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  • MARIA EMILIA ACCIOLI NOBRE BRETAN

    OS MLTIPLOS OLHARES SOBRE O ADOLESCENTE E O ATO INFRACIONAL: ANLISES E REFLEXES SOBRE TESES E

    DISSERTAES DA USP E DA PUC/SP (1990 2006)

    Dissertao apresentada Banca Examinadora da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, como exigncia parcial para obteno do ttulo de Mestre em Direito (rea de Concentrao Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia), sob a orientao do Prof. Dr. Alvino Augusto de S.

    Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo So Paulo 2008

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    FICHA CATALOGRFICA

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    OS MLTIPLOS OLHARES SOBRE O ADOLESCENTE E O ATO

    INFRACIONAL: ANLISES E REFLEXES SOBRE TESES E

    DISSERTAES DA USP E DA PUC/SP (1990 2006)

    MARIA EMILIA ACCIOLI NOBRE BRETAN

    DATA ____/____/____

    BANCA EXAMINADORA

    1 Examinador(a) _________________________________________________ Orientador Prof. Dr. Alvino Augusto de S

    2 Examinador(a) _________________________________________________

    3 Examinador(a) _________________________________________________

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    Artigo Final.

    Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual ser suprimida dos dicionrios

    e do pntano enganoso das bocas. A partir deste instante

    a liberdade ser algo vivo e transparente como um fogo ou um rio,

    e a sua morada ser sempre o corao do homem.

    (Thiago de Mello. Os Estatutos do Homem)

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    Dedico este trabalho aos meus pais, Isaura e Onivaldo,

    que me ensinaram o profundo respeito pelo ser humano e pela natureza, a tica, o gosto pelo saber e pelo ensino.

    Pelo apoio incondicional e pelo amor, ser-lhes-ei grata para sempre.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    Os agradecimentos requerem muitas linhas porque so muitas as pessoas que, hoje,

    fazem parte da minha vida. Sem elas, esse trabalho jamais se concretizaria:

    - Ao Professor Alvino Augusto de S, por acreditar em mim, pela orientao, pela pacincia com as minhas inconstncias e arroubos, por saber ouvir e me deixar ousar e pela amizade construda durante esses 3 anos de convivncia;

    - Aos Professores Ana Lcia Pastore Schritzmeyer e Srgio Salomo Shecaira, pelas

    preciosas crticas e sugestes na banca de qualificao e pela generosidade que sempre demonstraram para comigo;

    - Professora Myrian Veras Baptista, agradeo o espao e tempo de debates que sempre disponibilizou, e, principalmente, o acolhimento e a confiana em mim depositada, sem

    nunca pedir nada em troca;

    - Professora e grande amiga Silvia Losacco, por ter me tomado pela mo e me ajudado,

    pacientemente, a me tornar o que hoje eu sou, em mbito pessoal e profissional. Nunca poderei agradecer o suficiente! Por tudo!;

    - Aos Mestres e Doutores que confiaram em mim (mesmo sem me conhecer) e enviaram suas teses e dissertaes por correio eletrnico, um agradecimento muito especial! Espero ter correspondido ao interesse e entusiasmo que demonstraram pelo meu

    trabalho!;

    - Aos funcionrios da Faculdade de Direito da USP, especialmente Cris e Dalva, do

    Departamento de Direito Penal, pela ajuda em todos os momentos;

    - minha me, Isaura, agradeo no s o apoio afetivo que sempre me deu, nos momentos

    em que eu mais precisei, mas tambm a fundamental ajuda na formatao do texto; ao meu pai, Onivaldo, o suporte afetivo e material, que foram imprescindveis e me deram

    a tranqilidade necessria para esses 03 anos de semeadura e cultivo;

    - Ao Pedro Lus, pelas palavras em momentos difceis, por compartilhar alegrias, angstias e algumas madrugadas, e por ter se tornado, mais que meu irmo, um grande amigo (agradeo tambm pela ajuda nos grficos e com o abstract!);

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    - Ao Anderson Rafael: sua delicadeza, seu afeto e seu olhar me fazem sentir que posso voar! Voc traz msica para minha vida! Eu finalmente entendi...;

    - Ana Gabriela, minha 'dupla' durante todo o mestrado: valeu pela energia e pela

    amizade cultivada com o compartilhar de idias, ideais e sonhos! Espero continuar caminhando e crescendo junto com voc!;

    - Aos meus grandes amigos e amigas Daniela, Fabiana, Fernanda, Luciana, Mario Rui, Paulo e Vanessa, por estarem sempre ao meu lado (mesmo quando esto longe)... Vocs so minha famlia em So Paulo e no mundo!;

    - s amigas e amigos da Associao dos Pesquisadores de Ncleos de Estudos e Pesquisas

    sobre a Criana e do Adolescente (NECA), pela amizade e parceria construda ao longo

    desses 3 anos;

    - Aos companheiros e companheiras do Ncleo da Criana e do Adolescente da Ps-Graduao em Servio Social da PUC/SP, pelo acolhimento, por tudo que me ensinaram e pelo espao democrtico de debate, imprescindvel;

    - Aos amigos e amigas do GETCrim, Grupo de Estudos sobre Temas de Criminologia, e do GDUCC, Grupo de Dilogo Universidade Crcere e Comunidade, por compartilharem momentos, angstias e alegrias, e por tornarem a minha vivncia acadmica realmente

    gratificante;

    - Aos alunos e alunas da graduao das Faculdades de Direito da USP e da PUC/SP, por reavivarem em meu corao, constantemente, o prazer de ensinar, de aprender e de dialogar... com vocs, eu me descubro mais jovem a cada ano;

    -- Por fim, a todas as pessoas que fazem parte da minha vida, seja nos bancos acadmicos, nos encontros do Sabadoni ou com os amigos da Academia de Letras, no Onrico, nas reunies de meditao, e em tantos outros encontros por a... A vida s tem sentido se

    nos cercarmos de quem nos ama e nos faz bem!

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Distribuio das teses e dissertaes sobre o adolescente e o ato infracional na Universidade de So Paulo e na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo - 1990 a 2006 .....................................................................................................................................60 Tabela 2 - Distribuio das teses e dissertaes sobre o adolescente e o ato infracional por Programas de Ps-Graduao na Universidade de So Paulo e na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (1990-2006) .....................................................................................67 Tabela 3 - Professores que orientaram duas ou mais teses ou dissertaes sobre a temtica do adolescente e o ato infracional no perodo 1990-2006 na USP e na PUC/SP ................76 Tabela 4 - Teses e dissertaes da USP e da PUC/SP sobre o adolescente e o ato infracional entre 1990-2006: temticas abordadas. .............................................................81 Tabela 5. Subtemtica 1.1. - Trajetrias de vida ................................................................83 Tabela 6 - Subtemtica 1.2 - Os sentidos da transgresso ...................................................84 Tabela 7 - Subtemtica 1.3. - Moral, identidade, subjetividades.........................................85 Tabela 8 - Subtemtica 1.4. - Sentidos da escola.................................................................85 Tabela 9 - Subtemtica 1.5 - Caracterizao do sujeito.......................................................86 Tabela 10 -Temtica 2 - Famlia e sociedade ......................................................................87 Tabela 11 - Temtica 3 - Instituies: caracterizao, histria, prticas institucionais.......88 Tabela 12 - Subtemtica 4.1 - Institucionalizao ...............................................................89 Tabela 13 - Subtemtica 4.2 - Processo de criminalizao..................................................90 Tabela 14 - Subtemtica 5.1 - Medida scio-educativa como instrumento de ressocializao/reintegrao ................................................................................................90 Tabela 15 - Subtemtica 5.2 - Prticas Pedaggicas ...........................................................91 Tabela 16 - Temtica 6 - A mdia ........................................................................................92 Tabela 17 - Temtica 07 - Causas da delinqncia/infrao ...............................................92 Tabela 18 -Temtica 08 - Polticas pblicas ........................................................................93 Tabela 19 - Temtica 09 - As prticas e as subjetividades dos profissionais operadores de medidas scio-educativas ....................................................................................................94 Tabela 20 - Temtica 10 - A lei, os direitos e as garantias ..................................................95 Tabela 21- Temtica 11 - O sistema de justia ....................................................................96

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    LISTA DE GRFICOS Grfico 1 - Distribuio das teses e dissertaes sobre o adolescente e o ato infracional na Universidade de So Paulo e na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo entre os anos de 1990 e 2006(elaborao prpria) ............................................................................61 Grfico 2 - Distribuio das teses e dissertaes sobre o adolescente e o ato infracional na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (1990-2006), por Programa de Ps-Graduao ............................................................................................................................69 Grfico 3 - Distribuio das teses e dissertaes sobre o adolescente e o ato infracional na Universidade de So Paulo (1990-2006), por Programa de Ps-Graduao. ......................73

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    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    CEDECA - Centro de Defesa de Direitos da Criana e do Adolescente

    CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico do Ministrio da

    Cincia e Tecnologia

    CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente

    CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior do Ministrio da

    Educao

    ECA - Estatuto da Criana e do Adolescente

    FFCL - Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras da USP

    FFLCH - Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP

    CASA - Fundao Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente

    FEBEM - Fundao Estadual do Bem-Estar do Menor

    FUNABEM - Fundao Nacional do Bem-Estar do Menor

    LA - Liberdade Assistida

    NCA - Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre a Criana e o Adolescente da Ps-Graduao

    em Servio Social da PUC/SP

    NEV - Ncleo de Estudos da Violncia

    ONGs Organizaes No Governamentais

    PUC/SP - Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    PSC - Prestao de Servios Comunidade

    SINASE - Sistema Nacional Scio Educativo

    SBPC - Sociedade Brasileira para Progresso da Cincia

    UNE - Unio Nacional dos Estudantes

    UNESCO - Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura

    USP - Universidade de So Paulo

  • 11

    RESUMO

    O objetivo do presente estudo analisar as teses e dissertaes produzidas na USP e na PUC/SP entre 1990 e 2006 sobre o adolescente e o ato infracional, buscando compreender se e como essas produes tm contribudo para a compreenso e o pensar de propostas que contribuam para o enfrentamento da questo do adolescente e o ato infracional. A expresso adolescente e o ato infracional compreende todo o percurso desse sujeito: as circunstncias que levam ao cometimento da primeira infrao, a sua passagem pelo

    sistema de justia (entendido aqui em sentido amplo, incluindo-se as entidades de execuo de medidas scio-educativas), a repercusso dessa trajetria; compreende, ainda, todos os demais atores que com ele se relacionam durante esse percurso. Realizou-se uma

    pesquisa quanti-qualitativa, tendo sido selecionadas 100 (cem) teses e dissertaes produzidas no perodo a respeito dessa temtica, sendo 39 da USP e 61 da PUC/SP, com a coleta e anlise dos seguintes dados: nome do pesquisador, ttulo do trabalho, ano de defesa, instituio (PUC/USP), rea (programa de Ps-Graduao); Mestrado ou

    Doutorado; tipo de pesquisa (campo/terica); metodologia de pesquisa; temtica e orientador. As categorias analisadas quantitativamente so produo por ano, por Programa

    de Ps-Graduao, por orientador, metodologias utilizadas e temticas pesquisadas, buscando-se sua contextualizao e interpretao. A seguir, realiza-se um dilogo de uma

    amostra de 40 dessas teses e dissertaes com as Doutrinas da Situao Irregular e da Proteo Integral (os dois grandes paradigmas do Direito da Criana e do Adolescente no Brasil) e com as trs grandes perspectivas da Criminologia (Individual, Sociolgica e Radical ou Crtica).

