Murulhos Tantos_mamografia Floriana Breyer

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    aCas

    a,aRuae

    oJardim.

    MURULHO

    STANTO

    S

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    Aos meus vizinhos de quarto Mirian, Konstantin e amadaWendy. Ao meu fiel escudeiro Felipe Pernambuco que meensina o valor de cada instante. pequena Julia, enormeCarla. Ao meu porto seguro Parque Amaznia, e minha avMarlene, ao orculo Baiana. Aos integrantes do grupo aoqual me dedido de corpo e alma; o EIA. Ao prncipe Yuhz,com seu harm oriental e o herdeiro Lac. Aos eremitasFumaa e Wilmar, ao indomvel Luis Parras e ao caseiroAntonio Kelh. Ao Machado Flvio, que tantas lenhas j meajudou a reflorestar...

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    (...) e para mim toda arte chega nisto: a necessidadede um significado supra sensorial da vida,

    em tranformar os processos de arteem sensaes de vida.1

    Hlio Oiticica

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    Partitura sensorial

    1. Metforas totalizantes

    2. Bssolas_ Nortes para Marulhar

    3. Cartas de Marear_ Linhas de Rumo

    4. ACasa

    5. A RUA

    _EIA, o SPA, SPLAC, Salo deMaio e Projeto Matilha

    6. Reinventando a gramticados espaos

    7. O JarDim

    8. Bibliografia, fontes depesquisa e notas de fim

    pg. 6

    pg. 8

    pg. 23

    pg. 25

    pg. 33

    pg. 49

    pg. 57

    pg. 66

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    Metforas Totalizantes

    Receber visitas deixar-se desvendar, comparti-lhar. Quando a casa esta desarrumada pode serum tanto constrangedor, a menos que a visita sejacompletamente insensvel s estas miudezas per-ceptivas ou esteja disposta a ajudar arrum-la,propondo novas disposies.

    Visita pode chegar antes da casa ficar pronta, eparticipar de sua fundao. Como aqui, que a visi-ta chega a um espao ainda em construo e emconstante mutao. Um espao inaugural que

    estou cada vez mais interessada em construir,projetar; sonhar, na medida em que percebo aamplitude de questes que ele abarca, contem-plando o caldeiro de contradies que assisto evivencio diariamente e guardando ainda surpresasinterminveis, espaos ainda desco-nhecidos e

    potencialmente acessveis.

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    Proponho aqui que possamos entrar, percorrer,derivar, marulhar, num esforo aconchegante, queapresenta-se como metfora totalizante "MurulhosTantos: A Casa, A Rua e O jardim", duas realidadesextremas, que compreendem as nossas necessi-dades bsicas de retiro e expanso, de intimidade

    e extroverso, de passividade e atitude.Realidades estas conectadas pelo jardim, que aquiser tratado, concreta e metaforicamente, comoespao relacional. Cada uma destas metforas em si uma forma de estar no Mundo, me proponhoaqui, a encontrar espaos que as relacionem. Que

    possamos percorrer e ocupar seus aposentos,criando ainda outros espaos e relaes possveis,acessos secretos.

    Inicio uma reflexo baseada em aes concretasque tenho proposto e realizado no espao da casa,no espao da rua e em jardins. Tenho chamadoestas aes propositivas de Prticas Ambientais.

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    Bssolas_ Nortes para Marulhar

    Venho encontrado algumas estrelas que tmnorteado minha pesquisa, so elas artistas plsti-cos que listo logo abaixo; o antroplogo Roberto daMatta; o sensvel Gaston Bachelard, o poeta MrioChamie e a historiadora Paola Berestein, alm deuma dissertao e uma tese. A primeira de mestra-

    do do professor Caio Vasso e outra de doutoradoda curadora Lisete Lagnado. Alguns termos queutilizo para me referir ao que tenho proposto, ga-nharam fora luz destas estrelas. Segue umatabela esquematizando as fontes de pesquisa queme inspiram tanto por suas obras plsticas comopor suas reflexes.

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    artista digerindo estrelas

    Hector Zamora um parasitaparaquedista;

    Hlio Oiticicaestrela no que

    se refere aotermo de Ambiental;

    HundertwasserHundertwasser, conste-lao de espaos rela-

    cionais;

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    trabalho

    Casa Paraquedista.

    Blide rea 2.

    Casas Colina.

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    Lygia Clark

    estrela no que se

    refere ao termoRelacional;

    Marepedeslocadorem viglia;

    Krzysztof

    Wodisczo

    corretor de imveis,

    mveis.

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    Objetos relacionais.

    Telhado.

    Veculo dos sem teto.

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    Dentro desta tabela gostaria de aprofundar doisconceitos chave:

    Ambiental: sentido do termo ampliado graas ascontribuies plsticas e escritas de Hlio Oiticicae do contato que tive com o Grupo de InterfernciaAmbiental, GIA, o qual recebeu-me e hospedou-me na capital baiana por conta do Salo de Maio,que o mesmo grupo organizou em maio de 2004.

