Mulheres na seguranca pública 2013

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  • 7/28/2019 Mulheres na seguranca pblica 2013

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    Ministrio da Jusa

    M I S P:

    E t d T i N i l

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    Ministrio da Jusa

    M I S P:

    Estudo Tcnico Nacional

    Braslia - DF

    2013

    P RDilma Rousse

    M JJos Eduardo Cardozo

    S EMrcia Pelegrini

    S N S PRegina Maria Filomena De Luca Miki

    D D P, A I D P S PIsabel Seixas de Figueiredo

    D N P BRA/04/029Guilherme Zambarda Leonardi

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    AGRADECIMENTOS

    Agradecemos a todas as mulheres pro-

    ssionais de segurana pblica que par-ciparam dos grupos focais e entrevis-tas e esforaram-se em responder aoquesonrio on-line, colaborando paraum retrato nacional da sua inseronas instuies. Contamos ainda coma valiosa colaborao das Associaesde mulheres na segurana pblica, quecontriburam em todas as etapas.

    2013 Secretaria Nacional de Segurana PblicaTodos os direitos reservados. permida a reproduo total ou parcial desta obra, desde que seja citada afonte e no seja para venda ou qualquer m comercial.

    Esplanada dos Ministrios, Bloco T, Palcio da Jusa Raymundo Faoro, Edicio Sede, 5 andar, Sala 500,Braslia, DF, CEP 70.064-900.

    D ://...

    ISBN:978-85-85820-29-9

    T: 1.000 exemplares

    I B

    M I S P: E T N

    E DMinistrio da Jusa / Secretaria Nacional de Segurana Pblica

    E R

    C

    Taana Severino de Vasconcelos

    C

    Wnia Pasinato

    R E

    Gledson Lima Alves - PMSE

    Lydiane Maria de Azevedo - PCMG

    Regina Silva Funo - Ass. tcnica/Psicloga

    Scheilla C. Pereira de Andrade SEDS/MG

    E A

    Ana Caroline Honorato - estagiria, Andrea da Silveira Passos BMRS, Crisane Santana - CBMSE, CrisnaNeme SENASP/MJ, Danielle Azevedo Souza CBMSE, Dayane Gomides Cavalcante - PMTO, Fbio Floriano

    da Silva PCGO, Helosa Helena Kuser IGP/RS, Maria de Fma Pires de Campos Godoy SPTC/SP, Marina

    Rodrigues Fernandes de Sousa - SENASP/MJ, Maristela Amaral Gis PCPE, Patrcia Tollo Rodrigues -PCRS,

    Raquel Arruda Gomes SSP/RS

    D P G

    Filipe Marinho de Brito - CBMGO e Robson Niedson de Medeiros Marns - PMGO

    Ficha catalogrca elaborada pela Biblioteca do Ministrio da Jusa

    363.23B823m

    Brasil. Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP).Mulheres nas instuies de segurana pblica: estudo tcnico nacional /

    Secretaria Nacional de Segurana Pblica. Braslia : Ministrio da Jusa,Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP), 2013.184p.

    ISBN :978-85-85820-29-9

    1. Segurana pblica, Brasil. 2. Segurana pblica, formao prossional.I. Ttulo.

    CDD 363.23

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    S

    Apresentao 13

    1. Introduo 15

    1.a. A pesquisa 20

    2. Breve contexto histrico e documental da insero das mulheres nasegurana pblica

    27

    3. Experincias, opinies e percepes: entrevistas e grupos dediscusso

    31

    3.a. Sobre o ingresso nas Instuies de Segurana Pblica 31

    3.b. A experincia instucional 32

    3.c. O trabalho da mulher policial 33

    3.d. Relaes prossionais e relaes de gnero 34

    3.e. Qualidade de vida e sade 37

    4. Rtt Nc d Muh Itu d Sgu Pbc(ISP)

    39

    4.a. Perl Sociodemogrco e Prossional 43

    4.b. Valorizao prossional 61

    4.c. Relaes prossionais e Relaes de gnero 73

    4.d. Sade e qualidade de vida 93

    5. Consideraes Finais 103

    6. Recomendaes 107

    7. Rfc Bbgc 109

    8. A

    Anexo I - Bibliograa Anotada sobre Mulheres nas Instuies deSegurana Pblica

    111

    Anexo II Instrumentos de pesquisa on-line 119

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    Quadro: Ingresso de mulheres nas Polcias Militares no Brasil 15

    Tabela 1 - Total de quesonrios recebidos e total de quesonrios vlidos. Distribuiopor Instuio de Segurana Pblica (ISP)

    39

    Tabela 2 Distribuio segundo a UF e Instuio de Segurana Pblica. Total dequesonrios

    40

    Tabela 3 Distribuio segundo a orientao sexual e a IS P. Total por ISP (%) 49

    Tabela 4 Distribuio segundo os cargos e patentes e a ISP. Total por ISP (%) 49

    Tabela 5 Distribuio segundo a(s) rea(s) em que classicam as avidades que

    realizam e a ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)51

    Tabela 6 Distribuio segundo a deciso de realizar ou no a denncia e os movospara faz-lo segundo a ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)

    88

    Tabela 7 Distribuio segundo ter ou no sofrido consequncias pela denncia/publicizao da discriminao/ violao de direitos sofrida, segundo o po e a ISP.Total por ISP (% - mlpla escolha)

    91

    Tabela 8 Distribuio segundo a aplicao ou no de penalizao para o(a)

    denunciado(a), o po de penalizao e por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)92

    Tabela 9 Distribuio segundo a avaliao sobre a rona e disposio e suafrequncia, por ISP. Total por ISP. (%)

    96

    Tabela 10 Distribuio do tempo segundo tarefas e avidades de lazer e descanso esua frequncia, por ISP. Total por ISP (%)

    97

    Tabela 11 Distribuio segundo problemas de sade apresentados nos lmos12 meses por ISP. Total por ISP. % sobre o total de respostas e % sobre o total de

    quesonrios preenchidos. (%)100

    Tabela 12 Distribuio segundo os cuidados prevenvos realizados e sua frequncia,por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)

    101

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    10 11

    Grco 13- Distribuio segundo avidade remunerada para complementao derenda e a ISP. Total de ISP. (%)

    57

    Grco 14a - Distribuio segundo a sasfao prossional e a ISP. Total por ISP (% ) 58

    Grco 14b - Distribuio segundo a sasfao prossional e a ISP. Total por ISP (% ) 59

    Grco 14c - Distribuio segundo a sasfao prossional e a ISP. Total por ISP (% ) 60

    Grco 14d - Distribuio segundo a sasfao prossional e a ISP. Total por ISP (% ) 60

    Grco 15a Distribuio segundo a existncia de cotas para ingresso nas ISP e ISP.Total de Policiais Militares e Bombeiras Militares (%)

    61

    Grco 15b Distribuio segundo a opinio sobre a existncia de cotas para

    ingresso nas ISP. Total de Policiais Militares e Bombeiras Militares (%)62

    Grco 16 Distribuio segundo a realizao de formao, o perodo de formaoe a ISP. Total por ISP (%)

    64

    Grco 17 Existncia de instalaes adaptadas para as mulheres segundo a ISP.

    Total de respostas por ISP (% - apenas para SIM)

    66

    Grco 18a - Condies de uso das instalaes existentes segundo as ISP Alojamentos. Total por ISP Militares (%)

    67

    Grco 18b - Condies de uso das instalaes existentes segundo as ISP Banheiros.

    Total por ISP Militares (%)67

    Grco 19 Distribuio segundo a inexistncia de Equipamento de ProteoIndividual ergonomicamente adaptado para mulheres e a ISP. Total por ISP (% -mlpla escolha)

    68

    Grco 20 Distribuio segundo a existncia de Programas de Qualidade de Vida eISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)

    71

    Grco 20a Distribuio segundo a existncia de Programas de Qualidade de Vida

    e ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)72

    Grco 21 - Distribuio segundo a percepo sobre tratamento para homens emulheres nas relaes prossionais por ISP. Total por ISP. (%)

    74

    Grco 22a Distribuio segundo a percepo sobre privilgios/proteo parahomens nas relaes prossionais por ISP. Total por ISP. (%)

    75

    Grco 1 Distribuio por Regio Geogrca. Total de Quesonrios (%) 41

    Grco 1a- Distribuio por Regio Geogrca e Instuio de Segurana Pblica.Total de Quesonrios (%)

    41

    Grco 2- Distribuio por Local de Trabalho. Total de Quesonrios (%) 42

    Grco 2a- Distribuio por Local de Trabalho e Instuio de Segurana Pblica.Total de Quesonrios (%)

    42

    Grco 3 Distribuio segundo a faixa etria e a ISP. Total de Resultados por ISP (%) 43

    Grco 4 Distribuio segundo a cor da pele e a ISP. Total de Resultados por ISP (%) 44

    Grco 4a Distribuio das respondentes da pesquisa e mulheres da populao

    segundo a cor da pele (%)45

    Grco 5 Distribuio segundo os nveis de escolaridade e a ISP. Total de Resultadospor ISP (%)

    46

    Grco 5a Distribuio segundo os nveis de escolaridade. Total de Resultados (%) 46

    Grco 6 Distribuio segundo a situao conjugal e a IS P. Total por ISP (%) 47

    Grco 7 Seu/sua (ex) companheiro (a) /era prossional de Segurana Pblica?

    Distribuio por ISP. Total por ISP (%)48

    Grco 8 - Distribuio segundo os pos de avidades que realizam e a ISP. Total porISP (% - mlpla escolha)

    52

    Grco 9 - Distribuio segundo o ano de ingresso na carreira e a ISP. Total por ISP(%)

    53

    Grco 10 - Distribuio segundo movaes para escolha da carreira e a ISP. Totalpor ISP (% - mlpla escolha)

    54

    Grco 11 - Distribuio segundo a presena de familiares nas ISP. Total por ISP (%- mlpla escolha) 55

    Grco 12 - Distribuio segundo os rendimentos brutos (em reais) e a IS P. Total deISP. (%)

    56

    Grco 12a Distribuio segundo os rendimentos brutos (em reais). Total derespostas (%)

    56

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    Grco 22b Distribuio segundo a percepo sobre privilgios/proteo paramulheres nas relaes prossionais por ISP. Total por ISP. (%)

    75

    Grco 23 Distribuio segundo as percepes sobre ambiente de trabalho,relacionamentos prossionais e compeo por ISP. Total por ISP. (% - mlpla

    escolha)

    76

    Grco 24 Distribuio segundo as oportunidades de expressar opiniesdiscordantes em relao aos superiores hierrquicos segundo a ISP. Total por ISP. (%)

    77

    Grco 25 Distribuio segundo a relao com outras mulheres que ocupamcargos hierarquicamente superiores. Total por ISP. (%)

    78

    Grco 26a Distribuio segundo o desenvolvimento prossional entre colegas deturma (homens) e por ISP. Total por ISP (% )

    78

    Grco 26b Distribuio segundo o desenvolvimento prossional entre colegas de

    turma (mulheres) e por ISP. Total por ISP (%)79

    Grco 27 Distribuio segundo os fatores que inuenciam o desenvolvimentoprossional das mulheres por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)

    80

    Grco 28 Distribuio segundo a experincia de Discriminao e Violao deDireitos e por ISP. Total por ISP. (% - mlpla escolha)

    82

    Grco 29 Distribuio segundo os impactos e consequncias das experinciasde discriminao e violao de direitos por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)

    85

    Grco 30 Distribuio segundo a deciso de pedir ou no ajuda e a quem recorreu

    por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)86

    Grco 31 Distribuio segundo a deciso de realizar ou no a denncia por ISP.Total por ISP (% - mlpla escolha)

    88

    Grco 32 Distribuio segundo ter ou no sofrido consequncias pela denncia/publicizao da discriminao/violao de direitos sofrida por ISP. Total por ISP (% -mlpla escolha)

    90

    Grco 33 Distribuio segundo a aplicao ou no de penalizao para o(a)

    denunciado(a) e por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)92

    Grco 34 Distribuio segundo o po de licena e ISP. Total por ISP (% - mlpla

    escolha)

    94

    Grco 35- Distribuio segundo as avidades que realizam durante as frias e a IS P.

