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Mude o Hábito - um guia da ONU para a neutralidade climática

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  • Alex Kirby

    Jasmina BogdanovicClaudia HeberleinOtto SimonettChristina Stuhlberger

    Emmanuelle Bournay

    Harry Forster, Interrelate Grenoble

    UM GUIA DA ONU PARA A

    NEUTRALIDADE CLIMTICA

    CCCCMUDE O HBITO

    AUTOR

    EQUIPE EDITORIAL UNEP/GRID-ARENDAL

    CARTOGRAFIA

    EDIO

  • UMA PUBLICAOCLIMATICAMENTE NEUTRA

    A produo e o transporte de cada cpia da publicao em ingls liberou cerca de 5 quilos de CO2 equivalente na atmosfera. Este valor comparvel quantidade de CO2 gerada na queima de 2 litros de gasolina. Os fatores levados em considerao para este clculo so transporte (40%), viagens do corpo editorial e de pessoal (20%), papel (20%), impresso (13%) e consumo de eletricida-de para uso do escritrio e de computadores (7%).

    O uso de papel reciclado produzido sustentavelmente e a tinta de base vegetal ajudaram a diminuir o impacto ambiental, enquanto o transporte de 500 cpias para a Nova Zelndia para o lanamento do livro responsvel pela maior parte das emisses.

    A impresso de verses desta publicao nas lnguas ofi-ciais da ONU e o seu transporte at a COP 15, realizada em Copenhague em dezembro de 2009, liberou outros 3,5 quilos de CO2 equivalente na atmosfera por cpia.

    Para compensar a emisso de 61 toneladas de CO2 equiva-lente geradas pelo projeto, ns compramos o montante adequado de crditos de carbono com a ajuda da fun-dao Sua sem fins lucrativos myclimate. O valor ser investido na fazenda de energia elica Te Apiti na Nova Zelndia, um projeto de Implementao Comum Padro Ouro.

  • CCCC11

    INTRODUO

    58 CONTE E ANALISE

    80 AJA94

    REDUZA159

    COMPENSE183

    AVALIE

    MUDE O HBITO

    29 O PROBLEMA

    45 OS ATORES

    53 O CICLO DA REDUO

  • A dependncia algo terrvel. Ela nos consome e controla, nos faz negar verdades importantes e nos cega para as consequncias de nossas aes. A nossa sociedade est no controle de um perigoso hbito de gs de efeito estufa.

    O carvo e o petrleo pavimentaram a via para o progresso industrial do mundo de-senvolvido. Pases em rpido desenvolvimento seguem o mesmo caminho na busca por padres de vida semelhantes. Enquanto isso, nas naes menos desenvolvidas, fontes de energia ainda menos sustentveis, como o carvo vegetal, permanecem como a nica opo disponvel aos pobres.

    A nossa dependncia em energia baseada no carbono causou um aumento significa-tivo dos gases de efeito estufa na atmosfera. No ano passado, o relatrio do Painel Intergovernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC), ganhador do Prmio Nobel, no deixou dvidas sobre o aquecimento global nem mesmo para os mais cticos. Sabemos que as mudanas climticas esto acontecendo e sabemos que o dixido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa que ns emitimos so a sua causa.

    No liberamos carbono na atmosfera apenas com a queima de combustveis fsseis. Nos trpicos, florestas valiosas so derrubadas para obteno de madeira ou para a produo de celulose, para a criao de pastagens e para a agricultura, alm de, cada vez mais, para culturas que suprem uma demanda crescente de biocombustveis. Esse aspecto especfico do nosso hbito de carbono no est s liberando quanti-dades enormes de CO2, tambm est destruindo um recurso importante para absor-o do CO2 da atmosfera, contribuindo ainda mais para as mudana climticas.

    As implicaes ambientais, econmicas e polticas do aquecimento global so pro-fundas. Os ecossistemas das montanhas aos oceanos, dos polos aos trpicos passam por uma mudana rpida. As cidades costeiras enfrentam inundaes, as

    Prefcio

  • terras frteis transformam-se em deserto, e os padres climticos se tornam cada vez mais imprevisveis.

    Todos arcaremos com os custos. Os pobres sero mais duramente atingidos pelos de-sastres relacionados ao clima e pelo aumento desenfreado dos preos dos alimentos bsicos, mas at mesmo as naes mais ricas enfrentaro a perspectiva de recesso econmica e de um mundo em conflito pelos recursos que ficaro cada vez mais es-cassos. Mitigar as mudanas climticas, erradicar a pobreza e promover a estabilidade econmica e poltica demandam a mesma soluo: temos que nos livrar do hbito do carbono.

    Mudar o hbito o tema deste livro. Escrita numa linguagem de fcil compreenso, mas baseada no mais atualizado conhecimento cientfico e de polticas pblicas, a publicao um guia para governos, pequenas e grandes organizaes, empresas e indivduos que desejam embarcar no caminho rumo neutralidade climtica.

    Da reduo do consumo e aumento da eficincia energtica at as compensaes por meio de uma gama de esquemas de negociaes do carbono incluindo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto as oportunidades so inmeras.

    A mensagem fundamental do Mude o Hbito Um Guia da ONU para a Neutralidade Climtica que todos somos parte da soluo. Seja como indivduo, empresa, orga-nizao ou governo, existem vrios passos que podem ser dados para reduzir a pega-da climtica. uma mensagem que todos devemos levar seriamente em considerao.

    Ban Ki-moonSecretrio-Geral das Naes Unidas

  • Fertilizantes

    Qumicos

    Usinas eltricas

    Transportemartimo

    Frete rodovirioTransporteareo

    Carros

    Cimento

    Aquecimento Branqueamento dos corais

    Inundao

    Zonas midas costeirasdesaparecendo

    Zonas midas costeirasdesaparecendo

    Distrbios nas mones

    Modidificao naCorrente do Golfo

    Estilos de vidatradicionais ameaados

    Seca

    Desnutrio

    Doenascardio-

    respiratrias

    Diarria

    Doenas infecciosas(mudana no vetor)

    CicloneTsunami

    Incndionatural

    Temperaturada gua

    Mudanas nasprecipitaes

    Salinidade

    Mudanas na cobertura das nuvens

    Desmatamento

    Urbanizao

    Transporte

    Agricultura

    Indstria

    Produode energia

    Conversode terras para a agricultura

    Distrbios no ciclo do

    carbono(Aumento)

    Efeitoestufa

    AquecimentoGlobal

    (elevao natemperatura

    mdia)

    Alteraona circulaodas correntes ocenicas

    Derretimento dascalotas de gelo

    Elevaodo nvel do

    mar

    Mudanaclimticaabrupta

    Perdas na biodiversidade

    Perdaseconmicas

    Disseminaode doenas

    Fome

    Agricultura e pesca de subsistnciaem perigo

    Emisses dosgases de

    efeito estufa

    Mudanas nouso do solo

    Aumento na superfcie impermevel

    Eletricidade

    Queima de combustvel fssil

    Desastres

    Mortes

    ATIVIDADES ANTRPICAS

    PROCESSOS DE MUDANCA CLIMTICA

    Processos e efeitos globais da mudana climticas

    CARACTERSTICAS CLIMTICAS PRINCIPAIS

    AMEAAS IMPORTANTES

    CO2CH4

    N2O

    Refgiados ambientais

  • Fertilizantes

    Qumicos

    Usinas eltricas

    Transportemartimo

    Frete rodovirioTransporteareo

    Carros

    Cimento

    Aquecimento Branqueamento dos corais

    Inundao

    Zonas midas costeirasdesaparecendo

    Zonas midas costeirasdesaparecendo

    Distrbios nas mones

    Modidificao naCorrente do Golfo

    Estilos de vidatradicionais ameaados

    Seca

    Desnutrio

    Doenascardio-

    respiratrias

    Diarria

    Doenas infecciosas(mudana no vetor)

    CicloneTsunami

    Incndionatural

    Temperaturada gua

    Mudanas nasprecipitaes

    Salinidade

    Mudanas na cobertura das nuvens

    Desmatamento

    Urbanizao

    Transporte

    Agricultura

    Indstria

    Produode energia

    Conversode terras para a agricultura

    Distrbios no ciclo do

    carbono(Aumento)

    Efeitoestufa

    AquecimentoGlobal

    (elevao natemperatura

    mdia)

    Alteraona circulaodas correntes ocenicas

    Derretimento dascalotas de gelo

    Elevaodo nvel do

    mar

    Mudanaclimticaabrupta

    Perdas na biodiversidade

    Perdaseconmicas

    Disseminaode doenas

    Fome

    Agricultura e pesca de subsistnciaem perigo

    Emisses dosgases de

    efeito estufa

    Mudanas nouso do solo

    Aumento na superfcie impermevel

    Eletricidade

    Queima de combustvel fssil

    Desastres

    Mortes

    ATIVIDADES ANTRPICAS

    PROCESSOS DE MUDANCA CLIMTICA

    Processos e efeitos globais da mudana climticas

    CARACTERSTICAS CLIMTICAS PRINCIPAIS

    AMEAAS IMPORTANTES

    CO2CH4

    N2O

    Refgiados ambientais

  • Exemplos da quantidade da emisso de GEE geradas pelas diferentes atividades ou bens de consumo esto espalhados pelo livro na forma de bolhas proporcionais (em quilogramas de CO2 equivalente).

    Fontes: ADEME, Bilan Carbone Entreprises et Collectivits, Guide des facteurs dmissions, 2007; US Environmental Protection Agency (www.epa.gov/solar/energy-resources/calculator.html); ESU-Services Consulting (Switzerland); World Wildlife Fund; Jean-Marc Manicore (www.manicore.com); Jean-Pierre Bourdier (www. x-environnement.org); fatknowledge.blogspot.com; www.actu-environnement.com; www.cleanair-coolplanet.org.

    Funcionamento de uma TV durante um ano23

    Funcionamento de um computador durante 100 horas

    9

    565

    Tratamento de um metro cbico de gua usada na produo de acar

    59Tratamento de um metro cbico de gua usada em uma cervejaria

    4 080

    Emisses anuais do cidado global mdio

  • INTRODUO MUDE O HBITO 11

    MUDE O HBITO

    CCCCINTRODUO

  • MUDE O HBITO INTRODUO12

    As mudanas climticas so a questo que define a nossa era. Dificilmente passa-se um dia sem que um jornal, uma rdio, uma televiso ou um poltico faa, pelo menos, uma referncia s suas ameaas e urgncia em agir imediatamente para limitar seus efeitos e, a longo prazo, adaptar-se s alteraes que sem dvida viro.

    Isso porque as mudanas climticas j nos atingem e o problema est aqui para ficar. Mas ainda est em nosso poder como indivduos, empresas, cidades e governos influenciar a intensidade e o alcance que o problema atingir. Temos a escolha sobre como agir, mas ns mesmos temos que fazer as mudanas. Podemos fazer a diferena apoiando a transio para um mundo climaticamente neutro.Este conceito neutralidade climtica o tpico deste livro.

    Realmente, h um grande abismo entre onde estamos agora e o futuro climaticamente neutro que precisamos para alcanar o desenvolvimento sustentvel. Porm, a mensagemdeste livro que o abismo

  • INTRODUO MUDE O HBITO 13

    no intransponvel e que tambm h muito a se ganhar. Pacincia, persistncia e determinao sero necessrias, mas possvel fazer essa transio.

