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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR SOB RISCO DE MORTE: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE RUPTURA DO CICLO DE VIOLÊNCIA, EM TERESINA-PI Ianara Silva Evangelista 1 Resumo: A violência doméstica e familiar contra as mulheres é um grave problema universal que atinge milhares de mulheres, de diversas formas, sendo permeada por aspectos que conformam as relações entre os sexos e que propiciam para a mulher uma situação de vulnerabilidade ou risco de violência. O enfrentamento da violência exige uma articulação entre os diversos segmentos da sociedade, ou seja, dos poderes executivos, legislativos e judiciários, dos movimentos sociais e a sociedade em geral. Muitas vezes quando o tema da violência contra as mulheres é abordado, fica explícito o discurso da mulher como vítima de violência, porém, o tema do empoderamento das mulheres ainda não tomou sentido e significado para que elas possam romper o ciclo de violência e, consequentemente, encontrarem alternativas para a reconstrução e ressignificação de suas vidas. Esta investigação se propõe a compreender como essas mulheres que foram atendidas pela Casa Abrigo “Mulher Viva” conseguiram romper com o ciclo de violência, considerando que são processos cíclicos bem complexos, cheios de idas e vindas. Contudo, este trabalho tem como proposição também dar "voz" a essas mulheres que foram silenciadas e que, finalmente, estão conseguindo ressignificar suas vidas, deixando de ser aquelas de quem se fala e passam a ser aquelas que falam por si mesmas, a partir de suas trajetórias de vidas, vivências, percepções de mundo e, sobretudo, perspectivas de futuro. Palavras-chave: Gênero. Violência Doméstica. Ciclo de Violência. Rota Crítica. INTRODUÇÃO O fenômeno da violência doméstica e familiar contra as mulheres, geralmente manifestado no âmbito privado, sempre me tocou provocando reflexões em torno da complexidade de interpretar os seguintes questionamentos: Como diz que ama e bate? Como diz que ama e mata? Vem à minha memória, as denúncias do movimento feminista, na década de 70, quando ecoaram o bordão “quem ama, não mata” 2 , em alusão aos crimes que aconteciam com mulheres no âmbito doméstico. Conforme dados do Mapa da Violência 2015 3 , um dado expressivo é com relação ao local onde ocorre a agressão, tendo em vista que o local mais frequente para o assassinato das mulheres acontece em seus domicílios, enquanto 27,1% das mortes foram de mulheres, 10,1% das mortes foram de homens. Entretanto, o local mais frequente de agressão para ambos os sexos é a via pública, onde 31,2% representa o feminino e 48,2% representa o masculino (WAISELFISZ, 2015). 1 Discente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS), Nível Mestrado, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina-PI, Brasil. E-mail para contato: [email protected] 2 Um caso emblemático de violência contra as mulheres, desse período, é o caso Doca Street, que assassinou Ângela Diniz, onde a defesa alegou o crime ter sido cometido em nome da legítima defesa da honra e o júri absolveu. 3 Homicídio de Mulheres no Brasil, com os dados entre 2003 e 2013.

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    Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

    MULHERES EM SITUAO DE VIOLNCIA DOMSTICA E FAMILIAR

    SOB RISCO DE MORTE: REFLEXES SOBRE O PROCESSO DE

    RUPTURA DO CICLO DE VIOLNCIA, EM TERESINA-PI

    Ianara Silva Evangelista1

    Resumo: A violncia domstica e familiar contra as mulheres um grave problema universal que

    atinge milhares de mulheres, de diversas formas, sendo permeada por aspectos que conformam as

    relaes entre os sexos e que propiciam para a mulher uma situao de vulnerabilidade ou risco de

    violncia. O enfrentamento da violncia exige uma articulao entre os diversos segmentos da

    sociedade, ou seja, dos poderes executivos, legislativos e judicirios, dos movimentos sociais e a

    sociedade em geral. Muitas vezes quando o tema da violncia contra as mulheres abordado, fica

    explcito o discurso da mulher como vtima de violncia, porm, o tema do empoderamento das

    mulheres ainda no tomou sentido e significado para que elas possam romper o ciclo de violncia e,

    consequentemente, encontrarem alternativas para a reconstruo e ressignificao de suas vidas. Esta

    investigao se prope a compreender como essas mulheres que foram atendidas pela Casa Abrigo

