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Caros leitores, Primeiramente, gostaria de tecer algumas considerações acerca dessa 4ª edição , relativa ao segundo semestre de 2011, marco de nossa história editorial. Trata-se de uma publicação muito especial, em que pudemos refletir e constatar a questão das múltiplas identidades nacionais. Ainda que se reconheça ser praticamente impossível a eliminação do preconceito, é possível socialmente "eliminar a organização dos preconceitos em sistema, sua rigidez e – o que é mais essencial – a discriminação efetivada pelos preconceitos" (Heller, O cotidiano ... p. 59). Enfim, é preciso reconhecer que o brasileiro é múltiplo, podemos dizer que a sua alma é composta por inúmeras influências , lendas, crenças, ritos, danças, ritmos, cores e até sabores. E nesta grande mistura não nos distinguimos mais. Somos simplesmente multirraciais...
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Fundador-Presidente: Roberto Aguilar M. S. Silva
Editora-Chefe: Stael Moura da Paixão Ferreira (MEF / UFMS)
Consultora Linguística: Rosangela Villa da Silva (UFMS)
Conselho Editorial: Thiago Coppola, Eliney Gaertner, Balbino de Oliveira, Benedito C.G. Lima
Colaboradores: Hélio Moreira, Rubenio Marcelo, Eritânia Brunoro, Gerson Morais e Fazedores
e Amigos das Artes em Angola, Brasil e Portugal. “Unidos Pela Arte” (Movimento Lev´arte).
Arte / Design: Maximiliano G. Lima
Apoio: UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), ALEC (Academia De Literatura e
Estudos de Corumbá-Ms), Núcleo Cultural de Ladário, ANE - (Associação dos Novos Escritores
de Ms), Associação Amigos da Cultura, CEMPER (Centro Padre Ernesto de Promoção Humana E
Ambiental)
Realização: Instituto de Comunicação Social do Brasil
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ENVIO DE MATERIAIS: Poemas: [email protected] & Crônicas: [email protected], Ensaios, Resenhas: [email protected]
EXPEDIENTE
Aviso: Os textos apresentados aqui, incluindo opiniões e conceitos emitidos, são de direito e responsabilidade exclusiva de seus autores e podem não expressar a opinião da Revista Musa Calíope. Não será permitida publicação de trabalhos que não sejam da autoria do remetente. É livre a reprodução não comercial, desde que citada a fonte.
Prof.ª Stael MouraEditora da Revista Musa Calíope
Caros leitores,
Primeiramente, gostaria de tecer algumas considerações acerca dessa 4ª edição , relativa ao segundo semestre de 2011, marco de nossa história editorial. Trata-se de uma publicação muito especial, em que pudemos refletir e constatar a questão das múltiplas identidades nacionais. Ainda que se reconheça ser praticamente impossível a eliminação do preconceito, é possível socialmente "eliminar a organização dos preconceitos em sistema, sua rigidez e – o que é mais essencial – a discriminação efetivada pelos preconceitos" (Heller, O cotidiano ... p. 59). Enfim, é preciso reconhecer que o brasileiro é múltiplo, podemos dizer que a sua alma é composta por inúmeras influências , lendas, crenças, ritos, danças, ritmos, cores e até sabores. E nesta grande mistura não nos distinguimos mais. Somos simplesmente multirraciais. Desta maneira, é com orgulho e com grande alegria que apresentamos aos nossos leitores mais uma publicação bem sucedida. Trata-se, para nós, de um momento glorioso que é ao mesmo tempo, uma celebração do percurso que trilhamos até este momento e uma abertura de outros caminhos a trilhar. Sabemos que o Projeto, por si só já nasceu ambicioso, mas também tivemos a felicidade de reunir os mais destacados trabalhos sobre o tema, sendo que os artigos e poemas selecionados para esta Edição, já denotam a excelência dos nossos autores colaboradores, em relação à qualidade dos trabalhos apresentados.
EDITORIALMilagres do Povo
Quem descobriu o Brasil?Foi o negro que viu a crueldade bem de frente
E ainda produziu milagres de fé no extremo ocidenteOjú Obá ia lá e via
OjuobahiaXangô manda chamar Obatalá guiaMamãe Oxum chora lágrima alegria
Pétalas de Iemanjá Iansã-Oiá riaOjú Obá ia lá e via
Ojú Obá iaObá
VELOSO, Caetano. Milagres do Povo. Gravadora Gapa , 1985
Revista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
Prof.ª Stael MouraEditora da Revista Musa Calíope
Grande parte dos artigos, ora apresentados, resultaram da contribuição de nossos valorosos parceiros que, de forma entusiasta, aceitaram em encaminhar o material para esta Edição. Contamos com as contribuições de artigos de vários pesquisadores, autores e consultores, professores, mestres, doutores e membros de comunidade científica sobre a temática em geral. Além do envolvimento total do corpo editorial, convidamos educadores, militantes do movimento negro para contribuir a nossa pauta. Desta forma, agradecemos, imensamente, às doutoras Zilá Bernd, Ana Beatriz Gomes, Augusta Schimidt, Elizabeth Brose, ao técnico angolano de artes cênicas Sr. José Lumango e, em particular, ao meu grande Mestre e amigo Prof. Ilzver de Matos Oliveira, que com seus trabalhos, sempre nos direcionam a reflexões mais amplas. Convém destacar que graças à quantidade de material recebido e as inúmeras discussões em torno do tema, esta edição traz uma novidade: a apresentação em dois volumes. Comprovou-se com esta publicação que existe uma crescente difusão da leitura inclusive, em sua maioria, no cenário internacional. Infere-se que este periódico procura disseminar a produção literária e científica de alto nível, sobre temas relevantes. Enfim, gostaríamos de agradecer a colaboração de todos que acreditaram na proposta da Revista Internacional Musa Calíope e tornaram possível a publicação de mais essa Edição que trouxe como tema: “MUNDO NEGRO: A CONSCIÊNCIA E SUA PERCEPÇÃO EM MILHARES DE VOZES.”Desta forma, a Revista Eletrônica Musa Calíope encerra o ano de 2011 com a sensação de missão cumprida, e com muitas razões para agradecer: pelos autores e suas contribuições substanciais e criativas; pelas pareceristas que com muita competência e cuidado ajudaram à difícil seleção dos trabalhos; pela Conselho Editorial e demais avaliadores convidados, sempre presentes e dispostos; enfim , a todos, nossos agradecimentos. Muito obrigada e boa leitura!
Muito obrigada e boa leitura!
Prof.ª Stael MouraEditora da Revista Musa Calíope
! !
caraeculturanegra.blogspot.com
DESTAQUEANTOLOGIA DA POESIA NEGRA BRASILEIRA.
O NEGRO EM VERSOS
Ana Beatriz Gomes*
Esta antologia surge para dar a
conhecer uma fatia bastante viva e
expressiva da poesia brasileira, que
permanece desconhecida para a
maior parte do público
em geral: a poesia negra. Ainda
que a população negra e mulata
seja maioria no território brasileiro,
a literatura permanece até hoje
como território de
brancos.
Bastante completa e abrangente, a
seleção contempla a poesia escrita
pelo negro e sobre o negro no
Brasil em diferentes períodos
históricos, desde o século XVIII até
os dias atuais. Antecedendo o
c o n j u n t o d e p o e m a s q u e
exemplificam a produção de um determinado momento, os organizadores têm
o cuidado de apresentar um pequeno panorama da situação do negro no
momento histórico em questão, o que enriquece a compreensão dos poemas.
A presença do negro nesta
Revista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
antologia, portanto, se faz duplamente: não somente a origem dos poetas é
negra, mas também a sua temática. O que temos aqui é, fundamentalmente,
uma busca de identidade -- o negro debruçando-se sobre si mesmo, sobre sua
história. Essa busca pode, às vezes,
adquirir uma forma mais clássica e distanciada; outras vezes é atravessada
pelo tom sarcástico e mordaz; outras vezes, ainda, assume-se como um grito
de dor, e ainda pode ser música,
celebração. A história que esse livro nos propõe é uma história difícil e
dolorida, permeada de conflitos e tensões que permanecem até hoje,
disfarçados sob o racismo cordial tipicamente brasileiro. É, porém, também
uma história de força e resistência;
história de gente que, apesar de toda a dor, soube desmontar estereótipos e
levantar a voz alto o bastante para se fazer ouvir, a despeito dos olhares tortos
que desejassem fazê-la calar.
