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MÚSICA E ORALIDADE PARA COMPREENSÃO DAS DINÂMICAS SOCIAIS NO
CONGO-RD (1930-1961)
Evelyn Rosa do Nascimento
Introdução
Situado nos corredores de um dos maiores acidentes geológicos do planeta, o Congo
belga, atualmente denominado como República Democrática do Congo, entrou nos mapas das
geopolíticas estratégicas no século XIX quando se tornou um dos maiores fornecedores da
borracha do mundo1. Este país se tornou com a exploração do látex e mais tarde o uso do
urânio e inúmeras outras riquezas minerais, uma região permeada de disputas políticas e
econômicas no cenário internacional da Guerra Fria, no qual ocorreu seu processo de
libertação. Estas questões também marcaram de forma incisiva a produção historiográfica do
país, muitas vezes marginalizando as questões sociais e culturais cotidianas das pessoas
comuns que vivenciaram este período.
O contexto histórico dos movimentos de independência no Continente Africano se
desenvolveu e intensificou-se a partir de uma série de atividades que abarcavam o campo
político, cultural e social. As manifestações anticoloniais não somente se deram através de
ações diretamente políticas, como a formação de partidos, sindicatos, greves e mobilizações.
Esses movimentos de libertação expressaram-se também através de uma profícua produção
cultural, artística e intelectual que tinham como preocupação fundamental a expressão da
chegada de um novo tempo para o Continente e sua sociedade. Assim as literaturas, artes,
entre outras produções intelectuais, a partir de denúncias e ponderações sobre as brutalidades
coloniais, tornaram-se valorosos artifícios nas lutas pela conquista da independência política e
na busca pela descolonização mental destes povos. Essas produções caracterizaram-se pelo
PUC-Rio, doutoranda em História Social da Cultura. 1 O Congo belga, país denominado atualmente de República Democrática do Congo,. Segundo Adams Hoschild,
autor do clássico livro O fantasma do Rei Leopoldo, o qual conta uma parte da história do Congo, esta
colonização econômica foi responsável por erguer uma das mais ricas potências coloniais da Europa, a Bélgica.
A obra de Hoschild destaca como a exploração do látex, importante matéria prima para as indústrias do período,
constituiu um dos principais pilares para o desenvolvimento econômico da Bélgica ao mesmo tempo em que
ampararam, no Congo, inúmeras perdas de vidas humanas, as quais, segundo o autor, continuam ainda sendo
contabilizadas aquém do efetivo morticínio realizado durante a colonização. HOSCHILD, Adam. O Fantasma
do Rei Leopoldo: uma história de cobiça, terror e heroísmo na África Colonial. São Paulo: Companhia das
Letras, 1999.
2
anseio de autonomia, modernidade, reconstrução, resgate de identidades e, por conseguinte,
pelo desejo de implantação de um momento social renovado.
Para vários estudiosos, a década de 1950 comporta os anos em que se estabeleceram
movimentos sociais e expressões artísticas e culturais que marcaram esse período de busca
pela modernidade na sociedade congolesa.2 Juntamente ao desejo de independência, diversas
formas de expressão artísticas - tais como grande variedade de artes plásticas, peças teatrais
de rua, gêneros literários e músicas - intensificaram-se trazendo a representação do progresso
e, muitas vezes transmitindo, por metáforas e outros artifícios criativos, mensagens críticas e
aflições da vivência cotidiana sistema colonial. Destacamos, dentro dessa perspectiva, o
importante papel da música nas sociedades africanas, tratando aqui mais especificamente da
rumba congolesa como instrumento de expressão artística e cultural da sociedade colonial do
chamado Congo belga.3 Tal como o historiador José Geraldo Moraes, acreditamos que “a
canção é uma expressão artística que contém um forte poder de comunicação, principalmente
quando se difunde pelo universo urbano, alcançando ampla dimensão da realidade social.” 4
Partindo da perspectiva do autor, evidenciamos a atribuição da música popular como uma das
manifestações que mais traduz as experiências criativas humanas, uma vez que destaca as
vivências cotidianas, costumes e cultura da sociedade embalada em suas melodias. Esses
elementos históricos do dia a dia do cidadão comum e sua experiência na sociedade congolesa
em um momento de afirmação enquanto nação autônoma e independente no contexto
2 JEWSIEWICKI, Bogumil. Debates sobre Modernidade e Relações de Gênero na Cultura Urbana Pós-Colonial
Congolesa. In: AARAO REIS, Daniel; MATTOS, Hebe; OLIVEIRA, João Pacheco de et. al. (orgs.). Tradições e
Modernidades. Rio de Janeiro: FGV, 2010. 3 Sobre os Estudos Africanos no Brasil que abordam a questão da música em Luanda e Moçambique
podemos destacar recentes trabalhos de pesquisadores como: ALVES, Amanda Palomo. "Angolano
segue em frente": um panorama do cenário musical urbano de Angola entre as décadas de 1940 e
1970. Doutorado em História. Universidade Federal Fluminense, 2015; BITTENCOURT, Marcelo.
Angola: tradição, modernidade e cultura política. In: REIS, Daniel Aarão. (Org.) et al. Tradições e
modernidades. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2010 ; PEREIRA, Matheus Serva. "Grandiosos
batuques" : identidades e experiências dos trabalhadores urbanos africanos de Lourenço Marques
(1890-1930). Campinas, SP: Tese (doutorado), Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, 2010; NASCIMENTO, Washington Santo.Liceu Vieira Dias e o N’gola
Ritmos: música e resistência anticolonial em Angola. Revista do programa de pós-graduação em
Relações Étnicas e Contemporâneidade – UESB. Ano 1, número 1, volume 1, Janeiro – Junho de
2016.4 MORAES, José Geraldo. MORAES, José Geraldo Vinci de. História e música: canção popular e
conhecimento histórico. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.20, n.39, 2000, p.204. 4 MORAES, José Geraldo. MORAES, José Geraldo Vinci de. História e música: canção popular e conhecimento
histórico. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.20, n.39, 2000, p.204.