    Total por ISP (% - mlpla escolha)

    95

    Grco 36 Distribuio segundo o uso de medicamentos e substncias por ISP.

    Total por ISP (% - mlpla escolha)

    102

    A

    necessrio avanar muito no debate para a construo de polcas p-

    blicas especicas para mulheres e, especialmente quando voltadas situao da-

    quelas atuantes em segurana pblica. Com vistas a estabelecer estratgias e po-

    lcas de gesto com enfoque na presena de prossionais do sexo feminino nos

    rgos de segurana pblica, faz-se necessrio estudar a histria instucional e de

    vida das mulheres atuantes na rea, considerando-se o impacto, as resistncias e

    as adaptaes provocadas nas instuies em resposta presena de mulheres.

    Alm disso, a idencao das diculdades enfrentadas e das relaes de traba-

    lho nesse ambiente essencialmente masculino subsidiar a elaborao de polcas

    pblicas, com o recorte de gnero, voltadas a proporcionar melhores condies de

    trabalho s mulheres prossionais de segurana pblica.

    Nesse sendo, a pesquisa Mulheres na Segurana Pblica: estudo tcnico

    nacional uma iniciava indita que buscou construir uma avaliao histrica e

    documental das estratgias, processos e polcas de gesto com enfoque em pro-

    ssionais mulheres do quadro efevo das instuies de segurana pblica, bem

    como idencar um perl nacional dessas servidoras, vericando o po de avi-

    dades para as quais as mulheres so designadas, o percentual e espcies de cargos

    ocupados, suas percepes, diculdades e principais demandas. Vale salientar que

    o ingresso de mulheres na segurana pblica fortaleceu-se em meados da dcada

    de 1980. Contudo, o marco histrico da ocupao, por mulheres, dos cargos mais

    altos de instuies de segurana pblica em diversos estados brasileiros deu-se a

    parr da primeira dcada do sculo XXI.

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    Sem a pretenso de congurar-se num retrato denivo da situao das

    prossionais de segurana pbica no pas, essa pesquisa aponta para a necessida-

    de de realizao de outros estudos tcnicos, considerando-se o perl dessas mu-

    lheres, suas condies de trabalho e valorizao prossional, visando a promoo

    do tratamento igualitrio entre gneros e o respeito dignidade e sade dessas

    prossionais.

    Para tanto devem ser estudadas novas parcerias para implementao de

    polcas de suporte instucional, orientadas promoo da transversalizao de

    gnero. Espera-se, assim, que os resultados ora apresentados contribuam para

    uma maior visibilidade dessas prossionais, bem como para o debate e proposio

    de novas prcas mas, principalmente, para a melhoria das condies de trabalho

    e sua insero efeva nas instuies.

    k

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    1I

    Aentrada de mulheres nas Instuies de Segurana Pblica no Brasil recente, somando pouco mais de 50 anos de histria. De acordo comautoras que se dedicaram ao tema (Calazans, 2003, Soares e Musumeci, 2005), um

    marco para esse fato histrico foi a criao de um Corpo Feminino na Guarda Civil

    do Estado de So Paulo, em 1955. Posteriormente, j nos anos 1970, esse grupo

    foi integrado recm-formada Polcia Militar do Estado de So Paulo. Ainda de

    acordo com o inventrio realizado por Soares e Musumeci, foi tambm a parr dos

    anos 1970 que as Polcias Militares de outras unidades da federao passaram a

    incorporar mulheres aos seus quadros de pessoal, o que s vezes foi feito de forma

    unicada nos quadros masculinos e s vezes no.

    Q: I P M B

    U F A I M

    AC 1985

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    Mulheres nas Instuies de Segurana PblicaSecretaria Nacional de Segurana Pblica/MJ

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    7

    8

    problemcas sociais, de ajuda a outras mulheres, crianas e idosos. Subjacente havia

    a convico que a mulher policial poderia ter uma relao estreita e especial com a

    comunidade, com um papel pacicador e protetor. (Donadio, 2009: 82)3

    No Brasil, a bibliograa aponta que o acesso das mulheres s polcias

    civis e militares passou a ser ampliado a parr dos anos 1980 no contexto de

    redemocrazao polca e, especialmente, a parr de 1988, com a promulgao

    da Constuio Federal, marco para a consolidao da democracia no pas. Segundo

    Calazans (2003), este contexto foi caracterizado pelo debate sobre reforma policial,

    polcas armavas e novas concepes de segurana pblica que visavam romper

    com um passado de represso e truculncia que caracterizavam negavamente

    as corporaes policiais e avanar na incorporao dos princpios de respeito aos

    direitos humanos em um modelo de segurana cidad.

    Nesta nova abordagem, a incluso de mulheres teve como objevo a

    humanizao de setores das corporaes policiais com o objevo de melhorar a

    imagem da polcia, aproxim-la da populao, e oferecer atendimento adequado

    populao vulnervel mulheres, crianas, idosos, entre outros. A literatura

    tambm no ignora que a entrada de mulheres para essas funes contribuiu

    para liberar os homens das avidades administravo-burocrcas, permindo

    que esvessem atuando nas linhas de frente, ocupando os postos mais altos dahierarquia e parcipando de atos de bravura e coragem no combate criminalidade

    urbana.

    Soares e Musumeci (2005) chamam a ateno para outra caractersca da

    parcipao feminina nas polcias. Nas polcias militares essa parcipao teria sido

    movada por fatores internos, ou seja, esse projeto de humanizao da polcia

    mediante a incorporao de caracterscas femininas docilidade, capacidade para

    o dilogo, etc. foi planejada pelos comandos e aplicada segundo as necessidades

    instucionais4. No entanto, a proposta focava muito mais os efeitos cosmcos

    e de markeng que a transformao estrutural para a mudana instucional. As

    autoras tambm chamam a ateno para o fato que essas movaes nunca foram

    totalmente explicitadas.

    Nas polcias civis, o processo polco-instucional para a incorporao

    das mulheres tambm carece de invesgao. Acredita-se, no entanto, que uma

    movao teria sido externa instuio, uma vez que a criao das Delegacias da

    3 No original Las caracterscas propias del trabajo policial llevaron a incorporar a la mujer bajo una perspecva funcional,

    para desempear labores relacionadas con la atencin de problemcas sociales, de ayuda a otras mujeres, nios y

    ancianos. Subyaca la conviccin de que la mujer polica poda tener un acercamiento y trato especial con la comunidad, por

    la construccin de um rol de gnero conciliador y protector. (Donadio, 2009:82)4 Segundo as mesmas autoras, zeram parte desse projeto a introduo de disciplinas de Direitos Humanos nos currculosde formao das polcias e ensaios de implantao do policiamento comunitrio. (Soares e Musumeci, 2005: 16)

    No h inventrio semelhante para as Polcias Civis1, mas as informaes

    esparsas pela bibliograa mostram que os anos 1970 tambm foram marcados pela

    admisso de mulheres nos quadros das policiais civis, a exemplo do que ocorreu

    no estado da Bahia onde, de acordo com a delegada de polcia entrevistada para

    essa pesquisa, o ingresso de mulheres na polcia civil deu-se a parr de 197 1 com

    delegadas e escrivs.

    S vai comear a ter agente, invesgadora a parr dos anos 80, porque as mulheres que

    eram invesgadoras, muito poucas, entravam pela polcia feminina que era comandada por

    uma comissria. ... esse corpo de mulheres que era um grupo isolado que no trabalhava

    em delegacia. Elas trabalhavam em recepo, casamento, cuidar de criana, de idoso,

    de pegar maluco na rua, meninos de rua, elas no nham a funo de polcia judiciria.

    Quando criou a Delegacia da Mulher quem ia compor esse quadro? A pega essas policiais

    femininas e so transformadas em invesgadoras... entraram pela academia de polcia,

    mas nham uma farda diferente, muito parecida com a polcia militar, mas faziam a parte

    da polcia administrava, no faziam parte da polcia judiciria...2

    A entrevista acima tambm aponta para outro momento da entrada das

    mulheres nas polcias civis. Aps a abertura da primeira Delegacia de Defesa da

    Mulher, na cidade de So Paulo, em 1985, essas unidades passaram a ser criadas

    em outros estados brasileiros e as polcias precisaram ampliar seus quadros de

    mulheres para atender a essas novas delegacias que nham entre as caracterscas

    denidoras da especializao que todo o atendimento deveria ser realizado pelo

    efevo do sexo feminino.

    A experincia brasileira de incorporao de mulheres nas polcias no foi

    fato isolado, e na mesma poca esse movimento ocorreu em outros pases da

    Amrica Lana (Donadio, 2009). Na regio, os primeiros pases a contarem com

    mulheres atuando nas foras policiais foram o Chile e Uruguai, em 1939 e 1931,

    respecvamente. Em outros pases, como El Salvador, Honduras y Guatemala,

    esse processo teve incio com a reformulao das polcas de segurana interna, a

    parr dos anos 1990, resultado dos processos de pacicao (Donadio, 2009: 85).

    No Brasil, a incluso de mulheres nas foras policiais veio no bojo dos processos

    de redemocrazao polca. Ainda que se esteja tratando de contextos polcos

    especcos e de diferenas entre as foras policiais segundo sua composio,

    abrangncia e competncias, a autora ressalta que em todos os pases

    as caracterscas prprias do trabalho policial levaram a que a incorporao da mulher

    se desse numa perspecva funcional, para desempenhar avidades relacionadas com as

    1 No foram mencionados os Corpos de Bombeiros e Polcias Ciencas nesse histrico porque esses foram vinculadoss Polcias Militares e Polcias Civis, respecvamente, em suas origens. No nal dos anos 1990 teve incio a separao dasinstuies.2 Entrevista com a Dra. Isabel Alice Delegada de Polcia da Policia Civil do Estado da Bahia. Em 16/11/2011.