*Antologia da Poesia Negra Brasileira – o negro em versos”. Lançado pela Editora Moderna/Salamandra organizado por Luiz Carlos dos Santos, Maria Galas e Ulisses Tavares.
Profª Drª. Ana Beatriz Sousa Gomes é Professora da Universidade Federal do Piauí, integrante do Grupo Ifaradá/UFPI
IFARADÁ (em Iorubá, língua africana, significa resistência pelo conhecimento), núcleo de pesquisa sobre africanidades e afrodescendência da Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi criado por um grupo de professores negros e alunos negros da UFPI em 1993. Entendemos como Africanidades as questões relacionadas ao afrodescendente no âmbito de nossa sociedade. Consideramos Afrodescendência os costumes africanos trazidos por nossos ancestrais que hoje estão imbuídos em nossa cultura. Em conjunto, africanidades e afrodescendência, focalizam uma preocupação para melhor entender a nossa procedência histórico-cultural de base africana. A sede do IFARADÁ é na sala 386 localizada no Centro de Ciências Humanas e Letras da UFPI.
ARTIGOS: REFLEXÕESO ENEGRECER DA CONSCIÊNCIA COLONIZADORA
ILZVER DE MATOS OLIVEIRA
O Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, após a análise das
decisões dos desembargadores nos Tribunais de Justiça de todo o Brasil,
verificou que os ofendidos das ações por crime de racismo ganharam em
29,7% dos casos apresentados, enquanto os agressores venceram em 66,9%.
Segundo conclusões do Relatório isto mostra que nos tribunais brasileiros os
ofensores vêm levando vantagem diante dos agredidos pelo crime de racismo.
Entre as justificativas para a situação apresentada, os autores do Relatório
dizem que muitos processos são mal fundamentados porque os profissionais
da área não são bem preparados para trabalhar com a temática, por isso, nos
tribunais, onde as questões técnicas têm mais peso, os réus acabam
beneficiados e os crimes de racismo não são tratados adequadamente; que o
mito da democracia racial, de que não existiria racismo no Brasil, também
pode influenciar os magistrados; que juízes conservadores têm dificuldade de
lidar com crimes raciais e comumente desqualificam a fala das vítimas.
Esse quadro nos leva a pensar sobre algumas questões: Como seria possível
retirar a fala do negro do espaço de silêncio e desqualificação que ela ocupa?
Como abrir espaço para a contação da história dos africanos e dos afro-
descentes no mundo? É possível atribuir valor positivo ao povo negro, à sua
cultura, à sua religiosidade, respeitá-los e reconhecê-los? O corpo negro e os
Revista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
eu sofrimento importam? A quem? Os direitos étnico-raciais existem? Como
garanti-los?
Estas dúvidas podem parecer absurdas a olhos e ouvidos destreinados na
temática racial e nos meandros do pós-colonialismo, podem até mesmo gerar
manifestações exacerbadas dos que se consideram arautos da igualdade entre
os indivíduos e principalmente entre os que não reconhecem a existência de
outra raça que não a humana. Mas, lamento dizer que estas ainda são
questões cujas respostas estão em processo de elaboração ou para as quais
temos respostas fracas, que não nos convencem nem nos deixam satisfeitos.
De forma sistemática, acreditamos que as perguntas que nos afligem
pertencem a cinco categorias, ao menos: perguntas sobre educação, cultura e
religiosidade; sobre saúde; sobre o sistema de justiça e violência; sobre terra,
propriedade e meio ambiente; e, sobre trabalho, emprego e renda. Faremos
breves considerações sobre algumas
destas perguntas e sobre respostas
que es tão, nos ú l t imos anos ,
emergindo de determinados setores
da soc iedade, mas, como não
poderemos aqui esgotar e nem tratar
de todos estes temas, daremos
especial enfoque à análise das
respostas vindas do Judiciário, uma
vez que tem sido este um dos
principais locus de resolução dos
conflitos sociais e de confirmação ou
negação de conquistas de direitos neste país, na atualidade, e, além disso, um
dos maiores representantes da consciência colonizadora, diante da persistência
deste poder em abandonar as heranças, tradições, costumes, posturas e
ideologias coloniais.
O ponto de partida desta nossa viagem pelo enegrecimento da consciência
colonizadora é a educação, especificamente a escassa abordagem da temática
das relações raciais nas escolas e universidades. Esta carência tem sido
apontada como um dos principais fatores responsáveis pela dificuldade de os
cidadãos lidarem com as idéias de raça e racismo, de reconhecerem o espaço
da cultura e religiosidade negras, de concordar que o racismo é um problema
real, persistente e degradante para enorme contingente populacional no
mundo, e também, como uma das principais causas da pouca habilidade com
que profissionais, levados a se posicionar em casos de racismo, como o são os
magistrados, delegados, promotores, lidam com os casos levados à sua
apreciação.
Sobre essa questão, percebemos que, na realidade, desde 2003 a Lei 10.639
obriga as escolas de ensino fundamental e médio, públicas e privadas, bem
como as universidades, a ensinar a história e a cultura africana e afro-
brasileira. Para isso, foram desenvolvidos vários programas de elaboração de
material didático e livros que pudessem instrumentalizar a implementação da
referida legislação, que surgiu com o objetivo de valorizar e fazer emergir uma
parte da história brasileira até então ausente dos livros didáticos utilizados
pelas crianças no nosso país.
Ressaltamos que, recentemente, em 29 de novembro de 2010, o Fundo nas
Nações Unidas para a Infância – UNICEF lançou no nosso país a campanha “Por
uma infância sem racismo”, que busca discutir os impactos do racismo na
infância, inserindo este debate numa discussão mais ampla sobre a garantia do
direito de reconhecimento da identidade étnico-racial de toda criança no nosso
país e na preservação da saúde física e psicológica desse grupo vulnerável, que
envolve diversos setores do sistema de justiça nacional, tais como Ministério
Público e Varas da Infância.
Na mesma linha da UNICEF, mas, um pouco antes, em 1º de setembro de
2010, o Conselho Nacional de Educação, órgão do Ministério da Educação,
aprovou o Parecer n.º 15 orientando que a Secretaria de Educação do Distrito
Federal se abstivesse de utilizar material que não se coadunasse com as
políticas públicas para uma educação não racista. Tal orientação teve origem
numa denúncia, apresentada ao órgão, contra o livro Caçadas de Pedrinho, de
Monteiro Lobato, que estava sendo utilizado em escolas públicas e privadas,
mas, segundo a denúncia, trazia em seu texto trechos manifestamente
racistas, que contribuíam para a discriminação de crianças negras nas escolas.
O fato gerou muito debate nos meios de comunicação social e trouxe à tona
uma discussão muito importante sobre o impacto do livro didático na
Revista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
construção, ou desconstrução, da identidade e da subjetividade da criança
negra.
Seguindo essa tendência, entre os dias 13 e 15 de Outubro de 2010 a
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da
Presidência da República – SEPPIR, realizou, juntamente com o Departamento
de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo – USP, o
primeiro Encontro Nacional de Psicólogos Negros e Pesquisadores sobre
Relações Interraciais e Subjetividade no Brasil – PSINEP, cujo objetivo era
estimular a organização de um segmento da categoria de psicólogos que, por
suas especificidades étnico-raciais, enfrenta barreiras sociais para seu pleno
desenvolvimento, fomentando o aprofundamento das discussões. Pretendeu-
se, ainda, ser um marco na consolidação de uma rede de profissionais
qualificados para a promoção da igualdade étnico-racial.
Durante o PSINEP foi apresentado um panorama dos estudos e trabalhos
desenvolvidos sobre a questão racial e psicologia, a partir do qual se traçou um
plano de ação visando a ampliação das linhas de pesquisa e trabalhos
relacionados a essa temática, sinalizando as contribuições que psicólogos e
outros pesquisadores podem oferecer na conquista da saúde da população
negra e de condições iguais na sociedade, com respeito às diferenças.
O conteúdo do Encontro girou em torno dos seguintes eixos: Eixo 1: Relações
históricas da psicologia com o racismo: a produção de conhecimento, a prática
e a formação; Eixo 2: Racismo e sofrimento psíquico: desafios para a
psicologia e os psicólogos; Eixo 3: A configuração do mundo profissional e
social para o psicólogo negro no Brasil.
