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Ano VI . Número 33 . Setembro . 2013 keMA Kema: em Kaingang, “experimentando” Informativo bimestral do Museu Antropológico Diretor Pestana mantido pela Fidene, de Ijuí/RS Confira abaixo algumas fotos da Exposição: anos Museu Antropológico Diretor Pestana Museu Antropológico Diretor Pestana A Exposição História e Cultura Afro-Rio-grandense Paulo Zarth Professor de história da UNIJUÍ Atualmente o tema étnico racial readquire força no ensino de história, por conta das políticas educacionais e dos movimentos sociais e culturais com bases étnicas – o movimento negro e o movimento indígena. Não é uma simples volta metodológica ao passado e sim um esforço para reconsiderar as condições históricas dos diferentes grupos étnicoculturais na constituição da sociedade brasileira, marcada por inequívocas desigualdades com características étnicas. Hoje as políticas educacionais e culturais do Brasil tentam consertar os erros do passado e reconhecem o valor da cultura africana e afrobrasileira, lembrando que quase a metade dos brasileiros são afrodescendentes. Aprendemos, até pouco tempo, a valorizar a cultura de matriz europeia como sendo a mais importante, ignorando ou diminuindo os conhecimentos, a arte e os valores estéticos dos povos africanos e indígenas. O eurocentrismo foi um grave equívoco que ainda persiste no imaginário da população. No caso do Rio Grande do Sul, a bibliografia tradicional ensinava aos rio- grandenses que sua história teria sido construída por duas vias importantes: de um lado, pelos grandes criadores de gado; e, de outro, pelos colonos imigrantes, pequenos agricultores de origem europeia. Negava-se ou minimizava-se a presença de trabalhadores escravizados de origem africana nas estâncias pastoris. Pesquisas recentes produzidas nas universidades mudaram essa visão e revelaram a forte presença de povos de origem africana em todos os rincões do Rio Grande, nos campos e nas cidades. Em relação ao território do atual município de Ijuí é importante ler as pesquisas do professor Leandro Daronco, que revelam a marcante presença de africanos nas estâncias de Cruz Alta e região desde meados do século XIX. A atual exposição temporária do MADP é uma boa contribuição para dar a merecida e necessária visibilidade aos afro-rio-grandenses, que tanto contribuíram para a formação da sociedade rio-grandense e ijuiense.

Museu Antropológico keMA · Elaboração do Plano Museológico Durante o mês de janeiro de 2013 a equipe do Museu Antropológico Diretor Pestana - MADP,

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Ano VI . Número 33 . Setembro . 2013 keMAKema: em Kaingang, “experimentando”Informativo bimestral do Museu Antropológico Diretor Pestana mantido pela Fidene, de Ijuí/RS

Confira abaixo algumas fotos da Exposição:

anos

Museu AntropológicoDiretor Pestana

Museu AntropológicoDiretor Pestana

A Exposição História e Cultura Afro-Rio-grandense

Paulo Zarth Professor de história da UNIJUÍ

Atualmente o tema étnico racial readquire força no ensino de história, por conta das políticas educacionais e dos movimentos sociais e culturais com bases étnicas – o movimento negro e o movimento indígena. Não é uma simples volta metodológica ao passado e sim um esforço para reconsiderar as condições históricas dos diferentes grupos étnicoculturais na constituição da sociedade brasileira, marcada por inequívocas desigualdades com características étnicas.

Hoje as políticas educacionais e culturais do Brasil tentam consertar os erros do passado e reconhecem o valor da cultura africana e afrobrasileira, lembrando que quase a metade dos brasileiros são afrodescendentes. Aprendemos, até pouco tempo, a valorizar a cultura de matriz europeia como sendo a mais importante, ignorando ou diminuindo os conhecimentos, a arte e os valores estéticos dos povos africanos e indígenas. O eurocentrismo foi um grave equívoco que ainda persiste no imaginário da população.

No caso do Rio Grande do Sul, a bibliografia tradicional ensinava aos rio-grandenses que sua história teria sido construída por duas vias importantes: de um lado, pelos grandes criadores de gado; e, de outro, pelos colonos imigrantes, pequenos agricultores de origem europeia. Negava-se ou minimizava-se a presença de trabalhadores escravizados de origem africana nas estâncias pastoris.

Pesquisas recentes produzidas nas universidades mudaram essa visão e revelaram a forte presença de povos de origem africana em todos os rincões do Rio Grande, nos campos e nas cidades. Em relação ao território do atual município de Ijuí é importante ler as pesquisas do professor Leandro Daronco, que revelam a marcante presença de africanos nas estâncias de Cruz Alta e região desde meados do século XIX.

A atual exposição temporária do MADP é uma boa contribuição para dar a merecida e necessária visibilidade aos afro-rio-grandenses, que tanto contribuíram para a formação da sociedade rio-grandense e ijuiense.