3
internacional de lutas de libertação, surgimento de nações e de Guerra Fria, são de grande
valor para compreensão do período colonial do Congo, a partir de uma perspectiva social,
analisada através da interação das diversos grupos, sobretudo daqueles que se localizam à
margem da sociedade.
Deste modo, a organização deste estudo, o qual faz parte de um momento inicial da
pesquisa do doutorado, se dá a partir de três eixos principais que serão descritos a seguir. A
primeira parte apresenta ao leitor o espaço em que a rumba congolesa se popularizou,
destacando seu impacto e representação cultural, a partir dos processos de urbanização e
expansão colonial em diálogo com as dinâmicas internacionais do período. No segundo
momento, o texto discute com a historiografia o papel de aglutinador social e de formador de
identidades desempenhado pela rumba congolesa. Seguindo para as reflexões conclusivas,
porém não findadas sobre o tema, na terceira parte do trabalho é realizada uma pequena
análise sobre a canção “Independance tcha-tcha”, a qual ilustra a expressão da rumba
congolesa para sensibilizar e arregimentar indivíduos no cenário social do Congo belga
durante sua luta pela libertação. Esperamos, assim, que o presente trabalho possa ajudar no
aprofundamento e diversificação dos estudos sobre os elementos sociais e culturais presentes
no Continente Africano.
Contexto histórico e espaço colonial de estabelecimento da rumba congolesa
O contexto de expansão das dinâmicas culturais no Continente Africano no século XX
foi acompanhado por uma série de mudanças sociais decorrentes da diminuição da ação
colonial e o aumento gradual de autonomia nos territórios africanos, da eclosão de revoluções
de caráter libertário no chamado “Terceiro Mundo” e dos desdobramentos da Guerra Fria.5
Como destaca M'Bokolo, "Os estados nascidos das independências declararam todos que a
'cultura' constituía uma das suas principais prioridades"6 na formação das novas sociedades e
nações independentes que afloravam. Essas manifestações culturais, tal como no caso da
rumba congolesa, desempenhariam o papel de reforçar no imaginário popular - tanto entre os
5HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX : 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
1995. 6 M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Tomo II (Do século XIX aos nossos dias). Tradução
de Manuel Resende, revisada academicamente por Daniela Moreau, Valdemir Zamparoni e Bruno Pessoti.
Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011, p.676.
4
congoleses quanto entre os demais países africanos recém libertos - a ideia de seus Estados
como instituições emergentes de sociedades autônomas, independentes, livres e coesas.
Assim, o Congo Belga, cuja independência foi alcançada em 1960 sob intensa crítica de
Lumumba ao colonialismo, revelou-se para as lideranças políticas do período como exemplo
típico de utilização de políticas culturais e luta anticolonial para construção de Estado a ser
propagado nos outros territórios africanos. O fato da experiência no Congo figurar-se como
modelo de emancipação africana era evidente e necessário, tendo em vista três fatores
principais: estava entre os pioneiros que avançaram na conquista pela soberania, a estratégica
localização geográfica centrada no coração da África, facilitando a pulverização de ideias e a
atuação de Kwame Nkrumah e Lumumba encampando o discurso de um projeto pan-
africanista de libertação de todo o Continente. Dessa forma, o ciclo de colonização no Congo
e os movimentos que o combatiam precisam ser compreendidos como processos motivadores
e motivados a partir de uma grande circulação de ideias que transitavam não só por todo o
Continente, mas também fora dele.
Durante o período colonial, dentre outros movimentos, houve um intenso processo de
urbanização, que comumente voltou-se para o bem-estar dos colonos ou para beneficiar as
atividades coloniais7. Além disso, esta fase também se caracterizou pela instalação de
empresas, em sua grande maioria, voltadas ao comércio exterior e a intensiva exploração de
mão de obra e dos recursos naturais ali existentes. Associado ao crescimento das cidades, o
espaço colonial presenciou, principalmente a partir dos anos de 1935, o aumento na circulação
de pessoas e a intensificação do fluxo de informações e ideologias decorrentes da imigração e
do afluxo de trabalhadores aos parques industriais e aos mais variados ramos de serviços. O
processo de florescimento dos centros urbanos congoleses pode ser acompanhado abaixo
através dos gráficos do pesquisador Crawford Young, os quais também são utilizados por
7 Ferdinand Oyono no seu romance “Le vieux nègre et la médaille” mostra como a colônia era dividida em duas
cidades: a dos brancos que tinha todas as insfraestruturas urbanas e os negros somente entravam para trabalhar e
voltar para a sua parte que não tinha nenhuma infraestrutura. Além dele, outros autores como: Amadou Hampaté
Ba (Oui mon commandant), Kourouma (Le soleil des independances) René Maran (Batouala) também destacam
os mesmos contextos sócio-urbanos e ao mesmo tempo a presença constante de diversas formas de violência que
assolavam o colonizado.
5
Jesse Samba para demonstrar o desenvolvimento das cidades e o crescimento populacional no
Congo durante o período colonial8:
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
350000
1935 1940 1945 1950 1955
Growth of Major Congolese
Cities
Kinshas a (Leo'vi lle)
Lubumbashi (Elis'vil le)
Kis angani (Stan'ville )
Matadi
Mbandaka (Coq 'ville)
Bukavu
1935
7%
93%
Urban pop.
Total pop.
1955
22%
78%
Urban pop.
Total pop.
8 Crawford Young, Politics in the Congo: Decolonization and Independence (Princeton: Princeton University
Press, 1965).
6
Analisando os gráficos de crescimento populacional urbano do Congo entre os anos de
1935 e 1955 podemos constatar um aumento substancial de 15% no número de pessoas.
Dessa maneira fica evidente que houve uma profunda intensificação no crescimento da massa
citadina a partir da década de 50, com maior evidência para as cidades coloniais de
Leopoldville, que corresponde atualmente à Kinshasa, e Elisabethville, atual Lubumbashi.
Esta repentina expansão demográfica das cidades confere importância à compreensão das
complexas dinâmicas sociais e culturais que se formavam subjacentes ao incremento da
população urbana.
