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- Graduanda em Geografia pela Universidade Federal Fluminense Brasil
EVOLUCAO DA CONCEPCAO DE NATUREZA E RELAO HOMEM/MEIO: ANALISE DE UNIDADES DE CONSERVAO NA AMERICA LATINA
ARAMIAN, C. Budakian MOURA, M. Felix SILVA, L. Goulart
Resumo O estabelecimento de Unidades de conservao hoje um recurso usual quando se busca a proteo de ambientes naturais tidos como possuidores de grandes valores ecolgicos. Esta, porm, no uma prtica recente. Tratando-se de Amrica Latina, o primeiro parque nacional foi criado no Mxico, em 1894. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo compreender as formas histricas de manejo de unidades de conservao no contexto latino americano, percebendo, atravs da anlise de suas diferentes tipologias a evoluo da concepo de natureza. O manejo tambm permite delinear as diferentes formas do homem perceber e se relacionar com a natureza, seja este relacionamento de forma direta ou indireta. [...] o planeta e a comunidade humana se confundem num todo nico. A presena do homem um fato em toda a face da Terra, e a ocupao que no se materializa , todavia, politicamente existente. (SANTOS, 2008, p. 99). Sendo assim, as distintas formas de ocupao poltica mediatizada pelo contexto das unidades de conservao so tambm um foco deste trabalho. Para tanto, lana-se mo das noes de preservacionismo e conservacionismo bem como daquelas relacionadas relao homem natureza (num contexto de reas protegidas), focando no manejo como a principal destas. Palavras chave: paradigma da natureza; unidades de conservao; Amrica Latina INTRODUO
A criao de reas protegidas, demarcadas e delimitadas territorialmente
com o intuito de preservar e conservar a biodiversidade, bem como promover
os recursos e cultura ali encontrados, remete a uma estratgia de controle
territorial, atravs do estabelecimento de normas e dinmicas impostas no uso
e ocupao. Essa rea singular, por pesar uma gama de fatores que sero
discutidos posteriormente, tem sido criada a partir da metade do sculo XIX,
com diferentes tipologias, categorias e desdobramentos (traduzindo uma
mudana de paradigma onde a natureza passa de simples objeto constituinte
do ambiente natural e com fins contemplativos e se torna um elemento
integrante e dinmico dos processos scio-espaciais), que respondem pelo
nvel de controle, integrao, manejo e aes.
Assim, procuraremos traar, tal mudana de paradigma da natureza,
calcada nas diferentes concepes da relao homem/meio, atravs da
evoluo das tipologias e categorias de Unidades de Conservao na Amrica
Latina. As distintas reas protegidas, com manejo e aes singulares, refletem
as polticas de conservao cristalizadas nos espaos latino-americanos em
forma de UCs, resultado das discusses e do novo papel adquirido pelo
ambiente a partir dos ltimos 40 anos.
GNESE DA CRIAO DE REAS PROTEGIDAS E MUNDIALIZAO DOS PARQUES NACIONAIS
As reas naturais protegidas - o termo proteo aqui cabe a todos os
significados e formas distintas de proteo - compem um veculo de
conservao governamental, bem como explicitam concepo especfica da
relao homem/natureza. A criao legal de parques e reservas desabitados foi
iniciada nos Estados Unidos, em meados do sculo XIX, com o Parque
Nacional de Yellowstone (1872), materializando o objetivo de preservao de
espaos com atributos ecolgicos significativos, protegendo a suposta vida
selvagem ameaada pela sociedade urbano-industrial-tecnicista. O
estabelecimento de tal rea refletia a influncia de idias preservacionistas que
pregavam a manuteno de [...] remanescentes intocados para contemplao
e como testemunhos para geraes futuras, estabelecendo o distanciamento
entre o homem e esses refgios de vida silvestre protegidas do uso indireto.
(JNIOR, COUTINHO, FREITAS, 2009, pg.32).