    Este foi um marco importante em meu breve per-curso, nele realizei a primeira ExperinciaAmbiental "Faixa de descalos" que consiste emsobrepor faixas de pedestres com placas degrama.

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    Hlio Oiticica rompendo os limites de categoriasartsticas, conferiu a suas obras possibilidadesexperimentais dentro de uma estratgia e programaque chamou de Programa Ambiental, caracterizadopela procura de totalidades ambientais, no esta-belecidas a priori, criadas segundo as necessidadescriativas nascentes.

    Faixa de descalos, Salo de Maio Salvador,2004.

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    Experincias assumidas pelo prprio artista como"autnticas experincias, manifestaes ambientais,sensoriais, participao pblica" e apropriao ambien-tal que teria com funo "tirar o artista do marasmobodento dos atelis" atravs da prtica na rua, e acres-

    centa Hlio ainda no catlogo da exposioWhitechapel, "O museu o mundo". Exemplos destasexpe-rincias podem ser conferidas em trabalhos comoos Parangols, o Blide rea 1 e o Blide 2.

    Do Dicionrio Aurlio : Ambientar; adaptar-se a um

    meio. Ambincia, meio em que vive um animal, vegetal.Ambiente que envolve ou rodeia, diz-se do ar que nosrodeia. Esfera, crculo, meio em que vivemos. Situao,reao favorvel.

    Assim Ambiental foi o termo que encontrei para tratar do

    amplo permetro que envolve estas proposies

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    Relacional: termo em si j propositivo, mas que transbor-da quando utilizado luz do tratamento que a artista LygiaClark fez dele.

    Do Dicionrio Aurlio: Relao; analogia, semelhana,conexo, trato social, convivncia, intimidade. Relacionar;fazer ou adquirir relaes, ligar-se, travar conhecimento,

    confrontar, estabelecer relao.

    J em 1968 Lygia Clark dedica-se explorao sensorialcomo no trabalho "A Casa o Corpo. Entre 1970 e 1976,reside em Paris, lecionando na Facult dArts PlastiquesSt. Charles, na Sorbonne.

    Caminhando, Lygia Clark.

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    Nesse perodo sua atividade se afasta da produo deobjetos estticos e volta-se sobretudo para experinciascorporais em que materiais quaisquer estabelecemrelao entre os participantes. Retorna para o Brasil em1976; dedica-se ao estudo das possibilidades teraputi-cas da arte sensorial e dos objetos relacionais. Suaprtica far que no final da vida a artista considere seu

    traba-lho divergente arte e prximo da psicanlise.Trabalha no sentido da experimentao, do encontro desolues prprias, integrando autor, obra e fruidor.

    Na obra "Caminhando" experimenta um espao semavesso ou direito, frente ou verso, percorrendo-o na

    busca da compreenso do mesmo, como diria HlioOiticica em seu Esquema Geral da nova ObjetividadeBrasileira "de onde se desenvolveu o processo daartista que culminou numa descoberta do corpo(...)numa forte estruturao tico-individual" . Iniciaento trabalhos voltados para o corpo, que visam ampli-

    ar a percepo, retomar memrias ou provocar dife-rentes emoes. Neles, o papel do artista de proposi-tor ou canalizador de experincias.

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    Dedica-se prtica teraputica, usando ObjetosRelacionais, que podem ser, por exemplo, sacosplsticos cheios de sementes, ar ou gua; meias-calas contendo bolas; pedras e conchas. Na terapia,o paciente cria relaes com os objetos, por meio de

    sua textura, peso, tamanho, temperatura, sonoridadeou movimento. Eles permitem-lhe reviver, em contex-to regressivo, sensaes registradas na memria docorpo, relativas a fases da vida anteriores aquisioda linguagem.

    A potica de Lygia Clark caminha no sentido da norepresentao e da superao do suporte. Prope adesmistificao da arte e do artista e a desalienaodo espectador, que finalmente compartilha na criaoda obra. Na medida em que amplia as possibilidadesde percepo sensorial em seus trabalhos, integra o

    corpo arte, de forma individual ou coletiva.

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    "Vou criar o que me aconteceu, s por que viver no relatvel. Viver no vivvel. Terei que criar sobrea vida. Criar no imaginao correr o granderisco de se ter a realidade." 2

    Clarisse Lispector

    "O armrio e suas prateleiras , a escrivanhia e suasgavetas, o cofre e seu fundo falso so verdadeirosrgos da vida psicolgica secreta. Sem estes "obje-

    tos" e alguns outros igualmente valorizados, nossavida ntima no teria um modelo de intimidade. Soobjetos mistos, objetos-sujeitos. Tm como ns, porns e para ns, uma intimidade." 3

    Bachelard

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    Cartas de Marear+Agulhas de Marear

    +Derivas=Estudos de Campo Imersivos

    Venho descobrindo toda uma metodologia paraprojetar e realizar minhas experincias. Aquientram as agulhas de marear, as cartas demarear e os estudos de campo imersivos. Sendoas primeiras instrumentos bsicos de trabalho:lpis, bssola e mapas, as segundas so cader-

    nos, pastas e/ou malas nas quais organizo osestudos, estes consistem nas expedies procura dos locais e na observao destes, taiscomo de fluxos, contexto geogrfico, usos recor-rentes, habitantes locais e entorno.