O Congo colonial dentre outras atividades, tinha sua base econômica concentrada,
sobretudo, na produção agrícola e na extração mineral por empresas estrangeiras. Apesar
disso, havia também as chamadas empresas “indígenas”9 pertencentes aos africanos natos
provenientes de regiões diversas. Além da produção agrícola e da extração mineral, essas
empresas também atuavam nos ramos da Indústria Mecânica, da Construção e da
Infraestrutura, havia também Indústrias Têxteis, de vestuário, de calçado e de curtumes, as
quais também contribuíram para formação das estruturas das cidades demandando grande
fluxo de trabalhadores. 10
Desse modo, o período de industrialização do Congo foi acompanhado por uma
relevante diversificação cultural. Somado à multiplicidade étnica dos diferentes povos já
presentes no território congolês11 havia também os imigrantes que chegavam para trabalhar
nessas empresas e indústrias, ou mesmo empreendedores que afluíam das mais variadas e
distantes regiões. É relevante pontuar que diante de uma população geral em torno de 14
milhões de habitantes, apenas 112.753 dessas pessoas eram brancos estrangeiros, os quais se
concentravam absolutamente nas áreas urbanizadas da colônia. Desses “brancos” a maioria
era de nacionalidade belga, depois em menor número havia portugueses, italianos, gregos,
9 Indigénes, traduzido para o português como “indígenas” foi um termo utilizado pelos europeus para classificar
preconceituosamente africanos não considerados civilizados, evoluídos. 10 Annuaire Statistique de la Belgique et du Congo Belge. Royame de Belgique. Ministère des Affaires
Économiques. Institut National de Statistique. Bruxelles, 1958, p. 524. 11 A diversidade do Congo também consiste nas variadas etnias que vivem na região. Segundo Théophile Obeng
aponta a existência de quatorze grandes grupos étnicos: os Ubangi, os Uele, a etnia da região Itimbiri-Ngiri, os
povos da Bacia Central do Congo, os da região BaleseKomo, a etnia de Maniema, os Kongo, os grupos do Bas-
Kasai, do Kwango-Kasai, do Kasai Katanga, os da região Lunda, de Tanganyika-Haut Katanga, pertencentes a
região dos grandes lagos e as etnias da região do nordeste do Congo. OBENGA, Théophile. Le Zaire.
Civilisations traditionnelles et Culture moderne. Paris: Presence Africaine, 1977, p. 42- 48.
7
franceses, ingleses, americanos e holandeses, além de outras nacionalidades com menor
representatividade. A presença de brancos oriundos de diversas nacionalidades mostra por si
só a importância que as riquezas naturais congolesas desempenhavam nas indústrias
ocidentais. 12 Na tabela a seguir, sobre população branca dividida em nacionalidades, é
possível observar de forma mais detalhada a dimensão da pluralidade e quantidade referente à
imigração de indivíduos brancos no Congo.
Fonte: AnnuaireStatistique de laBelgique et du Congo Belge. Royame de Belgique. Ministèredes Affaires
Économiques. Bruxelles: InstitutNational de Statistique, 1958, p. 522.
Em relação aos africanos que se destinavam ao Congo em busca de empregos ou
empreendimento, estes também vinham de diversas partes, principalmente das áreas
pertencentes à África Subsaariana. Este movimento migratório foi facilitado pela posição
geográfica do Congo, localizado na região central do continente, popularmente chamado de
12 Annuaire Statistique de la Belgique et du Congo Belge. Royame de Belgique. Ministère des Affaires
Économiques. Institut National de Statistique. Bruxelles, 1959, p.531. Disponível em: http://extranet.arch.be/fr/
8
“Coração da África”. Além disso, o Congo tem seu território cortado pelo Rio que dá nome ao
país, um dos principais canais de circulação do Continente, e faz fronteira com uma grande
quantidade de outros territórios. Esse contexto acabou levando milhares de congoleses de
várias sociedades para os centros urbanos à procura de trabalho assalariado nas minas,
fazendo dos centros urbanos espaços favoráveis ao florescimento de diversas manifestações
culturais de fundamental importância ao longo dos processos de lutas políticas em prol da
reconquista da independência política. Torna-se, dessa maneira, evidente a dimensão da
música urbana no ambiente colonial congolês e esse espaço como centro dinâmico de
irradiação de ideias e práticas. Ou seja, sublinhando a pluralidade, o mosaico de experiências,
o fervor de culturas e a afluência de energias ali presentes.
Espaços de sociabilidades e estabelecimento da rumba congolesa
O cenário colonial de aumento populacional e da relativa dinamização econômica, foi
seguido também por um forte estímulo ao crescimento dos meios de comunicação já
existentes e ao surgimento de novas experiências com conseqüente incremento da difusão de
informações e o surgimento de estabelecimentos e espaços de sociabilidades. Tendo em vista
que aos africanos natos não eram permitidos residir em áreas destinadas aos considerados
“brancos”, evidenciamos a importância do irreversível processo de surgimento de uma elite
congolesa estimulou novas interações na colônia e estimulou a criação de ambientes de lazer,
de encontros e de socialização entre pessoas das mais diversas nacionalidades, raça e grupos
sociais. Esses lugares e, sobretudo, as criações artísticas neles expressas tornaram-se de
fundamental importância na florescente sociedade congolesa devido ao papel político que
estas manifestações encerravam. Foram nesses ambientes de transformação social e
florescimento cultural que diversas manifestações urbanas, como a rumba, começaram a se
popularizar em várias regiões da África. Dessa maneira, juntamente da música, neste período,
outras expressões artísticas e culturais se propagaram e ganharam maior espaço, como a
9
poesia e o teatro, destacando-se nessa área, entre outros, os intelectuais Aimé Cesaire, David
Diop, Bernard Dadié, Lamine Diakhaté .13
A presença das rádios, o fortalecimento da indústria fonográfica e a abertura dos
primeiros estúdios de gravação pelos gregos14 e os locais de eventos e entretenimento, como
bares, clubes e casas de festas, onde se divulgavam as músicas populares foram determinantes
para a popularização das canções, de seus autores, intérpretes e bandas, possibilitando ainda a
ampliação do poder de comunicação da música nesse contexto colonial congolês. Esses
ambientes de pujante movimentação cultural e de afluência de experiências proporcionadas
pela diversidade de sujeitos que ali transitavam, possibilitaram ao músico popular sobreviver
e divulgar suas atividades musicais e, principalmente, dialogar com as classes populares.