  • MUDE O HBITO INTRODUO14

    Neutro em carbono, sim isso soa familiar. Mas climaticamente neutro? A resposta simples: no s o dixido de carbono, CO2, que causa as mudanas climticas, ainda que represente quase 80% dos gases de efeito estufa (GEEs) (incluindo as contribuies com as mudanas no uso do solo) emitidos pelas atividades antrpicas. O dixido de carbono o gs de efeito estufa mais abundante que adicionamos atmosfera, mas no o nico.O tratado internacional sobre mudana climtica, o Protocolo de Quioto, limita as emisses dos seis principais GEEs produzidos pelas atividades antrpicas (ver quadro): dixido de carbono (CO2), metano (CH4), xido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFC), perfluorocarbonos (PFC), e hexafluoreto de enxofre (SF6).

    H muitas informaes e recomendaes sobre como viver uma vida mais verde e mais limpa. O mais difcil encontrar o caminho em meio a tanta informao saber o que realmente apresenta resultado, em vez de apenas uma propaganda verde, e o que melhor funciona para voc. Caso esteja confuso, este livro foi feito para voc. Ele vai te fornecer as respostas que deseja, pois explica, em termos prticos, como indivduos, empresas, corporaes, cidades e pases podem comear a mudar. E mesmo que voc no esteja confuso, a publicao certamente lhe fornecer alguma informao adicional til.

    Neutralidade Climtica

    A expresso neutralidade climtica usada neste livro no sentido de viver de uma

    maneira que no produza emisses lquidas de gases de efeito estufa (GEE). Esse obje-tivo poder ser, na medida do possvel, alcanado pela reduo das prprias emisses de GEE e pelo uso de compensaes de carbono para neutralizar as demais emisses.

    Mude o Hbito a analogia do caminho rumo neutralidade climtica com uma dieta apropriada: o compromisso em tentar perder peso bem prximo do comprometimento necessrio para se tornar neutro climaticamente. Precisamos nos livrar do hbito de liberar grandes quantidades de GEEs. Claro, ningum faz dieta para se divertir, mas sim com a esperana de alcanar algo que realmente valha a pena talvez se tornar uma pessoa mais magra e mais sensual, talvez simplesmente sobreviver. E as dietas so um lembrete de que h algo a mais envolvido na reduo dos GEEs. Elas no so um acontecimento nico, mas um processo. Ningum embarca numa dieta, perde peso, e depois retoma o seu antigo estilo de vida se algum fizer isso, vai comprovar que todo o esforo realizado foi intil. Da mesma forma, reduzir o consumo desnecessrio, que est relacionado a boa parte das emisses de GEEs da populao, no significa que voc ir mudar o seu comportamento de desperdcio at um certo ponto e depois relaxar. A jornada rumo neutralidade climtica no uma linha reta, e sim um ciclo: um exerccio de diminuio da

  • INTRODUO MUDE O HBITO 15

    Vapor dgua

    Dixido de carbono(CO2 )

    Metano(CH4 )

    Oxido nitroso(N2O )

    HFC 23 (CHF3 )

    HFC 134 a (CF3CH2F)

    HFC 152 a(CH3CHF2)

    Perfluorometano(CF4)

    Perfluoroetano(C2F6)

    Hexafluoreto deenxofre (SF6)

    0 a 560000 a 56000

    Concentraopr-industrial

    ( ppmv*)Nome do gs

    Concentraoem 1998( ppmv )

    Perodo na atmosfera

    (anos)

    Fonte principal deatividade antrpica GWP **

    * ppmv = partes por milho por volume,** GWP = Potencial de aquecimento global (para um horizonte de 100 anos).

    - -

    Combustveis fsseis, camposde arroz, lixes, rebanhos0,7 1,75 21 12

    Fertilizantes, processos de combusto industrial 0,27 0,31 310 114

    0 0,000014 12 000 Eletrnica, refrigerantes250

    0 0,0000075 1 300 Refrigerantes13,8

    0 0,0000005 120 Processos industriais1,4

    0,0004 0,00008 5 700 Produo de alumnio>50 000

    0 0,000003 11 900 Produo de alumnio10 000

    0 0,0000042 22 200 Fluido dieltrico3 200

    alguns dias

    Combustveis fsseis, pro-duo de cimento, mudana no use do solo

    280 365 1 varivel

    emisso de gases que esto sob nossa responsabilidade e de compensao das emisses restantes, apoiando iniciativas de reduo realizadas em outros lugares por outras pessoas. Na fase seguinte, voc observa como pode reduzir ainda mais suas prprias emisses e continua o ciclo, se distanciando da compensao rumo a esse corte cada vez maior em suas emisses. Adotar uma dieta climtica no ser propriamente divertido embora possa nos auxiliar a redescobrir prazeres esquecidos que se originam na atitude de fazer mais com menos. Mas isso dar, a ns e a geraes futuras, esperana de sobrevivncia em uma Terra sustentvel.

    Quatro razes para se tornar climaticamente neutro

    Existem vrias boas razes para reduzir a nossa pegada climtica.

  • MUDE O HBITO INTRODUO16

    Primeira poupar o clima

    O aumento de GEEs ameaa colocar a Terra num caminho inexorvel para um clima imprevisivelmente diferente. O Painel Intergovernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC) afirma que vrias regies do planeta ficaro mais quentes. Secas, inundaes e

    O Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente e a Organizao Meteorolgi-ca Mundial criaram o IPCC, que congrega mais de 2.000 cientistas e representantes de governos para avaliar o risco colocado pelas mudanas induzidas pela humanidade sobre o clima. O IPCC no realiza qualquer pesquisa nem monitora dados climticos. A sua tarefa avaliar a literatura cientfica, tcnica e socioeconmica mais recente sobre a compreenso do risco das mudanas climticas, dos impactos observados e projetados, e das opes de adaptao e de mitigao. Em novembro de 2007, lanou o seu Quarto Relatrio de Avaliao, englobando quatro sees: A Base Cientfica Fsica, pelo Grupo de Trabalho; Impactos, Adaptao e Vulnerabilidade, pelo Grupo de Trabalho II; Mitigao da Mudana Climtica, pelo Grupo de Trabalho III; e um Relatrio Sntese geral. Foram necessrios seis anos para se concluir o relatrio, que contm milhares de pginas. Por este e pelo seu trabalho de mais de 20 anos, o IPCC foi o ganhador conjunto do Premio Nobel da Paz de 2007.

    outros fenmenos climticos extremos se tornaro mais frequentes, ameaando a ofer-ta de alimentos. As plantas e os animais que no puderem se adaptar, desaparecero. O nvel dos mares est subindo e continuar a subir, forando centenas de milhares de pes-soas das reas litorneas a migrarem. Um dos GEEs mais importantes que a humanidade adiciona atmosfera, o dixido de carbono (CO2), aumenta rapidamente. Por volta de 1750, no incio da Revoluo Industrial na Europa, existiam 280 partes por milho (ppm) de CO2 na atmosfera. Hoje, a quantidade total de GEEs ultrapassou 450 ppm de CO2e (partes por milho de dixido de carbono equivalente uma medida uniforme criada para expressar o potencial de aquecimento de todos os GEEs) e este nmero cresce a uma

    435

    Emisses por metro quadradona construo de um armazm

    com estrutura de ao... ou de uma casa com estrutura de concreto275

  • INTRODUO MUDE O HBITO 17

    Fonte: IPCC Fourth Assessment Report: Working Group III Mitigation of Climate Change; 2007 (adaptao da figura por Olivier et al., 2005; 2006; Hooijer et al., 2006).

    Bilho de toneladas de CO2 equivalente por ano(perodo 1970-2004 )

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    do uso de combustvel fssil

    CO 2

    de desmatamento, madeira e incndios em turfas

    outros

    CH 4

    N 2 0 HFCs PFCsSF 6

    14% 77%

    57%

    17%

    8% 1%

    CO2: Dixido de CarbonoCH4: MetanoN2O: xido NitrosoPFCs: PerfluorocarbonosHFCs: HidrofluorocarbonosSF6: Hexafluoreto de Enxofre

    Emisses por gs

  • MUDE O HBITO INTRODUO18

    Fonte: McKinsey Climate Change Special Initiative, 2007.

    Opes estratgicas para mitigao da mudana climticaCurva para o custo global de medidas de reduo dos gases de efeito estufa

    100

    Reduo alm da atividade normal at 2030Bilhes de toneladas de CO2 equivalente por ano

    Potencial maior

    Reduo de custo mais alto

    Desmatamento evitadona sia

    Desmatamentoevitado

    na Amrica

    Sistemas demotores

    industriais

    no-CO2 Industrial

    Eficinciaaeronave

    Substituiode matria-prima industrial

    Etanol decelulose

    Vento, penetrao baixa

    Plantio deFlorestasPlantio

    Florestal

    Perdas em Standby

    Co-firing biomassa

    Melhorias no isolamento

    Veculos eficientes emtermos de combustvel

    Veculos eficientes emtermos de combustvel

    Biocombustveis da cana de acar

    Sistema de iluminaoAr condicionado

    Aquecimento de gua

    CCS* Industrial

    Mudana do carvo para gsResduos

    Biodiesel

    CCS*, carvo melhorado

    CCS*, carvo novo

    CCS* EOR, carvo novo

    * Captura e Armazenamento de Carbono

    Solo

    Rebanhos/solo

    Nuclear

    Trnsito pequeno

    Hidro pequena

    Custo de reduzir as emisses de gases de efeito estufa at 2030Euros por tonelada de CO2 equivalente evitada por ano

    50

    - 50

    -100

    -150

    0 10 15

    5

    20 25 30

    Este grfico tenta mostrar tudo em um: as diversas medidas para reduo de gs de efeito estufa quantificadas tanto na reduo(em CO2 equivalente) como no custo (em Euros). Ler da esquerda para a direita d o campo total das opes estratgicas variando de meta baixa, tais como isolamento de edificao,em verde (oriundo da poupana econmica) para metas cada vezmais altas, tais como reflorestamento, energia elica (em vermelho).

    Estratgias classificadas por custo/eficincia

    Economia

    Custos

    taxa anual de 1,52 ppm. Cientistas de renome acreditam que a temperatura mdia da Terra no deve subir mais de 2C acima dos nveis pr-industriais. A Unio Europeia (UE), entre outros, considera que isto seja essencial para minimizar o risco daquilo que a Conveno Quadro das Naes Unidas sobre a Mudana Climtica chama de mu-danas climticas perigosas, e para manter viveis os custos de se adaptar a um clima mais quente. Cientistas dizem haver 50% de chance de manter o aquecimento em 2C caso a concentrao total de GEEs permanea abaixo de 450 ppm.

    Segunda preservar os recursos naturais

    Existe uma evidncia crescente de outra ameaa bem diferente para o desenvol-vimento: podemos em breve ter de encarar a escassez do combustvel fssil que

  • INTRODUO MUDE O HBITO 19

    mantm ativa a sociedade moderna (gs e petrleo). Eles no fornecem somente calor, luz e eletricidade. A agricultura, as empresas farmacuticas, as comunicaes e a maioria dos outros aspectos da vida que nos parece normal dependem das reservas de combustveis fsseis, direta (como os plsticos) ou indiretamente. A Associao para o Estudo do Pico do Petrleo e do Gs (ASPO) afirma: O mundo enfrenta o incio da segunda metade da era do petrleo, o momento em que este produto crucial, que tem papel fundamental na economia moderna, se direciona ao declnio devido escassez natural. Alguns economistas acreditam que quan-to mais escasso e mais caro o produto se tornar, mais esforos sero feitos para encontr-lo, e que o mercado assegurar suprimento suficiente de combustvel fssil ainda por muitos anos. Mas existem bases racionais para se pensar que nos arriscamos a exaurir as reservas de petrleo e gs, bem como a ter uma Terra im-previsivelmente mais quente, caso no alteremos o hbito de CO2. As projees sugerem que, at 2030, a utilizao mundial de energia ter provavelmente aumen-tado mais de 50%. Ns s podemos atingir a segurana energtica se mudarmos dos combustveis fsseis para alternativas no-fsseis.

