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Ministrio da Jusa
M I S P:
E t d T i N i l
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Ministrio da Jusa
M I S P:
Estudo Tcnico Nacional
Braslia - DF
2013
P RDilma Rousse
M JJos Eduardo Cardozo
S EMrcia Pelegrini
S N S PRegina Maria Filomena De Luca Miki
D D P, A I D P S PIsabel Seixas de Figueiredo
D N P BRA/04/029Guilherme Zambarda Leonardi
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos a todas as mulheres pro-
ssionais de segurana pblica que par-ciparam dos grupos focais e entrevis-tas e esforaram-se em responder aoquesonrio on-line, colaborando paraum retrato nacional da sua inseronas instuies. Contamos ainda coma valiosa colaborao das Associaesde mulheres na segurana pblica, quecontriburam em todas as etapas.
2013 Secretaria Nacional de Segurana PblicaTodos os direitos reservados. permida a reproduo total ou parcial desta obra, desde que seja citada afonte e no seja para venda ou qualquer m comercial.
Esplanada dos Ministrios, Bloco T, Palcio da Jusa Raymundo Faoro, Edicio Sede, 5 andar, Sala 500,Braslia, DF, CEP 70.064-900.
D ://...
ISBN:978-85-85820-29-9
T: 1.000 exemplares
I B
M I S P: E T N
E DMinistrio da Jusa / Secretaria Nacional de Segurana Pblica
E R
C
Taana Severino de Vasconcelos
C
Wnia Pasinato
R E
Gledson Lima Alves - PMSE
Lydiane Maria de Azevedo - PCMG
Regina Silva Funo - Ass. tcnica/Psicloga
Scheilla C. Pereira de Andrade SEDS/MG
E A
Ana Caroline Honorato - estagiria, Andrea da Silveira Passos BMRS, Crisane Santana - CBMSE, CrisnaNeme SENASP/MJ, Danielle Azevedo Souza CBMSE, Dayane Gomides Cavalcante - PMTO, Fbio Floriano
da Silva PCGO, Helosa Helena Kuser IGP/RS, Maria de Fma Pires de Campos Godoy SPTC/SP, Marina
Rodrigues Fernandes de Sousa - SENASP/MJ, Maristela Amaral Gis PCPE, Patrcia Tollo Rodrigues -PCRS,
Raquel Arruda Gomes SSP/RS
D P G
Filipe Marinho de Brito - CBMGO e Robson Niedson de Medeiros Marns - PMGO
Ficha catalogrca elaborada pela Biblioteca do Ministrio da Jusa
363.23B823m
Brasil. Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP).Mulheres nas instuies de segurana pblica: estudo tcnico nacional /
Secretaria Nacional de Segurana Pblica. Braslia : Ministrio da Jusa,Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP), 2013.184p.
ISBN :978-85-85820-29-9
1. Segurana pblica, Brasil. 2. Segurana pblica, formao prossional.I. Ttulo.
CDD 363.23
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S
Apresentao 13
1. Introduo 15
1.a. A pesquisa 20
2. Breve contexto histrico e documental da insero das mulheres nasegurana pblica
27
3. Experincias, opinies e percepes: entrevistas e grupos dediscusso
31
3.a. Sobre o ingresso nas Instuies de Segurana Pblica 31
3.b. A experincia instucional 32
3.c. O trabalho da mulher policial 33
3.d. Relaes prossionais e relaes de gnero 34
3.e. Qualidade de vida e sade 37
4. Rtt Nc d Muh Itu d Sgu Pbc(ISP)
39
4.a. Perl Sociodemogrco e Prossional 43
4.b. Valorizao prossional 61
4.c. Relaes prossionais e Relaes de gnero 73
4.d. Sade e qualidade de vida 93
5. Consideraes Finais 103
6. Recomendaes 107
7. Rfc Bbgc 109
8. A
Anexo I - Bibliograa Anotada sobre Mulheres nas Instuies deSegurana Pblica
111
Anexo II Instrumentos de pesquisa on-line 119
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Quadro: Ingresso de mulheres nas Polcias Militares no Brasil 15
Tabela 1 - Total de quesonrios recebidos e total de quesonrios vlidos. Distribuiopor Instuio de Segurana Pblica (ISP)
39
Tabela 2 Distribuio segundo a UF e Instuio de Segurana Pblica. Total dequesonrios
40
Tabela 3 Distribuio segundo a orientao sexual e a IS P. Total por ISP (%) 49
Tabela 4 Distribuio segundo os cargos e patentes e a ISP. Total por ISP (%) 49
Tabela 5 Distribuio segundo a(s) rea(s) em que classicam as avidades que
realizam e a ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)51
Tabela 6 Distribuio segundo a deciso de realizar ou no a denncia e os movospara faz-lo segundo a ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)
88
Tabela 7 Distribuio segundo ter ou no sofrido consequncias pela denncia/publicizao da discriminao/ violao de direitos sofrida, segundo o po e a ISP.Total por ISP (% - mlpla escolha)
91
Tabela 8 Distribuio segundo a aplicao ou no de penalizao para o(a)
denunciado(a), o po de penalizao e por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)92
Tabela 9 Distribuio segundo a avaliao sobre a rona e disposio e suafrequncia, por ISP. Total por ISP. (%)
96
Tabela 10 Distribuio do tempo segundo tarefas e avidades de lazer e descanso esua frequncia, por ISP. Total por ISP (%)
97
Tabela 11 Distribuio segundo problemas de sade apresentados nos lmos12 meses por ISP. Total por ISP. % sobre o total de respostas e % sobre o total de
quesonrios preenchidos. (%)100
Tabela 12 Distribuio segundo os cuidados prevenvos realizados e sua frequncia,por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)
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Grco 13- Distribuio segundo avidade remunerada para complementao derenda e a ISP. Total de ISP. (%)
57
Grco 14a - Distribuio segundo a sasfao prossional e a ISP. Total por ISP (% ) 58
Grco 14b - Distribuio segundo a sasfao prossional e a ISP. Total por ISP (% ) 59
Grco 14c - Distribuio segundo a sasfao prossional e a ISP. Total por ISP (% ) 60
Grco 14d - Distribuio segundo a sasfao prossional e a ISP. Total por ISP (% ) 60
Grco 15a Distribuio segundo a existncia de cotas para ingresso nas ISP e ISP.Total de Policiais Militares e Bombeiras Militares (%)
61
Grco 15b Distribuio segundo a opinio sobre a existncia de cotas para
ingresso nas ISP. Total de Policiais Militares e Bombeiras Militares (%)62
Grco 16 Distribuio segundo a realizao de formao, o perodo de formaoe a ISP. Total por ISP (%)
64
Grco 17 Existncia de instalaes adaptadas para as mulheres segundo a ISP.
Total de respostas por ISP (% - apenas para SIM)
66
Grco 18a - Condies de uso das instalaes existentes segundo as ISP Alojamentos. Total por ISP Militares (%)
67
Grco 18b - Condies de uso das instalaes existentes segundo as ISP Banheiros.
Total por ISP Militares (%)67
Grco 19 Distribuio segundo a inexistncia de Equipamento de ProteoIndividual ergonomicamente adaptado para mulheres e a ISP. Total por ISP (% -mlpla escolha)
68
Grco 20 Distribuio segundo a existncia de Programas de Qualidade de Vida eISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)
71
Grco 20a Distribuio segundo a existncia de Programas de Qualidade de Vida
e ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)72
Grco 21 - Distribuio segundo a percepo sobre tratamento para homens emulheres nas relaes prossionais por ISP. Total por ISP. (%)
74
Grco 22a Distribuio segundo a percepo sobre privilgios/proteo parahomens nas relaes prossionais por ISP. Total por ISP. (%)
75
Grco 1 Distribuio por Regio Geogrca. Total de Quesonrios (%) 41
Grco 1a- Distribuio por Regio Geogrca e Instuio de Segurana Pblica.Total de Quesonrios (%)
41
Grco 2- Distribuio por Local de Trabalho. Total de Quesonrios (%) 42
Grco 2a- Distribuio por Local de Trabalho e Instuio de Segurana Pblica.Total de Quesonrios (%)
42
Grco 3 Distribuio segundo a faixa etria e a ISP. Total de Resultados por ISP (%) 43
Grco 4 Distribuio segundo a cor da pele e a ISP. Total de Resultados por ISP (%) 44
Grco 4a Distribuio das respondentes da pesquisa e mulheres da populao
segundo a cor da pele (%)45
Grco 5 Distribuio segundo os nveis de escolaridade e a ISP. Total de Resultadospor ISP (%)
46
Grco 5a Distribuio segundo os nveis de escolaridade. Total de Resultados (%) 46
Grco 6 Distribuio segundo a situao conjugal e a IS P. Total por ISP (%) 47
Grco 7 Seu/sua (ex) companheiro (a) /era prossional de Segurana Pblica?
Distribuio por ISP. Total por ISP (%)48
Grco 8 - Distribuio segundo os pos de avidades que realizam e a ISP. Total porISP (% - mlpla escolha)
52
Grco 9 - Distribuio segundo o ano de ingresso na carreira e a ISP. Total por ISP(%)
53
Grco 10 - Distribuio segundo movaes para escolha da carreira e a ISP. Totalpor ISP (% - mlpla escolha)
54
Grco 11 - Distribuio segundo a presena de familiares nas ISP. Total por ISP (%- mlpla escolha) 55
Grco 12 - Distribuio segundo os rendimentos brutos (em reais) e a IS P. Total deISP. (%)
56
Grco 12a Distribuio segundo os rendimentos brutos (em reais). Total derespostas (%)
56
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Grco 22b Distribuio segundo a percepo sobre privilgios/proteo paramulheres nas relaes prossionais por ISP. Total por ISP. (%)
75
Grco 23 Distribuio segundo as percepes sobre ambiente de trabalho,relacionamentos prossionais e compeo por ISP. Total por ISP. (% - mlpla
escolha)
76
Grco 24 Distribuio segundo as oportunidades de expressar opiniesdiscordantes em relao aos superiores hierrquicos segundo a ISP. Total por ISP. (%)
77
Grco 25 Distribuio segundo a relao com outras mulheres que ocupamcargos hierarquicamente superiores. Total por ISP. (%)
78
Grco 26a Distribuio segundo o desenvolvimento prossional entre colegas deturma (homens) e por ISP. Total por ISP (% )
78
Grco 26b Distribuio segundo o desenvolvimento prossional entre colegas de
turma (mulheres) e por ISP. Total por ISP (%)79
Grco 27 Distribuio segundo os fatores que inuenciam o desenvolvimentoprossional das mulheres por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)
80
Grco 28 Distribuio segundo a experincia de Discriminao e Violao deDireitos e por ISP. Total por ISP. (% - mlpla escolha)
82
Grco 29 Distribuio segundo os impactos e consequncias das experinciasde discriminao e violao de direitos por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)
85
Grco 30 Distribuio segundo a deciso de pedir ou no ajuda e a quem recorreu
por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)86
Grco 31 Distribuio segundo a deciso de realizar ou no a denncia por ISP.Total por ISP (% - mlpla escolha)
88
Grco 32 Distribuio segundo ter ou no sofrido consequncias pela denncia/publicizao da discriminao/violao de direitos sofrida por ISP. Total por ISP (% -mlpla escolha)
90
Grco 33 Distribuio segundo a aplicao ou no de penalizao para o(a)
denunciado(a) e por ISP. Total por ISP (% - mlpla escolha)92
Grco 34 Distribuio segundo o po de licena e ISP. Total por ISP (% - mlpla
escolha)
94
Grco 35- Distribuio segundo as avidades que realizam durante as frias e a IS P.