Contudo, necessita-se enquadrar de forma criteriosa o cenrio
econmico e cientfico americano que induziu e corroborou a elaborao de
reas protegidas na forma de parques nacionais. O crescimento econmico
acelerado (expanso ferroviria e fronteira do Oeste), atravs da consolidao
do capitalismo e a urbanizao crescente e expressiva, inflavam discusses
acirradas que propunham a existncia de ilhas naturais, em seu puro estado
primitivo, devidamente afastado dos homens onde fosse permitido reverenciar
e admirar o selvagem. Local de fuga paradisaco, representando o neomito,
atravs de uma concepo homem/natureza muito prpria e especfica,
influenciada pelo naturalismo reativo (Moscovici, 1974 apud Diegues, 1996,
pg.13). O significado da natureza para quela sociedade foi um fator
condicionante para o tipo de modelo elaborado para ser instaurado.
Entretanto, mais do que a criao de um espao, uma unidade fsica por
si, existem conceituaes de conservao que auxiliaram e culminaram na
reproduo concreta da teorizao do ambiente natural. O embate entre as
correntes conservacionistas e preservacionistas tanto nos Estados Unidos
quanto fora dos mesmos, expressavam teorias divergentes acerca da
conservao dos recursos e trato para com o meio natural. O maior expoente
da corrente conservacionista, Gifford Pinchot, acreditava no uso racional dos
recursos para promover sua conservao, atravs de idias consideradas
percursoras do desenvolvimento sustentvel: uso dos recursos naturais pela
gerao presente; a preveno de desperdcio; e o uso dos recursos naturais
para benefcios da maioria dos cidados. (Diegues, 1996). O preservacionismo,
de forma antagnica, visava manuteno de reas selvagens com expressiva
beleza cnica para fins contemplativos e espirituais, devidamente afastadas da
sociedade urbana-industrial. John Muir, terico emblemtico da corrente citada,
fortemente influenciado pelo naturalismo, terminou por divulgar tal corrente,
amplamente utilizada na forma de reas desabitadas que detivessem grande
apreciao esttica, forjando um mundo natural selvagem, intocado e intocvel.
A criao da primeira rea legal de proteo ambiental, proporcionou
que o modelo instaurado nos Estados Unidos fosse transportado e
implementado, materializado em parques e reservas sua semelhana, em
outras naes, o que representa a instaurao em outras reas com distintas
situaes ecolgicas, culturais e sociais que terminaram por recriar a dicotomia
entre homens e parques.
Diversos parques foram criados nos anos posteriores: Canad, 1885;
Nova Zelndia, 1894; Austrlia, frica do Sul e Mxico, 1898; Argentina, 1903;
Sucia 1909; Sua, 1914; Rssia, 1916, Chile, 1926; Equador, 1934; Brasil e
Venezuela, 1937. As intencionalidades dos parques destacados acima no
eram apenas a proteo de significativa extenso de reas dotadas de belezas
cnicas admirveis, porm visavam preservao da biodiversidade local e
estudos para fins cientficos.
Persiste a idia de uma natureza resguardada do homem, porm,agora,
esta passa a representar tambm um papel de objeto de pesquisas, o que
terminou por cercear a presena humana, sendo permitida estritamente em
situaes particulares. Por conseguinte, as populaes locais que ocupavam
anteriormente as reas onde os parques foram implantados, foram removidas,
gerando incongruncias e conflitos entre tais povos tradicionais. Tal modelo se
alicera em estratgias de gesto que restringem e controlam o uso do espao
pela populao em seu permetro de forma compulsria, promovendo crticas e
reflexes sobre as prticas de proteo a serem adotadas e o modelo mais
adequado a ser desenvolvido situao cultural e econmica de tais
sociedades e pases.