Apoiando-se nos argumentos da antropóloga Karin Barber, apontamos que o emergir de
estilos musicais populares em regiões africanas, tal como ocorreu com a rumba no Congo
belga, foram impulsionadas com as trocas culturais e transformações sociais as quais os
territórios coloniais estavam submetidos diante do movimento urbano e político de crítica ao
colonialismo. Ou seja, as diversas manifestações culturais e artes populares15 foram
impulsionadas pelas novidades e alterações que se colocaram juntamente ao processo
colonial. Sobre o contexto de mudanças no qual se afloram as músicas populares e seu caráter
arrojado Barber enfatiza que:
O contexto que explica o emergir deste vasto campo de novas formas de arte
são as transformações sociais drásticas. São artes que parecem revelar uma
preocupação com as transformações sociais, preocupação essa que constitui
efectivamente a sua principal característica. Não se limitam a sugerir
inovações ou a servir-se ocasionalmente de elementos inovadores: é a
mudança que lhes dá energia, é a partir dela que se formam, e é ela que,
muitas vezes conscientemente, constitui o seu tema (BARBER, 1987, p.14).
13 M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Tomo II (Do século XIX aos nossos dias).
Tradução de Manuel Resende, revisada academicamente por Daniela Moreau, Valdemir Zamparoni e Bruno
Pessoti. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011, p.685. 14 Em importante obra sobe a história da Rumba congolesa nos Congos, Gary Stewart destaca o papel das
gravadoras Olympia, Ngoma, Opika e Loningisa nas décadas de 1940 e 1950 e a relevante participação dos
gregos no processo de popularização da rumba congolesa através da atuação grega como trabalhadores no setor
mineiro, agrícola e como empreendedores musicais. STEWART, Gary. Rumba on the river: a history of the
popular musico of the two Congos. London/New York: Verso, 2000. 15 BARBER, Karin. “Popular Arts in Africa”, African Studies Review, vol. 30, nº 3 (Sep., 1987).
10
Segundo a pesquisadora, as expressões culturais e artísticas coloniais e pós-coloniais,
consideradas por ela como artes populares, têm em sua especificidade o novo oriundo das
transformações sociais proporcionadas pelo processo colonial, ou seja, constituem-se a partir
das inovações sociais e de elementos resultantes das interações entre as culturas nativas e as
estrangeiras. Da mesma forma, tal como outras expressões artísticas populares, a rumba
congolesa, afamado estilo de música urbana e moderna africana, teve sua expansão no cenário
dos espaços urbanos coloniais do século XX. A música, as danças e os esportes eram espaços
de diálogos onde era constante a interação entre congoleses e europeus, a título de exemplo
pode-se destacar bandas compostas por congoleses e belgas que tocavam em clubes e bares da
época, além de times de futebol também formados por nativos e estrangeiros, os quais podem
ser observados em registros imagéticos, como fotos e vídeos da época. Estes ambientes são
espaços políticos na medida em que a integração entre colonizadores e colonizados já
constituía por si só uma superação das rígidas barreiras raciais, jurídicas, ideológicas impostas
pelo regime colonial.
Nesse sentido, pode-se considerar a rumba congolesa, a exemplo de Elikia M’Bokolo,
“como um dos pólos mais ativos das práticas sociais heterogêneas que interpelam a sociedade
global e uma das linguagens mais fecundas para exprimir as múltiplas aspirações das classes
populares”16 e, como ressalta Karin Barber, as cidades como agentes de transformação social,
consideradas motores do desenvolvimento da África colonial. 17 A rumba possibilitou a
superação de fronteiras ditas raciais e étnicas, constituindo-se a partir da aglutinação de várias
experiências com proposições universalistas. Ela pode ser percebida como um dos pilares
fundantes da identidade nacional, buscando colocar o país nos trilhos da democracia, se
entendermos por democracia a superação de clivagens de ordem étnica para que múltiplas
práticas culturais tenham o mesmo respeito.
Desse modo, o período que constitui o recorte temporal do presente texto retrata o
momento em que o Continente passava por uma grande ebulição artística e cultural, permeada
por elementos multidimensionais de reivindicação, de modernidade, de tradição, de
16 M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Tomo II (Do século XIX aos nossos dias).
Tradução de Manuel Resende, revisada academicamente por Daniela Moreau, Valdemir Zamparoni e Bruno
Pessoti. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011, p. 595. 17 BARBER, Karin. “Popular Arts in Africa”, African Studies Review, vol. 30, nº 3 (Sep. 1987).
11
reinvenções e de justaposições culturais, religiosas e identitárias. Assim, a notabilidade da
rumba congolesa nos centros urbanos e industriais do Congo e em outras regiões da África
traz consigo a euforia do processo de suplantação das heranças coloniais e de formação de um
novo Estado-nação. Essas músicas circulavam no cotidiano das cidades através do rádio, de
shows, de apresentações fechadas ou públicas e também em comemorações políticas e tratava
de temas amorosos e do dia-a-dia das pessoas comuns.
A Rumba Congolesa e seu papel na sociedade colonial
A rumba é poesia, inteligência, expressão coletiva que transcende os limites
da marginalidade, porque é euforia cubana desde o seu início até os dias
atuais (Ulises Mora,2004).
De acordo com a Enciclopédia de Cultura popular latina, a Rumba foi documentada pela
primeira vez em 1850 e teria surgido como resultado do comércio colonial de africanos
escravizados e da troca cultural cotidiana entre estes africanos e seus descendentes com a
cultura espanhola dominante. A enciclopédia destaca ainda uma forte conexão direta da
Rumba com a cultura Bantu da região do Delta do Rio Congo, combinando também
elementos da cultura Ganga de Serra Leoa, da Costa do Marfim e do norte da Libéria.18 Esses
elementos destacam, assim, a intensa relação cultural entre o Caribe, especialmente Cuba e os
países do Continente Africano. Conhecer suas origens auxilia no entendimento de como a
rumba se tornou um estilo musical de tamanha popularidade e aceitação em vários países da
África. Ou seja, mais que uma vertente musical, a rumba foi inspiração, comunicação e
expressividade no cotidiano colonial africano.
