28
Setembro de 2010 | ano 02 | n o 03 MUNDO CANA Dos laboratórios à lavoura, as contribuições da pesquisa Etanol Celulósico: a um passo de se tornar realidade Sistematização do solo reduz custos Horizonte promissor, afirma Duarte Nogueira Entrevista

Mundo Cana 3 Sep'10

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Agribusiness Arysta LifeScience Sugar Cane

Citation preview

Page 1: Mundo Cana 3 Sep'10

Setembro de 2010 | ano 02 | no 03

MUNDO CaNaDos laboratórios à lavoura,as contribuições da pesquisa

Etanol Celulósico:a um passo de se tornar realidade

Sistematizaçãodo solo reduz custos

Horizonte promissor, afirma Duarte Nogueira Entrevista

Page 2: Mundo Cana 3 Sep'10

mud

bum

.com

.br

Page 3: Mundo Cana 3 Sep'10

MUNDO CaNa

pág. 10pág. 8

pág. 12

pág. 14

pág. 18

pág. 20

pág. 24

pág. 5

EntrEvistaDuarte Nogueira

“O futuro nos parece bem promissor”

pág. 4

EditorialAntonio Carlos CostaDiretor de Marketing da Arysta LifeScience

UsinaUsina São Martinho (SP)

Os grandes desafios da maior do mundo

UsinaUsina Guarani (SP)Baixos custos,alta produtividade

UsinaUsina Viralcool (SP)De pai para filho,crescimento sólido

ConsUltorAntonio Luiz GazonOrganizando a lavoura ecolhendo produtividade

projEtos Em CanaPrograma Ação

Contribuição da Arystaà informação no campo

ANO 02 - NÚMERO 03

SETEMBRO DE 2010

MUNDO CaNa

A revista Mundo Cana é o veículo decomunicação oficial da Arysta LifeScience

para o mercado sucroalcooleiro.

Coordenação GeralAntonio Carlos Costa

Adriana TaguchiGustavo Gonella

produçãoTexto Assessoria de Comunicações

jornalista responsávelAltair Albuquerque (MTb 17.291)

redaçãoIvan Azevedo

FotosIvan Azevedo e Arquivo Arysta

Projeto Gráfico e Design

Ronaldo Albuquerque

Tiragem2.000 exemplres

Arysta LifeScience do BrasilRua Jundiaí, 50 – 4º andar

São Paulo/SP – Brasil CEP.: 04001-904

Telefone: 55 11 3054-5000 Fax: 55 11 3057-0525

[email protected]

pEsqUisaCarlos Rossell

Incremento de 50%na produção nacional

3

pág. 26

artiGoCaio GiustiA importância da seletividade

pág. 22

manEjoUso de Bioestimulantespotencializa a produção

5

20

22

FornECEdorEsIrmãos Campanelli,

Daniel Aníbal, Valderes Consoli e Antônio Aníbal

Importantes produtores do pólo de Ribeirão Preto (SP)

Page 4: Mundo Cana 3 Sep'10

Os especialistas dizem que, em uma década, a produtividade média do

setor sucroalcooleiro deve dobrar. Com essa expectativa eles interpretam

o incontestável avanço tecnológico e as constantes inovações

incorporadas à atividade.

Essa comprovação é colhida em números. A atual safra brasileira de

cana-de-açúcar é simplesmente a maior da história, devendo ultrapassar

664 milhões de toneladas. A informação é preliminar e pode mudar até o

encerramento da moagem, porém dá a exata noção de como os agentes

da cadeia produtiva trabalham em sintonia para impulsionar a cultura e,

consequentemente, gerar mais divisas ao país em exportação de açúcar e

etanol.

Além do volume recorde de cana, destaca-se o aumento da produtividade

(+ 0,6%), que coloca em 82,1 t/hectare a média nacional, e da área

plantada, que aumentou 9,9% neste ano, segundo levantamento da

Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Devido a esse melhor

desempenho, serão produzidos mais de 28,5 bilhões de litros de etanol e

38,7 milhões de toneladas de açúcar.

Em sua terceira edição, a revista Mundo Cana traz mais exemplos de

produtores, especialistas e indústrias que ajudam, e como, a mostrar a força

do setor sucroalcooleiro. Também mostra novas tecnologias, inclusive em

termos de insumos, que mantêm a atividade em expansão e mais eficiente.

Eficiente e ambientalmente responsável. Cada vez mais salta aos olhos a

função social da energia renovável que, como informa o ex-secretário de

Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Duarte Nogueira,

nosso entrevistado desta edição, comprovadamente emite menos gases

de efeito estufa.

A cana é a melhor aposta do planeta para ampliar em 47% o fornecimento

de energia até 2050, como deseja a ONU. Mais um desafio que tem tudo

para ser vencido pelo setor rural do nosso país.

Boa leitura!Edit

oria

lA maior safra detodos os tempos

4

antonio Carlos Costa, Diretor de Marketing da Arysta LifeScience

MUNDO CaNa

>

Page 5: Mundo Cana 3 Sep'10

Ex-secretário de Agricultura e

Abastecimento do Estado de São

Paulo e atual deputado federal,

Antonio Duarte Nogueira Júnior é

um dos mais atuantes defensores do

agronegócio brasileiro e, especial-

mente, do setor sucroalcooleiro. Ele

acompanha a atividade desde o seu

florescimento e enxerga um poten-

cial indiscutível de crescimento nas

próximas décadas. “O horizonte

nos parece muito promissor”, disse

com exclusividade à reportagem da

revista Mundo Cana. E ele sabe o

que está dizendo. Nesta entrevista,

Duarte Nogueira aborda os desafios

da cana-de-açúcar, mas também as

excepcionais possibilidades de avan-

ço e fortalecimento do negócio para

produtores, usinas e o Brasil.

Qual a importância do setor

sucroalcooleiro para a economia

brasileira? Duarte Nogueira – O

setor tem importância estratégica

para o Brasil. A cana-de-açúcar é

mais competitiva do que qualquer

outra matéria-prima para a produ-

ção de energia renovável alternativa

ao petróleo e não compete com a

indústria de alimentos, como ocorre

com o milho, que é a base para a pro-

dução do combustível nos Estados

Unidos. E, além do etanol, dela são

extraídos o açúcar, a biomassa e uma

série de outros derivados. Estima-se

que utilizamos apenas um terço do

Entrevista Duarte Nogueira

5

MUNDO CaNa

Futuro promissor para a cana brasileiraPalavras do deputado Duarte Nogueira, um dos mais importantes defensores do meio rural e, particularmente, do setor sucroalcooleiro.

potencial de energia da cana. Ou

seja, os horizontes para o Brasil são

os mais promissores. Segundo a ONU

(Organização das Nações Unidas),

até 2050 será necessário aumentar

em 70% a produção de alimentos e

em 47% a de energia. E temos todas

as condições de nos consolidar como

grande fornecedor nessa área.

