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1 “MUITA TERRA PRA POUCO ÍNDIO”: a luta dos povos indígenas na T.I Marãiwatsédé, Etnia Xavante, Mato Grosso e as respostas do Estado sob a égide do Agronegócio Jakeline Farias Diniz 1 Luciana Azevedo 2 RESUMO: Este estudo é resultante de relatos e experiências enquanto técnico com formação em Serviço Social participante da Equipe Técnica do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. Nele problematiza-se o processo de violação de direitos vivenciados pelos indígenas da etnia Xavante, em específico a comunidade Marãiwatsede, o processo de luta por sua demarcação territorial e as respostas do Estado sob a égide do Agronegócio, tendo como sustentáculo a histórica prioridade dada às políticas econômicas fundadas no modelo primário agroexportador. Palavras-chave: Violação. Direitos Humanos. Marãiwatsédé. Território. Conflito. Demandas Sociais. Modelo Agroexportador. ABSTRACT: This study is the result of reports and experiences as a professional participant with formation in Social Service in the Technical Team of the Program for the Protection of Human Rights Defenders. It questions the process of violation of rights experienced by Xavante Indians, specifically the Marahiwatsede community, the process of fighting for their territorial demarcation and the responses of the State under the aegis of Agribusiness, supported by the historic priority given to policies Based on the primary agro-export model. Keywords: Violation. Human rights. Marãiwatsédé. Territory. Conflict. Social Demands. Agroexport Model. 1 Autora: Assistente Social formada pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Especialista em Filosofia pela mesma universidade. Atuou no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) entre Julho de 2013 a Setembro de 2015, um dos programas de proteção executados pelo extinto Ministério da Mulher, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos da Presidência da República. 2 Coautora: Assistente Social, Especialista em Metodologia do Ensino Superior/UFMA e Mestra em Serviço Social/UFPE.

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“MUITA TERRA PRA POUCO ÍNDIO”: a luta dos povos indígenas na T.I Marãiwatsédé,

Etnia Xavante, Mato Grosso e as respostas do Estado sob a égide do Agronegócio

Jakeline Farias Diniz1

Luciana Azevedo2

RESUMO: Este estudo é resultante de relatos e experiências

enquanto técnico com formação em Serviço Social participante

da Equipe Técnica do Programa de Proteção aos Defensores

de Direitos Humanos. Nele problematiza-se o processo de

violação de direitos vivenciados pelos indígenas da etnia

Xavante, em específico a comunidade Marãiwatsede, o

processo de luta por sua demarcação territorial e as respostas

do Estado sob a égide do Agronegócio, tendo como

sustentáculo a histórica prioridade dada às políticas

econômicas fundadas no modelo primário agroexportador.

Palavras-chave: Violação. Direitos Humanos. Marãiwatsédé.

Território. Conflito. Demandas Sociais. Modelo Agroexportador.

ABSTRACT: This study is the result of reports and experiences

as a professional participant with formation in Social Service in

the Technical Team of the Program for the Protection of Human

Rights Defenders. It questions the process of violation of rights

experienced by Xavante Indians, specifically the

Marahiwatsede community, the process of fighting for their

territorial demarcation and the responses of the State under the

aegis of Agribusiness, supported by the historic priority given to

policies Based on the primary agro-export model.

Keywords: Violation. Human rights. Marãiwatsédé. Territory.

Conflict. Social Demands. Agroexport Model.

1 Autora: Assistente Social formada pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Especialista em Filosofia pela mesma universidade. Atuou no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) entre Julho de 2013 a Setembro de 2015, um dos programas de proteção executados pelo extinto Ministério da Mulher, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos da Presidência da República.

2 Coautora: Assistente Social, Especialista em Metodologia do Ensino Superior/UFMA e Mestra em Serviço Social/UFPE.

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1 INTRODUÇÃO

A injustiça tem um nome nesta terra: o latifúndio. E o único nome certo do desenvolvimento aqui é a reforma agrária. [...] Se a problemática causada pelo latifúndio com relação ao posseiro é grave, não menos grave foi a situação criada com o índio e suas terras. (CASALDÁLIGA, 1971, p. 16; 29) [...] Lembrei de tudo que a gente conviveu quando aqui a gente morava, eu nasci aqui, eu não tenho a historia com papel, historia do papel, como minha vó sou pessoalmente, nascido e criado aqui, por isso não quero desanimar, eu não quero desistir, não quero assumir a proposta do governador para a troca da terra, pois sou descendente de Marãiwatsédé, nascido aqui criado aqui não quero desistir. Começamos de lutar e é longa a história até hoje. (Cacique Damião Paridzané, reunião realizada em 5 de julho de 2012).