O estilo musical que marcou a cultura cubana carrega em seu ritmo: a energia, a
ancestralidade, a luta, o afeto, a sabedoria e o gingado que representaram a trajetória da
cultura negra que circulou, e ainda circula, trocou, adaptou-se, resistiu e remodelou
sociedades e experiências ao redor do globo. A rumba cativou o mundo ao longo de sua
18 Díaz, Roman, and Berta PalenzuelaJottar. 2004. Rumba. In Encyclopediaof Latino Popular Culture. Vol. II,
M-Z, ed. Cordelia Chávez Candelaria. Westport, CT: Greenwood Press, p. Díaz, Roman, and Berta Palenzuela
Jottar. 2004. Rumba. In: Encyclopedia of Latino Popular Culture. Vol. II, M-Z, ed. Cordelia Chávez Candelaria.
Westport, CT: Greenwood Press, p.712.
12
história. Popularizando-se durante o século XX, expandiu suas interpretações e tornou-se um
dos estilos musicais mais escutados da época. O tcha-tcha-tcha envolvente dos chocalhos das
maracas também foi adotado por artistas congoleses que lá do outro lado do Atlântico,
apoderaram-se do ritmo. Foi acrescentado um tambor aqui, outro arranjo ali, refinando alguns
tons, mantendo outros, adaptando-se assim às culturas, às experiências e preferências locais
próprias. Assim, foi a partir de um emaranhado cultural, de justaposição e combinação de
arranjos, harmonias e instrumentos, resultante de um ir e vir de influências, que surgiu no
Congo o que conhecemos hoje como a rumba congolesa, a vertente da música afro-cubana
que acalorou a África dos anos 50 e 60.
Como já destacado anteriormente, esse estilo musical teve seu nascimento nas áreas
urbanas da colônia congolesa. O período da colonização belga, que se iniciou com a atuação
de Leopoldo II em 1885 até 1960, já sob administração do governo belga, é observado como
fase de grande proliferação de artes populares e espaços recreativos que se expandiram
concomitantemente ao aumento da massa de trabalhadores atraídos aos centros urbanos pelas
indústrias estrangeiras, principalmente, as relacionadas à exploração mineral. Dessa forma, os
apreciadores, cantores e cantoras, e espaços de difusão da rumba congolesa tinham seu
ambiente ideal no fervor citadino do comércio, do trabalho, no fluxo intenso de pessoas, de
informações, de comunicação e de das culturas. Sua circulação através das rádios, os shows
nos bares dos centros das cidades e, sua harmonia sonora que misturava tons tradicionais com
arranjos modernos era própria de uma sociedade que se encontrava em movimento, na
dinâmica típica dos encontros, trocas e tensões entre os diferentes indivíduos e experiências
que viviam e resistiam no meio urbano colonial.
Música muito apreciada nas mais diversas regiões da África, a rumba congolesa teve
como principais regiões percussoras os dois Congos, conhecidos hoje como Congo-Kinshasa
e Congo-Brazzaville. É interessante destacar que esse movimento musical nascido nos centros
urbanos dos Congos também foi divulgado como Rumba Lingala, Música Moderna Zairense,
Música Congolesa entre outras, recebendo diversos nomes por onde passava e ao longo de sua
trajetória. De acordo com o etnomusicólogo americano, Jesse Samba, o qual utiliza o termo
“Rumba Lingala”, esse estilo musical, nas décadas seguintes ao seu estabelecimento, também
recebeu nomes como: Rumba Rock e Música Congolesa Moderna de Guitarra. A alguns
13
desses termos o autor faz duras crítica. Por exemplo, para ele, o termo Rock utilizado na
primeira denominação possui forte referência às músicas norte americana e inglesa. Em
relação às outras denominações Jesse Samba novamente enfatiza sua crítica dizendo que as
designações restringem o gênero musical aos Congos, limitando esse estilo, que teve grande
difusão e popularidade em diversas outras regiões da África e até mesmo fora deste
continente, a uma determinada região. Mesmo considerando válidas as observações de Jesse
Samba aqui será mantida a denominação inicial, “rumba congolesa” por entender que a
denominação “congolesa” não descaracteriza o universalismo que ela adquiriu ao longo de
sua história. O termo defendido por Samba, que seria “Rumba Lingala”, não encontra
consenso pelo fato de que diversas canções foram compostas contendo termos oriundos de
outras línguas, africanas ou não, como kikongo, francês, espanhol entre outras. Além de todas
estas questões, podemos recorrer ao termo “congolesa” pela observação do surgimento deste
estilo musical nas regiões cujas denominações se apropriam da palavra “Congo”.
Compreendemos que o termo não reduz seu caráter cosmopolita, mas sim guarda em si a
interculturalidade presente na sociedade congolesa, o fluxo, circulação e ebulição de cultura,
pessoas, pensamentos que existia na sociedade colonial congolesa e, consequentemente,
várias regiões da África.19
Assim sendo, verifica-se aqui a relevância de compreender o valor social da rumba
congolesa para a sociedade colonial do Congo. Esse estilo de música, além de representar
uma forma de identidade, expressava a modernidade e um cosmopolitismo urbano apreciado e
acessível à sociedade congolesa daquele período. O antropólogo Bob White em uma análise, a
partir de uma perspectiva histórica sobre a importância política e social da música afro-cubana
na sociedade congolesa destaca que a rumba congolesa reproduz a modernidade, bem como o
cosmopolitismo urbano dessa sociedade naquele período. De acordo com Bob White, a
música popular congolesa constituiu-se a partir de três fontes primárias de inspiração: a
música ocidental (a partir das canções de igreja, bem como baladas românticas europeias e
tradições de salão de festas), a música tradicional africana e a música afrocubana. Para ele, foi
19 Não queremos aqui destacar que o período colonial inaugurou essa circulação cultural já que é sabido que
antes mesmo da presença efetiva do sistema colonial era corrente o comércio, troca e diálogos dentro mesmo do
Continente Africano e com países fora dele. Entretanto, é pertinente destacar a região estudada como uma área
não isolada e sem conexões globais.
