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Mulheres de Atenas Diálogo greco- medieval

Mulheres de atenas

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Page 1: Mulheres de atenas

Mulheres de Atenas

Diálogo greco-medieval

Page 2: Mulheres de atenas

Análise

Estrutural Sintática Semântica Lexical Intertextual Discursiva

Page 3: Mulheres de atenas

Mulheres de Atenas – Chico Buarque de Holanda (1989)

Mirem-se no exemplo(refrão)

1.Daquelas mulheres de Atenas2.Vivem pros seus maridos3.Orgulho e raça de Atenas

4.Quando amadas, se perfumam5.Se banham com leite, se arrumam6.Suas melenas7.Quando fustigadas não choram8.Se ajoelham, pedem imploram9.Mais duras penas; cadenas

Mirem-se no exemplo10.Daquelas mulheres de Atenas11.Sofrem pros seus maridos12.Poder e força de Atenas

13.Quando eles embarcam soldados14.Elas tecem longos bordados15.Mil quarentenas16.E quando eles voltam, sedentos17.Querem arrancar, violentos18.Carícias plenas, obscenas.

Page 4: Mulheres de atenas

Mirem-se no exemplo19.Daquelas mulheres de Atenas20.Despem-se pros maridos21.Bravos guerreiros de Atenas

22.Quando eles se entopem de vinho23.Costumam buscar um carinho

24.De outras falenas25.Mas no fim da noite, aos pedaços26.Quase sempre voltam pros seus braços

27.De suas pequenas, Helenas

Mirem-se no exemplo28.Daquelas mulheres de Atenas:29.Geram pros seus maridos,30.Os novos filhos de Atenas.

31.Elas não têm gosto ou vontade,32.Nem defeito, nem qualidade;33.Têm medo apenas.34.Não tem sonhos, só tem presságios.35.O seu homem, mares, naufrágios...

36.Lindas sirenas, morenas

Page 5: Mulheres de atenas

Mirem-se no exemplo37.Daquelas mulheres de Atenas38.Temem por seus maridos39.Heróis e amantes de Atenas40.As jovens viúvas marcadas41.E as gestantes abandonadas42.Não fazem cenas43.Vestem-se de negro, se encolhem44.Se conformam e se recolhem45.às suas novenas Serenas

Mirem-se no exemploDaquelas mulheres de AtenasSecam por seus maridosOrgulho e raça de Atenas

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Estrutura do texto: raízes medievais

Cinco estrofes: 9 versos cada uma. As estrofes apresentam um esquema fixo de

rimas: o quarto verso rima sempre com o quinto: “Quando amadas, se perfumam/Se banham

com leite, se arrumam”

“Quando eles embarcam soldados/Elas tecem longo bordados”

“Quando eles se entopem de vinho/Costumam buscar um carinho”

“Elas não têm gosto ou vontade/Nem defeito, nem qualidade”

“As jovem viúvas marcadas/E as gestantes abandonadas”

o sétimo e o oitavo: “Quando fustigadas não choram/se ajoelham,

pedem imploram”

“ e quando eles voltam, sedentos/querem arrancar, violentos

“mas no fim da noite, aos pedaços/quase sempre voltam pros braços”

“ Não tem sonhos, só tem presságios/o seu homem, mares, naufrágios...”

“ Vestem-se de negro, se encolhem/se conformam e se recolhem

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O terceiro rima com osexto e o nono:“Orgulho e raça de

Atenas/suas melenas/mais duras penas; cadenas”

Poder e força de Atenas/mil quarentenas/carícias plenas, obscenas”

“ Bravos guerreiros de Atenas/de outras falenas/de suas pequenas, Helenas”

“ Os novos filhos de Atenas/Têm medo apenas/lindas serenas, morenas”

Heróis e amantes de Atenas/Não fazem cenas/Às suas novenas, serenas”

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Métrica

Métrica: o refrão tem 14 sílabas poéticas: Mi/rem/se/ noe/xem/plo/da/que/las/um/lhe/res/de a/te/ 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

O segundo verso: 6 sílabas - trovadorescas Vi/vem/pros/seus/ma/ri/ 1 2 3 4 5 6

So/frem/pros/seus/ma/ri/ Ge/ram/ pros/ seus/ ma/ri/dos Te/mem/ por/ seus/ ma/ri/dos

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Terceiro: 8 sílabas

Or/gu/lhoe/ra/ça/dea/te/nas/ 1 2 3 4 5 6 7 8 Po/der/e/for/ça/dea/te/nas/

Bra/vos/gue/rrei/ros/dea/te/nas/

Os/no/vos/fi/lhos/dea/te/nas/ He/róis/ea/man/tes/dea/te/nas/

Os/no/vos/fi/lhos/dea/te/nas/

He/róis/e a/man/tes/dea/te/nas/

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Quarto: 8 sílabas

Quan/do a/ma/das/, se/ per/fu/mam/ Quan/do e/les/ em/bar/cam/ sol/da/dos Quan/do e/les/ se em/to/pem/ de/ vi/nho E/las/ não/ têm/ gos/to ou/ von/ta/de As/ jo/vens/ vi/ú/vas/ mar/ca/das