    Mulher Viva conseguiram romper com o ciclo de violncia, considerando que so processos

    cclicos bem complexos, cheios de idas e vindas. Contudo, este trabalho tem como proposio

    tambm dar "voz" a essas mulheres que foram silenciadas e que, finalmente, esto conseguindo

    ressignificar suas vidas, deixando de ser aquelas de quem se fala e passam a ser aquelas que falam

    por si mesmas, a partir de suas trajetrias de vidas, vivncias, percepes de mundo e, sobretudo,

    perspectivas de futuro.

    Palavras-chave: Gnero. Violncia Domstica. Ciclo de Violncia. Rota Crtica.

    INTRODUO

    O fenmeno da violncia domstica e familiar contra as mulheres, geralmente manifestado no

    mbito privado, sempre me tocou provocando reflexes em torno da complexidade de interpretar os

    seguintes questionamentos: Como diz que ama e bate? Como diz que ama e mata? Vem minha

    memria, as denncias do movimento feminista, na dcada de 70, quando ecoaram o bordo quem

    ama, no mata2, em aluso aos crimes que aconteciam com mulheres no mbito domstico.

    Conforme dados do Mapa da Violncia 20153, um dado expressivo com relao ao local

    onde ocorre a agresso, tendo em vista que o local mais frequente para o assassinato das mulheres

    acontece em seus domiclios, enquanto 27,1% das mortes foram de mulheres, 10,1% das mortes foram

    de homens. Entretanto, o local mais frequente de agresso para ambos os sexos a via pblica, onde

    31,2% representa o feminino e 48,2% representa o masculino (WAISELFISZ, 2015).

    1 Discente do Programa de Ps-Graduao em Sociologia (PPGS), Nvel Mestrado, da Universidade Federal do Piau

    (UFPI), Teresina-PI, Brasil. E-mail para contato: [email protected] 2 Um caso emblemtico de violncia contra as mulheres, desse perodo, o caso Doca Street, que assassinou ngela

    Diniz, onde a defesa alegou o crime ter sido cometido em nome da legtima defesa da honra e o jri absolveu. 3 Homicdio de Mulheres no Brasil, com os dados entre 2003 e 2013.

    mailto:[email protected]

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    A violncia atinge as mulheres em grande parte do mundo e, no Piau, no diferente,

    considerando os dados da pesquisa citada acima, o Estado do Piau teve 32 mortes em 2003 e, aps

    10 anos, teve um salto para 47 homicdios. O aumento em nmeros absolutos foi de 46,9%. Enquanto

    na capital, em 2003 foram 13 mulheres mortas e, em 2013 foram 24 mulheres assassinadas, ou seja,

    entre 2003 e 2013, as mortes de mulheres aumentaram 84,6% (WAISELFISZ, 2015).

    Esse dado coloca a capital em penltimo lugar, entre as capitais brasileiras com menos taxas

    de homicdios de mulheres, mas no se pode deixar de considerar tambm que muitos casos de

    assassinatos de mulheres no so registrados como feminicdio4, como bem diz Wnia Pasinato

    (2011) sobre um dos maiores desafios para a realizao de pesquisas sobre as taxas das mortes de

    mulheres a falta de informaes oficiais sobre essas mortes. As estatsticas da polcia e do

    Judicirio no trazem [...] informaes sobre o sexo das vtimas, o que torna difcil isolar as mortes

    de mulheres no conjunto de homicdios (p. 222).

    O tema da violncia contra as mulheres, desde a graduao em Cincias Sociais, fez parte das

    minhas leituras tericas e experincia emprica como pesquisadora, mas tambm como profissional,

    atuando na gesto das polticas pblicas para as mulheres. Percebe-se que, na maioria das vezes,

    quando o tema da violncia contra as mulheres abordado, fica evidente o discurso delas como

    vtimas de violncia. Porm, o discurso de empoderamento e rompimento com o ciclo de violncia,

    reconstruo e ressignificao de suas vidas ainda no to frequente.

