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Formações detríticas dos arredores de Aveiro

Autor(es): Silva, G. Henriques da

Publicado por: Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de EstudosGeológicos

URLpersistente: http://hdl.handle.net/10316.2/37988

Accessed : 8-Dec-2020 16:36:34

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N.° 31

PUBLICAÇÕES DO MUSEU E LABORATÓRIO MINERALÓGICO E GEOLÓGICO E DO CENTRO DE ESTUDOS GEOLÓGICOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Memóriase Notícias

J. M. Cotelo Neiva — Minérios de ferro portugueses. M. Montenegro de Andrade — Sobre o ouro das rochas graníticas de Angola. G. Henriques da Silva — Formações detríticas dos arredores de Aveiro. G. Soares de Carvalho — Os depósitos detríticos e a morfologia da região de Aveiro. A. Barata Pereira— Temperatura do terreno.

S U M Á R I O

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Formações detríticas dos arredores de Aveiro

por

G. Henriques da Silva

Aluno de Ciências Geológicas

As formações dos arredores de Aveiro pertencem à Orla Meso-ceno-antropozóica Ocidental que, na região, se encontra para ocidente de uma linha passando por Espi­nho, Ovar, Águeda e Anadia.

Destas formações a mais antiga é constituída por grés vermelhos, na maioria de tons avinhados e sem fósseis, considerada hoje de fácies continental desértica e do andar Retiano, e que aqui é conhecida pela designação regional de «pedra vermelha» ou «pedra de Eirol». A sua possança foi calculada em 1.000 metros junto ao Cértima, no paralelo de Águeda (1). Encontrei estas formações ao percorrer as regiões de Loure, S. João de Loure (fig. i), Alquerubim e Eirol (fig. 2).

Os arenitos vermelhos rodeiam o Rio Vouga em duas faixas com interrupções. A faixa mais estreita, na mar­gem esquerda, inicia-se perto da Taipa e estende-se até um pouco adiante de Eirol; outra, mais larga, na margem

(1) Souto (A.) — Orla Sedimentar Meso-Cenosoica—Triássico, «Arq. Dist. de Aveiro», n 0 19, 1939.

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direita, vem de Alquerubim, passando por S. Joãò de Loure e Loure, até ao contacto com os xistos algônquicos, bem visível na estrada Loure-Angeja. Estes xistos, que se começam a notar ao km. 6,250 daquela estrada, são quáse verticais e com intercalações e afloramentos de quartzo hidrotermal.

A série de cortes da estrada S. João de Loure-Calvães permitiu-me verificar a alternância de cor que as cama­das de arenitos apresentam. Por exemplo, num corte que observei junto de Calvães, encontrei a seguinte suces­são, de baixo para cima:

1 m. — arenito de tom avinhado;0,8 m.— arenito branco-amarelado;0,4 m. — arenito de tom avinhado, análogo ao anterior; 0,5 m. — cobertura terrosa.

A inclinação e a direcção das camadas em S. João de Loure e em Azenhas têm respectivamente os valores seguintes:

S João de Loure Azenhas

Inclinação: 15o WSW. Direcção: Nmg. 17o W.

15° WSW. N.mg. 20o W.

Na mancha da margem esquerda obtive os seguintes valores junto a Eirol:

Inclinação: 13o WSW.; Direcção: Nmg. 10o W.

Podemos portanto considerar Pràticamente constantes a inclinação e direcção das camadas das duas margens.

Em diversos cortes da estrada Loure-Angeja, verifi­quei que o arenito vermelho apresentava fieiras de peque­nos seixos de quartzo, com aspecto de estratificação cruzada. Isto é nítido num corte ao km. 4 daquela estrada.

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O Jurássico incontestável não se encontra na região. Os seus depósitos dispõem-se a sul do paralelo Vagos- -Fermentelos, em manchas estreitas e alongadas rodeando o vale do Cértima, constituídas por margas, argilas e calcáreos com bastantes fósseis.