O processo de violação dos Direitos Humanos no Brasil, considerando a

ampliação do entendimento desta categoria3 e a formação sócio-histórica do país,

circunscreve-se no sangrento processo de espoliação fundiária no qual os povos indígenas

foram submetidos ao longo do tempo, com a colonização portuguesa atrelada à instauração

do capitalismo mercantil e que se espraia nos dias atuais sob novos moldes: “vocação

brasileira para exportação de matéria-prima”, como a mídia e os altos escalões políticos

(responsáveis em analisar os espasmos da Balança Comercial Brasileira) proferem; ou sob

linguajar “economicista”, da expansão das fronteiras agrícolas e dos potenciais naturais para

financiar os “benefícios do desenvolvimento” (SANTOS, 2013, p.110).

A usurpação de terras tradicionais no cenário nacional, sejam indígenas, sejam

de procedência quilombola ou de outros tipos de sociabilidade (ribeirinhos, assentados,

etc.), padecem dos mesmos contornos, no que se refere: ao nível de conflito fundiário; aos

atores sociais envolvidos no processo de reconhecimento territorial; às correlações de

forças econômico-políticas nas três esferas, seguindo o princípio do pacto federativo na CF

88; à capacidade do Estado em ser permeável ou não às reivindicações das partes

litigantes; ao nível de articulação das comunidades envolvidas para pressionar os órgãos

estatais responsáveis e fazer à luta em suas reivindicações, dentre outros.

O enfoque conferido à questão fundiária serve-nos de pedra de toque para o

‘desembaçar’ da questão territorial indígena e de suas repercussões no atendimento às

demandas sociais oriundas de tais comunidades, numa dinâmica entre a oferta de serviços

públicos sociais e o status fundiário ao qual se encontra situado um determinado

3 Entende-se neste artigo, conforme consta no PNDH – 3, a noção ampliada de Direitos Humanos, que engloba os Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA), ou seja para além dos direitos civis e políticos. Como consta no referido Plano: o desenvolvimento pode ser garantido se as pessoas forem protagonistas do processo, pressupondo a garantia de acesso a todos os indivíduos aos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, e incorporando a preocupação com a preservação e a sustentabilidade como eixos estruturantes [...] todo este debate traz desafios para a conceituação sobre os Direitos Humanos no sentido de incorporar o desenvolvimento como exigência fundamental (BRASIL, 2009, p. 42)

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agrupamento indígena, fator este que pode contribuir tanto para o fortalecimento e

protagonismo dos mesmos como forma de superar tal contexto de violações, quanto para a

perpetuação das agressões sofridas.

O território escolhido para exemplificar este processo foi a T. I. Marãiwatsédé,

situado entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do

Araguaia, Mato Grosso, considerando a massiva publicização de seu processo de

reconhecimento territorial pela mídia, bem como das tentativas de invasão recente, por parte

de agricultores e fazendeiros pertencentes a estes municípios limítrofes (G1 MATO

GROSSO, 2016).

2 O CASO MARÃIWATSÉDÉ: status fundiário, demandas sociais e omissão estatal como

expressões de violações de direitos humanos

O nome Marãiwatsédé significa “lugar de mata alta”, na linguagem Xavante. A

Terra Indígena está demarcada no montante de 165.241 hectares, por meio do Decreto

Presidencial s/n, de 11/12/1998. Conforme consta nos dados oficiais, a T. I. Marãiwatsédé é

considerada Terra Tradicionalmente Ocupada e Regularizada, com o montante de 2.427

habitantes distribuídos em 612 domicílios (IBGE, 2010). Tais dados servem-nos de subsídio

analítico para adentrarmos no aprofundamento da inter-relação etnicidade4 e conflito agrário

presente neste território.