Como a atividade pode se favore-

cer com a questão ambiental, tão

discutida ultimamente? O senhor

tem números de comparação da

emissão de CO2 do etanol e da

gasolina ou diesel? A questão am-

biental é um dos pontos favoráveis

ao etanol brasileiro. O etanol polui

menos do que o petróleo – estudos

indicam que pode emitir até 80%

menos – e é um combustível mais

neutro (o balanço entre a absorção

de CO2 durante o crescimento da

planta pode anular a emissão duran-

te a produção e queima do combus-

tível, se não houver queima da palha

>

>

DIV

ULG

ãO

“Não há matéria-prima mais competitiva para produção de energia renovável”

Page 6: Mundo Cana 3 Sep'10

6

MUNDO CaNa

da cana). Estudo recente divulgado

pela Unica (União da Indústria de

Cana-de-açúcar), que representa as

usinas, realizado pela Universida-

de de São Paulo e Universidade de

Campinas, mostrou que o uso do

etanol reduziu as emissões dos gases

de efeito estufa em 10% entre 1990 e

2006 – excluindo a parcela devida ao

desmatamento. Para 2020, estima-se

corte de 18% em relação a 1990. Ain-

da segundo o estudo, em 2006 o uso

do etanol como combustível propor-

cionou a redução de 22% das emis-

sões finais dos setores de transporte

e geração de energia e chegará a 43%

em 2020. Creio que esse balanço ca-

racteriza bem a vantagem do etanol

sobre os combustíveis fósseis.

E como lidar com as críticas,

principalmente internacionais, que

culpam as grandes áreas de cana

pelo desmatamento e concorrência

com a produção de alimentos?

Esse é um trabalho de conven-

cimento que deve ser feito pelo

Brasil constantemente em todas as

instâncias e foros de discussão. É

quase uma pregação. A cana ocupa

no Brasil cerca de 8 milhões de

hectares, enquanto a área ocupada

com grãos é de 47,5 milhões/ha. É

possível ampliar a produtividade

tanto da cana como de alimentos

com a utilização de tecnologia.

Há 30 anos, cada hectare de cana

produzia 3.000 litros de etanol. Hoje,

gera quase 7.000. No caso dos grãos,

na safra 1979/80 foram produzidos

1.290 kg por hectare enquanto hoje

produzimos 3.092 kg/ha.

Conclui-se então que há espaços

para o contínuo fortalecimento do

setor sucroalcooleiro e também

para a produção de alimentos

(grão e pecuária) no país?

Sem dúvida. Ainda temos áreas

que podem ser liberadas para a

agricultura, como as pastagens

degradadas, e o uso da tecnologia

proporcionará grandes saltos em

produtividade, além dos que já

tivemos. No início da década de 60,

concentrada no Brasil e Estados Uni-

dos e nenhum outro país arriscará

ficar dependente do fornecimento

brasileiro ou norte-americano. Veja

que as exportações em larga escala

para o Japão, que há anos negocia

com o Brasil, ainda não se concretiza-

ram. E, fora isso, há outros pontos a

ser solucionados, como as barreiras

impostas ao etanol e também à ins-

tabilidade da produção brasileira.

Uma vez commodity, haverá im-

pactos no mercado brasileiro sob

o ponto de vista da produção?

Para o etanol se tornar commodity

é preciso organizar a produção para

evitar as bruscas oscilações de pre-

ços na safra e entressafra. Esse é um

problema que ainda não consegui-

mos superar e que gera insegurança

no mercado externo. No ano passa-

do, em plena safra, encontrava-se

o litro do etanol a R$ 1,00 ou até

menos, enquanto em janeiro, na en-

tressafra, em determinadas regiões

de São Paulo beirava os R$ 2,00. E

se tivéssemos de exportar mais não

teríamos condições porque a oferta

estava ajustada à demanda interna.

É preciso resolver isso de forma

efetiva. O setor precisa ter seguran-

ça para produzir mais, o que passa

pela necessidade da definição de

um marco regulatório.

Acompanhando a tendência de

formação de grandes grupos de

usinas, como os menores devem

agir para sobreviver e, mais do que

isso, se manter atuantes e rentá-

veis? Sempre digo que em qualquer

O SEtOr prEciSa

tEr SEgurança

para prOduzir maiS

E iSSO paSSa pEla

nEcESSidadE da

dEfiniçãO dE um

marcO rEgulatóriO

““

eram precisos 3,5 hectares para

alimentar um habitante e hoje é ne-

cessário apenas 1 hectare/habitante.

Falando da ligação com o mercado

externo, o senhor acredita que o

etanol se tornará commodity? É

possível estimar em quanto tempo

pode ocorrer? Com certeza. Mas é

difícil estimar em quanto tempo isso

ocorrerá porque depende de uma

série de fatores e esse processo é

mais lento do que desejamos. A pro-

dução mundial de etanol continua

Page 7: Mundo Cana 3 Sep'10

7

cadeia de produção a concentração

é um caminho sem volta. As cerca de

420 indústrias são controladas por

200 grupos econômicos. A tendência

é de concentração, com participação

importante de grupos estrangeiros,

já que o setor sucroenergético brasi-

leiro se mostra um grande negócio.

Em 2007, segundo dados da Unica, o

capital estrangeiro controlava 7% do

setor no Brasil e hoje esse percentu-

al chega a 22%. Mesmo assim, creio

que há espaço para que as pequenas

e médias empresas se consolidem,

buscando parcerias estratégicas.

O setor sucroalcooleiro também

contribui e contribuirá ainda mais

para a produção de energia limpa

(eletricidade). Como o senhor ana-

lisa essa questão neste momento?

Sim, já contribui e o potencial é bem

interessante. Segundo dados do

setor, em 2008 a biomassa como um

todo, incorporando bagaço de cana

e palha, representava menos de 5%

da matriz energética. O potencial

de absorção do mercado em 2002

era estimado em 12%. Ou seja, há

potencial muito importante por

parte do setor sucroenergético no

fornecimento na geração de bioele-

tricidade. O que é necessário ocorrer

é a revisão nas regras dos leilões de

energia para estimular a participa-

ção de maior número de projetos de

cogeração a partir da cana.

E em relação ao desempenho dos

segmentos de açúcar, etanol e

energia (eletricidade) em 2010?

O que esperar? Pelas estimativas

já divulgadas para a região Centro-

Sul – responsável por 85% da

produção do setor –, deverá haver

incremento de 10% no volume de

cana processada, chegando a 595,8

milhões de toneladas. A produção

de açúcar crescerá 19%, totalizando

34 milhões de toneladas, enquanto

a de etanol subirá 15%, para 27,3

bilhões de litros. Essas projeções

indicam que os embarques de açúcar

poderão chegar a 24,3 milhões de

toneladas, enquanto os de etanol

tendem a ser menores, em torno de

1,8 bilhão de litros. A safra passada

foi atípica por conta do alto volu-

me de chuva e sobrou cana em pé.

No entanto, o que se estima é um

pequeno aumento de produtividade

e a entrada em funcionamento de

novas indústrias, o que manterá a

produção em ascensão.