    Um outro argumento correlato o de que uma populao mundial crescente coloca a Terra sob presso tambm crescente, e do interesse de todos tentar reduzir esta presso. Existiam mais de 6,6 bilhes de habitantes no mundo no incio de 2008, e o Fundo de Populao da ONU acredita que o nmero chegue a 9 bilhes antes de comear a declinar. Adicione a isso um apetite global crescente pelos bens de consumo e fica claro que, a menos que ns desconectemos o consumo e o aumento do padro de vida do uso de recursos naturais, brevemente haver escassez de vrios recursos essenciais minerais como o urnio, cobre e ouro, por exemplo.

    570

    Extrao e refinamento de petrleo crupara fazer uma tonelada de gasolina

  • MUDE O HBITO INTRODUO20

    Ciclo do carbono

    121

    Crescimento edecomposio

    de plantas

    IncndiosMudanas

    no uso do solo

    Troca solo-atmosfera

    Emisses relacionadasaos combustveis fsseis

    Troca oceano -atmosfera

    Troca das guas ocenicas superficiais e profundas

    Biosfera540 a 610

    Solo e matria orgnica1 580

    Mina de carvo3 000

    Campos de petrleo e gs300

    Litosfera: sedimento marinho

    e rochas sedimentares66 000 a 100 milhes

    Carbono orgnico dissolvido

    700Hidrosfera

    38 000

    Organismos marinhos3 guas superficiais

    1 020

    Sedimento150

    Atmosfera75060

    6 a 8

    60

    0,5

    92

    90

    92

    40

    50

    4

    6

    100

    1,5

    Fontes: Philippe Rekacewicz; Centre for Climatic Research, Institute for Environmental Studies, University of Winsconsin at Madison (USA); Okanagan University College (Canada), Geography Department; World Watch, November-December 1998; Nature; Intergovernmental Panel on Climate Change, 2001 and 2007.

    Os nmeros indicam o armazenamento e fluxo de carbono, expressosem Gigatoneladas (1 bilho de toneladas) de carbono.As setas so proporcionais ao volume de carbono.Os nmeros para o fluxo expressam as quantidades trocadas anualmente.

    Muito rpido (menos de um ano)

    Rpido (1 a 10 anos)

    Lento (10 a 100 anos)

    Muito lento (mais de 100 anos)

    Velocidade do processo de troca

  • INTRODUO MUDE O HBITO 21

    Ciclo do carbono

    121

    Crescimento edecomposio

    de plantas

    IncndiosMudanas

    no uso do solo

    Troca solo-atmosfera

    Emisses relacionadasaos combustveis fsseis

    Troca oceano -atmosfera

    Troca das guas ocenicas superficiais e profundas

    Biosfera540 a 610

    Solo e matria orgnica1 580

    Mina de carvo3 000

    Campos de petrleo e gs300

    Litosfera: sedimento marinho

    e rochas sedimentares66 000 a 100 milhes

    Carbono orgnico dissolvido

    700Hidrosfera

    38 000

    Organismos marinhos3 guas superficiais

    1 020

    Sedimento150

    Atmosfera75060

    6 a 8

    60

    0,5

    92

    90

    92

    40

    50

    4

    6

    100

    1,5

    Fontes: Philippe Rekacewicz; Centre for Climatic Research, Institute for Environmental Studies, University of Winsconsin at Madison (USA); Okanagan University College (Canada), Geography Department; World Watch, November-December 1998; Nature; Intergovernmental Panel on Climate Change, 2001 and 2007.

    Os nmeros indicam o armazenamento e fluxo de carbono, expressosem Gigatoneladas (1 bilho de toneladas) de carbono.As setas so proporcionais ao volume de carbono.Os nmeros para o fluxo expressam as quantidades trocadas anualmente.

    Muito rpido (menos de um ano)

    Rpido (1 a 10 anos)

    Lento (10 a 100 anos)

    Muito lento (mais de 100 anos)

    Velocidade do processo de troca

  • MUDE O HBITO INTRODUO22

    Terceira proteger a sade humana

    As emisses ligadas queima de combustveis fsseis xidos sulfricos (SOx) e xi-dos ntricos (NOx), por exemplo com frequencia contribuem para as pessoas adoe-cerem ou at mesmo as leva morte. A poluio do ar elimina 8,6 meses da vida de um europeu mdio, fazendo com que 310.000 pessoas do continente morram, a cada ano, antes da hora. Mundialmente, trs milhes de pessoas morrem por ano devido a poluio do ar, afirma a Organizao Mundial de Sade. Pessoas saudveis geralmente no percebem o mal que o ar poludo lhes causa, mas aqueles afetados pelas doenas pulmonares e cardacas provavelmente sentem seu impacto. A poluio impregnante: vem dos veculos, usinas eltricas e fbricas. Causam tambm danos ao mundo natural, por meio da chuva cida e da fumaa. O maratonista Haile Gebreselassie recusou-se a competir nas Olimpadas de 2008 porque, disse ele, a poluio de Pequim toda relacionada aos combustveis fsseis era muito perigosa para a sua sade.

    Quarta impulsionar a economia

    Os indivduos que reduzem o seu consumo de energia e deste modo o seu impacto climtico tambm poupam dinheiro. Num nvel mais macroeconmico, as medidas tomadas para reduzir os GEEs geram oportunidades econmicas: o isolamento dos edifcios, por exemplo, no s poupar custos de energia, mas dar tambm um im-pulso enorme na construo civil e criar empregos. Enquanto alguns setores podem ter gastos aumentados, muitos agarraro a oportunidade para inovar e dar um passo a frente dos seus concorrentes na adaptao s condies alteradas de mercado.

    A mitigao da mudana climtica vir de todos estes fatores direta ou indiretamente

    Entre todas as razes apresentadas para tentarmos diminuir a nossa pegada sobre o clima, a perspectiva das mudanas climticas , definitivamente, a mais urgente, porque causar as alteraes mais extremas diretamente na humanidade e tambm em todos os ecossistemas dos quais depende o nosso bem-estar. O Quarto Relatrio de Avaliao do IPCC, divulgado em 2007, descreve em detalhes diversos cenrios de emisses e os impactos associados elevao da temperatura.

    Uma das concluses do IPCC foi a de que o aquecimento causado pelas atividades antrpicas poderia gerar impactos abruptos e irreversveis. Os cientistas avisam que

  • INTRODUO MUDE O HBITO 23

    as mudanas climticas podem no ser um processo linear suave, com o mundo se aquecendo de maneira gradual e contnua, mas sim uma srie de saltos repentinos, como alteraes de um clima estvel para um outro radicalmente diferente. Pesquisas com ncleos de gelo mostram que isso aconteceu num passado distante, algumas vezes no espao de uma nica dcada. O clima pode se alterar muito rpido; vrios meteorologistas afirmam que o ritmo da mudana j muito mais rpido do que esperavam h dez anos.

    Nesta perspectiva, a mudana climtica to alarmante quanto qualquer ameaa que a humanidade enfrenta e, provavelmente, mais alarmante do que a maioria, porque a menos que haja uma alterao drstica os seus impactos parecem uma certeza.

    Assim, as mudanas climticas e os seus efeitos interessam basicamente a to-dos: o que est em discusso no o conforto ou estilo de vida, mas a sobre-vivncia. A segurana alimentar est em perigo, os refugiados climticos podem prejudicar a segurana poltica e alteraes mais desconfortveis colocaro a huma-nidade sob presso. Os cientistas nunca tentaram esconder a realidade exposta em suas pesquisas. O perigo que ameaa a Terra nunca foi mantido em segredo. Eles tentaram insistentemente apresent-lo de todas as maneira possveis, inclusive por intermdio de meios de comunicao de massa.

    Por muito tempo, embora a mensagem fosse a mais clara possvel, a audincia no foi receptiva. Mas, gradualmente, os esforos para divulgar os alertas da cincia passaram a dar resultado. A apatia e a resistncia comeam a desmoronar e a mensagem dos meteorologistas j atinge muitos. Desde a criao do IPCC, em 1988, a evidncia da mudana climtica induzida por atividades humanas se tornou mais forte. Atualmente, o IPCC afirma que h 90% de probabilidade da humanidade ser responsvel pela maior parte da elevao da temperatura do planeta e que o aquecimento acontece mais rapidamente do que o previsto em seus primeiros relatrios.

    Esse o incio da mudana que o planeta necessita.

    Uso de um celular durante um ano

    11260Fabricao de um telefone celular

  • MUDE O HBITO INTRODUO24

    Lidando com a mudana climtica: mitigao e adaptao

    Reduzir as nossas emisses de GEE significa tentar mitigar a mudana climtica, tentar diminuir o impacto esperado. Isto incluir novas polticas, tecnologias inova-doras e uma mudana no estilo de vida de todos ns. Porm, tudo certamente ter um preo. Ao mesmo tempo, temos que adotar imediatamente uma estratgia bem

    Em seu relatrio sobre a economia da mudana climtica, o especialista em desenvolvi-mento e ex-economista-chefe do Banco Mundial Nicolas Stern calculou os custos de se manter as concentraes de CO2 e abaixo do limite de 550 ppm em cerca de 1% do PIB global at 2050. Mas se no agirmos, ele afirma, os custos totais e os riscos da mudana climtica sero equivalentes perda de, pelo menos, 5% do PIB mundial a cada ano, permanentemente. Caso um conjunto mais amplo de riscos e impactos for levado em considerao, as estimativas de danos poderiam atingir 20% do PIB. O IPCC calculou o custo macroeconmico em menos de 3% do PIB para estabilizar o CO2 e na atmosfera entre 445 e 535 ppm at 2030. O Relatrio de Desenvolvimento Humano do PNUD de 2008 estima que o custo de se limitar a elevao da temperatura a 2C pode estar abaixo de 1,6% do PIB global at 2030. Estas estimativas, independentemente de qual a mais exata, so altas. Mas, com o gasto militar mundial em cerca de 2,5% do PIB global, esto longe de serem proibitivas.

    diferente, a adaptao, preparando-nos para lidar com as mudanas futuras inevit-

    Aes de adaptao so realizadas para lidar com um clima em mutao, como aumento das chuvas, temperaturas mais altas, recursos hidrcos mais escassos, tempestades mais frequentes, que j esto acontecendo no presente ou se antecipando a tais mudanas no futuro. A adaptao visa a reduo dos riscos e danos dos impactos prejudiciais da alterao do clima de maneira economicamente eficiente ou a explorao dos benefcios que podem ser gerados por esses impactos. Os exemplos de aes incluem a utilizao mais eficiente da gua escassa, a adaptao dos cdigos de edificao existentes para suportar as condies climticas futuras e eventos climticos extremos, a construo de barragens anti-inundaes, aumentando os nveis dos diques em relao elevao do nvel do mar, o desenvolvimento de espcies agrcolas resistentes s secas, a seleo de espcies e prticas florestais menos vulnerveis a tempestades e incndios no manejo florestal, o desenvolvimento de planos espaciais e de corredores para auxiliar as espcies a migrarem. (esta definio foi retirada do European Comissions Green Paper adapting to climate change in Europe options for EU Action, SEC(2007)849)

    veis (por causa do carbono preso na atmosfera e nos oceanos: muito do aquecimento que vivenciamos hoje foi causado pelos GEEs emitidos h vrias dcadas). A neutra-lidade climtica um caminho para a mitigao que auxiliar a reduzir os possveis danos. Isso, por sua vez, diminuir a necessidade da adaptao e aliviar os seus

  • INTRODUO MUDE O HBITO 25

    custos. A adaptao e a mitigao podem se complementar e juntas podem reduzir significativamente as consequncias das mudanas climticas antrpicas alteraes causadas pelas atividades humanas.