2.1 Resgate histórico e contornos atuais

O desenvolvimento deste tópico se insere num esforço de síntese para a

compreensão da dinâmica da violação de direitos ao qual este povo indígena foi submetido,

utilizando-se de subsídios oficiais (Relatório da Comissão Nacional da Verdade, ambiente

virtual da FUNAI), assim como de produções acadêmicas relacionadas à disputa de terras

em Marãiwatsédé, bem como da Carta Pastoral elaborada pelo Bispo da Prelazia de São

Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, em 1971.

4 Etnicidade é considerada neste texto como sendo “uma forma de organização social, baseada na atribuição categorial que classifica as pessoas em função de sua origem suposta, que se acha validada na interação social pela ativação de signos culturais socialmente diferenciadores. Esta definição mínima é suficiente para circunscrever o campo de pesquisa designado pelo conceito de etnicidade: aquele dos estudos dos processos variáveis e nunca terminados pelos quais os atores identificam-se e são identificados pelos outros na base de dicotomizações Nós/Eles, estabelecidas a partir de traços culturais que se supõe derivados de uma origem comum e realçados nas interações raciais” (LUVIZOTTO, 2009, p. 32).

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Na primeira metade do século XX, o fluxo migratório para o leste da região mato-

grossense ocorria por meio de colonos vindos do nordeste brasileiro, originando povoados

que mais tarde vieram a se constituir municípios. Contudo, destes povoados também

partiram pessoas dispostas a adentrar o referido território Xavante, em confrontação direta

com os indígenas, conforme relatos descritos por funcionários do próprio SPI, órgão estatal

responsável à época no atendimento e assistência ao índio.

Em vários momentos, durante a década de 50, Leitão [encarregado posto indígena Pimentel Barbosa, que atendia a região de Marãiwátsédé], informou aos seus superiores sobre a ‘difícil’ situação em que se encontravam os Xavantes de Marãiwatsédé e solicitou, em vão, providencias a este respeito, como a criação de um Posto para atendê-los e a reserva de terras para o grupo. Essa ‘difícil’ situação incluía: 1) a invasão sistemática do território; 2) assassinatos, inclusive com requintes de crueldade, como a execução de crianças e cremação de índios ainda vivos, ocasionados por expedições punitivas de extermínio dos Xavante,verdadeiras caçadas organizadas por não-índios; 3) requerimentos de titulação das terras de Marãiwátsédé. (BRASIL, 2014, p. 212).

Por meio de incentivos fiscais oferecidos pela Superintendência de

Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) foi constituído a Agropecuária Suiá-Missu5

Limitada, do Grupo Ometto e Ariosto de Riva, datado de 20/11/1962, em pleno território

Xavante. Com a fragilização do grupo indígena, os encarregados da Fazenda utilizavam-se

de estratégias de escambo e comida para infiltrarem-se no grupo e conquistarem a

confiança dos indígenas, no intuito de obterem mão-de-obra barata para os serviços da

fazenda (derrubada de mata, construção de pistas rudimentares para pouso e decolagem de

aviões, roças e pastos para a criação de gado, entre outros).

Após intensa exploração para o alcance de seus fins econômicos, os

proprietários da fazenda Suiá-Missu providenciaram o deslocamento do grupo para a

cabeceira do Rio Xavantinho, fora dos limites territoriais, como forma de se desobrigarem da

sobrevivência do grupo. Todavia, o terreno inóspito encontrado pelo agrupamento Xavante

impossibilitava qualquer estratégia de sobrevivência por situar-se em um terreno alagadiço e

propenso para a deflagração de doenças, sem possibilidades para plantio e moradia. Este

foi o primeiro deslocamento forçado de uma lista de migrações às quais o povo indígena de

Marãiwátsédé foi submetido e foi considerada por alguns estudiosos como a “diáspora” do

povo de Marãiwátsédé por outros territórios Xavante situados nesta região mato-grossense

(DELUCCI; PORTELA, 2013, p. 3).

5 Uma rápida passagem pelo histórico da área retorna ao início da década de 1960, quando o estado de Mato Grosso a vende ao empresário paulista Ariosto da Riva, o qual dá ao espaço o nome de Suiá-Missu, em referência a um rio da região. Em 1962, o território é vendido novamente, agora para a família de empresários paulistas Ometto, cujo objetivo é explorar a pecuária no local. Em 1970, a fazenda foi adquirida pela empresa Agip Petróleo, que, em 1992, na Conferência Mundial do Meio Ambiente (Eco 92), devolveu a terra aos xavantes. (MOTTA; OLIVEIRA, 2015, p. 432).