    Neste sentido, esta investigao apresenta a seguinte problemtica: como se d o processo de

    ruptura da violncia domstica e familiar das mulheres que passaram pela rota crtica, particularmente

    aquelas que fizeram o desligamento do servio de abrigamento, ou seja, por meio da Casa Abrigo

    Mulher Viva, tendo em vista que as sujeitas da pesquisa so mulheres que conseguiram romper

    com a violncia.

    A referida pesquisa pretende trazer tona experincias de mulheres que estavam inseridas na

    rota crtica do servio especializado e que conseguiram romper o ciclo da violncia, de forma a

    aprofundar o debate sobre a violncia contra as mulheres a partir do agenciamento e empoderamento

    feminino nessa trajetria, partindo do pressuposto de que as mulheres tambm detm micropoderes

    nessas relaes violentas de gnero, deste modo, quando enfrentam e resistem, se empoderam na

    busca pela ruptura do ciclo da violncia, haja vista que onde h poder, h tambm resistncia.

    4 A partir de maro de 2015, a Lei 13.104/2015 alterou o Cdigo Penal Brasileiro e incluiu o feminicdio como

    circunstncia qualificadora do crime de homicdio, sendo entendida quando a morte de uma mulher decorrente de

    violncia domstica e familiar ou quando instigada por menosprezo ou discriminao condio de mulher. Disponvel

    em: . Acesso em: 01 set. 2015

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm

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    VIOLNCIA DE GNERO

    Nos estudos das Cincias Sociais e para o entendimento da violncia contra mulheres, o

    gnero tem sido usado como categoria de anlise e fundamentado como construo social que uma

    dada cultura estabelece em relao a homens e mulheres, ou como define Scott (1995), um

    elemento constitutivo de relaes sociais baseadas nas diferenas percebidas entre os sexos e

    tambm uma forma primria de dar significado s relaes de poder (SCOTT, 1995, p. 86), sendo,

    portanto, um meio de decodificar o sentido e de compreender as relaes complexas entre diversas

    formas de interao humana (SCOTT, 1995, p. 89).

    Ressalta-se, porm, que o conceito de gnero amplo, e engloba tanto a violncia de homens

    contra mulheres quanto a de mulheres contra homens (SAFFIOTI, 2004). A violncia de gnero pode

    ser praticada por um homem contra outro, por uma mulher contra outra, no entanto, o vetor mais

    amplamente difundido da violncia de gnero caminha no sentido homem contra mulher, tendo a

    falocracia como caldo da cultura (SAFFIOTI, 2004, p. 71). As estatsticas demonstram que grande

    parte cometida por homens contra mulheres (STREY, 2004). A violncia domstica costuma ser

    empregada como sinnimo de violncia familiar e tambm de violncia de gnero.

    A violncia contra a mulher uma manifestao das relaes de poder historicamente

    desiguais entre mulheres e homens, que tem conduzido a dominao da mulher pelo homem,

    discriminao do homem contra a mulher, provocando impedimentos contra o seu pleno

    desenvolvimento (TAVARES e PEREIRA, 2007, p. 13). a violncia que incide, abrange e

    acontece com as pessoas em funo do gnero ao qual pertencem. um produto histrico e social

    (STREY, 2004). Trata-se de um problema mundial ligado ao poder, privilgios e controle masculinos.

    De acordo com Bourdieu, as relaes de gnero so relaes de poder, tendo em vista que, o

    princpio masculino tomado como medida de todas as coisas (BOURDIEU, 2011, p. 23). Isto , a

    forma em que a sociedade est organizada, por meio da diviso dos gneros relacionais onde as

    diferenas visveis entre os rgos sexuais masculino e feminino so uma construo social que

    encontra seu princpio nos princpios de diviso da razo androcntrica, ela prpria fundamentada na

    diviso dos estatutos sociais atribudos ao homem e mulher" (BOURDIEU, 2011, p. 24) que tambm

    legitima as relaes de dominao por meio do corpo e da linguagem.