Ao km. 6, um corte mostrou-me conglomerado compacto com grandes seixos e alguns blocos de boas dimensões, notando-se leves intercalações argilosas.

Na outra margem do Vouga é notável o extenso corte em frente à estação de C. de F. de Eirol, que apresenta uma espessura de perto de 20 metros de grés vermelho escuro.

Formações do Cretácico ocupam uma grande parte da região que estudei.

A sua génese seria a seguinte: no princípio do Cre­tácico, durante o Eocretácico, ter-se-ia dado uma regres­são com o seu máximo no Aptiano, sucedendo-se uma transgressão com a maior amplitude no Cenomaniano, tendo posteriormente o mar recuado, deixando os sedi­mentos do Neocretácico que se encontram em maior quantidade.

Para oriente da linha Eixo-Mamodeiro e até ao Vouga e Pateira de Fermentelos, dispõe-se uma formação cons­tituída por argila, untuosa ao tacto, micácea, e arenitos que se sobrepõem a depósitos detríticos formados por seixos e areias grosseiras. É uma formação sem fósseis,

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e que Choffat (1) incluiu na assentada Belasiana, que abrange a parte superior do Albiano e a inferior do Ceno- maniano.

E desta formação um corte que observei à entrada de Requeixo, com a seguinte sucessão, de baixo para cima:

(1) Choffat (P.) — Le Crètacique Supèrieur au Nord du Tage. Lisboa, 1900.

(2) Choffat (P.) — Ob. cit.

0,5 m. — arenito grosseiro com intercalações de argila branca amarelada muito plástica;

1 m. — depósito de cascalho, formado por seixos de quartzo e de lidite;

0,2 m. — cobertura terrosa.

Os primeiros quilómetros da estrada Requeixo-Granja de Baixo atravessam a formação, mostrando em vários pontos uma cobertura de aspecto pliocénico.

É a norte desta estrada que se encontra o afloramento do Carrejão, situado 300 m. a SW. do local do antigo marco geodésico do Carrejão.

O corte da margem direita do riacho que ali corre, apresenta, de baixo para cima, a seguinte constituição :

0,5 m. — calcáreo margoso com Pecten;1,2 m. — argila escura;

9 m. — arenito amarelado fàcilmente desagregável; 0,6 m. — argila branca com intercalações ferruginosas; 0,8 m. — arenito amarelado ;0,2 m. — cobertura terrosa.

A formação calcáreo-margosa, com fósseis, entre os quais se encontrou Trigonia sulcataria Lamk., foi consi­derada por Choffat da «camada com Anorthopygus», por­tanto do Turoniano inferior (2). Contudo, o Prof. Car- 1 2

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rington da Costa, baseando-se em outros elementos da sua fauna, como Anorthopygus Michèlini Cott e A. orbi­cularis D’orb, inclui esta formação no Cenomaniano (1).

A ela se sobrepõem, como já indiquei, camadas de argilas escuras, micáceas, com bastantes fósseis mas de difícil classificação, e que é muito provável que perten­çam já ao Emscheriano (2), portanto à base do Neocre- tácico.

Como se verifica, não se encontra representado na região o Turoniano incontestável.

O Neocretácico aflora na região e foi estudado pelo Prof. Carrington da Costa. Percorri vários afloramentos e sobre eles fiz observações.

O Emscheriano encontra-se representado por uma faixa estreita e comprida, desde Mamarrosa, já fora da região que estudei, até ao Vouga. Está indicado por C» na «Carta Geológica de 1899», embora as manchas C5 englobem não só formações emscherianas mas também mais recentes. É difícil determinar o limite entre estas formações e as do Mesocretácico.

São formadas por arenitos compactos escuros, segui­dos por margas xistosas com fósseis de Cypris} Cyrena Marioni, coprólitos e alguns restos de vertebrados e vegetais.

Devido à ausência de fósseis característicos é impos­sível separar o Coniaciano do Santoniano, e, por isso, é de considerar o conjunto como Emscheriano (2).