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Assim, conforme Delucci e Portela (2013), diante deste cenário inóspito em

1966, o grupo se dirigiu até a sede da fazenda e lá foram transportados compulsoriamente

para a Missão Salesiana de São Marcos, onde se encontravam outros grupos da etnia

Xavante.

No mês de agosto de 1966, de acordo com o Padre Bartolomeu Giaccaria, a Força Aérea Brasileira – FAB - de Campo Grande, que fazia o correio aéreo da região, fez o transporte dos A’uwe Marãiwatsédé – com apoio da fazenda - até a Missão Salesiana de São Marcos, nas proximidades de Barra do Garças, onde um grupo de A’uwe já vivia com a Missão. Foram realizadas três viagens de avião para levar o grupo todo. “A transferência/deportação foi feita em aviões da Força Aérea Brasileira. (DELUCCI; PORTELA, 2013, p. 4).

Contudo, ao chegar a São Marcos contabilizando 263 remanescentes, o grupo

indígena foi recepcionado por uma epidemia de sarampo que matou 83 de seus membros,

além de deparar-se com a fragmentação do próprio grupo, uma vez que membros de

Marãiwatsédé foram deslocados para outras reservas Xavante (BRASIL, 2014, p. 212).

Diante destes fatores, inicia-se um movimento de reorganização interna do grupo indígena

de Marãiwatsédé para o processo de luta e retomada de seu território tradicional.

Na T. I. Pimentel Barbosa, o agrupamento de Marãiwatsédé fortalece-se e

começa a pleitear a retomada de seu território, dando início ao seu processo de

demarcação. A visibilidade da causa pelo reconhecimento territorial delineia-se com a

participação do cacique Damião Paridzané na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, com o apoio de ambientalistas italianos, na

confrontação com a empresa multinacional que era proprietária da Liquifarm Suiá-Missu,

Agip Petroli.

Os trabalhos da identificação territorial indígena em Marãiwatsédé iniciaram-se

por meio da Portaria 009, de 20 de Janeiro de 1992; entretanto a demarcação e

homologação ocorreram sete anos depois, em 1998. Neste intervalo, intensificaram-se os

conflitos e ameaças dirigidas aos indígenas de Marãiwatsédé por parte de pequenos

posseiros, grileiros e fazendeiros que persistiam a trabalhar em terras já homologadas como

indígenas.

Todavia, transcorridos 18 anos, desde a promulgação do Decreto Presidencial

que institui a T. I. Marãiwatsédé no ordenamento jurídico brasileiro como sendo um território

de ocupação tradicional indígena, a comunidade ainda defronta-se com assédios constantes

em seu território, por parte de assentados e demais atores pertencentes ao cenário do

agronegócio e especulação fundiária local. Notícias atuais veiculadas pela mídia virtual e

impressa, bem como dos próprios órgãos oficiais de atuação na causa indígena,

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demonstram as novas tentativas de invasão do território, em área limítrofe ao antigo distrito

de Posto da Mata6.

2.2 Status fundiário, demandas sociais e omissão estatal

Mais uma vez, com maior premência, publicamente, apelamos às Supremas Autoridades Federais – Presidência da República, Ministérios da Justiça, do Interior, da Agricultura, do Trabalho, do INCRA, da FUNAI – para que escutem o clamor abafado deste povo; para que subordinem os interesses dos particulares ao bem comum, a “política da pata do boi” a política do homem, os grandes empreendimentos – sempre mais publicitários – das estradas, ocupação da Amazônia, a “mesopotâmia do gado”, a mal chamada “integração nacional do índio”, às necessidades concretas e aos direitos primordiais, anteriores, do homem nordestino, do retirante sem futuro, do homem da Amazônia, do índio, do posseiro, do peão. (CASALDÁLIGA, 1971, p. 29).

Neste lamento de um dos religiosos mais influentes no Brasil, escrito há mais de

quarenta anos, está contido um dos cernes da questão fundiária brasileira, sinalizada no

início deste artigo e que perpassa pela formulação das políticas sociais brasileiras.