    A maioria dos gases de efeito estufa tem tanto fontes naturais como antrpicas. Exis-tem vrios processos naturais que liberam e armazenam GEEs; por exemplo, a ativi-dade vulcnica e os pntanos, que so responsveis por quantidades considerveis de emisses de GEE. A sua concentrao na atmosfera, consequentemente, tambm variou em pocas pr-industriais. Mas, hoje, as concentraes atmosfricas de CO2 e CH4 excedem em muito a variao natural dos ltimos 650.000 anos. claro que estas quantidades enormes esto intimamente ligadas s atividades antrpicas, tais como a queima de combustveis fsseis e a mudana no uso do solo, que liberam GEEs na atmosfera. A natureza no capaz de equilibrar esse desenvolvimento.

    Gordo x magro?

    Ento, quem precisa deixar o hbito e iniciar uma dieta climtica? Neste momento a res-posta simples, independentemente das complexidades. O acesso igualitrio energia uma prioridade em termos de desenvolvimento sustentvel. Este guia para todos que tm acesso energia e que tm a possibilidade de us-la de modo mais sustentvel e responsvel do que no presente. Isso significa, provavelmente, a maioria de ns.

    Alguns argumentaro que a mudana de hbito somente se aplica aos pases desenvolvidos. Afinal, eles so responsveis pela maior parte dos GEEs emitidos at agora. Os pases em desenvolvimento, em contraste, dependiam muito mais da agricultura at pouco tempo atrs (mas isso, junto com a mudana no uso do solo desmatamento e cultivo de lavouras em turfeiras e o mau manejo da floresta, tambm contribui para as mudanas climticas). Desnecessrio dizer que boa parte dessa produo agrcola exportada para consumidores no mundo desenvolvido com os seus apetites insaciveis.

    Usando a analogia da dieta, alguns poderiam afirmar que somente o gordo pode fa-zer uma dieta. O magro no tem excedente para queimar e somente se prejudicaria se tentasse emagrecer. Isso verdade at certo ponto. Mas, claro, existem pessoas e organizaes ricas e climaticamente irresponsveis no mundo em desenvolvimento, por exemplo as corporaes multinacionais, que podem se esforar para melhorarem.

    Certamente, a dieta para elas. As emisses de alguns pases em desenvolvi-mento resultam da dependncia dos pases ricos nas importaes. Muitos deles

  • MUDE O HBITO INTRODUO26

    produzem bens ou fornecem servios dos quais os pases desenvolvidos se be-neficiam. A neutralidade climtica para eles tambm. Por outro lado, existem pessoas vivendo em uma situao de pobreza energtica nos pases mais ricos que podem no precisar fazer corte algum nas suas emisses.

    Mas isto deixa inexplorado um ponto mais amplo: aqueles que j so climaticamente magros deveriam ter a oportunidade de ficarem mais gordos antes de diminurem para um peso ideal? Ou poderiam eles alcanar o estilo de vida desejado sem causar

    Emisses totais de CO2 da queima de combustvel fssil, produo de cimento e queima de gs

    Cartografia: SASI Group, University of Sheffield; Mark Newman, University of Michigan, 2006 (updated in 2008), www.worldmapper.org.Fonte de dados: Gregg Marland, Tom Boden, Bob Andres, Oak Ridge National Laboratory. Favor notar que os dados para Noruega so inexatos.

    A Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana Climtica (UNFCCC), adotada em 1992, divide os pases em Anexo I (pases industrializados e pases com economias em transio ) e partes Fora do Anexo I (principalmente pases em desenvolvimento).

    Alguns deles se comprometeram a reduzir assuas emisses de gases de efeito estufa ao adotaremo Protocolo de Quioto (1997).

    JapoChina

    India

    frica doSul

    Estados Unidos

    Reino Unido

    Frana

    Espanha

    Alemanha

    Itlia

    Coreia do Sul

    Hong Kong

    Tailndia

    Singapore

    O tamanho do pas proporcional s emisses nacionais de dixido de carbono em 2004.Pases do Anexo I

    Pases Fora do Anexo I

    No-participantes da UNFCCC

  • INTRODUO MUDE O HBITO 27

    muito dano, em termos de GEE? E se ficarem mais gordos, isso significa que aqueles que j so gordos concordaram em se tornar mais magros? No so muitos os polticos que defenderiam uma plataforma de campanha que informasse que os eleitores deveriam esperar menos das coisas boas da vida no futuro. O argumento vai alm da questo estrita das mudanas climticas, porque abarca toda a gama de recursos que a sociedade moderna demanda. Mas ainda sobre os gases de efeito estufa, porque a energia o que faz as coisas acontecerem est praticamente em tudo que de fato acontece.

    Emisses totais de CO2 da queima de combustvel fssil, produo de cimento e queima de gs

    Cartografia: SASI Group, University of Sheffield; Mark Newman, University of Michigan, 2006 (updated in 2008), www.worldmapper.org.Fonte de dados: Gregg Marland, Tom Boden, Bob Andres, Oak Ridge National Laboratory. Favor notar que os dados para Noruega so inexatos.

    A Conveno Quadro das Naes Unidas sobre Mudana Climtica (UNFCCC), adotada em 1992, divide os pases em Anexo I (pases industrializados e pases com economias em transio ) e partes Fora do Anexo I (principalmente pases em desenvolvimento).

    Alguns deles se comprometeram a reduzir assuas emisses de gases de efeito estufa ao adotaremo Protocolo de Quioto (1997).

    JapoChina

    India

    frica doSul

    Estados Unidos

    Reino Unido

    Frana

    Espanha

    Alemanha

    Itlia

    Coreia do Sul

    Hong Kong

    Tailndia

    Singapore

    O tamanho do pas proporcional s emisses nacionais de dixido de carbono em 2004.Pases do Anexo I

    Pases Fora do Anexo I

    No-participantes da UNFCCC

  • MUDE O HBITO INTRODUO28

    Quem responsvel?

    A responsabilidade individual pela mitigao das mudanas climticas decresce com a diminuio do poder econmico. Nos pases pobres, mais responsabilidade recai sobre aqueles que podem agir, tais como os governos e as empresas.

    O Relatrio de Desenvolvimento Humano de 2008 do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento faz uma distino til entre os pases desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento. Para se manter a elevao da temperatura global abaixo de 2C, o relatrio sugere uma reduo de 80% nas emisses das naes desenvolvidas at 2050, com diminuio de 30% at 2020. Nesse cenrio, os pases em desenvolvimento necessitariam cortar suas emisses em 20% at 2050, com as emisses se elevando at 2020. As emisses mdias tanto nas naes desenvolvidas como naquelas em desenvolvimento convergeriam para cerca de 2 toneladas de CO2e per capita at 2060.

    Uma outra distino est entre os pases menos desenvolvidos (LDCs, na sigla em ingls), e aqueles em rpido desenvolvimento, como o Brasil, a Rssia, India e China (BRICs).

    Embora os pases desenvolvidos necessitem cortar as suas emisses, alguns analistas sugerem que os BRICs deveriam visar minimizar as suas emisses, em elevao, por meio da tecnologia limpa, ultrapassando o bloco industrializado. Os LDCs deveriam fazer o mesmo, mas com nfase adicional em prover a proteo de seus ecossiste-mas, por exemplo, distanciando-se do carvo vegetal e protegendo as florestas e outros sumidores de carbono. Em debates futuros sobre a quota das responsabi-lidades na reduo das emisses de GEE, a questo do financiamento da ao ser central. A prxima rodada de negociaes para um acordo ps-Quioto ter de tratar destas questes.

  • INTRODUO MUDE O HBITO 29

    MUDE O HBITO

    CCCCO PROBLEMA

  • MUDE O HBITO O PROBLEMA30

    Se voc quer reduzir os gases de efeito estufa, importante saber de onde eles

    A produo de energia , sozinha, a principal atividade que gera emisses de GEE, es-pecialmente porque a maior parte dela produzida a partir de combustveis fsseis, tais como petrleo, gs e carvo, este ltimo usado principalmente para gerar eletricidade. O carvo, especialmente o carvo marrom (tambm conhecido como linhita), a fonte energtica com as maiores emisses de GEE por unidade de energia. Sua queima gera 70% a mais de CO2 do que o gs natural para cada unidade de energia. Ao mesmo tempo, o carvo barato e o combustvel fssil mais amplamente disponvel. Segundo o World Coal Institute, ele est presente em quase todos os pases, com minerao comercial em mais de 50. tambm o combustvel fssil com a projeo de maior dispo-nibilidade. Nos nveis atuais de produo, estar disponvel por, pelo menos, mais 155 anos (comparado com 41 anos para o petrleo e 65 para o gs).

    Porm, os nveis atuais de produo no permanecero estticos. Enquanto o uso do carvo diminui na Europa Ocidental, ele se eleva na sia e nos Estados Unidos. A regio sia-Pacfico ser o principal mercado de carvo com 58% do consumo global caso as tendncias atuais se mantenham. A regio tem o maior consumidor (China), o maior expor-tador (Austrlia) e o maior importador (Japo) mundial de carvo.

    Os compromissos internacionais, o progresso de novas tecnologias tais como Captura e Armazenamento de Carbono (CCS, ver pgina 88) e o aumento na eficincia das grids de eletricidade, os processos industriais, etc., so meios para reduzir as emisses de GEE correlacionadas ao carvo. Mas o desafio mais importante desenvolver uma alternativa limpa, amplamente disponvel e acessvel para satisfazer as necessidades de energia do mundo (ver pgina 144).

    O efeito estufa um mecanismo importante para regular a temperatura. A Terra retorna a energia recebida do sol para o espao ao refletir a luz e emitindo calor. Parte do calor despreendido absorvido pelos gases de efeito estufa e irradiado de volta para a Terra. Embora ocorram naturalmente, as atividades antrpicas aumentaram a sua presena na atmosfera. Os gases de efeito estufa variam consideravelmente nas quantidades emitidas, mas tambm em seu efeito de aquecimento e no perodo de tempo que permanecem na atmosfera como agentes ativos do aquecimento.

    vm. Ento, quais so algumas maneiras bvias de emitir GEEs, nas quais todos pode-mos estar envolvidos, provavelmente sem mesmo perceber? Aqui esto algumas das mais evidentes.

    Energia para...

    A energia est envolvida em quase tudo que fazemos. Dependendo da fonte

    de energia, da eficincia no seu uso e do resduo criado neste processo, sua utiliza-o e produo emite de zero a enormes quantidades de GEEs.