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Quinto: 8 sílabas

Se/ ba/nham/ com/ lei/te/, se a/rru/mam E/las/ te/cem/ lon/gos/ bor/da/dos Cos/tu/mam/ bus/car/ um/ ca/ri/nho Nem/ de/fei/to/, nem/ qua/li/da/de E as/ ges/tan/tes/ a/ban/do/na/das

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Sexto: 4 sílabas

Su/as/ me/le/nas Mil/ qua/ren/te/nas De ou/tras/ fa/le/nas Têm/ me/do a/pe/nas Não/ fa/zem/ ce/nas

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Sétimo: 8 sílabas

Quan/do/ fus/ti/ga/das/ não/ cho/ram E/ quan/do e/les/ vol/tam/ se/den/tos, Mas/ no/ fim/ da/ noi/te, aos/ pe/da/ços Não/ têm/ so/nhos/, só/ têm/ pre/ssá/gios Ves/tem/-se/ de/ ne/gro/, se en/co/lhem

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Oitavo: 8 sílabas

Se a/jo/e/lham/, pe/dem/ im/plo/ram

Que/rem/ a/rran/car/, vi/o/len/tos

Qua/se/ sem/pre/ vol/tam/ pros/ bra/ços

O/ seu/ ho/mem/, ma/res/, nau/frá/gios

Se/ com/for/mam/ e/ se/ re/co/lhem

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Nono: 8 sílabas

Mais/ du/ras/ pe/nas/, ca/de/nas/ Ca/rí/cias/ ple/nas/, obs/ce/nas/ De/ suas/ pe/que/nas/, He/le/nas/ Lin/das/ si/re/nas/, mo/re/nas/ Às/ suas/ no/ve/nas/, se/re/nas/

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Octossílabos

O octossílabo foi um dos versos mais usados pelos trovadores galego-portugueses, principalmente nas cantigas de amor. Importado da poesia narrativa e didática do Norte e do Sul da França.

Com o declínio da poesia trovadoresca, caiu em desuso; reapareceu no século XIX, como influência francesa.

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Refrão

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas As ideias básicas do poema são reafirmadas pelo fim do poema que

traz o refrão, como se quisesse iniciar uma sexta estrofe.“Mirem-se no exemplo/daquelas mulheres de AtenasSecam por seus maridosOrgulho e raça de Atenas”

As advertências fazem remissão à situação cíclica das ladainhas: oautor deixa livre para a reflexão do leitor que poderá buscar nosubconsciente qualquer fato que se assemelha às advertênciasanteriores para completá-lo; por isso, o refrão vem no início de cadaestrofe.

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Paralelismo: cantigas medievais

“Ondas do mar de Vigo,Se vistes meu amigo?E ai Deus, se verrá cedo!Ondas do mar levadoSe vistes meu amado?E ai Deus, se verrá cedo?Se vistes meu amigo,O por que eu sospiro?E ai Deus, se verrá cedo!Se vistes meu amado,Por que ei gran coidado?E ai Deus, se verrá cedo! (CODAX, Martim)

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O refrão introduz o 2º verso; nele, verifica-se uma ideia de múltiplas escolhas:

Vivem pros seus maridos Sofrem pros seus maridos Despem-se pros seus maridos Geram pros seus maridos Temem por seus maridos

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Em todas as estrofes, há poucas variações entre si, mantendo-se fixas as formas “pros

seus maridos” e “Atenas”

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Cantiga de amor

Há semelhança com as Cantigas de Bernardo de Bonaval, XII e XIII, por meio da métrica de 14 sílabas poéticas.

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Sintaxe textual: Sintagma Nominal: sujeito

Refrão: eixo mais importante;

Carga significativa centrada no verbo, sempre

em terceira pessoa do plural, tendo como SN

ELAS, as mulheres de Atenas.

Representadas, no coletivo, pelas figuras

de Penélope e Helena.

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Menção a HelenaXPenélope

A menção indica a rara beleza de Helena: os maridos buscam os carinhos de outras “falenas” (outro SN)

Mantêm em suas residências uma mulher de beleza maior (Penélope) para quem sempre voltam para os braços, sem reminiscência de seus atos extraconjugais.