Fazendo análise de médio pra-

zo, como o senhor enxerga os

canaviais brasileiros em 2020 em

termos de produtividade e tecno-

logia? Nesse espaço de dez anos

espera-se que a transgenia seja uma

realidade para os canaviais brasi-

leiros e, certamente, os institutos

de pesquisas terão colocado no

mercado variedades cada vez mais

eficientes. Em relação a isso, os

nossos institutos estão entre os

melhores do mundo e só chegamos

neste patamar pela contribuição

desses órgãos e seus pesquisadores.

A indústria certamente continuará

ganhando eficiência e até lá o etanol

celulósico, já viabilizado economi-

camente, representará um salto na

produção do setor. Enfim, o futuro

nos parece bem promissor.

MUNDO CaNa

“Há espaço para que as pequenas e médias empresas se consolidem,

buscando parcerias estratégicas”

DIV

ULG

ãO

Page 8: Mundo Cana 3 Sep'10

MUNDO CaNa

Com moagem estimada em 21,5

milhões de toneladas na safra

2010/11, a Guarani ocupa a tercei-

ra posição do ranking brasileiro do setor

sucroenergético e tem planos de cresci-

mento. Para atingir esse objetivo, investe

em inovações, tendo como base a área de

Desenvolvimento de Tecnologia Agrícola.

“Este departamento busca melhorias con-

tínuas na companhia, principalmente com

a implantação de novas tecnologias na la-

voura e padronização das melhores práti-

8

Safra 2008/2009:996 mil t de açúcar, 482 mil m3 de etanol e 117,8 MWh de energia, informa leonardo Cintra

invEStindO Em pESquiSa E inOvaçãO, a

guarani alia prOdutividadE a baixO cuS-

tO dE prOduçãO para ganhar mErcadO

>

Na vanguardada tecnologia

cas agrícolas de cada unidade”, comenta o

gerente agrícola da unidade de Tanabi (SP),

Leonardo Cintra.

Com sete usinas em São Paulo e uma em

Moçambique, na África, a Guarani produz

cerca de 30% da matéria-prima que esmaga,

sendo 70% por meio de colheita mecaniza-

da. Na última safra o grupo gerou 996 mil

toneladas de açúcar, 482 mil m³ de etanol e

117,8 megawatt hora (MWh) de energia.

Investindo no aperfeiçoamento do processo

produtivo, a área de Desenvolvimento de

IVAN AzEVEDO

Page 9: Mundo Cana 3 Sep'10

Tecnologia Agrícola foca diversas pesqui-

sas, como testes de novos produtos e equi-

pamentos, avaliação e validação de novas

variedades, produção de métodos de con-

trole biológico de pragas e planejamento

da sistematização de solo, entre outros.

Dentre as tecnologias, a Guarani utiliza a

aplicação de calcário e gesso agrícola nas

áreas de plantio e soqueira em taxa variada

(ATV), seguindo as recomendações geradas

a partir dos resultados de amostras de solo

georreferenciadas. Além disso, desenvolve

um equipamento para aplicação de nitro-

gênio, fósforo e potássio em taxa variada,

buscando formular o insumo no campo por

meio dos resultados de análise de solo e

imagens de satélite.

Outro ponto relevante é o desenvolvimen-

to interno do controle biológico de pragas,

que atualmente trabalha para combater

dois importantes problemas da lavoura: a

broca da cana e a cigarrinha da raiz. A re-

produção da vespinha Cotesia flavipes, para

controlar a broca, e do fungo Metarhizium

anisopliae, contra a cigarrinha da raiz, são

fundamentais para alavancar a produtivi-

dade agrícola e me-

lhorar a qualidade

da matéria-prima.

Nesse momento, uma

das frentes de tra-

balho de inovação

da Guarani é a uti-

lização de imagens

de satélites para

identificar possíveis

anomalias vegetati-

vas nos canaviais. O

Sistema de Informação Georreferenciada

(SIG) registra imagens amplas da lavou-

ra, possibilitando analisar pontos isolados

(manchas) que não apresentam o mesmo

IVAN AzEVEDO

9

desenvolvimento ve-

getativo dos demais,

viabilizando a corre-

ção antecipada após

a identificação do

agente causal (pra-

gas, doenças, pedo-

logia etc). “Estamos

em fases de validação desta ferramenta,

mas a pretensão é expandir, visando a ver-

ticalização da produção”, ressalta o gerente

Leonardo Cintra.

Além disso, a Guarani utiliza sistemas especí-

ficos de planejamento

de colheita e trans-

porte de cana-de-

açúcar, auxiliando a

definição das melho-

res áreas para o corte,

maximizando a pro-

dutividade das má-

quinas, assim como a

qualidade da matéria-

prima. Toda tecnolo-

gia desenvolvida pela

empresa é repassada aos fornecedores em

reuniões técnicas e publicações específicas,

buscando maior rendimento e qualidade em

todas as áreas de atuação.

MUNDO CaNa

Novas tecnologias ajudam a Guarani a aumentar produção

atualmEntE

trabalhamOS para

cOmbatEr aS duaS pragaS

dE maiOr prEjuízO aOS

canaviaiS: a brOca da cana

E a cigarrinha

da raiz

“ “

Page 10: Mundo Cana 3 Sep'10

Pradópolis é um pequeno município

do interior de São Paulo, com ape-

nas 16 mil habitantes. Pequeno em

tamanho, grande em importância para a

economia rural. Lá está a Usina São Marti-

nho, do grupo do mesmo nome. Trata-se da

maior do mundo em quantidade processada

de cana-de-açúcar e parada obrigatória de

líderes empresariais e políticos de várias par-

tes do planeta que vêm ao Brasil conhecer o

setor sucroalcooleiro.

Na última safra, a São Martinho moeu 8,172

milhões de toneladas de cana-de-açúcar; nes-

ta, pretende utilizar 8,5 milhões de t, o que

deverá gerar 600 mil t de açúcar tipo exporta-

ção e 325 milhões de litros de etanol.

“São números que simbolizam os re-

sultados dos investimentos em pes-

soas, que realizamos periodicamente por

meio de constante treinamento, rigidez na

qualificação e foco em produção e eficiên-

cia”, comenta o diretor agroindustrial da

unidade, Mário Gandini.

No total, são 4 mil colaboradores empenhados

não apenas em manter a alta produtividade

mas em buscar sempre mais. “Levamos muito

a sério o aperfeiçoamento técnico dos cola-

boradores. Entendemos que o conhecimento

multiplica os resultados e não medimos esfor-

ços para ter equipes realmente empenhadas

em fazer o melhor”, ressalta Gandini.