    De tal modo, a violncia contra as mulheres exige aes articuladas e integradas para que seja

    garantida a execuo de aes preventivas, da assistncia e de combate mais eficazes. Logo, as

    mulheres tm conseguido conquistar e garantir seus direitos, por meio de orientaes da Rede de

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    Atendimento, das suas relaes interpessoais que as encorajaram a quebrar o silncio e a denunciar

    para sair do ciclo da violncia.

    Entretanto, os servios institucionais especializados que eram para lhes d segurana e

    proteo, possuem infraestrutura inadequada, despreparo no atendimento, ausncia de profissionais

    capacitados e qualificados para lidar com os casos de violncia domstica e familiar, sendo que,

    reproduzem algumas atitudes e prticas discriminatrias (MENEGHEL et al, 2011; SAGOT, 2000;

    SILVEIRA, 2006; BONETTI, PINHEIRO e FERREIRA, 2016).

    CICLO DE VIOLNCIA: ENTRE IDAS E VINDAS

    A teoria do ciclo de violncia enunciada pela psicloga americana e feminista Lenore

    Walker, para explicar como acontece a dinmica da violncia nas relaes conjugais, as dificuldades

    das mulheres para romper com essa relao violenta e como essa violncia produzida e reproduzida

    (ROCHA, 2007).

    Segundo Walker, o ciclo de violncia constitudo de trs fases: 1) a construo da tenso no

    relacionamento: caracterizada pelos xingamentos, injrias, ameaas, insultos, humilhao,

    provocaes mtuas; 2) a exploso da violncia descontrole e destruio: o agressor passa a agredir

    fisicamente a vtima; 3) a lua-de-mel arrependimento do(a) agressor(a): o agressor se arrepende do

    que fez, diz que que ama, pede desculpa, diz que no vai mais agredi-la, as promessas so mtuas,

    ocorrendo assim, uma idealizao do parceiro e a negao da vivncia de violncia (SOARES, 2005).

    Este ciclo se caracteriza pela sua continuidade, tornando-se repetitivo, ou seja, a sua repetio

    sucessiva durante longos meses e/ou anos, podendo ser menores as fases de tenso e arrependimento,

    porm, mais intenso com a fase violenta, com agresses fsicas rotineiras, podendo terminar em

    uma leso fsica grave ou feminicdio.

    Neste sentido, muitas so as dificuldades e limitaes para as mulheres romperem com o ciclo

    de violncia, considerando que elas tm uma relao afetiva e emocional com o agressor; medo de

    sofrer uma violncia mais grave; vergonha do que a sociedade vai pensar ou dizer; medo de prejudicar

    o agressor e os/as filhos/as; no querem que o pai de seus/suas filhos/as v preso; se sentem culpadas

    e/ou responsveis pelas violncias que sofrem; carregam um sentimento de fracasso e culpa na

    escolha do parceiro idealizado; no possuem condies financeiras para mudar o rumo de sua vida;

    sentem, perdem a identidade, a autoestima.

    Na busca de ajuda para a ruptura do ciclo de violncia, a mulher quando procura os servios

    institucionais especializados, geralmente, o seu primeiro acesso se d por meio do registro do boletim

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    de ocorrncia numa Delegacia Especializada de Atendimento Mulher buscando, assim,

    resolutividade para o problema e, na maioria das vezes, ela se depara com a construo do processo

    da rota crtica.

    Em A rota crtica das mulheres afetadas pela violncia intrafamiliar na Amrica Latina5,

    Montserrat Sagot (2000)6 busca compreender o processo da rota crtica seguida pelas mulheres

    maiores de 15 anos afetadas pela violncia intrafamiliar e quais os fatores que influenciavam esse

    processo. Nesta pesquisa, Sagot conceitua a rota crtica afirmando que

    [...] es un proceso que se construye a partir de la secuencia de decisiones tomadas y acciones

    ejecutadas por las mujeres afectadas por la violencia intrafamiliar y las respuestas

    encontradas en su bsqueda de soluciones. Este es un proceso iterativo constituido tanto por

    los factores impulsores e inhibidores relacionados con las mujeres afectadas y las acciones

    emprendidas por stas, como por la respuesta social encontrada, lo que a su vez se convierte

    en una parte determinante de la ruta crtica. En ese sentido, con el concepto de ruta crtica se

    reconstruye la lgica de las decisiones, acciones y reacciones de las mujeres afectadas, as

    como la de los factores que intervienen en ese proceso. (SAGOT, 2000, p.89)

