereótipo. As resistências aparecem também quando, mesmo após efetivada uma

mudança de estrutura cognitiva, o sentimento permanece inalterado. Ou ainda quando o

indivíduo se encontra sujeito à reeducação contra a sua vontade. Neste caso, o sentimento

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de que o nosso conjunto de valores o ameaça faz com que ele reaja com hostilidade. Ainda,

a resistência emergirá com força quando se tentar mudar as convicções do indivíduo ponto

por ponto. A argumentação lógica, aqui, pode encurralá-lo, e a resistência se tornar

intransponível.

Pela forma como Kurt Lewin embutiu as resistências em seus Princípios, levando-o a

conceber soluções, princípio por princípio, para neutralizá-las, pode-se concluir que o

processo todo de reeducação é o desenrolar de passos contra as resistências. Vê-se

claramente que o novo conjunto de valores vai sendo implantado na mesma medida em que

as lealdades ao antigo (que se expressam como resistências) vão sendo superadas.

No grupo em estudo viu-se nitidamente que os novos valores e crenças só puderam se

firmar porque as resistências não foram quebradas (o que teria levado à desintegração do

grupo) mas sim tratadas de forma a preservar a confiança. Confiança no grupo, nos

membros do grupo, no acolhimento das divergências e na certeza de que as percepções

certamente mudariam: no devido tempo. O tempo, a persistência e a confiança foram

aliados na luta contra as resistências.

Vejamos o que dizem as respostas às perguntas 14, 16 e 17:

Pergunta 14: Como o grupo foi lidando com as resistências que surgiam ao novo sistema

de valores?

P1: Confiando, perseverando e buscando muito apoio no grupo, pois, no momento de transição de valores às vezes podemos ficar inseguros e o grupo faz muita diferença neste momento nos acolhendo e orientando. Estando presente.

P2: Respeitando sempre o limite e a vontade da pessoa.

P3: Com muita calma e paciência. Cada membro procurava tornar o novo conceito claro e acessível ao membro resistente.

P4: Ajuda e orientação ia aliviando cada resistência. Hoje, o grupo Participa, Opina, Ajuda e Apoia em verdade unicidade.

P5: Com muita paciência e amorosidade, compartilhando alternativas, sugerindo/convidando para também participar/aprender, oferecendo referencial bibliográfico para leitura auxiliar, seminários...

P6: Com paciência, com aceitação, esperança e confiança.

P7: Primeiramente, as resistências eram expressadas com liberdade e segurança. Segundo, todas ouviam sem julgamentos. Terceiro, trabalhando com afirmações, exercícios e mentalizações. Quarto, exercitando confiar na Inteligência Divina.

Pergunta 16: Quando um determinado ponto novo (conceito, valor crença) era introduzido e

algum membro apresentava resistência como a resistência era trabalhada?

P1: Através de testemunhos uns dos outros. De exercícios; como: afirmações, cartas, gratidão, respiração, dietas de perdão, etc.

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P2: Com dinâmicas individuais ou em grupo.

P3: Com muita calma e paciência. Cada membro procurava tornar o novo conceito claro e acessível ao membro resistente.

P4: Com muito estímulo e persistência no assunto. Sempre com imenso respeito à limitação de cada um. Porém sem nunca desistir.

P5: Com exercícios, com rediscussão, valorização da oposição como chance para novas descobertas. Aguçando a curiosidade. Como fator “provocador” de estudo, debates e mais pesquisa de campo, mais observação da própria experiência similar.

P6: Com carinho e paciência.

P7: O grupo sempre teve muito respeito com as resistências individuais, paciência para ouvir, várias sugestões de afirmações e a confiança de estarmos sempre seguindo juntas pelo caminho certo.

Pergunta 17: Diante da resistência a um novo ponto de aprendizado, o que prevalecia: a

preservação da confiança no sistema como um todo ou a necessidade de ficar provado o

novo ponto?

P1: Não há necessidade de se provar novo ponto de aprendizado, pois ele por si próprio se faz não só pela confiança no sistema, mas com a prática dos exercícios.

P2: Prevalecia a preservação da confiança no sistema.

P3: A necessidade de ficar provado o novo ponto.

P4: Entendo que a preservação da confiança como um todo, pois a partir dela é que dá para insistir e provar o que queiramos.

P5: A preservação da confiança era privilegiada. Sem quedas de braço que ameaçassem a confiança. Às vezes, foi necessário relaxar e adiar, nunca abandonar, a nova questão. Aguardando que maturasse mais.

P6: A preservação da confiança no sistema como um todo.

P7: A preservação do sistema como um todo.

Analisando-se as respostas acima é fácil concluir que os novos valores são implantados

totalmente apenas se as resistências forem sendo minimizadas gradualmente em

atmosfera de respeito, confiança e liberdade.

As respostas comprovam também o acerto do Nono Princípio de Kurt Lewin, que diz:

Geralmente a aceitação do novo conjunto de valores e crenças não pode ser efetuado ponto

por ponto.

D) CONFIANÇA

A confiança é o ingrediente que não pode faltar, num grupo que pretenda efetuar uma

mudança de cultura. Sem confiança não há exposição, não há expressão livre dos

sentimentos, inclusive aqueles que expressam resistências. Sem confiança o grupo não

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será um grupo solidário, como quer Kurt Lewin36 nem se cria o sentimento grupal. Sem

confiança não se rompe a barreira da hostilidade para transformá-la em receptividade aos

novos valores.

Na verdade, apesar de Kurt Lewin não haver dedicado nenhum princípio específico ao fator

confiança; vê-se com clareza que ela é uma pré-condição ou uma condição subjacente à

mudança de cognição e aceitação de novos valores. Os princípios 9 e 10 falam dela

indiretamente. Quando, no princípio 9, diz-se que a aceitação de novo conjunto de valores

não pode ser efetuada ponto por ponto, porque a mudança de convicção só se processa

quando o indivíduo renunciar a hostilidade, significa que só a atmosfera de confiança,

proporciona a mudança gradual da hostilidade para a cordialidade e aceitação. Então, a

preservação do sentimento de confiança deve prevalecer sobre a argumentação lógica.

No princípio 10, ao dizer que o indivíduo aceita o novo sistema de valores quando aceita

pertencer a um grupo, Kurt Lewin deixa implícito que o grupo solidário só será solidário se

houver confiança entre seus membros: para se expor, para expressar suas resistências sem

o risco de ser rejeitado. A confiança deve fazer parte da atmosfera externa ao indivíduo

bem como encontrar ressonância nas suas condições internas, para que se estabeleça o

clima prévio de cordialidade e receptividade necessários ao início da mudança.

As respostas à pergunta 15 confirmam plenamente o que foi dito acima:

Pergunta 15: A confiança esteve presente no grupo? Como se manifestava?

P1: Sim. Sempre. Pois não há como confiar algo importante sem sentir que os membros do grupo estão interessados e bem intencionados.

P2: A confiança sempre esteve presente no grupo e se manifestava pela clareza e descontração com que os depoimentos eram colocados ao grupo.

P3: Ela é a chave-mestra. Sem ela o grupo não teria crescido. Ela foi conquistada dia após dia. A medida que a confiança crescia, os membros revelavam seus medos, angústias, dúvidas, raivas, mal-entendidos, sentimentos positivos e negativos do nosso dia-a-dia.

P4: A confiança sempre esteve presente e se manifestava de formas variadas: - Num abraço, num olhar, nas sugestões faladas ou no total silêncio.

P5: O tempo todo. Seria impossível qualquer evolução, sem o fator confiança.

P6: Sim, se manifestava com a união cada vez maior, falávamos de nossos assuntos pessoais com a maior tranqüilidade.

36 LEWIN, Kurt. Problemas de dinâmica de grupo, p. 82.

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P7: Sim. A confiança sempre esteve presente. Os relatos de experiências e sentimentos muito pessoais demonstravam que era um lugar seguro. Não tinha a preocupação de julgamento. E o apoio era incondicional.

O grupo comprovou cabalmente que a confiança, fator implícito nos princípios de Kurt Lewin,

não só esteve presente no grupo, como foi o fator sem o qual o grupo não se teria

sustentado.

E) LIBERDADE

No processo de aquisição de novos valores e abandono da lealdade aos valores antigos, a

liberdade é imprescindível em dois momentos: na fase inicial de submissão aos novos

valores e já dentro do grupo, na livre exposição das resistências.

O processo de reeducação só será bem sucedido se o indivíduo escolher se submeter a

ele. Assim, a reeducação será respeitada e vista com hostilidade e como ameaça se o

indivíduo não estiver se expondo a ela voluntariamente.37

Dito de outra forma, a reeducação só será atingida se o indivíduo sentir que o novo conjunto

de valores for livremente escolhido. Pela razão de que é só dessa forma que é mudada a

percepção, que se constitui em condição38 prévia para mudança do comportamento.