O treinamento não fica apenas no campo da

eficiência. A São Martinho também oferece

palestras sobre educação empresarial aos

funcionários. “Aqui na unidade trabalhamos

sempre com o ‘muito obrigado’, ‘por favor’ e

MUNDO CaNa

A maior do mundo aposta nas pessoas

4 mil cOlabOradOrES mOtivadOS mOvi-

mEntam a SãO martinhO, maiOr uSina dE

mOagEm dE cana dO planEta

10

Mário Gandini:o sucesso está em pessoas comprometidas

>

Page 11: Mundo Cana 3 Sep'10

11

‘com licença’, tornando o clima bem agradá-

vel e educado entre os colaboradores. Todos

são tratados da mesma maneira, indepen-

dente do cargo ou tempo de casa, e faze-

mos questão de investir nesta área porque

acreditamos que o ambiente de trabalho

está diretamente relacionado ao rendimen-

to pessoal”, enfatiza o diretor.

O aperfeiçoamento é, assim, base de atua-

ção da empresa. Os colaboradores são in-

centivados a progredir e, para isso, podem

receber bolsas de estudo de níveis técnico,

graduação e pós-graduação. Com essas e

outras iniciativas, a organização tem funcio-

nários motivados, atualizados, versáteis e,

especialmente, comprometidos.

Toda essa preocupação com os funcionários

é essencial para a usina ser gerenciada com

sucesso. “Moer 45 mil t por dia, buscando

cana em raio médio de 27 quilômetros, traz

muitos desafios. Como a logística envolve di-

versos detalhes, o tamanho da operação faz

essas surpresas se multiplicarem no dia a dia

e o desafio é lidar da melhor forma possível

com cada obstáculo”, explica Mário Gandini.

Uma dessas adversidades é o transporte da

produção, especialmente por via marítima.

Para ganhar agilidade e reduzir os custos,

a São Martinho utiliza um ramal ferroviário

na própria unidade, que escoa etanol e açú-

car até o Porto de Santos.

“As 600 mil t de açúcar que produziremos

nesta safra são colocados diretamente

nos vagões da nossa unidade. É uma lo-

gística tremenda, que utiliza o trabalho

direto de centenas de pessoas. Ao com-

pararmos com o transporte rodoviário,

atingimos redução de custos de 20%.

É um ganho e tanto”.

O cOnhEcimEntO

multiplica OS

rESultadOS E nãO

mEdimOS ESfOrçOS para

tEr EquipES

rEalmEntE EmpEnhadaS

Em fazEr O mElhOr

IVAN AzEVEDO

São Martinho esmaga 8,5 mi t por safra

MUNDO CaNa

o GrUpo são martinho Em númEros

A Usina São Martinho é a maior do grupo, mas não a única. Há duas ou-

tras unidades estrategicamente localizadas no interior do Estado de São

Paulo e em Goiás, além da Omtek, que produz derivados de levedura com

base em biotecnologia para alimentação humana e animal. São elas:

Usina São Martinho, em Pradópolis (SP)

Fundada em 1948 e hoje com 4 mil colaboradores, é uma das mais modernas

do país não apenas pelo porte, mas também pelos avançados processos pro-

dutivos nas áreas agrícola e industrial e uma logística privilegiada.

Usina Iracema, em Iracemápolis (SP)

Localizada em um dos primeiros pólos de desenvolvimento da indústria açu-

careira paulista no século passado, tem mais de 70 anos de experiência na

fabricação de etanol e açúcar e conta com 2 mil colaboradores.

Usina Boa Vista, em Quirinópolis (GO)

Inaugurada em 2008, é uma das mais modernas usinas do mundo. Sua ca-

pacidade inicial de processamento de cana é de 2,5 milhões de toneladas. A

unidade emprega 1,6 mil colaboradores.

Page 12: Mundo Cana 3 Sep'10

cOm 24 anOS dE atuaçãO, viralcOOl prE-

SErva EStrutura familiar maS EvOlui

cOm cOmpEtência E divErSificaçãO

12

De um simples alambique a um dos

mais renomados grupos do setor

energético brasileiro. Esta é a

trajetória da Família Tonielo, que em 1966

iniciou na produção de aguardente inaugu-

rando a Destilaria Santa Inês, em Sertãozi-

nho, nas proximidades de Ribeirão Preto

(SP). Tudo começou pelo suor e visão de

Eduardo Tonielo, pai do atual comandante

da empresa, Antonio Tonielo.

Representante de uma geração de pionei-

ros e desbravadores, o patriarca Eduardo

MUNDO CaNa

Grupo Toniello unegerações para crescer

IVAN AzEVEDO

Antonio Toniello: estilo familiar preserva crescimento e solidez

Page 13: Mundo Cana 3 Sep'10

percebeu a oportunidade de crescimento e

impulsionou os negócios. Antonio juntou-se

ao trabalho do pai e incorporou novos con-

ceitos. O resultado comprova que pai e fi-

lho souberam aproveitar as oportunidades.

Uma terceira geração já se une ao desafio de

continuar em expansão.

O ano de 1984 é importante para analisar a

trajetória dos Tonielo, pois marca o início da

construção da Usina Viralcool Unidade I, em

Pitangueiras, também na região de Ribeirão

Preto. Com este empreendimento, nascia

oficialmente o Grupo Toniello. Esta mesma

unidade foi responsável pela fabricação de

levedura desidratada e açúcar cristal em

1998, incrementando a gama de produtos e

visando o mercado externo.

Em 2006, foi dado novo importante passo

para o fortalecimento do grupo, com a cons-

trução de uma unidade em Castilho (SP),

próximo à divisa com o Mato Grosso do Sul.

“Com o desenvolvimento sólido que marca a

nossa história, identificamos a oportunidade

de investir em mais uma usina, ampliando a

13

produção. Assim nasceu a Viralcool Unidade

II”, comenta Antonio Tonielo.

O Grupo Toniello está estruturado e ti-

nha capacidade para moer na última safra

6 milhões de toneladas de cana e alcançar

a produção de 3 milhões de toneladas de

açúcar, 200 milhões de litros de etanol e 3

mil toneladas de levedura. Adicionalmente,

volta sua atenção para a produção de ener-

gia elétrica a partir da unidade de Castilho,

que conta com turbinas a vapor.

O sucesso desta empresa familiar, a partir do

trabalho iniciado por Eduardo Tonielo, é fruto

do zelo daqueles que trabalham com apego

ao negócio. “Damos muito valor à empresa e

à história que ela carrega. Por isso, avaliamos

os riscos e analisamos os gastos e os inves-

timentos com muita atenção. Sem dúvida,

este é um dos nossos pontos fortes”, ressalta

Antonio Eduardo Tonielo Filho, representan-

te da terceira geração nos negócios.

MUNDO CaNa

damOS muitO valOr à

EmprESa E à hiStória quE

Ela carrEga. pOr iSSO,

avaliamOS OS riScOS E

analiSamOS OS gaStOS E OS

invEStimEntOS cOm muita

atEnçãO. SEm dúvida,

EStE é um dOS nOSSOS

pOntOS fOrtES

IVAN AzEVEDO

Moagem aumenta safra a safra

Page 14: Mundo Cana 3 Sep'10

De olHo Nos iNDicaDores De ProDução

Vindo diretamente da Itália para o

interior de São Paulo, mais precisa-

mente para Ariranha, a 380 quilô-

metros da capital

paulista, o avô

dos irmãos Fábio

e Victor Campa-

nelli, Ectore Pas-

coal Campanelli,

começou pelo

café o contato

com a produção

agrícola. Com o

passar dos anos,

novas terras fo-

ram incorporadas, mas a deprecia-

ção do preço do café culminou com

a substituição da cultura por laranja.

