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de Golã. Algumas testemunhas falavam de até dez mortos neste incidente e em outro em Gaza. No fechamento desta edi- ção, o número de vítimas fatais chegava a 21. Para muitos palestinos, a violenta jor- nada de ontem foi o ‘começo da terceira Intifada’, enquanto que em Jerusalém foi considerada como um ensaio geral – e falido – para os eventos que deverão enfrentar a partir do quase seguro reco- nhecimento do Estado Palestino na pró- xima sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro. O fato de que centenas de palestinos e sírios armados somente com pedras te- nham conseguido derrubar o alambrado da fronteira da Síria com o território con- trolado por Israel nas Colinas de Golã desde a guerra de 1967 reaviva os temo- teira de Israel nas Colinas do Golã, na Síria, Líbano, Gaza e Cisjordânia. A res- posta das tropas israelenses foi brutal, as- sassinando 21 palestinos e ferindo quase 200, segundo números de diferentes agên- cias de notícias. Um correspondente do jornal Clarín, de Buenos Aires, Shlomo Slutzky, escreveu de Tel Aviv: “Na fronteira com o Líbano, soldados israelenses dispararam contra centenas de refugiados palestinos que ten- tavam cruzá-la. Dez manifestantes morre- ram e cerca de cem ficaram feridos, segundo fontes militares libanesas. Pelo menos outros quatro palestinos per- deram a vida em enfrentamentos com o exército israelense na fronteira com a Síria, depois que entre 30 e 50 pessoas con- seguiram penetrar em Israel e entrar no povoado de Madj al-Shams, nas Colinas 10 CORREIO INTERNACIONAL I srael comemora 10 de maio como a data de sua “independência”. É o ani- versário do dia em que as Nações Unidas, em 1948, dominadas pelos Esta- dos Unidos e pelo regime stalinista da União Soviética, decidiram dividir a Pa- lestina em dois Estados, outorgando 54% do território para Israel. Naquele mo- mento, mais de 700 mil palestinos foram expulsos de suas terras, em uma ofensiva assassina, na qual dezenas de aldeias e povoados foram arrasadas pelo massacre dos sionistas. Os palestinos recordam esses eventos como a Nakba, o desastre. E todos os anos são realizados atos convocados por organizações palestinas dentro e fora de Israel. Neste ano, porém, houve um grande salto nas mobilizações. Milhares de palestinos marcharam sobre a fron- MUNDO ÁRABE A revolução árabe entrou na Palestina GABRIEL MASSA (Argentina) Tradução: Raquel Polla

MUNDO ÁRABE A revolução árabe entrou na Palestinaphl.bibliotecaleontrotsky.org/arquivo/cipt/cite05pt/cite05pt-08m.pdf · Pelo menos outros quatro palestinos per-deram a vida em

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de Golã. Algumas testemunhas falavamde até dez mortos neste incidente e emoutro em Gaza. No fechamento desta edi-ção, o número de vítimas fatais chegavaa 21.

Para muitos palestinos, a violenta jor-nada de ontem foi o ‘começo da terceiraIntifada’, enquanto que em Jerusalémfoi considerada como um ensaio geral –e falido – para os eventos que deverãoenfrentar a partir do quase seguro reco-nhecimento do Estado Palestino na pró-xima sessão da Assembleia Geral dasNações Unidas, em setembro.

O fato de que centenas de palestinos esírios armados somente com pedras te-nham conseguido derrubar o alambradoda fronteira da Síria com o território con-trolado por Israel nas Colinas de Golãdesde a guerra de 1967 reaviva os temo-

teira de Israel nas Colinas do Golã, naSíria, Líbano, Gaza e Cisjordânia. A res-posta das tropas israelenses foi brutal, as-sassinando 21 palestinos e ferindo quase200, segundo números de diferentes agên-cias de notícias.

Um correspondente do jornal Clarín, deBuenos Aires, Shlomo Slutzky, escreveude Tel Aviv: “Na fronteira com o Líbano,soldados israelenses dispararam contracentenas de refugiados palestinos que ten-tavam cruzá-la. Dez manifestantes morre-ram e cerca de cem ficaram feridos,segundo fontes militares libanesas.