Visto agora sob o enfoque do funcionamento do grupo, é condição essencial que a

atmosfera reinante seja de liberdade e espontaneidade para que as lealdades aos valores

antigos bem com as resistências à implantação dos valores novos possam vir à tona., ser

expressas e livremente discutidas. “O sentimento de participação grupal parece aumentar

muito se os membros se sentirem livres para exprimir abertamente os mesmos sentimentos

que a reeducação pretende remover”39. Isso possibilita que as resistências sejam

dissipadas, para que a reeducação não se dê apenas no nível verbal.

A liberdade de expressão no grupo fica comprovada pelas respostas às perguntas 12 e 18:

Pergunta 12: No funcionamento do grupo, em que nível você situaria as características

seguintes? – Segurança, liberdade de expressão, apoio emocional, união? Quais outras

características você acrescentaria?

37 LEWIN, Kurt. Problemas de dinâmica de grupo, p. 80. 38 Ob. cit., p. 81. 39 Ob.cit., p. 83.

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P1: Todos os componentes tem liberdade para expressar todo e qualquer sentimento, sabendo que será entendido, pois sentem a união do grupo.

P2: Segurança, apoio emocional, união, liberdade de expressar são características muito fortes no grupo.

P3: Devagar foram sentindo que poderiam confiar, falar, se abrir – o espaço era seguro. Hoje é como um confessionário da Igreja Católica.

P4: Segurança, liberdade de expressão, apoio emocional e união = NÍVEL MÁXIMO.

P5: Liberdade de expressão, 10.

P6: Eu situaria num nível elevado. Amorosidade, carinho, cumplicidade, compreensão, aceitação.

P7: Primeiro: segurança, Segundo: apoio emocional, Terceiro: liberdade de expressão, Quarto: união.

Pergunta 18: Os valores antigos bem como a resistência ou a dificuldade em abandoná-los

eram abertamente expressos pelos membros do grupo? De que forma e qual o resultado?

P1: Sim. Sempre que é colocado para o grupo alguma resistência ou dificuldade, todos se empenham para resolver o problema e geralmente com muita dedicação atingem um bom resultado.

P2: Em todo encontro temos a oportunidade de expressar tudo o que sentimos e mesmo quando temos dificuldade de assimilar um novo conceito o grupo se manifesta com muito respeito, deixando sempre prevalecer o livre arbítrio do colega.

P3: Sim, eram expressos abertamente na medida que cada membro entendia a resistência ou a dificuldade do membro em abandoná-la. Nem sempre era fácil ou rápido. As vezes era necessário voltar ao ponto de partida várias vezes, debatendo, fazendo exercícios de perguntas e respostas até tornar-se claro.

P4: Sim, eram amplamente expostos ao grupo de modo verbal, sem nenhum receio, por aqueles que desejassem falar no momento, ou através de exercícios pessoais que traziam clareza. A Respiração do Renascimento, ao final das reuniões selavam as tarefas do dia.

P5: Sim, de forma franca e aberta. Sem julgamentos. Respeitando-se umas às outras. Cada uma, no seu tempo e ritmo. Sem ansiedade em “querer” mudar a outra, a qualquer custo. Sabendo que a verdadeira mudança, nasce de dentro.

P6: Sim, através de discussões, discordei muitas vezes, resisti. A coordenadora trazia mais informações sobre o tema, dava exercícios, e o resultado final era satisfatório.

P7: Sim o grupo tinha e sentia liberdade de expressar suas resistências ou dificuldades e confiança para fazê-lo. E quando isto acontecia, todos tinham algo para dizer a respeito sugerindo um exercício, uma afirmação ou qualquer outra coisa estimulando a autoconfiança. E o resultado acho que sempre foi positivo.

A liberdade de expressão esteve presente em todos os momentos do grupo, dando

oportunidade a que as possíveis resistências aos novos valores viessem à tona. Sempre foi

acompanhada de aceitação, compreensão e respeito pelos membros do grupo.

Afirma-se com certeza que foi um dos ingredientes necessários ao sucesso da aquisição

de novos valores pelo grupo. Caso não estivesse presente o grupo teria se dissolvido.

Não se deve deixar de registrar que a liberdade de ingressar no grupo e de aceitar os

novos valores é pré-requisito necessário não só ao funcionamento do grupo como também

à aceitação dos valores novos, já que cria as condições necessárias ao abandono dos

velhos valores e à persistente busca dos novos.

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Fica assim comprovado mais uma vez, como já se disse no item b, a verdade contida no

Décimo Princípio de Kurt Lewin.

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5. CONCLUSÃO

O presente trabalho teve por objetivo comprovar se os princípios de Kurt Lewin sobre

mudança de cultura foram seguidos no grupo em observação. Em caso positivo verificar se

alguns princípios foram mais importantes do que outros no processo de reeducação

ocorrido nesse grupo. E ainda, se podem ser extraídos, do conjunto de princípios algumas

condições que seriam básicas ou imprescindíveis ao sucesso da mudança de cultura.

Após a análise efetuada neste trabalho constatou-se que:

O grupo foi bem sucedido no processo de reeducação já que uma nova cultura foi

implantada. O grupo adotou um novo conjunto de crenças e valores, que resultou numa nova

percepção sobre si mesmo e sobre o mundo, que por sua vez deu origem a novas formas

de comportamento.

Ainda que intuitivamente, e sem ter conhecimento prévio, o grupo seguiu os 10 princípios de

Kurt Lewin sobre reeducação. Não só os seguiu, como comprovou seu acerto, porque,

tendo obedecido os passos para mudança de cognição e aceitação dos valores novos

descritos por Kurt Lewin, chegou ao resultado final de mudança muito grande de valores de

seus membros.

Na tentativa de se identificar os princípios que mais fortemente atuaram, acabou-se

constatando que todos atuaram igualmente. No entanto, chamaram a atenção dos autores

deste trabalho os Princípios Cinco, Sete, Oito, Nove e Dez devido ao impacto que sobre

eles causou a constatação do quanto esses princípios são essenciais ao processo de

reeducação.

Ao longo do trabalho, comprovou-se que efetivamente a existência do grupo foi o fator

determinante da mudança de cultura, pelo menos na profundidade em que esta ocorreu.

Porque o grupo forneceu a seus membros estabilidade e permanência para que suas

resistências fossem sendo absorvidas à medida em que surgiam sem colocar em risco o

processo de mudança.

A atmosfera reinante no grupo, inclusiva, respeitosa, receptiva e paciente foi outro

ingrediente essencial à longevidade do grupo bem como à criação do clima propício à livre

expressão dos sentimentos.

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Três outros fatores foram se sobressaindo e se tornando claros à medida que o estudo ia

se desenvolvendo: primeiro, que o sucesso do processo de reeducação acontece na razão

direta do sucesso para se minimizar as resistências. Então, a forma como as resistências

são trabalhadas é de importância vital para a aceitação dos novos valores. Como as

resistências vão aparecendo em cada etapa do processo de reeducação, a atenção para

com elas deve estar presente todo o tempo.

Segundo: a confiança é o ingrediente subjacente a todos os princípios, porque, se não

estiver presente em qualquer das etapas, a reeducação pára por aí. Poder-se-ia dizer que a

confiança é o combustível que impulsiona o trem da mudança para frente. Em qualquer lugar

do percurso que o combustível faltar, é aí que o trem pára.

Terceiro: a liberdade também é essencial à facilitação da aceitação dos novos valores, em

duas fases principais: na fase que antecede ao início do processo de reeducação, na livre

escolha de se submeter aos novos valores. E depois, durante o funcionamento do grupo, na

liberdade de expressão de seus sentimentos e resistências.

Os nossos conceitos não se limitaram só aos membros do grupo. A partir do grupo irradiou-

se uma atmosfera favorável à aceitação da Visão Holística e das Terapias Holísticas em

muitos segmentos da comunidade, em diferentes níveis de profundidade.

Como conclusão final, verificou-se que: 1) O grupo em observação realmente seguiu os

princípios de Kurt Lewin no seu processo de reeducação e aquisição de novos valores

representados pela visão holística do mundo. 2) O fato dos princípios terem sido seguidos

levou efetivamente ao sucesso do processo de reeducação no grupo em estudo. 3) O grupo

enquadra-se na definição de “grupo solidário”, de Kurt Lewin. 4) Para o sucesso do

processo de reeducação foram imprescindíveis: a existência do grupo, o clima de

confiança, a liberdade e o trato apropriado das resistências, na medida em que surgiam.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ø BENNE, Kenneth D. O processo de Re-educação: Uma Avaliação da Concepção de

Kurt Lewin. Tradução Mauro Nogueira de Oliveira. Mexican Institute of Group and

Organizational Relations. http://www.continents.com/Art18.htm

Ø DENT, Erick. GOLDBERG, Susan Galloway. Desafiando a Resistência para Mudar.