  • O PROBLEMA MUDE O HBITO 31

    0 300 km

    Mar Mediterrneo

    MarBlticoMar do

    Norte

    Oceano

    Atlntico

    Os Trinta Sujos da Europa

    Alemanha

    Polnia

    Itlia

    Grcia

    JNSCHWALDE

    ReinoUnido

    EspanhaPortugal

    MANNHEIM

    BRINDISI

    NIEDERAUEM

    NEURATH

    TUROW BELCHATOW

    KOZIENICE

    RYBNIK

    LONGANNET

    WEST BURTON RATCLIFFE KINGSNORTH

    EGGBOROUGH FERRYBRIDGE

    DIDCOT

    FIDDLERS FERRY DRAX

    COTTAM

    PRUNEROV

    SCHWARZE PUMPE

    BOXBERG LIPPENDORF

    AS PONTES

    SINES

    KARDIA AGIOS

    DIMITRIOS

    FRIMMERSDORF

    SCHOLVEN

    WEISWEILER

    Favor notar: Estas no so as usinas eltricas mais emissoras, mas as menos eficientes. Esta classificao compara somente as usinas localizadas na Unio Europeia(25 pases na poca do estudo). O estudo cobre somente as usinas eltricas que servem a oferta pblica de eletricidade.

    Rep. Checa

    Fonte: World Wide Fund for Nature, usando o European Pollutant Emission Register e o Community Independent Transition Log of the European Union Emission Trading Scheme, 2007 (dados de 2006).

    Gramas de CO2 por Kilowatt hora(In)eficincia das usinas eltricas Classificao do WWF das 30 usinas eltricas mais sujas da Europa

    620 a 850

    850 a 1 000

    1 000 a 1 150

    1 150 a 1 350

    rea de Estudo (EU25)Novos membros da UE (fora do estudo)

    Todas estas usinas de eletricidade queimam carvo (carvo marrom nas mais sujas).

  • MUDE O HBITO O PROBLEMA32

    Estados Unidos

    Estados Unidos

    Estados Unidos

    Canad

    Brasil *

    Colmbia *

    Paraguai *

    Argentina *

    Canad

    Canad

    AlemanhaAlemanha

    Alemanha

    Ucrnia

    Itlia

    Itlia

    Turquia

    Reino Unido Reino

    Unido

    Frana

    Frana

    Frana

    EspanhaEspanha

    Japo

    JapoChina *

    ndia

    Paquisto China

    ndia *

    Brasil

    Russia

    Coria doSul

    Rssia

    Camares *

    Austrlia Austrlia

    Indonsia *

    Transporte

    Processos industriais

    Agricultura

    Crculos tracejados: dados da IEA (clculo diferente)

    Fontes: UNFCCC, 2007; International Energy Agency, 2004.

    Emisses de gases de efeito estufa em trs setores

    Os dados so dos relatrios nacionais enviados UNFCCC. Para os pases em desenvolvimento (fora do Anexo I), os dados so antigos ou inexistentes.Para melhor refletir a realidade, escolhemos sobrepor os dados de 2000 da Agncia Internacional de Energia (IEA, na sigla em ingls) (crculos tracejados). Favor observar que os mtodos de clculos so diferentes.

    Dados so para 2004, exceto * (1994) e crculos tracejados (2000).

    Somente as emisses acima de 40 milhes de tonedadasde CO2 equivalente esto representedas.

    1 800

    1 000

    500

    200

    Milhes de toneladasde CO2 equivalente

  • O PROBLEMA MUDE O HBITO 33

    Estados Unidos

    Estados Unidos

    Estados Unidos

    Canad

    Brasil *

    Colmbia *

    Paraguai *

    Argentina *

    Canad

    Canad

    AlemanhaAlemanha

    Alemanha

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    Reino Unido Reino

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    Frana

    Frana

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    EspanhaEspanha

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    JapoChina *

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    Paquisto China

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    Brasil

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    Coria doSul

    Rssia

    Camares *

    Austrlia Austrlia

    Indonsia *

    Transporte

    Processos industriais

    Agricultura

    Crculos tracejados: dados da IEA (clculo diferente)

    Fontes: UNFCCC, 2007; International Energy Agency, 2004.

    Emisses de gases de efeito estufa em trs setores

    Os dados so dos relatrios nacionais enviados UNFCCC. Para os pases em desenvolvimento (fora do Anexo I), os dados so antigos ou inexistentes.Para melhor refletir a realidade, escolhemos sobrepor os dados de 2000 da Agncia Internacional de Energia (IEA, na sigla em ingls) (crculos tracejados). Favor observar que os mtodos de clculos so diferentes.

    Dados so para 2004, exceto * (1994) e crculos tracejados (2000).

    Somente as emisses acima de 40 milhes de tonedadasde CO2 equivalente esto representedas.

    1 800

    1 000

    500

    200

    Milhes de toneladasde CO2 equivalente

  • MUDE O HBITO O PROBLEMA34

    Produo e consumo

    Desde 1987, a populao da Terra aumentou quase 30% e a produo econmica glo-bal cresceu 76%. A mdia da renda per capita nacional dobrou de aproximadamente US$3.300 para US$6.400. E praticamente tudo necessita de energia para ser produzi-do. O fornecimento global de energia primria (80% dela suprida pelos combustveis fsseis) aumentou, entre 1987 e 2004, em 4% anualmente. A previso a de que a demanda por energia ir crescer pelo menos 50% at 2030, j que os pases em desenvolvimento rpido como Brasil, Rssia, ndia e China continuam com um ritmo acelerado de crescimento. Uma anlise recente feita por economistas da University of California em Berckeley e da University of California em San Diego demonstrou que a taxa de crescimento anual das emisses para a China ser de, pelo menos, 11% para o perodo entre 2004 e 2010. Entretanto, deve-se ter em mente que, com cerca de 4 toneladas de CO2 per capita, a China ainda emite s a metade da Espanha, e somente um quinto do emitido por um cidado mdio dos EUA.

    Quase tudo que produzimos e consumimos hoje significa emisses de GEE, por no usarmos muito a energia renovvel ou no vivermos de forma muito sustentvel. Grande parte do que usamos pode vir com embalagem suprflua. Isso , por si

    s, um problema com o descarte, uma perda de energia e uma fonte de emisses. E muito do que se compra acaba sendo jogado fora mais cedo ou mais tarde. O lixo se decompe, emitindo metano se for matria orgnica, ou emitindo CO2 se for quei-mado. O lixo e a gua usada somam cerca de 3% das emisses de GEE provenientes de atividades antrpicas.

    ... Transporte

    Mas no somente o consumo cada vez maior, de produtos e bens que demanda muita energia. Ir de um lugar para outro tambm. A maioria de ns valoriza o trans-porte ou talvez no d a ele o devido valor, presumindo, em vez disso, que ele

    O alumnio, por exemplo, um produto altamente intensivo em energia. A produo de um quilo de alumnio exige cerca de 14 KWh de eletricidade. Em termos prticos, significa que com a energia necessria para produzir um 1 metro de papel alumnio padro, seria possvel iluminar uma cozinha com um lmpada comum (60W) por mais de duas horas ou por 13 horas com uma lmpada de baixo consumo (11 W). O alumnio reciclado exige somente 5% da energia necessria para produzir alumnio novo.

  • O PROBLEMA MUDE O HBITO 35

    Fonte: Evaluation des politiques publiques au regard des changements climatiques, Climate Action Network (RAC), French Environmental and Energy Management Agency (Ademe), December 2005.

    Poro das emisses de gs de efeito estufa relacionadas ao transporte

    0

    10

    20

    40

    50

    60

    80

    70

    90

    100%

    30

    Ferrovirio

    Martimo

    Areo

    Rodovirio79,5%

    13%

    7%

    0,5%

    Contribuio varivel mudana climtica

  • MUDE O HBITO O PROBLEMA36

    ... na classe executiva

    ...na classe econmica

    510

    220

    Voar mil quilmetros em primeira classe(voos de longa durao, emisses por passageiro)

    770

    Os carros novos se tornam mais e mais eficientes, mas esta tendncia contrabalance-ada com mais milhas viajadas e mais veculos nas estradas. Segundo o World Resour-ces Institute, a produo mundial de veculos aumentou em cerca de 14% entre 1999 e 2005. Na ndia, a Tata Motors lanou o carro mais barato do mundo, o Tata Nano, no incio de 2008. Este vendido por 100.000 rpias, ou US$2.500. Os Nanos substituiro muitos veculos de motor de dois tempos altamente poluidores. E os seus donos tm tanto direito de dirigir quanto qualquer outro. A Tata comear produzindo cerca de 250.000 Nanos e espera que a demanda anual eventualmente chegue a 1 milho de carros, em adio aos 13 milhes j nas estradas do pas atualmente. Por outro lado, especialistas afirmam que as emisses de gases de efeito estufa na ndia se elevaro quase sete vezes caso as viagens de carro permaneam sem verificao.

    nosso direito. O transporte individual e comercial consome cerca de 20% da oferta global de energia, que 80% oriunda dos combustveis fsseis. Assim, quanto mais um indivduo adquire ou consome bens que tiveram que ser transportados at o local de uso, maior ser a sua pegada climtica. Globalmente, a energia usada no transporte rodovirio responsvel pela maior parte das emisses relativas ao

    transporte, representando mais de 70% do emitido pelo setor. O transporte rodovirio teve um aumento de 46,5% nas emisses entre 1987 e 2004. O transporte areo est em rpida expanso: o nmero de quilmetros voados se elevou em 80% entre 1990

  • O PROBLEMA MUDE O HBITO 37

    ... em avio demdia distncia(5.000 a 8.000 km)

    ...em avio delonga distncia(mais de 8.000 km)

    209

    117

    Transporte de uma toneladade mercadorias por 100 quilmetros

    via trem na Europa

    2,3

    Transporte de uma toneladade mercadorias por 100 quilmetros

    em avio de pequenas distncias(menos de 5.000 km)

    330

    Estimativas para1996

    437

    Estimativas para2007

    Milhes de tons de CO21 210

    800

    Quanto os naviosemitem?

    A frota martima do mundo emite atualmente 1,21 bilhes de toneladas [ de CO2 ] por ano, constituindo aproximada-mente 4,5% das emisses mundiais, afirma o esboo do relatrio da ONU visto pelothe Guardian.

    Fontes: Inputs from the International Maritime Organisation (IMO); John Vidal, Shipping boom fuels rising tide of global CO2 emissions, The Guardian, 13 de fevereiro de 2008; www.oceana.org/climate.

    Fonte: Study of Greenhouse Gas Emissions from Ships, Final Report to the International Maritime Organisation, maro de 2000.

    A participao do setor de transporte martimo nas emisses globais de CO2 em 2007, devido ao aumento significativo no comrcio mundial, est atualmente em cerca de 3 %. [aproximdamente 800 milhes de toneladas de dixido de carbono a cada ano]

    e 2003. De acordo com um relatrio indito da Organizao Martima Internacional, os navios emitiram cerca de 800 milhes de toneladas de CO2 em 2007, o que re-presenta quase 3% das emisses globais. Isso significa que as emisses relativas ao transporte martimo quase dobraram nos ltimos dez anos. Outras fontes indicam nmeros ainda maiores at 1.210 bilhes de toneladas ou aproximadamente 4,5% das emisses totais de CO2.

  • MUDE O HBITO O PROBLEMA38

    ... e Habitao

    As edificaes so responsveis por mais de 40% do uso de energia nos pases da OCDE e, em nvel global, respondem por 30% das emisses de GEE, segundo a Sustainable Building and Construction Initiative (Iniciativa de Construo Sustentvel do PNUMA). Em termos absolutos, a quantidade utilizada se eleva rapidamente, j que o ritmo de criao de novas construes vem se mantendo, particularmente nos pases de desenvolvimento rpido. O aquecimento, a refrige- rao e a iluminao de nossas casas, alm do uso dos aparelhos eletrodomsticos, absorvem 11% da energia mundial. Entretanto, uma residncia comum do Reino Unido poderia economizar anualmente cerca de duas toneladas de CO2 ao se tornar energeticamente eficiente: essencialmente, melhorando os sistemas de

    O projeto de Eficincia Energtica em Edificaes (EEB, na sigla em ingls), do World Business Council for Sustainable Development, conclui que com o corte de cerca de 30% no uso de energia nas edificaes, o consumo energtico da Europa cairia em 11%, mais da metade da meta de 20-20-20 (20% menos dixido de carbono at 2020, com 20% de energia renovvel na matriz enegtica). Alm disso, economizaria dinheiro.