    Palavras-chave

    Pesquisa, Ps-Graduao, Infrao Juvenil, Criminologia, Direito da Criana e do

    Adolescente.

  • 12

    ABSTRACT

    The objective of the present study is an analisys about the scientific literature on the adolescent and the act of infraction, as expressed in thesis and dissertations produced at PUC/SP and at USP from 1990 to 2006, trying to comprehend if and how this literature has been contributing, by its ideas and proposals, for the question of the adolescent and the act of infraction. The expression adolescent and the act of infraction comprehends the

    trajectory of the subject in many ways: from the circumstances that lead to the first infraction, his path into and through the juvenile justice system (understood here in a major sense, including the organizations responsible for the execution of socioeducacional measures), and the repercussion of this trajectory; it also comprehends all the diverse actors that interact with this adolescent during this journey. A quantitative and qualitative research was conducted among 100 (one hundred) selected thesis and dissertations produced in the aforementioned period, with 39 from USP and 61 from PUC/SP, comprehending the collection and analysis of the following data: name of the researcher,

    heading (title) of the work, year of defense, institution (PUC/USP), area (Graduate programs); degree (Master or Doctor); type of research (field/theoretical); methodology; thematic field and advisor. The categories presented in the quantitative analysis are: scientific production per year, per Graduate Program and per advisor, methodologies and thematic fields, with these categories and data being thoroughly discussed and

    interpretated. Next, a sample composed by 40 (forty) of this theses and dissertations is discussed vis--vis the Irregular Situation and Integral Protection Doctrines of Child and

    Adolescente Rights in Brazil and the three major Criminology perspectives (Individual, Sociological and Radical or Critical).

    Keywords

    Research, Graduate Programs, Juvenile Delinquency, Criminology, Child and Adolescente Rights

  • 13

    SUMRIO

    APRESENTAO ..............................................................................................................15 INTRODUO ...................................................................................................................21

    i. A pesquisa sobre produo de conhecimento e a temtica adolescente e ato infracional.........................................................................................................................................26 ii. O objeto do estudo.......................................................................................................30 iii. Os pressupostos tericos.............................................................................................32 iv. Objetivos.....................................................................................................................35

    iv.i. Objetivo geral .......................................................................................................35 iv.ii. Objetivos especficos...........................................................................................35

    I. METODOLOGIA.............................................................................................................36 1.1. Apreenso das bases tericas e fontes de informao ..............................................36 1.2. Procedimentos de coleta dos dados ..........................................................................37

    1.2.1 Locais da coleta de dados ...................................................................................37 1.2.2 Perodo compreendido na coleta e tipo de documento .......................................37 1.2.3 Procedimento para definio do universo documental .......................................37 1.2.4 Categorias de anlise e procedimentos para sua definio .................................40 1.2.3 Procedimento para definio da amostra para anlise qualitativa (anlise de contedo) .....................................................................................................................44

    1.3 Formas de anlise dos dados......................................................................................45 1.3.1 Anlise quantitativa ............................................................................................45 1.3.2 Anlise qualitativa ..............................................................................................46

    1.4 Formas de apresentao dos dados ............................................................................46 1.4.1 Forma de apresentao, discusso e interpretao dos dados quantitativos teses e dissertaes da USP e da PUC/SP sobre o adolescente e o ato infracional entre 1990 e 2006...........................................................................................................................46 1.4.2 Forma de apresentao dos dados qualitativos ...................................................46

    1.5 Pesquisas que no foram includas no universo.........................................................47 II. TESES E DISSERTAES NA USP E NA PUC/SP (1990 -2006) APRESENTAO, DISCUSSO E INTERPRETAO DOS DADOS QUANTITATIVOS.............................................................................................................50

    2.1. As Universidades pesquisadas ..................................................................................50 2.1.1 A Universidade de So Paulo .............................................................................50 2.1.2. A Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo .............................................54

    2.2. A produo por ano...................................................................................................60 2.3. A produo por rea do conhecimento Programas de Ps-Graduao ..................67 2.4. A produo por orientador ........................................................................................76 2.5. As temticas pesquisadas..........................................................................................81

    2.5.1. Identificao de temticas pouco exploradas.....................................................97 2.6. As metodologias utilizadas .....................................................................................103

    III- AS DOUTRINAS DA SITUAO IRREGULAR E DA PROTEO INTEGRAL dilogo com as teses e dissertaes ...................................................................................108

    3.1. As Doutrinas uma contextualizao histrica e social.........................................108 3.2. As categorias de anlise ..........................................................................................118

    3.2.1 O Adolescente...................................................................................................118

  • 14

    3.2.2 A imposio e execuo de sano...................................................................123 3.2.3 O ordenamento institucional.............................................................................134

    IV- OS PARADIGMAS DA CRIMINOLOGIA dilogo com as teses e dissertaes...143 4.1 Os paradigmas criminolgicos - aproximaes com as teses e dissertaes ...........150

    4.1.1. A perspectiva individual (ou positivista) .........................................................150 4.1.2. A perspectiva sociolgica ................................................................................158 4.1.3. A perspectiva crtica ........................................................................................173

    CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................182

    ANEXO Tabela Geral.....................................................................................................191 BIBLIOGRAFIA E FONTES DOCUMENTAIS..............................................................200

    Teses e Dissertaes ......................................................................................................200 Artigos de Jornais ..........................................................................................................211 Bibliografia ....................................................................................................................212

  • 15

    APRESENTAO

    Aprendi nas disciplinas cursadas durante a ps-graduao que neutralidade cientfica no significa ausncia de subjetividade. A trajetria do pesquisador, seus valores,

    sua histria, determinam o tema escolhido para pesquisa, as referncias tericas que

    adota... de modo que o resultado final fica impregnado do seu autor. A objetividade vem da fixao dos critrios de pesquisa, na metodologia bem aplicada e explicitada, no cuidado

    ao realizar a anlise.

    Por essa razo, julgo necessria esta apresentao. Para que eu possa apresentar-me e assim situar a minha pesquisa em minha trajetria como pesquisadora.

    O interesse pelas temticas abrangidas por este estudo, a Criminologia e o Direito

    da Infncia e da Juventude, vem desde os bancos da Faculdade. Desde as disciplinas cursadas em Direito Penal e, posteriormente, na escolha da rea de concentrao em

    Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia no 5 ano.

    Nos dois ltimos anos da Faculdade de Direito (1998 e 1999) fiz um estgio na Procuradoria de Assistncia Judiciria, na Vara do 5 Tribunal do Jri, e a paixo dos Procuradores que ali atuavam, Dr. Adenor e Dra. Daniela, bem como um ambiente de

    estgio estimulante e ao mesmo tempo acolhedor, acabaram fazendo com que eu desistisse de minha idia de encerrar o estgio nas Varas de Infncia e Juventude, como era minha inteno.

    O interesse permaneceu latente. J formada, durante certo tempo estudei para concursos pblicos; dentre as horas de dedicao, tive grande prazer em estudar, alm do

    Direito Penal, o Direito da Infncia e Juventude, pois eu no havia cursado a disciplina durante a graduao. Nesse perodo surgiu o primeiro lampejo sobre a temtica que eu desejava, um dia, estudar no mestrado: uma aplicao da Criminologia s questes de jovens em conflito com a lei.

    Em 2004, conheci o Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre a Criana e o Adolescente do Programa de Ps-Graduao em Servio Social da PUC/SP. Ali fui

    acolhida. Mais do que isso, nesse espao acadmico e poltico, comprometido com a defesa dos direitos da infncia e juventude, presenciei e participei de debates

  • 16

    interdisciplinares sempre muito ricos, que renovaram o meu desejo de ingressar na Ps-Graduao e estudar a temtica.

    Ingressei no Mestrado em Direito Penal com outro projeto, em fevereiro de 2005.

    Inicialmente, eu pretendia realizar uma pesquisa qualitativa com adolescentes que tivessem cumprido mais de uma medida scio-educativa (portanto, reincidentes em ato infracional1) na tentativa de relacionar o estigma com a reiterao de atos infracionais.

    O amadurecimento advindo da trajetria percorrida durante os dois primeiros anos da ps-graduao desencadeou o redirecionamento do objeto de pesquisa originalmente

    apresentado. Creio que a compreenso do trajeto entre o projeto original e o que se tornou esta dissertao seja importante.

    Durante os trs anos do mestrado fui assistente de ensino do Prof. Alvino Augusto

    de S, meu orientador, nas disciplinas Comportamento Humano Forense e Criminologia I

    na Graduao em Direito da USP.

    Aventurei-me, ainda, com a concordncia do Prof. Renato de Mello Jorge da Silveira, a quem deixo registrado meu agradecimento, a participar durante um semestre,

    das aulas de Direito da Criana e do Adolescente, disciplina oferecida no 5 ano como optativa.

    Concomitantemente, cursando a disciplina de Antropologia Jurdica na Faculdade

    de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP, ministrada pela Prof. Dra. Ana Lcia Pastore Schritzmeyer, tive contato com diversos olhares a respeito do sistema de ensino, do sistema de justia, dos operadores do direito, da justia e do prprio Direito. Foi como se se descortinasse minha frente um panorama jamais enxergado com tanta clareza.

    Estranhei o que me era familiar... e passei a questionar-me sobre o papel da

    Universidade, em especial dos cursos jurdicos, no enfrentamento da questo da infrao juvenil, que tanto clamor social desperta.