Ao Emscheriano segue-se um complexo flúvio-mari- nho, constituído por margas verde-azuladas, argilas com corpos cilíndricos e intercalações de camadas de grés 1 2

(1) Costa, (J. Carrington) — Os fósseis de Aveiro e algumas con­siderações geológicas. «Arq. Dist. de Aveiro», n.° 26, 1941.

(2) Carrington d a Costa — Ob. cit.

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argiloso, com fósseis de Cherithium, Hidrobia e restos de plantas e vertebrados.

Choffat inclui este conjunto nas suas «Assentadas Flúvio-Marinhas», com a designação de «Camadas salo­bras dos arredores de Aveiro» (1). Encontram-se na maio­ria cobertas pela formação das «Areias de Esgueira», a que me referirei mais adiante, mas são visíveis nas ravi­nas de quase todos os riachos que se lançam na laguna ou que terminam no Vouga entre Eixo e Taboeira.

Bem elucidativo é um dos cortes que observei, situado junto à ponte, sobre um braço da Ria de Aveiro, próximo da estrada Ilhavo-Vagos; encontrei, de baixo para cima:

2 m. — argila;1 m. — areia argilosa;2 m. — areia fina sem seixos;

0,2 m. — areia grosseira com seixos de quartzo bem rolados; 1 m. — areia fina sem seixos; 1 m. — solo.

Às «Assentadas Flúvio-Marinhas» pertence também o conjunto denominado «camadas com Mytillus», de que Choffat indica um afloramento a sul da estação de C. de F. de Quintãs, ao km. 265 da via férrea, numa trincheira. Seria constituído por andôa, termo regional que designa argila arenácea, com numerosos fósseis: Ciastes Lusita- nicus, Glauconia) Pyrgulifera armata var. Gandarensis, Cyrena Marioni, Mytillus, etc. (2). Não encontrei este afloramento e julgo-o destruído devido à remoção da trincheira da via férrea.

Para NW., a 200 metros da via férrea, encontrei um grande barreiro, já indicado por Choffat (2), com cerca 1 2

(1) Choffat (P.) — Ob. cit.(2) Choffat (P) — Ob. cit.

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de 70 m. de largura, mostrando camadas horizontais de argila verde e vermelha, com a espessura de 7 m., sobre­postas por 1 m. de areia compacta amarelada. Não se encontram fósseis.

O Prof. Carrington da Costa, apoiando-se em afini­dades petrográficas e paleontológicas, considera que os diversos depósitos das «Assentadas Flúvio-Marinhas» sejam todos Aturianos, não sendo possível distinguir o Campaniano do Maestrichtiano (1). Na sua opinião, a existência na fauna do Neocretácico de animais mari­nhos, como a maioria dos lamelibrânquios, e de outros próprios de água de fraca salinidade, como Pyrguli- fera, Melania, Paludina, Cyrena, etc., e até terrestres, como Bulimus, indica que as formações se depositaram em grandes estuários ou deltas, e assim se justifica a variação da fauna nos diversos afloramentos (2).

Desde o paralelo Vagos-Quintãs até ao Vouga encon­tramos extensas plataformas instaladas em coberturas arenosas de grande possança, formadas por areias e cas­calhos.

Na verdade, ressalta ao observador, que efectue alguns percursos na região de Aveiro, a sua morfolo­gia em plataformas, passando-se de umas para outras quase sem se notar, e de altitude máxima à volta dos 60 metros. São planícies que ocupam considerável área, entalhadas em material detrítico formado por areias com 1 2

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(1) Costa (J. Carrington)—O Neocretácico da Beira-Litoral. «Arq. Dist. de Aveiro», n.° n, 1937.

(2) Costa (J. Carrington)— Ob. cit., 1937.

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seixos quase sempre de quartzo, de várias dimensões e mais ou menos rolados.