Compreendem-se aqui os escritos de Behring e Boschetti (2011) para ilustrar as

particularidades históricas existentes na adaptação brasileira aos moldes capitalistas, de

forma tardia, no inicio do séc. XX.

O ponto de destaque aqui a ser realçado consiste numa dialética existente entre

três fatores: o sentido da colonização no Brasil; o peso do escravismo na sociedade

brasileira e o desenvolvimento desigual e combinado entre as regiões, “numa complexa

articulação entre progresso (adaptação ao capitalismo) e conservação (a permanência de

importantes elementos da antiga ordem)” (COUTINHO apud BEHRING; BOSCHETTI, 2011,

p. 72). Com isso, o poder político exercido pelos grandes oligarcas na virada do século

permanece, numa simbiose de elementos considerados “arcaicos” para o florescimento de

um ‘espírito burguês’, a exemplificar o prolongamento do trabalho escravo (comparados aos

demais países europeus e americanos) e a centralização política de caráter extremamente

patrimonialista e paternalista, com domínio exercido pelas elites agrárias.

Ora, considerando a permanência das elites agrárias em uma transição lenta e

gradual que cria as bases para a formação do poder burguês no Brasil, voltado para o

mercado externo e com ele situado em relação de dependência “como um presente que se

6 As notícias sobre a realização de reuniões públicas para a reinvasão da Terra indígena foram confirmadas em diligências realizadas na região pela Funai. A própria comunidade indígena resolveu intensificar a vigilância sobre o seu território e montou um acampamento no entroncamento das BRs 158 e 242, região denominada Moonipa, onde antes estava instalado o chamado Posto da Mata. Com o auxílio da Funai, a comunidade indígena também intensificou as rondas por todo o território indígena. As informações recebidas pelo Ministério Público Federal foram repassadas à Polícia Federal, para oitiva dos possíveis envolvidos. (MATO GROSSO, 2016a, 2016b).

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acha impregnado de vários passados” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 72), a questão da

distribuição de terras e de seu usufruto foi perpetuando-se sob a égide do Estado como

principal articulador e promotor das grandes unidades agrárias existentes no país.

Sob esta ‘vocação’, dependente do mercado externo, o modelo agroexportador

perpetuou-se no cenário nacional, interferindo nas conformações territoriais indígenas (e do

que se convencionou a denominar terras de usufruto exclusivo destes povos) delineado pela

permanência da “avidez por terras” como base principal para o florescimento da economia

no país. Tal avidez deu-se aliada também à base ideológica instituída do índio como um ser

humano incapaz de exercer seus direitos civis, o qual necessitaria de tutela do Estado para

sua “inserção” na sociedade nacional. Contudo, a partir dos anos 70, conforme

apontamentos de Maldos (2007, p. 453), esta situação começa a se modificar:

A partir dos anos 70 do século XX, os povos indígenas se mobilizaram contra a invasão de seus territórios e buscaram lutar pelos próprios direitos históricos. Na década seguinte, durante o período do Congresso Constituinte, ocuparam, literalmente, o Congresso Nacional exigindo que tais direitos fossem reconhecidos na Magna Carta [...] De 1998 para cá, continuaram a lutar, agora para que estes direitos, reconhecidos em Lei, fossem reconhecidos na prática e se tornassem realidade. Foi, sem dúvida, essa mobilização permanente de suas comunidades, lideranças e organizações que conseguiu trazer o texto constitucional, na medida do possível, para a vida real.

Já com a promulgação da Carta Constitucional de 1988, à qual confere aos

indígenas autonomia para representar-se juridicamente por meio de suas organizações,

assim como o direito ao usufruto exclusivo e posse permanente das terras tradicionalmente

ocupadas, as demandas sociais pertencentes a estes povos começam a delinearem-se para

além do desenho institucional da tutela. Contudo, conforme Lima (2012), a ideologia da

tutela ainda persiste nas práticas institucionais dentro do aparelho do Estado, o indica o

caráter neocolonial nas estruturas de poder.