    Nesses dois anos de atividades como aluna da ps-graduao, notei que o Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) pouco estudado nas Faculdades de Direito, sendo, em geral, matria apreendida somente para os momentos de concurso. Exceo deve ser

    1 A terminologia reincidncia no adequada para a utilizao em se tratando de atos infracionais, por isso

    coloco-a entre aspas.

  • 17

    feita Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, que conta com dois professores que tm uma postura poltica que complementa e vai alm do compromisso com o ensino

    jurdico, que lhes tambm caracterstico: Prof. Ms. Paulo Afonso Garrido de Paula, procurador de justia do Ministrio Pblico do Estado de So Paulo, que participou da comisso elaboradora dos artigos 227 e 228 da Constituio Federal e do projeto de lei que

    mais tarde tornar-se-ia o ECA, e Prof. Dra. Martha de Toledo Machado, promotora de

    justia que foi coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infncia e Juventude do Ministrio Pblico de So Paulo, defensora intransigente dos direitos e garantias de

    crianas e adolescentes.

    O convvio com magistrados, promotores de justia e defensores pblicos, em diversas ocasies, e especialmente durante um perodo de trabalho junto Associao de Magistrados e Promotores de Justia da Infncia e Juventude, deixou claro que a

    deficincia no ensino do ECA reflete-se no cotidiano desses profissionais. Desencadeadora de debates, essa preocupao se manifestou na palestra ministrada pelo Prof. Paulo Afonso

    Garrido de Paula, em Seminrio Regional realizado por esta Associao em maro de 2007, que apresentou ento a proposta de se instituir legalmente a realizao de uma prova

    especfica para o provimento de cargos de juzes e promotores em Varas da Infncia e Juventude2, pois o desempenho dessas funes exige um preparo especfico.

    Sem o investimento na formao desses profissionais e de outros que trabalham

    diretamente com adolescentes envolvidos em atos infracionais, corre-se o risco da perpetuao das vises tutelar e repressora que ainda predominam no Sistema de Justia,

    vises contraditrias somente na aparncia. A outra possibilidade perversa a concomitncia de um conhecimento (terico) da legislao garantista que coexista com decises que se baseiam numa perspectiva tutelar, gerando assim uma esquizofrenia apontada por alguns tericos (como o criminlogo argentino Emlio Garcia Mendez), como ficar claro mais adiante.

    O aparente descuido com o ensino do ECA nas graduaes em Direito, em minha

    viso, desencadeia, tambm, a falta de interesse pela pesquisa acadmica na rea, em especial nas Faculdades de Direito

    2 Seminrio Regional ABMP Sudeste. 21 a 23 de maro de 2007. Eixo Especial de aprimoramento do

    Sistema de Justia. A especificidade dos cargos do Sistema de Justia da Infncia e da Juventude: so suficientes e adequados os critrios de criao e provimento de cargos? Paulo Afonso Garrido de Paula - Procurador de Justia (SP) /Reinaldo Cintra Torres de Carvalho - Juiz Auxiliar da Corregedoria Geral de Justia (SP) (www.abmp.org.br e www.seminarioregionalabmp.com.br)

  • 18

    certo que, no universo estudado nesta dissertao, que se compe de 100 teses e dissertaes, produzidas na USP e na PUC/SP entre 1990 e 2006, sobre o adolescente e o

    ato infracional, o nmero total de pesquisas realizadas nas duas Faculdades de Direito juntas, USP e PUC/SP, representa 12%, o que considero um percentual relevante. Porm, num espao de tempo de 16 anos, uma questo que gera tanta polmica na mdia e tanta

    controvrsia, no deveria ser objeto de mais ateno? Em especial pelo fato de que os

    operadores do Direito so atores fundamentais em diversos momentos da trajetria do adolescente em conflito com a lei: so eles que processam, impem e acompanham a

    execuo das medidas scio-educativas a esses adolescentes, medida essa que pode ser, inclusive, privativa de liberdade.

    Por que, ento, na Faculdade de Direito da USP, uma Universidade Pblica,

    somente dois pesquisadores interessaram-se pela temtica, em 16 anos de vigncia do Estatuto da Criana e do Adolescente?

    Uma resposta possvel para essa questo que, em geral, advogados particulares

    no atuam em causas relacionadas a atos infracionais. Embora com um aparente aumento da participao de adolescentes de classes mdia e alta nas estatsticas de atos infracionais,

    esse nmero ainda no suficientemente relevante para despertar o interesse desses

    profissionais pelo estudo da questo.

    bom notar, ainda, que grande parte dos mestrandos e doutorandos das Faculdades

    de Direito da PUC e da USP no recebem bolsa das instituies de fomento de pesquisa como CNPq ou CAPES, ou seja, so profissionais que trabalham e pesquisam, concomitantemente.

    Os operadores do Direito que atuam em processos de apurao de ato infracional e

    outras questes cuja competncia das Varas de Infncia e Juventude so, em geral,

    defensores pblicos, advogados conveniados com a OAB (que fazem as vezes de defensores pblicos) ou advogados de Organizaes No-Governamentais, promotores de justia e juzes. H poucos advogados particulares atuando nessas questes. H, portanto, um dficit evidente na defesa dos interesses das crianas e

    adolescentes, pois no h defensores pblicos em nmero suficiente para atender demanda e os advogados particulares, em geral, por ela no se interessam. Como h, no mercado, muito mais advogados particulares que juzes, promotores de justia e defensores pblicos juntos, isso nos sugere, conseqentemente, que o interesse pelo ensino e pesquisa

  • 19

    da questo fica reduzido a um restrito nmero de profissionais, ao contrrio, por exemplo, do que ocorre com o Direito Penal, que atrai um grande nmero de pesquisadores.

    Percebi tambm, ao longo desses anos, que a disciplina de Criminologia, por vezes,

    at mesmo, confundida com a Criminalstica, ainda uma desconhecida, tanto no meio jurdico quanto em outras reas do conhecimento que estudam as questes relacionadas infrao juvenil e medida scio-educativa. A maior parte das Faculdades de Direito no oferece a disciplina no currculo sequer como optativa. A prpria PUC/SP um exemplo.

    A Faculdade de Direito da USP, talvez por ter uma longa tradio no ensino do Direito Penal, com ilustres criminalistas egressos de suas Arcadas, oferece dois semestres da disciplina aos alunos do ltimo ano, em suas vertentes Clnica e Sociolgica.

    Noto, todavia, que h um interesse pela disciplina, o que se tem evidenciado pelo comparecimento de diversos estudantes e profissionais oriundos de outros cursos de

    graduao (psicologia, cincias sociais, educao, servio social) e de outras faculdades de direito s atividades que promovemos no Grupo de Estudos de Temas de Criminologia

    GETCrim, desde o primeiro semestre de 20063.

    A presena dessa disciplina em cursos de Direito poderia estimular uma reflexo

    interdisciplinar sobre a temtica do adolescente e ato infracional. De fato, as duas nicas dissertaes abordando a temtica produzidas nessa Faculdade no perodo pesquisado foram orientadas por Shecaira, que professor de Criminologia.

    A partir desses questionamentos, e considerando que a Criminologia um saber interdisciplinar que congrega mltiplos olhares, vindos das cincias sociais, da psicologia

    etc, para a compreenso de questes como a infrao juvenil, supus que seria possvel

    identificar teses e dissertaes criminolgicas a partir de uma anlise qualitativa. A

    investigao levaria em conta as principais caractersticas de cada escola criminolgica

    para uma anlise das pesquisas.

    Essa anlise no foi possvel, como apontou a banca de qualificao. Com uma

    inteno mais modesta e mais realista, ento, propus-me a analisar a produo de conhecimento, expressa em teses e dissertaes, relacionada questo do adolescente e o

    3 O GETCrim iniciou suas atividades no 1 semestre de 2006, vinculado ao Departamento de Direito Penal,

    Medicina Forense e Criminologia da FDUSP, com a coordenao dos Professores Dr. Alvino Augusto de S e Titular Srgio Salomo Shecaira e coordenao adjunta minha e de minha colega de ps-graduao Ana Gabriela Mendes Braga. Suas atividades tm carter interdisciplinar e so divulgadas aos alunos da Faculdade de Direito e de outras unidades da USP. Alm disso, um blog tem sido utilizado tambm para divulgao e comunicao (http://getcrim.blogspot.com).

  • 20

    ato infracional, procurando saber: em que reas das cincias tm sido produzidas mais pesquisas sobre esta temtica no Estado de So Paulo; que tipo de concepo refletem

    esses trabalhos, que linhas tericas adotam e que contribuies tm trazido para compreender e enfrentar da questo.

    Por razes que sero explicitadas no item Metodologia, foram escolhidas duas

    tradicionais Universidades Paulistas, uma pblica (USP) e outra privada (porm, com um carter pblico: PUC/SP) para a pesquisa.

    Espero, com isso, ter ao final um panorama da produo cientfica dessas duas

    grandes Universidades sobre a delicada questo do cometimento de atos infracionais e outras a ela relacionadas nos ltimos 16 anos, o que poder ser de valia para outros

    pesquisadores na identificao de linhas de pesquisas pouco exploradas. At mesmo, ousaria dizer, espero contribuir com a reflexo sobre o papel da Universidade como co-

    responsvel (juntamente com toda a sociedade) pelas transformaes sociais e pela construo de um pas mais justo e menos criminalizador e encarcerador.

  • 21

    INTRODUO

    As crianas e os adolescentes representam 34% da populao brasileira, o que, em

    nmeros absolutos, significa um contingente de 57,1 milhes de pessoas. Cerca da metade

    das crianas e dos adolescentes do Brasil - 48,8% e 40%, respectivamente - considerada pobre ou miservel, pois nasce e cresce em domiclios cuja renda per capita no ultrapassa

    meio salrio mnimo4.

    Desses 57,1 milhes de seres humanos em etapa peculiar de desenvolvimento, 15.426 encontravam-se, em 2006, internados no sistema socioeducativo de meio fechado, sendo a maioria (10.446) na internao, seguidos da internao provisria (3.746) e da semiliberdade (1.234), segundo dados levantados em 2006 pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica.5

    Ainda segundo o levantamento, os cinco Estados com maior populao de internos so SP, RJ, RS, PE e PR, sendo que em So Paulo se concentram 39% dos adolescentes em

    cumprimento de regimes em meio fechado no Brasil (internao, internao provisria e semiliberdade), com um ligeiro decrscimo comparado a 2004 quando sua participao chegou a 46%.

    importante considerar que, no ranking relativo, ou seja, proporcionalmente populao jovem de cada estado e considerando as diferenas demogrficas entre eles, o

    Estado de So Paulo no o que mais interna: Acre, Distrito Federal e Amap tm, proporcionalmente, mais adolescentes cumprindo medidas em regime fechado do que So

    Paulo6.