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    Tenho um lpis e mil sonhos.Afino-o como quem afinao violo e risco a msicaque toca ao meu ouvido.

    Depois, os pregos,os parafusos, a furadeira,a tico-tico, muitas dobradias,alas e o martelo.

    Procuro ento micro ambientes vivos,micro organismos restantes.Locais de silncio, plataformas

    de convvio, de respiro, de descano.

    3. Cartas de Marear_ Linhas de Rumo

    "O espao convida ao, antesda ao a imaginao trabalha" 4

    Bachelard

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    Caricatura Hundertwasser por DieterZehntmayr no jornal Neue Krone

    Zeitung, 16 janeiro de 1991.

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    ACasa

    Adentrar no espao da casa experincia surpreen-dente. Ainda mais quando se considera a organizaodo espao como reveladora do ser que o habita. Naspalavras de Gaston Bachelard em seu livro A poticado Espao: "somos o diagrama das funes de habitar".O termo im-vel jamais deveria ser empregado parase referir a casa, vista aqui, como entidade e organis-mo, esta uma idia amplamente discutida na disser-tao de Caio Vasso.

    Primeiramente, casa vem suprir a necessidade bsicado ser: proteger-se, aninhar-se. Ela est associada aprpria noo de sobrevivncia. Para tal os seres criamestruturas de proteo, que muitas vezes se inspiram e

    se ajustam primeira e ltima instncia de proteo: oprprio o corpo.

    "Todo espao realmente habitado traz a noo de casa(...) a imaginao trabalha neste sentido quando o serencontrou o menor abrigo: veremos a imaginao constru-ir "paredes" com sombras impalpveis, reconfortar-se comiluses de proteo (...)O ser abrigado sensibiliza os lim-ites do seu abrigo.5

    "Por que a casa nosso canto no mundo. Ela , como sediz amide, nosso primeiro universo."6

    Gaston Bachelard

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    Marcus Peruzzi em sua monografia traz a imagemdo homem primordial que, expulso do paraso, levaas mos sobre a cabea para proteger-se. Choviamuito. Este homem percebe ento que debaixo das

    rvores chovia menos, mas ainda no estava prote-gido. Passa ento a observar os espaos entre asrochas e a recolher folhagens para construir seuprimeiro abrigo. Logo este homem descobre caver-nas naturais. No entanto este homem no estavasozinho e no havendo cavernas para todos,

    comearam a pegar estacas e cobri-las com folhasde rvores. Aps as tempestades era possvelencontrar fogo, vindo dos cus nos raios.

    Os homens foram aprendendo a domin-lo e leva-lopara seus abrigos. De acordo com o local, as neces-sidades de proteo variavam. Portanto o local eradeterminante na forma e desempenho do abrigo.

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    A partir destas necessidades, estes homens bus-caram novas solues, percebendo que a prpriaterra poderia fornecer acolhimento. Alguns passam acavar, esculpindo seus abrigos no solo, transforman-do-os em "cuevas". As vezes cavavam na prpriarocha como o caso de alojamentos trogloditas emTnez.

    "cuevas" extrado do trabalho de graduao deMarcus Peruzzi.

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    Trago estas imagens mitolgicas para refletir sobre as

    primeiras instncias de proteo do homem e comoeste capaz de criar solues e adaptar-se a um meio,sendo o local determinante desde o princpio, a partir doqual este homem se organiza no mundo. "O espao eraconcebido com medidas do seu prprio corpo, comopolegada, o palmo, os ps. O abrigo era concebido na

    escala humana, refletindo sua esfera pessoal"7

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    Habitculo, trabalho realizado no SPLAC,

    I Salo de placas Imobilirias, 2005.

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    Esta idia de abrigo est muito presente no projeto

    Murulhos, ainda em andamento que consiste emconstruir "habitculos" em cima de rvores localizadasem canteiros a beira de vias de alta circulao de car-ros. O primeiro Murulho foi construdo a beira daMarginal Tiet, num canteiro em frente a ponte daCasa Verde durante o EIA em 2004. O segundo foi

    construdo na Bahia, num pequeno canteiro localizadono cruzamento de vrios viadutos, na Fonte Nova emSalvador durante o segundo Salo de Maio, em 2004.

    Murulho I, Marginal Tiet, novembro de 2004.

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    Murulho I, Marginal Tiet, 6 meses depois, maio de 2005.