    A indstria do cimento contribui com cerca de 5% das emisses antrpicas globais de CO2, o que a torna um alvo importante para estratgias de mitigao das emisses de CO2. Embora o concreto possa ser reciclado ao ser quebrado e utilizado para substituir o cascalho na construo de rodovias, o cimento no tem potencial vivel de reciclagem; toda nova rodovia e edificao precisa de cimento novo. Nas economias em expanso da sia Europa Oriental, as novas construes tanto incentivam como so consequncia do aumento da riqueza, o que tambm justifica o fato de aproximadamente 80% de todo o cimento ser produzido e usado nas economias emergentes.

    isolamento trmico, aquecimento e iluminao.

    A construo em si afeta as emisses de GEE. O cimento um exemplo de mate-

    rial de construo de alta emisso, enquanto a madeira renovvel e, deste modo, climaticamente amigvel. Mas cuidado: h madeira boa e madeira no to boa. Caso uma floresta seja cortada para se construir casas e no seja replantada depois, o CO2 adicional ser emitido do mesmo modo que o concreto (isto vale tambm para os mveis).

    Agricultura

    A agricultura um setor com importante contribuio para as mudanas climticas, com volume de emisses de GEE comparveis ao setor de transporte. Em primeiro lugar, h o carbono emitido pelo cultivo e pelo desmatamento. H, tambm, o uso

  • O PROBLEMA MUDE O HBITO 39

    Fonte: Greenpeace, Cool farming: Climate impacts of agriculture and mitigation potential, janeiro de 2008 (dados de 2005).

    Bilhes de toneladas de CO2 equivalente por ano Emisses mdias

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    Emisses da agricultura

    Metano da flatulncia e arrotosde rebanhos

    Converso de terra para agricultura

    Estimativas variam de 3 a 9 milhes de toneladas(6 a 17% de todos os gases de efeito estufa emitidos)

    Esterco

    Oxido nitroso dos solos fertilizados

    Produo de fertilizante e agrotxicos

    Queima de biomassa

    Produo de arroz

    Maquinria agrcola(arao, semeadura, pulverizao, colheita)

    Irrigao

  • MUDE O HBITO O PROBLEMA40

    OCEANOPACFICO

    OCEANOATLNTICO

    NDIA

    FRICA DO SUL

    RUSSIA

    ALEMANHAESTADOSUNIDOS

    JAPO

    CHINA

    OCEANOATLNTICO

    OCEANONDICO

    O carvo sujo veio para ficar

    Pico do Petrleo Produo de petrleo

    O final da era do petrleo

    30

    1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030

    1980 1990 2000 2010 2020 2030

    2040 2050

    20

    10

    0

    60

    30

    40

    50

    10

    20

    0

    Bilhes barrs por ano

    Consumo de carvo

    membros da OCDE

    Pases nomembros da OCDE

    pases

    Bilhes de Kilowatt horas

    Projeo

    Forecast

    Fontes: BP Statistical Review of World Energy 2007; US Department of Energy Information Administration (EIA), International Energy Annual 2004, 2006; EIA, System for the Analysis of Global Energy Markets, 2007; World Energy Council, Survey of Energy Resources 2004; Coaltrans World Coal Map 2005; International Energy Agency; OECD Glossary of Statistical Terms, 2008; Atlas Environnement du Monde Diplomatique 2007; Colin Campbell, Association for the study of peak oil and gas, 2007.

    sia Pacfico

    frica e Oriente Mdio

    Amrica do Sul e Central

    Europa e Eursia

    Amrica do Norte

    Carvo marrom *

    Carvo duro **

    Em vermelho, os consumidoresmais importantes

    Principais bacias produtoras

    Os produtores de carvo j tiram vantagens da escassez de petrleo e podero tirar ainda mais no futuro.

    * Linhita carvo sub-betuminoso (o mais sujo) e

    Em 2004, 43% da eletricidade produzida no mundo veio do carvo.

    Em marrom: poro de linhitae carvo sub-betuminoso

    300

    200

    100

    20

    Bilhes de toneladasReservas de carvo no final de 2006

    ** Antracita e carvo betuminoso (carvo metalrgico e carvo para caldeiras a vapor)

  • O PROBLEMA MUDE O HBITO 41

    OCEANOPACFICO

    OCEANOATLNTICO

    NDIA

    FRICA DO SUL

    RUSSIA

    ALEMANHAESTADOSUNIDOS

    JAPO

    CHINA

    OCEANOATLNTICO

    OCEANONDICO

    O carvo sujo veio para ficar

    Pico do Petrleo Produo de petrleo

    O final da era do petrleo

    30

    1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030

    1980 1990 2000 2010 2020 2030

    2040 2050

    20

    10

    0

    60

    30

    40

    50

    10

    20

    0

    Bilhes barrs por ano

    Consumo de carvo

    membros da OCDE

    Pases nomembros da OCDE

    pases

    Bilhes de Kilowatt horas

    Projeo

    Forecast

    Fontes: BP Statistical Review of World Energy 2007; US Department of Energy Information Administration (EIA), International Energy Annual 2004, 2006; EIA, System for the Analysis of Global Energy Markets, 2007; World Energy Council, Survey of Energy Resources 2004; Coaltrans World Coal Map 2005; International Energy Agency; OECD Glossary of Statistical Terms, 2008; Atlas Environnement du Monde Diplomatique 2007; Colin Campbell, Association for the study of peak oil and gas, 2007.

    sia Pacfico

    frica e Oriente Mdio

    Amrica do Sul e Central

    Europa e Eursia

    Amrica do Norte

    Carvo marrom *

    Carvo duro **

    Em vermelho, os consumidoresmais importantes

    Principais bacias produtoras

    Os produtores de carvo j tiram vantagens da escassez de petrleo e podero tirar ainda mais no futuro.

    * Linhita carvo sub-betuminoso (o mais sujo) e

    Em 2004, 43% da eletricidade produzida no mundo veio do carvo.

    Em marrom: poro de linhitae carvo sub-betuminoso

    300

    200

    100

    20

    Bilhes de toneladasReservas de carvo no final de 2006

    ** Antracita e carvo betuminoso (carvo metalrgico e carvo para caldeiras a vapor)

  • MUDE O HBITO O PROBLEMA42

    de combustveis fsseis para a produo de fertilizantes ou de outros produtos qumicos para a agricultura, para as mquinas da agricultura intensiva, bem como para o transporte de animais e de colheitas das fazendas para o mercado. Mas os GEEs mais importantes emitidos pela agricultura so o metano e xido ntrico, o que ressalta a necessidade de que a atividade se torne climaticamente neutra no s em relao ao carbono. Isso se deve principalmente produo de carne.

    Os bovinos, bfalos, ovelhas e outros ruminantes so animais com um estmago especial que lhes permite digerir matria vegetal dura. A digesto produz metano, do qual o animal se desfaz ao liber-lo por quaisquer das extremidades. J a liberao do xido ntrico ligada sobretudo ao uso de fertilizantes artificiais de nitrato para melhorar a produtividade. O fertilizante nitrogenado, em especial, extremamente intensivo em carbono, exigindo1,5 toneladas de petrleo equivalentes para produzir uma tonelada de fertilizante.

    Um estudo de 2006 sobre os impactos da cadeia produtiva de alimentos em toda

    Se voc fizer uma anlise do ciclo de vida da cadeia de alimentos deve incluir como fatores: a produo agrcola, a industrializao, a refrigerao, o transporte, a embalagem, o varejo, o armazenamento domiciliar, o cozimento e o descarte do lixo. Alimentos diferentes causam impactos em etapas diferentes. As batatas, feijes e folhas de ch, por exemplo, precisam de menos gases de efeito estufa para crescer do que para serem cozidas assar uma batata num forno, cozinhar gro de bico por uma hora at amolecer ou ferver a chaleira para o ch consome quantidades significativas de energia. No caso dos legumes congelados, a refrigerao a etapa-chave da emisso. Considerar todos estes fatores e obter todas as informaes necessrias pode ser uma tarefa difcil, portanto realizar uma avaliao qualitativa pode algumas vezes ser uma boa alternativa e a soluo mais prtica.

    1 740 3 500

    370

    320

    230

    Emisso anual de metano por flatulncia e arrotos

    de uma vaca

    ... de um cabrito

    ... de um carneiro

    ... de um porco

    ... de um boi

    a Unio Europeia concluiu que ela responsvel por 31% de todas as emisses de GEE da regio.

    Mudana no uso do solo e desmatamento

    Uma outra parte importante do CO2 na atmosfera vem das mudanas no uso do solo, responsveis por quase 20% do carbono na atmosfera. As rvores e outros vegetais removem o carbono da atmosfera em seu processo de crescimento. Quando em decomposio ou quando queimadas, muito deste carbono armazenado escapa, retornando atmosfera.

  • O PROBLEMA MUDE O HBITO 43

    O desmatamento tambm causa a liberao do carbono armazenado no solo (assim como a aragem tambm o faz), e caso a floresta no seja restaurada posteriormente, a terra arma-zenar muito menos CO2.

    Um nmero crescente de rebanhos nos sistemas agrcolas modernos, intensivos em energia, recebe rao altamente energtica, como a soja, frequentemente produzida nos pases em desenvolvimento (e com frequncia usada nos desenvolvidos). Para obter terra para plant-la, os agricultores algumas vezes transformam a floresta em pastagem. Assim, a escolha da nossa refeio tem consequncias diretas para o clima. Um relatrio da Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao (FAO) concluiu que, globalmente, o gado responsvel por 18% das emisses de GEE (37% das emisses antrpicas totais de metano e 65% das emisses globais de xido nitroso), um nmero que inclui o desmatamento para limpar o solo para os animais e as emisses associadas.

    A agricultura s uma das razes do desmatamento. Atividades que resultam em distrbio do solo, tais como garimpo a cu aberto ou construo de cidades que se alastram, so outras presses sobre a floresta virgem. A destruio das vrzeas e dos alagados tambm destrem os sumidouros de carbono.

    1 740 3 500

    370

    320

    230

    Emisso anual de metano por flatulncia e arrotos

    de uma vaca

    ... de um cabrito

    ... de um carneiro

    ... de um porco

    ... de um boi

  • MUDE O HBITO O PROBLEMA44

    Mudana no Uso do Solo

    Agricultura

    Lixo

    Transporte

    Eletricidade & Aquecimento

    Indstria

    Emisses Fugitivas

    Combusto de outro combustvel

    Dixido de Carbono

    (CO2) 77%

    (CH4) 14%

    (N2O) 8%

    Metano

    xido Nitroso

    HFCs,PFCs,SF61%

    Solos Agrcolas

    Rebanho & Esterco Cultivo de arroz Outras Agriculturas Aterros Sanitriosgua usada, Outros Resduos

    Uso Agrcola de Energia

    Perdas na transmisso e distribuio Minerao de Carvo

    Extrao Petrleo/Gs, Refino & Processamento

    Desmatamento Plantao de Floresta Reflorestamento Colheita/Gesto Outro

    Cimento

    Outra Indstria

    Qumicos

    Alumnio/Metais No-Ferrosos

    Alimentos & Tabaco Celulose, Papel & Impresso Maquinrio

    Rodovia

    AreoFerrovia, Martimo& Outros Transportes

    Combusto no alocada de combustvel

    Edifcios Comerciais

    Edifcios Residenciais

    Ferro & Ao

    Setor Uso Final/Atividade Gs

    Todos os dados so de 2000. Todos os clculos baseiam-se em CO2 equivalentes, usando potenciais de aquecimento global em um perodo de 100 anos do IPCC (1996), baseado na estimativa total global de 41 755 MtCO2 equivalente. A mudana no uso do solo inclui tanto as emisses como as absores. As linhas tracejadas representam fluxos abaixo de 0,1% por cento das emisses totais de GEE .