A questão trazida ao debate é de que as estatísticas oficiais demonstram
inequivocamente que o racismo é um forte determinante social nas condições
de saúde, sendo ele um dos principais responsáveis pelas altas e
desproporcionais taxas de morbidade e mortalidade da população negra. Desse
modo, sabendo que a ideologia racista se manifesta através das relações
interpessoais presentes no cotidiano dos indivíduos, nas esferas mais variadas
(família, trabalho, escola, religião, entre outros), e que a força das
representações sociais cristalizadas no imaginário coletivo garantem a
perpetuação de preconceitos e práticas discriminatórias, é preciso refletir sobre
as conseqüências devastadoras do racismo na formação da identidade e
subjetividade deste grupo populacional, pois ele implica, quase sempre,
sofrimento e adoecimento psíquico.
Este grupo de pesquisadores e profissionais da Psicologia acredita que o
enfrentamento das iniqüidades raciais requer uma leitura psicossocial dos
determinantes das desigualdades e seus efeitos sobre o psiquismo, e que esse
processo envolve o preparo dos psicólogos, no sentido de reconhecerem as
relações inter-raciais como um dos determinantes da saúde mental, pois esta
tarefa poderá resultar em ações técnicas e políticas que contribuam para
significativos avanços na promoção da igualdade racial, e intervenções
psicológicas que respeitem e reconheçam a diversidade, e que se mostrem
comprometidas com a saúde da população negra e a melhoria das relações
inter-raciais, no trabalho, na escola, nas diversas esferas sociais, ou seja,
comprometidas com a transformação social e o bem-estar pleno.
Nessa mesma linha, cremos que a incorporação dos profissionais do direito
nesta discussão poderá trazer, também, enormes contribuições para a
promoção do reconhecimento do direito à identidade étnico-racial da população
negra no nosso país, especialmente daquela levada, por algum motivo, ao
sistema de justiça brasileiro na situação de agredida em seus direitos humanos
fundamentais, uma vez que, como apresentamos no início, os dados mostram
que os reclames dessa parcela da população nacional não vêm sendo
reconhecidos pelo judiciário brasileiro, e isso está se constituindo em uma
grave ofensa à subjetividade e à identidade negra, gerando inclusive impactos
sobre a sua saúde, especialmente a psicológica.
Diante desse quadro é acreditamos que o campo jurídico pode trazer
contribuições muito maiores do que as que hoje vem trazendo, para essa rede
nacional de discussão sobre os efeitos psicológicos do racismo, a partir de um
viés que extrapola a análise das condições de saúde da população negra e
adentra no estudo dos impactos do racismo na garantia constitucional do
acesso à justiça no seu sentido mais amplo, não meramente acesso ao Poder
Judiciário, mas, acesso a um sistema de justiça que compreenda as suas
especificidades e possa dar respostas satisfatórias às suas necessidades, e na
garantia do direito à identidade étnico-racial, enquanto diretamente ligada à
dignidade da pessoa humana.
Revista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
Neste ponto emergem outras indagações que acreditamos, deveriam permear,
simultaneamente, na atualidade, as mentes dos juristas e psicólogos, além de
outros profissionais de áreas afins, obviamente: Quais são os efeitos
psicológicos da discriminação racial? Que cicatrizes emocionais o racismo
causa? Como isso se reflete no desenvolvimento das vítimas de preconceito?
Como elas interagem com a sociedade? Que conhecimento o profissional do
direito precisa manejar e conhecer para se posicionar diante dos conflitos
raciais levados ao sistema de justiça? Como o operador do direito pode ser um
agente no combate ao racismo brasileiro?
É fato que os estudos sobre violência racial e sobre as repercussões nas
identidades e subjetividade de pessoas negras ainda são muito escassos no
Brasil, bem como em outros países colonizados com grande contingente
populacional negro. Por isso justifica-se a preocupação da Presidência da
República em estimular a criação de Grupos de Pesquisa e o desenvolvimento
de investigações sobre esta temática no nosso país, como o Relatório-denúncia
do LAESER, a atuação do Ministério da Educação no controle dos livros
didáticos com vistas a uma educação não-racista, o engajamento do UNICEF
no esclarecimento dos efeitos do racismo nas crianças e, especialmente, do
nosso artigo que busca se inserir nesse contexto trazendo as contribuições que
a ciência jurídica pode dar neste processo.
A questão principal que se pretende debater é de que a discriminação racial
estabelece relações hierarquizadas de poder entre as diferentes raças por meio
da ideologia da raça dominante. Esses mecanismos atuam desrespeitando e
menosprezando a identidade da população negra, produzindo sofrimento físico
e emocional e modos de subjetivação que assujeitam e homogeneízam, e, no
âmbito do direito, acabam gerando violações de direitos humanos e ofensas ao
direito de acesso à justiça.
Por isso, defendemos que a compreensão destes mecanismos deve estar ao
alcance do operador do direito inserido no sistema de justiça brasileiro,
especialmente o magistrado, que na maioria das vezes não tem nos bancos
escolares, nem na sua formação complementar posterior à graduação, contato
com esta discussão teórica interdisciplinar. Nesse mês, em que lembramos a
consciência negra, vamos mandar a Musa para os tribunais brasileiros, vamos
enegrecer a consciência colonizadora.
Revista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
Ilzver de Matos Oliveira - Graduado em Direito pela Universidade Federal de Sergipe – UFS,
Coordenador-Adjunto da Pós-graduação Lato Sensu em Direito da Universidade Tiradentes - UNIT/SE; Membro da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB/SE; Mestre em Direito Público - Universidade
Federal da Bahia – UFBA; Foi bolsista do Programa Internacional de Bolsas de Pós-graduação da Fundação Ford - Internacional Fellowship Program – IFP, Membro da Associação de Pesquisadoras e Pesquisadores pela Justiça Social- ABRAPS, Mestrado-sanduíche em Direito e Sociologia - Universidade
de Coimbra – UC, Foi voluntário da ONG SACI - Sociedade Afrosergipana de Estudos e Cidadania, Professor de Direito Constitucional ; Doutorando em Direito – PUC/RIO. email: [email protected]
ETONISMOUM OLHAR FILOSÓFICO DO PENSAR ETONIANO SOBRE ÁFRICA NOVA1
José Lumango
Arte é único meio de conservação da
história e que infelizmente não mente,
porque conta história, grafa os factos,
retrata a história ondulada e labirinta da
vida. Etona, enquanto militar, lutou na
guerra civil de Angola (Africa subsariana),
p r e s e n c i a n d o
v á r i a s
calamidades tais
como tribalismos,
descriminação e
finalmente o racismo. Inconformado com
a situação, de volta à Luanda, começou a
pintar e esculpir as vicissitudes amargas
das realidades, experiências nostálgicas,
como forma de chamar atenção e razão a
sociedade, numa profunda reflexão. Nas suas pinturas, Etona exprime-se sem
medo e de forma frontal na luta contra estas atrocidades psicossociais,
causada pelas guerras.
1 Artista plástico angolano( escultor, pintor e palestrante);
!
http://eixodajustica.wordpress.com
Revista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
A guerra tornou os angolanos, separatistas, preguiçosos, corruptos,
imediatistas, insolidário, pelos seguintes motivos: 1- perdas dos familiares; 2-
Desestruturação das famílias; 3- A luta pela sobrevivência; 4- e o imediatismo.
Etona ainda, nas suas pinturas e esculturas, desfigura anatomia humana,
desenhando homens sem olhos (não conseguem ver); homens sem ouvido
(Não conseguem ouvir); homens sem braços, (não conseguem trabalhar nem
abraçar-se como irmãos) e homens que apenas olham nas suas barrigas
(apenas pensam em si). Estas anotações constituem o discurso Estético das
suas peças que de forma sucinta vem se construindo como uma filosofia de
arte que se chama Etonismo, uma filosofia que na qual somos discípulos.
Esteticidade psicológica na arte de Etona:
A Estética, como sensibilidade e percepção segundo na acepção etimológica de
Aleksander Baughartem, permite-nos “perceber” e “sentir”, por meio da
plasticidade pictórica e escultórica, da manifestação expressional e sentimental
da personalidade de Etona, contra as injustiças sociais, nas sociedades pós-
guerras.
Deste modo, o que ele procura, pelo menos, segundo a observação analítica
das suas obras é contribuir a partir da arte no desenvolvimento social e mental
dos angolanos e africanos. É por isso que Etona a partir da sua forma de
pensar (filosofar) expressa na sua Estética Pictórica e Escultórica2, um belo
convite a todos os artistas, a não esperar os políticos africanos a resolverem
todos os problemas de África. Ele ainda acredita que por meio da arte
podemos e devemos salvar o mundo, das perturbações sócio-psicológicos, dos
efeitos nocivos das guerras constantes, no berço da humanidade(África).