Tradução Mauro Nogueira de Oliveira. Mexican Institute of Group and Organizational

Relations. http://www.continents.com/ Art15.htm

Ø GLEIN, Frederick. Psicologia Social das Organizações. Rio de Janeiro, Zahr, 1976.

Ø JUDSON, Arnold. Como Minimizar a Resistência às Mudanças. Mexican Institute of

Group and Organizational Relations. http://www.continents.com/ Art13.htm

Ø LEWIN, Kurt. Problemas de Dinâmica de Grupo. São Paulo, Cultrix, 1948.

Ø LINHARES, Márcia Maria Queiroz. O Exercício Profissional das Terapias Holísticas:

Reflexos no Princípio da Autonomia da Vontade. Campo Mourão, Fundação Getúlio

Vargas – Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão, 2000.

Ø MAILHIOT, Gérald Bernard. Dinâmica e Gênese dos Grupos. 7.ed. São Paulo,

Livraria Duas Cidades, 1991.

Ø SCHEIN, Edgar H. Organizational Culture and Leadership. Jossey Bass Publishers,

1997.

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APÊNDICE 1

QUESTIONÁRIO

Aquisição da visão holística. Questionário sobre as alterações de percepção, crenças,

conceitos, sentimentos, modo de ver o mundo e modo de comportamento e atitudes

decorrentes de sua participação nos grupos de estudos de Um Curso em Milagres e

Renascimento.

1. Sua participação nesse(s) grupo(s) alterou seus conceitos, crenças, percepções e seu modo de ver o mundo? Como?

2. Alterou seus princípios e seu modo de agir? Como? 3. Alterou sua forma de reagir às outras pessoas, à autoridade, às fontes de aprovação ou

desaprovação? Como? 4. O que mudou em seu comportamento? E em suas ações no mundo físico e social? Explique

e, se achar importante, dê exemplos. 5. O mero conhecimento de uma nova percepção, visão ou fato foi suficiente para corrigir a

percepção errada? Se não, o que mais foi preciso? 6. A aquisição de uma nova percepção levou automaticamente a uma mudança de sentimento?

Se não, quando se deu também a mudança de sentimento? 7. Você teve que enfrentar alguns de seus preconceitos? 8. No processo de crescimento do grupo aconteceram ou foram relatados fatos que poderiam

ser considerados como passíveis de terapia? 9. A partir de que momento um novo valor era incorporado e você passava a considerá-lo como

efetivamente seu? 10. Os membros do grupo efetivamente experienciavam os novos valores em suas vidas? (na

família, com amigos e parentes)? Como? 11. Os novos valores e crenças passaram a influenciar sua conduta? Quais condutas e de que

forma? 12. No funcionamento do grupo, em que nível você situaria as características seguintes?

Segurança, liberdade de expressão, apoio emocional, união? Quais outras características você acrescentaria?

13. Quais sentimentos prevaleciam no grupo? 14. Como o grupo foi lidando com as resistências que surgiam ao novo sistema de valores? 15. A confiança esteve presente no grupo? Como se manifestava? 16. Quando um determinado ponto novo (conceito, valor crença) era introduzido e algum membro

apresentava resistência, como a resistência era trabalhada? 17. Diante da resistência a um novo ponto de aprendizado, o que prevalecia: a preservação da

confiança no sistema como um todo ou a necessidade de ficar provado o novo ponto? 18. Os valores antigos bem como a resistência ou a dificuldade em abandoná-los eram

abertamente expressos pelos membros do grupo? De que forma e qual o resultado? 19. Caso não tivessem sido formados os grupos para estudo e acompanhamento, teria, mesmo

assim, havido mudanças em seus valores, crenças e comportamento? 20. Qual o papel do grupo nesse processo de mudança? 21. Quais pessoas foram afetadas pelas mudanças ocorridas com o grupo e com você? Comece

pelas mais afetadas e vá distanciando, até onde você possa detectar uma pequena influência.(não cite nomes)

22. Que outros grupos de pessoas foram afetados?

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APÊNDICE 2

RESPOSTAS DOS MEMBROS DO GRUPO AO QUESTIONÁRIO

P1

1. Sim. No meu relacionamento com Deus, com a família, com o ser humano e comigo mesma. 2. Sim. Tendo mais confiança, me sinto segura e inocente. Por isso sou mais suave, menos

controladora, o medo desapareceu de minha vida. Descobri e sinto o poder infinito que tenho dentro de mim.

3. Sim. Porque entendi que todos somos inocentes. Por isso não preciso julgar ninguém, respeito a cada um como é. Confio no processo da vida, onde eu posso ser o número 1, sem que o meu próximo tenha que ser o segundo.

4. Hoje. Sou uma pessoa positiva, confiante, aumentei a minha fé, me sinto livre, suave, gosto de me relacionar comigo mesma, me amo, me aprovo. Me libertei do medo e da culpa. Hoje sei e sinto que sou inocente.

5. Junto com o conhecimento vem a sessão de respiração, os exercícios, o desejo, as afirmações diárias.

6. Sim e se percebe isso claramente. 7. Sim. Eu tinha muitos preconceitos com relação às pessoas, com relação à Deus, etc. Com

relação às pessoas eu as via e as julgava de acordo com o meu procedimento, sem levar em consideração a particularidade de cada um. Já em relação a Deus, eu não me sentia amada, pois na minha concepção eu era culpada e por isso merecia castigo. Hoje sinto o amor de Deus, sei que Deus não castiga e sim eu mesma é que me castigo. E hoje eu posso escolher diferente do que me ensinaram. E agindo assim eu sinto diferente.

8. Sim. São muitos fatos relatados. 9. A partir do momento em que eu sentia como parte de mim e presenciava os resultados ao

meu redor. 10. Sim. Todos percebiam com as novas atitudes, e por que os outros correspondiam às

mudanças. Isto é fantástico. Isso faz muito bem. 11. Sim. Por exemplo: com relação a Deus, hoje sinto o amor de Deus, sei que ele não castiga, eu

é que gero meu mal com minhas atitudes; sei que Ele está dentro de mim; sinto essa força; posso experienciar isso no meu dia-a-dia, cada vez mais -, pois isso aumenta cada vez mais, quando praticamos. Com relação a minha vida conjugal, eu me sinto livre e suave; sei que posso ser eu mesma, ser feliz, fazendo o que quero, o que gosto, sendo respeitada, respeitando meu parceiro e ele me respeitando. Podemos ser felizes juntos; eu não preciso me anular pra ele ser feliz e realizado. Isso é muito bom. Quando nos livramos do medo e da culpa, nos sentimos leves.

12. No nosso grupo, todas essas características estão presentes constantemente. Todos os componentes sentem-se seguros, têm liberdade para expressar todo e qualquer sentimento, sabendo que será entendido, pois sentem a união do grupo. Além dessas características, outras que se destacam são: o amor, o sentimento fundamental, base de todos os outros itens; a igualdade, já que as pessoas vêem apenas o interior das outras independentemente de classe social, raça ou religião. O grupo é muito positivo e nos ajuda com suas inúmeras características, a perseverar com alegria e perseverança no nosso dia-a-dia.

13. Não há como citar algum sentimento que se sobressaia, pois sempre estão presentes muitos deles, agindo em conjunto como o amor, a alegria, a gratidão, a paz, a compreensão, a fé, a confiança...

14. Confiando, perseverando e buscando muito. Apoio no grupo, pois, no momento de transição de valores, às vezes, podemos ficar inseguros e o grupo faz muita diferença nesse momento, nos acolhendo e orientando. Estando presente.

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15. Sim. Sempre. Sentindo o apoio, a compreensão através da convivência e do conhecimento gerado através do grupo. Pois não há como confiar algo importante sem sentir que os membros do grupo estão interessados e bem intencionados.

16. Através de testemunhos uns dos outros; de exercícios; com: afirmações, cartas, gratidão, respiração, dieta de perdão etc...

17. Não há necessidade de se provar novo “ponto” de aprendizado, pois ele por si próprio se faz não só pela confiança no sistema mas, com a prática dos exercícios.

18. Sim. Sempre que é colocado para o grupo alguma resistência ou dificuldade, todos se empenham para resolver o problema e, geralmente, com muita dedicação atingem um bom resultado.

19. 20. Talvez alguns pudessem ter sido mudados mas creio que não todos pois talvez a insegurança ou um outro sentimento pudessem impedir a caminhada fazendo que aos poucos fosse esquecido o objetivo principal, mas com o grupo, com o acompanhamento do grupo nos sentimos mais fortes, seguros, merecedores e determinados. Eu, particularmente, dou muito valor ao grupo.