Total por ISP (% - mlpla escolha)
95
Grco 36 Distribuio segundo o uso de medicamentos e substncias por ISP.
Total por ISP (% - mlpla escolha)
102
A
necessrio avanar muito no debate para a construo de polcas p-
blicas especicas para mulheres e, especialmente quando voltadas situao da-
quelas atuantes em segurana pblica. Com vistas a estabelecer estratgias e po-
lcas de gesto com enfoque na presena de prossionais do sexo feminino nos
rgos de segurana pblica, faz-se necessrio estudar a histria instucional e de
vida das mulheres atuantes na rea, considerando-se o impacto, as resistncias e
as adaptaes provocadas nas instuies em resposta presena de mulheres.
Alm disso, a idencao das diculdades enfrentadas e das relaes de traba-
lho nesse ambiente essencialmente masculino subsidiar a elaborao de polcas
pblicas, com o recorte de gnero, voltadas a proporcionar melhores condies de
trabalho s mulheres prossionais de segurana pblica.
Nesse sendo, a pesquisa Mulheres na Segurana Pblica: estudo tcnico
nacional uma iniciava indita que buscou construir uma avaliao histrica e
documental das estratgias, processos e polcas de gesto com enfoque em pro-
ssionais mulheres do quadro efevo das instuies de segurana pblica, bem
como idencar um perl nacional dessas servidoras, vericando o po de avi-
dades para as quais as mulheres so designadas, o percentual e espcies de cargos
ocupados, suas percepes, diculdades e principais demandas. Vale salientar que
o ingresso de mulheres na segurana pblica fortaleceu-se em meados da dcada
de 1980. Contudo, o marco histrico da ocupao, por mulheres, dos cargos mais
altos de instuies de segurana pblica em diversos estados brasileiros deu-se a
parr da primeira dcada do sculo XXI.
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Sem a pretenso de congurar-se num retrato denivo da situao das
prossionais de segurana pbica no pas, essa pesquisa aponta para a necessida-
de de realizao de outros estudos tcnicos, considerando-se o perl dessas mu-
lheres, suas condies de trabalho e valorizao prossional, visando a promoo
do tratamento igualitrio entre gneros e o respeito dignidade e sade dessas
prossionais.
Para tanto devem ser estudadas novas parcerias para implementao de
polcas de suporte instucional, orientadas promoo da transversalizao de
gnero. Espera-se, assim, que os resultados ora apresentados contribuam para
uma maior visibilidade dessas prossionais, bem como para o debate e proposio
de novas prcas mas, principalmente, para a melhoria das condies de trabalho
e sua insero efeva nas instuies.
k
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Aentrada de mulheres nas Instuies de Segurana Pblica no Brasil recente, somando pouco mais de 50 anos de histria. De acordo comautoras que se dedicaram ao tema (Calazans, 2003, Soares e Musumeci, 2005), um
marco para esse fato histrico foi a criao de um Corpo Feminino na Guarda Civil
do Estado de So Paulo, em 1955. Posteriormente, j nos anos 1970, esse grupo
foi integrado recm-formada Polcia Militar do Estado de So Paulo. Ainda de
acordo com o inventrio realizado por Soares e Musumeci, foi tambm a parr dos
anos 1970 que as Polcias Militares de outras unidades da federao passaram a
incorporar mulheres aos seus quadros de pessoal, o que s vezes foi feito de forma
unicada nos quadros masculinos e s vezes no.
Q: I P M B
U F A I M
AC 1985
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problemcas sociais, de ajuda a outras mulheres, crianas e idosos. Subjacente havia
a convico que a mulher policial poderia ter uma relao estreita e especial com a
comunidade, com um papel pacicador e protetor. (Donadio, 2009: 82)3
No Brasil, a bibliograa aponta que o acesso das mulheres s polcias
civis e militares passou a ser ampliado a parr dos anos 1980 no contexto de
redemocrazao polca e, especialmente, a parr de 1988, com a promulgao
da Constuio Federal, marco para a consolidao da democracia no pas. Segundo
Calazans (2003), este contexto foi caracterizado pelo debate sobre reforma policial,
polcas armavas e novas concepes de segurana pblica que visavam romper
com um passado de represso e truculncia que caracterizavam negavamente
as corporaes policiais e avanar na incorporao dos princpios de respeito aos
direitos humanos em um modelo de segurana cidad.
Nesta nova abordagem, a incluso de mulheres teve como objevo a
humanizao de setores das corporaes policiais com o objevo de melhorar a
imagem da polcia, aproxim-la da populao, e oferecer atendimento adequado
populao vulnervel mulheres, crianas, idosos, entre outros. A literatura
tambm no ignora que a entrada de mulheres para essas funes contribuiu
para liberar os homens das avidades administravo-burocrcas, permindo
que esvessem atuando nas linhas de frente, ocupando os postos mais altos dahierarquia e parcipando de atos de bravura e coragem no combate criminalidade
urbana.
Soares e Musumeci (2005) chamam a ateno para outra caractersca da
parcipao feminina nas polcias. Nas polcias militares essa parcipao teria sido
movada por fatores internos, ou seja, esse projeto de humanizao da polcia
mediante a incorporao de caracterscas femininas docilidade, capacidade para
o dilogo, etc. foi planejada pelos comandos e aplicada segundo as necessidades
instucionais4. No entanto, a proposta focava muito mais os efeitos cosmcos
e de markeng que a transformao estrutural para a mudana instucional. As
autoras tambm chamam a ateno para o fato que essas movaes nunca foram
totalmente explicitadas.
Nas polcias civis, o processo polco-instucional para a incorporao
das mulheres tambm carece de invesgao. Acredita-se, no entanto, que uma
movao teria sido externa instuio, uma vez que a criao das Delegacias da
3 No original Las caracterscas propias del trabajo policial llevaron a incorporar a la mujer bajo una perspecva funcional,
para desempear labores relacionadas con la atencin de problemcas sociales, de ayuda a otras mujeres, nios y
ancianos. Subyaca la conviccin de que la mujer polica poda tener un acercamiento y trato especial con la comunidad, por
la construccin de um rol de gnero conciliador y protector. (Donadio, 2009:82)4 Segundo as mesmas autoras, zeram parte desse projeto a introduo de disciplinas de Direitos Humanos nos currculosde formao das polcias e ensaios de implantao do policiamento comunitrio. (Soares e Musumeci, 2005: 16)
No h inventrio semelhante para as Polcias Civis1, mas as informaes
esparsas pela bibliograa mostram que os anos 1970 tambm foram marcados pela
admisso de mulheres nos quadros das policiais civis, a exemplo do que ocorreu
no estado da Bahia onde, de acordo com a delegada de polcia entrevistada para
essa pesquisa, o ingresso de mulheres na polcia civil deu-se a parr de 197 1 com
delegadas e escrivs.
S vai comear a ter agente, invesgadora a parr dos anos 80, porque as mulheres que
eram invesgadoras, muito poucas, entravam pela polcia feminina que era comandada por
uma comissria. ... esse corpo de mulheres que era um grupo isolado que no trabalhava
em delegacia. Elas trabalhavam em recepo, casamento, cuidar de criana, de idoso,
de pegar maluco na rua, meninos de rua, elas no nham a funo de polcia judiciria.
Quando criou a Delegacia da Mulher quem ia compor esse quadro? A pega essas policiais
femininas e so transformadas em invesgadoras... entraram pela academia de polcia,
mas nham uma farda diferente, muito parecida com a polcia militar, mas faziam a parte
da polcia administrava, no faziam parte da polcia judiciria...2
A entrevista acima tambm aponta para outro momento da entrada das
mulheres nas polcias civis. Aps a abertura da primeira Delegacia de Defesa da
Mulher, na cidade de So Paulo, em 1985, essas unidades passaram a ser criadas
em outros estados brasileiros e as polcias precisaram ampliar seus quadros de
mulheres para atender a essas novas delegacias que nham entre as caracterscas
denidoras da especializao que todo o atendimento deveria ser realizado pelo
efevo do sexo feminino.
A experincia brasileira de incorporao de mulheres nas polcias no foi
fato isolado, e na mesma poca esse movimento ocorreu em outros pases da
Amrica Lana (Donadio, 2009). Na regio, os primeiros pases a contarem com
mulheres atuando nas foras policiais foram o Chile e Uruguai, em 1939 e 1931,
respecvamente. Em outros pases, como El Salvador, Honduras y Guatemala,
esse processo teve incio com a reformulao das polcas de segurana interna, a
parr dos anos 1990, resultado dos processos de pacicao (Donadio, 2009: 85).
No Brasil, a incluso de mulheres nas foras policiais veio no bojo dos processos
de redemocrazao polca. Ainda que se esteja tratando de contextos polcos
especcos e de diferenas entre as foras policiais segundo sua composio,
abrangncia e competncias, a autora ressalta que em todos os pases
as caracterscas prprias do trabalho policial levaram a que a incorporao da mulher
se desse numa perspecva funcional, para desempenhar avidades relacionadas com as
1 No foram mencionados os Corpos de Bombeiros e Polcias Ciencas nesse histrico porque esses foram vinculadoss Polcias Militares e Polcias Civis, respecvamente, em suas origens. No nal dos anos 1990 teve incio a separao dasinstuies.2 Entrevista com a Dra. Isabel Alice Delegada de Polcia da Policia Civil do Estado da Bahia. Em 16/11/2011.