Os pases em desenvolvimento, considerados de terceiro mundo,
possuam/possuem grandes contingentes naturais, representados por
diferentes biomas, habitados por populaes tradicionais detentoras de uma
cultura calcada em mitos particulares e de relaes com o mundo natural
baseado em variedades de modos de vida. Desta forma, percebe-se que as
diferentes culturas, encontradas nos pases, cada qual com sua realidade
particular, foram foradas a se adaptar a um modelo desenvolvido para atender
a realidade (econmica-social-cultural) norte-americana que, uma vez moldada
e exportada, forou o desalojamento e remoo de povos locais.
A TRADIO E NOVOS PARADIGMAS
O homem, durante toda a sua histria, pensou e repensou a natureza e
sua relao com ela, de acordo com as caractersticas sociais e naturais de
diferentes perodos histricos. Destacamos aqui, os pensamentos que levaram
instituio de reas especficas para a manuteno de ambientes naturais a
princpio inalterados chamadas reas protegidas. Desta forma, segundo
Porto-Gonaves (2006), a partir do sc. XVIII, com o desenvolvimento do
mtodo cientfico, o homem sente-se autorizado a dominar a natureza, pois a
conhecia atravs da aplicao deste mtodo. Para integr-la num mundo
cientificista, foi preciso dessacraliz-la e a natureza torna-se a um objeto.
nesse contexto, que desenvolveu-se a noo da wilderness trechos da
natureza, com fins de contemplao, lazer, e at mesmo fuga do cotidiano
urbano.
Aproximadamente 100 anos depois da instituio do primeiro Parque
Nacional dentro dos modelos conhecidos (Yellowstone, EUA, 1872) a viso que
o homem possua da natureza comeava a ser alterada. Conforme nos fala
Diegues (1996), Os anos 60, portanto, marcaram o aparecimento de um novo
ecologismo em contraposio antiga proteo da natureza, cujas
instituies provinham do sc. XIX. (p. 39) Porto-Gonalves (2006) faz coro a
essa afirmao, e trata os ltimos 30/40 anos como o terceiro movimento da
globalizao, onde a natureza toma posto de destaque. Segundo este autor,
nesta poca que o ambiente entra nas agendas polticas e de comunicao,
num sentido da necessidade de sua preservao, ao mesmo tempo em que,
paradoxalmente, seus processos de degradao aumentam.
A nvel internacional, grupos de debates foram criados com fins de
discutir e resolver sobre a questo ambiental percebida como em processo de
desequilbrio, em funo dos modelos de desenvolvimento econmico vigentes.
Bom exemplo destes grupos de debate o Clube de Roma, uma entidade
formada por empresrios e intelectuais que buscavam discutir a preservao
dos recursos naturais do planeta. Este grupo foi o responsvel pelas primeiras
publicaes cientficas nesse sentido, citando como exemplo Os limites do
crescimento (1972). Esta obra, inclusive, considerada como propulsora dos
debates sobre meio ambiente a nvel mundial, tendo como ponto culminante a
realizao neste mesmo ano da Conferncia de Estocolmo. Ainda no ano de
1972, mais especificamente no ms de dezembro, foi estabelecida em
Assemblia Geral da ONU a criao do PNUMA (Programa das Naes Unidas
para o Meio Ambiente). Assim o meio ambiente (revisitado, e percebido atravs
de uma nova leitura) entra definitivamente em pauta dos debates e em todas as
suas nuances (naturais, polticas e econmicas). Ainda em referncia s
relevantes contribuies dessa poca para as mudanas na ento viso de
natureza, vlido citar o produto da Comisso Mundial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento da ONU do ano de 1987. Nesta reunio foi elaborado um
documento intitulado Our Common Future (Nosso Futuro Comum), ou Relatrio
Brundtland, como ficou conhecido. Dentre as diversas contribuies deste
documento, ele amplamente conhecido por definir, pela primeira vez o ento
novo conceito de desenvolvimento sustentvel, que passa a partir da a nortear
a grande maioria das prticas que visam o equilbrio entre desenvolvimento
econmico e meio ambiente. A ONU passa a ser frum primordial dos debates
sobre o meio ambiente, promovendo diversas conferncias e desenvolvendo
importantes mecanismos norteadores das convenes e tratados ambientais.