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    "J a rua tende a ser tomada, pelo discurso dominante por

    um cdigo que produz uma "fala totalizada, fundada emmecanismos impessoais, onde leis e jamais entidadesmorais como pessoas, so pontos focais e dominantes.Ocorre uma reitificao abusiva de conceitos e relaes,numa viso onde ningum rigorosamente poder modificarseu lugar"8

    Roberto da Matta

    "Em vez de ficar passivo diante de um mundo que no o sat-isfaz, ele vai criar um outro, onde poder ser livre. Para

    poder criar sua vida, precisa criar este mundo. E essa cri-ao, como a outra, so parte de uma mesma sucessoininterupta de recriaes. Nova Babilnia s poder ser obrados seus habitantes, unicamente o produto de sua cultura."9

    Constant

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    a Rua

    Parece-me mais fcil elencar e desenvolver os aspec-tos e adjetivos relacionados a Casa, pois a Rua mechega atravs de vivncias e lembranas mais difceisde traduzir, qualificar, definir. Elas abrangem inicial-

    mente as inmeras cidades em que j morei; as via-gens que tenho feito pelo Brasil e principalmente omodo pelo qual passei a me relacionar com a cidadedepois das experincias, que tenho tido e ajudado aorganizar, nos encontros de artistas que tm comofoco de ao e reflexo o espao pblico. So estes

    encontros o Salo de Maio, o SPA e o EIA. Irei tratarmais detalhadamente deles no prximo tpico.

    Para o antroplogo Roberto da Matta "No se podefalar de casa sem mencionarmos o seu espao gmeoa rua" 10 e desta forma, por anttese, que pretendo

    me aproximar da dimenso da rua, que aqui, querotratar.

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    Esta dimenso pode tambm ser apreendida quandoevocamos as expresses populares " O espao lde fora", "Ser posto para fora de casa", "V para oolho da rua", "Sem eira nem beira", "Estou na rua daamargura", "Pelos trancos e barrancos".

    Por estas expresses evidencia-se como a oposioCasa/Rua relevante para que se compreendamestas duas formas de estar no mundo. Geralmenteestando uma relacionada ao espao da intimidade,do cuidado, da proteo, enquanto a outra refere-sea um espao impessoal, do descaso, do anonimato.Como apresenta Roberto da Matta:

    "A Rua o inverso da casa, local do povo, do movimen-to, da fluidez, do perigoso. Local de individuao e luta,de malandragem. Comumente visto como algo movimen-tado, propcio de desgraas e roubos. O espao pblico

    e tudo o que ele representa revela-se como negativo,quando visto de um ponto de vista autoritrio, impositivo,falho, fundado no descaso e na linguagem da lei, queigualando subordina e explora."11

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    Esta viso negativa do espao pblico fundada nodescaso e na linguagem da lei a qual tenho procu-rado combater tanto na minha pesquisa potica comona diversidade de movimentos com os quais tenhome envolvido (coletivos, encontros, fruns, debates,festas populares brasileiras)

    _ na busca por outras relaes e meios prticospossveis que estou propondo toda esta reflexo!

    Para os Situacionistas que propunham uma arte dire-tamente ligada a vida, uma arte integral, logo lhesficou claro que esta arte total seria basicamente umaarte urbana e estaria em relao direta com a cidadee com a vida urbana em geral, quando os habitantespassassem de simples espectadores a construtores,transformadores e vivenciadores de seus prpriosespaos, propondo mudanas de ambincias. "A arteintegral, de que tanto se falou s poder se realizarno mbito do

    urbanismo". 12

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    Equipamentos urbanos, os quais estou estu-dando para futuras

    interaes.

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    Ribanceira, 2005.

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    Tenho identificado inmeros pontos de con-vergncia entre minha pesquisa bem como os

    impulsos que me mobilizam e as propostas ereivindicaes situaicionistas. Mas vale ressaltaruma diferena marcante. O programa situa-cionista propunha-se a agir em escala macro-estrutural, projetando na escala do urbanismo.Minha pesquisa e meu trabalho atuam dentro de

    uma dinmica micro- estrutural, na escala doindivduo. Propostas que se do num espaomacro (da cidade) mas que trazem a noo doindivduo. No um indivduo alheio ao mundo esim observador e atuante.

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    Creio que o trabalho se redimensiona na medidaem que prope o acesso, pelo corpo, a espaos

    mais amplos, como ocorre no trabalho Ribanceira,que consistiu em construir uma escada de corda emadeira ligando a Avenida Sumar e uma peque-na praa perpendicular a Dr. Arnaldo. A escalacorporal transcende os limites da derme ealcana a escala geogrfica uma vez que conectaestas escalas. participando ativamente naconstruo de um lugar e na criao de stios deexpe-rincia, "meio de saltar escalas" diz NeilSmith em seu texto sobre o trabalho veculo dossem teto do artista Wodicsko.

    Estudos para Ribanceira, que consistiu em construir uma escada deperpendicular a Dr. Arnaldo.

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    O primeiro deles um "salo" de arte pblicaorganizado pelo Grupo de InterfernciaAmbiental, o GIA, que aconteceu por dois anosconsecutivos, 2004 e 2005 na Bahia. O segun-do, um encontro j na sua quinta edio organi-

    zado por diversos artistas com amplo apoio daprefeitura de Recife; o terceiro e, para mim maissignificativo na medida em que fao parte dogrupo desde a sua fundao em 2004, consisteem um encontro de arte anual organizado porum coletivo multidisciplinar interessado emreunir, viabilizar e propor aes no espao darua. A idia reunir os artistas e promover umintercmbio cultural sobre as ruas de So Paulonum encontro que chamamos de ExperinciaImersiva Ambiental, EIA.