    De todo modo, na comparao entre a participao de cada estado na populao jovem brasileira (de 12 a 18 anos), na populao cumprindo medidas de meio fechado, o Estado de So Paulo ainda se destaca por ter menos de 20% da populao jovem e apresentar quase 40% da populao de internos.

    4 IPEA/DISOC/IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD). Rio de Janeiro, p. 2002.

    5 (Brasil, 2006b) SEDH. Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em

    Conflito com a Lei, realizado no perodo de 01/08/2006 a 15/08/2006. 6 Segundo o estudo, o ranking relativo refere-se aos quantitativos de capacidade e populao divididos pela

    populao jovem de cada estado em comparao com os demais estados. Ele permite uma relativizao do ranking absoluto, pois o critrio utilizado no foi o quantitativo simples, e sim o quantitativo dividido pela populao jovem (12 a 18 anos) do estado. Isso significa a possibilidade de comparar as lotaes e capacidades estaduais tendo em conta as diferenas demogrficas, produzindo assim um quadro mais fiel realidade.

  • 22

    Em nmeros absolutos, por fim, o Estado de So Paulo o campeo nacional de

    encarceramento: 4.806 adolescentes e jovens encontravam-se internados na Fundao CASA7, Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (meio fechado), segundo o levantamento um nmero maior que o total de adolescentes cumprindo internao nas

    regies Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Norte somadas.

    Assim, embora quantitativamente os adolescentes envolvidos com a violncia

    constituam um nmero reduzido em relao s dimenses da juventude, os aspectos

    qualitativos do fenmeno o adolescente como ator ou objeto da violncia assumem um

    carter de dramaticidade (TEIXEIRA, 2002, p.7).

    Os dados so eloqentes e falam por si, embora esses adolescentes internados no

    tenham voz. So vidas nuas, termo que a pesquisadora Vicentin (2004) empresta do filsofo Agamben: vidas que podem ser descartadas, pois foram empurradas para fora dos

    limites do contrato social e da humanidade.

    Alm de eloqentes, os dados no so novos e a realidade e os nmeros vm se

    repetindo ano aps ano.

    Eles refletem a histria da institucionalizao de crianas e adolescentes no Brasil.

    Essa histria mostra que as razes de uma ideologia de criminalizao da pobreza

    fincaram-se profundamente, garantindo at hoje a sobrevivncia de maneiras e discursos sobre o tratamento do problema do menor, seja ele carente, rfo, abandonado ou

    infrator.

    O quadro atual acima exposto reflete uma cultura de institucionalizao que est, se for possvel falar de uma etiologia da infrao juvenil, entre as causas determinantes para

    o prprio cometimento da infrao.

    A questo merece ateno num momento em que h um projeto tramitando no Congresso Nacional com a real possibilidade de resultar na diminuio da idade penal, em

    que os adolescentes so considerados responsveis por supostas taxas de incremento na criminalidade (quando, na verdade, as estatsticas revelam que menos de 3% dos

    7 Em dezembro de 2006 a Fundao Estadual do Bem Estar do Menor - FEBEM passou a se chamar

    Fundao Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente - CASA.

  • 23

    homicdios dolosos e menos de 10% dos atos criminosos registrados no Estado de So Paulo so cometidos por adolescentes)8.

    Esses jovens so tambm vtimas da violncia: segundo dados da UNESCO, em 2003, os 16.345 jovens que morreram por balas de armas de fogo representaram 41,6% do total de vtimas de armas de fogo no Brasil.9

    No tocante s medidas scio-educativas de meio fechado, embora com alguns esforos do Governo do Estado no sentido de cumprir as determinaes mnimas do

    Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) e do Conselho Nacional dos Direitos da

    Criana e do Adolescente (Conanda), atualmente consubstanciados no SINASE (Sistema Nacional Scio Educativo), para os estabelecimentos de internao de adolescentes,

    aumentando o nmero de unidades, descentralizando, etc, fato que h e sempre haver dficit de vagas10 porque a demanda ser sempre maior do que a capacidade do Governo

    de construir novas unidades de internao.

    Sabe-se, portanto, que no construindo novas unidades ou simplesmente

    mudando o nome da instituio que o problema ter soluo.

    Justia social, escola no excludente, melhor distribuio de renda e outras medidas

    sociais, no s junto ao adolescente, mas tambm, de modo imprescindvel, junto sua

    famlia, so fundamentais para evitar o cometimento da primeira infrao e o ingresso no

    sistema de justia juvenil. Do mesmo modo, preciso propiciar a esse jovem condies de retorno saudvel ao seio familiar, de modo a diminuir as chances de reincidncia de ato infracional.

    A formao dos profissionais que atuam junto ao Poder Judicirio para uma atuao especfica nas delicadas questes envolvendo adolescentes tambm fundamental.

    Vindos em sua maioria das classes mdia e alta, esses profissionais muitas vezes ingressam

    8 Alm disso, conforme dados do IBGE e da Subsecretaria da Promoo dos direitos da Criana e do

    Adolescente, do total da populao adolescente brasileira, a populao de adolescentes em conflito com a lei representa 0,1583%. Ato Infracional Atribudo ao Adolescente - 2000 a 2001. Disponvel em http://www.risolidaria.org.br/estatis/view_grafico.jsp?id=200406080001. consulta em 19/01/07, stio Risolidria, portal da Fundao Telefnica. bom salientar que toda estatstica deve ser analisada detida e criticamente. Para a Criminologia Crtica, as estatsticas criminais so tambm produtos da luta de classes nas sociedades capitalistas: por exemplo, os crimes de natureza essencialmente econmica e violenta so super-representados nas estatsticas criminais, enquanto a criminalidade da pequena burguesia raramente aparece nas estatsticas. (Cirino dos Santos, 2006, p.11) 9 http://www.unesco.org.br/noticias/releases/2005/livromortes/mostra_documento - Brasil registra mais

    mortes por armas de fogo do que conflitos armados internacionais - consulta em 19/01/07, stio da UNESCO. 10

    cf. SEDH. Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei, realizado no perodo de 01/08/2006 a 15/08/2006.

  • 24

    nas carreiras carregados do senso comum nas representaes sociais referentes aos adolescentes (pobres) em conflito com a lei. Desse modo, acabam tornando-se tambm responsveis pelo encarceramento desnecessrio de jovens, encarceramento que gera

    reincidncia de quase 40%, j que ineficaz na socioeducao a que se prope.

    Cabe observar que a internao tem sido uma medida freqente porque (ainda) nos

    diversos municpios paulistas h poucos e programas eficazes de execuo de medidas de meio aberto (LA e PSC). O esforo da implantao do processo de municipalizao pelo Estado de So Paulo11 no tem sido acompanhado da formao de profissionais para operarem essas medidas.

    Restrito ao repasse de verbas, a construo de um projeto poltico-pedaggico, e

    conseqentemente o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo (agora exigido pela promulgao e implantao do SINASE) tem ficado merc do esforo pessoal de cada

    profissional e/ou de propostas isoladas de aes municipais.

    Nesse sentido, um preparo adequado para a execuo de medidas scio-educativas

    em meio aberto ou privativas de liberdade fundamental, j que elas devem ser as primeiras opes, conforme determinao do ECA (artigo 121), quando do cometimento do ato infracional. Se eficazes, o ndice de reincidncia tende a ser baixo. Mas preciso cuidado com os programas e fiscalizao das entidades executoras, cujo trabalho, novamente, deve incluir as famlias e comunidades desses adolescentes.

    A questo, como se v, bastante complexa. A infrao juvenil resultante de

    mltiplas determinaes e seu enfrentamento, na preveno e na execuo das medidas

    com vistas a uma reintegrao do adolescente comunidade, requer esforos e olhares de

    profissionais de diversas reas do conhecimento, refletindo juntos, pesquisando e

    colocando em prtica o resultado dessas pesquisas.

    A conjugao de fatores envolvidos no problema determinou, na presente pesquisa, que se buscasse a produo de conhecimento em diversas reas e, ainda, em temticas que

    pudessem abranger todo o percurso do adolescente, compreendendo: as circunstncias que levam ao cometimento da primeira infrao, a sua passagem pelo sistema de justia (entendido aqui em sentido amplo, incluindo-se as entidades de execuo de medidas

    11 O ECA props a descentralizao da execuo de medidas scio-educativas, em especial as medidas em

    meio aberto, e esse reordenamento institucional, ainda est em fase de implantao e desenvolvimento pelos municpios. A descentralizao garante, entre outras coisas, o direito convivncia familiar e comunitria ao adolescente, de modo que o redirecionamento de sua socializao, buscando a superao do ato infracional, prev a participao de todos os atores locais envolvidos: famlia, comunidade, entidades, escolas.

  • 25

    scio-educativas), a repercusso dessa trajetria (inclusive como determinante de um encarceramento precoce quanto da maioridade).

    Desse modo, quando se mencionar a expresso adolescente e ato infracional como

    a grande temtica pesquisada nesta dissertao, deve ficar claro que se est considerando todo o percurso acima mencionado, com todos os agentes que dele participam:

    adolescente, famlia, comunidade, Estado, sociedade, sistema de justia, entidades executoras, profissionais que atuam com esse adolescente etc.

  • 26

    i. A pesquisa sobre produo de conhecimento e a temtica adolescente e ato

    infracional

    Um dos locais onde devem ser desenvolvidos estudos e esforos para a

    compreenso e construo de caminhos para enfrentar a problemtica do adolescente e o

    ato infracional a Universidade. Como locus privilegiado do ensino, pesquisa e

    desenvolvimento de um olhar crtico12, a Universidade tem um importante papel de transformao social, no se restringindo reproduo do conhecimento e formao de

    profissionais. A sociedade, em constante movimento, (ou deveria ser) geradora dos temas que despertam as aes de ensino, pesquisa e extenso.