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Neste sendo, a pesquisa lanada pela Secretaria Nacional de Segurana
Pblica/SENASP, no mbito do Projeto Valorizao Prossional e Qualidade de Vida
para Servidores de Segurana Pblica, se apresenta como uma iniciava indita
que permir avanar no conhecimento sobre o conngente feminino nas polcias
civis, polcias militares, polcias tcnicas e corpos de bombeiros.
O Projeto Valorizao Prossional e Qualidade de Vida para servidores de
Segurana Pblica, concebido a parr dos princpios e metas do Sistema nico
de Segurana Pblica SUSP, tem por objevo planejar, implementar, monitorar
e avaliar polcas permanentes, de carter educavo, prevenvo e reparador,
nas reas de sade sica e mental, suporte ao prossional, gesto de recursos
humanos e materiais e fortalecimento da imagem instucional. Tais polcas
se materializam por meio de estudos tcnicos, interlocuo com as instuies
estaduais de segurana pblica, e principalmente, pelo repasse de recursos e
celebrao de convnios para implementao de projetos especcos na rea. A
instucionalizao do Projeto se deu por meio da Instruo Normava GAB/MJ
n 01, de 26 de fevereiro de 2010. A referida Instruo Normava foi construda
colevamente, com a parcipao de gestores estaduais de sade das instuies
de todos os Estados da federao, alm de parcipantes da Polcia Federal e da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica. O documento dispe
sobre as diretrizes do Projeto Nacional, visando fomentar, nas unidades federavas
que aderirem voluntariamente, aes prevenvas e integradas, de forma a prevenir
adoecimentos e promover melhores condies de vida e de trabalho entre esses
indivduos.
Paralelamente realizao de pesquisas e edio de normas e diretrizes,
aes estaduais de qualidade de vida para os prossionais de segurana pblica
passaram a ser fomentadas pela SENASP, por meio de convnios, ou seja, o repasse
de recursos federais, por meio do Fundo Nacional de Segurana Pblica (FNSP) e
do Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania (PRONASCI).
Deve-se destacar que os Entes Federados, assim como os prprios
prossionais de segurana pblica, so atores fundamentais no processo de
elaborao, implementao e avaliao das polcas Projeto Qualidade de Vida
para Prossionais de Segurana Pblica de Valorizao Prossional da SENASP.
Uma importante parceria para a implantao das aes de Qualidade
de Vida tem sido com o Projeto Segurana Cidad, um acordo de cooperao
tcnica entre o Ministrio da Jusa, por meio da SENASP, com o Programa para
o Desenvolvimento das Naes Unidas PNUD. O Projeto Segurana Cidad
tem por metas formular polcas pblicas, implementar aes e estratgias para
preveno da violncia e criminalidade, e garanr a incluso social e a igualdade
de oportunidades.
Mulher razo pela qual foi ampliado o quadro feminino paru de uma demanda
dos movimentos de mulheres que, entre outras coisas, planejavam um trabalho
em estreita colaborao com essas policiais que deveriam atuar como aliadas na
luta contra a violncia contras as mulheres. De certa forma, essa relao com as
Delegacias da Mulher e as delegacias especializadas que foram sendo criadas a
parr dos anos 1990 de proteo criana e ao adolescente, de proteo ao
idoso, decientes sicos, para crimes raciais e de intolerncia contriburam para
a denio de um campo para o qual as policiais femininas foram direcionadas
independente de sua idencao ou qualicao para trabalhar com esses
pblicos.
O fato que para nenhuma das duas instuies e, posteriormente, com
os Corpos de Bombeiros, Polcias Ciencas e Instutos de Percias Criminais as
mudanas provocadas pela entrada de mulheres no foram acompanhadas por
mudanas estruturais signicavas e, passados 50 anos, as polcas instucionais
esto distantes de incorporar a igualdade de oportunidade para homens e mulheres
no acesso s carreiras policiais, bem como o reconhecimento da contribuio das
mulheres a parr de sua formao prossional e tcnica, o que representaria uma
mudana substanva para o funcionamento dessas instuies.
Um inventrio dos obstculos colocados s mulheres nas instuies de
segurana pblica mostra que estes so de diferentes pos e naturezas. Alguns
so formais como a restrio para ingresso nas polcias militares que dene
o percentual de vagas que podem ser preenchidas por mulheres a cada novo
concurso pblico (Calazans, 2003). Outros so informais, como o chamado
teto de vidro que inviabiliza o acesso das mulheres aos postos mais elevados
da hierarquia policial (Silveira, 2009), e aqueles obstculos que se expressam
nas relaes codianas, como a rejeio de mulheres para o desempenho de
determinadas avidades, a recusa de alguns policiais em trabalhar com mulheres
(Souza, 2011), as piadinhas e gracejos, o assdio sexual e moral, a inadequao
da infraestrutura para acolher mulheres em delegacias e batalhes, entre outros
que so relatados pelas pesquisas.
Alm desses obstculos, pouco se conhece sobre as condies de trabalho,
os efeitos que o estresse associado avidade de segurana pblica produz sobre
sua sade e como afeta sua qualidade de vida, e em que medida as discriminaes
com base no gnero aumentam a exposio a estas situaes e/ou agravam seus
efeitos. As poucas pesquisas realizadas trazem pistas e representam importantes
contribuies para o conhecimento sobre essa temca, mas so pontuais e
permitem a composio de um mosaico sobre as experincias de mulheres nas
polcias civis e militares, sem permir que se vislumbre um panorama nacional
ou mais aprofundado sobre o tema, alm de no contemplarem a Polcia Tcnico-
Cienca e os Corpos de Bombeiros Militares.
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a respeito da presena das mulheres nas corporaes policiais, os desaos que
enfrentam no exerccio de suas funes, as estratgias individuais e instucionais
para administrar as diferenas de gnero e seu impacto nas avidades codianas.
Trata-se de um campo de estudos bastante recente no pas e apenas a parr do
nal dos anos 1990 surgem as primeiras pesquisas acadmicas, resultando em
dissertaes e teses, argos ciencos e papers apresentados em encontros
acadmico-ciencos6.
Inicialmente a pesquisa esteve limitada s bases de dados virtuais e sistemas
de busca da Plataforma Laes (CNPq)7, Banco de Teses da Capes8 e sistema Scielo9.
Aps a idencao de alguns tulos, a etapa seguinte consisu em pesquisar as
referncias citadas com maior frequncia. O uso de palavras-chaves orientou a
pesquisa inicial a respeito da presena de mulheres nas instuies de segurana
pblica. Num segundo momento, as palavras-chaves foram ampliadas para
contemplar estudos sobre formao policial e sua interface com as reas da sade
e educao. O recorte geogrco limitou a pesquisa ao Brasil.
A pesquisa tambm contemplou uma busca por relatrios de pesquisa.
As principais fontes so as pesquisas sobre perl das instuies de segurana
pblica, realizadas pela SENASP, com edies sobre a Polcia Civil, Polcia Militar
e Corpo de Bombeiros (2004-2007). Os documentos trazem poucas informaes
sobre as condies de trabalho das mulheres, limitando-se, na maior parte das
vezes, a contabilizar sua presena no universo de policiais em cada uma das
corporaes estudadas. Em 2009, foi publicado o relatrio intulado O que
pensam os prossionais da segurana pblica no Brasil (Soares, Ramos e Rolim),
com subsdios para a I Conferncia Nacional de Segurana Pblica realizada no pas.
Neste documento, as informaes sobre as mulheres policiais so apresentadas
apenas no perl socioeconmico dos parcipantes da pesquisa. Foi tambm
incorporada uma publicao da Secretaria de Polcas para Mulheres (SPM), com
textos produzidos a parr do projeto Mulheres: Dilogos sobre Segurana Pblica
tambm um subsdio para a I Conferncia Nacional de Segurana Pblica (SPM,
2009).
Ao todo so 23 documentos que se distribuem em: a)papers e argos (11);
b) dissertaes, teses e monograas (6); c) livros (4) ; d) relatrios de pesquisa
(2). No captulo 2 desse relatrio apresenta-se um repasse por essa bibliograa,
incluindo os principais temas, a cobertura territorial e temca, metodologia e
6 Em sua dissertao, Calazans (2003) realizou pesquisa bibliogrca, tendo idencado a mesma diculdade paralocalizao de trabalhos realizados no perodo anterior aos anos 2000.7 hp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do8 hp://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses9 hp://www.scielo.com.br
Por meio do Projeto Segurana Cidad, foram realizadas pesquisas de
mapeamento dos programas de sade das instuies e editado um Guia de
Aes5. Outras importantes pesquisas tambm foram realizadas em parceria com
o PNUD, quais sejam: Prossiograa Nacional e Mapeamento de Competncias
dos prossionais de Segurana Pblica; Compilao, anlise e interpretao de
relatrios de mapeamento das principais fontes e nveis de estresse ocupacional
nos rgos estaduais de segurana pblica produzidos pelos Ncleos de
Estudos, Preveno e Gerenciamento do Estresse, fomentados por convnios
SENASP/2008; Mapeamento e diagnsco instucional com vistas estruturao
de servio de acompanhamento psicossocial para a Fora Nacional de Segurana
Pblica; Diretrizes para o Protocolo Nacional para interveno aps incidentes
crcos e ocorrncias de risco visando a preveno do estresse ps-traumco
TEPT; Sistema Nacional de Monitoramento de polcas de sade e valorizao
prossional; e Mulheres na Segurana Pblica: Estudo tcnico nacional. A presente
publicao resultado desta lma pesquisa.
Este estudo tem como objevo contribuir com um retrato sobre quem so
essas mulheres, quais suas condies de trabalho e quais os principais obstculos
que enfrentam no exerccio prossional em decorrncia de sua condio de gnero.
Os resultados obdos consisro num pano de fundo que permiro Secretaria
Nacional de Segurana Pblica, orientar o desenvolvimento de projetos e a
formulao de polcas de direitos humanos voltados s servidoras, que devero
tambm ser pautadas pelo respeito diversidade de gnero, raa e orientao
sexual.
1.a. A pesquisa
A pesquisa sobre a presena de mulheres nas Instuies de Segurana
Pblica foi realizada entre os meses de outubro de 2011 e maro de 2012, sendo
composta por trs etapas: levantamento e reviso de bibliograa, entrevistas
individuais e grupos de discusso e pesquisa quantava com mulheres das polcias
civis, polcias militares, polcias ciencas/instutos de percias criminais e corpos
de bombeiros de todo o pas. A seguir apresentam-se os objevos e procedimentos
metodolgicos adotados para o desenvolvimento de cada uma dessas etapas. Os
resultados sero apresentados nas partes subsequentes dessa publicao.