Citando dentre estes fruns, aqueles relevantes para a poltica de reas
protegidas, possvel destacar o Congresso Internacional de reas Protegidas,
realizado de 10 em 10 anos desde 1962 por iniciativa da Unio Internacional
para a Conservao da Natureza (UICN) como o de maior relevncia. A
iniciativa deste mesmo rgo para categorizao de reas de proteo
referncia global e tambm deste trabalho. O programa Homem e a Biosfera
(MaB) da Unesco tambm merece destaque, ao compor uma rede mundial de
reas onde a conservao um dos objetivos primordiais. Alm destes, outro
fruto das discusses internacionais a CDB (Conveno da Diversidade
Biolgica), assinada por diversos pases durante a Rio-92, que traz
significativos avanos referentes democratizao ambiental, como a
repartio dos benefcios e malefcios da conservao.
No contexto desse processo de transio ideolgica, ou de percepo,
podemos destacar Junior (et al.), quando diz que a partir do sc. XX, a criao
de reas protegidas tem sido um modo como as sociedades reagem frente aos
problemas ambientais. Porm, a delimitao de territrios com aes concretas
de gesto no recente, tendo assumido formas diversas de acordo com a
situao cultural das sociedades. (2009, p. 31) A idia de que as condies
sociais e ambientais de cada regio devem ser levadas em considerao
quando da determinao de reas protegidas hoje amplamente divulgada,
porm ainda timidamente aplicada.
As mudanas pelas quais a viso de natureza passou nos ltimos anos
bem sistematizada por Medeiros, quando este diz que at o sculo XIX a
idia de controle do espao tinha conotao gerencial (...); do final do sculo
XIX at a segunda metade do sculo XX a ideologia central era a de
preservao da paisagem como patrimnio coletivo e testemunho de uma
natureza selvagem. (...); a partir da segunda metade do sculo XX a idia
central passa ser a de proteger para resguardar para as geraes futuras (...)
sobrepondo-se a essa idia q questo da biodiversidade no sculo XXI. (apud.
JUNIOR et al., 2009)
Dessa maneira, a definio das formas de gesto de reas protegidas
nos ltimos anos vem marcando esse processo de desgaste do paradigma
cientificista de natureza objeto e subjugada. A dissociao homem e natureza
vem sendo superada a partir do desenvolvimento de novas categorias de
unidades de conservao, de novos mecanismos de gesto que consideram
esta relao e a incorporam no cotidiano dessas reas. O manejo de
ambientes naturais que prev a existncia de comunidades humanas, e mais,
que consideram essas comunidades como parte do ecossistema, tal qual uma
dimenso humana da biodiversidade, vem sendo cada vez mais priorizado.
So indcios da superao do antigo paradigma da natureza.
DEFINIES E O CONTEXTO DA AMRICA LATINA
Sob o foco do contexto de reas protegidas no possvel realizar uma
anlise sobre os tipos de unidades de conservao se for suscitado os mais de
140 nomenclaturas diferentes para reas protegidas de maneira global. Afim de
desenvolver e fomentar a implementao de normas baseadas no paradigma
da conservao, a IUCN (Unio Internacional para a Conservao da
Natureza) criou, de maneira conjunta e participativa, categorias de reas
protegidas que permitam uma melhor delimitao dos objetivos de cada rea
protegida criada, promovendo uma melhor gesto segundo as necessidades
locais. O sistema de categorias da IUCN prope uma linguagem comum sobre
reas protegidas no somente na Amrica Latina, como tambm globalmente,
em prol da orientao no planejamento e gesto de reas protegidas.