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    Mulheres nas Instuies de Segurana PblicaSecretaria Nacional de Segurana Pblica/MJ

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    4

    5

    6

    7

    8

    Neste sendo, a pesquisa lanada pela Secretaria Nacional de Segurana

    Pblica/SENASP, no mbito do Projeto Valorizao Prossional e Qualidade de Vida

    para Servidores de Segurana Pblica, se apresenta como uma iniciava indita

    que permir avanar no conhecimento sobre o conngente feminino nas polcias

    civis, polcias militares, polcias tcnicas e corpos de bombeiros.

    O Projeto Valorizao Prossional e Qualidade de Vida para servidores de

    Segurana Pblica, concebido a parr dos princpios e metas do Sistema nico

    de Segurana Pblica SUSP, tem por objevo planejar, implementar, monitorar

    e avaliar polcas permanentes, de carter educavo, prevenvo e reparador,

    nas reas de sade sica e mental, suporte ao prossional, gesto de recursos

    humanos e materiais e fortalecimento da imagem instucional. Tais polcas

    se materializam por meio de estudos tcnicos, interlocuo com as instuies

    estaduais de segurana pblica, e principalmente, pelo repasse de recursos e

    celebrao de convnios para implementao de projetos especcos na rea. A

    instucionalizao do Projeto se deu por meio da Instruo Normava GAB/MJ

    n 01, de 26 de fevereiro de 2010. A referida Instruo Normava foi construda

    colevamente, com a parcipao de gestores estaduais de sade das instuies

    de todos os Estados da federao, alm de parcipantes da Polcia Federal e da

    Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica. O documento dispe

    sobre as diretrizes do Projeto Nacional, visando fomentar, nas unidades federavas

    que aderirem voluntariamente, aes prevenvas e integradas, de forma a prevenir

    adoecimentos e promover melhores condies de vida e de trabalho entre esses

    indivduos.

    Paralelamente realizao de pesquisas e edio de normas e diretrizes,

    aes estaduais de qualidade de vida para os prossionais de segurana pblica

    passaram a ser fomentadas pela SENASP, por meio de convnios, ou seja, o repasse

    de recursos federais, por meio do Fundo Nacional de Segurana Pblica (FNSP) e

    do Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania (PRONASCI).

    Deve-se destacar que os Entes Federados, assim como os prprios

    prossionais de segurana pblica, so atores fundamentais no processo de

    elaborao, implementao e avaliao das polcas Projeto Qualidade de Vida

    para Prossionais de Segurana Pblica de Valorizao Prossional da SENASP.

    Uma importante parceria para a implantao das aes de Qualidade

    de Vida tem sido com o Projeto Segurana Cidad, um acordo de cooperao

    tcnica entre o Ministrio da Jusa, por meio da SENASP, com o Programa para

    o Desenvolvimento das Naes Unidas PNUD. O Projeto Segurana Cidad

    tem por metas formular polcas pblicas, implementar aes e estratgias para

    preveno da violncia e criminalidade, e garanr a incluso social e a igualdade

    de oportunidades.

    Mulher razo pela qual foi ampliado o quadro feminino paru de uma demanda

    dos movimentos de mulheres que, entre outras coisas, planejavam um trabalho

    em estreita colaborao com essas policiais que deveriam atuar como aliadas na

    luta contra a violncia contras as mulheres. De certa forma, essa relao com as

    Delegacias da Mulher e as delegacias especializadas que foram sendo criadas a

    parr dos anos 1990 de proteo criana e ao adolescente, de proteo ao

    idoso, decientes sicos, para crimes raciais e de intolerncia contriburam para

    a denio de um campo para o qual as policiais femininas foram direcionadas

    independente de sua idencao ou qualicao para trabalhar com esses

    pblicos.

    O fato que para nenhuma das duas instuies e, posteriormente, com

    os Corpos de Bombeiros, Polcias Ciencas e Instutos de Percias Criminais as

    mudanas provocadas pela entrada de mulheres no foram acompanhadas por

    mudanas estruturais signicavas e, passados 50 anos, as polcas instucionais

    esto distantes de incorporar a igualdade de oportunidade para homens e mulheres

    no acesso s carreiras policiais, bem como o reconhecimento da contribuio das

    mulheres a parr de sua formao prossional e tcnica, o que representaria uma

    mudana substanva para o funcionamento dessas instuies.

    Um inventrio dos obstculos colocados s mulheres nas instuies de

    segurana pblica mostra que estes so de diferentes pos e naturezas. Alguns

    so formais como a restrio para ingresso nas polcias militares que dene

    o percentual de vagas que podem ser preenchidas por mulheres a cada novo

    concurso pblico (Calazans, 2003). Outros so informais, como o chamado

    teto de vidro que inviabiliza o acesso das mulheres aos postos mais elevados

    da hierarquia policial (Silveira, 2009), e aqueles obstculos que se expressam

    nas relaes codianas, como a rejeio de mulheres para o desempenho de

    determinadas avidades, a recusa de alguns policiais em trabalhar com mulheres

    (Souza, 2011), as piadinhas e gracejos, o assdio sexual e moral, a inadequao

    da infraestrutura para acolher mulheres em delegacias e batalhes, entre outros

    que so relatados pelas pesquisas.

    Alm desses obstculos, pouco se conhece sobre as condies de trabalho,

    os efeitos que o estresse associado avidade de segurana pblica produz sobre

    sua sade e como afeta sua qualidade de vida, e em que medida as discriminaes

    com base no gnero aumentam a exposio a estas situaes e/ou agravam seus

    efeitos. As poucas pesquisas realizadas trazem pistas e representam importantes

    contribuies para o conhecimento sobre essa temca, mas so pontuais e

    permitem a composio de um mosaico sobre as experincias de mulheres nas

    polcias civis e militares, sem permir que se vislumbre um panorama nacional

    ou mais aprofundado sobre o tema, alm de no contemplarem a Polcia Tcnico-

    Cienca e os Corpos de Bombeiros Militares.

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    a respeito da presena das mulheres nas corporaes policiais, os desaos que

    enfrentam no exerccio de suas funes, as estratgias individuais e instucionais

    para administrar as diferenas de gnero e seu impacto nas avidades codianas.

    Trata-se de um campo de estudos bastante recente no pas e apenas a parr do

    nal dos anos 1990 surgem as primeiras pesquisas acadmicas, resultando em

    dissertaes e teses, argos ciencos e papers apresentados em encontros

    acadmico-ciencos6.

    Inicialmente a pesquisa esteve limitada s bases de dados virtuais e sistemas

    de busca da Plataforma Laes (CNPq)7, Banco de Teses da Capes8 e sistema Scielo9.

    Aps a idencao de alguns tulos, a etapa seguinte consisu em pesquisar as

    referncias citadas com maior frequncia. O uso de palavras-chaves orientou a

    pesquisa inicial a respeito da presena de mulheres nas instuies de segurana

    pblica. Num segundo momento, as palavras-chaves foram ampliadas para

    contemplar estudos sobre formao policial e sua interface com as reas da sade

    e educao. O recorte geogrco limitou a pesquisa ao Brasil.

    A pesquisa tambm contemplou uma busca por relatrios de pesquisa.

    As principais fontes so as pesquisas sobre perl das instuies de segurana

    pblica, realizadas pela SENASP, com edies sobre a Polcia Civil, Polcia Militar

    e Corpo de Bombeiros (2004-2007). Os documentos trazem poucas informaes

    sobre as condies de trabalho das mulheres, limitando-se, na maior parte das

    vezes, a contabilizar sua presena no universo de policiais em cada uma das

    corporaes estudadas. Em 2009, foi publicado o relatrio intulado O que

    pensam os prossionais da segurana pblica no Brasil (Soares, Ramos e Rolim),

    com subsdios para a I Conferncia Nacional de Segurana Pblica realizada no pas.

    Neste documento, as informaes sobre as mulheres policiais so apresentadas

    apenas no perl socioeconmico dos parcipantes da pesquisa. Foi tambm

    incorporada uma publicao da Secretaria de Polcas para Mulheres (SPM), com

    textos produzidos a parr do projeto Mulheres: Dilogos sobre Segurana Pblica

    tambm um subsdio para a I Conferncia Nacional de Segurana Pblica (SPM,

    2009).

    Ao todo so 23 documentos que se distribuem em: a)papers e argos (11);

    b) dissertaes, teses e monograas (6); c) livros (4) ; d) relatrios de pesquisa

    (2). No captulo 2 desse relatrio apresenta-se um repasse por essa bibliograa,

    incluindo os principais temas, a cobertura territorial e temca, metodologia e

    6 Em sua dissertao, Calazans (2003) realizou pesquisa bibliogrca, tendo idencado a mesma diculdade paralocalizao de trabalhos realizados no perodo anterior aos anos 2000.7 hp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do8 hp://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses9 hp://www.scielo.com.br

    Por meio do Projeto Segurana Cidad, foram realizadas pesquisas de

    mapeamento dos programas de sade das instuies e editado um Guia de

    Aes5. Outras importantes pesquisas tambm foram realizadas em parceria com

    o PNUD, quais sejam: Prossiograa Nacional e Mapeamento de Competncias

    dos prossionais de Segurana Pblica; Compilao, anlise e interpretao de

    relatrios de mapeamento das principais fontes e nveis de estresse ocupacional

    nos rgos estaduais de segurana pblica produzidos pelos Ncleos de

    Estudos, Preveno e Gerenciamento do Estresse, fomentados por convnios

    SENASP/2008; Mapeamento e diagnsco instucional com vistas estruturao

    de servio de acompanhamento psicossocial para a Fora Nacional de Segurana

    Pblica; Diretrizes para o Protocolo Nacional para interveno aps incidentes

    crcos e ocorrncias de risco visando a preveno do estresse ps-traumco

    TEPT; Sistema Nacional de Monitoramento de polcas de sade e valorizao

    prossional; e Mulheres na Segurana Pblica: Estudo tcnico nacional. A presente

    publicao resultado desta lma pesquisa.

    Este estudo tem como objevo contribuir com um retrato sobre quem so

    essas mulheres, quais suas condies de trabalho e quais os principais obstculos

    que enfrentam no exerccio prossional em decorrncia de sua condio de gnero.

    Os resultados obdos consisro num pano de fundo que permiro Secretaria

    Nacional de Segurana Pblica, orientar o desenvolvimento de projetos e a

    formulao de polcas de direitos humanos voltados s servidoras, que devero

    tambm ser pautadas pelo respeito diversidade de gnero, raa e orientao

    sexual.