No topo,entre os maiores

MUNDO CaNa

Novos investimentos em áreas e o

tempo passando. E mais uma vez a

família sentiu a necessidade de mu-

dar a lavoura, iniciando o plantio da

cana-de-açúcar a partir de 2001.

Foram 455 hectares de cana no pri-

meiro ano, e a cada safra a área foi

se multiplicando,

chegando aos 8

mil hectares.

Atualmente, 98%

da colheita são

m e c a n i z a d o s .

“A eficiência au-

menta à medida

que utilizamos a

colheitadeira”,

informa Victor

Campanelli.

A idade média da lavoura dos Cam-

panelli é, hoje, de 3,8 anos, com

produtividade média de 110 t/ha.

14

Conheça a história de quatro produtores de destaque que apontam tecnologia e mecanização como primordiais para o sucesso.

IRMãOS

CAMPANELLI APRO-

VEITAM AS MODER-

NAS TECNOLOGIAS

PARA BUSCAR MAIS

EFICIêNCIA NA

PRODUçãO

IVAN AzEVEDO

Quatro fornecedores localizados

nos arredores de Ribeirão Preto (SP)

expõem as práticas utilizadas nos

canaviais para atingir índices de pro-

dutividade de até 115 toneladas por

hectare, sendo que ainda esperam

melhores resultados com a reforma

de áreas degradadas. São experiên-

cias pessoais importantes das diver-

sas mudanças no trato da lavoura du-

rante os últimos 30 anos e de quem

apostou na cana-de-açúcar e venceu.

Victor e Fábio Campanelli

Page 15: Mundo Cana 3 Sep'10

“Mas deveremos avançar nos próxi-

mos anos devido à reforma de uma

área degradada”, ressalta Victor.

No canavial da família, há lavouras

de 10º corte que proporcionam 95 t

de cana por hectare.

Victor e Fábio são pioneiros na utili-

zação de equipamentos com GPS na

lavoura. Sempre olhando com muito

interesse para as novas tecnologias

disponíveis, eles fazem sistemati-

zação do solo.

“Estamos melhorando nossa produ-

tividade visando ampliar a colheita,

porque não há mais terras disponí-

veis para expansão. Confiamos na

melhoria dos indicadores nos próxi-

mos anos a partir do uso contínuo de

técnicas modernas”, afirma Fábio.

“Os agricultores precisam estar

sintonizados com os avanços. Não

podemos mais ficar sem novidades

nem por uma safra, sob o risco de

perda de competitividade. Nossa

decisão, tomada desde o início do

investimento em cana-de-açúcar, é

estar entre os projetos inovadores.

Os resultados aparecem”, comple-

menta Victor.

MUNDO CaNa

De olHo NofuturoCom visão de futuro aliada à cora-

gem, o agricultor Daniel Aníbal, de

Cravinhos (SP), mudou o rumo da

sua história há nove anos, quando

poucas usinas investiam na mecani-

zação da colheita. O antigo cortador

de cana percebeu que um dia as má-

quinas prevaleceriam nos canaviais

e resolveu sair na frente, apostando

na redução de custos operacionais.

“Na época, procurei transbordo

usado em algumas usinas da região

para reformá-los e levantei crédito

para as colheitadeiras. Com juros

baixos do banco e da cooperativa,

tive a oportunidade de adquirir o

equipamento necessário sem pre-

cisar diminuir os tratos culturais”,

lembra o produtor.

Com a utilização do maquinário,

Daniel incrementou a produtivi-

dade e ampliou a área de plantio,

com a compra ou o arrendamento

de terras vizinhas. “Comecei com

uma unidade relativamente peque-

na e hoje são 14 propriedades, que

somadas chegam a 2.040 hectares.

Tomei a decisão certa. Atualmente,

fazer investimento em colheitadei-

ra é um passo arriscado devido aos

altos custos e aos elevados juros.

Ainda bem que comecei quando

poucos acreditavam”, comenta o

agricultor de Cravinhos.

Daniel Aníbal utiliza diversas tecno-

logias na lavoura para intensificar a

produtividade, já que não há muitas

áreas para ampliação na sua região

ou os preços inviabilizam. “A intenção

é crescer organicamente, buscando

usar o máximo de tecnologia para

15

DANIEL ANíBAL

INVESTIU ANTES

QUE MUITOS NA

MECANIzAçãO DA

LAVOURA E

COMEMORA OS

RESULTADOS

Um dos segredos de Daniel Aníbal: investir e ter convicção no sucesso

Page 16: Mundo Cana 3 Sep'10

MUNDO CaNa

incrementar a produção, corrigindo

o solo e fornecendo o que há de me-

lhor para a planta. Os resultados apa-

recem na hora da colheita”, afirma.

Se hoje pode falar, com orgulho,

da boa produtividade proporcio-

nada pela colheita mecanizada,

no passado Daniel Aníbal pegava o

facão e cortava cana, assim como

a própria mãe, também cortadora.

“Digo com orgulho que de cana eu

entendo, até porque nasci (e isso

não é figura de retórica: ele nasceu

mesmo no canavial) e cresci em um

canavial. Fico muito satisfeito ao

ver que todo o esforço de uma vida

gera frutos”, diz.

iNceNtivo Para o sucessoEm 1975, Valderes Consoli era ven-

dedor de arroz em Pitangueiras

(SP); em 2010, ele é um dos fornece-

dores de usinas no principal pólo ca-

navieiro do País, a região de Ribei-

rão Preto, no interior de São Paulo.

“Na época em que o governo fede-

ral iniciou a campanha de incentivo

ao álcool, resolvi apostar no futuro.

Tudo o que conquistei em minha

vida devo à cana”.

Apesar das diversas alterações no

setor sucroalcooleiro nos últimos 35

anos, Valderes considera as inova-

ções tecnológicas os maiores mar-

cos para os produtores. “Lembro da

época em que dependíamos de mui-

Ex-COMErCiANTE

ENTROU NA AGRI-

CULTURA NA ÉPOCA

DO PROÁLCOOL E

NãO SE ARREPENDE

DA DECISãO

16

IVAN AzEVEDO

Atenção às necessidades da planta também é fundamental, recomenda Consoli

Page 17: Mundo Cana 3 Sep'10

maquinário para iniciar a produção”,

lembra, com orgulho, Antônio Ge-

raldo Aníbal, produtor com 50 anos

de experiência em cana-de-açúcar.

E o negócio deu certo. A família pas-

sou a colher frutos nas safras seguin-

tes e a aumentar a área plantada a

cada ano. Atual-

mente, Antônio

tem dez proprie-

dades e arrenda

outras tantas na

região de Ribei-

rão Preto.