As categorias de reas protegidas da IUCN se subdividem segundo o
tipo de relao homem/natureza pretendido, levando-se em conta o tipo de
manejo empregado ao territrio em questo. A definio de rea protegida
preconizada pela IUCN como: An area of land and/or sea especially dedicated
to the protection and maintenance of biological diversity, and of natural and
associated cultural resources, and managed through legal or other effective
means.(IUCN,2007,p.22) traz anlise aspectos de manuteno da
diversidade, recursos culturais associados e a gesto que compem o espao
de uma rea protegida. A distino de uma categoria para a outra resume-se
que maneira majoritria valorizao em grau diferenciada dos aspectos
citados. Os objetivos e a gesto da rea protegida esto intimamente
relacionados com a feio selecionada como prioritria. De maneira prtica
podemos citar dentro das categorias da IUCN que " proteo da vida selvagem
" um dos principais objetivos da categoria Ib e "preservao de espcies e
diversidade gentica " um objetivo secundrio. Da mesma forma,
"Manuteno dos atributos tradicionais / culturais" objetivo principal na
categoria V e "preservao da espcies e diversidade gentica " um objetivo
secundrio (IUCN,2007). Apesar dessa questo menciona-se que a
conservao da biodiversidade (preservao da natureza selvagem)
prioridade comum todas as categorias de reas protegidas, sendo vlido
assim uma conjugao de interpretaes.
Com relao ao sistema de reas protegidas, outro aspecto diferenciador
condiz com o tipo de governana: Estatal, participativa (Estado-sociedade),
privada ou comunitria. Contudo, antes de prosseguir necessrio expor o
modelos de reas protegidas preconizados pela IUCN. Em destaque as seis
categorias de reas protegidas:
I - Proteco integral: Ia Reserva Natural Estrita/ Ib rea Natural
Florestal;
II - Conservao de ecossistemas e turismo: Parque Nacional;
III - Conservao das caractersticas naturais: Monumento Natural;
IV - Conservao atravs de gesto activa: rea de gesto de
habitat/espcies;
V - Conservao de paisagens terrestres e martimas e de recreio:
Paisagens Terrestres e Marinhas Protegidas;
VI - Utilizao sustentvel dos ecossistemas naturais: rea Protegida
com Gesto de Recursos.
Segundo a IUCN, as seis categorias criadas constituem a linguagem
comum s centenas de reas protegidas j existentes. Com a finalidade de
promover o desenvolvimento/melhoramento do modelo geral de preservao
http://pt.wikipedia.org/wiki/Reserva_Natural_Estritahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Reserva_Natural_Estritahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ecossistemahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Turismo
da biodiversidade natural/cultural em reas protegidas, as seis categorias so
definidas:
CATEGORIA NOME DEFINIO
Ia Reserva Natural Estrita: rea protegida principalmente para fins cientficos
rea de terra e/ou mar que possui representantes de ecossistemas geolgicos o fisiolgicos com qualidades e/ou espcies excepcionais, disponvel primariamente para investigao cientfica ou monitorizao ambiental.
Ib rea Silvestre: zona protegida destinada proteo de reas silvestres
Grandes reas de terra e/ou mar ou terras ligeiramente modificadas que mantm o seu carter e a sua influncia sem qualquer tipo de invaso significativa ou permanente, protegidas e conservadas para preservar a sua condio natural
II Parque Nacional: rea protegida destinada principalmente proteo de ecossistemas e para fins recreativos
reas naturais de terra e/ou mar que tm como prioridade a) proteger a integridade ecolgica de um ou mais ecossistemas para as geraes presentes e futuras, b) excluir a explorao e a ocupao adversa para os propsitos de designao da rea c) criar um espao vocacionado para o desenvolvimento de atividades espirituais, cientficas, educacionais e recreativas por parte dos seus visitantes, em todas as reas compatveis com o meio ambiente e com a cultura.
III Monumento Natural: rea protegida vocacionada principalmente para a conservao de qualidades naturais especficas de uma regio
rea que contm uma ou mais qualidades especificas naturais e/ou culturais de caractersticas excepcionais e nicas, pela sua raridade inerente e pelas suas qualidades estticas e significado cultural.