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    Uma semana de imerso no ambiente urbano, naqual formamos uma grande equipe colaborativacomposta normalmente pelos responsveis pelaorganizao do encontro, pelos artistas propo-nentes que j residem em So Paulo, por outrosque chegam de diversos estados (os hospedamos

    durante a semana imersiva em nossas casas eatelis) e todos aqueles interessados em partici-par da mesma. No ltimo encontro recebemosartistas de Rondnia, Minas Gerais, Recife,Fortaleza, Porto Alegre, Braslia e Rio de Janeiro.Nosso intuito criar uma zona de ao, reflexo e

    interlocuo. Momento e oportunidade de compar-tilhar sonhos e anseios, de manifestar nossasidias de concepo e atuao no espao, elabo-rando-as de forma crtica e potica. H trabalhosde perfor-mances, oficinas, sons, apropriaes,interferncias, ativismos, instauraes, piraes,objetos, situacionismo, materiais em suporte grfi-co e intervenes. (www.eia05.zip.net)

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    Temos procurado dar continuidade a semana deimerso, propondo outros projetos coletivos aolongo do ano como foi o caso do SPLAC, do Bailedos Espantalhos, do Interrogacidade e do ProjetoMatilha.

    Dentro deste grupo atuo tanto como articuladora,organizadora e proponente. Muitos dos trabalhosque apresento aqui, foram realizados duranteestes encontros e contaram com a ajuda e partici-pao de algumas pessoas que tornaram-se fi-guras chave, divisoras de guas neste meu brevepercurso, so elas: os escoteiros Lus Parras eCaio Fazolin; a dupla Machado, Flvio o eternocompanheiro e Sergio o explorador urbano; as sen-sveis e catrticas Gisella Hiche, Milena Durante eMarina Ronco; a pesquisadora Pricila Lolatta, opontual Gavin Adams, os poetas radioativos FelipeBrait e Rodrigo Vitullo, o inseparvel Hlio Ribeiro.Os abenoados Tio Carvalho e Marinaldo, obonequeiro Fernando Mira, e o incrvel Nietzche.

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    Alimento uma rede de laos dados, de braos fortes.Cansados de tanto saber e ver o bvio, e permanecercalados. Juntamos os trapos, os cacos e rompemos ascercas, samos dos cascos. Propomos um despertar

    contnuo, um desenvolver vontades, facilitar desloca-mentos. Estar avesso a petrificao, a alienao, amuseificao da vida; ser simultneo ao invs de contra,criar alternativas e plataformas de convvio.

    O mtodo encontrar as brechas e abrir as fendas,observando as aglomeraes, os excessos, as faltas, osfluxos: estudos de campo imersivos. A prtica imergir,potencia-lizando latncias ambientais, constituindonovas territorialidades, matrizes de dinmicas horizon-tais que estimulam a participao ativa e criativa dosindivduos, transeuntes, pedestres, parentes e amigos.

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    "O ninho do homem, o mundo do homem, nuncaacaba. E a imaginao ajuda a continua-lo."14

    Bachelard

    "por tudo isso, no se pode misturar o espao da ruae da casa sem criar alguma forma de grave confusoou at mesmo conflito"15

    Roberto da Matta

    " o esperado e o legitimado, que a casa, a rua e ooutro mundo demarquem fortemente mudanas de ati-tude, gestos, roupas, assuntos, papis sociais (...)". 16

    Roberto da Matta

    Projtil para um Mundo Novo, 2004.

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    Reinventando a gramtica dos espaos

    Roberto da Mattaapresenta umaviso da sociedadebrasileira como

    constelao so-ciolgica com pelomenos trsperspectivas com-plementares entresi: a casa, a rua e o

    outro mundo. O antroplogo demarca claramente oslimites e apresenta as distines entre estes espaos.Me proponho a questionar tais limites e utilizar suasespecificidades para justamente criar relaes entreestes espaos, como acontece no trabalho "Projtilpara um Mundo Novo", no qual trago para dentro doambiente da casa condies de jardim, seja naconstruo da cama de grama como no recolhimentode materiais nos entulhos para compor o ambiente. Ouquando levo a cama para o espao do jardim.

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    "Voc conhece algum lugarque eu possa deitar?" Foi oque me perguntou um senhor

    deitado na porta da garagemda minha casa, de modo queera imposs-vel abri-la para guardar o carro. Meucarro tem lugar no Mundo e eu no soube comoacolher aquele moo loiro quase moreno depoeira, de olhos azuis. Subi e encontrei a casaposta, tudo em seu devido lugar, me esperando.Havia deixado uma msica bem calma a fim demanter o ambiente aquecido para quando euvoltasse. Est quente aqui dentro e da janelaainda dava para ver o moo, ele comeara a falarsozinho deitado em frente da minha casa numcantinho do mundo. Levou as mos dentro da

    cala, permaneceu um tempo. Depois comeou aprocurar nos bolsos. Frequentemente ajeitava ocabelo e tornava a buscar nos bolsos.