    1.a. A pesquisa

    A pesquisa sobre a presena de mulheres nas Instuies de Segurana

    Pblica foi realizada entre os meses de outubro de 2011 e maro de 2012, sendo

    composta por trs etapas: levantamento e reviso de bibliograa, entrevistas

    individuais e grupos de discusso e pesquisa quantava com mulheres das polcias

    civis, polcias militares, polcias ciencas/instutos de percias criminais e corpos

    de bombeiros de todo o pas. A seguir apresentam-se os objevos e procedimentos

    metodolgicos adotados para o desenvolvimento de cada uma dessas etapas. Os

    resultados sero apresentados nas partes subsequentes dessa publicao.

    * Levantamento e reviso bibliogrfica e documental

    Visando mapear os estudos existentes sobre o tema no Brasil, o objevo

    dessa etapa consisu em idencar as principais contribuies para o conhecimento

    5 O Guia de Aes est disponvel no site www.mj.gov.br.

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    1 Bombeira Militar (RO);

    Gestoras de Polcas Pblicas (SENASP e SPM).

    Foram tambm idencadas duas associaes que renem mulheres

    prossionais da segurana pblica, uma em Minas Gerais e outra em Sergipe 12.

    Aps contato com as respecvas presidentas, foram agendadas entrevistas com

    a Diretoria Execuva de cada associao, o que ocorreu em Belo Horizonte e

    Aracaju. Os encontros permiram conhecer a histria de criao das endades esuas agendas polcas. Foram realizados em outubro e novembro de 2011, com

    durao aproximada de 2h30m, cada um.

    So elas:

    AMPROSEG Associao de Mulheres Prossionais de Segurana

    Pblica. Rene mulheres da Polcia Militar e do Corpo de Bombeiros

    de Minas Gerais. Alm da atual presidente da Associao sargento

    da PMMG parciparam do encontro trs membros da diretoria

    uma major Bombeiro Militar, uma capito e uma subtenente da

    Polcia Militar, todas j reformadas.

    ASIMUSEP Associao Integrada de Mulheres da Segurana Pblica.

    Rene mulheres de todas as instuies de segurana pblica deSergipe, inclusive Guardas Municipais e Agentes Penitencirias.

    Parciparam do encontro 14 mulheres das diferentes instuies,

    entre membros da diretoria e associadas.

    Para nalizar a coleta de dados nesta etapa da pesquisa, foram realizados

    dois encontros em grupo com mulheres prossionais de segurana pblica13. Os

    grupos foram realizados em Luzinia e Braslia com mulheres policiais que esto

    atuando na Fora Nacional e mulheres policiais, peritas, papiloscopistas e bombeiras

    que trabalham na SENASP. Em ambos os grupos foram reunidas mulheres das

    quatro instuies objetos desta pesquisa, representantes de diferentes estados

    brasileiros.

    J o segundo grupo, reuniu policiais que esto trabalhando na SENASP em

    avidades administravas, alm de uma sargento do Corpo de Bombeiros do DF e

    uma perita tambm do DF. A mescla de prossionais provenientes de instuies

    diferentes enriqueceu os dilogos que foram se estabelecendo durante o encontro,

    12 Foram idencadas tambm uma associao de mulheres policiais em Santa Catarina e outra no Distrito Federal. Para aprimeira no foi possvel localizar um contato para entrevista. A segunda envolve principalmente Policiais Federais.13 Embora o Termo de Referncia da Pesquisa vesse a previso de realizao de grupos focais, a falta de estruturaadequada para realizao dos grupos e o pequeno nmero de mulheres policiais para a formao de grupos homogneoslevou realizao de encontros com formato mais livre. A parr da proposio de trs ou quatro questes, abriu-se apossibilidade de discusso sobre outros temas que emergiram de acordo com o perl do grupo e suas percepes.

    referenciais tericos encontrados10. Outras reexes encontram-se incorporadas

    na anlise dos dados quantavos apresentados no captulo 4.

    * Entrevistas individuais e grupos de discusso

    Na segunda etapa da pesquisa foram realizadas entrevistas individuais

    e grupos de discusso. Ao todo, foram realizadas 12 entrevistas com mulheres

    policiais civis, policiais militares, peritas criminais e bombeiras militares, alm de

    duas gestoras de polcas na rea de segurana pblica e de polcas para mulheres.

    Foram tambm realizados 2 grupos de discusso com policiais que atuam na Fora

    Nacional de Segurana Pblica e nos demais departamentos da SENASP.

    As entrevistas com as prossionais veram durao aproximada de 1 hora

    e foram realizadas a parr de um roteiro semiestruturado sobre a opo pela

    carreira, as expectavas que nham com essa prosso, a experincia prossional

    e a vivncia como mulher-policial/bombeira, percepes sobre relaes de

    gnero nas instuies, reexos da avidade prossional sobre a sade e vida

    pessoal. Nas entrevistas tambm foram abordados os obstculos idencados na

    literatura para a ascenso de mulheres nas instuies de segurana pblica e a

    discriminao com base em gnero, entre eles o chamado teto de vidro, as cotas

    para ingresso de mulheres nas instuies militares, o assdio sexual e moral.

    Parte das entrevistas foi realizada com prossionais que esto atuando na Fora

    Nacional, o que facilitou o acesso a mulheres de diferentes estados brasileiros.

    Outra parte foi realizada com mulheres em seus estados e instuies de origem11.

    As entrevistas com gestoras de polcas pblicas nas reas da segurana

    pblica e de polcas para mulheres tambm foram realizadas a parr de roteiros

    semiestruturados buscando explorar os objevos da pesquisa e reer sobre

    desdobramentos das demandas em polcas pblicas, projetos e servios voltados

    ao pblico-alvo especco desta pesquisa. Ambas as entrevistadas so do governo

    federal, de forma que toda a discusso concentrou-se nas aes do governo federal

    e as possibilidades de dilogo com os entes federados.

    As entrevistas foram realizadas entre 25 de outubro e 22 de novembro de2011. Foram entrevistadas:

    4 Policiais Militares (MG, BA);

    3 Policiais Civis (DF, BA);

    2 Peritas Criminais (RS e AL);

    10 Anexo ao nal desse relatrio (anexo I) apresenta-se um quadro descrivo da bibliograa selecionada.11 Duas entrevistas agendadas com uma delegada de polcia e uma capito da Polcia Militar, ambas do Rio de Janeiro, nopuderam ser realizadas.

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    ser buscadas individualmente.

    Com o objevo de conhecer melhor essas experincias e as formas como

    as prossionais buscam enfrent-las, foi proposta uma nova etapa no trabalho

    de campo, elaborando-se um quesonrio direcionado s prossionais, para

    preenchimento individual e no idencado, garanndo assim o anonimato das

    respondentes. O quesonrio foi apresentado em quatro verses, uma para cada

    instuio pesquisada. Dada a natureza da pesquisa e a metodologia aplicada

    como ser descrito a seguir o conjunto de resultados obdos permite uma

    leitura de carter exploratrio sobre aspectos da experincia das mulheres nas

    Instuies de Segurana Pblica e as lacunas das polcas existentes no setor,

    mas no tem a pretenso de apresentar um perl abrangente das prossionais,

    uma vez que no se trata de uma pesquisa estascamente representava, com

    amostragens por cotas previamente denidas.

    O instrumento adotado para a pesquisa consisu em quesonrio em

    formato digital para preenchimento on-line14. Trata-se de um quesonrio com

    perguntas fechadas, com respostas nicas ou de mlpla escolha, e que possibilitam

    uma anlise quantava dos resultados colhidos. As perguntas abordam aspectos

    do perl prossional e valorizao prossional, sade e qualidade de vida. So

    abordadas tambm percepes sobre violao de direitos e relaes prossionais a

    parr da experincia de relacionamento entre homens e mulheres no desempenho

    das avidades. Ao todo so 62 perguntas distribudas em cinco sesses:

    Perl prossional: 15 perguntas

    Qualidade e Valorizao Prossional: 8 perguntas

    Relaes Prossionais e Relaes de Gnero: 15 perguntas

    Sade e Qualidade de Vida: 13 perguntas

    Perl social e demogrco: 11 perguntas

    A opo por quesonrios digitais teve como objevo tornar a pesquisa

    abrangente e acessvel para mulheres policiais civis, militares, peritas e bombeirasmilitares de todos os entes federados, quer se encontrem trabalhando nas capitais

    ou municpios do interior, incluindo os municpios de fronteira e aqueles mais

    distantes dos grandes centros urbanos.

    Os quesonrios foram disponibilizados por meio da Plataforma da Rede

    Nacional de Educao Distncia da SENASP, no perodo de 21 de janeiro a 24 de

    14 A ferramenta ulizada foi o GoogleDocs, que permite o preenchimento de informaes on-line e sua gravao numaplanilha eletrnica permindo que os dados sejam exportados para programas de anlises estascas, possibilitandoanlises simples e combinadas das variveis.

    inclusive quanto percepo de ser mulher policial/bombeiro numa estrutura

    militarizada ou no-militarizada. Os encontros ocorreram nos dias 14 e 15 de

    dezembro e veram cerca de 3 horas de durao.

    Os dois grupos veram a seguinte composio:

    F N: com a parcipao de seis mulheres: duas policiais

    civis (AP e RN), duas policiais militares (SE e MT) e duas peritas (TO

    e RS);

    SENASP: com a parcipao de 9 policiais: quatro policiais civis

    (PE, RS, PA e SE), 2 policiais militares (GO e TO), duas bombeiros

    militares (DF e SE) e uma papiloscopista (DF).

    Todas as entrevistas e encontros com os grupos foram gravados em

    meio digital e transcritos posteriormente. Alm de servir para a construo dos

    instrumentos de coleta de dados quantava (quesonrios para preenchimento

    individual), as entrevistas forneceram rico material para as anlises dos dados

    quantavos e para o dilogo com a bibliograa existente. Uma sntese das

    entrevistas encontra-se apresentada na captulo 3.

    *Pesquisa Quantitativa com Mulheres Profissionais deSegurana Pblica (questionrios on-line anexo ii)

    O planejamento inicial desta pesquisa previa a aplicao de quesonrios

    dirigidos para as Instuies de Segurana Pblica visando informaes a respeito

    do efevo feminino (nmero de prossionais e perl sociodemogrco) e sobre

    a existncia de polcas instucionais dirigidas especicamente para este grupo.

    De certa forma, este procedimento resultaria em replicar a pesquisa Perl das

    Instuies de Segurana Pblica - que j realizada pela SENASP, incorporando

    variveis e questes que permiriam colocar em relevo a presena feminina e

    introduzir um vis de gnero na invesgao sobre as polcas instucionais. A

    vantagem dessa abordagem seria a possibilidade de estabelecer uma comparao

    entre o conjunto de dados das duas pesquisas revelando algumas especicidades

    das respostas instucionais situao das mulheres do segmento.