IV rea de Gesto de habitats / espcies: rea
rea de terra e/ou mar sujeita interveno ativa com o fim de
CATEGORIA NOME DEFINIO
protegida utilizada principalmente para a conservao atravs da manipulao de habitats
assegurar a manuteno dos habitats e/ou para preencher as necessidades de espcies especificas
V Paisagem terrestre / marinha protegida: rea protegida utilizada principalmente para a conservao de paisagens terrestres / marinhas e para fins recreativos
rea de terra, com costa ou mar apropriados, onde a interao entre o homem e a natureza deu lugar com o tempo a uma rea de carter diferenciado com valores estticos, ecolgicos e/ou culturais, frequentemente com uma grande diversidade biolgica. Salvaguardar a integridade desta interao tradicional vital para a proteo, manuteno e evoluo destas reas.
VI rea Protegida para utilizao de recursos: rea protegida destinada principalmente utilizao sustentvel de ecossistemas naturais
rea que contm principalmente sistemas naturais que no foram modificados, manipulados para assegurar a proteo a longo prazo e a manuteno da diversidade biolgica, preservando ao mesmo tempo o fluxo de produtos naturais e de servios que servem s necessidades das comunidades
As categorias so separadas conforme combinaes de interesses e
caractersticas especficas. Dentre as principais, tm-se os diferentes tipos de
manejo, que so determinados partir do tipo de gesto que permite ou no a
participao da sociedade. Apesar do carter absoluto do Estado nesse tipo de
territrio, com o paradigma da conservao a viso de paisagem intocada
categorias I, II e III - no fica absoluta. A participao da sociedade toma lugar
de destaque na viso do desenvolvimento sustentvel; caracterizado nas
categorias IV e, sobretudo, V e VI.
Tabela: Modalidades de governana segundo as diferentes categorias de reas
protegidas da IUCN.
FONTE: IUCN,1994
Com relao Amrica Latina no diferente. Regio ativa no processo
de construo e rea de influncia importante da IUCN, atua de maneira efetiva
no crescimento de rea protegida proporcional aos territrios nacionais, claro
que cada pas ao seu tempo. Dentre os paises que compem a Amrica Latina
alguns se destacam com relao outros da mesma regio; criando leis
prprias, ministrios especializados em meio ambiente e polticas amplas
voltadas para o contexto de reas protegidas. A Amrica Latina possui
caractersticas especficas recorrentes, tais como a questo indgena e povos
tradicionais, que atuam junto movimentos sociais de maneira incisiva contra o
modelo de natureza intocada, que no adimite a presena do homem. A forte
presena de diferentes atores sociais nos conflitos decorrentes da criao de
reas protegidas impe um manejo participativo do territrio, ainda mais sob a
vigncia do paradigma da sustentabilidade. Apesar da presena de reas
protegidas retritivas ainda ser expressivo - pela idia de preservao de
recusos naturais, a preocupao da manuteno dos recursos que so
limitados verifica-se o desenvolvimento do modelo de reproduo socio-
cultural consorciado a manuteno da diversidade biolgica pautado na
tradio.
Como foco a anlise das unidades de conservao latino americanas,
bem como seus tipos e suas formas de gesto, importante cruzar as
diferentes nomenclaturas de reas protegidas com as categorias da IUCN. As
reas protegidas podem ser diferenciadas em dois grandes grupos: o que
permite o aproveitamento dos recursos naturais em sua rea (categorias IV, V
FONTE: IUCN,2007
e VI) e o que probe qualquer tipo de interferncia a no ser de carter de
pesquisa ( categorias I, II e III). Sendo assim, temos como fonte de dados
para os tipos de unidades de conservao da maioria dos pases latino-
americanos a seguinte tabela:
Tabela: Nomes e categorias correspondentes de gesto de reas protegidas
verificados por FAO 2003.