Etona nas suas obras de arte sugere que é preciso que África se liberte da
discriminação, do racismo e do tribalismo. E esta não é apenas uma tarefas
dos políticos, mas sim dos artistas. Só um espírito tranquilo pode perceber a
essência da beleza estética. É necessário que os artistas africanos começam a
abrirem os olhos para verem, abrirem ouvidos para ouvirem e cuidar dos
braços para trabalhar humilde e pacientemente. Portanto partilhamos a opinião
2Estética Pictórica se encarrega no estudo analítico das telas de pintura e Estética Escultórica é o estudo sistematizado das esculturas, segunda a estratificação da Filosofia Especifica de Arte. Evrado Pauli, Universidade de São Paulo, Enciclopedia Simposium.
segundo a qual, podemos ajudar a diminuir as injustiças sociais e construir
uma África nova, sadia e harmoniosa, do ponto de vista social e cultural. As
injustiças sociais em África começam a partir das leis singulares, que por sua
vez criam atrocidades e desacordo. Pedimos-nos aos artistas consagrados
africanos que nos unamos como etona faz, na sua luta contra a injustiça social
no mundo, a partir do projeto Filosófico que se chama Etonismo, derivado da
sua prática artística, dando maior relevo ( escultura e Pintura).
Considerações finais:
A paz e harmonia entre as nações dependem da tranquilidade que cada
indivíduo possui. Desarmar as mentes é propiciar a amizade, ao passo que a
insaciabilidade humana julga todas as civilizações como depreciativas e
condenadas a educar na necromância do juízo estético. Psicologicamente o
conflito passa a ser essência da vida: fugimo-lo e mandamo-lo para o abismo,
mas ele volta sempre das contrariedades essenciais e existenciais e morremos
no fim do duelo3. Assim sendo, o conflito é apriori algo que em vez de nos
estranhar, deveríamos exultar-se dele. Somos produto dele e não conseguimos
sobreviver sem ele.
Também podemos perceber que os direitos do homem que surgem como base
primária da justiça social e uma educação jurídica eficiente e racional, não é
apenas uma generosidade de nenhum poder Estatal. É a consciência da
contrariedade idiossincrática do homem.
A inteligência conduz o homem naturalmente conflituoso a prevenir uma
segurança, depois de ascender a prosperidade. Nessa ordem de ideias, o
artista Etona (por meio das suas pinturas e esculturas) e teoreticamente a
partir do etonismo, filosofia da razão tolerante, na melodia racional de Patrício
Batsikama, nos apresenta ostentosamente, o espelho que poderia ser e servir
como mecanismo a votar na redefinição das sociedades africanas, a partir do
seu âmago cultural. As guerras em África são as vezes intra-estatais,
dificultando os grandes vous cultural, político, cientifico e até econômico.
Já tivemos muitas experiências, tais como Uganda, Congo, Somália, Etiópia e
agora com a primavera árabe ( Tunísia, Egipto, Líbia, etc.), num novo modelo
3 Patricio Batsikama, Etonismo, Uma Filosofia da Arte sobre a Razão Tolerante, 2009.
Revista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
de revolução e de mudanças. E por sua vez são essas guerras injustificáveis
que criam muitas assimetrias sociais, provocando injustiças constantes no seio
das sociedades africanas. Portanto é importante que os artistas de África
contribuam no desenvolvimento mental dos africanos por meio da arte, por ser
um dos agentes de socialização fluível e dinâmica.
Walter Benjamin já nos advertia que destruição do mundo será um dia por
motivos estéticos. E porque não salvar o mundo pela estética produzida pelas
artes. Neste contexto a arte de Etona espelha-nos um olhar novo sobre a
realidade social de África e do mundo, numa altura em que a mesma precisa
alcançar, os vous aguiáticos do desenvolvimento moderno.
O pensar etonista ou a doutrina etoniana acredita que a arte é a forma mais
subtil e fenomenal de salvaguardar a nossa história pessoal e coletiva.
Desta forma sintética o a doutrina etoniana acredita que o mundo negro
aperfeiçoará a sua consciência e percepção sobre o mundo em milhares de
vozes.
José Francisco Lumango - Nascido em 1989, técnico angolano de artes cénicas da Escola Nacional de Teatro angolano, estudante da Universidade Catáloca de Angola, participante de uma série de conferências Internacionais, entre elas: de Arte e Sociedade, conferência internacional dedicada ao teatro em Londres, Inglaterra, onde abordou o tema " Educação dramática e as crianças africanas no pós-guerra". Convidado pelo Centro de Estudos da Faculdade de Letras da Universidade de Osaka, para debater com outros investigadores mundiais sobre as questões atinentes ao tema "Tradição, inovação e comunidade", estudante do segundo ano do curso de direito numa das universidades privadas do país.
Participação do técnico angolano de artes cênicas José Lumango "Davinci” em Agosto de 2011, em Osaka, Japão, na conferência anual da Federação Internacional dos Pesquisadores de Teatro. http://www.mpla-angola.org/edicao-384.pdf
PONTO DE VISTAOs Brancos eram Negros há milhares de anos atrás
Benedito Pepe
Há alguns anos atrás assisti em um Canal Cultural de uma TV fechada uma
pesquisa científica falando sobre a origem do homem branco e da
“diversidade das raças” no Planeta Terra, dizia sumamente que todos os
homens modernos vieram de uma única raça: a Negra. Portanto somos
todos negros em nossa origem biológico-genética, a única coisa que nos
diferencia é a cor de nossa pele, nada mais. Desde então procurava saber mais
sobre o assunto até que encontrei na Revista Super Interessante uma
reportagem falando sobre esse tema. Seu título: “Brancos, negros, índios e
amarelos: Todos parentes”. O texto abaixo é uma adaptação livre e
atualizada dessa reportagem. Em suma veremos que Brancos, Índios e
Amarelos vieram todos dos Negros Africanos.
Anos atrás no “Museu do Homem de Paris” houve uma exposição intitulada
“Todos Diferentes, Todos Parentes”, a reportagem que agora posto lembra
que se Morton estivesse vivo (Morton foi um grande cientista que morreu em
1851, estudava a “diferença” entre as raças humanas) ele certamente teria um
enfarto fulminante ao ver que várias pessoas, incluindo crianças, remontavam,
em uma tela de computador, aquilo que ele levou décadas em sua vida
fazendo no laboratório. Diariamente, centenas de jovens e curiosos em geral
se divertiram na mostra criando “homens” inimagináveis, numa miscelânea
que inclui os mais variados tipos de cabelo, olhos, rosto ou mesmo o tamanho
do nariz. Essa brincadeira se confunde com a própria explicação da origem do
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homem moderno, o Homo sapiens sapiens: a de que, ao contrário do que
pensava Morton, as diferenças físicas, tão gritantes a nossos olhos, não
passam de detalhes na história de uma espécie que, embora numerosa e
espalhada por todo o mundo, em última análise provém de um único
ancestral. As aparências enganam. “O sentido da visão tem um papel
primordial nas percepções humanas, enquanto várias espécies de animais que
diferem na cor dos pêlos ou da pele parecem não dar a menor importância a
isso”, brinca o francês André Langaney, chefe do laboratório de Biometria de
Genética da Universidade de Genebra.
É certo que as questões de um século atrás ainda persistem: se somos
descendentes de um mesmo antepassado, por que alguns têm a pele
negra, cabelos crespos e olhos escuros, enquanto outros têm olhos
puxados, cabelos lisos e a pele amarela? Por que os pigmeus medem em
média 1,50 metro, enquanto suecos chegam a 1,77 metro? As diferenças são
tantas, que apenas enumerá-las já soa como uma missão impossível — quanto
mais listar respostas para cada uma… Mas para geneticistas como Langaney ou
o célebre italiano Luigi Luca Cavalli-Sforza, um dos maiores especialistas no
assunto, muito mais numerosas e essenciais são as igualdades. Todo
homem, seja ianomâmi ou finlandês, possui cerca de 4,5 metros quadrados de
pele, 100 órgãos, 450 músculos motores, 211 ossos, 950 quilômetros de tubos
(veias e artérias), 100.000 quilômetros de fibras nervosas, 5 litros de sangue,
60 trilhões de células, etc. etc. Tão importante ainda é que jamais se
encontraram genes que pudessem ser considerados característicos de uma
única população, por mais isolada que ela viva. Isto é: os cerca de 3 bilhões de
componentes do patrimônio genético são compartilhados pelos 6 bilhões de
homens que ocupam o Planeta. Sem exceções. É o que asseguram décadas de
pesquisas, em especial as realizadas por aqueles dois especialistas. Langaney
concentrou seu trabalho em três genes que são fundamentais no ser humano.