    Segundo Silva, (...) a pesquisa um dos possveis caminhos de enfrentamento da

    questo social: afina e reafina os recursos analticos, captura o significado poltico-

    ideolgico dos fatos, produz conhecimentos da realidade na qual intervm e subsidia a

    ao. (2005a, p.15)

    A partir dessa perspectiva, as pesquisas sobre a produo de conhecimento tm um importante papel. Pesquisadores da importncia de Sposito (1997, 2001 e 2002) e Zaluar (1999), entre outros, j se dedicaram a levantar a produo de conhecimento, seja em teses e dissertaes, seja em outros tipos de produo (projetos, artigos, pesquisas de entidades

    governamentais e no governamentais, livros, etc).

    A avaliao da produo do conhecimento permite, de um lado, o estabelecimento

    do que se chama usualmente de estado da arte.

    De acordo com Sposito (1997),

    cabe realizar, no mbito da exame da produo de conhecimento, a anlise de como um determinado campo de estudos tambm vem construindo terica e conceitualmente o tema (...) enquanto objeto de investigao, seus modos de aproximao do fenmeno em questo, seus recortes principais e, se possvel, suas relaes com os processos histricos que permitem a visibilidade desse segmento na sociedade brasileira nos ltimos anos. (p.39)

    Assim, a pesquisa sobre a produo de conhecimento, permite a avaliao do

    desenvolvimento ou desinteresse por determinados campos de estudo, verificando-se onde

    12 Mas no exclusivo, bom deixar claro.

  • 27

    se concentra a produo e relacionando essa produo, entre outros aspectos, com as demandas sociais por esses estudos.

    Alm disso, permite avaliar a prpria organizao dos pesquisadores junto a

    ncleos ou centros de pesquisa, orientadores com linhas de pesquisa claramente fixadas ou a produo dispersa de trabalhos.

    preciso notar, ainda, que, na perspectiva de uma Criminologia Crtica, bem como

    conforme os ensinamentos de Foucault (1977, 2002), preciso olhar para o local onde se produz o saber, porque ele constitui uma forma de poder.

    A Universidade , sem dvida, um local onde se produz o saber (embora a produo do saber no seja exclusividade de seus membros). H um sentido, portanto, para

    alm da importncia de uma pesquisa sobre a produo do conhecimento, em olhar para a

    produo desses centros de saber, especialmente quando esses centros voltam o seu olhar

    exatamente sobre as questes envolvendo o crime, a criminalidade, o controle e demais variveis relacionadas.

    na Universidade que sero formados alguns profissionais que desempenharo

    papis importantes junto s instituies em/com que o adolescente se relaciona. Desde o

    assistente social ou o professor da escola, que o acompanha e/ou sua famlia antes ou

    depois do cometimento de um ato infracional, passando pelo juiz e pelo promotor que atuaro num processo de imposio de medida scio-educativa, at o educador, psiclogo,

    assistente social e eventualmente psiquiatra que o acompanharo durante o cumprimento

    da medida, e avaliaro se merece ou no a liberdade ou simplesmente declararo que j est cumprida a sua Liberdade Assistida.

    Mais alm, nos bancos universitrios que se formaro gestores dessas mesmas

    organizaes, como o caso da atual presidente da Fundao CASA e de diversos ex-

    presidentes da extinta FEBEM13. Polticas pblicas de segurana, de represso ou de preveno de delitos/infraes, de assistncia social e de educao, somente para citar as

    que se relacionam mais diretamente com os cometimentos de atos infracionais, quando no so coordenadas por esses bacharis, sempre passam por uma avaliao ou consulta a

    professores universitrios ou pesquisadores com ttulos de mestrado e doutorado.

    13 Berenice Gianella, atual Presidente da Fundao CASA titulou-se como mestra em Direito Processual

    Penal na Faculdade de Direito da USP. Alexandre de Moraes, que foi presidente da FEBEM de agosto de 2004 a maio de 2005, mestre, doutor e livre-docente em Direito pela USP.

  • 28

    Nesse sentido, os cursos de Ps-Graduao stricto sensu (mestrados e doutorados) so instrumentos que as Universidades colocam disposio para a formao de

    profissionais que atuaro como formuladores de polticas pblicas, gestores,

    pesquisadores, professores universitrios ou tcnicos, em instituies governamentais ou

    no-governamentais, nas questes ligadas ao adolescente e o ato infracional.

    A Universidade, portanto, tem um importante papel a desempenhar no intrincado desenrolar de acontecimentos que termina no cometimento de ato infracional e que

    continua durante e aps o cumprimento da medida scio-educativa.

    Os prprios pesquisadores fazem a crtica a respeito dos estudos que vm sendo desenvolvidos: para Vicentin, por exemplo, os estudos em torno da infrao juvenil sempre privilegiaram a investigao de causas e aspectos relacionados formao da carreira

    delinqente. Quase nada se perguntou pelo que faz sair, ou melhor, sobre como um

    adolescente pode transitar por ela pela deriva infracional sem que isto lhe grude

    pele. Penso que compreender melhor esta dimenso traria enormes conseqncias sobre

    as intervenes institucionais. (2004)

    Silva, entre outros que fazem consideraes semelhantes, considera que, apesar da

    enorme publicizao dos discursos e dos estudos sobre essa temtica, no se tm

    conseguido paut-la com criticidade nem com centralidade. Os estudos sobre adolescentes

    infratores, geralmente, partem de experincias localizadas, que muitas vezes so boas,

    mas se esgotam nos prprios sujeitos, sem estabelecer nexos com a estrutura do Executivo,

    do Judicirio e do Legislativo, ou mesmo com a prpria sociedade.

    Tambm necessrio que se diga que, na maioria das vezes, a academia coloca

    essa questo em segundo plano e, assim, no tem conseguido ocupar o debate intelectual

    com a centralidade que merece, escapando do eixo Estado e sociedade e das correlaes

    de foras que tm norteado o Estado capitalista. (Silva, 2005a, p.16).

    Por fim, bom lembrar que o desempenhar cotidiano de um papel, seja ele qual for,

    de juiz, promotor, educador, psiclogo, assistente social, socilogo etc, implica sempre numa tomada de postura poltica a respeito das temticas com que esse profissional

    trabalha.

    Essa postura poltica significa o olhar que se tem sobre o mundo e as atitudes e

    decises que o profissional toma a partir desse olhar, conscientemente ou no. A

  • 29

    Universidade tem uma participao importante nessa formao, por meio de seus cursos de graduao e ps-graduao.

    Por todas essas razes, pesquisar a produo de conhecimento significa lanar um

    olhar sobre uma instituio que tem um papel inegvel referente s mais diversas questes sociais: a Universidade.

    Sendo assim, pergunta-se: qual tem sido a resposta de Universidades Paulistas, por meio de teses e dissertaes, na compreenso e no pensar de propostas que contribuam para o enfrentamento da questo da infrao juvenil? Considerando-se o importante papel

    como inovadoras no pensar e no subsdio terico e prtico das questes sociais, tm as nossas Universidades voltado seu olhar para esta questo?

  • 30

    ii. O objeto do estudo

    So necessrios alguns passos para a definio do objeto desta pesquisa. O parmetro temporal definidor do presente estudo o perodo compreendido entre o advento do Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei 8069/90 - ECA), que foi promulgado em 1990, e o ano de 2006.

    O ECA representa, para a dogmtica jurdica, uma ruptura legislativa paradigmtica, que se pretende (e tem sido, tanto quanto possvel) orientadora das polticas

    pblicas para as crianas e adolescentes, buscando abranger todos os aspectos a elas

    relacionadas, inclusive no tocante infrao juvenil. A importncia dessa ruptura ficar mais clara no Captulo III, adiante.

    Alm do temporal, outro recorte importante para os limites da pesquisa, o

    referente s Universidades pesquisadas: deveriam ser pesquisadas Universidades que tivessem Programas de Ps-graduao stricto sensu reconhecidos pelo Ministrio da

    Educao (MEC) e pela CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior do Ministrio da Educao) e que se localizassem na cidade de So Paulo.

    Dentre as Universidades que se enquadram na delimitao acima, foram

    selecionadas a Universidade de So Paulo (USP) e a Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC/SP), pelas seguintes razes: so Universidades que tm uma tradio em suas reas de pesquisa e importncia nacional como formadoras de pesquisadores e

    professores, inclusive tendo contribudo para a formao de corpo docente para outras

    Faculdades; so Universidades que congregam mltiplos cursos de Ps-Graduao reconhecidos pelo MEC e pela CAPES, e, em geral, com notas altas na avaliao da

    CAPES; so Universidades que, por sua histria, tm importncia crucial para a poltica do pas, incluindo-se a as polticas sociais.

    Opta-se aqui pelo exame exclusivo de teses e dissertaes, ao invs de se examinar

    a produo de conhecimento de modo mais amplo, incluindo artigos, projetos, relatrios de pesquisa etc.

    Essa opo se d pelo fato de que os mestrados e doutorados so instrumentos que

    as Universidades colocam disposio para a formao de profissionais que atuaro como formuladores de polticas pblicas, gestores, pesquisadores, professores universitrios ou

  • 31

    tcnicos, em instituies governamentais ou no-governamentais, nas questes ligadas ao

    adolescente e o ato infracional.

    A complexidade da questo do adolescente e o ato infracional exige que o seu

    estudo se realize a partir de diferentes perspectivas.

    O enfrentamento prtico da questo da infrao juvenil, por ter mltiplas e

    diversificadas facetas, deve ser integrativo e realizado de modo transdisciplinar. Contudo, na Universidade setoriza-se o seu teorizar: compartimentaliza-se e fragmenta-se um conhecimento que deveria ser integrado, dificultando um olhar global sobre a questo.

    Em busca desse olhar integrativo, optou-se por buscar em diversos Programas de Ps-Graduao as teses e dissertaes a respeito do adolescente e o ato infracional.

    O objeto do presente estudo, portanto, a produo de conhecimento sobre o adolescente e o ato infracional expressa em teses e dissertaes da USP e da PUC/SP desde o advento do Estatuto da Criana e do Adolescente (1990) at 2006.

  • 32

    iii. Os pressupostos tericos

    Esta dissertao se divide em trs grandes partes. Em cada uma delas foram utilizados diferentes pressupostos tericos.

    As orientaes de Sposito (1997, 2001 e 2002) e Zaluar (1999) para o levantamento, categorizao e anlise de dados sobre produo de conhecimento foram parmetros importantes. Essas orientaes foram utilizadas especialmente quanto aos

    dados quantitativos, apresentados no Captulo II.

    Embora no relacionado ao levantamento da produo de conhecimento, o caminho metodolgico percorrido por Schritzmeyer (1994) inspirou em grande parte esta dissertao, razo pela qual considerado tambm referncia.