14
o universalismo peculiar da rumba congolesa que proporcionou a esse estilo de música grande
prestígio dentro e fora do continente africano, evidenciando que:
My central argument is that AfroCuban music became popular in the Congo
not only because it retained formal elements of “traditional” African
musical performance, but also because it stood for a form of urban
cosmopolitanism that was more accessible - and ultimately more pleasurable
- than the various models of European cosmopolitanism which circulated in
the Belgian colonies in Africa (WHITE, 2002, p.663).
Outro ponto enfatizado pelo pesquisador e também valorizado neste trabalho é a
representação de modernidade contida nessas canções afrocubanas. Analisando essa questão a
partir do contexto histórico deve-se considerar que o maior período de popularização e
difusão das rumbas congolesas se deu diante de um cenário de renovação na África, ilustrados
pelos movimentos de libertação e de estabelecimento de Estados-nação. Ou seja, num
ambiente de mudanças, reconstrução e novidades. Em conjunto, observa-se também a
proposta musical desse estilo que se afastava dos ritmos já existentes no período pré-colonial,
sem negligenciar os aspectos tradicionais e aproximava-se de tendências latinas e européias
alinhando-se a modernidade em torno de uma identidade coletiva urbana congolesa que se
fortalecia. Somando-se a esses elementos, ressalta-se também a existência do mercado e
indústria fonográfica, já estabelecida em meados do século XX, que difundia e inovava esse
segmento musical. Segundo Bob White:
The ‘modernity’ of Congolese popular dance music was marked not only by
its accoutrements (electric instruments, expensive European cars, cellular
phones and international high fashion), but also by the degree of its
commercialization and by the way that it represents (or according to some
compromises) Congolese national identity (WHITE, 2002, p.664).
Nesse sentido, a modernidade atrelada à identidade nacional congolesa era divulgada
através das letras das canções, sonoridade, instrumentos adotados, forma de cantar, estilo das
roupas usadas pelos artistas e pelo jeito de dançar e seus comportamentos. A música
afrocubana deve ser analisada, então, como um instrumento social que ao mesmo tempo em
que desempenhou papel de difusor da identidade congolesa e da cidadania moderna, também
15
movimentou, principalmente nos meios urbanos, ideais de união, pensamento igualmente
sustentado pelo pan-africanismo defendido pelos líderes políticos Lumumba e Nkrumah.
Com todas as suas peculiares características de agregação social, a Rumba congolesa
teria se tornado um pertinente instrumento de auxilio no movimento anticolonial, Jesse Samba
destaca que apesar de não ter surgido como uma música cuja finalidade direta estivesse
vinculada a crítica ao sistema colonial, o contexto em que este estilo musical foi concebido,
sua difusão e, principalmente, sua preocupação em unir os diferentes povos congoleses em
oposição a uma segregação provocada pela colonização, fizeram da rumba congolesa o
símbolo natural de uma era em que as nações africanas estavam passando por profundas
transformações de ordem política e social. Assim, compreende-se que a forma com que essa
musica popular se propagou, se comunicou com um público popular, jovem e urbano num
contexto político e social de insatisfação com a colonização, contribui para a formação de
uma rumba congolesa que se incorporava também à crítica social. Por constituir-se como uma
expressão cultural popular apreciada na vida cotidiana, em espaços de sociabilidade e
entretenimento, as rumbas congolesas abordavam questões do cotidiano das pessoas comuns,
as quais compartilhavam de experiências costumeiras que vão desde temas como dilemas no
campo afetivos, na família e nas relações no trabalho, até as questões sociais e políticas mais
gerais.
Discorrendo ainda sobre a questão da consolidação da identidade congolesa através da
música, Jesse Samba, expande sua análise sobre o que seria essa identidade. O autor considera
a rumba como um recurso de busca por uma identidade congolesa num sentido amplo de
nacionalidade, não limitado à simples questão territorial referente aos países, mas sim de
pertencimento e identificação de um grupo de iguais, a um povo. Para ele, os elementos de
formação da identidade congolesa se encontravam presentes e difundidos pela rumba
congolesa e não por elementos como cor, etnia, região entre outros. Acredita-se que essa
questão também deve ser compreendida devido à pluralidade de grupos que haviam na então
região chamada de Congo Belga. O estudioso destaca que:
Congolese identity as exemplified by this music was not defined by any of the
common social divisors such as language group, geographical region,
lineage, skin color, religion, age, career, financial standing, political belief
or any other socially constructed characteristic. Congolese identity was
16
defined by the themes explored by the singers and the music composed by the
musicians. Whosoever related to Rumba Lingala joined the new nation.
What made this nationalist movement radical for communities in modern
times was the following: Its inclusivity required members of the expanding
Congolese nation simply to unify, not necessarily around a specific, central
political issue (WHEELER, 1999, p.6).
De acordo com o historiador congolês Eilikia M’Bokolo, a música reconhecida
atualmente por música moderna africana constitui o exemplo perfeito de um produto cultural
de massas, associado às sociabilidades particulares."20 O pesquisador enfatiza o caráter
dançante, político e sincrético de sua formação que seria resultante de influências de
elementos europeus, americanos e africanos. Entretanto, a rumba congolesa se sobressai
dentre outros estilos musicais afro-americanos, pois “foi desde seu início coisa de classes
populares atraídas para as cidades coloniais pela industrialização"21. Portanto, a notoriedade
desse estilo musical constitui-se pela sua grande circulação nas classes populares, por tratar de
temas cotidianos, pela utilização do lingala como principal idioma e por sua conexão aos
preceitos pan-africanistas. Além de ser cantada frequentemente nessa língua, sua composição
rítmica constituída de sortidas influências culturais e a ampla abordagem de temas foi o que
permitiu à rumba congolesa sua popularidade e difusão em várias regiões da África e também
fora dela.