    Fonte: World Resources Institute, Climate Analysis Indicator Tool (CAIT),Navigating the Numbers; Greenhouse Gas Data and International Climate Policy, December 2005; Intergovernmental Panel on Climate Change, 1996 (dados de 2000).

    Processos Industriais

    EN

    ER

    GI

    A

    Emisses mundiais de Gases de Efeito Estufa por setor

    18,2%

    13,5%

    3,6%

    3,4%

    13,5%

    24,6%

    10,4%

    3,9%

    9%

    6%

    5,1% 1,5% 0.9% 2%

    1.6%

    1,4%

    1,9%1,4%

    6,3%

    18,3% -1,5% -0,5% 2,5%

    -0,6%

    3,8%

    5,0%

    4,8%

    1% 1%

    1,4%

    1%

    9,9%

    1,6% 2,3%

    3,5%

    5,4%

    9,9%

    3,2%

  • O PROBLEMA MUDE O HBITO 45

    MUDE O HBITO

    CCCCOS ATORES

  • MUDE O HBITO OS ATORES46

    Ento existe um problema que urgente e afeta quase todos os setores da nossa vida. Algo precisa ser feito. Mas o qu? E quem deveria faz-lo? Polticos? Absolutamente. Empresas e indstrias? Certamente. Cincia e tecnologia? Obviamente. As Naes Unidas? Claro. Mas se queremos realmente um mundo mudado, necessrio nos lembrarmos por onde comear: seja a mudana que voc deseja ver! No fundo, cabe a cada um de ns. Um indivduo sozinho no ir fazer a menor diferena, mas milhes de indivduos juntos podem fazer toda a diferena. O abismo se estende diante de ns, mas ningum ir transp-lo num nico salto. Fazer o impossvel envolve comear de onde estamos, como forma de provocar ao naqueles que podem fazer uma diferena real, tais como os governos.

    Em pronunciamento na Conferncia das Naes Unidas sobre o Clima em Bali, em dezembro de 2007, o diretor-executivo do PNUMA, Achim Steiner, afirmou: A cincia, mas tambm a experincia diria de milhes pessoas, cada vez mais nos diz que as mudanas climticas so uma realidade. Cuidar delas uma oportunidade que podemos perder. Ento, por que no cuidar agora? E, caso no seja aqui, aonde? Se no agora, quando?

    H diversas opinies disponveis sobre como se tornar climaticamente neutro. Este livro pretende apontar algumas fontes e guias que podero ser mais teis. A publica-o contm indicaes para indivduos; pequenas e grandes organizaes; cidades e pases. Obviamente, estas no so categorias separadas e bem delimitadas.

    INDIVDUOS

    O comprometimento individual crucial. Todos os grupos sociais so formados por indivduos: somos responsveis pelas escolhas que fazemos. Mas tambm vivemos em cidades, pertencemos a ONGs, podemos trabalhar em uma organizao pequena ou grande e somos cidados de nossos pases, com mais ou menos poder democr-tico para influenciar as polticas nacionais. Portanto, temos que aceitar o fato de que nossa responsabilidade em cada uma destas esferas diferente e agir para empode-rarmos a ns mesmos e aos outros. Isso soa como uma exigncia absurda numa era em que, para muitos, a satisfao e a realizao pessoal o que importa. Mas assim to diferente de aceitar a responsabilidade de cuidar da prpria sade?

    Como indivduos, somos responsveis pelos GEEs que emitimos diretamente por meio das nossas aes dirias a maneira como vivemos, como nos locomovemos, alm

  • OS ATORES MUDE O HBITO 47

    de o qu consumimos e da forma como consumimos. Mas indiretamente tambm

    O Worldwatch Institute argumenta a respeito das estratgias para a reduo de GEE por empresas:... E h dinheiro na minimizao no uso de energia. Uma pesquisa realizada em um pas industrializado mostra que a falta de tempo e de expertise em medir e reduzir as emisses de carbono est impedindo as pequenas e mdias empresas de economizar a quantidade de energia que poderiam. Muitos subestimam a economia que poderiam realizar: quase 23% dos pesquisados acreditavam que suas empresas poderiam economizar somente entre 1% e 4% nas contas de energia, embora a mdia fosse 10%. Ainda assim, uma em cada trs empresas que mediram as suas emisses afirmaram ter feito isso para ganhar competitividade. O mesmo nmero tambm afirmou desejar se adaptar antes que a legislao exija.

    Alguns podem usar do argumento de que o que feito pelo indivduo muito pouco para afetar o planeta e, por isso, ele no precisa se preocupar em realizar esforo al-gum. Estas pessoas talvez no estejam conscientes de que, mesmo no emitindo dire-tamente, o seu estilo de vida tem influncia direta nas emisses de GEE e que, embora indiretamente, as coisas poderiam ser mudadas com a sua influncia. Se detalharmos, por exemplo, as emisses de GEE de um europeu tpico em cotas individuais, menos de 50% so emisses diretas (tais como dirigir um carro ou usar um aquecedor), en-quanto o resto so emisses indiretas e os indivduos no tm controle direto sobre elas. 20% so causadas pelos produtos que consumimos e as emisses que adviram na sua produo e deposio, 25% da eletrificao dos locais de trabalho, e 10% da manuteno da infratestrutura pblica. As instituies financeiras, por exemplo, tm relativamente poucas emisses de GEE em proporo ao seu tamanho. Reduzir as emisses relativas s viagens ou s construes uma boa idia. Mas elas podem exercer uma influncia muito maior sobre os projetos que financiam, exigindo que sejam mais climaticamente amigveis.

    influenciamos o que emitido ao fazermos escolhas mais ou menos relevantes em termos de clima que tipo de produtos compramos, que polticos apoiamos, em que tipo de ao investimos, s para mencionar alguns exemplos. Podemos no estar to conscientes de nossa responsabilidade indireta quanto estamos da nossa influncia direta, mas ao refletirmos sobre isso poderemos ser capazes de alcanar reduo nas emisses de GEE tanto por influenciar esses caminhos indiretos quanto pela diminuio de nossas prprias emisses.

    PEQUENAS ORGANIZAES

    As pequenas e mdias empresas (PMEs) e as organizaes no-governamentais

    (ONGs) desempenham mltiplos papis. Assim como os indivduos, elas tambm administram os seus prprios domiclios. So consumidores e produtores; fornecem

  • MUDE O HBITO OS ATORES48

    Produo e manejo final de uma tonelada de papelo para embalagem(sem impresso)

    1990

    Produo e manejo final de umatonelada de engradado de garrafasde vidro

    455

    bens e servios; so responsveis pelas edificaes que possuem. Alm disso, uma das suas responsabilidades mais significativas serem exemplos para os seus funcio-nrios ou membros.

    As PMEs so frequentemente caracterizadas por uma forte figura de liderana pessoal. Funcionam sobretudo num contexto regional, raramente indo alm das fronteiras na-cionais. Os seus produtos podem ser insumos intermedirios para a produo de bens por empresas maiores. Ao mesmo tempo, dependem de matrias-primas. Elas tm pou-ca ou nenhuma influncia sobre como estes insumos so produzidos ou explorados.

    Imagine, por exemplo, que voc administre uma empresa que usa metais preciosos em seus processos ou produtos. Ter que depender do trabalho daqueles que mine-ram os metais e estes podem ser obrigados a destruir uma floresta para alcanar o seu objetivo e ganhar a vida. Ou ainda, o leo de dend usado numa gama enorme de produtos, do sabo margarina e, atualmente, cada vez mais nos biocombust-veis. Cultiv-lo pode significar destruio florestal e a consequente liberao de CO2 e metano, alm de outros GEEs.

    Porm, as empresas podem ter influncia sobre as emisses por meio das suas polticas. Se a sua poltica de compras, por exemplo, depende de peas sobressalentes

  • OS ATORES MUDE O HBITO 49

    ou de matria-prima que chegue na fbrica no momento certo, a organizao economizar os custos do espao extra para armazenamento. Mas isso pode significar mais jornadas individuais para manter as linhas de produo em operao. Caso se queira evitar o custo de projetar edifcios inteligentes em termos de sistemas de aquecimento e ventilao, pode-se concluir que melhor s aquecer o edifcio numa temperatura confortvel e deixar para os trabalhadores abrirem as janelas quando sentirem muito calor (esse foi o modelo industrial padro na maior parte do antigo bloco sovitico e, com certeza, ainda persiste l e em outros lugares). As ONGs que trabalham pelo interesse pblico, como muitas o fazem, podem pensar que esto isentas da responsabilidade climtica. Na realidade, o que importa pensar nas implicaes de tudo que se compra ou faz. E tanto as ONGs como as empresas es-tabelecem um exemplo significativo para os seus funcionrios, clientes e simpatizantes. Grupos humanitrios tambm precisam incluir a proteo climtica em suas operaes e a maioria j o faz. Boa parte dos que sero afetados mais intensamente e mais cedo pelas mudanas climticas est entre os mais pobres dos pobres.

    GRANDES ORGANIZAES

    As corporaes, as multinacionais e as organizaes intergovernamentais so semelhantes, de muitos modos, s PMEs e ONGs, mas as possiblidades de causarem danos ou protegerem o clima so proporcionalmente maiores. Ter grande porte siginifica ter maior influncia, independentemente da escolha em exerc-la. Essas categorias podem colocar mais presso sobre os seus funcionrios e associados do que as administraes pblicas e os polticos, porque a maioria delas est organizada de modo hierrquico. No obstante, so parte de sistemas polticos com os quais tm que concordar. onde os governos podem fazer valer a sua influncia. Existem diferenas claras entre os setores. A indstria de base, por exemplo, produz as emisses diretas maiores, diferentemente de um banco. Mas este pode ter o mesmo grau de responsabilidade por causa da forma que cria e executa as suas polticas de emprstimos.

    As empresas que compram materiais ou produtos de fornecedores que so respon-sveis por grandes emisses perdem uma boa oportunidade de usar o seu poder e porte para o bem. Podem implementar os seus escritrios e fbricas nos pases que desejarem por lucro, eficincia ou qualquer outra razo. Diante disso, podem cair na tentao de satisfazer a sua prpria convenincia sem pensar em nada mais.

  • MUDE O HBITO OS ATORES50

    E, assim como as pequenas e mdias empresas, elas querem tratamento igual: no querem se colocar em desvantagem por causa de um regime mais severo do que o enfrentado pela concorrncia. Elas demandam um regime de reduo das emisses globais monitorado e fiscalizado localmente.