Pelo menos outros quatro palestinos per-deram a vida em enfrentamentos com oexército israelense na fronteira com aSíria, depois que entre 30 e 50 pessoas con-seguiram penetrar em Israel e entrar nopovoado de Madj al-Shams, nas Colinas

10 CORREIO INTERNACIONAL

I srael comemora 10 de maio como adata de sua “independência”. É o ani-versário do dia em que as Nações

Unidas, em 1948, dominadas pelos Esta-dos Unidos e pelo regime stalinista daUnião Soviética, decidiram dividir a Pa-lestina em dois Estados, outorgando 54%do território para Israel. Naquele mo-mento, mais de 700 mil palestinos foramexpulsos de suas terras, em uma ofensivaassassina, na qual dezenas de aldeias epovoados foram arrasadas pelo massacredos sionistas.

Os palestinos recordam esses eventoscomo a Nakba, o desastre. E todos osanos são realizados atos convocados pororganizações palestinas dentro e fora deIsrael. Neste ano, porém, houve umgrande salto nas mobilizações. Milharesde palestinos marcharam sobre a fron-

MUNDO ÁRABE

A revolução árabe entrou na PalestinaGABRIEL MASSA (Argentina)

Tradução: Raquel Polla

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Essas mobilizações deram resultadoquase imediato: obrigaram as direçõesdo Fatah e do Hamas a chegarem a umacordo, o que veio acompanhado da de-cisão do novo governo egípcio de abrirsua fronteira com Gaza (fechada pela di-tadura Mubarak em 2006, colaborandocom o bloqueio israelense). Esses suces-sos estimularam o avanço da mobiliza-ção palestina.

A “reconciliação” entre Hamase Fatah

Sob a supervisão do governo transitó-rio egípcio, no dia 4 de maio o chefe doFatah, Mahmoud Abbas, e o líder doHamas, Khaled Meshal, assinaram noCairo um “acordo de reconciliação”.

Segundo diferentes fontes, o Hamasaceitaria que Abbas continue como pre-sidente da Autoridade Palestina e siganegociando acordos de segurança comIsrael.

Abbas e a Autoridade Palestina têm sealiado a Israel e aos Estados Unidos háanos e têm colaborado com o bloqueioe os ataques sionistas à Faixa de Gaza,controlada pelo Hamas. O Hamas, porsua vez, vinha recusando a perspectivade um “Estado independente” negociadocom Israel e com os Estados Unidos porAbbas e denunciava a Autoridade Pales-tina por seu papel de cúmplice no blo-queio à Gaza em conjunto com aditadura egípcia de Mubarak (ver quadro“Um niniestado palestino”).

Junto com as mobilizações de marçoem Gaza e na Cisjordânia, um fator im-portante que promoveu a “reconciliação”foi, sem dúvida, a queda de Mubarak noEgito. Seu governo foi muito importantepara apoiar a orientação de Abbas e doFatah de abandonar toda política de con-fronto e entrar nas negociações de pazcom Israel e os Estados Unidos. Por outrolado, o bloqueio à Gaza por parte de Is-rael teria sido impossível se Mubarak nãotivesse mantido fechada também a fron-teira desta Faixa com o Egito.

Porém, com a queda do ditador, o novogoverno egípcio, mesmo tendo ratificadoo acordo de paz com Israel e o apoio àsaída de um Estado palestino na Cisjor-dânia e em Gaza, anunciou, no final deabril, que daria alguns passos para a rea-bertura de sua fronteira com Gaza. Ime-diatamente foi marcada a reunião de“reconciliação” de todas as facções pales-tinas no Cairo.

Diante do acordo de reconciliação entreas frações palestinas, o premiê israelense,Benjamin Netanyahu, declarou: “A Auto-ridade Palestina deve escolher a paz comIsrael ou a paz com o Hamas, não há ne-nhuma possibilidade de paz com ambos”.

Por sua vez, o departamento de Estadodos EUA pareceu adotar uma atitudemais cautelosa e aberta ao declarar que“qualquer futuro governo palestino deveprometer renunciar à violência, cumpriros acordos assumidos no passado e reco-nhecer Israel” (fonte: IPS).