O primeiro, responsável pelo tipo sangüíneo, é o sistema ABO. O outro, o do
fator Rhesus, determina o Rh positivo e negativo. Quanto ao terceiro, o Gm, é
o gene que produz a imunoglobulina, substância essencial para o sistema
imunológico. Tais genes se encontram em centenas de grupos étnicos, cujas
células a equipe de Langaney vasculhou. E o pesquisador é taxativo: isto
descarta a possibilidade de existirem genes “brancos”, “negros” ou
“amarelos”, como se acreditou até há pouco.
“Nenhuma população se isolou por um tempo suficiente para se constituir
como uma raça completamente diferenciada”, garante Cavalli-Sforza. Professor
da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, ele diz isso com a autoridade de
quem nos últimos cinqüenta anos se dedicou a construir a mais
completa e ambiciosa árvore genealógica da espécie humana e hoje se
dá ao conforto de andar de chinelos nos corredores da universidade. Sforza
testou nada menos de 120 características humanas gravadas nos genes,
inclusive o fator Rhesus e os sistemas ABO e Gm. E também não poupou o
computador de Stanford para reagrupar milhares de trabalhos lingüísticos e
arqueológicos, a partir dos quais selecionou os 42 grupos mais estudados,
numa amostragem perfeita dos habitantes dos cinco continentes.
Etíopes, pigmeus, europeus em geral, lapões, esquimós, japoneses, polinésios
e índios americanos são apenas algumas das etnias escolhidas por ele. E, a
partir desses estudos, o geneticista genovês radicado nos Estados Unidos
chegou a uma conclusão inovadora: a de que era possível reconstituir a
história da evolução humana com base na freqüência de certos genes, o
chamado critério de distância genética.
O fator Rhesus é um exemplo que pode ajudar a entender essa conclusão.
Sforza verificou que 16% dos ingleses tinham o fator Rhesus negativo,
enquanto a freqüência nos bascos era de 9% e nos japoneses 0%. “Se nos
limitarmos ao Rhesus, podemos dizer que os ingleses são mais próximos dos
bascos que dos japoneses.” É lógico que, para obter a distância genética entre
as populações, Sforza não usou apenas um gene; analisou mais de uma
centena. Graças a esse critério, pôde chegar então às sete grandes famílias,
os colonizadores da Terra: africanos, caucasianos, asiáticos do sul, asiáticos do
norte, australianos, insulares do Pacífico e ameríndios.
Interessante que muitos vão dizer que o homem foi criado a
imagem e semelhança de Deus, partindo-se dessa premissa e se
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esse for o mesmo Homem Moderno como nós o conhecemos, então Deus era
Negro. Muitas pessoas desde criança questionam, por que os homens criados a
imagem e semelhança de Deus são tão diferentes entre si? Por que há
Brancos, Negros, Amarelos etc.? Os Brancos, Amarelos e Índios são
“mutações” do homem original Negro.
Resumindo o trabalho tanto de Langaney quanto de Sforza: se existem
diferenças genéticas entre grupos étnicos, elas estão somente na freqüência
com que cada gene ou grupos de genes se apresentam nas diversas
populações. O que faz, então, com que os etíopes tenham a pele escura,
enquanto os belgas têm pele clara? Ainda é cedo para esperar uma resposta
definitiva, mas hoje há um consenso de que as diferenças são circunstanciais.
“Provavelmente, uma simples questão de clima”, explica Langaney. Do ponto
de vista bioquímico, por exemplo, não existem classificações como
brancos, negros e amarelos: apenas pessoas com menos ou mais
melanina. É essa substância, presente nas camadas profundas da epiderme,
que responde pela coloração da pele, dos cabelos e dos olhos. Quanto mais
melanina, mais escura a pele.
Ainda não conseguimos explicar o mecanismo de incidência do sol na coloração
da pele, nem como isso se transfere hereditariamente, mas sabemos muito
bem, por outro lado, que a síntese da vitamina D depende diretamente dos
raios ultravioleta”, revela Langaney. Presentes em maior quantidade nas zonas
tropicais, esses raios são menos absorvidos por peles escuras do que pelas
claras. A falta de vitamina D, por sua vez, causa raquitismo. “Basta uma
simples olhadela no mapa-múndi para notar que, geograficamente, de acordo
com a região em que se estabeleceram, as populações são menos ou mais
claras.” Antes das grandes migrações que, a partir do século XVI,
marcaram a história da humanidade, todos os grupos de pele mais
escura se situavam nas zonas tropicais, enquanto os mais claros são
sempre aqueles próximos das latitudes mais altas. Ao mesmo tempo,
zonas intermediárias, como as Filipinas ou a Índia, são ocupadas por
pessoas de cores igualmente intermediárias.
Segundo a teoria mais aceita atualmente, os homens que migraram da África
Central ou do Oriente Próximo em direção ao norte teriam mudado de cor de
pele para melhor absorver os raios ultravioleta . Assim, escapariam à ameaça
do raquitismo, já que o Sol aparecia menos por lá do que nas terras de onde,
supõe-se, vieram.
Além disso, tudo leva a crer que as diferenças de cor que notamos entre
um negro e um asiático, por exemplo, ocorreram há pouco tempo na
escala de desenvolvimento da humanidade. Principalmente quando
comparadas com características essenciais: é quase certo que o código
genético que determina que todos tenham 4,5 metros quadrados de pele
antecedeu em muito o que determina a coloração da pele. Para usar o mesmo
exemplo, a cor da pele parece levar de 20.000 a 40.000 anos para se
modificar. A conclusão vem do fato de a América ter sido povoada, a partir da
Ásia do Norte, há não mais de 40.000 anos. Este intervalo teria sido suficiente
para que a incidência solar dos trópicos fizesse efeito e escurecesse as
populações que ali se estabeleceram, os ameríndios. “E o que são 40.000 anos
diante dos 4 milhões de anos que forjaram biologicamente a espécie
humana?”, pergunta Langaney.
Assim como a cor da pele, as estaturas também parecem estar ligadas
ao tipo de meio ambiente eleito por uma população. E não deve ter sido
necessário muito mais tempo do que o gasto nas mudanças de cor para que
populações africanas desenvolvessem estaturas tão discrepantes como entre
pigmeus (1,50 metro), habitantes da floresta equatorial, e os saras (1,80 m)
que habitam zonas áridas do continente. É certo que a transformação das
sociedades rurais agrícolas em sociedades urbanas industrializadas interferiu
violentamente nessa divisão: um estudo da média de altura dos recrutas
militares franceses entre 1880 e 1970 mostra que a população masculina do
país chegou a crescer 7 centímetros nesses noventa anos. As exceções só
confirmam a regra. A seu modo, Sforza também reforça a tese de que as
diferenças aparentes são mais ligadas a fatores climáticos e ambientais do que
a origens distintas. Em sua árvore genealógica, a cor da pele não é um
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critério e nada impede que brancos e negros saiam da mesma família.
Os branquelos lapões do norte europeu vieram do mesmo grupo —
caucasianos — que originou os escuros berberes da África. As diferenças,
assim como a distância genética, portanto, foram adquiridas através do tempo.
Quanto mais distantes geograficamente, menos as populações se
parecem. “A rede genética mostra que as discordâncias se fizeram durante a
colonização do mundo”, esclarece Langaney.
Embora a cadeia genética de cada uma dessas famílias tenha sofrido
alterações à medida que elas se afastavam e se subdividiam, nenhuma
desenvolveu qualquer tipo de gene específico. Recentemente, Sforza
demonstrou que, além da coincidência geográfica, a familiaridade genética
se superpõe quase sempre a uma familiaridade lingüística. Ou seja,
quanto mais geneticamente próximos os grupos, mais suas línguas se
correspondem.
Arqueologicamente, hoje poucos duvidam da origem africana do “homem
moderno”: supõe-se que ele surgiu entre a África Central e o Oriente
Próximo, há 100.000 ou 150.000 anos. Pelo menos é o que indicam seus
vestígios mais antigos, entre 100.000 e 125.000 anos, encontrados no
continente africano. Mas foi com a descoberta do Homem de Qafzeh, um
crânio desenterrado na Palestina, que a tese da migração do Homo sapiens
sapiens começou a se concretizar: Eva, o nome dado ao mais perfeito
exemplar do passado humano, viveu há 92.000 anos. Para Sforza, a data-
chave do momento em que os ramos africanos e não-africanos se separaram
para iniciar a grande andança, espalhando tipos tão diferentes pelos quatro
cantos do mundo que, às vezes, é difícil acreditar virem todos do mesmo
ancestral. Para Langaney e Sforza, apenas mais uma prova da sabedoria do
velho ditado popular: as aparências realmente enganam.