    Por fim, um texto mimeografado que foi recomendado pela coordenao do Ncleo

    da Criana e do Adolescente da PUC/SP compilava orientaes de diversos autores para a categorizao em anlise de contedo, tendo sido importante referncia metodolgica

    (Parga Nina, s/d) para os Captulos II, III e IV.

    No tocante ao cotejo de teses e dissertaes com as Doutrinas da Proteo Integral e Situao Irregular (Captulo III) e com as teorias da Criminologia (Captulo IV), recorreu-se a diversos autores.

    Dentro os autores que tratam do Direto da Infncia e Juventude no Brasil, muitos foram ativos participantes do movimento social e poltico que resultou na insero, na

    Constituio Federal de 1988, de dois artigos tratando sobre a infncia e juventude (227 e 288) e foram tambm membros da comisso que elaborou o ECA.

    Joo Batista Costa Saraiva, juiz no Rio Grande do Sul, h muitos anos se dedica ao

    estudo da temtica.

    Emlio Garca Mndez, penalista argentino, estuda e teoriza a legislao penal

    juvenil h muitos anos, com um olhar que vai alm do jurdico, pois , tambm, criminlogo, sendo importante referncia.

    Srgio Salomo Shecaira, por sua vez, um dos poucos estudiosos da Criminologia

    no Brasil, e recentemente publicou tese de titularidade a respeito do Direito Penal Juvenil, unindo, portanto, em uma s obra, os dois aspectos que aqui tambm so estudados. Este

  • 33

    professor da Faculdade de Direito da USP orientou duas pesquisas compreendidas na presente anlise.

    Edson Passetti outra referncia para quem estuda a questo. Professor da

    PUC/SP, orientou duas pesquisas aqui analisadas e j publicou diversos artigos a respeito. Passetti partidrio da corrente denominada abolicionismo penal, uma das vertentes da

    Criminologia Crtica.

    Um dos artigos de Passetti encontra-se inserido na obra Histria das Crianas no Brasil, referncia para o estudo histrico da evoluo do tratamento jurdico e social dado

    infncia (e juventude) no Brasil e que foi aqui tambm utilizada.

    Martha de Toledo Machado realizou em sua dissertao de mestrado anlise que j

    se tornou referncia para o estudo da infrao juvenil no Brasil. Assim, embora sua dissertao esteja includa no universo pesquisado, optou-se por utiliz-la como uma das

    principais referncias tericas para o estudo.

    Todos esses autores, no tocante ao Direito da Criana e do Adolescente, orientam-se pela Doutrina da Proteo Integral, ainda que suas vises sobre o denominado Direito

    Penal Juvenil no sejam unssonas. Todos concordam, todavia, que a infncia e juventude merece prioridade absoluta em todas as esferas de suas vidas, e proteo integral, e que

    crianas e adolescentes so sujeitos de direitos.

    Entendem, ainda, que os adolescentes devem ter sua condio peculiar de pessoa em desenvolvimento levada em conta, especialmente, quando forem acusados de prtica

    infracional e receberem uma medida scio-educativa.

    bom salientar que a Doutrina da Proteo Integral criao recente e tem sido

    ainda desenvolvida. Seu embrio foi lanado em 1959, na Declarao dos Direitos da Criana da Assemblia das Naes Unidas, mas ela somente se incorpora legislao em 1980, com os mencionados artigos da Constituio Federal.

    A produo terica brasileira sobre o Direito da Criana e do Adolescente como Proteo Integral tem, portanto, no mais que 30 anos. ainda uma Doutrina em

    elaborao.

    No tocante Criminologia, alm dos autores supracitados que transitam tambm pela rea da Infncia e Juventude (Shecaira, Passetti e Garca Mendez), so referncias imprescindveis o criminlogo radical italiano Alessandro Baratta (corrente minimalista), e Eugenio Raul Zaffaroni, argentino e criminlogo crtico, professor da Universidade de

  • 34

    Buenos Aires, que trabalha tambm no desenvolvimento de uma criminologia latinoamericana.

    Por fim, como no poderia deixar de ser, so referncias que perpassam toda a

    anlise: as observaes de Erwing Goffmann (escola da reao social ou labeling approach) sobre as instituies totais e os processos de degradao que gera no internado, bem como a sua teorizao a respeito do estigma; Howard Becker e sua conceituao do desvio como reao social; Michel Foucault, que desconstri a priso, o sistema de justia

    criminal e desvela as redes de poder que se constituem nessas relaes sociais.

  • 35

    iv. Objetivos

    iv.i. Objetivo geral

    O objetivo geral desta dissertao analisar as teses e dissertaes produzidas na USP e na PUC/SP entre 1990 e 2006, buscando compreender se e como essas produes tm contribudo para a compreenso e o pensar de propostas que contribuam para o enfrentamento da questo do adolescente e o ato infracional.

    iv.ii. Objetivos especficos

    Os objetivos especficos so: - quantificar, apresentar e interpretar os dados referentes produo de

    conhecimento sobre o adolescente e o ato infracional expressa em teses e dissertaes da USP e da PUC/SP desde o advento do Estatuto da Criana e do Adolescente (1990) at

    2006;

    - analisar, conforme as Doutrinas da Situao Irregular e da Proteo

    Integral, as teses e dissertaes sobre o adolescente e o ato infracional produzidas na USP e na PUC/SP entre 1990 e 2006, a partir das seguintes categorias: o sujeito; a imposio e sano de medida scio-educativa; o ordenamento institucional;

    - analisar, conforme os paradigmas da Criminologia (individual ou positivista, sociolgico e crtico), as teses e dissertaes sobre o adolescente e o ato infracional produzidas na USP e na PUC/SP entre 1990 e 2006, a partir do objeto, da metodologia e das referncias tericas utilizadas.

  • 36

    I. METODOLOGIA

    No, no tenho caminho novo. O que tenho de novo

    o jeito de caminhar. (Thiago de Mello- A vida verdadeira)

    Trata-se de uma pesquisa documental sobre a produo de conhecimento expressa em teses e dissertaes produzidas na USP e na PUC/SP sobre o adolescente e o ato infracional entre os anos de 1990 e 2006.

    1.1. Apreenso das bases tericas e fontes de informao

    A primeira etapa compreendida no procedimento metodolgico foi a apreenso das bases tericas necessrias para a anlise dos dados empricos.

    Desse modo, foram lidas as principais obras de Criminologia disponveis, tanto os Manuais mais completos bem como alguns artigos e livros de seus autores mais representativos, em especial aqueles que versassem especificamente sobre a delinqncia

    juvenil, publicados em peridicos nacionais e internacionais.

    Foi necessria, ainda, a apreenso das bases tericas fundadoras dos dois grandes

    paradigmas de Direito da Infncia. Concomitantemente ao levantamento do universo

    pesquisado, surgiu ainda necessidade de realizar outras leituras, que ajudassem a esclarecer alguns pontos a respeito da diversidade das pesquisas realizadas e de algumas metodologias ou teorias utilizadas.

    As disciplinas cursadas durante os crditos foram essenciais para que a pesquisadora tivesse a noo do que significa cada tipo de pesquisa examinada, bem como para entender as metodologias utilizadas.

    Por fim, foram pesquisados na internet stios das Universidades para a coleta de

    informaes necessrias para interpretao de alguns dados; foram ainda pesquisados outros stios, com o fim de coletar notcias de mdia impressa e eletrnica e outras

    informaes que pudessem enriquecer e subsidiar as anlises.

  • 37

    1.2. Procedimentos de coleta dos dados

    1.2.1 Locais da coleta de dados

    A pesquisa se deu, inicialmente, nas bibliotecas virtuais da USP e da PUC/SP

    disponveis na internet e, numa segunda etapa, nas bibliotecas localizadas nos campi das mesmas Universidades localizados na Capital do Estado de So Paulo.

    1.2.2 Perodo compreendido na coleta e tipo de documento

    A busca restringiu-se a teses e dissertaes, delimitando-se o perodo temporal entre 1990 e 2006, considerando-se a data da defesa.

    1.2.3 Procedimento para definio do universo documental

    Primeiramente, foi necessrio realizar uma busca nas bibliotecas virtuais gerais da

    USP e da PUC/SP, geral, sem especificao por rea do conhecimento (os catlogos j se encontram disponveis na internet) utilizando as palavras-chave elencadas no projeto de qualificao.

    Foi feita uma triagem inicial a partir do ttulo, nos casos em que ficasse evidente a adequao ou no da dissertao ou tese ao universo pretendido. Em outros casos, foi

    preciso ler a ficha catalogrfica completa para verificar o ttulo integral, as demais palavras-chave e assim poder descartar a pesquisa.

    A partir de 120 fichas catalogrficas de pesquisas inicialmente coletadas na USP e

    na PUC, foram identificadas aproximadamente 50 palavras-chave diferentes das que estavam sendo buscadas at ento (sendo que muitas eram variaes da mesma palavra,

    como menor e menores, ou infrator, infrao e infratores).

    Desse modo, outras palavras-chave foram sendo levantadas a partir das prprias referncias constantes das fichas catalogrficas. Por exemplo, delinqncia juvenil no

    resultava em muitos trabalhos na PUC, mas notou-se que algumas pesquisas colocavam como palavra-chave delinqentes juvenis, razo pela qual esta palavra tambm foi includa na busca14.

    14 Uma das dissertaes analisadas esclarece o porqu do uso da expresso, que aparece inclusive

    referenciando pesquisas produzidas em ps-graduao em servio social: No interior da psicanlise, a questo da delinqncia foi tratada sob diversos ngulos. A comear por Freud, aparecem referncias a crianas delinqentes e a delinqentes juvenis, evidenciando-se o uso de um vocabulrio comum nos trabalhos que fazem indicao ao tema. (BASTOS, 2001, p.5)

  • 38

    Assim, para chegar aos trabalhos que compem o corpus desta pesquisa, foram pesquisadas as seguintes palavras-chave: Adolescncia, Adolescente institucionalizado,

    Adolescentes, Adolescente, Adolescentes infratores, Agressividade, Agressividade e jovem,

    Assistncia a menores, Ato infracional, Cdigo de menores, Comportamentos criminosos,

    Conflito com a lei, Controle social, Criana, Crianas e adolescentes, Crimes,

    Criminologia, Criminalidade, Delinqncia juvenil, Delinqentes juvenis, Deteno de

    menores, Direito do menor, Egresso, Estado penal, Estatuto, Estatuto da Criana e do

    Adolescente, ECA, Excluso, FEBEM, Fundao Estadual do Bem Estar do Menor,

    Garantia dos direitos infanto-juvenis, Infrao, Infrator, Infratores, Infratores imputveis

    penalmente, Instituies, Jovens, Jovens em conflito, Juizado de menores, Juventude,

    Juventude e violncia, Liberdade assistida, Marginalidade social, Medida scio-educativa,

    Medidas scio-educativas, Meninos de rua, Menor, Menor institucionalizado, Menores,

    Menores infratores, Penalizao, Periferia, Pratica infracional, Prestao de servios,

    Privao de liberdade, Reabilitao, Rebelies, Reintegrao, Risco, Transgresso,

    Violncia, Violncia entre jovens, Violncia menores, Violncia juvenil, Vara Infncia

    Juventude, Inimputabilidade.