* Levantamento e reviso bibliogrfica e documental
Visando mapear os estudos existentes sobre o tema no Brasil, o objevo
dessa etapa consisu em idencar as principais contribuies para o conhecimento
5 O Guia de Aes est disponvel no site www.mj.gov.br.
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1 Bombeira Militar (RO);
Gestoras de Polcas Pblicas (SENASP e SPM).
Foram tambm idencadas duas associaes que renem mulheres
prossionais da segurana pblica, uma em Minas Gerais e outra em Sergipe 12.
Aps contato com as respecvas presidentas, foram agendadas entrevistas com
a Diretoria Execuva de cada associao, o que ocorreu em Belo Horizonte e
Aracaju. Os encontros permiram conhecer a histria de criao das endades esuas agendas polcas. Foram realizados em outubro e novembro de 2011, com
durao aproximada de 2h30m, cada um.
So elas:
AMPROSEG Associao de Mulheres Prossionais de Segurana
Pblica. Rene mulheres da Polcia Militar e do Corpo de Bombeiros
de Minas Gerais. Alm da atual presidente da Associao sargento
da PMMG parciparam do encontro trs membros da diretoria
uma major Bombeiro Militar, uma capito e uma subtenente da
Polcia Militar, todas j reformadas.
ASIMUSEP Associao Integrada de Mulheres da Segurana Pblica.
Rene mulheres de todas as instuies de segurana pblica deSergipe, inclusive Guardas Municipais e Agentes Penitencirias.
Parciparam do encontro 14 mulheres das diferentes instuies,
entre membros da diretoria e associadas.
Para nalizar a coleta de dados nesta etapa da pesquisa, foram realizados
dois encontros em grupo com mulheres prossionais de segurana pblica13. Os
grupos foram realizados em Luzinia e Braslia com mulheres policiais que esto
atuando na Fora Nacional e mulheres policiais, peritas, papiloscopistas e bombeiras
que trabalham na SENASP. Em ambos os grupos foram reunidas mulheres das
quatro instuies objetos desta pesquisa, representantes de diferentes estados
brasileiros.
J o segundo grupo, reuniu policiais que esto trabalhando na SENASP em
avidades administravas, alm de uma sargento do Corpo de Bombeiros do DF e
uma perita tambm do DF. A mescla de prossionais provenientes de instuies
diferentes enriqueceu os dilogos que foram se estabelecendo durante o encontro,
12 Foram idencadas tambm uma associao de mulheres policiais em Santa Catarina e outra no Distrito Federal. Para aprimeira no foi possvel localizar um contato para entrevista. A segunda envolve principalmente Policiais Federais.13 Embora o Termo de Referncia da Pesquisa vesse a previso de realizao de grupos focais, a falta de estruturaadequada para realizao dos grupos e o pequeno nmero de mulheres policiais para a formao de grupos homogneoslevou realizao de encontros com formato mais livre. A parr da proposio de trs ou quatro questes, abriu-se apossibilidade de discusso sobre outros temas que emergiram de acordo com o perl do grupo e suas percepes.
referenciais tericos encontrados10. Outras reexes encontram-se incorporadas
na anlise dos dados quantavos apresentados no captulo 4.
* Entrevistas individuais e grupos de discusso
Na segunda etapa da pesquisa foram realizadas entrevistas individuais
e grupos de discusso. Ao todo, foram realizadas 12 entrevistas com mulheres
policiais civis, policiais militares, peritas criminais e bombeiras militares, alm de
duas gestoras de polcas na rea de segurana pblica e de polcas para mulheres.
Foram tambm realizados 2 grupos de discusso com policiais que atuam na Fora
Nacional de Segurana Pblica e nos demais departamentos da SENASP.
As entrevistas com as prossionais veram durao aproximada de 1 hora
e foram realizadas a parr de um roteiro semiestruturado sobre a opo pela
carreira, as expectavas que nham com essa prosso, a experincia prossional
e a vivncia como mulher-policial/bombeira, percepes sobre relaes de
gnero nas instuies, reexos da avidade prossional sobre a sade e vida
pessoal. Nas entrevistas tambm foram abordados os obstculos idencados na
literatura para a ascenso de mulheres nas instuies de segurana pblica e a
discriminao com base em gnero, entre eles o chamado teto de vidro, as cotas
para ingresso de mulheres nas instuies militares, o assdio sexual e moral.
Parte das entrevistas foi realizada com prossionais que esto atuando na Fora
Nacional, o que facilitou o acesso a mulheres de diferentes estados brasileiros.
Outra parte foi realizada com mulheres em seus estados e instuies de origem11.
As entrevistas com gestoras de polcas pblicas nas reas da segurana
pblica e de polcas para mulheres tambm foram realizadas a parr de roteiros
semiestruturados buscando explorar os objevos da pesquisa e reer sobre
desdobramentos das demandas em polcas pblicas, projetos e servios voltados
ao pblico-alvo especco desta pesquisa. Ambas as entrevistadas so do governo
federal, de forma que toda a discusso concentrou-se nas aes do governo federal
e as possibilidades de dilogo com os entes federados.
As entrevistas foram realizadas entre 25 de outubro e 22 de novembro de2011. Foram entrevistadas:
4 Policiais Militares (MG, BA);
3 Policiais Civis (DF, BA);
2 Peritas Criminais (RS e AL);
10 Anexo ao nal desse relatrio (anexo I) apresenta-se um quadro descrivo da bibliograa selecionada.11 Duas entrevistas agendadas com uma delegada de polcia e uma capito da Polcia Militar, ambas do Rio de Janeiro, nopuderam ser realizadas.
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ser buscadas individualmente.
Com o objevo de conhecer melhor essas experincias e as formas como
as prossionais buscam enfrent-las, foi proposta uma nova etapa no trabalho
de campo, elaborando-se um quesonrio direcionado s prossionais, para
preenchimento individual e no idencado, garanndo assim o anonimato das
respondentes. O quesonrio foi apresentado em quatro verses, uma para cada
instuio pesquisada. Dada a natureza da pesquisa e a metodologia aplicada
como ser descrito a seguir o conjunto de resultados obdos permite uma
leitura de carter exploratrio sobre aspectos da experincia das mulheres nas
Instuies de Segurana Pblica e as lacunas das polcas existentes no setor,
mas no tem a pretenso de apresentar um perl abrangente das prossionais,
uma vez que no se trata de uma pesquisa estascamente representava, com
amostragens por cotas previamente denidas.
O instrumento adotado para a pesquisa consisu em quesonrio em
formato digital para preenchimento on-line14. Trata-se de um quesonrio com
perguntas fechadas, com respostas nicas ou de mlpla escolha, e que possibilitam
uma anlise quantava dos resultados colhidos. As perguntas abordam aspectos
do perl prossional e valorizao prossional, sade e qualidade de vida. So
abordadas tambm percepes sobre violao de direitos e relaes prossionais a
parr da experincia de relacionamento entre homens e mulheres no desempenho
das avidades. Ao todo so 62 perguntas distribudas em cinco sesses:
Perl prossional: 15 perguntas
Qualidade e Valorizao Prossional: 8 perguntas
Relaes Prossionais e Relaes de Gnero: 15 perguntas
Sade e Qualidade de Vida: 13 perguntas
Perl social e demogrco: 11 perguntas
A opo por quesonrios digitais teve como objevo tornar a pesquisa
abrangente e acessvel para mulheres policiais civis, militares, peritas e bombeirasmilitares de todos os entes federados, quer se encontrem trabalhando nas capitais
ou municpios do interior, incluindo os municpios de fronteira e aqueles mais
distantes dos grandes centros urbanos.
Os quesonrios foram disponibilizados por meio da Plataforma da Rede
Nacional de Educao Distncia da SENASP, no perodo de 21 de janeiro a 24 de
14 A ferramenta ulizada foi o GoogleDocs, que permite o preenchimento de informaes on-line e sua gravao numaplanilha eletrnica permindo que os dados sejam exportados para programas de anlises estascas, possibilitandoanlises simples e combinadas das variveis.
inclusive quanto percepo de ser mulher policial/bombeiro numa estrutura
militarizada ou no-militarizada. Os encontros ocorreram nos dias 14 e 15 de
dezembro e veram cerca de 3 horas de durao.
Os dois grupos veram a seguinte composio:
F N: com a parcipao de seis mulheres: duas policiais
civis (AP e RN), duas policiais militares (SE e MT) e duas peritas (TO
e RS);
SENASP: com a parcipao de 9 policiais: quatro policiais civis
(PE, RS, PA e SE), 2 policiais militares (GO e TO), duas bombeiros
militares (DF e SE) e uma papiloscopista (DF).
Todas as entrevistas e encontros com os grupos foram gravados em
meio digital e transcritos posteriormente. Alm de servir para a construo dos
instrumentos de coleta de dados quantava (quesonrios para preenchimento
individual), as entrevistas forneceram rico material para as anlises dos dados
quantavos e para o dilogo com a bibliograa existente. Uma sntese das
entrevistas encontra-se apresentada na captulo 3.
*Pesquisa Quantitativa com Mulheres Profissionais deSegurana Pblica (questionrios on-line anexo ii)
O planejamento inicial desta pesquisa previa a aplicao de quesonrios
dirigidos para as Instuies de Segurana Pblica visando informaes a respeito
do efevo feminino (nmero de prossionais e perl sociodemogrco) e sobre
a existncia de polcas instucionais dirigidas especicamente para este grupo.
De certa forma, este procedimento resultaria em replicar a pesquisa Perl das
Instuies de Segurana Pblica - que j realizada pela SENASP, incorporando
variveis e questes que permiriam colocar em relevo a presena feminina e
introduzir um vis de gnero na invesgao sobre as polcas instucionais. A
vantagem dessa abordagem seria a possibilidade de estabelecer uma comparao
entre o conjunto de dados das duas pesquisas revelando algumas especicidades
das respostas instucionais situao das mulheres do segmento.
Durante as entrevistas foi possvel conhecer alguns aspectos importantes da
experincia dessas prossionais, sobretudo aqueles relacionados com sua sade e
com situaes de discriminao e desrespeito a seus direitos. Os relatos tambm
revelaram que essas experincias fazem parte de seu codiano de trabalho sem
que as prossionais possam contar com canais de denncia e/ou ajuda, fazendo
com que sejam vividas como experincias pessoais, cujas solues tambm devem
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fevereiro de 2012.