    Durante as entrevistas foi possvel conhecer alguns aspectos importantes da

    experincia dessas prossionais, sobretudo aqueles relacionados com sua sade e

    com situaes de discriminao e desrespeito a seus direitos. Os relatos tambm

    revelaram que essas experincias fazem parte de seu codiano de trabalho sem

    que as prossionais possam contar com canais de denncia e/ou ajuda, fazendo

    com que sejam vividas como experincias pessoais, cujas solues tambm devem

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    Secretaria Nacional de Segurana Pblica/MJ

    fevereiro de 2012.

    Alm da ulizao do mailing da prpria Rede EAD-SENASP, a estratgia

    para divulgao da pesquisa e dos quesonrios incluiu:

    Nocias na pgina eletrnica da SENASP;

    Veiculao da pesquisa atravs das Associaes de Mulheres

    Policiais de Minas Gerais e Sergipe;

    Divulgao atravs do Frum Brasileiro de Segurana Pblica;

    Colaborao de prossionais entrevistadas para divulgao da

    pesquisa em seus estados e corporaes;

    Repercusso da pesquisa atravs dos blogs de policiais; e

    Nas redes sociais.

    O monitoramento dirio da pesquisa permiu acompanhar o movimento

    de incluso de quesonrios, orientando o reforo na divulgao da pesquisa

    naqueles momentos em que os registros apresentavam declnio. Desta forma

    foi possvel manter uma mdia de inseres ao longo de todo o perodo em

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    Olevantamento bibliogrco idencoupapers, argos, dissertaes,

    teses, monograas e livros que tratam da presena de mulheres nas

    Instuies de Segurana Pblica. Ao todo so 23 documentos que se distribuem

    em: a)papers e argos (11), b) dissertaes, teses e monograas, (6) c) livros (4) e

    d) relatrios de pesquisa (2).

    Observa-se que este um campo de pesquisa ainda por explorar tanto entre

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    Na cobertura territorial foram idencadas pesquisas realizadas em

    diferentes estados brasileiros, tais como: Rio Grande do Sul e Paran (na regio

    Sul), So Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Esprito Santo (na regio Sudeste),

    Mato Grosso e Distrito Federal (na regio Centro Oeste) e Bahia, Cear e Sergipe

    (na regio Nordeste). Geogracamente, esto representadas quatro regies do

    pas. A lacuna refere-se aos estados do Norte do pas. Apenas a pesquisa realizada

    por Sadek (2003) tem cobertura mais ampla, com amostragem de delegados(as) de

    polcia de nove estados brasileiros, incluindo o Amap. De modo geral, a cobertura

    das pesquisas limitada aos prossionais que atuam nas capitais, com exceo deum estudo sobre delegadas de polcia na Regio Metropolitana de Porto Alegre

    (Sacramento, 2007) e o estudo sobre o sofrimento psquico entre policiais civis do

    estado do Rio de Janeiro (Souza, 2007).

    Quanto metodologia, predominam aqueles de natureza qualitava,

    consistentes em entrevistas com roteiros semiestruturados, realizadas com

    pequenos grupos de policiais.

    Entre as referncias bibliogrcas foram idencadas duas que so citadas

    de maneira recorrente: o trabalho de Calazans (2003) e de Soares (2005), nesta

    ordem. Estes trabalhos contribuem para a contextualizao histrica quanto ao

    ingresso de mulheres nas polcias militares. A pesquisa realizada por Sadek (2005)

    citada como referncia em alguns estudos sobre a polcia civil.

    O conceito de gnero adotado pela maior parte dos estudos, com

    discusses sobre os papis socialmente estabelecidos para homens e mulheres

    e a forma como estes papis e os atributos a eles relacionados reproduzida nas

    instuies. Esta a explicao comparlhada para a limitao da atuao das

    mulheres em avidades que so consideradas como femininas: relacionadas

    ao cuidado, proteo, uma maior capacidade para o dilogo, a organizao, a

    averso a mtodos violentos e o uso da fora. Entre os estudos de referncia,

    o principal a Dominao Masculina, de Pierre Bourdieu (1999) o que revela

    entre as pesquisas uma preferncia pela abordagem que entende o gnero como

    elemento da reproduo social que legima as diversas formas de dominao que

    organizam as relaes entre homens e mulheres em sociedade, em detrimento de

    uma abordagem que discute gnero e desigualdade de poder (Sco, 1988), por

    exemplo.

    A incorporao do conceito de gnero nas anlises permite que alguns dos

    trabalhos avancem na discusso sobre as transformaes que vo se efevando

    durante o processo de constuio da mulher-policial, prevalecendo um processo

    instucional que Calazans (2003) denomina de incluso-excluso-dominao.

    Outros estudos demonstram que estas mulheres no desempenham apenas

    as informaes sobre recursos humanos limitam-se a descrever seu nmero,

    distribuio por sexo e algumas informaes sobre a formao/capacitao para o

    desempenho das avidades. O foco das atenes foi direcionado para as mulheres

    vmas de violncia e o atendimento que recebem nas instuies policiais. Muitas

    crcas foram tecidas forma como as delegacias funcionam, as diculdades da

    abordagem policial sobre o assunto, entre outros. No entanto, esses estudos pouco

    (ou nada) se dedicaram a conhecer esse outro lado da moeda, invesgando quem

    so essas policiais, porque escolheram essa carreira prossional to marcadamente

    masculina. Entender como se estabelecem as relaes prossionais entre homense mulheres pode tambm ajudar a compreender porque tantas mulheres policiais

    resistem em trabalhar nas Delegacias da Mulher ou porque sentem diculdade em

    acolher as mulheres vmas e dar-lhes um atendimento digno que lhes garanta o

    acesso informao e aos seus direitos.

    Idenca-se, desta maneira, uma ruptura que ope de um lado os estudos

    feministas e as polcas de gnero e de outro lado as polcas de segurana pblica

    voltadas para recursos humanos, formao e avidade prossional. Espera-se que

    os resultados desta pesquisa venham a contribuir para criar pontes entre estas

    polcas e, desta forma, elaborar recomendaes para a formulao de polcas

    pblicas que venham a beneciar as mulheres que atuam nas instuies de

    segurana pblica.

    Os 23 documentos analisam a presena das mulheres nas polcias civis (8)

    e nas polcias militares (9)15. Constatou-se a ausncia de trabalhos sobre mulheres

    nas polcias tcnicas (peritas) e nos corpos de bombeiros 16. Nos estudos que se

    dedicam a invesgar a parcipao de mulheres nas polcias civis, predominam

    aqueles que abordam as experincias de delegadas de polcia 17, contribuindo

    para a invisibilidade de mulheres que parcipam de outras carreiras policiais,

    como escrivs ou agentes de polcia, por exemplo18. Nos estudos sobre as polcias

    militares a cobertura mais ampla, com predomnio de mulheres praas que

    tambm correspondem maior parte dos efevos nas corporaes estaduais.

    15 Alguns documentos referem-se mesma pesquisa, como no caso de Calazans (2003,2004 e 2005) que publicou argossobre sua dissertao e Brasil (2008, 2010) que produziu um papera parr do livro.16 Com relao presena feminina no Corpo de Bombeiros, foi possvel localizar um nicopapertratando da experinciade Montes Claros, Minas Gerais. O documento no foi includo nesta reviso em decorrncia da pequena quandade deinformaes que traz e da impossibilidade de idencao de informaes sobre a pesquisa que deu origem ao relato.17 A exceo o estudo de Souza (2007) que pesquisou uma amostra representava de toda a polcia civil do Estado doRio de Janeiro.18 A segunda edio da Pesquisa sobre Perl Organizacional das Polcias Civis (SENASP, 2004) mostrou que existe umavariao signicava na composio das funes segundo o sexo: Em mdia a pesquisa encontrou a razo de 2,2 homenspara cada mulher na corporao. Segundo as funes ocupadas idencou uma maior presena masculina entre as funesoperacionais (delegados, invesgadores, deteves, inspetores) na razo de 4,6 homens para cada mulher. J entre asavidades de apoio administravo encontram-se mais mulheres na razo de 0,8 homens para cada mulher.

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    Secretaria Nacional de Segurana Pblica/MJ

    papis que lhes so designados de forma passiva e sem contestao. Quando

    compreendidos na lgica relacional (Sco, 1988), possvel analisar a intervenodas mulheres ora provocando modicaes nas estruturas policiais ora contribuindo

    para a manuteno da cultura instucional (Santana, 2010).

    Nesta primeira reviso da bibliograa foi possvel perceber que pouca

    anlise tem sido dedicada sobre as vivncias e experincias de gnero pelas

    policiais. Alm do preconceito e discriminao que sofrem dentro da instuio,

    muitas delas vivenciam a discriminao e a violncia em suas vidas privadas

    inclusive violncia domsca e familiar tema que no abordado pelos estudos

    e para o qual so desconhecidas polcas instucionais19.

    Observa-se tambm que os estudos adotam uma abordagem sobre

    gnero, limitando-se a discur os papis sexuais, sem incorporar a dimenso de

    interseccionalidade de gnero com marcadores sociais, como raa/etnia, gerao,procedncia regional ou origem social (Sco, 1988, Colins 2000 apudJubb, 2010).

    Da mesma forma, est ausente um dilogo com a literatura feminista sobre

    transversalidade de gnero nas polcas pblicas. A transversalidade de gnero

    pode ser compreendida como o reconhecimento de que as polcas pblicas

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    3E, :

    Neste captulo so apresentados alguns dos temas abordados nas

    entrevistas e grupos de discusso. Trata-se de uma sistemazaopreliminar de tpicos abordados, buscando ilustrar a diversidade de experinciasrelatadas pelas mulheres e o conjunto de percepes sobre os diferentes aspectosde sua experincia prossional. Esse material ser retomado adiante, para a anlisedos dados quantavos.

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    aos seus colegas, homens e mulheres, sobretudo no que se refere s condies

    de trabalho, insucincia de recursos humanos para melhor distribuio das

    tarefas, precariedade das instalaes de alojamentos e repares em batalhes

    e delegacias de polcia e carncia de material adequado para o desenvolvimento

    de avidades codianas.

    ...e quando voc trabalha para o Estado, voc tem que ter muita paixo, porque notem...eu trabalho com o meu computador, porque no tem...ento acaba que voc vque voc tem que dar muito pr fazer a coisa funcionar, e o Estado ele te frustra o tempointeiro, impressionante... (policial civil)

    3.. O trabalho da mulher policial

    Embora armem que as mulheres podem realizar as mesmas tarefas que

    os homens, e mesmo quando se trata de fora sica algumas mulheres so mais

    fortes que seus colegas do sexo masculino, para a maior parte principalmente nas

    instuies militarizadas a presena masculina indispensvel para a realizao

    de algumas tarefas que exigem fora e destreza. As peritas entrevistadas armam

    tambm que no existem diferenas entre avidades de homens e mulheres, e a

    distribuio dos prossionais segundo as diferentes reas de trabalho dependemais do gosto, e principalmente da capacitao de cada um.