    Em outras palavras, a rota crtica entendida como um complexo emaranhado de atitudes e

    decises tomadas pelas mulheres em situao de violncia e as respostas encontradas na busca por

    apoio. O caminho percorrido desde o episdio da violncia at a procura pela ajuda institucional

    muito extenso, sendo influenciado por vrios fatores impulsionadores e inibidores (internos e

    externos) para o incio de uma rota de superao e rompimento o momento em que essas mulheres

    decidem romper com o silncio em relao a situao de violncia domstica e familiar vivenciada.

    Os estudos sobre o atendimento nas instituies especializadas tm mostrado que quando a

    denncia chega nos servios especializados (ou no-especializados) contra a violncia domstica e

    familiar contra a mulher, esses servios nem sempre esto preparados para o atendimento, seja no

    tocante a escuta no qualificada dos(as) profissionais e/ou na precariedade estrutural fazendo com

    que sofram uma revitimizao da violncia (SAGOT, 2000; BRUHN & LARA, 2016; SILVEIRA,

    2006).

    De acordo com Dutra, Prates, Nakamura e Vilela (2013), os estudos sobre as rotas percorridas

    pelas mulheres, em busca de sair do ciclo de violncia, identificam muitas dificuldades nesse

    5 Texto original em espanhol: La ruta crtica de las mujeres afectadas por la violencia intrafamiliar em Amrica Latina

    (SAGOT, 2000). 6 um estudo pioneiro, realizado na dcada de 1980, que objetivou investigar o trajeto percorrido pelas mulheres para

    romper com a violncia em dez pases latino-americanos, que so: Belice, Bolvia, Costa Rica, Equador, El Salvador,

    Guatemala, Honduras, Nicargua, Panam e Per. As entrevistas foram realizadas nas organizaes governamentais

    (sade, jurdico-legal e educativo) e nas organizaes no-governamentais (organizaes das comunidades de bases, ONG

    de Mulheres e Instituies da Igreja). A seleo das localidades contemplou uma grande diversidade em termos de rea

    geogrfica, cultural, idioma e caractersticas scio-demogrficas. A caracterstica em comum que une todas essas

    localidades que eles definiram a reforma para a sade em todos os pases.

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    rompimento tais como, a falta de apoio, a revitimizaco e a atitude preconceituosa e ineficiente por

    parte das pessoas que deveriam acolh-las, alm dos seus sentimentos de vergonha, culpa e presses.

    Dentre as situaes que dificultam o rompimento, esto o medo, a culpa, a vergonha, as

    presses familiares, as limitaes materiais e a ineficcia institucional, compreendendo as

    atitudes negativas dos operadores, a burocracia, a falta de orientao, a revitimizao.

    (MENEGHEL et al., 2011, p. 749)

    Assim, se percebe as falhas na elaborao e formulao dessas polticas pblicas para

    mulheres e na criao de propostas que as fortaleam efetivamente para a superao da violncia

    domstica e familiar. Entretanto, mesmo com essas limitaes, muitas mulheres conseguiram romper

    com a violncia e reconstruram suas vidas, livres das agresses, seja por meio de orientao

    institucional (Servios da Rede Especializada), ou por meio de suas relaes interpessoais, a exemplo

    dos familiares, amigos/as, vizinhos/as, etc.

    PERCURSO METODOLGICO

    Considerando que esta investigao tem como objetivo geral compreender como se processa

    a ruptura das mulheres em relao a violncia na trajetria percorrida na rota crtica e que se pretende

    apreender a produo de sentido dos seus discursos, com a finalidade de saber sobre os fatores de

    influncia e inibio e as estratgias utilizadas por elas nessa trajetria, a metodologia , ento, de

    natureza qualitativa, que consiste em descries detalhadas de situaes com o objetivo de

    compreender os indivduos em seus prprios termos (GOLDENBERG, 2011, p. 53).