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Há,também, outro SN que é introduzido no enredo e faz parte do contexto, sem importância central:

ELES (soldados, seus maridos, bravos guerreiros etc)

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Sintagma Verbal: verbos - 3ª do plural

A ação ocorre no presente do indicativo, denunciando a vida infeliz das mulheres de Atenas: vivem, sofrem, despem-se, geram, temem, secam

Os verbos indicam a forma cíclica das funções e das vidas daquelas mulheres. O ciclo se inicia com o verbo viver e se fecha com o verbo secar, isto é, morrer.

Durante o trajeto, despem-se para seus maridos com a finalidade única degerarem os filhos, pois o amor deles é desfrutado pelas famosas heteras (falenas)ou amantes; afora isso, só fazem sofrer e temer.

Tais sintagmas resumem uma existência quase sem muito propósito e sem autonomia, como escravas de seus próprios maridos.

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Marcadores de oralidade

Pouca característica de oralidade no poema:

refrão - a conjunção (em contração) “pros”.

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Marcadores da narrativa

Tempo - não se define época ou momento histórico; (considera-se um tempo genérico, falando no presente, mas se referindo a um passado indeterminado).

Espaço - Atenas, menções de mares e de guerras (supostamente em terras distantes, fato

denunciado pelas ausências e naufrágios de seus maridos).

Verbos - Fazem a função da narrativa, pois exibem a condição dos sujeitos atenienses.

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Mirem-se

Do ponto de vista gramatical, o autor dirige a narrativa ao conjunto de mulheres que se submetem aos valores da sociedade patriarcal no instante presente.

Esse conjunto está representado gramaticalmente pelo sujeito da forma verbal de terceira pessoa do plural do imperativo afirmativo:

mirem-se (vocês).

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Léxico: Cadena

Cadena é um espanholismo que significa “cadeia, corrente”. Segundo o Aurélio é o “meio empregado para tirar dos chifres do touro, sem perigo, o laço que o prende”.

Os dois sentidos significam um aprisionamento ou acorrentamento; portanto, cadenas nos remete à cadeia em que as mulheres de Atenas vivem, aprisionadas pelos desejos e caprichos de seus maridos.

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Falena

Falena – Aurélio: “gênero de insetos lepidópteros, noctuídeos, que reúne mariposas noturnas cujas larvas, fitófagas, são nocivas a culturas vegetais”.

Metáfora: prostituta.

Ao usar o verbete falena, o autor estabelece uma das metáforas mais significativas do poema.

Sentido denotativo, falena significa mariposa de ação noturna, ou seja, que brilha à noite.

No sentido conotativo, o termo falena, empregado no poema, faz alusão às prostitutas, as quais brilham à noite, ou seja, que têm vidas noturnas, que são procuradas à noite pelos maridos.

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Edward MacNall Burns

Historiador: “O lugar de companheiras sociais e intelectuais dos maridos foi ocupado por mulheres estranhas, as famosas heteras”.

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Semântica

Palavras enfatizadoras da vida das mulheres atenienses: amadas... carinhos; pedem... imploram; fustigadas... penas;

carícias... carinhos; gosto... vontade; sonhos... presságios;

amadas... fustigadas; violentos... amantes; violentos... carinho;

defeito... qualidade; amadas... abandonadas; encolhem... confortam.

Antítese do poema: vivem... secam (morrem).

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Expressividade

na sua estrutura: referências à cultura grega do período clássico.

emoção estética da música A canção é inteiramente metaforizada.

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Metáfora - Sentido semântico

Se banham com leite Tecem longos bordados Mil quarentenas Aos pedaços Carícias Plenas Falenas Voltam pros braços Helena Não têm sonhos Não têm vontade Jovens viúvas marcadas Não fazem cenas Vestem-se de negros Secam Despem-se pros maridos Temem por seus maridos

Não veem o sol nem a rua. Preservam-se Anos a fio à espera de seus maridos Cansados, fatigados. Fazer sexo Prostitutas. Procuram Beleza de mulher / mulher bela. Vida vazia Não amam Aprisionadas Subserviência, sem murmurar. Viúvas Morrem Fazem sexo Inseguras

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Antítese: ideias contrárias

Expressa a condição feminina da mulher ateniense:

defeito... qualidade; vivem... secam (morrem); despem-se... vestem-se; gosto... vontade;

amadas... abandonadas; embarcam (partem)... voltam etc.

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Anacoluto: mantém a construção idêntica das estrofes

“Lindas sirenas (sereias) / Morenas”; “Se confortam e se recolhem / às suas novenas /

Serenas”; “Querem arrancar violentos / Carícias plenas”;

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Eufemismo – sentido semântico

Se banham com leite Despem-se pros maridos Costumam buscar os

carinhos Se entopem de vinhos Aos pedaços Falenas (mariposas) (Violentos), Carícias plenas Não têm gosto ou vontades Nem defeito nem qualidade Lindas sirenas Morenas Se confortam e se recolhem

Aprisionam-se em casa. São usadas pelos maridos Traem suas mulheres Embriagam-se Imundos Prostitutas Estupro, fazer sexo

violentamente Mal amadas Abjeto (desprezível) Prostitutas Se aprisionam

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Gradação

Sequência encadeada em ordem crescente: “Se ajoelham, pedem, imploram / Mais duras penas / Cadenas” (cadeias).