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    Ento sentou-se na sarjeta, desta vez buscou algodebaixo da blusa. Sacou um bon amarelo, tododobrado, sacudiu o bon, ajeitou o cabelo, vestiu obon. Constantemente olhava para os lados comose procurasse algum, como se escolhesse paraonde ir. Vestiu o bon e permaneceu sentado e

    olhou mais uma vez para cada lado. Tornou a levaras mos debaixo da blusa e encontrou uma cor-rente. Tirou a corrente do pescoo, contornando obon, era uma medalha. Uma medalha bem grandeprateada. Pegou a medalha, olhou a medalha e alevou novamente ao pescoo, guardando-a como

    quem guarda um segredo. Comeou a se levantar,parecia estar pesado, insistiu ajudando com asmos. Ficou de p tendo de buscar o equilbrio,escorou-se ao muro e permaneceu um tempo. Maisuma vez olhou para os lados e permaneceu. Aindaescorado no muro comeou a caminhar, esquer-

    da, e desapareceu da minha janela. Pretendocomear colocar estas camas de grama em praase cantos pela cidade.

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    Qual espao eu procuro?_ Beirais, limtrofes, pontes, espaos relacionais que seinspiram dentro da "gramtica da Casa" nas varandas, janelas, portas, alapes, pores, corredores, jardins,quintais e terraos. Revelam-se dentro da "gramticada Rua" nos muros, terrenos baldios, viadutos, pas-sarelas, faixas de pedestres, praas e canteiros.

    A gramtica dos espaos revela especificidades, inti-midades e padres de nossa prpria cultura brasileira eem outra instncia de nossa prpria constituio

    enquanto humanos, descontrui-la a fim de rearranja-la um exerccio minucioso de observao ambiental epessoal que exige uma gama de ferramentas e proce-dimentos os quais tenho reunido sob o termo Estudosde Campo Imersivos.

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    Mas nossos espaos nem sempre so marcados pelaeternidade. H tambm espaos transitrios e problemticosque recebem um tratamento muito diferente. Assim, tudo oque est relacionado ao paradoxo, ao conflito ou con-tradio - como as regies pobres ou de meretrcio - fica numespao singular. Geralmente so regies perifricas ouescondidas por tapumes. Jamais so concebidas como

    espaos permanentes ou estruturalmente complementares sreas mais nobres da mesma cidade, mas so sempre vistoscomo locais de trnsitao: "zonas", "brejos", "mangues" e"alagados". Locais limiares, onde a presena conjunta daterra e da gua marca um espao fsico confuso e necessari-amente ambguo". 17

    Roberto daMatta

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    Hector Zamora, artista mexicano, para mim refern-cia ilustre desta perspectiva de reiveno da gramti-

    ca espacial, como podemos conferir em seu trabalhoCasa Paraquedista, no qual o artista constri umahabitao suspensa na parte exterior do Museo. Almde construi-la, Zamora se propos a viver ali por trsmeses, servindo-se da energia eltrica e da gua domuseo. A entrada da casa foi construda sobre a escul-

    tura que localiza-se na fachada do museo. HectorZamora e sua Casa Paraquedista, so para mim refe-rncia central no que diz respeito criao e subver-so estrutural e funcional, bem como inaugurao deespaos.

    No poderia tratar de espaos inaugurais, sem men-cionar o criador desta imagem, o poeta e amigo MrioChamie, que com a fora de seu poema, seu objetoselvagem, desde seu primeiro livro Lavra Lavra, tmproblematizado a questo do espao da casa, dourbano e do rural, transfigurando e estabelecendorelaes entre estes espaos.

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    Casas que navegam pelas ruas e lanam suas nco-ras no imvel cais de um mar parado, as mesmas queabrem todas as portas de tantas salas fechadas eassim olham as auroras que nascem sem maisespera. Auroras de pele fresca, doce marulho dosangue 18.

    Vista da Casa Paraquedista de Hector Zamora, Mxico.

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    Espao Inaugural

    O espao que se medeE que se perdeno o tempo perdidoda memria.

    Esquece.O tempo que se perde o mesmo que fenece

    A cada hora.

    Na hora do homemem casa.Na hora do homemNa rua.Na hora do espantoDesse homem

    Sem tempoNo espao de cada canto.

    Mas o cansao do tempoQue se perdeNo impede o espaoQue se inaugura.

    O espao do homemNa praa.O espao do homemEm lutaCom a fria de outro tempo: sua surda fria muda. 19

    Mrio Chamie

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    Assim como a Rua tm espaos de moradia ou ocu-pao, a Casa tm seus "espaos arruados" . Ambosrelacionam-se atravs do jardim. Roberto daMattatrata da praa ou adros, como territrio especial, foco,ponto de encontro, zona que assume a mediao detemporalidades diferenciadas e problemticas. este

    espao fonte e local das prticas ambientais. Nosestudos de campo imersivos, tenho percebido comoestes espaos j so utilizados por ocupaes recor-rentes, continuas e irregulares, ou mesmo por equipa-mentos urbanos utilizados para manuteno doespao urbano ou operaes de revitalizao.