Como levantado anteriormente, a adoção do lingala como principal idioma nas rumbas
congolesas acentua sua função comunicativa e perfil cosmopolita, tendo em vista que grande
parte dos habitantes que residiam naquela região da África, ou no entorno, como Angola e
Congo-Brazzavile, conheciam a língua ou tinham algum contato com ela. Apesar disso, suas
letras muitas vezes também vinham acompanhadas de palavras ou frases em francês, kikongo,
espanhol ou algum outro idioma, dependendo da banda ou artista. A escolha desse idioma
africano também ressalta a preocupação de interlocução direcionada aos africanos, porém não
restrito a esses, já que muitos europeus também conheciam a língua.
20 M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Tomo II (Do século XIX aos nossos dias).
Tradução de Manuel Resende, revisada academicamente por Daniela Moreau, Valdemir Zamparoni e Bruno
Pessoti. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011, p.692. 21 Idem, p.693.
17
A experiência da libertação através da canção “Independance tcha-tcha”
O tempo de festejar havia chegado. Em todo lugar ouvia-se o refrão:
Indépendance tcha-tcha toziu e
O Kimpwanza tcha-tcha tubakidi O Table Ronde tcha-tcha ba gagner o
O Dipanda tcha-tcha tozui e (Grand Kallé,1960)
A libertação do Congo estava sendo celebrada. E o entusiasmo com a autonomia foi
musicado, cantado e dançado por aqueles que idealizaram o feito. No dia 27 de janeiro de
1960, em torno de uma mesa redonda, a qual simbolizava a posição de igualdade entre os
presentes naquela conferência, após inúmeras reuniões entre delegados congoleses e belgas,
foi estabelecido o dia da independência. A data escolhida cunharia o tão esperado dia, o
momento em que se conquistaria a libertação dos povos congoleses da subjugação belga.
Assim, o dia 30 de junho seria o dia de anunciar: “Vive l'lndépendance et l'Unité Africaine !
Vive le Congo indépendant et souverain !”22
Foi nesse contexto de euforia, de celebração de um novo tempo que se iniciaria e da
emancipação alcançada que Grand Kallé 23 e sua banda African Jazz 24 lançaram a canção
Independance tcha-tcha. O próprio nome da música já traz ao público sua mensagem. Esta
canção exaltou o feito político e difundiu o sentimento de altivez entre os diversos grupos
sociais, principalmente os populares. De acordo com Hauke Dorsch, esta música foi o
primeiro hit pan-africano, o qual expressou a euforia da oficialização da independência e o
22 Frases proclamadas por Patrice Lumumba, o qual foi bastante aclamado por grande parte da população e
mídias do período, em sua fala como Primeiro Ministro do Congo durante a cerimônia de Oficialização a
Independência, para finalizar seu discurso e convocar a população para comemorar a conquista. 23 Joseph Athanase Tshamala Kabasele, conhecido no meio musical como Le Grand Kallé, foi um famoso cantor
congolês, fundador do grupo de rumba congolesa L’African Jazz, e que se popularizou pela sua atuação na
chamada música moderna congolesa. 24 Fundada em 1953 por Joseph Kabesele, L’african Jazz teve seu auge na década de 1960. Popularizou,
principalmente com as músicas “Table ronde” e “Independance cha cha” , feitas em comemoração a
oficialização da independência no Congo em 1960.Teve como principais membros: Alex Mayukuta, André
"Damoiseau" Kambite, Bombenga, Brazzos, Casimir "Casino" Mutshipule, Charlie (108), Dechaud, Dr. Nico,
Edouard Lutula, Eyenga Moseka, Jean "Rolly" Nsita, Joseph Kabasele, Le Grand Kalle, Manu Dibango, Mathieu
Kuka, Orchestre African Jazz, Pierrot (8), Tabu Ley Rochereau.
18
fim do sistema colonial no território congolês.25 Contrariamente ao que se costuma pensar, é
importante salientar que a independência do Congo iniciou também o processo de
humanização do povo belga. Ela, além de trazer uma mensagem comemorativa da conquista
da libertação, inspirou tempos melhores e propagou o desejo de construção de uma nova fase.
É possível verificar esse discurso alisando a canção diante da conjuntura política e social de
ebulição de movimentos anticoloniais em que se insere, bem como o estudo da letra e dos
instrumentos utilizados, de seu ritmo e, sobretudo, pela pesquisa do perfil da banda que a
canta, elementos estes cuja análise ainda se encontra em processo de aprofundamento. Sendo
assim, este texto trabalha esta canção sobre a independência a fim de iluminar alguns aspectos
da rumba congolesa, bem como analisar seu papel dentro da sociedade do Congo durante
período colonial e os espaços e contextos em que esse estilo musical se estabeleceu.
Sobre o teor das músicas urbanas, o historiador Bogumil Jewsiewicki destaca que “A
força das letras das canções urbanas está em chamar a atenção das pessoas para exemplos,
casos, experiências, e desafios que elas enfrentam.” 26 Nesse sentido, essas músicas tocadas
em grande parte sob ritmo de rumba representavam a vivência dessa sociedade urbana
congolesa e suas experiências no caminho percorrido para alcançar a modernidade. Através
da canção aqui analisada podemos também verificar como esse aspecto da vivência citadina
estava presente. A Indépendance tcha-tcha relata a ocasião da Conferência da Table Ronde e
dentre outros elementos, ela enfatiza o festejar de um desafio conquistado. Ensaia sobre a
independência e simboliza o desejo de união, conciliação política e de reconstrução identitária
para a nova sociedade independente e moderna para a qual se buscava legitimar a soberania.
No decorrer da música são articulados lideranças e partidos representados na Table Ronde,
tais como: Alliance dês Bakongo-ABAKO27, Parti National du Progrés- P.N.P.28, Association
25 Dorsch, Hauke “Indépendance Cha Cha”: African Pop Music since the Independence Era, in: Africa
Spectrum (2010), 45, 3.