É amigo leitor, podemos dizer filosoficamente: os nossos sentidos nos
enganar….
Benito Pepe publica textos de Filosofia, Astronomia, Religião, Administração, Marketing e Assuntos da Atualidade. É Palestrante, Professor, Instrutor e Facilitador. Além dos Cursos, Treinamentos de Equipes e Workshops, suas Palestras podem ser também sobre diversos temas que são apresentados no seu Site/blog, dessa maneira suas representações têm um Diferencial Especial…
O RACISMO, OS NEGROS, OS BRANCOS E OS ESPERTOS.
Arthurius Maximus
Se é para falar de raça; vamos então falar a verdade. Em nosso país os negros são uma raridade. Somos um país de mestiços. Essa, por si só, já é uma prova cabal de que o racismo por aqui é bem diferente do que falam. E é exatamente aí que reside nossa força e nossa riqueza. As pessoas que tem preconceito racial em nosso país são uma minoria ignorante e atrasada. Ninguém que viva aqui pode atestar que sua árvore genealógica é pura. Nem mesmo os índios.
Criar em nosso país a ideia de que o negro era uma vítima do Estado Brasileiro é vomitar ignorância histórica.
A escravidão era normalmente praticada na África entre as tribos. Os europeus não caçavam escravos. Eram os negros africanos que faziam isso e vendiam, por lucro, seus compatriotas aos escravagistas.
O maior comerciante de escravos brasileiro era um negro. Muitos dos grandes caçadores de negros fugidos, que eram famosos no Império, eram negros. A escravidão era um mal cultural comum na época. E, se analisarmos a história
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humana, desde nossos primórdios. Se quisermos mesmo mergulhar a fundo nas coisas, basta lembrar que a recende revelação de nosso código genético mostrou que somos todos… africanos. Isso mesmo. Seja você branco, negro, amarelo ou vermelho; somos todos descendentes dos primeiros africanos. Além disso, as características genéticas que nos diferem são tão poucas que a menção de uma diferenciação por raça entre nós é infundada, mentirosa e imbecil. Somos todos seres humanos.
Mas, se é assim, por que alguns teimam tanto em promover o racismo disfarçando-o de “orgulho racial”? Ora, é muito simples: poder. Ao importarem os ódios, a terminologia e as medidas que os americanos usaram para combater o racismo visceral que há por lá; ganham poder e importância por aqui.
Ao bater no peito e dizer que é afro-brasileiro, o negro adota a fala importada dos EUA que nada mais é do que uma maneira de reforçar a diferença e a exclusão. SOMOS BRASILEIROS e só. TODOS nós somos iguais e as oportunidades e direitos são para todos. O que precisamos é providenciar que os mais pobres tenham acesso as mesmas oportunidades que os mais abastados. Independentemente de sua cor.
Se continuarmos dando ouvidos a esses “entendidos” e defensores das “causas sociais”; acabaremos como os americanos; um povo que sequer pode se cumprimentar nos elevadores do trabalho ou fazer uma brincadeira com um amigo por medo de processos e retaliações judiciais. Vamos acabar criando o Estatuto da Igualdade dos Obesos (quer mais discriminação do que contra os obesos – classe na qual me incluo). Um negro pode ir ao teatro, ao cinema, pegar um ônibus, etc… um obeso, muitas vezes, não. E cadê o Estatuto da Banha? Vamos criar também o Estatuto dos Ruivos Com Sardas (afinal nenhum grupo é mais minoria do que esse). Quem sabe, então, o Estatuto dos Dentuços, dos que usam óculos… e por aí vai. Em breve, seremos uma nação de estatutos e de preconceitos acirrados e generalizados.
Arthurius Maximus- Ex-fuzileiro naval deixou a caserna para dedicar-se aos estudos. Paradoxalmente, abandonou a faculdade de letras na UERJ para trabalhar com informática. Iniciou a vida profissional nessa área e após vinte anos de serviços prestados e várias promoções, atingindo um excelente patamar salarial e de respeitabilidade, viu-se acometido por uma doença grave; causada pelo excesso de trabalho e pelo descaso da empresa com as normas de segurança laborativa. Foi condenado pelos médicos e impedido de continuar sua ascensão profissional. A partir deste episódio, conheceu o lado negro das corporações e iniciou uma grande luta para expô-lo e para ajudar aos que se encontravam na mesma situação. Devido a grande perseguição que sofre por parte da empresa em que trabalhou, protege a sua identidade por trás de um pseudônimo. Participa de ações voluntárias que envolvam portadores de L.E.R./D.O.R.T. e fornece orientações baseadas em sua experiência e gratuitas em um de seus blogs e na comunidade Reféns da Ler/Dort no Orkut, sob a alcunha de Lord Sarubiano. Hoje, aposentado por invalidez, usa o computador com arma nessa luta e para expressar suas idéias através dos blogs que edita. Disponível em : http://www.visaopanoramica.com/2009/05/14/o-racismo-os-negros-os-brancos-e-os-espertos/
VITRINE
A Musa Calíope objetivando erradicar a discriminação e promover o respeito à diversidade e heranças culturais, abre espaço para destacar a entrevista concedida a afrobrasnews - Agência Internacional de Notícias Afroétnicas, em que o jovem Afroboliviano de Tocanã, Edgar Gemio Zabala, envolvido desde a adolescência com o resgate das raízes Afro de seu povo, líder nato, com clareza e articulação mental, explica o universo Afroboliviano e seus elementos.
RESISTÊNCIA AFRO-BOLIVIANA
Edgar Gemio
Nos mais de três séculos em que a escravidão perdurou, cerca de 5,7 milhões de pessoas foram sequestradas na África e chegaram como escravos aos portos latino americanos. Essa população deu origem aos mais de 150 milhões de afrodescendentes que representam cerca de 30% da população do continente. Em comum essas pessoas que vivem em diferentes países, tem além de sua ancestralidade a busca por uma identidade e o resgate de valores como a cultura e a religiosidade, para assim reconstruir aquilo que a escravidão roubou.
Exemplo dessa busca, a população afro-boliviana, que representa hoje cerca de 0,5% da população da Bolívia, desenvolve ações que possibilitam uma reafirmação da identidade da comunidade negra naquele país, principalmente através de atividades solidárias, com o objetivo de melhorar a vida do povo negro. Além disso, há uma preocupação por parte do grupo em recuperar a
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autoestima, principalmente através da difusão da sabedoria ancestral e da difusão da cultura e manifestações artísticas, como por exemplo, as danças como o semba, o mauchi, e a saya, que tentam representar os valores e as necessidades da comunidade negra, além de ser uma ligação com a ancestralidade.Ativista no movimento pela recuperação e preservação da africanidade boliviana, Edgar Gemio, é uma das pessoas que vê o resgate cultural e histórico da população negra de seu país, como uma das maiores necessidades para que a luta contra o racismo ganhe forças. Filho de um importante compositor afro-boliviano, Gemio afirma visualizar hoje na Bolívia, uma preocupação em não deixar que os valores da população negra desapareçam. Em entrevista exclusiva a afrobrasnews, Edgar Gemio fala sobre cultura, história, política, resistência e muito mais.
afrobrasnews - Edgar conta um pouco da sua história para os nossos leitores, como começou sua militância?Edgar Gemio - Meu nome é Edgar Gemio Zabala e, eu nasci há 25 anos, na comunidade afro-boliviana de Tocaña, que fica no município de Coroico, em La Paz, Bolívia. Estudei o primário em uma escolinha que tínhamos em nossa própria comunidade. Depois estudei em uma escola urbana em Coroico e para reduzir os gastos, pois era muito caro estudar na cidade, meus pais decidiram me enviar para um internato católico, há uns 30 km de Tocanã. Ali estudavam cerca de 30 jovens afro-bolivianos, nós ficávamos no internato durante a semana e no final de semana voltávamos para Tocanã e foi ali, que tudo começou.
Em 2000 eu passei a fazer parte de um grupo chamado Esperanza Juvenil, com jovens de diferentes escolas, que tinha como objetivo fazer com que cada jovem se tornasse alguém que pudesse ajudar sua comunidade. Em 2002 nós criamos em Tocanã, a organização juvenil afro-boliviana, Raíces Afros en Bolívia, que tem como objetivo dar continuidade as atividades culturais praticadas por nossos pais, como o Saya, Semba, Baile de Tierra, Mauchi entre outros, essas atividades se desenvolvem até hoje.