    Essa segunda busca ampliou consideravelmente o universo de trabalhos

    encontrados. Nessa nova busca foram tambm encontrados muitos trabalhos que no tratavam exatamente do tema pesquisado, mas que se relacionavam direta ou indiretamente

    com ele.

    Uma vez localizados todos os trabalhos com as palavras chave acima descritas, com esse segundo grupo de pesquisas foi realizado o mesmo procedimento j descrito: eliminao pelo ttulo; e, no sendo o ttulo esclarecedor, leitura do resumo e da ficha catalogrfica completa15.

    Aps esse levantamento preliminar, todos os resumos e fichas catalogrficas foram

    novamente lidos integralmente, excluindo-se alguns e deixando outros com um ponto de interrogao para uma verificao mais acurada.

    15 Vale relatar que, mesmo aps a exaustiva busca realizada, ainda foram descobertas algumas dissertaes e

    teses a partir da leitura das prprias pesquisas que j haviam sido includas no corpus.

  • 39

    No total passaram por esse processo de uma ou vrias leituras de resumos e fichas catalogrficas16 105 teses e dissertaes defendidas na PUC/SP. Na USP, o total de fichas catalogrficas (contendo o resumo e outros dados) lidas somou 115 documentos.

    Para a obteno das cpias dos excertos das teses e dissertaes, trs procedimentos foram utilizados:

    - foi possvel obter uma pequena parte das pesquisas em formato digital, que se

    encontravam integralmente disponveis nos bancos de dados on line das duas Universidades;

    - por meio de informaes constantes nas fichas catalogrficas ou disponveis no Curriculum Lattes17, foi possvel localizar os endereos eletrnicoss da maior parte dos

    pesquisadores para pedir o encaminhamento dos excertos a serem pesquisados ou do trabalho completo. Cerca de 25 pesquisadores responderam e enviaram suas pesquisas por correio eletrnico. Como devolutiva, foi estabelecido um compromisso de que a pesquisadora enviaria, aps a defesa, uma cpia do seu trabalho para todos os que

    contriburam. Alm disso, firmou-se na mensagem o compromisso tico de no utilizar nenhum trecho dos trabalhos sem a devida citao;

    - por fim, foram percorridas as bibliotecas em busca de cpias das teses e

    dissertaes que no foi possvel obter em meio eletrnico.

    Trabalhou-se, portanto, com documentos em formato impresso e digital.

    Como havia sido descrito no projeto de qualificao, foram coletados e examinados os seguintes excertos das pesquisas: ficha catalogrfica, resumo, sumrio, introduo,

    concluso e bibliografia. Vale dizer que esses excertos foram lidos vrias vezes ao longo da pesquisa, voltando-se a eles sempre que necessrio. Foi elaborada uma ficha digital (em arquivo formato .doc) com a citao de trechos relevantes e na qual foram sendo anotadas, ao longo das leituras, relaes com outros trabalhos e outras informaes importantes para

    a anlise. Cada pesquisa recebeu um nmero, que lhe foi atribudo aleatoriamente.

    16 A ficha catalogrfica contm: resumo, nome do pesquisador, grau acadmico conferido (mestrado ou

    doutorado), ttulo da pesquisa, nome do orientador, ano de defesa, instituio de defesa, programa de Ps-Graduao, palavras-chave e, em alguns casos, abstract. Na USP em geral as fichas contm os resumos completos, bem como o abstract. Na PUC/SP, a maior parte tem somente o(s) primeiro(s) pargrafos do resumo. 17

    O Lattes o currculo acadmico de carter pblico disponvel na Internet e credenciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), agncia do Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT) destinada ao fomento da pesquisa cientfica e tecnolgica e formao de recursos humanos para a pesquisa no pas. Fonte: stio do CNPQ. Disponvel em http://www.cnpq.br/cnpq/index.htm.

  • 40

    Aps essa primeira leitura dos excertos, algumas teses e dissertaes ainda foram

    eliminadas do universo.

    Das 105 fichas catalogrficas selecionadas na PUC/SP, 61 compuseram definitivamente o universo da presente pesquisa. No caso da USP, foram examinadas 115 fichas catalogrficas. Dessas, 76 foram trabalhos foram excludos (incluindo os produzidos

    em campi fora da Capital). O conjunto final foi composto, portanto, de 100 teses e dissertaes: 39 da USP e 61 da PUC/SP.

    bom destacar que o nmero ficou redondo (100 teses e dissertaes) por uma

    coincidncia, no tendo havido nenhuma inteno da pesquisadora em compor um universo que tivesse necessariamente este nmero. Esse nmero oscilou inclusive durante a

    redao da dissertao, pois conforme as pesquisas iam sendo reexaminadas fazia-se uma reavaliao a respeito de seu pertencimento ou no ao universo pretendido.

    1.2.4 Categorias de anlise e procedimentos para sua definio

    Conforme acima descrito, foram lidos os excertos das 100 teses e dissertaes. No

    tocante a essa opo, deve-se salientar que, evidentemente, ler trechos no equivale a ler um trabalho integralmente. Todavia, a leitura dos excertos foi, na maior parte dos casos,

    capaz de fornecer dados referentes justificativa, o objeto e objetivos da pesquisa, metodologia utilizada, referncias tericas mais importantes, profundidade da pesquisa, entre outros aspectos.

    preciso observar, ainda, que no existe uma uniformidade na apresentao de

    informaes nesses itens. Explicando melhor: alguns trabalhos no apresentavam resumo;

    outros apresentavam introduo expondo seu referencial terico, outros simplesmente descrevem sumariamente como se daria a apresentao do trabalho, os captulos, e alguns

    ainda utilizam a introduo como momento somente de apresentao da trajetria do pesquisador sem mencionar a pesquisa em si.

    Por esta razo, em alguns casos optou-se por examinar, alm dos excertos, o

    primeiro captulo ou o captulo em que se dava a apresentao da pesquisa, o seu objeto e

    as principais questes analisadas.

    Categorias para anlise quantitativa:

    As categorias para anlise quantitativa so:

  • 41

    1. Distribuio da produo por ano;

    2. Distribuio da produo por rea do conhecimento (Programas de Ps-Graduao);

    3. A produo por orientador;

    4. As temticas pesquisadas;

    5. As metodologias utilizadas;

    Os procedimentos para a definio dessas categorias foram os seguintes:

    Primeiramente, uma Tabela Geral (constante do Anexo) foi elaborada contendo os seguintes dados:

    -a) nome do pesquisador;

    - b) ttulo do trabalho;

    - c) ano de defesa;

    - d) instituio (PUC/SP-USP);

    - e) rea (programa de Ps-Graduao);

    - f) Mestrado ou Doutorado;

    - g) tipo de pesquisa (campo/terica);

    - h) tcnica (metodologia ou tcnica aplicada);

    - i) orientador;

    - j) temticas pesquisadas. Esses dados foram considerados relevantes para a anlise de produo de

    conhecimento, conforme parmetros apreendidos em outros artigos que fazem este tipo de

    anlise (Sposito, 1997, 2001 e 2002 e Zaluar, 1999).

    A coleta dos dados a, b, c, d, e, f, e i deu-se partir da simples verificao das fichas

    catalogrficas.

    Os dados que exigiram leitura dos trabalhos para a definio, para a realizao de

    uma classificao, so:

    - g) tipo de pesquisa (campo/terica);

    - h) tcnica (metodologia ou tcnica aplicada);

  • 42

    - j) temticas pesquisadas. Para a definio desses dados foi necessria a leitura de todo o material coletado por diversas vezes.

    Utilizar-se- como exemplo o procedimento para a classificao das temticas pesquisadas, que foi o mais trabalhoso.

    O procedimento foi o recomendado: Comea-se com uma lista arbitrria de

    categorias e observa-se a freqncia com que ocorrem nos vrios sub-grupos. D-se forma ento a um nmero menor de categorias mais sistemticas (Lazarsfeld, Paul, et al, Continuities in the Language of Social Research, The Free Press, New York, 1972, pp13-14 in Parga Nina, s.d., p.07).

    As primeiras temticas elencadas foram, por exemplo, instituies/FEBEM ou

    sentidos da transgresso, moral, identidade e subjetividades. Identifica-se a temtica a partir do objetivo da dissertao ou tese. Mas em geral essa definio requereu uma apreenso mais global da dissertao, a partir dos excertos lidos, e no s da leitura do

    objetivo. A partir de novas leituras, temticas que no haviam sido aventadas foram

    emergindo das pesquisas. O procedimento final de agrupamento por temticas foi bastante complicado, pois muitas pesquisas classificam-se em mais de uma temtica. De fato, em

    uma classificao qualitativa, como o caso da definio de temticas, as categorias no

    so mutuamente excludentes. Todavia, para o propsito desta dissertao, optou-se pela

    classificao de cada dissertao ou tese em uma nica temtica pesquisada.

    Com o reexame constante do material foi possvel concluir a tarefa, buscando atender instruo de proceder por etapas do geral ao especfico, de modo que o material possa ser examinado, seja em termos de categorias detalhadas, ou grupado em amplas categorias, conforme for mais adequado a um dado propsito (Lazarsfeld, Paul, Qualitative Analysis, Allyn and Bacon, Boston, 1972, p227 in Parga Nina, s.d., p.07).

    Assim, nos casos em que pareceu adequado, foram criadas temticas mais amplas

    para a anlise, como o caso da temtica O sujeito, que abriga 5 outras subtemticas: trajetrias de vida; os sentidos da transgresso moral, identidade, subjetividades, sentidos

    da escola, e caracterizao do sujeito.