Alm da ulizao do mailing da prpria Rede EAD-SENASP, a estratgia
para divulgao da pesquisa e dos quesonrios incluiu:
Nocias na pgina eletrnica da SENASP;
Veiculao da pesquisa atravs das Associaes de Mulheres
Policiais de Minas Gerais e Sergipe;
Divulgao atravs do Frum Brasileiro de Segurana Pblica;
Colaborao de prossionais entrevistadas para divulgao da
pesquisa em seus estados e corporaes;
Repercusso da pesquisa atravs dos blogs de policiais; e
Nas redes sociais.
O monitoramento dirio da pesquisa permiu acompanhar o movimento
de incluso de quesonrios, orientando o reforo na divulgao da pesquisa
naqueles momentos em que os registros apresentavam declnio. Desta forma
foi possvel manter uma mdia de inseres ao longo de todo o perodo em
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Olevantamento bibliogrco idencoupapers, argos, dissertaes,
teses, monograas e livros que tratam da presena de mulheres nas
Instuies de Segurana Pblica. Ao todo so 23 documentos que se distribuem
em: a)papers e argos (11), b) dissertaes, teses e monograas, (6) c) livros (4) e
d) relatrios de pesquisa (2).
Observa-se que este um campo de pesquisa ainda por explorar tanto entre
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Na cobertura territorial foram idencadas pesquisas realizadas em
diferentes estados brasileiros, tais como: Rio Grande do Sul e Paran (na regio
Sul), So Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Esprito Santo (na regio Sudeste),
Mato Grosso e Distrito Federal (na regio Centro Oeste) e Bahia, Cear e Sergipe
(na regio Nordeste). Geogracamente, esto representadas quatro regies do
pas. A lacuna refere-se aos estados do Norte do pas. Apenas a pesquisa realizada
por Sadek (2003) tem cobertura mais ampla, com amostragem de delegados(as) de
polcia de nove estados brasileiros, incluindo o Amap. De modo geral, a cobertura
das pesquisas limitada aos prossionais que atuam nas capitais, com exceo deum estudo sobre delegadas de polcia na Regio Metropolitana de Porto Alegre
(Sacramento, 2007) e o estudo sobre o sofrimento psquico entre policiais civis do
estado do Rio de Janeiro (Souza, 2007).
Quanto metodologia, predominam aqueles de natureza qualitava,
consistentes em entrevistas com roteiros semiestruturados, realizadas com
pequenos grupos de policiais.
Entre as referncias bibliogrcas foram idencadas duas que so citadas
de maneira recorrente: o trabalho de Calazans (2003) e de Soares (2005), nesta
ordem. Estes trabalhos contribuem para a contextualizao histrica quanto ao
ingresso de mulheres nas polcias militares. A pesquisa realizada por Sadek (2005)
citada como referncia em alguns estudos sobre a polcia civil.
O conceito de gnero adotado pela maior parte dos estudos, com
discusses sobre os papis socialmente estabelecidos para homens e mulheres
e a forma como estes papis e os atributos a eles relacionados reproduzida nas
instuies. Esta a explicao comparlhada para a limitao da atuao das
mulheres em avidades que so consideradas como femininas: relacionadas
ao cuidado, proteo, uma maior capacidade para o dilogo, a organizao, a
averso a mtodos violentos e o uso da fora. Entre os estudos de referncia,
o principal a Dominao Masculina, de Pierre Bourdieu (1999) o que revela
entre as pesquisas uma preferncia pela abordagem que entende o gnero como
elemento da reproduo social que legima as diversas formas de dominao que
organizam as relaes entre homens e mulheres em sociedade, em detrimento de
uma abordagem que discute gnero e desigualdade de poder (Sco, 1988), por
exemplo.
A incorporao do conceito de gnero nas anlises permite que alguns dos
trabalhos avancem na discusso sobre as transformaes que vo se efevando
durante o processo de constuio da mulher-policial, prevalecendo um processo
instucional que Calazans (2003) denomina de incluso-excluso-dominao.
Outros estudos demonstram que estas mulheres no desempenham apenas
as informaes sobre recursos humanos limitam-se a descrever seu nmero,
distribuio por sexo e algumas informaes sobre a formao/capacitao para o
desempenho das avidades. O foco das atenes foi direcionado para as mulheres
vmas de violncia e o atendimento que recebem nas instuies policiais. Muitas
crcas foram tecidas forma como as delegacias funcionam, as diculdades da
abordagem policial sobre o assunto, entre outros. No entanto, esses estudos pouco
(ou nada) se dedicaram a conhecer esse outro lado da moeda, invesgando quem
so essas policiais, porque escolheram essa carreira prossional to marcadamente
masculina. Entender como se estabelecem as relaes prossionais entre homense mulheres pode tambm ajudar a compreender porque tantas mulheres policiais
resistem em trabalhar nas Delegacias da Mulher ou porque sentem diculdade em
acolher as mulheres vmas e dar-lhes um atendimento digno que lhes garanta o
acesso informao e aos seus direitos.
Idenca-se, desta maneira, uma ruptura que ope de um lado os estudos
feministas e as polcas de gnero e de outro lado as polcas de segurana pblica
voltadas para recursos humanos, formao e avidade prossional. Espera-se que
os resultados desta pesquisa venham a contribuir para criar pontes entre estas
polcas e, desta forma, elaborar recomendaes para a formulao de polcas
pblicas que venham a beneciar as mulheres que atuam nas instuies de
segurana pblica.
Os 23 documentos analisam a presena das mulheres nas polcias civis (8)
e nas polcias militares (9)15. Constatou-se a ausncia de trabalhos sobre mulheres
nas polcias tcnicas (peritas) e nos corpos de bombeiros 16. Nos estudos que se
dedicam a invesgar a parcipao de mulheres nas polcias civis, predominam
aqueles que abordam as experincias de delegadas de polcia 17, contribuindo
para a invisibilidade de mulheres que parcipam de outras carreiras policiais,
como escrivs ou agentes de polcia, por exemplo18. Nos estudos sobre as polcias
militares a cobertura mais ampla, com predomnio de mulheres praas que
tambm correspondem maior parte dos efevos nas corporaes estaduais.
15 Alguns documentos referem-se mesma pesquisa, como no caso de Calazans (2003,2004 e 2005) que publicou argossobre sua dissertao e Brasil (2008, 2010) que produziu um papera parr do livro.16 Com relao presena feminina no Corpo de Bombeiros, foi possvel localizar um nicopapertratando da experinciade Montes Claros, Minas Gerais. O documento no foi includo nesta reviso em decorrncia da pequena quandade deinformaes que traz e da impossibilidade de idencao de informaes sobre a pesquisa que deu origem ao relato.17 A exceo o estudo de Souza (2007) que pesquisou uma amostra representava de toda a polcia civil do Estado doRio de Janeiro.18 A segunda edio da Pesquisa sobre Perl Organizacional das Polcias Civis (SENASP, 2004) mostrou que existe umavariao signicava na composio das funes segundo o sexo: Em mdia a pesquisa encontrou a razo de 2,2 homenspara cada mulher na corporao. Segundo as funes ocupadas idencou uma maior presena masculina entre as funesoperacionais (delegados, invesgadores, deteves, inspetores) na razo de 4,6 homens para cada mulher. J entre asavidades de apoio administravo encontram-se mais mulheres na razo de 0,8 homens para cada mulher.
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papis que lhes so designados de forma passiva e sem contestao. Quando
compreendidos na lgica relacional (Sco, 1988), possvel analisar a intervenodas mulheres ora provocando modicaes nas estruturas policiais ora contribuindo
para a manuteno da cultura instucional (Santana, 2010).
Nesta primeira reviso da bibliograa foi possvel perceber que pouca
anlise tem sido dedicada sobre as vivncias e experincias de gnero pelas
policiais. Alm do preconceito e discriminao que sofrem dentro da instuio,
muitas delas vivenciam a discriminao e a violncia em suas vidas privadas
inclusive violncia domsca e familiar tema que no abordado pelos estudos
e para o qual so desconhecidas polcas instucionais19.
Observa-se tambm que os estudos adotam uma abordagem sobre
gnero, limitando-se a discur os papis sexuais, sem incorporar a dimenso de
interseccionalidade de gnero com marcadores sociais, como raa/etnia, gerao,procedncia regional ou origem social (Sco, 1988, Colins 2000 apudJubb, 2010).
Da mesma forma, est ausente um dilogo com a literatura feminista sobre
transversalidade de gnero nas polcas pblicas. A transversalidade de gnero
pode ser compreendida como o reconhecimento de que as polcas pblicas
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3E, :
Neste captulo so apresentados alguns dos temas abordados nas
entrevistas e grupos de discusso. Trata-se de uma sistemazaopreliminar de tpicos abordados, buscando ilustrar a diversidade de experinciasrelatadas pelas mulheres e o conjunto de percepes sobre os diferentes aspectosde sua experincia prossional. Esse material ser retomado adiante, para a anlisedos dados quantavos.
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aos seus colegas, homens e mulheres, sobretudo no que se refere s condies
de trabalho, insucincia de recursos humanos para melhor distribuio das
tarefas, precariedade das instalaes de alojamentos e repares em batalhes
e delegacias de polcia e carncia de material adequado para o desenvolvimento
de avidades codianas.
...e quando voc trabalha para o Estado, voc tem que ter muita paixo, porque notem...eu trabalho com o meu computador, porque no tem...ento acaba que voc vque voc tem que dar muito pr fazer a coisa funcionar, e o Estado ele te frustra o tempointeiro, impressionante... (policial civil)
3.. O trabalho da mulher policial
Embora armem que as mulheres podem realizar as mesmas tarefas que
os homens, e mesmo quando se trata de fora sica algumas mulheres so mais
fortes que seus colegas do sexo masculino, para a maior parte principalmente nas
instuies militarizadas a presena masculina indispensvel para a realizao
de algumas tarefas que exigem fora e destreza. As peritas entrevistadas armam
tambm que no existem diferenas entre avidades de homens e mulheres, e a
distribuio dos prossionais segundo as diferentes reas de trabalho dependemais do gosto, e principalmente da capacitao de cada um.