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Informativo bimestral do Museu Antropológico Diretor Pestana

Editorial

Expediente

Projetos

keMA

Presidente da FideneMartinho Luís Kelm

Diretora do MuseuStela Mariz Zambiazi de Oliveira

Coordenadora do Informativo KemaStela Mariz Zambiazi de Oliveira

Projeto GráficoNúcleo de Design Gráfico da UNIJUÍ

Editoração e RevisãoCoordenadoria de Marketing da Fidene

ImagensAcervo Fotográfico MADP

ImpressãoEditora Unijuí

Distribuição gratuitaPeriodicidade bimestral

KEMA - Informativo bimestral do MADPMuseu Antropológico Diretor Pestana, mantido pela Fidene

Rua Germano Gressler, 96Bairro São Geraldo98700-000 - Ijuí-RS-Brasil55 3332 [email protected]/madp

Elaboração do Plano Museológico

Durante o mês de janeiro de 2013 a equipe do Museu Antropológico Diretor Pestana - MADP, contando com sugestões de assessoria externa e do Núcleo de Projetos da UNIJUÍ, elaborou o Projeto “Desenvolvimento de Políticas Museológicas no MADP – Elaboração do Plano Museológico”, enviado pela Associação de Amigos do Museu Antropológico Diretor Pestana, instituição proponente.

O processo de envio e aceite se estendeu de janeiro a julho, o resultado final dos classificados foi publicado no Diário Oficial da União do dia 14 de agosto de 2013, constando a aprovação do projeto e confirmando o repasse do Prêmio de R$ 50.000,00 para o Museu.

Tal projeto tornou-se essencial para o Museu tendo em vista que, ao longo do trabalho, fica clara a necessidade do Museu reconhecer suas demandas administrativas e físicas, bem como atualizar-se e estar em conformidade perante a legislação vigente.

Sendo assim, a partir de tal projeto, realizar-se-á contratação de assessoria técnica especializada para, juntamente com a equipe do MADP, elaborar o Plano Museológico do MADP. É importante explicitar que a elaboração do Plano Museológico atenderá ao estabelecido no Estatuto dos Museus (Lei 11.904), ao qual o MADP se adequará construindo sua documentação dentro de todos os preceitos estabelecidos pela lei.

Ao desenvolver este projeto, o MADP disporá das condições organizacionais, técnicas e de estrutura física adequada ao bom desempenho de suas atribuições, sempre de forma dinâmica e qualificada, e sendo o propulsor deste projeto, desenvolver o indicado na legislação. Afinal, de acordo com o Estatuto de Museus, Capítulo 2, Seção III, Artigo 44, “é dever dos museus elaborar e implementar o Plano Museológico” .

Neste sentido, por meio deste espaço, queremos dividir com você a importante conquista do Museu e convidá-lo a nos auxiliar nesta nova frente. Venha até o MADP, traga suas ideias e faça parte, enquanto comunidade ativa, deste momento de Revitalização na história do Museu.

A edição de número 33 do Informativo Kema traz para você, caro leitor, n o v i d a d e s b e m interessantes. Na matéria de capa apresentamos um texto do professor doutor Paulo Zarth, um dos curadores da exposição História e Cultura Afro-Rio-grandense, a qual tem atraído um bom público a t é o M u s e u p a r a conhecer de perto um pouco mais da cultura deste povo. Também, n e s t a e d i ç ã o , curiosidades a respeito de alguns brinquedos que fizeram e ainda hoje fazem sucesso entre a g a r o t a d a . N a s e ç ã o Projetos, informamos os d e t a l h e s d o ú l t i m o projeto encaminhado p e l o M u s e u Antropológico Diretor P e s t a n a , o q u a l f o i aprovado pelo IBRAM. Na Programação Cultural, você vai ficar por dentro dos próximos eventos que serão realizados pelo M A D P e a i n d a a importante opinião da p r o f e s s o r a d o u t o r a Sandra Maria do Amaral, do Curso de História da UNIJUÍ.

Horário de Atendimento do Museu: De segunda à sexta-feira, nos períodos manhã (8h às 11h30min) e tarde (13h30min às 17h). Horários diferenciados mediante agendamento pelo fone (55) 3332-0257.

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Período: Até o dia 29 de novembro de 2013, na Sala de Exposições Temporárias do MADP.

P r o m o t o r e s : M u s e u A n t r o p o l ó g i c o D i r e t o r Pestana, SMEd, 36ª CRE e SINPRO-Noroeste

Tema: A exposição tem como objetivo principal buscar o reconhecimento efetivo da contribuição dos afro-brasileiros no processo d e f o r m a ç ã o s o c i a l , econômica e cultural do Rio Grande do Sul.

Programação:

Dia 11/09/2013 – Palestra: Capoeira – Da contravenção a Patrimônio Nacional, com os professores Ibirá Muller (Etnia Afro/Santa Rosa) e Marcelo Ordesto Rodrigues. Horário: 19h30min Local: Auditório da Sede Acadêmica

Dia 19/09/2013 - Oficina: Capoeira na Escola com o Prof . Marcelo Ordesto RodriguesHorário: 8hLocal: Auditório MADP

Oficina de Capoeira – Prof. Marcelo Ordesto Rodrigues - todas as sextas-feiras – manhã e tarde, até o dia 27 de setembro de 2013, mediante agendamento.