Por outro lado, a relação entre demandas sociais versus status fundiário pode

ser facilmente detectada por meio dos Relatórios de Violência contra os Povos Indígenas no

Brasil, elaborados pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entidade não-

governamental de notório conhecimento sobre a situação dos povos indígenas no país, que

contém as descrições e os principais relatos de sua atuação institucional nas regiões

brasileiras, na detecção de violações sofridas pelos indígenas. Entretanto, neste artigo

deter-se-á nas violências provocadas por omissão do Poder Público como forma de

propagação dos cenários de violência explícita aos quais as comunidades indígenas foram

expostas no decorrer do processo de demarcação territorial.

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No Mato Grosso, médicos denunciam o péssimo estado da estrada que sai da BR-070, km 98, e segue na direção das aldeias. Durante a época das chuvas, nos pontos críticos, há risco de acidente durante as remoções de doentes graves que necessitam de internamento hospitalar. Com o aumento da chuva é impossível transportar doentes, crianças com infecções pulmonares e intestinais, com desidratação e gestantes, podendo ocorrer mortes por impossibilidade de transporte. Há, ainda, um controle de atendimento clínico e de exames laboratoriais da epidemia de diabetes mellitus tipo 2, com mais de 200 casos, a maioria em uso de insulina. Com a impossibilidade da passagem de veículos, a chegada de medicamentos, como insulina e seringas descartáveis aos postos, fica comprometida. Algumas comunidades indígenas vivem em condições desumanas, sem acesso à água, eletricidade, alimentos, moradia decente, possibilidade de plantar para garantir a sobrevivência e sem quaisquer outros tipos de assistência. (CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO, 2014, p.146).

No senso comum, o atendimento das demandas sociais das populações

indígenas é entendido pela população não-indigena como sendo de atribuição exclusiva da

FUNAI ou da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde (MS).

Conforme consta no PNDH 3 (BRASIL, 2009), Objetivo Estratégico II: Garantia aos Povos

Indígenas da manutenção e resgate das condições de reprodução, assegurando seus

modos de vida, são nove as ações programáticas interministeriais, ou seja, de recorte

transversal às políticas públicas, não implicando apenas nestes dois atores institucionais

citados acima a centralização para a efetivação dos direitos sociais da população indígena.

Nele entende-se que a FUNAI e a SESAI são interlocutores do Estado junto aos povos

indígenas para que as demandas possam ser devidamente encaminhadas, procedimento

este que fica seriamente comprometido caso haja o retardamento do processo de estudos

para demarcação e homologação do território indígena a ser pleiteado.

Por meio deste entendimento da vinculação territorial como pressuposto para a

efetivação dos direitos dos povos indígena, o qual encontra limitação frente à sociabilidade

burguesa e seu pressuposto da propriedade privada, é salutar a evocação dos valores

contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos como uma das estratégias de

enfrentamento a esse dissenso pelos movimentos sociais indigenistas brasileiros, assim

como de tratados internacionais que versam sobre a temática (a citar a Declaração das

Nações Unidas dos Direitos dos Povos Indígenas, de 2007).

Mas não há dúvidas de que a fonte e fundamento dos Direitos humanos é a ideia de humanidade; não a humanidade concebida abstratamente, como vimos, e sim composta por indivíduos concretos, em suas singularidades e diferenças sociais.[...] a eficácia dos Direitos humanos depende, por isso, do desenvolvimento da concepção de humanidade, cuja abrangência envolva cada individuo em particular, com a consciência e a responsabilidade de a ele pertencer. A construção de uma comunidade, que englobe a totalidade dos seres humanos e permita a possibilidade de ação de cada um dos seus membros, tem natureza política e, depende por isso, da vida pública. (SIMÕES, 2010, p. 87).

Resgata-se aqui a interpretação desta categoria “Direitos Humanos” para além

da noção abstrata e generalista que ela comporta, mas, sobretudo como uma axiologia

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concreta, que se realiza no cotidiano social e que devido à dinâmica contraditória e

perversa, própria da sociabilidade capitalista e que nega a própria humanidade, é que ela

necessita ser evocada de tempos em tempos.