21. Eu mesma, esposo, filhos, mãe, irmãos, funcionários, amigos, clientes, fornecedores, líderes religiosos.

22. Eu acredito que qualquer pessoa que tenha tido contato comigo ou que venha a ter será atingida com a minha mudança. Hoje eu posso dizer com segurança que sou uma outra pessoa, que sou feliz.

P2

1. Sim, mudei sobre todos os aspectos: conceitos, crenças e percepções, através da minha abertura e vontade para ver o mundo diferente. As informações para que isto acontecesse chegaram a mim de várias formas, mas o grupo de apoio ao qual tenho participado foi de grande e, com certeza o ponto de maior importância.

2. Acho que meus princípios não foram alterados, mas, sim reforçados. Mudei muito o meu modo de agir. Fiquei mais confiante em Deus e em mim. Sou mais sincera comigo mesma. Ouço mais a minha voz interior e me conduzo por ela.

3. Sim. Fiquei menos crítica e mais tolerante aos atos e comportamentos das outras pessoas. Quanto a mim, evito estar na sobrecompensação para disfarçar o que realmente sou.

4. Em relação ao mundo físico, estou cada vez mais confiante de que nada me faltará. No social, fiquei mais seletiva, hoje procuro estar com pessoas que me auxiliam no meu crescimento pessoal e espiritual. No trabalho houve uma mudança vibracional. Há mais harmonia. Executo os trabalhos com mais leveza e os resultados são muito satisfatórios.

5. Foi o conhecimento de uma nova percepção, somado a ação (atenção) e também a constante ajuda do grupo de apoio para manter e incrementar esta nova percepção.

6. Para mim, a mudança de sentimento aconteceu após um determinado tempo. Sinto que primeiro o balde teve que encher-se , quando já estava transbordando, aconteceu a mudança de sentimento. E neste momento é que esta nova percepção trouxe a parte saborosa da nova interpretação do mundo, dos fatos, etc.

7. Sim, muitos. 8. Sim, em quase todos encontros do grupo. 9. Cada novo valor era incorporado imediatamente a tomada de consciência de conceitos,

crenças ou padrões, através de técnica de respiração ou exercíc ios como dietas de liberação, de perdão ou afirmações praticados diariamente.

10. A absorção dos novos valores, com mudança de comportamento e pensamento para os membros do grupo sempre foram evidentes nos seus depoimentos. Estes valores também foram assimilados, com mais ou menos intensidade nas pessoas de relacionamento mais próximo como: família, amigos, colegas de trabalho, etc. Particularmente, minha família, que é bastante numerosa, a mudança foi tão grande que uma boa parte dela, já participou e praticam o Renascimento. Também percebi mudança de valores com o pessoal do meu trabalho, com meus amigos e com meus pacientes. Acho que muitos já foram contaminados... (pela nova idéia).

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11. Sim, por exemplo:esses valores me influenciaram na percepção do meu limite e portanto, passei a entender e perceber o limite do outro. Passei a se menos crítica e julgar menos o próximo. Na minha crença de inferioridade, passei a ser mais autoconfiante.

12. Segurança, apoio emocional, união, liberdade de expressão são características muito fortes no grupo e eu acrescentaria ainda a compreensão, respeito, lealdade e confiança.

13. O sentimento entre os membros do grupo é de muita amorosidade. 14. Quando surgiam resistências ao novo sistema e valores a orientadora conduzia o trabalho

individualmente, respeitando sempre o limite e a vontade da pessoa. 15. A confiança sempre esteve presente no grupo e se manifestava pela clareza e descontração

com que os depoimentos eram colocados ao grupo. 16. As resistências eram trabalhadas pela orientadora com dinâmicas individuais ou em grupo. 17. Diante da resistência a um novo ponto de aprendizado prevalecia a preservação da confiança

no sistema. 18. Em todo encontro temos a oportunidade de expressar tudo o que sentimos e mesmo quando

temos dificuldade de assimilar um novo conceito, o grupo se manifesta com muito respeito, deixando sempre prevalecer o livre arbítrio do colega.

19. Eu estou em busca de auto conhecimento e novos valores. Quando se está aberto para isso tudo concorre para que o objetivo se realize. Acho que a participação no grupo fez com que a assimilação destes novos conceitos fosse muito mais rápida e mais eficaz.

20. O grupo me deu apoio, constância e direção para o meu objetivo. Os resultados foram significativos para um espaço de tempo muito mais curto.

21. Pessoas afetadas pelo grupo: amigos, irmãos, sobrinhos, equipe de trabalho, família – marido e filho, clientes.

22. Amigos e parentes distantes e que pouco nos relacionamos nos surpreendem quando percebemos em conversas que estamos na mesma vibração e sintonia, em busca dos mesmos objetivos.

P3

1. Sim, e muito. A primeira mudança foi em relação à crença que eu tinha de que aqui se está é para sofrer. Agora eu sei que aqui na terra começamos a nossa vida, temos que vive-la de tal forma que não haja choques quando passarmos para outra dimensão. É preciso que nos acostumemos a olhar e aceitar o mundo como ele é: bonito, perfeito, certo. Não há nada a ser modificado, a não ser as nossas crenças, nossos conceitos. Aqui é um lugar seguro, há segurança, harmonia e paz. Se não sentimos isso é porque nossas crenças são errôneas.

2. Sim. Eu respeito mais a mim mesma e aos outros também. Aceitação e respeito são fundamentais para mim, hoje.

3. Cada ser humano é, para mim, divino, não importa se é autoridade ou não, me aprovando ou não.

4. Tornei-me mais calma e ponderada. Tenho mais paciência; o nervosismo não me embota mais o raciocínio claro. Aceito o mundo e as pessoas como elas são. Não desejo mais modificar ninguém. É muito bom essa diversidade de almas, faz o mundo ficar interessante, basta ver o lado bom de cada um.

5. Não. Foi preciso trabalhar muito as percepções erradas. O hábito nos faz voltar às mesmas; é preciso estar atento e ter humildade em dizer: “Errei” novamente.

6. Sim. E com muita segurança. 7. E quantos e continuo enfrentando constantemente. 8. Praticamente, todos. Fatos relatados em grupo sempre levam à reflexão, a um “mea culpa”.

Não no mesmo fato, mas análogo. 9. Era preciso ele se tornar claro e para isso era necessário eu me despir do ego. 10. Sem dúvida. As coisas acontecem naturalmente. O que era um “defeito”, deixou simplesmente

de existir. As outras pessoas sentem que houve uma mudança. Sem alarde, aceitam admiradas. Não há comentários estrondosos, há, sim, uma simples aceitação do fato.

11. São tantos, mas o mais fundamental é que eu passei da crença de que estou aqui só para sofrer, à certeza de que faço parte do todo; sou uma ínfima parte, mas pertenço ao todo. Isso

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me dá segurança na minha maneira de ser e agir. Sei que tenho um papel para exercer aqui, só depende de mim. Isso dá sentido e valor à vida.

12. Hoje em dia podemos coloca-las como 100%. Embora esse nível começou bem baixo, mais por insegurança dos próprios membros. Devagar, foram sentindo que poderiam confiar, falar, se abrir – o espaço era seguro. Hoje, é como um confessionário da igreja católica. Outra característica do grupo é a paciência em resolver totalmente o problema do membro do grupo, mesmo quando já se tinha discutido o assunto outras vezes. A característica que eu acrescentaria é a cumplicidade.

13. A fraternidade no seu sentido mais amplo e o desejo recíproco de ver-se a si e aos outros – de bem com a vida e o mundo.

14. Com muita calma e paciência; nem sempre novos valores são fáceis de aceitar. Cada membro procurava tornar o novo conceito claro e acessível ao membro resistente com suas próprias palavras e suas maneiras de aceitar o novo conceito; ou então, recorria-se a escritos de autores credenciados para convencê-los.

15. Ela é a chave mestra. Sem ela o grupo não teria crescido. Ela foi conquistada dia após dia. À medida que a confiança crescia, os membros revelaram seus medos, angústias, dúvidas, raivas, mal-entendidos, sentimentos positivos e negativos do nosso dia-a-dia.

16. Idem ao 14. 17. A necessidade de ficar provado o novo ponto. 18. Sim, eram expressos abertamente na medida que cada membro entendia a resistência ou a

dificuldade do membro em abandoná-la. Nem sempre era fácil ou rápido. Às vezes, era necessário voltar ao ponto de partida várias vezes, debatendo, fazendo exercícios de perguntas e respostas até tornar-se claro.

19. Muito poucos. Como eu procurei primeiro outros meios que me deram uma abertura para a mudança, tudo cairia no esquecimento sem esse apoio contínuo e pouco restaria. Muita coisa também foi clareada, inovada e sempre colocada com carinho e afeto, que calaram mais fundo do que uma simples informação.