Em 2005 eu terminei o colégio e fui morar na cidade de Santa Cruz de la Sierra, onde rearticulamos a organização afro-boliviana, com os moradores daquela cidade. Eu fui presidente da organização em 2006 e 2007.
Em 2008, eu retornei a La Paz e ajudei a desenvolver a Organización Integral Saya Afro Boliviana ORISABOL, na qual atuo até hoje, ao mesmo tempo em que apoio todas as atividades do grupo Raíces Afros en Bolivia RAFROBO. E no decorrer de todo este período, graças a internet, acabei me tornando uma ponte para chegar a todas as comunidades afro na Bolívia.
afrobrasnews - Como é a situação do povo negro na Bolívia atualmente? Como está a militância em seu país?Edgar Gemio - Eu me sinto capaz de dizer que o povo negro na Bolívia está relativamente bem, pois com tudo que temos vivido, as oportunidades estão surgindo. Uma de nossas maiores dificuldades é com a formação cultural e intelectual do nosso povo. Me alegro em dizer que nos últimos anos surgiram muitos líderes dentro da comunidade, que foram orientados a trabalhar pela comunidade, então ainda que não tenhamos todo o sucesso necessário, eu percebo que o que acontece é um processo forte de conscientização, abertura e geração de oportunidades. A saúde, ainda não chegou às nossas comunidades. Também percebemos que não existem programas dedicados a divulgação da nossa cultura, mas tenho esperança de que isso irá acontecer de uma maneira ou de outra no decorrer desse processo. Posso dizer que hoje há muita abertura, mas que um dos maiores obstáculos que temos hoje somos nós mesmos, pois entre os afro-bolivianos há uma disputa indiscriminada e desleal, entre as lideranças do movimento negro.
afrobrasnews - Quais são as principais demandas do povo negro na Bolívia?Edgar Gemio - A principal demanda é a documentação histórica e cultural do povo negro e posteriormente colocá-los a disposição não apenas do nosso povo, mas de todos os povos no nosso país. Que a educação seja mais igualitária e baseada no respeito às diferenças culturais. No demais, acho que são detalhes que também estão presentes no restante das comunidades “pluriculturais” e que as soluções devem nascer da nossa própria comunidade, que deve mostrar desejo e criar ferramentas para resolver essas questões.
afrobrasnews - Que tipo de trabalho vem se desenvolvendo nesse sentido?Edgar Gemio - Dentre as coisas interessantes que tem sido feitas nesse
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sentido eu destaco a criação da fundação HUASCAR CAJIAS e principalmente a contribuição do historiador Fernando Cajias. Depois disso, temos o autor Juan Angola Maconde, que recuperou capítulos perdidos de nossa história e publicou em seu livro Raices de un pueblo. Ele também está trabalhando junto ao Ministério da Educação boliviano, para incluir a história e cultura afro-boliviana, nos currículos escolares, porque atualmente a única coisa que se fala sobre isso nas escolas é que os negros foram escravos em Potosí.
Da mesma maneira, foi criado o Centro de Interpretación y Expresión Cultural Afro boliviano Tocaña, que se projeta sustentavelmente como algo essencial para a preservação das práticas ancestrais em nossa cultura.
afrobrasnews - Você é filho de um conhecido cantor de ritmos afro-bolivianos. Como isto influenciou na formação de sua identidade?Edgar Gemio - Meu pai, Vicente Gemio Medina, é um amante e um soldado incansável nesse processo de visibilidade que nossa comunidade tem sofrido desde a década de 1980 até os dias de hoje. Isto me influenciou muito, pois sempre foi um exemplo a seguir, um compromisso que eu nunca iria alcançar, mas é parte da motivação pela qual eu sigo. Confesso que compor não é o meu negócio, mas nós estamos no mesmo pelotão e lutamos a mesma batalha.
afrobrasnews - Na sua opinião os povos da diáspora africana na América Latina podem se unir na luta contra a discriminação racial? Como isso aconteceria?Edgar Gemio - Claro, pois se falamos sobre a diáspora, falamos do conjunto de ações, gestões, estratégias políticas, práticas e ferramentas culturais com que contamos, para fazer da comunidade negra em toda América Latina e no mundo, uma única família, na qual podemos compartilhar experiências, em prol do desenvolvimento das mesmas, não importa seu posicionamento geográfico ou ideológico. Na verdade isso nos leva a trabalhar unidos, não apenas contra a discriminação, mas também, contra a pobreza e em favor da educação, da saúde, da alimentação e antes de tudo pelo respeito e geração de oportunidades.
Edgar Gemio Zabala além de estudar Engenharia Comercial na Universidade em La Paz, trabalha com projetos de desenvolvimento sustentável através da Cooperação USAID e milita na ORIZABOL, uma organização Afrobolivianas. Disponível em: http://www.news.afrobras.org.br/
LITERATURA AFRO-BRASILEIRA
A Revista Musa Calíope reserva estas páginas para compartilhar literaturas
que valorizam a diversidade étnica e cultural afro-brasileira e africana.
Esta é uma ótima alternativa para abordar os conteúdos exigidos pela lei
10.639, que obriga o ensino da “História e Cultura afro-brasileira e africana”
nas escolas de Ensino Fundamental e Médio das redes pública e privada de
todo Brasil. Abaixo sugerimos alguns livros recomendados para pais, filhos e
professores sobre o tema.
1 – Menina Bonita do Laço de Fita
Autor: Ana Maria Machado
A autora coloca em cena, através da história de um coelho
branco que se apaixona por uma menina negra, alguns
assuntos muito debatidos nos dias de hoje, como a auto-
estima das crianças negras e a igualdade racial.
2 - Luana, A Menina Que Viu O Brasil Neném
Autores: Oswaldo Faustino, Arthur Garcia e Aroldo Macedo.
O livro conta a história de Luana, uma menina de 8 anos que adora lutar
capoeira, e a historia do descobrimento do Brasil. Ao lado de seu berimbau
mágico, ela leva o leitor a outras épocas e lugares e mostra o quão rica é a
cultura brasileira, além da importância das diferentes etnias existentes por
aqui.
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3 – O Menino Marrom
Autor: Ziraldo.
O Menino Marrom conta a historia da amizade entre dois
meninos, um negro e um branco. Através da convivência
aventureira dessas crianças ao longo de suas vidas, o
autor pontua as diferenças humanas, realçando os
preconceitos em alguns momentos.
4 – Lendas da África
Autor: Júlio Emílio Brás.
O livro mostra fábulas tipicamente africanas para leitores de todo mundo. Nas
histórias, o autor mostra um pouco do folclore africano, além de passar valores
do “tempo em que os animais ainda falavam” para as crianças.
5 – Terra Sonâmbula
Autor: Mia Couto.
Primeiro livro do autor africano, Terra Sonâmbula foi
considerado um dos doze melhores romances do
continente no século 20. Numa estória emocionante
sobre o encontro de um menino sem memória e um
velhinho meio perdido pelo mundo, Mia Couto mistura
símbolos tradicionais da cultura e da história
moçambicana.
6 – Meu avô um escriba
Autor: Oscar Guille.
A história se passa na África, mais precisamente no Egito. O pequeno Tatu é
neto de um escriba. A convivência com o avô permitirá ao menino aprender
cálculos, a ter contato com tradições mais antigas de seu país e a se preparar
para também ser um escriba um dia.
7- O Cabelo de Lelê
Autor: Valéria Belém.
Lelê é uma linda menininha negra, que não gosta do
seu cabelo cheio de cachinhos. Um dia, através de um
fantástico livro, começa a entender melhor a origem
de seu cabelo e, assim, passa a valorizar o seu tipo de
beleza.
8 – A varanda Do Frangipani
Autor: Mia Couto.
O romance policial moçambicano é marcado por palavras criadas pelo próprio
autor, nascido no país onde se passa a trama. A história conta sobre o violento
colonialismo em Moçambique e a superação do país a partir dessa cicatriz
histórica.
9 – Bia na África
Autor: Ricardo Dregher.
O livro é parte da coleção “Viagens de Bia”. Nessa
estória, Bia viaja por diferentes países da África, como
Egito, Quênia e Angola. Na aventura, a garotinha
conhece, entre outras curiosidades, a história do povo
árabe e dos nossos antepassados negros, que vieram
como escravos da África para o Brasil há muitos anos.