Além do trabalho

árduo e do espíri-

to empreendedor,

outro fator fun-

damental foi a aposta na tecnologia.

“Poderíamos iniciar a produção fi-

nanciando apenas a terra, mas deci-

dimos contar com o maquinário mais

moderno da época, porque quería-

mos introduzir tecnologia, visando

produtividade”, comenta o produtor.

Assim, com o passar dos anos novas

técnicas e insumos foram incorpora-

dos à lavoura. Para Antônio, este é

mais um dos fatores que proporcio-

nam, ainda hoje, o crescimento con-

tínuo da safra. “Nas últimas décadas

tivemos inovações importantes e

a tecnologia deve ser empregada

cada vez mais,

principalmente

no momento em

que não se encon-

tram novas terras

para expandir o

canavial”.

Com os bons

resultados dos

últimos anos,

Antônio Aníbal

pretende investir em novas máqui-

nas, tornando a colheita mecanizada

mais independente, já que as usinas

têm diversos fornecedores para aten-

der e nem sempre conseguem colher

no melhor momento possível. Hoje,

30% dos 2.500 hectares de cana já

são colhidos mecanicamente.

17

MUNDO CaNa

NOSSO OBJETIVO,

DESDE O INíCIO,

FOI APOSTAR NA

TECNIFICAçãO.

ESTÁVAMOS CERTOS

“Novas áreas estão valorizadas:

saída é a eficiência, diz Aníbal

IVAN AzEVEDO

ta mão-de-obra no trato da lavoura

e os índices de produtividade eram

baixos. Com o passar dos anos, o

advento da mecanização e outras

técnicas possibilitaram aumento da

eficiência ao mesmo tempo em que

os custos operacionais caminharam

em sentido contrário. Hoje, pratica-

mente só a máquina trabalha na co-

lheita”, ressalta.

Para ele, os detalhes no trato da

lavoura no dia a dia fazem dife-

rença na hora do corte da cana.

Os números da sua lavoura funda-

mentam essa afirmação e mostram

incremento de produtividade de

expressivos 40% em cinco anos.

“Corrigir o solo, aplicar o herbici-

da correto e estar de olho no que

aparece de novidade são funda-

mentais para o bom resultado. Isso

eu falo e comprovo com as mudan-

ças de trato em minhas terras”,

comenta Valderes Consoli.

Da NecessiDaDe ao sucesso

Após longos anos cortando cana nas

lavouras da região de Ribeirão Preto

(SP), a família Aníbal decidiu inves-

tir em um canavial próprio e, assim,

proporcionar melhores condições

de vida. Essa iniciativa ocorreu na

década de 1960, época de juros bai-

xos e condições favoráveis de inves-

timento. Com isso, veio o sucesso do

planejamento. “Só pude estudar até

a quarta série, porque precisei aju-

dar meus pais na roça. Com o desejo

de sair daquela situação, pegamos

financiamento do governo a juros

de 2,5% ao ano e compramos terra e

Page 18: Mundo Cana 3 Sep'10

Decisãointeligente

SiStEmatizaçãO dO SOlO pOdE Otimizar aS

máquinaS E aumEntar a prOdutividadE

dO canavial, cOm rEduçãO dE cuStOS

MUNDO CaNa

18

Com a colheita mecanizada se con-

solidando nas lavouras brasileiras,

a sistematização de solo torna-se

iniciativa essencial para otimização das má-

quinas e garantia da alta produtividade, con-

tribuindo ainda com a longevidade dos cana-

viais e a redução dos custos da colheita.

A sistematização baseia-se no prolongamen-

to das linhas de cana, os chamados tiros, dei-

xando a máquina colhendo o maior tempo

possível, sem desperdício de manobras, que

não devem exceder o tempo médio de um

minuto. “É necessário estudar a área para

diminuir a quantidade de tiros, buscando

reduzir os custos operacionais da colheita”,

recomenda o consultor Antonio Luiz Gazon.

Acompanhem um exemplo: supondo um

hectare de 50 metros de largura por 200

de comprimento, com plantação de 133 li-

nhas de cana e espaçamento de 1,5 metro,

são necessárias 133 manobras para colher a

totalidade da área. Como a média das ma-

Antonio Gazon: organizar a

colheita e obter produtividade

>

IVAN AzEVEDO

Page 19: Mundo Cana 3 Sep'10

Decisãointeligente

nobras gira em torno de um minuto, serão

gastas 2 horas e 13 minutos. Já no caso da

disposição da planta inversa, com 33 linhas

em paralelo aos 200 metros, são realizadas

apenas 33 manobras, com uso de 33 mi-

nutos da colheitadeira. Ou seja: economia

de uma hora e 40 minutos em relação à

primeira situação.

“Esse tipo de vantagem pode significar

uma colheitadeira a menos na lavoura”,

comenta Gazon. E uma máquina signifi-

O mundO EStá cada

vEz maiS intErESSadO

nO cOmbuStívEl limpO

E, para iSSO,

prEciSamOS invEStir nO

aumEntO da OfErta

MUNDO CaNa

ca investimento na casa de um milhão de

reais, além do transbordo e do custo de

uma equipe especializada.

“Há máquinas com potencial de colheita de

até 1.000 toneladas por dia. Muitos agri-

cultores podem não acreditar, porque têm

lavoura mal distribuída e colhem 400 tone-

ladas por dia devido ao excesso de mano-

bras”, exemplifica Gazon.

A sistematização do solo também pro-

porciona incremento de produtividade da

lavoura com a retirada das curvas de ní-

vel (também conhecidas como terraços),

mesmo em áreas de declive, desde que se

cubra o solo com palha, evitando exposição

à chuva e ao sol. “A retirada dos terraços

requer a mesma atenção devida às águas

das propriedades vizinhas: se não se cuidar

desviando essas águas, elas arrastarão a

palhada e o solo”, comenta o consultor.

Ao realizar a renovação da lavoura, Anto-

nio Luiz Gazon também indica a escolha de

uma leguminosa para proteger o solo en-

quanto não chega a época de plantação da

cana-de-açúcar.

Sistematização bem feita pode representar uma colheitadeira a menos

19

IVAN AzEVEDO

Page 20: Mundo Cana 3 Sep'10

Mais uma fronteira na energia renovável

Até recentemente, as usinas des-

cartavam o excedente do bagaço

da cana-de-açúcar porque não

tinham o que fazer com ele. Mas isso está

mudando rapidamente. Nos próximos anos

esses resíduos poderão ser responsáveis

por salto de ao menos 50% na produção de

combustível. Composto por 65% de celulo-

se e hemicelulose, o bagaço, junto com a

palha, pode ser transformado em etanol de

segunda geração.