    "nas cidades orientais, as praas e adros (que configu-ram espaos abertos e necessariamente pblicos)servem de foco para a relao estrutural entre o indiv-duo e o povo, a "massa, a coletividade que lhe opostae o complementa. 20

    "nas nossas cidades Ibricas e brasileiras a praa abreterritrio especial, uma regio teoricamente do povo,

    uma espcie de sala de visitascoletivas"21

    Roberto da Matta

    O JarDim

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    Estes usos da cidade me fazem reconhece-la como

    campo de ao de todos. Me interessa e me instigadialogar com estas ocupaes, propondo uma esp-cie de interveno sobre intervenes, apropriaode estruturas, sugerindo outros usos possveis.

    Casa Lambida trabalho em andamento.

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    Casa Lambida, pretendo realizar na atual fase

    desta pesquisa; consiste em uma insero numadas "rampas anti-mendigo" postas pela prefeiturade So Paulo abaixo do viaduto da Paulista. Porconta destas rampas, as pessoas seriam impedi-das de utilizar este espao para dormir. O queocorre um deslocamento das mesmas para os

    arredores. Manobra do governo que simplesmentefaz migrar o problema e evidencia uma poltica dehigienizao e gentrificao em zonas de grandeespeculao imobiliria dentro da cidade.

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    Alguns fatores me estimulam a concretizar este tra-balho: primeiramente a minha perplexidade perantetal estrutura, o que me levou a observa-la continua-mente e a tentar verificar as mudanas no fluxo

    local. Segundo a prpria forma que foi dada ao con-creto que logo se revelou para mim enquanto casa,afinal como diria Gaston Bachelard "um sonhador decasas v casas em todas as partes, tudo serve demotivao e abrigo".

    Me pareceu muito curioso que na mesma poca emque realizei a "Ribanceira" no Viaduto Sumar,novembro de 2005, o jornal Folha de So Paulopublicou uma matria justamente sobre o descasodas autoridades e o conseqente deslocamento dosantigos "moradores" do Viaduto da Paulista para o

    Viaduto Sumar.

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    Esta matria de jornal me fez rever a Ribanceira,evidenciou outras relaes que se estabelecemdentro da prpria dinmica do local e das transfor-maes nos fluxos urbanos. Revelou-me toda umateia de relaes onipresentes, que participam deuma cadeia de aes e reaes, reverberaes ereflexos; conexes entre este organismo que acidade.

    Em seguida no trabalho de graduao de Sueli,

    entrei em contato com a seguinte frase deFranoise Minkowska "Uma casa viva no real-mente imvel e inclui os movimentos pelo qual sechega a porta".

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    Pensei nesta Ribanceira, no acesso que ela oferece, nasconexes que estabelece, no seu aspecto inclusivo.Acredito neste percurso que a Ribanceira oferece como

    o acesso pelo qual se chega a porta, uma porta queagora irei materializar no Viaduto da Paulista, mas queproponho que cada um de ns aventure-se a abri-la,adentrando neste espao que j no nem Casa, Rua,ou jardim mas organismo, corpo vivo!

    Murulhos Tantos so todas estas tentativas juntas, osmurmrios que me chegam, os mergulhos que encaro.As muralhas que afastam, os muros todos e os galhos.Murulhos Tantos so estas hipteses, estes projteispara um Mundo Novo. Um Mundo no qual permitidosonhar e reinventar os acessos, abrir as portas e passar

    por entre fendas, descobrindo outros locais, tempos erealidades possveis, espaos-tempo vitais.

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    Ribanceira, 2005.

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    Estas experincias, estas prticas ambientais,surgem primeiramente enquanto sonhos, em traos

    traados nas paisagens que percorro todos os dias;ruas, jornais, faris, esquinas, canteiros e viadutos;logo tornam-se esquemas, extenses nos cadernostodos, cartas de marear; depois concretizam-se noespao, oferecendo e criando stios de experincia.Seguem instaladas na memria de quem viveu, uma

    memria corporea, advinda da experincia, daescolha feita frente ao que se apresenta ou se ocul-ta. O espao inaugurado, inaugura em ns um aces-so, espao constituinte.

    Vista superior do Murulhho II, neste o telhado foi

    inspirado nos terraos jardins de Huntertwasser.

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    Nada, nem ningum

    pode, neutralizar afora e a potnciade uma experinciavivida, de um per-curso percorrido."Ancestrais desejosnmades irrompem"22, preciso ocupar,percorrer, derivar,marulhar. O tetoultrapassa os limitesda casa, do ateli edescobre-se cu. O corpo expande e descobre-se

    clula, partcula de um organismo maior, transpes-soal, interdependente. A cidade como morada, amorada enquanto corpo.

    Ilustrao de Hundertwasser,o pintor das cinco peles.

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    Bibliografia

    BACHELARD, Gaston. A potica do espao. TraduoAntonio de Pdua Danesi. So Paulo Martins Fontes,1993. Coleo Trpicos.

    BEY, Hakim. TAZ: zona autnoma temporria.Traduo de Renato resende e Patrcia decia. SoPaulo, Conrard Editora do Brasil, 2001. ColeoBaderna.