20. O grupo exerce o papel de apoio, de esteio. São pessoas que dão o melhor de si sem pedir nada em troca; isto é gratificante.

21. Família, marido e filhos, mas também irmãos, noras e até domésticas, sem contar amigos e outros parentes e as pessoas em geral com as quais me relaciono no dia a dia.

22. Principalmente, as que formam outros grupos, como por exemplo, religiosos.

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1. Sim. Todos os estudos me levaram a uma ampliação de visão acerca do mundo, de modo a me fazer concluir pela aceitação da individualidade divina de cada pessoa tentando tirar o melhor aprendizado possível de cada situação, sem valorizar o lado ruim das historias que formam a minha vida. Ver as pessoas como iguais. Diminuíram as diferenças entre pessoas e no trato com autoridades – políticos, policiais, raças, padres, religiosos. Não se sentir pecadora = conversar sobre qualquer religião e continuar na minha religião. Religião = respeito pelos outros; as outras eram erradas, só a católica era certa. O preconceito caiu porque abri a cabeça com o UCEM. A Chama Violeta me ensinou sobre evangélicos e espíritas.

2. Sim. Na medida em que mudei minha percepção os princípios se adaptaram advindo maior tolerância, sem porem deixar que houvessem, como antes interferências totais, de minha vontade. Estou aprendendo a escolher!

3. Hoje consigo encarar quaisquer assuntos sem os rodeios que eu fazia (pois considerava necessários para não magoar ninguém, NUNCA). Os meus relacionamentos se tornaram mais verdadeiros para mim, uma vez que sei que posso enfrentar da mesma forma e com a mesma serenidade, tanto a aprovação quanto seu oposto. Ser reprovada hoje, me faz refletir em que posso mudar e melhorar. A reprovação não me ofende nem me humilha mais! Quanto à autoridade – sentindo-me segura, desaparecido o medo, enfrento melhor e consigo me impor, lembrando o valor que tenho! Já não me assusta!

4. Minhas mudanças de comportamento são tantas que, as vezes me surpreendo com a coragem com que tenho tratado as adversidades. Sempre me senti corajosa, no entanto com

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medo de ofender e magoar; desperdiçava muita, mas muita energia, tentando contornar todas as situações, acalmar a todos (enquanto engolia meus próprios conceitos), resolver os problemas dos outros, me fazendo responsável (me intrometia), por tudo o que pudesse arcar! Sei que posso colaborar com o bem estar dos outros sem que eu fique lesada em minha energia, meu tempo e meus conceitos! Não me importo com o que pensem sobre mim! Não preciso tanto da aprovação dos outros. Há pessoas no meu convívio que declararam, abertamente, que eu não sou mais BOAZINHA como antes! Hoje reconheço tanta perfeição naquela afirmação, pois vinha exatamente de encontro com um trabalho intenso que eu fazia. I que estava mudando! Não precisava mais ser BOAZINHA para ser aceita! Sou melhor comigo mesma! Passei a ter mais tolerância e respeito pela individualidade. Respeito a mim mesma = conduta sim. Respeito a mim mesma = sentir raiva (pequena ou grande). Necessidade de agradar; hoje, pessoas como iguais. O fato de, hoje, ficar sozinha ou dizer não já não me faz sentir-me pior ou melhor – SEGURANÇA. Passei a relatar, mas não como vítima (Não me vejo/percebo “como”). Não reclamar (comportamento). Dizer não = sem sentir culpa. Coragem de expor (respeito) o que penso (sem chorar sozinha). Respeito por mim, pelo que penso, sinto. Mudar as pessoas – não se consegue. Só o livre-arbítrio. Iniciei-me nos níveis “1” e “2” de Reiki. Participei também de cursos de reeducação alimentar da UNIBIÓTICA, com retiros de desintoxicação.

5. Não. A nova percepção é mental, e a mudança não é automática, nem imediata. É um exercício diário e perseverante. O que ajuda nesse processo são os exercícios propostos pelo RENASCIMENTO.

6. Da mesma forma que na pergunta anterior, os exercícios do RENASCIMENTO (afirmações, cartas, etc) conduzem gradativamente a uma mudança de sentimentos. Para mim particularmente, o sentimento se aloja com mais intensidade por me sinto responsável quando percebo que estou relutante em mudar, em curar minhas atitudes equivocadas.

7. Muitos. Sobretudo os de origem religiosa. 8. Certamente. As situações são muito adversas e a gravidade depende do Universo de cada

um. O que vemos no entanto é que a “terapia” passa a acontecer ali mesmo no grupo. Já presenciamos situações dolorosas e gravíssimas se dissolverem em risos, calmaria e esperança.

9. No momento do reconhecimento do novo valo, já o considero meu, mesmo que não saiba aplica-lo ainda à minha vida! No reconhecimento ele se instala!

10. Sim, pelos relatos e testemunhos, pelas atitudes novas tomadas ate com relação ao próprio grupo. Ouso dizer que estamos mais abertos e dóceis à vida.

11. A minha conduta esta de tal forma alterada que, sem que eu tenha feito algo para que isto acontecesse, até pessoas das quais jamais tive contato – passaram a freqüentar meu meio e outras de estreito convívio, principalmente conflituoso, se afastaram sem aviso! É como se houvesse uma atração por pessoas que escolhem aprender o que eu procuro também! É como se o nível de vibração fosse outro. Um exemplo simples porém muito eficiente para demonstrar isso, é que em jantares de encontro com pessoas amigas os assuntos não são mais os mesmos, não podem ser daqueles que envolvem fofocas, julgamentos ou decréscimo à vida de ninguém. O nível de conversações se afinam e se retém só no que possa ser acalentador ou promissor. Não há disputas! Só alegrias!

12. Segurança, liberdade de expressão, apoio emocional e união = NÍVEL MÁXIMO. Acrescento: CONFIANÇA E CUMPLICIDADE. Confiamos extremamente nossos equívocos e vitórias ao grupo. Nos fazemos cúmplices reciprocamente dos nossos anseios e vibramos pelas escolhas acertadas.

13. Sobretudo o AMOR. Fomos lidando ao longo do tempo com sentimentos muito diversos, desde a indiferença até a compaixão. A indiferença é um sentimento que só existiu no início, quando o grupo não estava ainda ATADO, onde nem todos se sentiam ALIADOS, onde cada um tinha uma “carga” que supunha ser a mais pesada e que a dor do outro poderia parecer “bobagem”. É um sentimento (indiferença) que veio antes do aprendizado do NÃO JULGAMENTO. Hoje o grupo tem muita, muita SAUDADE umas das outras, por não estarmos nos reunindo. Nos sentimos em um lugar e estado sagrados ao comungarmos essa união.

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14. Como a Márcia sempre coordena com mestria cada encontro, sua ajuda e orientação iam aliviando cada resistência. Algumas eram tão fortes que se faziam repetitivas e cansativas aos olhos dos demais – isso numa primeira fase, quando não sabíamos o poder que o grupo teria como apoio dos participantes. Nessa época, estávamos imbuídos em resolver só nossas histórias egóicas. Hoje, o grupo PARTICIPA, OPINA, AJUDA E APÓIA, em verdadeira Unicidade.

15. A confiança sempre esteve presente e se manifestava de formas variadas: - Num abraço, num olhar, nas sugestões faladas ou no total silêncio (cada uma se manifesta individualmente e todas se quisermos nos manifestamos também acerca do mesmo assunto). A liberdade e confiança entre os participantes faz com que possamos agir assim.

16. Com muito estímulo e persistência no assunto. Sempre com imenso respeito à limitação de cada um. Porém, sem nunca desistir, a Márcia conduzia novos exercícios de formas diferentes abordando e insistindo no aprendizado.

17. Entendo que a preservação da confiança como um todo, pois a partir dela é que se dá para insistir e provar o que queiramos.

18. Sim, eram amplamente expostos ao grupo de modo verbal, sem nenhum receio por aqueles que desejassem falar no momento ou através de exercícios pessoais que traziam clareza. A Respiração do Renascimento, ao final das reuniões, selavam as tarefas do dia.

19. Para mim, acredito que não. 20. O papel de provedor. Ele me manteve firme na vontade de mudar. 21. Marido e filhos. Meus pais. Cunhadas. Amigas. Empregadas. Manicure. Alunos. Atendentes de

lojas e clínicas (também nas filas). 22. As pessoas com quem trabalho e meus alunos.