    Atualmente, a mensagem de responsabilidade corporativa amplamente aceita pela maioria das principais empresas, no s porque elas sabem que podero ser punidas por seus clientes caso paream no estar realizando esforos para se tornarem verdes, mas tambm por que lucrativo. A imagem de uma empresa verde mais

    Para a maioria dos executivos, a questo central se as suas decises otimizam o valor das suas aes. Evidncias sugerem que nveis mais altos de responsabilidade social corporativa esto associados a valores mais altos de aes. Um relatrio divulgado em julho de 2007 pelo Goldman Sachs, um dos principais bancos de investimentos do mundo, demonstra que nos seis setores avaliados energia, minerao, siderurgia, alimentao, bebidas e mdia , as empresas consideradas lderes na implementao de polticas ambientais, sociais e de governana mantiveram vantagem competitiva e tiveram um desempenho 25% maior na bolsa de valores desde agosto de 2005. Alm disso, 72% dessas empresas tiveram um desempenho superior ao de empresas da mesma rea ao longo do mesmo perodo.

    do que simplesmente cosmtica. Um banco, por exemplo, pode ser um modelo de empreendimento em suas polticas de aquisies, localizao e viagens. Mas a sua poltica de emprstimos pode se envolver no apoio a clientes com condio de realizar melhorias massivas na proteo da atmosfera. S falta uma cutucada para persuadi-los a agir dessa forma, e quem melhor do que um banco para d-la?

    Pode haver, nas organizaes intergovernamentais, a tentao de pensarem que so to importantes que esto acima da lei at mesmo da lei da fsica que afirma que os nveis de CO2 esto se aproximando de um nvel perigoso. Os seus intercmbios em todo o globo implica em muitas viagens nem sempre ligadas ao resultado da misso.

    CIDADES

    As prprias cidades so fontes do aquecimento global: so ilhas de calor, signifi-cativamente mais quentes do que as reas rurais ao seu redor. A principal razo disto a maneira como a superfcie do solo modificada pelo desenvolvimento urbano; o calor liberado pelo uso da energia uma causa secundria.

  • OS ATORES MUDE O HBITO 51

    Se as cidades tm uma vantagem em trabalhar pela neutralidade climtica, isto prova-velmente se deve proximidade dos seus cidados. Muitos se identificam intimamente com a cidade na qual nasceram ou vivem, razo pela qual a poltica e a mdia local so, com frequncia, muito mais interessantes para eles do que o que acontece no cenrio nacional. Os governos locais causam dano atmosfrico adicional quando projetam os centros das cidades para se adequarem aos veculos e no aos pedestres e quando projetam edifcios de acordo com os padres mais baratos e no com os padres mais altos. Eles fazem isso ao ignorar a sua pegada ambiental e a enorme faixa de rea rural circundante da qual absorvem muitos recursos que frequentemente podem ser encontrados dentro dos prprios limites, eliminando a necessidade de transporte e tambm ao darem pouca ou nenhuma prioridade s polticas de reciclagem e de coleta e tratamento de resduos.

    PASES

    Os governos nacionais tm um papel chave a desempenhar no trabalho em prol da neutralidade climtica. Podem usar vrios instrumentos com o objetivo de mudar o comportamento das pessoas. A legislao e os incentivos econmicos, usados numa combinao correta, faro uma grande diferena. H vinte anos, muitos governos agiram para reduzir e eliminar o uso dos CFCs que destroem a camada de oznio. Houve protestos, mas aconteceu. Atualmente, entretanto, alguns poucos governos esto visivelmente relutantes em liderar os cortes nas emisses que causam dano ao clima. Isso deixa as empresas e as indstrias confusas ou incapazes de atuarem, pelo temor de perder mercado para concorrentes menos escrupulosos. Isso tambm no convence os cidados de que as mudanas climticas so um problema real: se fosse importante, argumentam, o governo certamente faria algo a respeito. E os governos tm a opo de minimizar ou no a urgncia do que est acontecendo para alm da agenda interna.

  • MUDE O HBITO OS ATORES52

    Fonte: United Nations Framework Convention on Climate Change, Greenhouse Gas Inventory Submission, 2006. Compilao de dadosdisponvel no Portal de Dados GFO do PNUMA (geodata.grid.unep.ch).

    Milhes de toneladas de CO2 equivalentesEmisses totais de gases de efeito estufa

    2003

    2003

    1999

    1994

    1994

    1995

    2003

    2004

    2003

    2003

    1990

    2003

    1994

    2003

    2003

    1994

    2003

    1994

    1994

    Estados Unidos

    Ano mais recente disponvel

    Europa Ocidental1994 China

    Europa Oriental 1999 Rssia

    Brasil

    ndia

    Japo

    Alemanha

    Canad

    Reino Unido

    Austrlia

    Mxico

    Frana

    Indonsia

    Itlia

    Ucrnia

    Ir

    Espanha

    frica do Sul

    Tailndia

    2002 Polnia

    0 1 000 2 000 3 000 4 000 5 000 6 000

    Os 20 maiores emissores de gases de efeito estufa (incluindo mudana no uso de solo e mau manejo da floresta)

    Os gases seguintesforam considerados:CO2 - Dixido de CarbonoCH4 - MetanoN2O - xido NitrosoPFCs - PerfluorocarbonosHFCs - HidrofluorocarbonosSF6 - Hexafloreto de Enxofre

    Pases do Anexo IPases Fora do Anexo I

    Grupo de pases

  • O CICLO MUDE O HBITO 53

    MUDE O HBITO

    CCCCO CICLO DA REDUO

    CONTE E ANALISE AJA REDUZA COMPENSE AVALIE

  • MUDE O HBITO O CICLO54

    A chave para o sucesso de um programa efetivo de reduo de emisses ter uma estrutura de desempenho bem organizada e um processo claro em execuo. O primeiro passo decidir se tornar climaticamente neutro: isso obviamente vem em primeiro lugar. Ento precisamos medir as emisses de GEE pelas quais somos diretamente responsveis e analisar de onde vm estas emisses. A ento vem a necessidade de descobrir o que precisamos fazer para diminu-las ou interromp-las, quais as opes que temos, e atuar a partir deste conhecimento. Os ltimos passos so avaliar o que se fez, identificar as falhas e comear tudo novamente, levando em considerao, espera-se, as lies aprendidas na primeira vez.

    Obtenha um compromisso forte

    claro que, para isso acontecer, algum deve tomar uma clara deciso de se tornar clima-ticamente neutro. Com certeza ser uma deciso individual, mas para estruturas mais complexas, ela ser mais ampla do que isto. Para ir longe, ser necessria uma liderana poltica positiva no nvel mais alto e um consenso popular amplo de

    A Noruega um dos cinco pases que declararam publicamente a sua inteno de trabalhar pela neutralidade climtica (os outros so Costa Rica, Islndia, Mnaco e Nova Zelndia). O pas visa atingir a sua meta at 2030. A deciso foi tomada pelo governo sob a liderana do Primeiro Ministro mas, crucialmente, contou tam-bm com o acordo dos partidos de oposio. O Ministro da Fazenda, Kristin Hal-vorsen, afirmou: O intuito do convite dos partidos da base governista aos partidos de oposio foi criar uma plataforma com base ampla e de maioria no longo prazo sobre a qual uma poltica climtica proativa norueguesa pudesse se basear. Muito recurso financeiro est sendo colocado nestes esforos para incentivar as energias renovveis, fortalecer o transporte pblico e executar medidas objetivando a reduo das emisses do transporte.

    A ONU no est simplesmente dizendo aos demais como reduzir as suas emisses de gs de efeito estufa, ela prpria almeja fazer isto. O Secretrio-Geral, Ban Ki-moon, afirma que a organizao se move para tornar a sua sede em Nova Iorque climati-camente neutra e ambientalmente sustentvel. A iniciativa incluir a outra sede da ONU e os seus escritrios ao redor do mundo. Para garantir que o esforo verde se estenda por todo o sistema ONU, o Secretrio-Geral solicitou aos dirigentes de todas as agncias da ONU que, por meio da iniciativa apoiada pelo Grupo de Gesto do Meio Ambiente (EMG, na sigla em ingls), se juntem ao esforo com recursos e programas.

    que o esforo vale a pena. O Painel Intergovernamental sobre a Mudana Climtica, a Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre o Clima e o Protocolo de Quioto, desta conveno, representam o compromisso dos lderes globais de enfrentarem o problema. O grau de sucesso desses mecanismos demonstrar a seriedade do com-

  • O CICLO MUDE O HBITO 55

    promisso. O escritor ambiental britnico Crispin Tickell deu, certa vez, a sua receita para evitar as mudanas climticas perigosas: Liderana vinda de cima, presso feita de baixo e um desastre para servir de exemplo. Talvez a combinao dos dois primei-ros elementos possa nos livrar da necessidade do terceiro.

    Uma vez que a deciso for tomada em seu nvel mais alto (num pas, cidade ou outro grupo), pode ser valioso ter uma outra figura snior para defender a neutralidade climtica, dirigindo-se da mesma forma gerncia e aos trabalhadores. Essa figura snior no precisa ser um pilar tradicionalmente respeitado da sociedade: a expresso pode incluir qualquer um que seja amplamente conhecido e popular. Jogadores de futebol e msicos famosos so cones ideais.

    A etapa seguinte a avaliao da situao: contar as emisses totais e analisar as suas fontes em outras palavras, realizar um inventrio. E, to importante quanto, analisar as opes disponveis para reduzir as emisses totais. Com estes resulta-dos, possvel estabelecer prioridades e objetivos. At que ponto podemos reduzir as nossas prprias emisses e quanto podemos compensar? Quanto tempo levar (originalmente, a Noruega havia estabelecido o ano de 2050 como prazo final para o alcance de suas metas, mas o antecipou para 2030)? Onde os legisladores consegui-ram a melhor alocao do seu dinheiro onde devem ser concentrados os recursos e esforos para se alcanar os melhores e mais visveis resultados? Que medidas sero necessrias para se avaliar o progresso no alcance das metas (essa questo tratada abaixo em maiores detalhes)? E quem garantir que realmente se est progredindo?

    Aps a definio dos princpios gerais, a prxima etapa desenvolver um plano de ao detalhado que d corpo ao esboo estratgico. Este plano incluir um cronograma, as responsabilidades, as metas a serem atingidas e os indicadores para medir o progresso.

    Em seguida vem a execuo do plano, momento no qual as deliberaes se tor-nam aes, e o processo precisa ser acompanhado por meio do monitoramento sistemtico. A isto se segue, por sua vez, a avaliao dos resultados e a compilao de uma lista das melhorias sugeridas, com resultados documentados e relatados, de modo que a experincia adquirida sobre o que funciona (e o que no funciona) seja compartilhada.

    Finalmente, com tudo isso concludo, o ciclo se inicia novamente, s que agora incorporando as lies aprendidas. A cincia e a tecnologia evoluem, as regulamen-taes se tornam mais rgidas, o padro que as pessoas demandam se eleva. Assim, o

  • segundo ciclo ir alm do primeiro e o processo continuar, com cada fase sucessiva sendo construda e melhorada a partir da anterior.

    No deveria ser preciso dizer (mas possivelmente necessrio) que durante todo o pro-cesso vital falar e ouvir todos que concordaram em apoiar a ao, para se ter a certe-za de que continuaro a faz-lo. O sentimento de ser ignorado um caminho certo para a perda de confiana numa grande idia de outra pessoa. tambm preciso que voc esteja sempre tentando atrair novos apoios, informando o pblico sobre o que est fazendo os contribuintes esto interessados em saber para onde vai o dinheiro dos seus

    SISTEMAS DE GESTO AMBIENTAL

    Uma ferramenta potencialmente til que as empresas, bem como a administrao local, podem usar para iniciar o processo na busca pela neutralidade climtica um sistema de gesto ambiental (ou de sustentabilidade) ou EMS, na sigla em ingls, baseado num princpio simples: o Ciclo da