11JUNHO DE 2011

MUNDO ÁRABE

res mais secretos dos serviços de segu-rança israelenses: não é a bomba atômicairaniana, não são os mísseis químicos oubiológicos lançados da Síria nem os ho-mens-bomba de Gaza. O medo é de umamassa de manifestantes desarmados queavancem até as fronteiras de Israel a par-tir dos países vizinhos, ou sobre as colô-nias e bases israelenses construídas sobreterras palestinas, em marchas massivasque Israel não se pode permitir dispersarcom disparos de tanques.

As autoridades israelenses temem o po-tencial de imitação do ‘êxito’ em Golã porparte de centenas de milhares de palesti-nos, que a partir de setembro poderãoestar respaldados pela comunidade inter-nacional ao tentar marchar até territóriosdo ‘Estado Palestino nas fronteiras de1967’, como seria reconhecido pela ONU.”

Também foram realizadas mobiliza-ções dentro do Estado sionista. Em 10 demaio, como acontece há 14 anos, milha-res de palestinos participaram do que oComitê pelos Direitos dos Deslocados In-ternamente em Israel chama de “Marchado Retorno”, entre os locais onde exis-tiam duas das aldeias palestinas arrasa-das, al-Damun e al-Ruways, no norte deIsrael.

As mobilizações de marçoO salto nas ações na comemoração da

Nakba ocorre após terem sido realizadasmobilizações massivas, em março, naCisjordânia e em Gaza. O centro dos pro-testos naquele momento era a exigênciade que a Autoridade Palestina, que go-verna a Cisjordânia encabeçada pelolíder do Fatah, Mahmoud Abbas, e os di-rigentes da corrente islâmica Hamas, quegoverna Gaza, terminem com seus con-frontos e se unam para enfrentar Israel.

O jornal The Guardian, de Londres, no-ticiou em 15 de março: “Dezenas de mi-lhares de pessoas participaram dasmanifestações em Gaza e na Cisjordâniaexigindo o fim das divisões políticas e daocupação israelense. (...) Os maiores pro-testos nos territórios palestinos desde quecomeçaram os levantes na região, no iní-cio do ano, foram convocados por ativis-tas de base por meio do Facebook, Twittere YouTube.

As facções políticas dominantes doFatah e do Hamas autorizaram as mar-chas, mas muitos ativistas independentesreclamaram da tentativa dos líderes par-tidários de controlar os protestos para evi-tar que se impusesse uma revolta ao estiloegípcio.”

Mahmoud Abbas e Khaled Meshal.

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gressivo que ainda conservava: sua resis-tência em reconhecer Israel e sua decisãode continuar a luta por um Estado pales-tino em todo o território da Palestina his-tórica.

Em síntese, a “reconciliação” entreHamas e Fatah estimulou a mobilizaçãodas massas palestinas. Mas essas dire-ções estão transformando este acordo emum instrumento para que os palestinosaceitem algo que vai contra seus própriosinteresses.

É preciso uma nova direçãopalestina

Nós, da Liga Internacional dos Traba-lhadores (LIT-QI), continuamos afir-mando que a única perspectiva paradefender realmente os direitos do povopalestino é a que estava inscrita na ban-deira original da OLP: a luta pela destrui-ção do Estado de Israel e pela construçãode um Estado palestino laico, democrá-tico e não racista, em todo o território daPalestina.

Os jovens que reivindicaram a unidadedo Hamas e do Fatah já estão começandoa ver que essas direções não oferecemnenhuma saída e que, pelo contrário, sóbuscam enganá-los e controlá-los. Paraatingir seus objetivos, as novas geraçõesde jovens ativistas palestinos indepen-dentes que saem à luta sob a influênciada revolução árabe terão que tomar emsuas mãos a velha bandeira da OLP. E,para isso, precisarão indiscutivelmenteconstruir uma nova direção, que retomeo caminho da luta intransigente pela des-truição do Estado sionista e pela constru-ção de um Estado palestino laico em todaa Palestina, batalha abandonada tantopelo Fatah como pelo Hamas. Nesse sen-tido, terão que enfrentar também o en-godo, abençoado pelos EUA e pela ONU,de um pseudoestado palestino nos terri-tórios ocupados.

Com essa perspectiva, continuamosimpulsionando a campanha mundial deBoicote, Desinvestimento e Sanções(BDS) contra Israel, a qual aderiram cen-tenas de organizações palestinas e de ou-tros países desde 2005. Ainda que sejalimitada em seus objetivos ao não reivin-dicar a destruição do Estado de Israel,esta campanha tem objetivos muito pro-gressivos, como o Direito de Retornopara todos os refugiados palestinos e ofim de todas as agressões israelenses e dobloqueio à Gaza.