    Algumas das entrevistadas tambm relatam que, em geral, os primeiros

    lugares nos concursos so preenchidos por mulheres e a eliminao das cotas para

    ingresso de mulheres existentes nas Polcias Militares e Bombeiros Militares

    poderia levar a uma entrada macia de mulheres nas instuies policiais

    A entrada limitada de mulheres na PM faz sendo porque a gente precisa mais dafora sica. NO CFO se fosse pau-a-pau, eu acho que ia entrar muitas mulheres. Nomeu estado o CFO feito pelo vesbular comum...mas ele limita a entrada... (policial

    militar)

    ...nos estados do Nordeste no tem percentual e sabe o que acontece? Entra a mesma

    coisa que aqui! Olha que burrice! Mas o medo to grande de falar se abrir vaiencher de mulher e a ns vamos ter diculdade com algumas avidades que precisam

    de um perl, no de homem ou de mulher, de mais robustez, e como a maior parte das

    mulheres no tem esse perl, entendeu...ento, eu acredito que o medo seja esse...

    (policial militar)

    De fato, os dados da Pesquisa Perl (Senasp, 2011) indicam que nas polcias

    civis, onde em geral no existem cotas limitando a entrada de mulheres, encontra-

    se uma mdia mxima de 25%. Esse dado indica que a liberao de vagas no

    provoca necessariamente uma entrada macia de mulheres, como temem alguns.

    Mesmo sem terem planejado o ingresso na carreira policial, muitasentrevistadas contaram ter cado entre as primeiras colocadas. No foram tambmraras as expresses de sasfao com a experincia que foram viver:

    ...e quando saiu o resultado eu nha passado em primeiro lugar e eu ve muitavergonha de dizer que eu no ia car...mas a minha me, de novo, disse ca umasemana s...e eu nessa uma semana quei encantada. Mudaram todos os meus pr-

    conceitos em relao instuio....na sala de aula, vendo o papel da polcia, pra que a

    gente veio (...) a possibilidade de ajudar as pessoas, eu com uma semana j sabia que eraaquilo que eu queria pra mim... (policial militar)

    ... ento eu no escolhi ser policial, mas foi assim, a polcia no foi uma paixo, elafoi um amor, ela veio entrando na minha vida as coisas foram acontecendo e eu fuiconhecendo... (policial militar)

    ...e eu fui me envolvendo com aquilo...e a eu passei e hoje eu amo polcia, euamo meu trabalho. Foi uma deciso que eu tomei e que eu no me arrependo umminuto... (policial civil)

    3.. A experincia institucional

    De modo geral, as entrevistadas no apresentaram uma reexo sobre ser

    mulher e policial, mas reconhecem que as instuies s quais pertencem ainda

    no esto preparadas para receber mulheres, que as relaes de trabalho no so

    fceis, que ainda h muito machismo e que so permanentemente desaadas a

    mostrar que podem estar naquele lugar apesar de serem mulheres. O despreparo

    instucional pode ser percebido em diferentes dimenses, incluindo a inexistncia

    de instalaes adaptadas para o uso feminino como alojamentos e banheiros

    que garantam o respeito sua privacidade e condies dignas de trabalho. Est

    tambm reedo na ausncia de polcas para aquisio de equipamentos de

    proteo individual ergonomicamente adaptado ao uso pelas mulheres, para que

    possam fazer ainda melhor aquilo tudo que j fazem muito bem (Policial Militar).

    Durante a reviso da bibliograa j havia sido possvel perceber que um

    dos desaos para esta pesquisa seria estabelecer os limites entre o que se refere

    exclusivamente experincia das mulheres e o que afeta a todos os prossionais

    da segurana pblica. Problemas relacionados aos direitos humanos destes

    prossionais, qualidade e valorizao prossional, dignidade e respeito so alguns

    dos temas que perpassam estas experincias e denem o comportamento de muitos

    prossionais nas suas relaes com a populao e colegas de corporao/farda. As

    entrevistas contriburam para aprofundar um pouco mais esta percepo sobre

    esses limites. Algumas entrevistadas idencaram problemas que so comuns

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    As relaes entre homens e mulheres, especialmente entre pares/colegas

    de trabalho so descritas como mulfacetadas abrigando diferentes formas de

    receber, aceitar e conviver com a presena de mulheres nestes espaos masculinos.

    As entrevistadas relataram que no incio dos trabalhos a convivncia foi dicil

    porque se senam testadas em suas habilidades, pressionadas a realizar todas as

    tarefas sempre da melhor maneira possvel. Relataram tambm o constrangimento

    provocado pelas piadinhas com conotao sexual, cantadas e insinuaes pelo fato

    de serem mulheres, jovens, bonitas. Para algumas delas, com o passar do tempoestes comportamentos foram substudos por outro, mais fraternal, de proteo,

    pelo desejo dos anges ensinarem para as novinhas como fazer o trabalho, a

    proteo nas avidades de maior risco.

    ...as pessoas lidam com essa questo, do feminino, de um a forma muito interessantedentro da polcia, que era o que eu percebia...ou as pessoas te desqualicam, falamque voc no d conta, que voc no vai fazer porque voc mulher...ou as pessoas te

    sacricam...ento das duas uma, ou desqualicam ou te sacricam, ou ento acham

    que voc tem que fazer igual a homem, tem que fazer mais, melhor, ou no mesmo limite

    sico. Ento, a gente cava oscilando entre isso...ou aquele que tratavam a gente assim

    ah coitadinha no d conta...ou aquele que falava no, elas esto aqui, bem feito, quem

    mandou... ... (policial militar)

    Ainda que estes sejam comportamentos que reproduzem os papis

    tradicionais de gnero nas relaes prossionais, eles permiram s mulheres

    senrem-se menos provocadas e pressionadas. Embora concordem que esta

    relao dicilmente muda porque os homens-policiais no admitem ver uma

    mulher realizando tarefas masculinas to bem (ou ainda melhor) que eles.

    ...e a gente pediu [pr car na mesma turma] mas escutou no, duas mulheres sodois [homens] a menos... caramba, so dois a menos! Como assim!? E no deixarameu e a outra menina carmos juntas porque eles teriam dois a menos....eles no esto

    ganhando em organizao....so dois a menos.... (bombeira militar)

    Para as entrevistadas o assdio moral grave e est presente o tempo todo,

    afetando homens e mulheres indisntamente.

    ...eu acho que assim, encontra um que t querendo assediar e encontra outro queest numa situao propcia para ser assediado... s ter um mais fraco, independentede ser homem ou mulher, tem algum disponvel pra fazer isso... (policial militar)

    Algumas entrevistadas mencionaram tambm episdios de constrangimento

    como ser espionada durante o banho, ou ouvir cantadas e receber convites para

    sair, mas apenas um pequeno nmero delas falou sobre episdios mais graves de

    Pesquisas sobre a presena de mulheres nas policiais civis e militares

    mostram que estas prossionais enfrentam barreiras para ter acesso a postos

    de comando em suas respecvas carreiras, vivenciando os efeitos do chamado

    teto de vidro uma barreira invisvel que d a enganosa aparncia de igualdade

    de oportunidades de ascenso na carreira, mas impede as mulheres de chegarem

    aos cargos mais altos da prosso. (Silveira, 2009)

    Para as entrevistadas este obstculo existe, mas seus relatos apontampara diferentes origens e estratgias em seu emprego, desde instucionais at

    pessoais. Em algumas corporaes militares as carreiras de homens e mulheres so

    separadas e as mulheres nunca podem c hegar aos postos mais altos de comando.

    Em outras instuies a carreira nica, mas arranjos instucionais que baseiam

    as promoes em critrios de mrito e anguidade acabam por fazer com que os

    homens sejam os nicos a ocupar os postos mais altos. Algumas entrevistadas

    relataram ter encontrado problemas em suas carreiras, mas reputam os obstculos

    a determinadas pessoas e no idencam o problema como instucional. Mesmo

    no dia a dia, algumas entrevistadas percebem que as mulheres so preteridas em

    relao aos homens na designao para algumas tarefas.

    ...como ns fomos a primeira turma, a ideia que eles nham era de colocar as mulheresno administravo mesmo, at pra colocar mais homens na rua,....o meio militar

    um meio de natureza masculina mesmo, a gente sente uma certa diculdade dentro da

    corporao....acho que tem em todo lugar, acho que um pouco de preconceito, no sei se

    preconceito, mas um pouco velado, no uma coisa aberta, ento as oportunidades...

    agora est um pouco melhor...mas no comeo era bem limitado....as mulheres no podiam

    fazer muitos cursos, sempre nos colocaram na parte administrava, no telefone, porque

    achavam que a mulher s servia para isso... (bombeira militar)

    3.d. Relaes profissionais e relaes de gnero

    Sobre esse tema as entrevistas falam sobre uma ambigidade quecaracterizaria as relaes prossionais entre homens e mulheres

    ...porque meio assim uma coisa eu vou te proteger porque voc mulher, mas olhas, a gente est numa determinada situao e eles cam olhando pra saber comovoc vai agir... impressionante, e fazem o tempo todo, jogam a chave da viatura pra voc

    dirigir pra ver se voc vai dirigir ou se voc vai dizer ah, no algum dirige a pra mim...

    (policial civil)

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    ...eu j vi assim casos de ganhar cursos porque tem caso com fulano ou beltrano...eter alguns benecios no servio mesmo, do po largar mais cedo ou chegar maistarde...tem mulheres que ulizam dessas armas assim, de um sorrisinho, a gente sabe

    que tem, uma coisa assim, que voc nem t dando corda mas que voc d assim aquele

    arzinho e o homem j acha que opa, t com tudo... mas nem , nem ...eu j vi muitas

    colegas se ulizarem disso pr ter um benecio ainda que pequeno, como chegar mais

    tarde, ter uma folga... (bombeira militar)

    Apenas uma entrevistada disse estar cansada da instuio e do desrespeito

    com que as pessoas so tratadas ali. Coincidentemente, uma das poucas queentrou para a polcia porque se sena com vocao para a avidade policial. Foi

    tambm uma das poucas entrevistadas a separar a experincia de ser mulher e ser

    policial ao armar

    ...as minhas experincias dentro da polcia so desagradabilssimas com relao a sermulher, como policial nem tanto, mas como mulher eu posso discorrer sobre vriashistrias tanto minhas quanto de minhas amigas... (policial militar)

    3.e. Qualidade de vida e sade

    Um dos temas tratados pela pesquisa se refere sade das mulheres e seuadoecimento em razo de sua avidade prossional. Relatos de infeco urinria

    recorrente e leso por esforo repevo (LER) foram os mais comuns, mas houve

    tambm alguns relatos de doenas relacionadas sade emocional ansiedade,

    sobrepeso, distrbios de sono em consequncia do trabalho em perodos de

    planto. Ao abordar o tema das gestaes, todas foram unnimes em armar que

    as instuies acolhem bem suas grvidas. Uma vez idencada a gravidez, as

    policiais so transferidas para avidades administravo-burocrcas, onde no

    fazem mais esforos sicos extremos e onde podem permanecer at o nal da

    gravidez.