Trata-se, principalmente, do material que constitui a parte superior da assentada «Areias de Esgueira», em descontinuidade de sedimentação com as camadas mar- gosas e argilosas inferiores, senonianas, e que Choffat (1) considerou, não sem hesitação, pertencentes também ao Senoniano. Não pôde apoiar o seu critério em fósseis, e chega a afirmar que as «provas justificativas da sua reunião ao Cretácico são seguramente bem fracas» (1).

Por sua vez, o Prof. Carrington da Costa, revendo a estratigrafia da região, acha possível que a parte superior da assentada «Areias de Esgueira» seja cenozoica ou até antropozóica (2), ideia já emitida pelo Dr. Alberto Souto (3).

Percorrendo com cuidado a região e os seus cortes, muitos dos quais já indicados por Choffat (4), depressa me apercebi que a parte superior da formação, que se estende desde o Vouga ao paralelo das Quintãs, é niti­damente detrítica, desagregada, e formada principal­mente por areias grosseiras e seixos, em discordância em relação às camadas subjacentes, quase sempre de argilas, margas compactas e arenitos. Um corte bem típico das «Areias de Esgueira» é o que se encontra a 180 metros a ocidente do marco do Casal, e já indicado por Choffat. A sua constituição é, de baixo para cima:

3,5 m. — argila esverdeada ;0,75 m — areia argilosa consolidada ;0,75 m. — argila amarelada ;

2 m. — areia grosseira com feldspatos frescos 1 m. — cobertura terrosa.

(1) Choffat (P.) — Ob. cit.(2) Carrington da Costa — Ob. cit.(3) Souto (A.)— Origens da ria de Aveiro. Aveiro, 1923.(4) Choffat (P) — Ob. cit.

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É bem nítida nos cortes da Fábrica da Resina (figs. 3 e 4), próximo da estrada de Esgueira a Taboeira, a sobre­posição das margas e argilas aturianas por areias grossei­ras com seixos bem rolados. É certo que se poderia dar o caso de se tratar de uma fácies aturiana mais gros­seiramente detrítica, mas isto nunca foi comprovado paleontològicamente.

O calibre das areias e seixos é bastante variável, podendo os seixos desaparecer, como indica, por exem­plo, o corte do espaldão da carreira de tiro de Esgueira, que apresenta, de baixo para cima:

1,4 m. — argila ;1 m. — argila de cor ferruginosa estratificada ;1 m. — areias soltas ;1 m. — areia compacta estratificada ;1 m. — areias soltas muito finas.

Contudo, um quilómetro adiante, nos campos ao lado da estrada Aveiro-Cacia, aparecem já seixos de quartzo bem rolados, e de vários tamanhos, em cortes utilizados na sua extracção. Um destes cortes mostra a seguinte sucessão, de baixo para cima:

0,3 m. — areia muito fina;0,6 m. — areia com seixos de quartzo de todos os tamanhos;0,7 m. — areia grosseira ;0,4 m. — areia com seixos de quartzo de todos os tamanhos;0,3 m. — cobertura terrosa.

Encontrei, num campo junto ao km. 2,4 da estrada Aveiro-Azurva, uma enorme pedreira, mesmo à super­fície do solo, donde era extraída grande quantidade de seixos e blocos de quartzo, na sua maioria pouco rolados.

Existem, dispersos sobre a formação «Areias de Esgueira», raros e grandes blocos rolados de um grés macroscopicamente semelhante ao «Grés do Bussaco».

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Um dos blocos ocorre num areeiro, talhado na parte superior daquela formação e situado junto da estrada Aveiro-Azurva, a 10 metros de profundidade a contar do seu topo (fig. 6).

Se se vier a verificar que os referidos blocos de grés são de «Grés do Bussaco» ou de rocha contempo­rânea, ter-se-á de concluir que as formações detríticas das «Areias de Esgueira» não são Senonianas mas post- eocénicas.

Ao percorrer as formações gresosas do Retiano, junto a Loure e Eirol, respectivamente na margem direita e esquerda do Rio Vouga, notei que estavam, em parte, cobertas por depósitos grosseiros de areias e seixos de vários calibres, com a cota média de 30 metros.