Algumas das entrevistadas tambm relatam que, em geral, os primeiros
lugares nos concursos so preenchidos por mulheres e a eliminao das cotas para
ingresso de mulheres existentes nas Polcias Militares e Bombeiros Militares
poderia levar a uma entrada macia de mulheres nas instuies policiais
A entrada limitada de mulheres na PM faz sendo porque a gente precisa mais dafora sica. NO CFO se fosse pau-a-pau, eu acho que ia entrar muitas mulheres. Nomeu estado o CFO feito pelo vesbular comum...mas ele limita a entrada... (policial
militar)
...nos estados do Nordeste no tem percentual e sabe o que acontece? Entra a mesma
coisa que aqui! Olha que burrice! Mas o medo to grande de falar se abrir vaiencher de mulher e a ns vamos ter diculdade com algumas avidades que precisam
de um perl, no de homem ou de mulher, de mais robustez, e como a maior parte das
mulheres no tem esse perl, entendeu...ento, eu acredito que o medo seja esse...
(policial militar)
De fato, os dados da Pesquisa Perl (Senasp, 2011) indicam que nas polcias
civis, onde em geral no existem cotas limitando a entrada de mulheres, encontra-
se uma mdia mxima de 25%. Esse dado indica que a liberao de vagas no
provoca necessariamente uma entrada macia de mulheres, como temem alguns.
Mesmo sem terem planejado o ingresso na carreira policial, muitasentrevistadas contaram ter cado entre as primeiras colocadas. No foram tambmraras as expresses de sasfao com a experincia que foram viver:
...e quando saiu o resultado eu nha passado em primeiro lugar e eu ve muitavergonha de dizer que eu no ia car...mas a minha me, de novo, disse ca umasemana s...e eu nessa uma semana quei encantada. Mudaram todos os meus pr-
conceitos em relao instuio....na sala de aula, vendo o papel da polcia, pra que a
gente veio (...) a possibilidade de ajudar as pessoas, eu com uma semana j sabia que eraaquilo que eu queria pra mim... (policial militar)
... ento eu no escolhi ser policial, mas foi assim, a polcia no foi uma paixo, elafoi um amor, ela veio entrando na minha vida as coisas foram acontecendo e eu fuiconhecendo... (policial militar)
...e eu fui me envolvendo com aquilo...e a eu passei e hoje eu amo polcia, euamo meu trabalho. Foi uma deciso que eu tomei e que eu no me arrependo umminuto... (policial civil)
3.. A experincia institucional
De modo geral, as entrevistadas no apresentaram uma reexo sobre ser
mulher e policial, mas reconhecem que as instuies s quais pertencem ainda
no esto preparadas para receber mulheres, que as relaes de trabalho no so
fceis, que ainda h muito machismo e que so permanentemente desaadas a
mostrar que podem estar naquele lugar apesar de serem mulheres. O despreparo
instucional pode ser percebido em diferentes dimenses, incluindo a inexistncia
de instalaes adaptadas para o uso feminino como alojamentos e banheiros
que garantam o respeito sua privacidade e condies dignas de trabalho. Est
tambm reedo na ausncia de polcas para aquisio de equipamentos de
proteo individual ergonomicamente adaptado ao uso pelas mulheres, para que
possam fazer ainda melhor aquilo tudo que j fazem muito bem (Policial Militar).
Durante a reviso da bibliograa j havia sido possvel perceber que um
dos desaos para esta pesquisa seria estabelecer os limites entre o que se refere
exclusivamente experincia das mulheres e o que afeta a todos os prossionais
da segurana pblica. Problemas relacionados aos direitos humanos destes
prossionais, qualidade e valorizao prossional, dignidade e respeito so alguns
dos temas que perpassam estas experincias e denem o comportamento de muitos
prossionais nas suas relaes com a populao e colegas de corporao/farda. As
entrevistas contriburam para aprofundar um pouco mais esta percepo sobre
esses limites. Algumas entrevistadas idencaram problemas que so comuns
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As relaes entre homens e mulheres, especialmente entre pares/colegas
de trabalho so descritas como mulfacetadas abrigando diferentes formas de
receber, aceitar e conviver com a presena de mulheres nestes espaos masculinos.
As entrevistadas relataram que no incio dos trabalhos a convivncia foi dicil
porque se senam testadas em suas habilidades, pressionadas a realizar todas as
tarefas sempre da melhor maneira possvel. Relataram tambm o constrangimento
provocado pelas piadinhas com conotao sexual, cantadas e insinuaes pelo fato
de serem mulheres, jovens, bonitas. Para algumas delas, com o passar do tempoestes comportamentos foram substudos por outro, mais fraternal, de proteo,
pelo desejo dos anges ensinarem para as novinhas como fazer o trabalho, a
proteo nas avidades de maior risco.
...as pessoas lidam com essa questo, do feminino, de um a forma muito interessantedentro da polcia, que era o que eu percebia...ou as pessoas te desqualicam, falamque voc no d conta, que voc no vai fazer porque voc mulher...ou as pessoas te
sacricam...ento das duas uma, ou desqualicam ou te sacricam, ou ento acham
que voc tem que fazer igual a homem, tem que fazer mais, melhor, ou no mesmo limite
sico. Ento, a gente cava oscilando entre isso...ou aquele que tratavam a gente assim
ah coitadinha no d conta...ou aquele que falava no, elas esto aqui, bem feito, quem
mandou... ... (policial militar)
Ainda que estes sejam comportamentos que reproduzem os papis
tradicionais de gnero nas relaes prossionais, eles permiram s mulheres
senrem-se menos provocadas e pressionadas. Embora concordem que esta
relao dicilmente muda porque os homens-policiais no admitem ver uma
mulher realizando tarefas masculinas to bem (ou ainda melhor) que eles.
...e a gente pediu [pr car na mesma turma] mas escutou no, duas mulheres sodois [homens] a menos... caramba, so dois a menos! Como assim!? E no deixarameu e a outra menina carmos juntas porque eles teriam dois a menos....eles no esto
ganhando em organizao....so dois a menos.... (bombeira militar)
Para as entrevistadas o assdio moral grave e est presente o tempo todo,
afetando homens e mulheres indisntamente.
...eu acho que assim, encontra um que t querendo assediar e encontra outro queest numa situao propcia para ser assediado... s ter um mais fraco, independentede ser homem ou mulher, tem algum disponvel pra fazer isso... (policial militar)
Algumas entrevistadas mencionaram tambm episdios de constrangimento
como ser espionada durante o banho, ou ouvir cantadas e receber convites para
sair, mas apenas um pequeno nmero delas falou sobre episdios mais graves de
Pesquisas sobre a presena de mulheres nas policiais civis e militares
mostram que estas prossionais enfrentam barreiras para ter acesso a postos
de comando em suas respecvas carreiras, vivenciando os efeitos do chamado
teto de vidro uma barreira invisvel que d a enganosa aparncia de igualdade
de oportunidades de ascenso na carreira, mas impede as mulheres de chegarem
aos cargos mais altos da prosso. (Silveira, 2009)
Para as entrevistadas este obstculo existe, mas seus relatos apontampara diferentes origens e estratgias em seu emprego, desde instucionais at
pessoais. Em algumas corporaes militares as carreiras de homens e mulheres so
separadas e as mulheres nunca podem c hegar aos postos mais altos de comando.
Em outras instuies a carreira nica, mas arranjos instucionais que baseiam
as promoes em critrios de mrito e anguidade acabam por fazer com que os
homens sejam os nicos a ocupar os postos mais altos. Algumas entrevistadas
relataram ter encontrado problemas em suas carreiras, mas reputam os obstculos
a determinadas pessoas e no idencam o problema como instucional. Mesmo
no dia a dia, algumas entrevistadas percebem que as mulheres so preteridas em
relao aos homens na designao para algumas tarefas.
...como ns fomos a primeira turma, a ideia que eles nham era de colocar as mulheresno administravo mesmo, at pra colocar mais homens na rua,....o meio militar
um meio de natureza masculina mesmo, a gente sente uma certa diculdade dentro da
corporao....acho que tem em todo lugar, acho que um pouco de preconceito, no sei se
preconceito, mas um pouco velado, no uma coisa aberta, ento as oportunidades...
agora est um pouco melhor...mas no comeo era bem limitado....as mulheres no podiam
fazer muitos cursos, sempre nos colocaram na parte administrava, no telefone, porque
achavam que a mulher s servia para isso... (bombeira militar)
3.d. Relaes profissionais e relaes de gnero
Sobre esse tema as entrevistas falam sobre uma ambigidade quecaracterizaria as relaes prossionais entre homens e mulheres
...porque meio assim uma coisa eu vou te proteger porque voc mulher, mas olhas, a gente est numa determinada situao e eles cam olhando pra saber comovoc vai agir... impressionante, e fazem o tempo todo, jogam a chave da viatura pra voc
dirigir pra ver se voc vai dirigir ou se voc vai dizer ah, no algum dirige a pra mim...
(policial civil)
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...eu j vi assim casos de ganhar cursos porque tem caso com fulano ou beltrano...eter alguns benecios no servio mesmo, do po largar mais cedo ou chegar maistarde...tem mulheres que ulizam dessas armas assim, de um sorrisinho, a gente sabe
que tem, uma coisa assim, que voc nem t dando corda mas que voc d assim aquele
arzinho e o homem j acha que opa, t com tudo... mas nem , nem ...eu j vi muitas
colegas se ulizarem disso pr ter um benecio ainda que pequeno, como chegar mais
tarde, ter uma folga... (bombeira militar)
Apenas uma entrevistada disse estar cansada da instuio e do desrespeito
com que as pessoas so tratadas ali. Coincidentemente, uma das poucas queentrou para a polcia porque se sena com vocao para a avidade policial. Foi
tambm uma das poucas entrevistadas a separar a experincia de ser mulher e ser
policial ao armar
...as minhas experincias dentro da polcia so desagradabilssimas com relao a sermulher, como policial nem tanto, mas como mulher eu posso discorrer sobre vriashistrias tanto minhas quanto de minhas amigas... (policial militar)
3.e. Qualidade de vida e sade
Um dos temas tratados pela pesquisa se refere sade das mulheres e seuadoecimento em razo de sua avidade prossional. Relatos de infeco urinria
recorrente e leso por esforo repevo (LER) foram os mais comuns, mas houve
tambm alguns relatos de doenas relacionadas sade emocional ansiedade,
sobrepeso, distrbios de sono em consequncia do trabalho em perodos de
planto. Ao abordar o tema das gestaes, todas foram unnimes em armar que
as instuies acolhem bem suas grvidas. Uma vez idencada a gravidez, as
policiais so transferidas para avidades administravo-burocrcas, onde no
fazem mais esforos sicos extremos e onde podem permanecer at o nal da
gravidez.