Um acordo para controlara revolução

Como dissemos, a “reconciliação” foirecebida claramente como um triunfopelas massas palestinas. E isso, sem dú-vida, estimulou a participação massivanas marchas realizadas nas fronteirascom Israel em maio.

Ao mesmo tempo, o acordo entreHamas e Fatah tem um aspecto muitocontraditório. Noura Erakat, advogadapalestina no exílio, professora do centrode estudos árabes contemporâneos daUniversidade de Georgetown, em Was-hington, e importante ativista pelos di-reitos humanos, publicou um extensoartigo no site Jadaliyya.com em 4 demaio, no qual diz: “A reconciliação entreHamas e Fatah pode representar a pri-meira vitória do nascente movimento ju-venil palestino do dia 15 de março.” Mas“se poderia dizer que a formação de umgoverno de unidade é uma tática preven-tiva para tentar conter o crescente descon-tentamento palestino e a crescenterelevância dos protestos juvenis, em umaPrimavera Árabe. De fato, no dia doanúncio (da reconciliação), forças de se-gurança do Hamas dispersaram violenta-mente cerca de cem alegres jovens quecelebravam na Praça do Soldado Desco-nhecido, em Gaza. (...) Ibrahim Shikaki,um recém-graduado de Berkeley, nos Es-tados Unidos, e organizador juvenil queatua em Ramallah, comentou que oHamas e o Fatah trataram de barrar osesforços dos organizadores inibindo a co-bertura da mídia, acusando os líderes ju-venis de receber fundos do exterior emudando o centro dos protestos para asdivisões fracionais, por medo de ‘perdero controle sobre o poder e a autoridade’.Se é assim, o descongelamento das rela-ções por si só não será suficiente paraconter o movimento que está nascendo.”

Ali Abunimah, da Rede de Política Pa-lestina – uma ONG com sede nos EstadosUnidos que promove a reunificação detodas as forças palestinas na OLP e acampanha de Boicote, Desinvestimento eSanções contra Israel – publicou, no dia9 de maio, um artigo intitulado Reconci-liação vazia na Palestina, que vai maislonge na crítica ao Hamas: “É difícil en-tender os cálculos dos líderes do Hamas:(...) Temem que a ofensiva de Abbas paraconseguir que a ONU reconheça um Es-tado palestino em setembro ganhe peso eque eles fiquem de fora? Reconhecem queo ‘processo de paz’ não conseguirá nada,mas esperam evitar que a culpa seja atri-buída a eles e, por essa via, herdar a con-dução do movimento nacional palestinodo Fatah?

Também há muita especulação a res-peito de que o contexto regional – especial-mente o levante na Síria e a atualinstabilidade no Irã – deixa os líderes doHamas suficientemente preocupados comsua própria situação a ponto de correrempara abraçar e legitimar Abbas (...).”

Ali Abunimah acrescenta: “Saiba ounão, o Hamas pode estar tomando omesmo caminho que a facção do Fatah deAbbas: comprometer-se a ingressar emum ‘processo de paz’ controlado pelosEUA sobre o qual os palestinos não têmnenhuma influência e nem têm a perspec-tiva de conquistar seus direitos. Em troca,o Hamas talvez espere ter um papel juntoa Abbas para governar os palestinos quevivam sob permanente ocupação israe-lense na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.Saiba o Hamas ou não, de fato entrou emuma coalizão com Israel e Abbas para ad-ministrar os Territórios Ocupados, no queo Hamas terá muita responsabilidade,mas pouco poder (...).”

Ainda que não diga explicitamente, poresta via o Hamas perde o elemento pro-

CORREIO INTERNACIONAL

MUNDO ÁRABE

Netanyahu e Obama.