    Outra reclamao frequente entre as mulheres, mas que no se limita s

    prossionais de segurana pblica, a sobrecarga da dupla jornada de trabalho.

    Esta situao pior para aquelas que trabalham em plantes de 24 x 72 horas, ou

    de 12 x 36, porque a vida social e familiar acaba afetada pela disponibilidade para

    parcipar das ronas e dos eventos sociais.

    Consequentemente, as entrevistadas observam que muitas mulheres

    acabam optando por atuar em avidades administravas para diminuir o desgaste

    das avidades operacionais e trabalhar com horrios de expediente comuns a

    assdio sexual como experincia pessoal ou vivida por terceiros -, o que ocorreu

    principalmente nas instuies militares onde a hierarquia contribui para a prca

    do crime e seu ocultamento.

    Para a maior parte das entrevistadas, as instuies de segurana pblica

    no oferecem qualquer po de apoio para vmas de assdio sexual e/ou moral,

    no oferecem canais de denncia que sejam conveis e que no resultem em

    novas punies e constrangimentos para as vmas. De acordo com algumas

    entrevistadas, o apoio da instuio depende da postura prossional de um ou

    outro chefe, que mesmo sendo homem, pode se sensibilizar com a situao e

    tentar ajudar. No entanto, mencionaram que a sada ser sempre pela remoo

    da pessoa que assediada para outro departamento/batalho/setor, nunca pela

    denncia daquele que assedia.

    Inseridas neste cenrio instucional e socializadas na lgica machista, as

    entrevistadas armam que grande parte do problema pode ser resolvido se as

    mulheres adotarem a postura adequada. Manter-se sria, trocar a genleza pela

    sisudez, manter-se em permanente vigilncia e autoexigncia para a perfeita

    execuo de tarefas, mesmo as mais simples e codianas, so algumas das frmulas

    que lanam mo para mostrar aos colegas que esto ali como prossionais e

    esperam este reconhecimento.

    ...hoje eu sorrio muito menos, sou muito mais fechada. o perl. Voc entra com umperl e vai sendo forjada pra car dentro daquela corporao e sobreviver da melhormaneira possvel... (bombeira militar)

    Tambm em razo deste cenrio, algumas consideram uma vantagem

    estarem invisveis aos olhos da instuio, mesmo que isso signique no ter

    estruturas adaptadas ou polcas de gnero que coloquem em relevo as diferenas

    como instrumento para angir a igualdade entre homens e mulheres prossionais

    de segurana pblica.

    As entrevistadas tambm alertam que a permanncia da desigualdade nas

    relaes de gnero dentro das instuies no so apenas de responsabilidade

    dos homens, e que muitas mulheres ulizam a seduo como instrumento para

    conseguir vantagens e benecios dentro da instuio, enquanto outras apenas

    no sabem manter a postura mencionada e consequentemente acabam por se

    prejudicar na carreira e manchar a imagem de todas as mulheres.

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    outras avidades (de 40 horas semanais).

    Por m, as situaes de estresses vividas na avidade prossional no

    encontram respostas instucionais. As entrevistadas armaram que precisaram

    desenvolver mecanismos prprios para lidar com situaes de estresses decorrentes

    da discriminao e o assdio no local de trabalho, da impotncia diante de algumas

    situaes que so obrigadas a enfrentar no atendimento populao, na perda de

    colegas de trabalho que se suicidam ou morrem em funo da avidade, e dos

    problemas familiares que muitas tambm vivenciam.

    Embora se queixem da falta de apoio instucional, que no oferece

    atendimento psicolgico para seus prossionais, no h consenso entre as

    entrevistadas sobre como deve ser este servio. Para algumas, a presena de

    psiclogos nos quartis cria constrangimentos na hora de pedir ajuda, pois muitas

    vezes temem que o prossional leve o problema relatado ao comandante, o que

    pode gerar novos problemas. Outras sentem vergonha em falar sobre problemas

    nmos com prossionais que podero intervir em suas avidades prossionais (por

    exemplo, rerar a arma). Mais uma vez, trata-se de um tema mais amplo que tem

    a ver com ca prossional e o sigilo do atendimento que deve estar assegurado a

    qualquer paciente, independentemente da subordinao do prossional de sade

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    G 1 D R GT Q (%)

    G 1- D R G I S PT Q (%)

    Ao adotar um quesonrio que poderia ser acessado em ambientevirtual e preenchido on-line, um dos objevos foi dar maior alcance pesquisa ecoletar informaes, experincias e opinies de mulheres policiais, bombeiras eperitas, que trabalham nas capitais, mas tambm nos municpios do interior e defronteira. Conforme se observa no grco abaixo, os resultados obdos podem

    universo obdo (Tabela 2). Na distribuio por ISP os estados de Cear, Piau eSergipe no esto representados para a Percia/Polcia Cienca e o estado do RioGrande do Norte23 que no est representado nos Bombeiros Militares. No totalde quesonrios, h uma signicava diferena na distribuio por estado e MinasGerais (14,4%) e So Paulo (10,1%) e Rio de Janeiro (9,4%) so responsveis por33,9% do total de quesonrios.

    A diferena se repete por ISP: para a Polcia Civil, 25% dos quesonrioscorrespondem aos estados de So Paulo (13,3%) e Minas Gerais (11,8%); na Polcia

    Cienca/Percia Criminal os estados de Rio de Janeiro (12,68%) e So Paulo(10,09%) so os mais representados no conjunto de dados, na Polcia Militar apenasMinas Gerais se destaca com 17,22% dos registros e para os Bombeiros MilitaresRio de Janeiro (21,86%) e Minas Gerais (15,49%) concentram aproximadamente35% dos quesonrios. Consequentemente, h diferena na distribuio porregies no pas, sobressaindo a regio Sudeste com 36,5% de registros para todasas ISP (grco 1 e 1a) .

    T 2 D UF I S PT

    UF PC PCI PM CBM Total %

    AC 24 6 31 1 62 1,0

    AL 35 4 62 17 118 1,8

    AM 72 4 48 3 127 2,0

    AP 29 2 29 9 69 1,1

    BA 73 19 305 28 425 6,6

    CE 42 --- 48 12 102 1,6

    DF 91 12 111 33 248 3,9

    ES 31 11 102 25 169 2,6

    GO 163 24 125 35 347 5,4

    MA 19 5 28 5 57 0,9

    MG 256 21 569 85 931 14,4

    MS 82 27 78 14 201 3,1

    MT 73 14 54 6 147 2,3

    PA 52 12 93 16 173 2,7

    PB 41 19 53 26 139 2,2

    PE 144 35 204 20 403 6,2

    PI 5 --- 60 3 68 1,1

    PR 94 34 81 17 226 3,5

    RJ 131 54 300 120 605 9,4

    RN 27 9 39 --- 75 1,2

    RO 55 14 44 5 118 1,8RR 11 2 24 5 42 0,7

    RS 148 32 308 19 507 7,9

    SC 124 14 72 19 229 3,5

    SE 31 --- 72 10 113 1,8

    SP 288 43 308 9 648 10,1

    TO 30 9 52 7 98 1,5

    Total 2171 426 3299 549 6445 100

    33,7 6,6 51,2 8,5 100

    23 Dados da pesquisa Perl para 2011 indicam que, nesse estado, so apenas quatro mulheres num efevo de 634bombeiros militares.

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    4.a. Perfil Sociodemogrfico e Profissional

    Nesta parte so apresentados os dados sobre o perl sociodemogrco eaqueles relacionados prosso: cargo, avidades, ano de ingresso, rendimentos,movao para o ingresso e sasfao prossional. Cabe relembrar que no se tratade uma pesquisa estascamente representava dos universos de cada instuiopesquisada, uma vez que no foram pr-denidas cotas de respondentes.

    A.1 Faixa Etria

    O grco 3 ilustra a distribuio das prossionais por faixa etria. Trata-se,como se observa, de uma composio jovem, prevalecendo aquelas com at 34anos de idade. Comparavamente, as policiais militares e bombeiras militares soainda mais jovens, com maior concentrao nas faixas de 19 a 24 anos e 25 a 29anos. Na medida em que avanam as faixas etrias, ocorre uma inverso e passama predominar as policiais civis e da polcia cienca/percia criminal. Talvez essadistribuio esteja relacionada com a prpria natureza da avidade que realizam.Nos Bombeiros e na Polcia Militar, a necessidade de maior preparo sico podeinuenciar a permanncia na prosso e mesmo o ingresso de mulheres maisjovens. Na Polcia Cienca/Percia Criminal, a especializao da avidade podedemandar maior tempo de escolaridade, repercundo num ingresso mais tardiona instuio. A idade tambm pode ser critrio para ingresso nos concursospblicos tanto ocial (ou seja, publicado em edital), como extraocial (isto ,aplicado durante as provas e avaliaes). Essa tambm pode ser uma caractersca

    do efevo feminino, uma vez que os resultados da pesquisa Perl (SENASP, 2010)mostravam para a polcia civil, polcia militar e bombeiros, um envelhecimento dosefevos.

    G 3 D ISP.T R ISP (%)

    A.2 Cor da Pele

    Na varivel cor encontra-se uma maioria branca representada em todasas ISP sendo maior na Polcia Cienca/Percia Criminal (correspondendo a 66,4%das respondentes desta ISP). Comparavamente populao feminina brasileira,encontra-se maior representao de no-negros (brancos e amarelos) nas ISP

    ser considerados posivos. Ainda que haja maior concentrao nas capitais com 53,1% das contribuies, os municpios do interior esto representadosem 36,14% desse total. O isolamento das prossionais que trabalham fora dosgrandes centros urbanos foi uma queixa presente entre as entrevistadas e tambmest reeda no quesonrio, nas manifestaes de contentamento por terema chance de serem ouvidas e expressar suas demandas quanto s condies detrabalho e acesso a cursos e programas de sade e qualidade de vida disponveisde forma concentrada nas capitais.

    G 2- D L T.

    T Q (%)

    G 2- D L T I S P.T Q (%)

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    G 4 D

    (%)*

    * Fonte: DIEESE/SPM (2011). A categoria no-negros corresponde soma de brancos e amarelos, negros corresponde

    a pretos e pardos. Indgenas no foram includos nesse grco, mas correspondem a 0,22% das mulheres na populao

    brasileira e 0,36% no efevo policial.

    A.3 Escolaridade

    Considerando o total de mulheres que contriburam com a pesquisa,

    observa-se que a maior parte possui nvel de escolaridade superior cursos

    completos (61,1%) e incompletos (20,2%) e em nveis de ps-graduao (4,6%).