    O mtodo qualitativo fornece uma compreenso profunda de certos fenmenos sociais

    apoiados no pressuposto da maior relevncia do aspecto subjetivo da ao social face configurao

    das estruturas societais (HAGUETTE, 2000, p. 59). Visa abordar o mundo 'l fora' (e no em

    contextos especializados de pesquisa, como os laboratrios) e entender, descrever e, s vezes, explicar

    os fenmenos sociais de dentro de diversas maneiras diferentes" (ANGROSINO, 2009, p. 08).

    importante situar que nessa pesquisa me coloco na posio de feminista embasada numa

    epistemologia feminista ou num projeto feminista de cincia, compreendendo a necessidade de uma

    teoria feminista do conhecimento entendendo que no h dvidas de que o modo feminista de pensar

    rompe com os modelos hierrquicos de funcionamento da cincia e com vrios dos pressupostos da

    pesquisa cientfica (RAGO, 1998, p. 06).

    Neste sentido, reitero que nessa investigao considerarei o que Bourdieu (2015) chamou de

    objetivao e no objetividade no sentido integral e puro do termo, visto que h por parte dessa

    pesquisadora uma inteno de desconstruo do gnero, um interesse epistemolgico e, sobretudo,

    uma posio e prtica poltico-cientfica marcada com a inteno de dar voz s mulheres que foram

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    silenciadas no decorrer da histria e so silenciadas todos os dias por viverem situaes de violncia

    domstica e familiar. Ao modo de Rago,

    na luta pela visibilidade da questo feminina, pela conquista e ampliao dos seus direitos

    especficos, pelo fortalecimento da identidade da mulher, que nasce um contradiscurso

    feminista e que se constitui um campo feminista do conhecimento. a partir de uma luta

    poltica que nasce uma linguagem feminista. (RAGO, 1998, p. 05)

    H que se ressaltar que a pesquisa bibliogrfica sobre o tema em discusso, compreender

    todo o percurso de investigao e auxiliar no entendimento dos principais contedos tericos e

    metodolgicos, em seus conceitos e categorias analticas abordadas, a saber, feminismo, gnero,

    violncia de gnero, polticas para mulheres em situao de violncia, rota crtica, com o objetivo de

    fundamentar e tornar consistente esse trabalho.

    A operacionalizao desta pesquisa est dividida em trs etapas, a primeira consiste na

    realizao de um levantamento de informaes sobre o campo de pesquisa, concebido como lugar

    efetivo do trabalho dos pesquisadores, essencialmente o lugar dinmico e dialtico no qual se

    elabora uma pratica cientfica que constri objetos de conhecimento (BRUYNE; HERMAN;

    SCHOUTHEETE, 1977, p. 28). O portal de entrada dessa pesquisadora em campo para produo de

    dados ser a Casa Abrigo Mulher Viva, localizada em Teresina-PI, onde atravs do intermdio

    dessa instituio irei identificar 10 (dez) mulheres, maiores de 18 anos, que foram atendidas pela Casa

    Abrigo Mulher Viva, no intervalo de tempo de 2012 a 2016, que j se desligaram do servio de

    abrigamento e que tenham disponibilidade de narrar suas trajetrias na busca pela superao da

    violncia domstica e familiar.

    Na segunda etapa, prevista para ser realizada aps o contato e informaes obtidas na Casa

    Abrigo, iniciarei junto as participantes da pesquisa (mulheres que passaram pelo servio de

    abrigamento), entrevistas individuais em profundidade (MINAYO, 2011; GASKELL, 2002), que

    sero orientadas por um roteiro de questes semi-estruturadas, considerando que j se tem

    conhecimento sobre o assunto e sobre certas questes que se quer investigar em campo.

    Utilizarei a tcnica da entrevista, considerando ser essa a mais adequada para ser aplicada

    nesse estudo, visto que permite captar em maiores detalhes o contedo das falas das entrevistadas.