Atualmente, a tonelada de cana gera cerca

de 90 litros do combustível. Ao se consi-

derar o uso do bagaço, a quantidade final

somaria 135 litros, segundo estimativas do

Laboratório Nacional de Ciência e Tecnolo-

gia do Bioetanol (CTBE), órgão do Ministé-

rio da Ciência e Tecnologia (MCT), que atua

como centro de pesquisas, desenvolvimen-

to e inovação na área de bioetanol de cana

no Brasil. “Os cálculos de produção são ba-

seados em processos laboratoriais. Portan-

to, a indústria pode atingir resultados ex-

pressivos com o bagaço”, comenta Carlos

Eduardo Vaz Rossell, diretor do Programa

Industrial do CTBE.

Os pontos positivos para a produção de

combustível com o bagaço são diversos.

MUNDO CaNa

prOduçãO dE cOmbuStívEl ‘vErdE’ pOdE

aumEntar Em 50% cOm nOva tEcnOlOgia Em

dESEnvOlvimEntO, afirma pESquiSadOr

20

IVAN AzEVEDO

Etanol celulósico: novidade pode revolucionar setor energético, confia Rossell

Page 21: Mundo Cana 3 Sep'10

as enzimas utilizadas oneram a produção,

impossibilitando a implantação em sistema

industrial. O CTBE é um dos centros que

trabalham para descobrir uma enzima eco-

nomicamente viável.

“As pesquisas desenvolvidas em diversos

países, tendo os Estados Unidos como

maior investidor mundial, objetivam iden-

tificar uma enzima capaz de tornar a hidró-

lise rápida e barata. Isso pode acontecer a

qualquer momento. Por isso, não há como

estipular um prazo para o etanol celulósico

se tornar viável para a indústria, mas não

há dúvida de que poderá se tornar realida-

de e ajudar a potencializar ainda mais os

benefícios da cana-de-açúcar”, completa

Carlos Rossell.

Além do consequente aumento de renda

para as usinas, o etanol de segunda gera-

ção ganha apelo maior em relação à susten-

tabilidade, ajudando a derrubar a pressão

internacional, que aponta indevidamente

a cana-de-açúcar como concorrente da

produção de alimentos e também por des-

matamento de florestas. Além disso, há ga-

nhos na exportação a partir do excedente

produzido, já que atualmente consumimos

mais de 80% do etanol disponível.

Para tornar o processamento do bagaço

comercialmente viável, alguns gargalos

precisam ser eliminados na produção.

Para começar, o bagaço deve ser desestru-

turado, ou seja, submetido a um processo

para separar a lignina da celulose.

Livre, a celulose é hidrolisada com enzimas

específicas convertendo-se em glicose (essa

etapa poderia ser realizada com ácidos, mas

estudos recentes mostram que com enzi-

mas o resultado é mais produtivo).

A partir dessa etapa, o processo é seme-

lhante ao realizado com a garapa: a glico-

se é fermentada, obtendo-se o etanol, que

é destilado.

O grande gargalo está na hidrólise, já que

nãO há dúvida quE O

EtanOl cElulóSicO

pOdErá SE tOrnar

rEalidadE E ajudar a

pOtEncializar ainda

maiS OS bEnEfíciOS da

cana-de-açúcar

21

Tecnologias incorporam ganhos indiscutíveis ao

setor sucroalcooleiro

IVAN AzEVEDO

MUNDO CaNa

Page 22: Mundo Cana 3 Sep'10

Tecnologia a favorda produtividade

dEmanda crEScEntE ExigE maiOr rEndi-

mEntO da prOduçãO, quE pOdE SEr ObtidO

cOm O uSO dE biOEStimulantES na cultura

A união da consistente demanda

mundial por etanol e açúcar no

momento à tendência de alta para

os próximos anos faz com que o setor su-

croalcooleiro se depare com o desafio da

produtividade, exigindo a implantação das

mais modernas tecnologias disponíveis para

obter ganhos de eficiência, especialmente

MUNDO CaNa

devido à necessária expansão da cultura em

áreas menos favoráveis ao plantio.

Apesar de a cana-de-açúcar ter capacidade

produtiva de até 300 toneladas por hectare,

segundo o pesquisador Silvio Tavares, da

Agência Paulista de Tecnologia dos Agrone-

gócios (APTA), a média nacional não ultra-

passa 90 t/ha, confirmando que melhorias

ainda podem e devem surgir no trato da la-

voura. Para Tavares, o desafio é fornecer as

condições mais próximas possíveis do ideal

para a planta. “O ambiente propício e a nu-

trição são dois pontos fundamentais para

a produtividade, e o bioestimulante é uma

das formas de oferecer as propriedades

básicas para o melhor desenvolvimento da

cultura”, comenta o especialista da APTA.

O bioestimulante é obtido ao se agrupar

dois ou mais biorreguladores, que são hor-

mônios vegetais naturais. Dois hormônios

sintéticos constantemente utilizados na

lavoura, a Auxina e a Citocinina, responsá-

veis por estimular o crescimento da planta

– aplicados prioritariamente no sistema ra-

dicular –, são fundamentais principalmente

em solos arenosos, nos quais a profundida-

de da raiz tem grande influência no resulta-

do final da produção.

>

IVAN AzEVEDO

Silvio Tavares verifica no campo os bons resultados gerados em laboratórios

22

Page 23: Mundo Cana 3 Sep'10

Outros hormônios utilizados no canavial

são o Etileno, capaz de maturar a planta,

e a Giberilina que, em conjunto com a Au-

xina e a Citocinina, é utilizada para o cres-

cimento da planta. A ausência desses bio-

reguladores diminui a produtividade, mas

o excesso também é

proporcionalmente

maléfico. Por exem-

plo: quanto maior for

a superdosagem me-

nor é a produtivida-

de. “Está aí o maior

obstáculo: identificar

a quantidade ideal

de cada substância

para os diferentes

ambientes e varie-

dades. Adicionamos

os hormônios visan-

do crescimento de

raízes e pontas, mas quanto mais ultrapas-

samos o nível ideal mais desfavorável será

o resultado”, explica Tavares.

Nesse sentido, a unidade da APTA, de Pi-

racicaba (SP), realizou diversos testes para

estipular a quantidade adequada de aplica-

ção de bioestimulantes na lavoura de cana.

Porém, os resultados daquela área não po-

dem ser referência para outras regiões,

devido às diferenças de solo, clima e varie-

dades cultivadas. Atualmente, a APTA de

Andradina (SP) tam-

bém realiza experi-

mentos para levar a

informação ao pro-

dutor, já que existe

o interesse dos agri-

cultores na utilização

de bioestimulante.

Para Silvio Tavares, a

procura e a utilização

de bioestimulante

nos canaviais devem

crescer nos próximos

anos. “O mercado é

exigente e busca no-

vas tecnologias em prol da produtividade

e os bioestimulantes devem ser considera-

dos. Imagino que será um insumo muito útil

nos canaviais, contribuindo para dobrar a

produtividade da cana até 2020”.