O esforço de desvendamento das “trilhas” pelas quais se cruzam a questão

fundiária indígena e o atendimento de suas demandas sociais, que passam a ser

incorporadas sob um modelo de elaboração de políticas públicas que priorizem a alteridade,

o direito à diferença, em contraposição à universalidade irrestrita, nos remete aos escritos

de Santos (2013) sobre a tensão existente entre o reconhecimento da igualdade e o

reconhecimento da diferença, uma das questões fundamentais na elaboração das políticas

sociais enquanto realização dos Direitos Humanos:

A luta pela igualdade, enquanto luta pela redução das desigualdades socioeconômicas, veio muito mais tarde com os direitos sociais e econômicos. Mas tudo isto ocorre dentro do paradigma da igualdade. Este paradigma só foi questionado quando grupos sociais discriminados e excluídos se organizaram, não só para lutar contra a discriminação e a exclusão, mas também para pôr em causa os critérios dominantes de igualdade e diferença e os diferentes tipos de inclusão e exclusão que legitimam [...] A partir de então a luta contra a discriminação e a exclusão deixou de ser uma luta pela integração e pela assimilação na cultura dominante e nas instituições, suas subsidiárias, para passar a ser uma luta pelo reconhecimento da diferença [...] temos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza e temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos trivializa. (SANTOS, 2013, p. 78-79, grifo nosso).

Contudo, na atualidade as repercussões existentes entre o processo de luta e

reconhecimento territorial dos Povos Indígenas e o acesso ao atendimento de suas

demandas sociais e culturais, necessitam ser vistas também em contraste com o modelo

neoliberal, que inspira a formulação e gestão das políticas e da Administração Pública

brasileira, que vigora desde a década de 90, com o processo de desmonte e privatização de

alguns direitos sociais amplamente difundidos como de alcance universal e por sua natureza

pública dentro da CF/88 como a Saúde, a Previdência Social, a Educação.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A luta do povo indígena Xavante de Marãiwatsédé, diante de um percurso

extremo de remoções forçadas e de toda a gama de violações sofridas para o retorno ao

seu território tradicional, mesmo com a “segurança jurídica” sobre o usufruto exclusivo de

um território que já é dele legitimamente originário, não foi suficiente para a garantia de sua

produção e reprodução sóciocultural, haja vista o grau de depredação ambiental oriundo de

invasões por parte de não-indígenas, comprometendo sua subsistência. Somam-se a isso a

precariedade do atendimento de suas demandas sociais enquanto grupo, como

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fornecimento de água potável, promoção/prevenção em saúde, taxas de desnutrição

detectadas entre as crianças indígenas, dentre outros fatores.

Neste sentido, as lideranças indígenas têm exercido um importante papel de

interlocutoras das reivindicações de suas comunidades, em conjunto com a reivindicação de

seus direitos territoriais. Todavia, muitas lideranças indígenas encontram-se ameaçadas em

sua integridade física (se já não o foram atentadas), numa ciranda perversa que centraliza

na terra a prática parasitária de obtenção de riqueza, a exemplo da principal liderança

indígena de Marãiwtsédé.

É nesta seara que iniciativas governamentais de alcance recente têm

conseguido minimamente atender às demandas das comunidades, bem como assegurar a

integridade física de suas lideranças por meio de articulações institucionais que visem à

construção de estratégias para superação das causas motrizes geradoras da situação de

risco, bem como de estratégias para a superação do contexto de vulnerabilidade social

encontrado em tais comunidades, entendido também como um fator que potencializa o

risco7.

Neste sentido, este pequeno estudo pretendeu lançar luzes sobre a relação da

luta dos povos indígenas frente ao agronegócio, tendo o Estado Brasileiro como principal

mediador da questão fundiária indígena, que repercute sobremaneira na formulação e

implementação das políticas públicas voltadas para este grupo específico. Acrescentam-se

ainda os aspectos ideológicos intrínsecos no que se refere ao tratamento conferido aos

povos indígenas pelos órgãos estatais a forma tutelar, a despeito dos avanços conquistados

pela Carta Magna de 88 e das legislações infraconstitucionais que regem esta temática.

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7 Estes são um dos objetivos principais da Política Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PNPPDDH) instituído por meio do Decreto nº 6.044, de 12/02/2007, compondo a tríade protetiva junto aos demais programas de proteção contidos no PNDH 3 (Programa de Proteção a Vitimas e Testemunhas Ameaçadas e Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte). Tais informações sobre as demandas sociais de Marãiwatsédé foram obtidas pela autora em sua prática profissional dentro da Equipe Técnica que executa esta política.

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