  • 43

    Categorias para a anlise qualitativa:

    As categorias para a anlise qualitativa so:

    6) No Captulo III: alinhamento com as Doutrinas da Situao Irregular e

    Proteo Integral (categorias principais), sendo subcategorias: 6.1 o adolescente, 6.2 o ordenamento institucional; 6.3 a imposio e execuo de sano;

    7) No captulo IV: alinhamento com as perspectivas criminolgicas

    individual, sociolgica ou crtica, a partir do objeto (7.1), da metodologia (7.2) e das referncias tericas (7.3) presentes nas teses e dissertaes da amostra.

    Para a definio dessas categorias, partiu-se de uma inteno inicial de verificar,

    nas teses e dissertaes, seu alinhamento terico com as doutrinas da proteo integral e situao irregular, no caso do Direito da Infncia e Juventude, e com os paradigmas

    criminolgicos individual, sociolgico ou crtico.

    Com o referencial terico em mente, buscou-se localizar caractersticas desses

    alinhamentos tericos no objeto, no uso de conceitos e categorias (ex: menor infrator, incompletude institucional, causas da criminalidade, criminalizao, processos de

    socializao etc) ao longo do texto, bem como no referencial terico que o pesquisador adotava, quando explicitado nos excertos analisados (ex: Foucault, Goffmann, Vigotsky, Freud, Freire, Marx etc). Nesse ponto, revelou-se acertada a deciso de coletar a bibliografia como parte dos excertos, pois a simples meno do sobrenome do autor, como usual, gerava a necessidade de recorrer Bibliografia para confirmar o seu nome

    completo.

    Para entender o processo de construo dessas categorias, preciso ter aqui

    algumas premissas em mente: a diversidade de Programas de Ps-Graduao pesquisados, a diversidade de temticas abordadas pelas teses e dissertaes e, por fim, o fato de terem

    sido examinados somente os excertos.

    Ao longo da leitura de todo o material, foram se evidenciando algumas categorias. Por exemplo, no caso do captulo em que se faz um dilogo de teses e dissertaes com as

    Doutrinas Da Proteo Integral e Situao Irregular do Direito da Infncia e Juventude, notou-se que em algumas pesquisas podia ser identificado um posicionamento claro a

    respeito do sujeito (o adolescente); em outras isso no era to evidente, mas se explicitava uma posio a respeito de como devem ser pensadas e executadas as medidas scio-

    educativas, por exemplo. Desse modo, emergiram das pesquisas trs categorias de anlise:

  • 44

    o ordenamento institucional; a imposio e execuo de sano; o adolescente, de modo que fosse possvel identificar o alinhamento a uma ou outra doutrina a partir dessas trs

    categorias.

    A partir dessas categorias que se foi realizando no uma classificao, que como j dito seria temerosa, mas um verdadeiro dilogo com as teses e dissertaes e os paradigmas do Direito da Infncia e Juventude.

    No caso da anlise com base nas perspectivas da Criminologia (Individual, Sociolgica e Crtica), no se sentiu a necessidade de criar categorias especficas para a

    anlise alm das que j diferenciam as escolas: o seu objeto e sua metodologia. Mais como

    um parmetro para buscar as aproximaes entre as teses e dissertaes que constituem a

    amostra e essas perspectivas, verificou-se tambm as principais referncias tericas utilizadas nas pesquisas.

    1.2.3 Procedimento para definio da amostra para anlise qualitativa (anlise

    de contedo)

    A amostra selecionada constituiu-se de 40% do universo, portanto, 40 teses ou dissertaes. Essa amostra relativamente grande porque continou-se, aqui, trabalhando

    com os excertos, e no com o contedo integral das teses e dissertaes.

    Para definir quais teses e dissertaes constituiriam essa amostra, partiu-se da classificao das teses e dissertaes por temtica. Considerou-se essa categoria como a

    mais importante (temtica) para a seleo de trabalhos para anlise de contedo.

    Calculou-se a porcentagem que cada temtica representava no universo pesquisado e, a partir dessa porcentagem, foi calculada a porcentagem na amostra. Ou seja: se a temtica 01, por exemplo, concentra 26% da produo, calculou-se 26% de 40 para se chegar ao numero de teses e dissertaes dessa temtica a serem includas na amostra.

    Em caso de nmeros fracionados, utilizou-se o seguinte critrio: se a frao fica entre 1 e 4, arredonda-se para o nmero inteiro imediatamente anterior; caso a frao fique entre 6 e 9, arredonda-se para o nmero inteiro imediatamente superior. Assim, no exemplo acima (temtica 01), 26% de 40 (total de amostra) so 10,4. Considerou-se, portanto, 10 como o nmero de teses e dissertaes dessa temtica que comporiam a

  • 45

    amostra. No caso de subtemticas utilizou-se o mesmo procedimento. No houve nenhuma frao 5 (exemplo: 1,5 ou 2,5).

    Aps a definio desses nmeros, consideramos a tabela 01, que apresenta a

    distribuio da produo por ano. Constata-se pelo exame desta tabela que a produo se concentra entre 1996 a 2006, com 94% dos trabalhos distribudos entre esses anos. Esses 10 anos foram ainda subdivididos em 02 perodos, 1996-2001, que concentra 31% da produo, e 2002-2006 que apresenta 63% da produo pesquisada.

    A partir do nmero de teses e dissertaes a serem analisados em cada temtica,

    buscou-se na Tabela Geral (Anexo) localizar os trabalhos a partir desses dois perodos, privilegiando-se uma seleo de maior nmero de trabalhos entre 2002 e 2006, que

    concentra maior produo. O ltimo critrio para essa seleo foi o de incluir a maior diversidade possvel de Programas de Ps-Graduao na amostra.

    Chegou-se, por esses critrios, seguinte amostra:

    Entre 1996 e 2001 (12 dissertaes/teses): ARAJO, 1997; AZEVEDO, 2000; BRANDO, 2000; DIAS, 2000; ERTZOQUE, 2001; GUAR, 2000; MIRAGLIA, 2001;

    OLIVEIRA, 1996; RESENDE FILHO, 1996; RODRIGUES 2000; SILVA, 1999; VALENA, 2001.

    Entre 2002 e 2006 (28 dissertaes/teses): ANDRADE, 2005; ATADE, 2002; AUN, 2005; BANDEIRA, 2006; BERZIN, 2003; BROIDE, 2006; CINTRA, 2002; FONTES, 2004; FRASSETO, 2005; LOPES, 2006; LOSACCO, 2004; MOURA, 2005; OKAMURA, 2003; PASCUIM, 2004 FREITAS2005; PAULA, 2004; RODRIGUES, 2005; SALES, 2004; SANTOS, 2005a; SANTOS, 2005b; SILVA 2003b; SILVA 2006; SILVA, 2005a; SPOSATO, 2003; TANGERINO, 2005; VIANNA, 2002; VICENTIN, 2002; VILELLA, 2002.

    Desse modo, procurou-se constituir uma amostra representativa da produo.

    1.3 Formas de anlise dos dados

    Os dados so analisados quantitativamente e qualitativamente.

    1.3.1 Anlise quantitativa

    As categorias 1 a 5 (supra) so analisadas quantitativamente. Foram cruzados alguns dados levantados para sua apresentao e anlise e organizados em tabelas e

  • 46

    grficos. Alm da apresentao dos dados, buscou-se discuti-los e interpret-los, contextualizando-os tanto quanto possvel para sua compreenso.

    1.3.2 Anlise qualitativa

    analisada uma amostra de 40 teses e dissertaes. A categoria 6 e subcategorias 6.1 a 6.3 e a categoria 7 (supra) e subcategorias 7.1 a 7.3 so analisadas qualitativamente, cotejando os contedos dessas teses e dissertaes selecionadas com as teorias utilizadas.

    1.4 Formas de apresentao dos dados

    1.4.1 Forma de apresentao, discusso e interpretao dos dados

    quantitativos teses e dissertaes da USP e da PUC/SP sobre o adolescente e

    o ato infracional entre 1990 e 2006.

    No Captulo II so apresentados os dados quantitativos supracitados, organizados em tabelas e grficos que foram extradas da Tabela Geral constante no Anexo.

    Os dados so, em geral, apresentados em nmeros absolutos (forma bruta), no

    tendo sido utilizada anlise estatstica para tratamento. Houve a utilizao de porcentagens em dois grficos.

    A discusso e interpretao desses dados feita com a preocupao de situ-los

    histrica e socialmente. Buscou-se, ainda compreender seu significado dentro das Universidades em que se deu a pesquisa e dentro de sua relevncia no contexto da

    produo de conhecimento no Estado de So Paulo e no Brasil.

    1.4.2 Forma de apresentao dos dados qualitativos

    No Captulo III, so apresentadas as Doutrinas da Situao Irregular e da Proteo

    Integral, que so os dois grandes paradigmas do Direito da Infncia e Juventude no Brasil,

    buscando contextualizar social e politicamente sua evoluo histrica. Aps, so analisadas

    as teses e dissertaes a partir das trs categorias criadas: o ordenamento institucional, a imposio e execuo de sano e o adolescente.

    Constri-se um dilogo da teoria com o contedo da amostra de 40 teses e dissertaes, buscando nelas expresses das categorias de anlise.

    No Captulo IV, so apresentados os trs grandes paradigmas da Criminologia, Individual (ou positivista), Sociolgico e Crtico. As principais caractersticas de cada um

  • 47

    desses paradigmas so apresentadas, em especial no tocante viso que apresentam sobre a criminalidade juvenil. Da mesma forma que no captulo anterior, busca-se um dilogo entre as 40 pesquisas selecionadas e essas teorias, tentando identificar, a partir das temticas pesquisadas e do exame dos excertos, que indicam objetos/sujeitos em foco,

    metodologias utilizadas e referncias tericas, posies dessas teses e dissertaes a respeito dos temas tratados e da tica que cada um desses paradigmas tm sobre o crime.

    1.5 Pesquisas que no foram includas no universo

    Cabe, por fim, uma referncia a algumas pesquisas que no foram includas no

    universo.

    Ao longo do procedimento de coleta de dados, foram encontradas numerosas

    pesquisas a respeito de crianas e adolescentes em situao de rua ou abandonados, em especial na dcada de 1990. Desde pesquisas de cunho histrico at pesquisas de campo (etnografias, observao participante) a respeito desses sujeitos, dos profissionais que trabalham com a questo ou das instituies que os acolhem ou em que interagem com

    outras crianas e adolescen