    Ter optado pelo tipo semiestruturado visa possibilitar certa flexibilidade do contedo dos relatos, por

    parte das entrevistadas como dessa entrevistadora, que pode vir a considerar e inserir algumas falas

    que no esto diretamente relacionadas ao assunto investigado, mas que julgar importantes para

    anlise. Ir ao campo com certa flexibilidade no nvel de estruturao, permite tambm certo

    detalhamento do contedo das falas, no que se refere as questes levantadas, de outro modo

    conseguir detalhes muito mais ricos a respeito de experincias pessoais, decises e sequncia das

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    aes, com perguntas indagadoras a motivaes, em um contexto de informao detalhada sobre

    circunstncias particulares da pessoa (GASKELL, 2002, p 78) onde a pesquisadora deve ter em

    mente que cada questo precisa estar relacionada aos objetivos de seu estudo (GOLDENBERG,

    2011, p. 86).

    Farei uso tambm da tcnica da observao participante em dois momentos. O primeiro

    ocorrer a partir da conversa com funcionrias da Casa Abrigo (Coordenadora e uma Educadora

    Social) a respeito do processo de abrigamento das mulheres, oportunidade em que se observar a

    dinmica desse contexto institucional, sua estrutura, funcionamento e atividades direcionadas s

    abrigadas. O segundo momento de observao, ser realizado quando da realizao das entrevistas

    com as referidas mulheres, a fim de perceber alm das suas falas outros elementos que possam

    reforar e/ou complementar os seus discursos e que possam estar presentes na postura corporal,

    impostao da voz, gestos, smbolos, enfim, auxiliando para uma maior compreenso e sentido dos

    discursos.

    Dessa maneira, a observao se resume a uma importante tcnica de coleta de dados,

    empreendida em situaes especiais e cujo sucesso depende de certos requisitos que a distingue das

    tcnicas convencionais de coleta de dados, tais como o questionrio e a entrevista (HAGUETTE,

    2000, p. 69). De acordo com Minayo (2011), a observao participante pode ser definida tambm

    como um processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situao social,

    com a finalidade de realizar uma investigao cientfica (MINAYO, 2011, p. 70), num sentido

    prtico. Farei uso do dirio de campo em todo o processo de pesquisa [...], anotando as prprias

    impresses, as mudanas acontecidas, os obstculos e as surpresas do processo de pesquisa

    (TERRAGNI, 2005, p. 150).

    A terceira etapa desta pesquisa, inclui o trabalho ps-campo, ou seja, a transcrio e

    categorizao das falas das entrevistadas visando a anlise ou produo de dados. A transcrio ser

    realizada na ntegra, tomando notas no dirio de campo das ideias que vierem mente em termos dos

    provveis indicadores, categorias e indcios de provveis anlises e resultados. O tratamento analtico

    utilizado na produo de dados ser realizado por meio da anlise de discurso, abordagem terico-

    metodolgica da produo de sentidos das prticas discursivas sobre o processo de rompimento do

    ciclo de violncia pelas mulheres.

    Assim, para compreender as prticas discursivas, considerando as permanncias e as rupturas

    no ciclo de vida vivida, utilizarei a tcnica da construo de mapas de associao de ideias que tem

    como objetivo sistematizar o processo de anlises das prticas discursivas em busca dos aspectos

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    formais da construo lingustica [...] constituindo-se instrumentos de visualizao que tm um

    duplo objetivo: dar subsdios ao processo de interpretao e facilitar a comunicao dos passos

    subjacentes ao processo interpretativo (SPINK e LIMA, 2000, p. 107).

    Partindo desse tratamento analtico, cada entrevista ser analisada individualmente,

    organizada atravs de uma tabela com um nmero de colunas correspondente s categorias a serem

    utilizadas [...] transferindo o contedo do texto para as colunas, respeitando a sequncia do dilogo

    (SPINK e LIMA, 2000, p. 108). Com o quadro pronto, em efeito escada, farei a leitura vertical e

    horizontal, construindo as formas discursivas num processo de interanimao, verificando e

    refletindo sobre os objetivos da pesquisa. As anotaes do dirio de campo tambm so analisadas

    juntamente com as informaes advindas das entrevistas no sentido de contraposio, confirmao

    ou complementao das entrevistas.