Oficina de Contação de Mitos Afro-brasileiros – para alunos dos anos iniciais, mediante agendamento.

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Agenda Cultural

keMAAcervo

Exposição “História e Cultura Afro-Rio-grandense”

Os Brinquedos...

Os brinquedos, bem como as brincadeiras, têm em si propósitos múltiplos,

afinal oferecem entretenimento e cumprem papel educativo. Brinquedos

aumentam o comportamento cognitivo e estimulam a criatividade, assim como

auxiliam no desenvolvimento das habilidades físicas e mentais.

Os brinquedos eram, e ainda são, frutos do que se compreendia da natureza

e uma forma de interação entre o homem e a mesma. Neste sentido, vários

brinquedos tradicionais irão nos contar um pouco da história da humanidade, seu

desenvolvimento, descobertas, valores, formas de vida, trabalho e lazer, como

pensavam, viam o mundo e interagiam com ele. Desde a antiguidade, temos a

presença de utensílios lúdicos, tais como: o quebra cabeça, a pipa e o dado. Todos

estes surgiram como objetos de uso cotidiano e com o tempo tornaram-se

artefatos relacionados à brincadeira.

O quebra cabeça, inventado em 1763 na Inglaterra, surgiu a partir da ideia de

criar um mapa dividido em peças de madeira para ajudar os professores a ensinar

geografia às crianças. Na sala de aula, as crianças gostaram tanto que logo virou um

passatempo divertido.

Já o dado estava vinculado às definições de sorte e azar, surgiu em formato

de cubo na Grécia, mas neste período já existia na Índia, no Egito, na Rússia e na

Pérsia em forma de pirâmide.

E n t r e t a n t o , u m a d a s h i s t ó r i a s m a i s

interessantes é a da pipa, que aparece na China, cerca

de mil anos antes de Cristo, e era utilizada como

sinalizador militar. A cor, pintura e os movimentos

que fazia no ar serviam para passar mensagens entre

os campos de guerra. Ainda hoje, no Oriente, a pipa

tem um significado religioso, tendo por finalidade

“espantar os maus espíritos”.

É neste contexto,

c o n s i d e r a n d o o s

b r i n q u e d o s e a s

brincadeiras essenciais

para o desenvolvimento

saudável dos seres

humanos, bem como um testemunho real das formas de

desenvolvimento da sociedade, que o Museu promove

exposições temporárias sobre o tema e mantém uma

seção na Exposição de Longa Duração.

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Primavera dos Museus

C o m o d e c o s t u m e ,

durante a última semana

do mês de setembro (de

23/09 a 28/09), acontece a

Primavera dos Museus em

todo o território nacional.

Este ano a proposta do

I B R A M , t a m b é m

assumida pelo Museu

Antropológico Diretor

P e s t a n a , a t r a v é s d a

Exposição “História e

C u l t u r a A f r o - R i o -

grandense”, é que se

reflita sobre saberes e

experiências das culturas

a f r o , v a l o r i z a n d o e

i m p u l s i o n a n d o o

pensamento crítico, a

d i v e r s i d a d e , o

c o n h e c i m e n t o e a s

p r á t i c a s s o c i a i s d a

pluralidade do que hoje

entendemos como o que

é ser brasileiro.

No dia 28 de setembro o MADP realiza “Sábado de Portas Abertas”, com entrada gratuita, das 9 às 12 horas e das 13 às 17horas.

Participe e traga toda sua família para um momento de cultura e lazer!

Agenda Cultural

Incentivadores

Depoimento

Tudo o que é chamado hoje de memória não é, portanto, memória, mas

já história. Tudo o que é chamado de clarão de memória é a finalização de seu

desaparecimento no fogo da História. A necessidade de memória é uma

necessidade da história. (Pierre Nora, Revista Projeto História, v. 10, São Paulo,

1993, p. 14).

E o Museu Antropológico Diretor Pestana é um lugar de memória. E por

ser um lugar de memória que o torna um local onde nós professores,

acadêmicos das diferentes áreas e em especial pesquisadores da História nos

debruçamos em seu vasto corpo documental, pois sem documento não há

História.

E o Museu tem o privilégio de guardar todo o tipo de documento que a

nossa região produziu ao longo de mais de um século de existência. Nestes mais

de 50 anos o museu recebeu e recebe todos os tipos de documentos e estes são

as joias raras que nós historiadores tanto necessitamos para a produção da

História local e regional.

Sem o museu seria impossível produzir a História e isso o torna um local

que deve ser cuidado por todos. Instituições públicas e privadas e todas as

pessoas que poderão ser amigos do museu. Por isso, como integrante da

Associação dos Amigos do Museu, deixo o convite a todos: Venham ajudar a

preservar a História regional e local!

Patrocínio

FUNDAÇÃO DE INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO EEDUCAÇÃO DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

Sandra Maria do AmaralProfessora, doutora em História na UNIJUÍ e Membro do Conselho de Direção do Museu Antropológico Diretor Pestana