    CHAMIE, Mrio. Objeto Selvagem. So Paulo, Quron,

    1977.

    DAMATTA, Roberto. A casa e a Rua - espao, cidada-nia, mulher e morte no Brasil. 5 edio. Editora Rocco.Rio de Janeiro, 1997.

    DEBORD, Guy Ernest. "Introduo a uma crtica dageografia urbana", in JAQUES, Paola Berenstein.Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre acidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003.

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    DEBORD, Guy Ernest. "Relatrio sobre a construo desituaes e sobre as condies de organizao e deao da tendncia situacionista internacional", inJAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritossituacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da

    Palavra, 2003.

    JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritossituacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa daPalavra, 2003.

    LENGEN, Johan Van. Manual do arquiteto descalo.Porto Alegre, Livraria do Arquiteto, Rio de Janeiro, Tib2004.

    RESTANY, Pierre. HUNDERTWASSER. O pintor rei dascinco peles. Taschen, Alemanha.

    SMITH, NEIL. "Contornos de uma poltica espacializada:veculo dos sem teto e produo de escala geogrfica",in ARANTES, ANTONIO. O Espao dadiferena.Campinas, SP: Parirus, 2000.

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    Fontes de pesquisa

    Textos

    BAHIA, Dora Longo. Gordon Matta Clark:objeto a ser destrudo. Dezembro 2000.

    CHAIA, Miguel. Arte e poltica: situaes.

    FOUCAULT, Michael. Of other spaces.

    OITICICA, Hlio. Esquema Geral da NovaObjetividade.

    Jornal folha de So Paulo

    Web site Hector Zamora www.lsd.com.mx

    Biblioteca FAAP

    Cinecuble Prestes Maiafilmes Casa de Cachorro

    Dirio de Nan margem da imagem

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    Teses, dissertaes e monografias

    LAGNADO, Lizete. Glossrio do Programa Ambientalde Hlio Oiticica. Parte integrante da tese dedoutorado. USP, Departamento de Filosofia, SoPaulo 2003.

    LAGNADO, Lizete. Mapa do Programa Ambiental deHlio Oiticica. Tese de doutorado. USP,Departamento de Filosofia, So Paulo 2003.

    PERUZZI, Marcus. Casa mnima: uma proposta paraa casa-embrio. Trabalho de graduao interdiscipli-

    nar Arquitetuta e urbanismo, FAAP, 1994.

    VASSO, Caio Adorno. Arquitetura mvel: propostasque colocaram o sedentarismo em questo.Dissertao de Mestrado, USP, FAU, So Paulo2002.

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    Notas de fim

    1.Oiticica, Hlio. Catlogo da exposio Whitechapel.2.LISPECTOR, Clarisse. gua viva. Rio de Janeiro,Franscisco Alves, 1993.3.BACHELARD, Gaston. A potica do espao. TraduoAntonio de Pdua Danesi. So Paulo Martins Fontes,1993. Coleo Trpicos. Pg 91.4.Idem. Ibidem. Pg 31.5.Idem. Ibidem. Pg 25.

    6.Idem. Ibidem. Pg 24.7.PERUZZI, Marcus. Casa mnima: uma proposta para acasa-embrio. Trabalho de graduao interdisciplinarArquitetuta e urbanismo, FAAP, 1994.8.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espao, cidadania,mulher e morte no Brasil. 5 edio. Editora Rocco. Rio de

    Janeiro, 1997. Pg 50.9.Costant, in JAQUES, Paola Berenstein. Apologia daDeriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio dejaneiro, Casa da Palavra, 2003. Pg 29.10.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espao, cidadania,mulher e morte no Brasil. 5 edio. Editora Rocco. Rio de

    Janeiro, 1997. Pg, 55.11.Idem. Ibidem. Pg, 55.12.G DEBORD, G. "Relatrio sobre a construo de situ-aes e sobre as condies de organizao e de ao datendncia situacionista internacional", in JAQUES, PaolaBerenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas

    sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003.Pg 43.

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    12.G DEBORD, G. "Relatrio sobre a construo desituaes e sobre as condies de organizao e deao da tendncia situacionista internacional", in

    JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva:escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro,Casa da Palavra, 2003. Pg 43.13.DEBORD, G. "Introduo a uma crtica dageografia urbana", in JAQUES, Paola Berenstein.Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a

    cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003. Pg. 41.14.BACHELARD, Gaston. A potica do espao.Traduo Antonio de Pdua Danesi. So PauloMartins Fontes, 1993. Coleo Trpicos. Pg. 116.15.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espao,cidadania, mulher e morte no Brasil. 5 edio.

    Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997. Pg. 50.16.Idem. Ibidem. Pg 48.17.Idem. Ibidem. Pg. 45.18.CHAMIE, Mrio. Objeto Selvagem. So Paulo,Quron, 1977. Pg. 45.19.Idem. Ibidem. Pg. 31.

    20.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espao,cidadania, mulher e morte no Brasil. 5 edio.Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997. Pg. 43.21.Idem. Ibidem. Pg.44.22.JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva:escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro,

    Casa da Palavra, 2003. Pg. 11.

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