    Por ISP verica-se que a composio varivel. Na Polcia Civil 93,4%

    possuem nvel superior completo (76,9%) ou esto cursando alguma graduao

    (11,7%). Outras 4,8% possuem ps-graduao, assim considerados mestrados e

    doutorados concludos ou em andamento. Entre as peritas criminais elevado

    tambm o percentual de mulheres com escolaridade superior (96,2%). Das quatro

    ISP onde se encontra o maior percentual com mulheres com ps-graduao:

    nvel superior completo (71,6%), superior incompleto (7,75%) e em nveis de ps-

    graduao (16,9%).

    (grco 4 e 4a).

    Entre as policiais militares e bombeiras militares encontram-se os maiores

    percentuais de pardas e pretas: 40,5% e 10,4%, respecvamente entre as policiaismilitares e 38,6% e 9,8%, respecvamente, entre bombeiras militares. Soares,Rolim e Ramos (2009) encontraram composio semelhante entre os policiais queforam entrevistados em sua pesquisa. Se a sua armao vlida para o efevoque predominantemente masculino, restaria vericar qual seu peso quando seaplica s mulheres.

    Esses resultados conrmam estudos anteriores, que apontam as polcias militarese as prosses de farda como especialmente atraentes para jovens negros e como

    carreiras onde segmentos oriundos dos estratos pobres e negros encontram melhorespossibilidades de ascenso, podendo ocupar cargos de chea. (Soares, Rolim e Ramos,2009:76)

    Assim como ressaltam os autores, nessa pesquisa sobre mulheres a corda pele foi autoatribuda a parr das mesmas categorias ulizadas pelo IBGE.Comparado a populao feminina em geral, Isso tambm permite avanar noconhecimento da composio racial das ISP e poder ser explorada em estudosqualitavos quanto relao entre cor da pele e oportunidades de carreiras.

    G 4 D ISP.T R ISP(%)

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    Entre as policiais militares encontram-se maiores percentuais de prossionaiscom escolaridade de nvel mdio (15,2%) e tcnico (3,5%) e os menores percentuais demulheres com ensino superior: 26,8% incompleto, 49,5% completo e apenas 2,9% comps-graduao (concluda ou em andamento).

    A.4 Situao Conjugal

    A maior parte das mulheres que responderam a pesquisa so casadas/vivem unio de fato: 58,3%, outras 30,3% so solteiras. A distribuio das mulheressegundo a situao conjugal equilibrada entre as ISP (grco 6), com umpercentual um pouco maior de mulheres solteiras nas Polcias Militares e Corpos

    de Bombeiros onde tambm encontram-se mulheres mais jovens.

    G 6 D ISP.T ISP (%)

    Ainda relacionado situao conjugal, durante as entrevistas uma dasparcipantes comentou que a rona de trabalho com os plantes e avidadesde nais de semana, o fato de trabalharem em ambientes predominantementemasculinos e os constantes episdios de assdio e constrangimentos de natureza

    sexual, acabavam muitas vezes interferindo nos relacionamentos afevos. Poressa razo, argumentava que era mais fcil para as mulheres estarem envolvidasafevamente e mesmo casadas, com prossionais da mesma instuio desegurana pblica. A parr dessa percepo, uma pergunta foi includa noquesonrio e pode-se vericar que a observao da entrevistada encontrarespaldo nos resultados.

    Como se observa no grco abaixo, os percentuais de mulheres cujosparceiros afevos tambm so prossionais de Segurana Pblica so maioresentre as Polcias Militares e Bombeiros, 48% e 44,63%, respecvamente. Entre as

    G 5 D ISP.T R ISP (%)*

    * Excetuando para o nvel superior, foram somados os resultados para cursos completos e incompletos.

    G 5 D .

    T R (%)

    Quando se observa as policiais militares e bombeiras a composio porescolaridade se modica. Entre as mulheres dos Corpos de Bombeiros Militares, a maiorparte tem curso superior, concentradamente em cursos j completos (60,11%). Poroutro lado, reduzido o percentual de mulheres com ps-graduao concluda ou em

    andamento, correspondendo a apenas 4,5% nessa ISP.

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    T 3 D ISP.T ISP (%)

    O S PC PCI PM CBM

    Heterossexual 96,08 96,25 95,48 96,18

    Homossexual 1,93 2,58 2,79 3,1

    Bissexual 0,60 0,47 0,64 0,18

    Transexual 0,05 0,23 0,03 0,54

    No deseja declarar 1,34 0,47 1,06 0

    A.6 Cargos, Funes e Patentes

    Na distribuio segundo cargo ou funo observa-se que a pesquisaalcanou prossionais que se encontram em diferentes escales em cadainstuio pesquisada. Esse tambm pode ser considerado um aspecto posivodessa consulta realizada diretamente s prossionais, uma vez que as pesquisas,quando realizadas nas polcias civis, costumam se concentrar em ouvir as delegadasde polcia. Nas polcias militares o espectro costuma ser um pouco ampliado paraouvir praas e ociais. Quanto percia criminal e o corpo de bombeiros, comovisto na reviso da bibliograa, no existem trabalhos que tenham se dedicado aouvir as mulheres que trabalham nessas instuies, idencando-se uma lacunano conhecimento sobre essas prossionais.

    Na pesquisa sobre Mulheres nas Instuies de Segurana Pblica asescrivs de polcia (36,2%), agentes de polcia (21,14%) e invesgadoras de polcia(19,25%) predominam entre as policiais civis, enquanto as delegadas correspondema 10,4% do total dessas prossionais. Na percia criminal predominam as peritas(42,72%) e papiloscopistas (25,12%), na categoria outros, com 23,24% dasparcipantes, agregou todos os cargos de auxiliares (de necropsia, de percia,mdico legal, laboratrio, entre outros). Nas polcias militares e bombeirosmilitares predominam praas 86,6% e 72,67%, respecvamente, entre as quaisas soldados correspondem maioria nas duas corporaes: so 40,07% entre asps e 61% entre as policiais militares.

    T 4 D ISP.T ISP (%)

    POLCIAS MILITARES BOMBEIROS MILITARES

    Cargo % Cargo %

    Praas 86,60 Praas 72,67

    Ociais 11,67 Ociais 22,96

    Aluno /Aspirante Ocial 1,1 2 Aluno Soldado 1,28

    Aluno Soldado 0,58 Aspirante a Ocial 2,91

    Outros 0,03 Outros 0,18

    Praas 86,60

    peritas criminais/policiais ciencas encontra-se o menor percentual de casamentocom prossionais do setor (27,3%). A explicao formulada pela entrevistada podese aplicar aqui, entre as policiais militares e bombeiras a convivncia prossionalentre homens e mulheres maior, no apenas pelas escalas de planto, mastambm pela presena nos quartis por perodos prolongados, aproximando aspessoas e favorecendo o relacionamento.

    G 7 S/ () () / S P?

    D ISP. T ISP (%)

    A.5 Orientao Sexual

    A maioria das policiais nas quatro ISP declararam ser heterossexuais,variando entre 95,5% entre as policiais militares e 96,3% entre as peritas criminais.O percentual que declarou orientao sexual diferente ou no quis declarar suaorientao sexual foi, consequentemente, pequeno em todas as ISP (Tabela 1).Isso no signica, no entanto, que outras mulheres no tenham apenas preferidono declarar sua orientao sexual, marcando a opo heterossexual. A perguntapode causar ainda desconforto, e causou surpresa a pelo menos uma prossionalque incluiu nos comentrios sua observao

    queria entender o movo da SENASP querer saber a orientao sexual de algumservidor de segurana publica. No vislumbro qualquer movo para isto.

    (Agente de Polcia, PE)

    O comentrio da policial ajuda a ilustrar a negao da questo de gneroquando se trata da orientao sexual, podendo indicar que as polcas derespeito diversidade sexual passam ao largo dessas instuies. Nas entrevistastambm foram apresentados relatos quanto humilhao e discriminao aque as prossionais so submedas em razo de sua orientao sexual, por seussuperiores hierrquicos e colegas de trabalho.

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    Na PM, ainda h muita discriminao contra mulheres. J cansei de ouvir superioresdizerem que no gostam de policiais femininas. E a tropa no tem respeito, quandochega uma policial feminina nova no batalho, a tropa inteira canta a mulher. Almdisso, acho que deveria reduzir a cota de mulheres na PM, pois a maioria das mulheresque esto ingressando na carreira no quer trabalhar no servio operacional, e sim noadministravo. Assim a maioria trabalha insasfeita na rua, tornando-se um peso morto.No se pode contar com o apoio delas nas ocorrncias e o servio delas na rua costuma serbastante inferior ao servio dos homens. J no administravo elas produzem mais, porm dicil ingressar no servio administravo, que j est abarrotado de policiais angos,que no abrem mo em hiptese nenhuma de sua vaga na administrao. (Soldado, MG)

    Na tabela abaixo se encontram as informaes sobre as reas em queatuam as prossionais que contriburam com a pesquisa quantava. BombeirosMilitares e Policiais Militares tm suas avidades concentradas em dois grandesgrupos: as avidades administravas (51,08% e 39,04%, respecvamente) eavidades operacionais (25,62% e 37,66%, respecvamente). Entre as bombeiras opercentual de mulheres em avidades operacionais metade daquelas que estono administravo. E mesmo assim preciso compreender que em muitos casossua alocao no operacional deve-se mais falta de pessoal que o reconhecimentode suas habilidades.

    at pela necessidade, porque l tem pouca, tem pouco efevo, agora ns temos 600e poucos homens no estado inteiro, 53 municpios, sendo que o bombeiro est emtreze desses municpios, ento no tem muito jeito, eles tm que colocar a gente pr rarservio no caminho, na OR, acaba que tem que lanar mais a gente mesmo... (Bombeira,Roraima)

    T 5 D () () ISP.T ISP (% - )*

    Bombeiros Militares Polcias Militares

    rea de avidade % rea de avidade %

    Administravo 51,08 Administravo 39,04

    C. de Telecomunicaes 1,98 C. de Telecomunicaes 4,11

    Ensino 4,46 Ensino 6,16

    Operacional 25,62 Operacional 37,66

    Planejamento 3,47 Planejamento 6,99

    Sade 11,24 Sade 4,18

    Outros 2,15 Outros 1,86

    Polcias Civis Polcias Ciencas/Percias Criminais

    rea de avidade % rea de avidade %

    Administravo 27,71 Administravo 17,00

    C. de Telecomunicaes 1,91 Cartorial 1,56

    Planto 17,20 Ensino 2,81

    Carceragem 3,34 Laboratorial 7,18

    Ensino 2,63 Percia (local de crime) 20,75

    Sade 1,06 Percia (outras) 32,61

    Cartorial 23,94 Sade 4,37

    Invesgao 21,66 Outros 13,73

    Outros 0,54