Outra reclamao frequente entre as mulheres, mas que no se limita s
prossionais de segurana pblica, a sobrecarga da dupla jornada de trabalho.
Esta situao pior para aquelas que trabalham em plantes de 24 x 72 horas, ou
de 12 x 36, porque a vida social e familiar acaba afetada pela disponibilidade para
parcipar das ronas e dos eventos sociais.
Consequentemente, as entrevistadas observam que muitas mulheres
acabam optando por atuar em avidades administravas para diminuir o desgaste
das avidades operacionais e trabalhar com horrios de expediente comuns a
assdio sexual como experincia pessoal ou vivida por terceiros -, o que ocorreu
principalmente nas instuies militares onde a hierarquia contribui para a prca
do crime e seu ocultamento.
Para a maior parte das entrevistadas, as instuies de segurana pblica
no oferecem qualquer po de apoio para vmas de assdio sexual e/ou moral,
no oferecem canais de denncia que sejam conveis e que no resultem em
novas punies e constrangimentos para as vmas. De acordo com algumas
entrevistadas, o apoio da instuio depende da postura prossional de um ou
outro chefe, que mesmo sendo homem, pode se sensibilizar com a situao e
tentar ajudar. No entanto, mencionaram que a sada ser sempre pela remoo
da pessoa que assediada para outro departamento/batalho/setor, nunca pela
denncia daquele que assedia.
Inseridas neste cenrio instucional e socializadas na lgica machista, as
entrevistadas armam que grande parte do problema pode ser resolvido se as
mulheres adotarem a postura adequada. Manter-se sria, trocar a genleza pela
sisudez, manter-se em permanente vigilncia e autoexigncia para a perfeita
execuo de tarefas, mesmo as mais simples e codianas, so algumas das frmulas
que lanam mo para mostrar aos colegas que esto ali como prossionais e
esperam este reconhecimento.
...hoje eu sorrio muito menos, sou muito mais fechada. o perl. Voc entra com umperl e vai sendo forjada pra car dentro daquela corporao e sobreviver da melhormaneira possvel... (bombeira militar)
Tambm em razo deste cenrio, algumas consideram uma vantagem
estarem invisveis aos olhos da instuio, mesmo que isso signique no ter
estruturas adaptadas ou polcas de gnero que coloquem em relevo as diferenas
como instrumento para angir a igualdade entre homens e mulheres prossionais
de segurana pblica.
As entrevistadas tambm alertam que a permanncia da desigualdade nas
relaes de gnero dentro das instuies no so apenas de responsabilidade
dos homens, e que muitas mulheres ulizam a seduo como instrumento para
conseguir vantagens e benecios dentro da instuio, enquanto outras apenas
no sabem manter a postura mencionada e consequentemente acabam por se
prejudicar na carreira e manchar a imagem de todas as mulheres.
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outras avidades (de 40 horas semanais).
Por m, as situaes de estresses vividas na avidade prossional no
encontram respostas instucionais. As entrevistadas armaram que precisaram
desenvolver mecanismos prprios para lidar com situaes de estresses decorrentes
da discriminao e o assdio no local de trabalho, da impotncia diante de algumas
situaes que so obrigadas a enfrentar no atendimento populao, na perda de
colegas de trabalho que se suicidam ou morrem em funo da avidade, e dos
problemas familiares que muitas tambm vivenciam.
Embora se queixem da falta de apoio instucional, que no oferece
atendimento psicolgico para seus prossionais, no h consenso entre as
entrevistadas sobre como deve ser este servio. Para algumas, a presena de
psiclogos nos quartis cria constrangimentos na hora de pedir ajuda, pois muitas
vezes temem que o prossional leve o problema relatado ao comandante, o que
pode gerar novos problemas. Outras sentem vergonha em falar sobre problemas
nmos com prossionais que podero intervir em suas avidades prossionais (por
exemplo, rerar a arma). Mais uma vez, trata-se de um tema mais amplo que tem
a ver com ca prossional e o sigilo do atendimento que deve estar assegurado a
qualquer paciente, independentemente da subordinao do prossional de sade
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G 1 D R GT Q (%)
G 1- D R G I S PT Q (%)
Ao adotar um quesonrio que poderia ser acessado em ambientevirtual e preenchido on-line, um dos objevos foi dar maior alcance pesquisa ecoletar informaes, experincias e opinies de mulheres policiais, bombeiras eperitas, que trabalham nas capitais, mas tambm nos municpios do interior e defronteira. Conforme se observa no grco abaixo, os resultados obdos podem
universo obdo (Tabela 2). Na distribuio por ISP os estados de Cear, Piau eSergipe no esto representados para a Percia/Polcia Cienca e o estado do RioGrande do Norte23 que no est representado nos Bombeiros Militares. No totalde quesonrios, h uma signicava diferena na distribuio por estado e MinasGerais (14,4%) e So Paulo (10,1%) e Rio de Janeiro (9,4%) so responsveis por33,9% do total de quesonrios.
A diferena se repete por ISP: para a Polcia Civil, 25% dos quesonrioscorrespondem aos estados de So Paulo (13,3%) e Minas Gerais (11,8%); na Polcia
Cienca/Percia Criminal os estados de Rio de Janeiro (12,68%) e So Paulo(10,09%) so os mais representados no conjunto de dados, na Polcia Militar apenasMinas Gerais se destaca com 17,22% dos registros e para os Bombeiros MilitaresRio de Janeiro (21,86%) e Minas Gerais (15,49%) concentram aproximadamente35% dos quesonrios. Consequentemente, h diferena na distribuio porregies no pas, sobressaindo a regio Sudeste com 36,5% de registros para todasas ISP (grco 1 e 1a) .
T 2 D UF I S PT
UF PC PCI PM CBM Total %
AC 24 6 31 1 62 1,0
AL 35 4 62 17 118 1,8
AM 72 4 48 3 127 2,0
AP 29 2 29 9 69 1,1
BA 73 19 305 28 425 6,6
CE 42 --- 48 12 102 1,6
DF 91 12 111 33 248 3,9
ES 31 11 102 25 169 2,6
GO 163 24 125 35 347 5,4
MA 19 5 28 5 57 0,9
MG 256 21 569 85 931 14,4
MS 82 27 78 14 201 3,1
MT 73 14 54 6 147 2,3
PA 52 12 93 16 173 2,7
PB 41 19 53 26 139 2,2
PE 144 35 204 20 403 6,2
PI 5 --- 60 3 68 1,1
PR 94 34 81 17 226 3,5
RJ 131 54 300 120 605 9,4
RN 27 9 39 --- 75 1,2
RO 55 14 44 5 118 1,8RR 11 2 24 5 42 0,7
RS 148 32 308 19 507 7,9
SC 124 14 72 19 229 3,5
SE 31 --- 72 10 113 1,8
SP 288 43 308 9 648 10,1
TO 30 9 52 7 98 1,5
Total 2171 426 3299 549 6445 100
33,7 6,6 51,2 8,5 100
23 Dados da pesquisa Perl para 2011 indicam que, nesse estado, so apenas quatro mulheres num efevo de 634bombeiros militares.
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4.a. Perfil Sociodemogrfico e Profissional
Nesta parte so apresentados os dados sobre o perl sociodemogrco eaqueles relacionados prosso: cargo, avidades, ano de ingresso, rendimentos,movao para o ingresso e sasfao prossional. Cabe relembrar que no se tratade uma pesquisa estascamente representava dos universos de cada instuiopesquisada, uma vez que no foram pr-denidas cotas de respondentes.
A.1 Faixa Etria
O grco 3 ilustra a distribuio das prossionais por faixa etria. Trata-se,como se observa, de uma composio jovem, prevalecendo aquelas com at 34anos de idade. Comparavamente, as policiais militares e bombeiras militares soainda mais jovens, com maior concentrao nas faixas de 19 a 24 anos e 25 a 29anos. Na medida em que avanam as faixas etrias, ocorre uma inverso e passama predominar as policiais civis e da polcia cienca/percia criminal. Talvez essadistribuio esteja relacionada com a prpria natureza da avidade que realizam.Nos Bombeiros e na Polcia Militar, a necessidade de maior preparo sico podeinuenciar a permanncia na prosso e mesmo o ingresso de mulheres maisjovens. Na Polcia Cienca/Percia Criminal, a especializao da avidade podedemandar maior tempo de escolaridade, repercundo num ingresso mais tardiona instuio. A idade tambm pode ser critrio para ingresso nos concursospblicos tanto ocial (ou seja, publicado em edital), como extraocial (isto ,aplicado durante as provas e avaliaes). Essa tambm pode ser uma caractersca
do efevo feminino, uma vez que os resultados da pesquisa Perl (SENASP, 2010)mostravam para a polcia civil, polcia militar e bombeiros, um envelhecimento dosefevos.
G 3 D ISP.T R ISP (%)
A.2 Cor da Pele
Na varivel cor encontra-se uma maioria branca representada em todasas ISP sendo maior na Polcia Cienca/Percia Criminal (correspondendo a 66,4%das respondentes desta ISP). Comparavamente populao feminina brasileira,encontra-se maior representao de no-negros (brancos e amarelos) nas ISP
ser considerados posivos. Ainda que haja maior concentrao nas capitais com 53,1% das contribuies, os municpios do interior esto representadosem 36,14% desse total. O isolamento das prossionais que trabalham fora dosgrandes centros urbanos foi uma queixa presente entre as entrevistadas e tambmest reeda no quesonrio, nas manifestaes de contentamento por terema chance de serem ouvidas e expressar suas demandas quanto s condies detrabalho e acesso a cursos e programas de sade e qualidade de vida disponveisde forma concentrada nas capitais.
G 2- D L T.
T Q (%)
G 2- D L T I S P.T Q (%)
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G 4 D
(%)*
* Fonte: DIEESE/SPM (2011). A categoria no-negros corresponde soma de brancos e amarelos, negros corresponde
a pretos e pardos. Indgenas no foram includos nesse grco, mas correspondem a 0,22% das mulheres na populao
brasileira e 0,36% no efevo policial.
A.3 Escolaridade
Considerando o total de mulheres que contriburam com a pesquisa,
observa-se que a maior parte possui nvel de escolaridade superior cursos
completos (61,1%) e incompletos (20,2%) e em nveis de ps-graduao (4,6%).