MUNDO CaNa

ambiEntE prOpíciO

E nutriçãO SãO fun-

damEntaiS para a prO-

dutividadE, E O biOES-

timulantE é uma daS

fOrmaS dE OfErEcEr aS

prOpriEdadES báSicaS

para O mElhOr dESEn-

vOlvimEntO da cultura

“IVAN AzEVEDO

23

Experimento mostra diferença entre as canas tratadas

com e sem bioestimulantes

Page 24: Mundo Cana 3 Sep'10

prOgrama açãO, da arySta, fOrnEcE in-

fOrmaçõES técnicaS para prOdutOrES

intEnSificarEm OS rESultadOS prOdutivOS

Arecorrente necessidade de novos

conhecimentos por parte de pro-

dutores e técnicos do setor sucro-

alcooleiro levou a Arysta Lifescience a idea-

lizar o Projeto Ação, cuja principal função é

suprir essa carência no dia a dia do campo

contribuindo para incrementar a produti-

vidade nacional a partir da utilização dos

recursos técnicos e das novas tecnologias

disponíveis. “Nossa proposta é chegar ao

agricultor e fazer a diferença no seu cotidia-

no, introduzindo novidades necessárias nos

processos para melhorar os tratos culturais,

visando melhor rendimento de colheita”,

explica Ricardo Dias, gerente de marketing

da Arysta Lifescience.

A primeira etapa do projeto envolve duas

cooperativas de São Paulo. Na sequência,

o Projeto Ação será levado às demais re-

giões produtoras de cana do Brasil. Os di-

versos serviços prestados pela empresa,

como o Aplique Bem (apoio itinerante aos

produtores rurais para a utilização correta

de defensivos agrícolas, evitando danos

ambientais e reduzindo custos sociais), for-

necerão suporte ao projeto. “A demanda

por informações não vem apenas de pro-

dutores, mas também do corpo técnico das

MUNDO CaNa

Disseminandoinformação ao campo

IVAN AzEVEDO

Arysta trabalha para colocar novas tecnologias no campo

24

Page 25: Mundo Cana 3 Sep'10

cooperativas e da equipe de vendas. Por

isso, utilizaremos esse suporte dos progra-

mas consolidados e criaremos novos bra-

ços de comunicação entre as cooperativas

e a Arysta, facilitando a disseminação das

novidades tecnológicas”, comenta o geren-

te de vendas de cana, Cláudio Ramos.

O primeiro passo se baseia na identificação

das necessidades das próprias cooperativas

para, depois, elaborar o projeto personali-

zado conforme a demanda específica. “O

diferencial deste trabalho é que ele é versátil,

primEirO paSSO

é idEntificar aS

nEcESSidadES dOS prO-

dutOrES E, EntãO,

ElabOrar prOjEtOS

pErSOnalizadOS

““

conforme a necessidade do cliente. Não é

um pacote pronto no qual os parceiros de-

vem se encaixar”, aponta Ricardo Dias.

Entre os pontos mais importantes do Pro-

jeto Ação estão as informações privilegia-

das de novas tecnologias, palestras e dias

de campo, treinamento, informações de

mercado e de tratos culturais e até consul-

toria. Um dos braços fundamentais, além

do Aplique Bem, é o Projeto Kenkou, que

já treinou mais de nove mil agricultores

em todo o País e em 2010 recebeu o Prê-

mio Mérito Fitossanitário, da Associação

Nacional de Defesa Vegetal (Andef). “O

programa oferece todo o apoio possível ao

aprimoramento da cultura sucroalcooleira,

visando os grupos de produtores que lidam

diretamente com defensivos agrícolas. Por

meio de sete conceitos, introduzimos há-

bitos de segurança em relação à utilização

dos insumos. Com o projeto, a Arysta deve

integrar o conhecimento de ponta às ne-

cessidades do homem do campo, levando

inovações para o setor sucroalcooleiro”,

enfatiza Cláudio Ramos.

25

MUNDO CaNa

Manejo pós-colheita está entre os tópicos do programa da Arysta

IVAN AzEVEDO

Page 26: Mundo Cana 3 Sep'10

A importância do estudo do com-

portamento dos herbicidas em

diferentes variedades de cana-de-

açúcar torna-se de fundamental

relevância para a tomada de deci-

são no posicionamento a campo

das doses dos produtos. Aliando-

se a outros parâmetros de análise,

como característica da brotação e

adaptabilidade de cada variedade

em épocas e ambientes distintos,

percentagem de matéria orgânica

e argila dos solos, características de

drenagem do solo, época da aplica-

ção (pluviometria), temperatura e

presença ou não de palha no solo,

está a questão da fotodegradação

do produto, independentemente

A importância da seletividadedos herbicidas

26

MUNDO CaNa

se a molécula herbicida aplicada se

posiciona intrínseca à palha, sob ou

sobre a palha, o que determinará a

dose segura a ser pulverizada para

alcançar o índice máximo no tripé

eficácia/residual/seletividade.

Antecipando-se às necessidades

futuras dos nossos clientes, a Arys-

ta LifeScience desenvolve projetos

inovadores no mercado direciona-

dos a desmistificar a questão da

seletividade em variedades de alta

expressão de cultivo atual e futuro

que estão ou poderão ser tratadas

com herbicida. Com isso, o depar-

tamento de desenvolvimento de

produtos e mercados trabalhou

profundamente para identificar

junto aos clientes as principais va-

riedades cultivadas atualmente e

com grande expressão regional,

como também variedades de alto

potencial de cultivo futuro, como

as do Centro de Tecnologia Cana-

vieira (CTC).

Identificados estes dados, a Arysta

implantou, em 2009, inúmeros pro-

jetos em seu Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento, em Pereiras (SP),

em parceria com uma usina próxi-

ma, além de projetos com usinas

das regiões tradicionais do Estado

de São Paulo, como Ribeirão Preto,

São José do Rio Preto e Leme, e em

outros estados, como Goiás, onde

as condições de clima são distintas

da região tradicional de cultivo do

Estado de São Paulo.

Utilizando doses crescentes de

herbicida, o objetivo foi aferir as

doses limites suportadas pelas va-

riedades, considerando todos os

parâmetros de análise citadas an-

teriormente para geração de dados

ajustados a um modelo prático de

análise. Estes dados de sensibili-

dade dos produtos por variedade

estudada são utilizados para supor-

tar as recomendações pontuais que

nosso time de consultores técnicos

comerciais aplica a campo nas prin-

cipais usinas produtoras e usuárias

da linha Arysta Cana.

Esta ação contínua de desenvolvi-

mento do Projeto Seletividade Arys-

ta LifeScience é o resultado da busca

em atender cada vez mais e melhor

as necessidades dos clientes, pro-

curando índices de produtividade

elevados, antecipando a demanda

referente ao comportamento em

novas variedades de cana. Por trás

disso, está o comprometimento em

levar segurança ao produtor em re-

lação à recomendação técnica seg-

mentada também por variedades.

Artigo por Caio Giusti *

*Caio Giusti, Especialista em Desenvolvimento, Produto e Mercado de Cana-de-Açúcar da Arysta LifeScience

>

cOnhEcimEntO técnicO é fundamEntal na

buSca dOS mElhOrES rESultadOS da cana

>

Page 27: Mundo Cana 3 Sep'10
Page 28: Mundo Cana 3 Sep'10