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1. Sim, alterou principalmente a minha auto-percepção. Vi e revi coisas de minha vida de uma forma diferente. Como se pudesse reinterpretar positivamente, os fatos de minha vida. Passei a conceber a doença como algo criado ou atraído por mim mesma, por minhas culpas a merecerem castigo. Também percebi que toda doença começa fora do corpo físico para, posteriormente, instalar-se na matéria (fisicamente); ou seja, primeiro adoecem meus pensamentos, sentimentos, meu espírito ou corpo etérico/energético. Em tese e, também, na prática, se eu “treinar” essa minha percepção/prestando uma maior atenção aos sinais “energéticos” da proximidade da doença -, poderei antecipar-me à sua chegada no meu corpo e curá-la enquanto ainda nos corpos mais sutis. Em Direito, costuma-se falar da “fumaça” do bom ou do mau direito. Minha avó dizia que “fumaça é sinal de fogo”. Ou seja, se há algum sinal, mesmo que “no ar” SENTIDO como mais denso perto de mim, devo acautelar-me, prevenindo-me com recursos espirituais, terapêuticos, sistêmicos... Outra coisa: Quanto às doenças, especialmente as mais graves, como o câncer, por exemplo, aprendi tais doenças, mor parte das vezes, servem à cura de um mal maior, uma saga de família ou um destino pesado que, se não curado, tende a perpetuar-se “gerações afora”. Estudando “A DOENÇA COMO CAMINHO”, me dei conta de que até a doença pode trazer grandes benefícios ao doente e aos demais envolvidos (família, médicos...) e, por isso, nunca deve ser negada, escondida ou amaldiçoada. Melhor TOMÁ-LA como parte do nosso destino e, a partir dessa aceitação serena, em paz, - executar as medidas de cura, sempre agradecendo e acreditando no próprio poder de CURA (com Deus). Ou seja, da mesma forma que podemos CRIAR a doença, podemos voltar à SAÜDE -, que é o nosso estado natural de SER. Como disse na resposta anterior, A SAÚDE É NOSSO ESTADO NATURAL. Portanto, a doença é que veio ocupar um espaço pertencente à saúde. E é ela quem deve, tendo cumprido seu papel educativo/curativo, ser convidada a afastar-se, restaurando-se a saúde. A rigor, nos tratamentos de quaisquer tipos (químicos ou não, convencionais ou “complementares”...), o CURADOR é mero instrumento. Ele não dá a saúde à alguém. Ele apenas põe seu tempo e suas habilidades à serviço de uma CURA maior além de sua compreensão e “poder”..., que eu chamaria de “cura divina”. Cura essa que depende, principalmente, do “paciente”, ou seja, depende de sua “opção” pela VIDA; depende do “aflorar” de seu “animus” por curar-se, estado

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esse que fá-lo receptivo aos tratamentos, cujos efeitos desembocam na cura. A sabedoria oriental diz que “o resgate da saúde só se consegue com a remoção da doença” ou “desbloqueio” da concentração excessiva da energia (ki) dos diferentes “pontos” do corpo. Ki do fígado ou do estômago, por exemplo. Já respondi. A responsabilidade principal é do receptor, i.é., do próprio “doente”. Nem Deus se interpõe nas nossas escolhas. E tanto a saúde como a doença são, no fundo, escolhas nossas. Ou, no mínimo, são escolhidas sistemicamente, co-criadas por nossos sistemas “familiares”.Quanto aos princípios, muito do que concebia como absoluto, tornou-se relativo. Passei a agir com maior serenidade diante dos fatos e das pessoas.

2. Minhas reações aos outros foram suavizadas. Passei por muito treinamento mental para não sucumbir à desaprovação. E para não necessitar de aprovação. Esse é um longo processo. O cotidiano oferece oportunidades, a todo instante, para reafirmar essa disciplina, essa mudança.

3. Minha vida era "os outros". De repente, voltei-me para mim mesma, concedendo-me espaço e tempo para me redescobrir, para rever valores, crenças, eliminar algumas, adquirir ou clarear outras. Muitos tabus e preconceitos foram caindo, ou foram minimizados. Minha escala de valores foi alterada. Coisas que antes eram importantes ficaram sem nenhuma ou pouca importância. A minha fé foi ampliada. Minha espiritualidade. Minha conexão com Deus e toda a Criação.

4. O conhecimento foi o "acionador", a base. Os exercícios, a compartilha, a confiança com o grupo, as experiências práticas, e difíceis, no dia a dia foram, ou melhor, estão sendo, os principais fatores para correção da percepção. É um "continuum", com altos e baixos. É um processo apaixonante. Mudei muito meus conceitos, crenças e valores. A reflexão quinzenal em grupo, as trocas de experiências (compartilhas), a solidariedade, o espaço de confiança, os estudos, as leituras -, tudo contribuiu para essas mudanças. Fiquei mais leve e, mesmo me rebelando, às vezes -, nunca mais esqueci que SOU RESPONSÁVEL por minha realidade. Assumi o poder sobre minha vida com seus bons e maus momentos. Frases do tipo: “me” fizeram isso ou aquilo... foram excluídas de minhas “falas”. Mesmo reconhecendo que nem tudo eu crio sozinha, aprendi a assumir minha quota parte, à “duras penas”, reconheço. Mas sem culpar-me excessivamente. Sendo amorosa comigo (e com os outros). Esse é um processo permanente, exercitado diariamente. E no exercitar cotidiano, a gente fica mais atenta ao próprio comportamento, às próprias atitudes... com o compromisso (consigo mesmo) de MUDAR (imediatamente) toda vez que incorrer em equívoco. O curso em milagres diz: “pensou errado? Pense outra vez/diferente (e já!). Falou errado? Fale outra vez/corrija o que disse. Fez errado? Faça outra vez/diferente”. Só assim, a gente pode crescer. Outras “alterações”: Hoje sei que “TUDO É PERFEITO”, mesmo que pareça ser “horrível” -, sabendo que percebo como horrível apenas porque minha visão e informações ainda são insuficientes (pelo tempo e limites humanos). Hoje sei que todas as religiões e práticas espirituais devem ser, igualmente, respeitadas e representam a sede de espiritualidade de todos, cada um de seu jeito; e vão-nos levar a um mesmo lugar, nenhum deles melhor ou pior que o outro. Vão nos levar à Fonte de Toda a Criação, ao mesmo Deus Todo Poderoso, que não distingue nem pune ninguém, apenas acolhe-nos sempre, e amorosamente (QUANDO queremos). Hoje estou ainda aprendendo todos os dias que “ninguém salva ninguém”, apenas apóia a vontade do outro de salvar-se. Hoje sei que existe um tipo de amor, ou melhor, um jeito de amar que não apóia o outro em seu crescimento pessoal, sua dignificação ou resgate do próprio poder interior. Ao contrário, esse amor (a que me refiro) é tão forte - que acaba por aniquilar o amado, reduzindo o seu poder pessoal de se auto construir. O que ama assim (como “o salvador”) diz ao outro, no fundo: “Você, por si só, é incapaz... Mas eu, que sou superior a você, sou capaz de salvá-lo”. Aprendi a não dizer sim, quando quero dizer não. Aprendi a expressar mais clara e prontamente meus desejos e expectativas em relação às pessoas e eventos. Estou em um processo de treinamento constante para aprender a “despir-me” de muitas expectativas e dos ”julgamentos”. Dessa forma, já tive muitos instantes santos de “amor incondicional”, me senti “relaxando” mais, reduzindo minha habitual ansiedade, passei a CONFIAR mais no fluxo da VIDA e a RESPEITAR mais os outros e a toda a CRIAÇÃO. .

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Concretamente, tenho priorizado “trabalhos” visando aumentar meu autoconhecimento, melhorar minha espitualidade e meu bem estar geral. Fiz cursos de re-educação alimentar (com base no vegetarianismo, macrobiótica e unibiótica) e trouxe esses cursos, especialmente, a unibiótica para Campo Mourão, desde fevereiro/2001. Trouxe, também, cursos para ensinar-nos a como “enxergar bem sem óculos”. Eu, meus familiares e uma boa parcela da comunidade, desde o lixeiro ao médico, do ateu ao bispo católico, todos os que se “abriram” ao novo, foram beneficiados. Isso perdura, cada vez aumentando mais a procura, exigindo a presença dos mestres por alguns meses do ano em Campo Mourão. Eu que só lia livros jurídicos e político-partidários, reduzi essas leituras e substituí-as por livros de psicologia (especialmente Jung), de curas complementares, livros espirituais e de física quântica. Até criei uma clínica/espaço “TerraCéu” de terapias complementares. Estou concluindo um curso de pós de Psicoterapia Sistêmica. Alterei, portanto, drasticamente, minhas áreas de interesse e atuação. Passei a funcionar mais como terapeuta ou conselheira de meus clientes (jurídicos) e amigos. Aliás, acho que sempre funcionei assim. Só que não sabia disso. Minha aparência ficou mais leve, minhas roupas ficaram mais claras e coloridas, mais alegras, descontraídas. Tornei-me Mestra de Reiki, também não mais precisei usar lentes de contato nem óculos. O mais importante como resultado é que os resultados são sentidos a todo o instante. O processo é o resultado, é o que importa. Essa verdade que tenho, conscientemente, vivenciado, talvez seja o maior aprendizado de minha formação pela SBDG. Maravilho-me com isso. Embora passe por crises, elas passam e continuo a caminhar adiante, maravilhando-me com as paisagens e sendo grata a cada passo, grata pelo próprio caminhar e a mim mesma, à Divindade que há em mim -, por minha disposição de “encarar” esse novo jeito de caminhar, esse jeito novo de VIVER a Vida...