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13JUNHO DE 2011

Apossibilidade de que a Assembléia Geral da ONU, em setem-bro próximo, reconheça um Estado Palestino independente,

assentado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com capital em Je-rusalém oriental, está despertando grandes expectativas na popu-lação palestina e naqueles que participam da campanha mundialcontra os abusos de Israel. Compartilhamos as reivindicações pelo fim de todos os abusossionistas e o objetivo de um estado no qual os palestinos possamdesfrutar de seus direitos. Reconhecemos no martirizado povo pa-lestino uma vanguarda histórica da revolução árabe. No entanto,há muitos elementos que confirmam o que a LIT-QI vem susten-tando: esta proposta através da ONU encerra uma nova armadilhapara desmobilizar o povo palestino.No início deste ano, a agência Al-Jazeera e outras fontes difundi-ram documentos onde se evidenciava que, para conseguir o reco-nhecimento de um estado palestino independente na Cisjordâniae em Gaza, com capital em Jerusalém Oriental sob seu controle,Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina (ANP), tinhaaceitado condições tais como a permanência de colônias israelen-ses que ocupam a metade do território da Cisjordânia, que o novoestado não possua forças armadas próprias e que em seu territóriopermaneça estacionada uma força militar da OTAN. Além disso, os refugiados palestinos no exterior se veriam obri-gados a renunciar definitivamente, à sua reivindicação históricade retornar às terras que lhes foram roubadas pelos sionistasquando se constituiu o estado de Israel em 1948.Como mostra de sua boa fé, a ANP tem colaborado com Israel narepressão e bloqueio à Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas.Ante a profundidade da claudicação da ANP, Obama pressionouo governo israelense de Netanyahu para que aceite o acordo, ba-seado nas fronteiras anteriores à guerra de 1967.Porém, as autoridades israelenses resistem ao mesmo, temendoque tal atitude leve ao fim da atual coalizão governante, que incluirepresentantes das organizações sionistas mais obstinadas entreas que ocupam colônias na Cisjordânia e que não estão dispostasa aceitar nenhuma limitação à sua expansão.Frente a isto, o governo da ANP com sede em Ramallah, Cisjor-dânia, lançou uma ofensiva diplomática pedindo o reconheci-

mento na ONU do novo “Estado Palestino Independente”. Jáhavia conseguido que vários países latino-americanos, como oBrasil e a Argentina antecipassem seu reconhecimento.Sobre o tema, Haidar Eid, professor de literatura da UniversidadeAl-Aqsa de Gaza e mebro da campanha BDS, escreveu um artigointitulado “Um lar independente ou um bantustão disfarçado?”(publicado em 4/5/2011 no site The Electronic Intifada), onde re-sumia os motivos para recusar esta proposta:Uma vez declarado, o futuro estado palestino ‘independente’ ocu-pará menos de 20% da Palestina histórica. Ao criar um Bantus-tão* e chamá-lo de ‘estado viável’, Israel se livrará da carga de3,5 milhões de palestinos. A AP governará um número máximode palestinos numa quantidade mínima de fragmentos de terra,fragmentos que podemos chamar de ‘O Estado da Palestina’. Este‘estado’ será reconhecido por dezenas de países: os chefes tribaisdos infames bantustões da África do Sul devem sentir-se muitoinvejosos. Só se pode supor que esta ‘independência’ tão comen-tada e celebrada simplesmente reforçará o mesmo papel que aAP teve sob os acordos de Oslo. A saber, adotar medidas de po-lícia e segurança destinadas a reprimir os grupos de resistênciapalestinos… Da mesma forma que os acordos de Oslo significaram o fim daresistência popular e não violenta da primeira intifada, esta de-claração de independência tem um objetivo similar, isto é, acabarcom o crescente apoio internacional à causa palestina desde aofensiva de Israel no inverno 2008-09 contra Gaza e seu ataquecontra a Flotilha pela Liberdade de Gaza em maio passado. Masnão dá aos palestinos a proteção e segurança mínimas frente a fu-turos ataques e atrocidades de Israel. […] Por último o que esta‘declaração de independência’ oferece ao povo palestino é umamiragem, um ‘lar nacional independente’ que é um bantustão dis-farçado. Mesmo sendo reconhecido por tantos países amigos, nãoprovê aos palestinos sua liberdade e libertação.

*Os bantustões foram pseudo-estados de base tribal criados pelo regimedo apartheid na África do Sul, de forma a manter os negros fora dosbairros e terras brancas, mas suficientemente perto delas para serviremde fontes de mão-de-obra barata.

UUMM MMIINNIIEESSTTAADDOO PPAALLEESSTTIINNOO

MUNDO ÁRABE