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10- Avódesanove e o segredo do soviético
Autor: Ondjaki.
Em Luanda, capital da Angola, África, as obras de um mausoléu realizadas por
soldados soviéticos ameaçam desalojar morados da PraiaDoBispo, bairro da
região. As crianças do bairro percebem as mudanças com olhares
desconfiados. Talvez elas sejam as primeiras a perceber que a presença dos
soldados soviéticos significa mais do que uma simples reforma espacial.
11 – Tudo Bem Ser Diferente
Autor: Todd Parr.
A obra ensina as crianças a cultivar a paz e os bons
sentimentos. O autor lida com as diferenças entre as
pessoas de uma maneira divertida e simples,
abordando assuntos que deixam os adultos sem
resposta, como adoção, separação de pais,
deficiências físicas e preconceitos raciais.
12 – Diversidade
Autor: Tatiana Belinky.
O livro mostra, através de versos, porque é importante sermos todos
diferentes. A autora fala que não basta reconhecer que as pessoas não são
iguais, é preciso saber respeitar as diferenças.
LANÇAMENTO LIVROA Revista Musa Calíope abre espaço para destacar o lançamento do livro "Como Romeu e
Julieta" da autora Nina Auras que ocorreu dia 09/12 e foi um sucesso!
Sinopse - Como Romeu e Julieta
Nina Auras
Na Cracóvia, Polônia, de 1944, o medo se alastrava como fogo no álcool. Em 7 de outubro, os Sonderkommandos judeus
(prisioneiros que haviam sido selecionados para trabalhar como “operários” nas câmaras
de gás) organizaram uma revolta no Campo de Concentração Auschwitz-Birkenau. Os 250 prisioneiros revoltosos foram capturados e
imediatamente executados. Mas Adam, um dos revoltosos, conseguiu fugir. Ele acabou
encontrando a ajuda que precisava em Julia Leinster, uma jovem filha de um comerciante cercada de dúvidas, problemas e doenças que
o encontra no meio da noite e o abriga em segredo. Só que acho que todos sabemos que
segredos não duram para sempre...
Revista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
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Nina Auras, catorze anos, adoraria ser misteriosa e encantadora como a Nina de Chico. Mas ela é apenas a Nina vivida. Uma Nina que ama dias de chuva, o barulho do vento na janela do seu quarto, o frio, ler livros debaixo do cobertor, chocolates quentes e sair com os amigos quando faz sol. Uma Nina que pratica sotaque britânico enquanto lê seu livro predileto, O Morro dos Ventos Uivantes, que fica cantarolando Caetano Veloso pelos cantos, e que, na sua imaginação, é tão íntima de José Saramago que até o chama de Tio Zezé. Uma Nina, menina meio perdida, apaixonada, redundante, catarinense e que mora em Florianópolis. Uma Nina que está tentando se descrever, e não sabe como – prazer.
http://recantodecaliope.blogspot.com/2011/12/entrevista-com-o-autor-nina-auras.html e http://www.escoladailha.com.br/index.php?acao=noticia&idHome=44&nid=135
Disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/blog/biblioteca-basica/tags/literatura-africana
CHAMADAS PARA PUBLICAÇÃO.
A Revista “ Musa Calíope” está recebendo trabalhos para compor o primeiro número do Ano 2012, que terá como tema:
“CULTURA BRASILEIRA: IDENTIDADE, DIVERSIDADE E PLURALISMO”
Para publicação:Os poemas, crônicas e contos passarão por uma comissão de leitura e seleção; os textos não selecionados ficarão em nossos arquivos, podendo ser publicados posteriormente. Não será permitida publicação de trabalhos que não sejam da autoria do remetente.
No caso de POEMAS: Envie seu trabalho a ser publicado junto com seus dados (nome, e-mail, cidade/estado, breve biografia (com no máximo 150 palavras), foto) para:
No caso de outras narrativas: CONTOS e CRÔNICAS: Envie seu trabalho a ser publicado junto com seus dados (nome, e-mail, cidade/estado, breve biografia (com no máximo 150 palavras), foto) para:
. Envie 4 poemas, e/ou 1 prosa, e/ou 1 conto pequeno (máximo 2 páginas sendo digitadas em Word 6.0, fonte VERDANA, tamanho 12. A temática será livre (O texto deve estar dentro de padrões morais e éticos aceitáveis). Os textos apresentados aqui devem estar revisados e são de direito e responsabilidade de seus autores.
3. Existem critérios de julgamento distintos no que se refere às poesias e contos que ficarão a cargo da comissão de leitura e seleção classificar. Será observado respeito às normas gramaticais básicas.
NORMASRevista Eletrônica Internacional de Letras, Arte e Poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil. Edição n° 4 – Novembro/Dezembro de 2011 - Volume II
INTRODUÇÃO Este documento tem como objetivo estabelecer diretrizes para os colaboradores, explicitando a linha editorial da Revista Musa Calíope e as características de suas publicações.
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4. Os ARTIGOS, ENSAIOS, RESENHAS deverão ser enviados, EXCLUSIVAMENTE, para o e-mail [email protected]
No final do texto, colocar breve biografia (com no máximo 150 palavras), foto. Deve-se colocar os dados do autor: Nome completo, Endereço completo (com CEP), e-mail, Titulação (se houver) e Instituição de origem (se houver), e-mail ou telefone de contato.
5. Os ARTIGOS, ENSAIOS e RESENHAS devem ser INÉDITOS, sendo digitados também em Word 6.0, fonte VERDANA, tamanho 12. Para as citações destacadas, com mais de 4 linhas, usar a mesma fonte em tamanho 10. Se a citação tiver menos de três linhas deverá ser feita no interior do parágrafo, marcada apenas por aspas duplas no início e no final do trecho reproduzido.
6. Deve-se usar PARÁGRAFO MODERNO, isto é, sem deslocamento na primeira linha, espaço simples entre linhas e duplo entre parágrafos. Não numerar as páginas. Estas devem ser configuradas no formato A4. A publicação do periódico é SEMESTRALL, com acesso GRATUITO. Entretanto, temos publicações especiais neste intervalo.
7. Os textos serão enviados para pareceristas integrantes da Comissão Editorial da revista eletrônica. A cada número, será organizado um dossiê. Os artigos e ensaios deverão ter no mínimo 02 páginas e no máximo 03 páginas, resumo em português e em outra língua estrangeira, de no máximo 250 palavras e 03 palavras-chave, também em português e na outra língua escolhida. As resenhas deverão ter, no máximo, 02 páginas. Os artigos não aceitos para publicação NÃO serão devolvidos.
8. A primeira página deve incluir: a) o título centralizado, em caixa alta, com negrito; o(s) nome(s) do(s) autor(es), com letras maiúsculas somente para as iniciais, duas linhas abaixo do título à direita, com um asterisco que remeterá ao final do texto para identificação da instituição a que pertence(m) o(s) autor(es) e da função que nela ocupa(m).
9. Subtítulos: sem adentramento, em maiúsculas, numerados em algarismos arábicos; a numeração não inclui a introdução, a conclusão e a referência bibliográfica.
10. As Notas: devem aparecer ao final do artigo, utilizando-se os recursos do Word 6.0, corpo 10 e numeradas na ordem de aparecimento; a chamada (o número referente à nota) deve estar sobrescrita; os destaques (livros, autores, artigos, categorias, etc.) devem ser colocados em itálico, conforme a necessidade.
11. Referências no texto: seguir normas da ABNT: a) Para títulos de livros, usar negrito; b) Subtítulos, sem negrito; Capítulos de livros do mesmo autor, usar a expressão In:, seguida de 5 travessões: In: _____. c) Para Organizadores e Coordenadores (Org.). ou (Coord.).; d) Após a citação, colocar o sobrenome do(a) autor(a) em caixa alta, seguido do ano e do nº. da página. P. ex.: (SOUZA, 2006, p. 105).
12. Anexos: caso existam, devem ser colocados antes das referências, precedidos da palavra ANEXO, sem adentramento e sem numeração.
13. Só serão aceitos artigos de autores que tenham seu currículo cadastrado e atualizado na Plataforma Lattes do CNPq. OBS.: Os textos que não apresentarem as normas estipuladas para publicação, notadamente as de formatação das referências, NÃO serão avaliados.
Revista Eletrônica Internacional de Literatura e poesia “Musa Calíope” Corumbá - MS, Brasil, Edição Especial- Nº 1 junho/julho/agosto/2011 !