Verbos: vivem, sofrem, despem-se, geram, temem, secam

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Zeugma: imprimir um ritmo de reflexão

“Elas não têm gosto ou vontade / Nem defeito nem qualidade / (elas) têm medo apenas” / (elas) Não têm sonhos, só têm presságios / O seu homem (tem) mares,naufrágios / Lindas sirenas / Morenas”.

O zeugma: marcado pela elipse de um termo integrante da oração o qual foi mencionado anteriormente - quando se refere à mulher, o autor usa o verbo “têm”, considerando que elas não têm sonhos, mas apenas prenúncios e agouro a respeito do futuro; portanto, têm medo apenas;

O homem tem o mar, o naufrágio (aventura) e lindas sereias morenas, ou mulheres para seus deleites, enquanto as esposas ficam

encarceradas em casa, “banhando-se com leite”, pela ausência do ar da rua.

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Intertextualidade: Odisseia

Com o poema Odisseia, com a história e a mitologia da Grécia O poema faz referências à obra mitológica grega de Homero, mais

notadamente à história de Penélope, à despersonalização das mulheres de Atenas e à passagem pela ilha das sereias, vivida por Ulisses.

Segundo a história de Penélope, em Odisseia, a virtuosa esposa de Ulisses convence seus pretendentes de que deveria fazer uma túnica, que serviria de mortalha para cobrir o corpo de Laertes, o venerável pai de Ulisses, que com a notícia do casamento de sua nora, morreria de depressão, dado ao avançado da idade; como era costume das mulheres tecerem uma mortalha para os entes queridos que se encontravam prestas a deixar esse mundo, Penélope usa desse artifício para ganhar tempo com seus pretendentes, os quais aquiesceram de pronto, por ser uma proposta justa.

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Entretanto, ela nunca a terminaria, pois na tentativa de fazer com que seus pretendentes desistissem da ideia de disputar o lugar de Ulisses, ela desmanchava a noite o que fazia durante o dia; por isso, a esposa do aventureiro Ulisses é conhecida na mitologia grega como o símbolo da mulher que tece longos bordados, enquanto seus maridos se ausentam por períodos delongados.

No poema de Chico Buarque essa referência à Penélope é feita na segunda estrofe:

“Quando eles embarcam, soldados / Elas tecem longos bordados / Mil quarentenas”.

Ao se referir às mulheres atenienses, o autor expõe a vida de completa subserviência a que elas se submetiam para seus maridos.

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Intertextualidade: Ilíada

Helena é usada pela deusa Vênus para servir como prêmio para o príncipe Páris. Ao apaixonar-se por ele, ela é tida como vulgar, por haver deixado de amar seu verdadeiro marido.

Essa situação foi abordada e defendida por Górgias, um sofista e mestre da retórica clássica grega, que escreveu um discurso intitulado Elogio a Helena, em 414 a.C.

A questão colocada por Górgias era que Helena, apesar de casada com Menelau e, do ponto de vista moral ligada a ele, tinha também o direito de apaixonar-se por Páris, dando vazão aos seus sentimentos;

Todavia, Vênus prometera a Páris não apenas Helena, mas o amor de Helena, dizendo: “... Se o amor é um deus, como poderia ter resistido e vencer o divino poder dos deuses quem é mais fraco do que eles? Se se trata de uma enfermidade humana e de um erro da mente, não há que se censurar como se fosse uma culpa, mas considerá-la apenas uma má sorte”.

Os versos que salientam uma absoluta despersonalização das mulheres deAtenas estão na quarta estrofe: “Elas não têm gosto ou vontade / Nem defeitos

nem qualidade / Têm medo apenas”.

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Ilha das Sereias

Outra referência à epopeia de Homero é o momento da passagem de Ulisses, em sua longa viagem, pela ilha das Sereias, próximo ao golfo de Nápoles. Segundo o épico, Ulisses tapou com cera os ouvidos de seus companheiros e pediu que o amarrassem ao mastro do navio, para que nem ele nem a tripulação se deixassem seduzir pelo canto de morte das sereias;

Entretanto, ele queria saber como era esse canto. Essa passagem é lembrada nos versos: “O seu homem, mares, naufrágios / Lindas sirenas / Morenas”. Sirenas,

Segundo o Aurélio, é o mesmo que sirene (objeto emissor de som, muito usado em navios) ou sereia. O aparelho que produz som tem esse nome por lembrar o hipnotizante canto das sereias da mitologia.