5. O conhecimento foi o “acionador”, a base. Os exercícios, a compartilha, a confiança com o grupo, as experiências práticas e difíceis, no dia a dia foram, ou melhor, estão sendo, os principais fatores para correção da percepção. É um “continuum”, com altos e baixos. É um processo apaixonante.

6. Os sentimentos, devagar, vão-se alinhando com a mente. O coração com a cabeça. A dissonância fica insuportável e gera, além de desconforto, muito conflito interno. Alguns, externos, especialmente, com os mais próximos, como marido e filhos. Mas, sem dúvida, houve um momento em que passei a AMAR mais, amar a tudo e a todos, a ser mais tolerante, a "dar menos murro em ponta de faca". A proteger-me, amando-me, antes de tudo.

7. Especialmente, o preconceito social e o político. De repente, percebi que, no centro de tudo, está o MEDO. E duas crenças básicas: "Deus não fez o suficiente. Inclusive amor" e "Somos expulsos por ele, separados dele e uns dos outros (Salve-se quem puder)". E, para ocupar um espaço e sentir-se amado, luta-se tanto, exclui-se tanto, que se cai na própria escassez, se auto-excluindo e tornando-se infeliz. Todos querem destacar-se, aparecer, ser reconhecido, sob qualquer "guarda-chuva". Mas os partidos e as religiões são apenas "guarda-chuvas". Tenho aprendido a respeitar as escolhas diferentes e a não dar muita importância a elas.

8. Sim. O processo de crescimento do autoconhecimento pode ser doloroso e algumas descobertas necessitarem de um apoio mais específico, individual. Isso ocorreu comigo mesma. Sem que o grupo sugerisse, eu própria achei oportuno "trabalhar" terapeuticamente algumas coisas.

9. Um novo valor para mim era tido como incorporado quando eu sentia um novo sentimento em relação aos mesmos atos ou fatos antes vividos/encarados de forma diferente. Por exemplo, a morte. Antes, eu me esquivava de ver alguém muito doente ou um morto. Hoje, até tenho ajudado algumas pessoas a "morrerem" (direta ou indiretamente); tenho auxiliado o processo de passagem para outra dimensão. E já não choro muito as mortes que presencio. Pois nem mais acredito na morte. Tenho certeza que se trata apenas de uma passagem. Outra certeza é a de que cada um escolhe quando e como "morrer".

10. Sim. Foi maravilhoso constatar isso, falar sobre isso e vivenciar, pessoalmente, valores novos. Sem alarde. Com o coração sorrindo. E um olhar amoroso a todos. No começo, houve um alvoroço interior que quis se exteriorizar, excitadamente. Mas, logo, diante das resistências e

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surpresas -, aprendemos a falar menos. A adotar apenas, firmemente, uma atitude interior nova. Daí melhorou um pouco a aceitação da nova Alba, por exemplo.

11. Claro que novos valores e crenças mudam a conduta. Não há como não mudar. Daí acontecem os descompassos. Coisas que antes nunca eram percebidas na relação com o marido ou com os filhos, de repente, afloram em toda sua clareza. E isso choca. E se não houver um mínimo de abertura para aceitar isso, nada pode ser feito, nenhum passo para corrigir a caminhada, ou reunir os propósitos de vida, harmonizando-os. "Tomar" as coisas e as pessoas como elas são é o pré - requisito indispensável para dar o próximo passo, para crescer. Não há como pular esse degrau da escada. De qualquer forma, todos vamos chegar ao mesmo lugar. Não importa o ritmo ou o quando. Tanto o jeito de caminhar como o momento, o "quando" - isso compete a cada pessoa decidir. E devemos respeitar isso. E não nos sentirmos culpados ou "superiores" porque mudamos nosso jeito de caminhar. Um dia nos reencontraremos. Aliás, nunca nos separaremos, de fato. Já que todos SOMOS UM. É só a forma que muda. O conteúdo é único e o mesmo para todos nós.

12. Segurança – 10. Liberdade de expressão, 10. Apoio emocional, 9; só não é 10 em função das limitações geográficas e pessoais. União, 9,5, idem idem. Embora, fisicamente, não seja muito fácil manter a união desejada, espiritualmente, energeticamente, estamos sempre conectadas e solidárias umas com as outras.

13. Sentimentos de amorosidade, compaixão, alegria, confiança, conforto, apoio etc... 14. Com muita paciência e amorosiddade, compartilhando alternativas, fazendo afirmações

positivas, exercícios de perdão ("dieta do perdão"), abrindo um pouco das informações aprendidas, sugerindo/convidando para também participar/aprender, oferecendo referencial bibliográfico para leitura auxiliar, seminários...

15. O tempo todo. Seria impossível qualquer evolução, sem o fator confiança. 16. Com exercícios, com rediscussão, valorização da oposição como chance para novas

descobertas. Aguçando a curiosidade. Como fator "provocador" de estudo, debates e mais pesquisa de campo, mais observação da própria experiência similar.

17. A preservação da confiança era privilegiada. Sem quedas de braço que ameaçassem a confiança. Às vezes, foi necessário relaxar e adiar, nunca abandonar, a nova questão. Aguardando que maturasse mais. Aguardando mais inspiração. Com a respiração do renascimento e com a ajuda do Espírito Santo.

18. Sim, de forma franca e aberta. Sem julgamentos. Respeitando-se umas às outras. Cada uma, no seu tempo e ritmo. Sem ansiedade em "querer" mudar a outra, a qualquer custo. Sabendo que a verdadeira mudança, nasce de dentro.

19. Talvez sim. Mas, não sei como, nem quando. Provavelmente, de modo muito mais demorado e inconsciente. Ou mais traumático sofrido.

20. Principalmente, de APOIO. Para mim, funciona como alimentador provedor de energia nova. Funciona também como espaço de "descanso". É como poder "descansar em Deus". A compartilha é, também, muito importante. O clima de confiança e atenção aos fatos relatados, às experiências, aos pensamentos e sentimentos experimentados de cada uma, compartilhados e ouvidos atentamente é uma grande benção. Só isso já é muito curativo.

21. Filhos, neto, marido, clientes do Escritório, empregados do Escritório ou de casa, mãe, irmãs, sobrinhos, tios, primos, amigos, colegas de trabalho (e de cursos), fornecedores de alimentos e livros, família do marido, do genro, praticamente, todos com quem convivo ou cruzo eventualmente. Há uma nova luz, nas palavras, no olhar, nos gestos, nas reações, no jeito de encarar os fatos. Sempre aparece, seja no aspecto exterior, seja de forma mais sutil. As vezes, até nas roupas que se usa.

22. Grupos de Reiki, terapeutas, religiosos, médicos, associação ANABB...

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1. Sim, porque vivenciamos a experiência de cada um através do companheirismo da solidariedade, e a experiência que o outro estava vivendo, nos abria a discussão, a procurar soluções e assim todos podiam pensar em si mesmo, como a experiência de um ensina outros. Crenças: prejulgamentos, dificuldades; tudo era difícil, pensamentos negativos;

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escassez, doença. Devemos nos abrir para novos conhecimentos. Crença sobre corpo: O corpo é o ultimo, é conseqüência da mente e do emocional. Crença sobre cura: A cura vem de dentro. De seu estado de espírito e de sua determinação e força de vontade. Do desejo de estar bem.

2. Sim, sempre me fazia pensar nos meus conceitos e passei a pensar mais c/ calma diante de situações conflitantes, problemáticas.

3. Sim, me faz olhar o outro com carinho, ver que todos temos historias e problemas, me ajudou a ouvir +.

4. Meu comportamento mudou muito, eu estava sempre ansiosa e qualquer coisa me deixava muito nervosa, hoje eu procuro ser + tranqüila e manter-me centrada diante de um problema. Posso usar como ex. a casca da banana, hoje eu procuro ver a casca e não pisar nela, antes eu via, eu sabia que a casca estava lá, mas pisava de novo. Além disso, passei pelos processos de iniciação em REIKI (níveis 1 e 2) e fiz desintoxicação geral através da dieta líquida da UNIBIÓTICA, alterando bastante minha alimentação. Fiquei mais confiante e tranqüila, mudei a alimentação, me desintoxiquei e não como mais carne. E mais importante; auto-conhecimento; perceber mudanças que antes não percebia; se dar conta que o erro está se repetindo e evitar; buscar equilíbrio; gostar mais de mim, recuperei auto-estima; agradecer a Deus; amar mais as pessoas; entender melhor as pessoas e respeitar as outras religiões. Tomada de consciência sobre o que ocorre comigo. Hoje sou outra pessoa.