Por ISP verica-se que a composio varivel. Na Polcia Civil 93,4%
possuem nvel superior completo (76,9%) ou esto cursando alguma graduao
(11,7%). Outras 4,8% possuem ps-graduao, assim considerados mestrados e
doutorados concludos ou em andamento. Entre as peritas criminais elevado
tambm o percentual de mulheres com escolaridade superior (96,2%). Das quatro
ISP onde se encontra o maior percentual com mulheres com ps-graduao:
nvel superior completo (71,6%), superior incompleto (7,75%) e em nveis de ps-
graduao (16,9%).
(grco 4 e 4a).
Entre as policiais militares e bombeiras militares encontram-se os maiores
percentuais de pardas e pretas: 40,5% e 10,4%, respecvamente entre as policiaismilitares e 38,6% e 9,8%, respecvamente, entre bombeiras militares. Soares,Rolim e Ramos (2009) encontraram composio semelhante entre os policiais queforam entrevistados em sua pesquisa. Se a sua armao vlida para o efevoque predominantemente masculino, restaria vericar qual seu peso quando seaplica s mulheres.
Esses resultados conrmam estudos anteriores, que apontam as polcias militarese as prosses de farda como especialmente atraentes para jovens negros e como
carreiras onde segmentos oriundos dos estratos pobres e negros encontram melhorespossibilidades de ascenso, podendo ocupar cargos de chea. (Soares, Rolim e Ramos,2009:76)
Assim como ressaltam os autores, nessa pesquisa sobre mulheres a corda pele foi autoatribuda a parr das mesmas categorias ulizadas pelo IBGE.Comparado a populao feminina em geral, Isso tambm permite avanar noconhecimento da composio racial das ISP e poder ser explorada em estudosqualitavos quanto relao entre cor da pele e oportunidades de carreiras.
G 4 D ISP.T R ISP(%)
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Entre as policiais militares encontram-se maiores percentuais de prossionaiscom escolaridade de nvel mdio (15,2%) e tcnico (3,5%) e os menores percentuais demulheres com ensino superior: 26,8% incompleto, 49,5% completo e apenas 2,9% comps-graduao (concluda ou em andamento).
A.4 Situao Conjugal
A maior parte das mulheres que responderam a pesquisa so casadas/vivem unio de fato: 58,3%, outras 30,3% so solteiras. A distribuio das mulheressegundo a situao conjugal equilibrada entre as ISP (grco 6), com umpercentual um pouco maior de mulheres solteiras nas Polcias Militares e Corpos
de Bombeiros onde tambm encontram-se mulheres mais jovens.
G 6 D ISP.T ISP (%)
Ainda relacionado situao conjugal, durante as entrevistas uma dasparcipantes comentou que a rona de trabalho com os plantes e avidadesde nais de semana, o fato de trabalharem em ambientes predominantementemasculinos e os constantes episdios de assdio e constrangimentos de natureza
sexual, acabavam muitas vezes interferindo nos relacionamentos afevos. Poressa razo, argumentava que era mais fcil para as mulheres estarem envolvidasafevamente e mesmo casadas, com prossionais da mesma instuio desegurana pblica. A parr dessa percepo, uma pergunta foi includa noquesonrio e pode-se vericar que a observao da entrevistada encontrarespaldo nos resultados.
Como se observa no grco abaixo, os percentuais de mulheres cujosparceiros afevos tambm so prossionais de Segurana Pblica so maioresentre as Polcias Militares e Bombeiros, 48% e 44,63%, respecvamente. Entre as
G 5 D ISP.T R ISP (%)*
* Excetuando para o nvel superior, foram somados os resultados para cursos completos e incompletos.
G 5 D .
T R (%)
Quando se observa as policiais militares e bombeiras a composio porescolaridade se modica. Entre as mulheres dos Corpos de Bombeiros Militares, a maiorparte tem curso superior, concentradamente em cursos j completos (60,11%). Poroutro lado, reduzido o percentual de mulheres com ps-graduao concluda ou em
andamento, correspondendo a apenas 4,5% nessa ISP.
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T 3 D ISP.T ISP (%)
O S PC PCI PM CBM
Heterossexual 96,08 96,25 95,48 96,18
Homossexual 1,93 2,58 2,79 3,1
Bissexual 0,60 0,47 0,64 0,18
Transexual 0,05 0,23 0,03 0,54
No deseja declarar 1,34 0,47 1,06 0
A.6 Cargos, Funes e Patentes
Na distribuio segundo cargo ou funo observa-se que a pesquisaalcanou prossionais que se encontram em diferentes escales em cadainstuio pesquisada. Esse tambm pode ser considerado um aspecto posivodessa consulta realizada diretamente s prossionais, uma vez que as pesquisas,quando realizadas nas polcias civis, costumam se concentrar em ouvir as delegadasde polcia. Nas polcias militares o espectro costuma ser um pouco ampliado paraouvir praas e ociais. Quanto percia criminal e o corpo de bombeiros, comovisto na reviso da bibliograa, no existem trabalhos que tenham se dedicado aouvir as mulheres que trabalham nessas instuies, idencando-se uma lacunano conhecimento sobre essas prossionais.
Na pesquisa sobre Mulheres nas Instuies de Segurana Pblica asescrivs de polcia (36,2%), agentes de polcia (21,14%) e invesgadoras de polcia(19,25%) predominam entre as policiais civis, enquanto as delegadas correspondema 10,4% do total dessas prossionais. Na percia criminal predominam as peritas(42,72%) e papiloscopistas (25,12%), na categoria outros, com 23,24% dasparcipantes, agregou todos os cargos de auxiliares (de necropsia, de percia,mdico legal, laboratrio, entre outros). Nas polcias militares e bombeirosmilitares predominam praas 86,6% e 72,67%, respecvamente, entre as quaisas soldados correspondem maioria nas duas corporaes: so 40,07% entre asps e 61% entre as policiais militares.
T 4 D ISP.T ISP (%)
POLCIAS MILITARES BOMBEIROS MILITARES
Cargo % Cargo %
Praas 86,60 Praas 72,67
Ociais 11,67 Ociais 22,96
Aluno /Aspirante Ocial 1,1 2 Aluno Soldado 1,28
Aluno Soldado 0,58 Aspirante a Ocial 2,91
Outros 0,03 Outros 0,18
Praas 86,60
peritas criminais/policiais ciencas encontra-se o menor percentual de casamentocom prossionais do setor (27,3%). A explicao formulada pela entrevistada podese aplicar aqui, entre as policiais militares e bombeiras a convivncia prossionalentre homens e mulheres maior, no apenas pelas escalas de planto, mastambm pela presena nos quartis por perodos prolongados, aproximando aspessoas e favorecendo o relacionamento.
G 7 S/ () () / S P?
D ISP. T ISP (%)
A.5 Orientao Sexual
A maioria das policiais nas quatro ISP declararam ser heterossexuais,variando entre 95,5% entre as policiais militares e 96,3% entre as peritas criminais.O percentual que declarou orientao sexual diferente ou no quis declarar suaorientao sexual foi, consequentemente, pequeno em todas as ISP (Tabela 1).Isso no signica, no entanto, que outras mulheres no tenham apenas preferidono declarar sua orientao sexual, marcando a opo heterossexual. A perguntapode causar ainda desconforto, e causou surpresa a pelo menos uma prossionalque incluiu nos comentrios sua observao
queria entender o movo da SENASP querer saber a orientao sexual de algumservidor de segurana publica. No vislumbro qualquer movo para isto.
(Agente de Polcia, PE)
O comentrio da policial ajuda a ilustrar a negao da questo de gneroquando se trata da orientao sexual, podendo indicar que as polcas derespeito diversidade sexual passam ao largo dessas instuies. Nas entrevistastambm foram apresentados relatos quanto humilhao e discriminao aque as prossionais so submedas em razo de sua orientao sexual, por seussuperiores hierrquicos e colegas de trabalho.
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Na PM, ainda h muita discriminao contra mulheres. J cansei de ouvir superioresdizerem que no gostam de policiais femininas. E a tropa no tem respeito, quandochega uma policial feminina nova no batalho, a tropa inteira canta a mulher. Almdisso, acho que deveria reduzir a cota de mulheres na PM, pois a maioria das mulheresque esto ingressando na carreira no quer trabalhar no servio operacional, e sim noadministravo. Assim a maioria trabalha insasfeita na rua, tornando-se um peso morto.No se pode contar com o apoio delas nas ocorrncias e o servio delas na rua costuma serbastante inferior ao servio dos homens. J no administravo elas produzem mais, porm dicil ingressar no servio administravo, que j est abarrotado de policiais angos,que no abrem mo em hiptese nenhuma de sua vaga na administrao. (Soldado, MG)
Na tabela abaixo se encontram as informaes sobre as reas em queatuam as prossionais que contriburam com a pesquisa quantava. BombeirosMilitares e Policiais Militares tm suas avidades concentradas em dois grandesgrupos: as avidades administravas (51,08% e 39,04%, respecvamente) eavidades operacionais (25,62% e 37,66%, respecvamente). Entre as bombeiras opercentual de mulheres em avidades operacionais metade daquelas que estono administravo. E mesmo assim preciso compreender que em muitos casossua alocao no operacional deve-se mais falta de pessoal que o reconhecimentode suas habilidades.
at pela necessidade, porque l tem pouca, tem pouco efevo, agora ns temos 600e poucos homens no estado inteiro, 53 municpios, sendo que o bombeiro est emtreze desses municpios, ento no tem muito jeito, eles tm que colocar a gente pr rarservio no caminho, na OR, acaba que tem que lanar mais a gente mesmo... (Bombeira,Roraima)
T 5 D () () ISP.T ISP (% - )*
Bombeiros Militares Polcias Militares
rea de avidade % rea de avidade %
Administravo 51,08 Administravo 39,04
C. de Telecomunicaes 1,98 C. de Telecomunicaes 4,11
Ensino 4,46 Ensino 6,16
Operacional 25,62 Operacional 37,66
Planejamento 3,47 Planejamento 6,99
Sade 11,24 Sade 4,18
Outros 2,15 Outros 1,86
Polcias Civis Polcias Ciencas/Percias Criminais
rea de avidade % rea de avidade %
Administravo 27,71 Administravo 17,00
C. de Telecomunicaes 1,91 Cartorial 1,56
Planto 17,20 Ensino 2,81
Carceragem 3,34 Laboratorial 7,18
Ensino 2,63 Percia (local de crime) 20,75
Sade 1,06 Percia (outras) 32,61
Cartorial 23,94 Sade 4,37
Invesgao 21,66 Outros 13,73
Outros 0,54