Choffat assinala estes depósitos e inclui-os no Cre­tácico, acentuando a dificuldade de uma certeza (1). Refe­rindo-se ao da margem esquerda, admite que a parte superior da formação, mais grosseira, tem «todos os caracteres dum depósito plioceno ou quaternário» (1). Quanto aos afloramentos da margem direita, considera que «o seu caracter mixto não permite uma afirmação» (1).

Verifiquei que os depósitos apresentam material bem rolado, com o característico desgaste fluvial. A fig. 5 mostra-nos um corte na cobertura sobre o grés verme­lho, a NW. de Eirol, em que os seixos, quase todos de quartzo, dispõem-se estratificadamente. Noutro corte, situado 30 metros a Este do cruzamento da estrada Eirol-Requeixo com a via-férrea, e formado por cascalho

(1) Choffat, (P.) — Ob. cit.

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sobreposto por areia fina, encontrei seixos de quartzo de arestas vivas e bem polidos, o que indica acção eólica.

Creio que estes depósitos, dadas as suas caracterís- ticas e disposição, constituem os restos dum terraço do Vouga, o Tirreniano.

A Sul do Vouga encontra-se uma plataforma extensa, disposta nas cotas de 50-60 metros e com centro em Oli- veirinha, instalada em parte da formação superior das «Areias de Esgueira» e abrangendo também os pequenos planaltos das Quintãs e de Mamodeiro-Costa do Valado. Estes planaltos estão cobertos por uma formação de cas­calho e areias que Choffat considera pliocénica, fazendo notar que «sob a designação de Plioceno compreende areias superficiais de que a posição não está absoluta­mente fixada e em que os diversos afloramentos perten­cem a idades diferentes» (1).

Sobre toda a cobertura encontrei dispersos diversos blocos de grandes dimensões, que Choffat supunha tra­tar-se de blocos erráticos e assinala no planalto de Mamo- deiro-Costa do Valado (1).

Quero crer que as formações dos planaltos das Quin­tãs e de Mamodeiro-Costa do Valado não são mais do que uma fácies menos grosseira da assentada superior das «Areias de Esgueira», pelo menos na maior parte. Na verdade, à medida que se avança de Mamodeiro para Eixo, passando por Quintãs e Oliveirinha, nota-se o sucessivo aumento de calibre dos seixos, que, envoltos em escassa areia grosseira, chegam a atingir, na Feira de Eixo, 15 cm. de diâmetro máximo. Num corte a 2 km. da Póvoa do Valado observei 2 m. de areia ama­rela com bastante muscovite e sem seixos, e encontrei um corte análogo em Mamodeiro. Na intercepção da

(1) Choffat (P.) — Ob. cit.

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estrada Mamodeiro-Requeixo com o caminho de Fer- mentelos, um corte mostrou-me a seguinte sucessão de baixo para cima:

1.5 m. — areia grosseira formada de pequenos grãos de quartzo;

0,1 m. — argila avermelhada ;0,5 m. — areia com feldspatos, muito grosseira;

2 m. — areia fina com vestígios de estratificação e camadas de cores diferentes.

Já nas Quintas comecei a encontrar seixos, embora ainda de pequenas dimensões. Num corte, próximo da igreja, encontrei areia grosseira branco-amarelada com enorme quantidade de seixos de quartzo bem rolados, de menos de 1 cm. de diâmetro, tendo sobreposta areia semelhante, mas com poucos seixos e de menores dimen­sões. Na Gândara de Oliveirinha, junto ao campo de iutebol, diversos cortes mostram a constituição, de baixo para cima, de:

0,4 m. — areia grosseira com uma grande quantidade de pequenos seixos e grãos de quartzo;

0,1 m. — arenito argiloso ;2 m. — areia semelhante à anterior ;

0,5 m. — camada terrosa.