Continuao:
Atravs dos dados expostos, fica claro o desdobramento da Amrica
Latina com relao s categorias de manejo que implica a relao
homem/natureza, se comparado com outras regies como a Amrica Central,
que predominantemente categorias I, II e III. Apesar da infinidade de
nomenclaturas pases como Venezuela e Paraguai possuem diferentes tipos de
reas protegidas que compem as mesmas categorias. Parque Nacional e
Monumento Natural so inerentes aos pases latino americanos pela tradio
do modelo que foram pioneiros se tratando de reas protegidas. Porm, a
variedade de reas de manejo sustentvel tambm expressiva apesar da
diferenciao nominal. A gama de nomes para as categorias de gestao
participativa evidente pela especificidade necessria ao manejo complexo
desse tipo de rea protegida.
CONSIDERAES FINAIS
Mecanismos como reas protegidas so criados a partir de reflexes maiores.
Comeando pela crena ainda existente de que os recursos naturais perderam
sua importncia diante dos recursos humanos e do conhecimento; de que a
tecnologia resolveria o problema da escassez de recursos naturais; Porto-
Gonalves expe:
A idia que a natureza uma fonte inesgotvel de recursos no s uma
idia que se possa substituir por outra idia. uma idia que conforma as
relaes sociais e de poder que a conforma. Assim, no uma idia fora do
mundo concreto de homens e mulheres nas suas relaes entre si e com a
natureza. Ao contrrio, uma idia que sobrevive a seus crticos que teimam
em permanecer exclusivamente no plano das idias ignorando a relao das
idias com o mundo das relaes sociais e de poder. Eis a razo de tanta
crtica ao paradigma que se diz em crise e a sobrevida das prticas informadas
por esse mesmo paradigma. Porto-Gonalves, 2006
Coube mudana de paradigma de preservacionismo que prega a separao
homem/natureza, para o conservacionismo que incorpora o desenvolvimento
sustentvel, a criao de novas categorias de reas protegidas que inovaram
com relao ao tipo de manejo e gesto desse tipo de territrio. Graas a
intensa participao dos atores sociais e relatrios denunciando o carter finito
dos recursos naturais foram desenvolvidas polticas especializadas que
propem a sustentabilidade, mitigao de impactos e uma reflexo profunda
com relao ao modo como o homem vislumbra a natureza.
De maneira prtica, tendo como foco a Amrica Latina, o II Congresso
Latinoamericano de Parques Nacionais e reas Protegidas de 2007, expe de
maneira clara a reafirmao da viso latinoamericana das reas protegidas
acordada no Congresso de Santa Marta, que considera estes territrios como
espaos estratgicos para os pases, porque so indispensveis para seu
crescimento,seu desenvolvimento e para a busca de condies de vida
adequadas dentro de seu territrio, alm de constituir uma das principais
opes na proteo do patrimnio natural.(DECLARAO DE
BARILOCHE,2007,P.06). A idia do bem estar da sociedade em primeiro lugar
e a preservao da biodiversidade biolgica de maneira secundria,
privilegiando determinadas categorias, contudo, sem impor o fim de outras.
Na Amrica Latina, a poltica comum para reas protegidas est sob intenso
desenvolvimento. De maneira majoritria encontram-se posturas de
fortalecimento e ampliao dos processos de planejamento participativo das
reas protegidas e aplicar os princpios de boa governana (transparncia,
equidade, prestao de contas e estratgias de manejo de conflitos) como um
mecanismo que envolva ativamente os atores, gerando espao de dilogo
onde se analisem as preocupaes e expectativas e se estabeleam
compromissos e responsabilidades para a ao conjunta e coordenada das
instituies, comunidades locais e povos indgenas, cientistas e acadmicos,
bem como o setor privado em apoio ao manejo efetivo e participativo das reas
protegidas. (DECLARAO DE BARILOCHE,2007,P.07)
BIBLIOGRAFIA
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