    Devido a relevncia social desta investigao, irei buscar atingir o mximo de benefcios, por

    meio dos resultados da pesquisa, assim como, o mnimo de danos e riscos, utilizando procedimentos

    que assegurem a confidencialidade e a privacidade de todas as informaes coletadas, tendo em vista

    que esta investigao empregar tcnicas que no realiza nenhuma interveno, modificao

    intencional ou que seja invasiva na realidade social dos indivduos que participam da pesquisa.

    CONSIDERAES FINAIS

    Diante do fenmeno da violncia domstica e familiar, vrias aes vm se desenvolvendo no

    sentido de tornar visvel o tema da violncia contra as mulheres, tendo sido protagonizado pelo

    Movimento de Mulheres e Movimento Feminista no Brasil e mundo afora, e as polticas existentes

    no mbito do poder pblico fruto de toda essa mobilizao social. O percurso seguido pelas

    mulheres para a garantia de direitos longo, no entanto, tambm longa a persistncia e luta das

    mulheres na busca do reconhecimento de sua cidadania.

    Acredita-se que essas mulheres que esto na rota crtica, possuem trajetrias complexas que

    foram trilhadas nos mais diversos servios especializados e no-especializados, entretanto a escolha

    por essas mulheres que fizeram parte do servio de abrigamento e atualmente se encontram

    desligadas, deve-se ao fato desse servio estar supostamente no final da reta de rompimento das

    mulheres em relao a violncia sofrida, ou seja, supostamente uma das portas de sada.

    No entanto, mesmo com todas as limitaes, possvel perceber a partir das primeiras

    imerses no campo de pesquisa que muitas mulheres conseguiram romper com a violncia e

    reconstruram suas vidas, seja por meio de orientao institucional (Servios da Rede Especializada),

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    seja por meio de suas relaes interpessoais, como por exemplo, os familiares, amigos/as, vizinhos/as,

    etc.

    Mediante o exposto e considerando que este trabalho de investigao fruto do meu projeto

    de pesquisa do Mestrado em Sociologia da Universidade Federal do Piau, infelizmente ainda no

    possuo resultados, pois esta pesquisa est em andamento. Todavia, este trabalho se apresenta numa

    perspectiva de expor algumas reflexes tericas sobre os estudos de gnero, violncia domstica e

    familiar e, em especial, sobre as rotas crticas, os ciclos de violncia e sua ruptura.

    Contudo, esta investigao tem como proposio tambm dar "voz" a essas mulheres que

    foram silenciadas e que finalmente esto conseguindo ressignificar suas vidas, reconquistando suas

    identidades, reconhecendo-se como protagonistas na retomada de seus caminhos. Assim, as mulheres

    deixam de ser aquelas de quem se fala e passam a ser aquelas que falam por si mesmas, a partir de

    suas trajetrias de vidas, vivncias, percepes de mundo e, sobretudo, perspectivas de futuro.

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    Women in situations of domestic and family violence at risk of death: reflections on the process

    of breaking the cycle of violence in teresina-pi

    Abstract: Domestic and family violence against women is a serious universal problem that affects

    thousands of women in a variety of ways. It is permeated by aspects that shape the relations between

    the sexes and which provide women with a situation of vulnerability or risk of violence. The

    confrontation of violence requires a link between the various segments of society, that is, the

    executive, legislative and judicial branches, social movements and society in general. Often when the

    theme of violence against women is addressed, the discourse of women as a victim of violence

    becomes explicit, but the issue of women's empowerment has not yet made sense and meaning so that

    they can break the cycle of violence and, consequently, find alternatives for the reconstruction and

    resignification of their lives. This research intends to understand how these women who were treated

    by Casa Abrigo "Mulher Viva" managed to break the cycle of violence, considering that they are very

    complex cyclical processes, full of comings and goings. However, this work has as a proposal also to

    give "voice" to these women who have been silenced and who, finally, are being able to resignify

    their lives, being no longer those of whom one speaks and they become the ones that speak for

    themselves, from of their trajectories of lives, experiences, perceptions of the world and, above all,

    perspectives of the future.

    Keywords: Gender, Domestic violence, Cycle of violence, Reconstruction.