Na Oliveirinha começam a aparecer seixos de maio­res dimensões, como o indicam cortes da estrada Olivei- rinha-Eixo em que pude observar de baixo para cima:

0,4 m. — areia amarelada com seixos pouco rolados, de diâmetro à volta de 5 cm.;

0,5 m.— areia amarela sem seixos;0,2 m. — camada terrosa.

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Mas é na Feira de Eixo que os seixos de quartzo atingem as maiores dimensões, notando-se bem o seu aparecimento à superfície do solo. Num poço, ali em construção, encontrei 2 m. de areia grosseira com seixos de quartzo pouco rolados e de diâmetro 15 cm., sobre­postos a 1 m. de arenito argiloso amarelado.

Há, por consequência, extensa plataforma de altitu­des médias 50-60 metros, superfície plana instalada num depósito detrítico. Corresponderá este depósito a um terraço fluvial ou a uma praia Milaziana?

Envolvendo Esgueira, Aradas, lihavo, podemos encon­trar, espalhada pelas cotas de 20-30 metros, a parte supe­rior da formação «Areias de Esgueira», constituída, como já dissemos, por areias e seixos de quartzo quase sempre bem rolados (fig. 7). A 3,5 km. de Ilhavo, para o interior, à saída do lugar da Presa, encontrei um corte que me mostrou a seguinte sucessão, de baixo para cima:

1 m. — areia grosseira com seixos de quartzo de pequenas dimensões, com disposição estra­tificada ;

o, 4 m. — areia muito grosseira com seixos de gran­des e pequenas dimensões, pouco rolados.

Sobreposta, encontrei dispersa uma formação de sei­xos de quartzo, bastante achatados e com o caracterís- tico desgaste marinho, que considero restos de antiga praia levantada Tirreniana.

E muito provável que esta se estenda por toda a cota dos 20-30 metros, desde o Sul de Ilhavo a Norte de Esgueira, e para Oriente até ao contacto com a plata­forma dos 50-60 metros. Contudo, só naquele corte pude encontrar uma formação tipicamente marinha.

Da extremidade norte do viaduto de Esgueira dis­tingue-se nitidamente, do lado oposto do braço da Ria

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These formations belong to the Western Meso-ceno-anthropo- zoic border. The older ones are of Rhaetian red sandstones. The rocks of the Cretaceous occupy most of the region, the Neocreta- ceous outcrops being important.

Wide areas of sands and gravels extend from the Vagos-Quintãs parallel to the Vouga river, constituting the upper part o the «Esgueira sandbanks», the age of which has not yet been well deter­mined.

Coarse deposits of sands and well rounded quartz gravels, some of which present sharp and well polished edges due to wind action are found in several places over the Rhaetian formations. These deposits, of an average height of 30 m, constitute the remains of the Tirrenian terrace. South ot the Vouga, a broad detrital deposit centering at Oliveirinha and enclosing part of the upper formation of the «Esgueira sandbanks» and the small plateaus of Quintãs and Mamodeiro-Costa do Valado, at the height of 50-60 m. is probably a deposit of shore terrace or Milazian river terrace. The upper part of the «Esgueira sandbanks», constituted of sands and quartz gra­vels, mostly well rounded, englobes Esgueira, Aradas, and ílhavo at a height of 20-30 m. We have found in this part, at 3.5 km. from Ilhavo towards the interior, a formation of flat quartz gravels pre­senting the typical marine erosion, and which we consider to be the remains of the old Tirrenian shore terrace.

A fossilized scarp cut in the «Esgueira sandbank» is seen near the Esgueira viaduct, as well as a slope with characteristics of scarp at Arribas, upon which this neighbourhood of Aveiro is located.

Detrital formations in the surroundings of Aveiro

S U M M A R Y

que se encontra em frente, uma falésia (fig. 8) talhada na assentada «Areias de Esgueira». Também no local designado por Arribas, imediatamente a Sul de Aveiro, reconhece-se bem um declive com características de falé­sia fóssil, sobre o qual está assente aquele arrabalde da cidade.

Coimbra, Julho de 1951.

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