5. Foi preciso ler, debater, estudar, respirar, fazer exercícios. 6. Sim. 7. Sim. 8. Sim. 9. Quando eu conseguia sentir a mudança no meu coração, quando eu me dava conta que

estava sentindo as coisas diferente de antes. 10. Eu acredito que sim, porque falávamos da mudança de comportamento da família, de amigos. 11. Sim, por exemplo: quando eu escutava alguém falar que o mundo está perdido, acabando.

Antes eu vacilava, eu quase concordava. Hoje eu digo que não, e que agora é que o mundo está melhorando, mudando percepções, hoje eu não gosto de conversar c/ pessoas pessimistas e se eu me deparo c/ alguém assim, eu procuro conduzir para o otimismo, mas sem teimar ou me irritar, e se eu percebo que a energia vai pesar eu simplesmente me afasto.

12. Eu situava num nível elevado. Amorosidade, carinho, cumplicidade, compreensão, aceitação. 13. Solidariedade. 14. Com paciência, com aceitação, esperança e confiança. 15. Sim, se manifestava com a união cada vez maior, falávamos de nossos assuntos pessoais

com a maior tranqüilidade. 16. Com carinho e paciência. 17. A preservação da confiança no sistema como um todo. 18. Sim, através de discussões, discordei muitas vezes, resisti e o resultado; a Márcia trazia mais

informações sobre o tema, dava exercícios e o resultado final era satisfatório. 19. Não, penso que para ocorrer isso, é preciso buscar discussões, aprendizagens, se não o

grupo, talvez uma terapia, renascimento, enfim é necessário buscar ajuda. 20. O papel do grupo é abrir caminho, é mostrar novos conceitos, é procurar ajudar uns aos

outros, em cada experiência de outro vai mostrando o caminho, muitas vezes o problema que alguém do grupo está passando, serve de exemplo para a outra pessoa pensar e aprender.

21. Eu fui a mais afetada, meu esposo, filho, irmã e irmã pequena. 22. Meus clientes, meus amigos.

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1. Sim alterou. No início mexeu com muitas crenças, conceitos e provocou muitos conflitos internos. Mas, na medida em que fui aprendendo e entendendo através de estudos, exercícios e compartilhas com o grupo, que o pensamento cria, que somos o que pensamos e que podemos mudar o rumo e a qualidade de nossas vidas mudando nossos pensamentos muitos conceitos mudaram principalmente o modo de ver o mundo. Hoje, posso compreender melhor,

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por exemplo, o comportamento agressivo de outras pessoas sem me sentir atingida emocionalmente como antes e com isso mudar o meu comportamento. Meus conceitos em relação ao tempo. Entendi que o tempo presente é a única coisa de que disponho para realizar algo, para mudar meu futuro. Alterou minha crença de que sou só e só posso contar comigo mesma. Como o pensamento cria. Descobri o poder do pensamento criativo. A minha responsabilidade perante a vida. Só o fato de compreender a unicidade para mim foi um grande avanço. E as experiências que tive nos momentos que confiei nela foi de uma riqueza sem limites. Melhorou muito meu relacionamento com a família pois mudou a percepção em relação aos problemas e atritos. O exercício da atenção e vigilância sobre meus pensamentos me dão a chance de mudar minhas atitudes rapidamente. A consciência de que meu corpo é o único instrumento que disponho no presente para que eu possa evoluir e crescer em espírito. Se eu não cuidar do meu corpo com amor, vou criar doenças, se crio doenças desperdiço energia que poderia ser usada para beneficio de minha evolução.

2. Sim. O mundo se tornou mais humano e a vida com mais sentido. Tenho procurado não fazer aos outros aquilo que não gosto que façam comigo. Hoje tenho consciência de que meu próximo é o meu espelho. Isso faz com que eu tenha maior respeito comigo mesma e conseqüentemente com ele também.

3. Sim alterou. Hoje já posso, por exemplo, agir com mais brandura em situações de destemperança e quando isso não acontece, sempre surge um momento em que a consciência aparece e eu tenho a chance de fazer uma nova escolha e mudar o rumo da situação.

4. Comecei a resgatar o meu poder pessoal e aos poucos reaver o meu espaço. Sinto um pouco mais de segurança em me expressar e expor minhas idéias para um grupo de pessoas desconhecidas. Tenho hoje outra percepção a respeito de alimentação e escolhi ter uma alimentação saudável com consciência. Isso foi muito importante para mim. Sim, hoje posso perceber claramente que eu crio minhas doenças e como eu as crio através do pensamento inconsciente. Descobri que a cura só acontece quando conseguimos chegar até a raiz do pensamento que a criou, aceitar e então conseguir transforma-lo. Portanto, a fonte da cura está em nos mesmos. E compreendi também que posso curar um padrão de comportamento familiar ancestral e evitar que esse padrão continue para os meus descendentes.

5. Não. A teoria sem a pratica não tem sentido. E para praticar é necessário ter consciência e disponibilidade. Durante um longo tempo essas novas informações ficararm a nível mental o tempo necessário para serem processadas. Então.em um determinado momento, eu percebia que algo tinha mudado. A correção da percepção vai surgindo a passos lentos. Mas o tempo de correção da percepção de cada uma é individual. Fazer é muito mais difícil que saber.

6. No início, para mim foi muito conflitante porque uma coisa é você ter conhecimento que algo é de um jeito e outra coisa é sentir que esse algo é realmente desse jeito. A distância entre saber e sentir, para mim foi um caminho longo percorrido.

7. Tive que enfrenta muitos preconceitos principalmente espirituais. 8. Eu acredito que sim. Aliás, para mim esse grupo funciona como terapia. 9. A partir do momento em que ocorresse a mudança de sentimento. 10. Sim. Todos relatavam experiências com novos valores. Mas as vezes as mudanças dos

valores eram percebidos algum tempo depois da experiência, isto é: para alguns as vezes demorava para cair a ficha.

11. Sim. Acho que quando valores são mudados e a conduta não mudar em relação a eles, gera conflitos. Esses conflitos como já disse, tive muitos e ainda tenho alguns.Uma das condutas que mudou foi a atitude de desrespeitar a mim mesma para agradar os outros. Também conceitos espirituais como confiar na Divina Inteligência Universal

12. Primeiro: segurança. Segundo: apoio emocional. Terceiro: liberdade de expressão. Quarto: união.

13. Um profundo amor, um imenso prazer de estarmos juntas, companheirismo e humildade. 14. Primeiramente, as resistências eram expressadas com liberdade e segurança. Segundo:

todas ouviam sem julgamentos. Terceiro: trabalhando com afirmações, exercícios e mentalizações. Quarto: exercitando confiar na Inteligência Divina.

Page 63: Mudança de Cultura sob a ótica dos princípios de …...teoria como da prática em seu campo de visão, o presente estudo tem como objetivo analisar um caso real à luz dos princípios

15. Sim. A confiança sempre esteve presente. Os relatos de experiências e sentimentos muito pessoais demonstravam que era um lugar seguro. Não tinha a preocupação de julgamento. E o apoio era incondicional.

16. O grupo sempre teve muito respeito com as resistências individuais, paciência para ouvir, várias sugestões de afirmações e a confiança de estarmos sempre seguindo juntas pelo caminho certo. Primeiramente, as resistências eram expressadas com liberdade e segurança. Segundo: todas ouviam sem julgamentos. Terceiro: trabalhando com afirmações, exercícios e mentalizações. Quarto: exercitando confiar na Inteligência Divina.

17. A preservação do sistema como um todo. 18. Sim o grupo tinha e sentia liberdade de expressar suas resistências ou dificuldades e

confiança para faze-lo. E quando isto acontecia, todas tinham algo para dizer a respeito sugerindo um exercício, uma afirmação ou qualquer outra coisa estimulando a auto confiança. E o resultado, acho que sempre foi positivo.

19. Acho que teria tido sim algumas mudanças, pois sempre há mudanças pelo natural amadurecimento, mas tenho a certeza que não seria nem com a rapidez nem com o nível de consciência que tudo aconteceu.

20. O grupo teve papel fundamental de estimulo de apoio e de suporte. Para mim o grupo funciona como uma mola mestra que me impulsiona sempre para frente. Nunca pensei na hipótese de não mais existir. Pois a espiritualidade

21. Marido, filhos, mãe, pai, amigos, irmão, funcionários. 22. Amigos distantes sem muita ligação.