26 JEWSIEWICKI, Bogumil. Debates sobre Modernidade e Relações de Gênero na Cultura Urbana Pós-Colonial
Congolesa. In: AARAO REIS, Daniel; MATTOS, Hebe; OLIVEIRA, João Pacheco de et. al. (orgs.). Tradições e
Modernidades. Rio de Janeiro: FGV, 2010, p.118. 27No período da independência era liderado por Joseph Kasa-Vubu. Era Federalista e ganhou 133 dos 170
assentos nas eleições municipais de Dezembro de 1957, em Lépoldville. A ABAKO ganhou conotação partidária
em 1956, mas foi criada como associação cultural em 1950 e fundado como partido em 1956. NASCIMENTO,
Evelyn Rosa do. Entre o silêncio e o Reconhecimento: o processo de independência e os movimentos libertação
no Congo-RDC (1956-1960). Dissertação de Mestrado. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, 2015, p.54.
19
des Ressortissants Du Haut-Congo-ASSORECO29, Confédération des Associations Tribales
du Katanga- CONAKAT30, Union de la Jeunesse du Kongo- UJEKO31, Moviment National
du Congo-M.N.C.32 e Alliance des Bayanzi-ABAZI. Com a finalidade de expressar a
superação de diferenças étnicas, de pensamento e posicionamento político, a letra traz
também a harmonia entre líderes políticos congoleses envolvidos na Conferência dentre eles
Lumumba, Albert Kalonji, Jean Bolikango, Joseph Kasa-Vubu, Moise Tshombe e Cléophas
Kamitatu. Isto posto, a integração desses diferentes partidos e lideranças tinha por finalidade
divulgar a comunhão de partidos políticos e seus líderes que estariam renunciando a suas
divergências em prol da implantação do país recém-nascido. Outro aspecto que pode ser
destacado que se encontra vinculado ao ponto anterior é a divulgação e mesmo apresentação
esses partidos e líderes à população. A presença desses sujeitos anuncia o envolvimento deles
no feito, divulga a agência congolesa e os promove como personalidades condutoras do novo
cenário político. Desse modo, sua composição literária é marcada basicamente por elementos
políticos existentes no cotidiano daquele período cuja finalidade pública pode ser claramente
observada. Comemora, populariza e estimula a libertação colonial. A composição, além disso,
conduz mensagem difusora de orgulho e esperança na conjuntura que se formava.
No que concerne a sua forma pode-se enfatizar a repetição do termo “independance” e
a reiteração do sentido de união, o que resulta num canto fluido e atrativo composto por letra
não extensa, linguagem simples, direta e acessível. Outro aspecto observado é uso de
onomatopéias. As palavras “tcha-tcha” são recorrentes no final das frases que constituem o
refrão para reproduzir o som do agitar das maracas, instrumento musical bem característico
desse gênero que lembra um chocalho, conferindo balanço e cadência de movimentos
sincronicamente leves e dançantes.
28 Considerado um partido moderado, pois apoiava os interesses da administração belga, o P.N.P. foi fundado em
11 de Novembro de 1959, Coquilhatville e tinha como líder Paul Bolya. Idem. 29 Liderado por Jean Bolikango a ASSORECO era conhecido como Aliança dos Bangala. Tornou-se depois o
partido PUNA (Parti de l'Unite Nationale). Idem. 30 Fundada em 11 de Julho de 1959, em Katanga e presidenciada por Moise Tshombe. O partido caracterizava-se
por defender a emancipação da Província de Katanga do restante do Congo. Seu posicionamento era federalista e
tinha como lema a autenticidade Katanguesa para a defesa de seus interesses. Idem. 31 Partido delegado na ocasião da Table Ronde por Emmanuel Nzuzi. 32 Tinha como principal liderança Patrice Lumumba, apesar de suas ramificações. Foi fundado em 10 de Outubro
de 1958, Leopoldville que hoje é a capital Kinshasa. Defensor unidade congolesa e contrário às tendências de
balcanização, foi dividido em julho de 1959 entre a tendência unitarista de Lumumba (Província Oriental) e a
tendência federalista de Kalonji-Ileo-NgalulaAdoula (Balubadu Kasai). Idem.
20
Esses elementos referentes ao seu formato, letra e cadência integram também a
popularidade dessa melodia e de seu estilo musical, os quais conseguem ser observados pelo
leitor através do registro completo exposto abaixo33:
Independance tcha-tcha (Grand Kallé e l’African Jazz)
33 Música de Grand Kallé e African Jazz, Independance tcha-tcha (Grand Kallé e l’African Jazz). Neste link
você pode acessar o vídeo da música e acompanhá-la a partir da letra aqui já disponibilizada:
https://www.youtube.com/watch?v=reModLpEloc&spfreload=1
21
Versão original:
Indépendancetcha-tchatoziu e
O Kimpwanzatcha-tchatubakidi
O Table Ronde tcha-tchabagagner o
O Dipandatcha-tchatozui e
ASSORECO na ABAKO bayokani moto
moko
Na CONAKAT na Cartel balingani na
frontcommun
Bolikango, Kasa-Vubu
Mpe Lumumba naKalonji
Bolya, Tshombe, Kamitatu
O Essandja, MbutaKanza ...
Indépendancetcha-tchatozui e
Na M.N.C. na UGECO
ABAZI na P.N.P.
Basepela(?) African-Jazz
Na Table Ronde mpebagagner
Indépendance [...]
Tradução:
Independência tcha-tcha nós conquistamos
Independência tcha-tcha chegamos lá
Na TableRondetcha-tcha eles ganharam
Independência tcha-tcha nós conquistamos
ASSORECO e ABAKO como se fossem um
só
CONAKAT e Cartel [Katanga] se amam em
Frente comum
Bolikango, Kasa-Vubu
E Lumumba com Kalonji
Bolya ,Tshombe, Kamitatu
O Essandja, honrosa Kanza ...
Independência cha-cha nós conquistamos
MNC para UEGO
ABAZI para P.N.P.
Comemoramos com African Jazz
E na Table Ronde eles ganharam.
Independência [...] Refrão
Assim, a música aqui é verificada como meio de multiplicar e difundir símbolos
nacionais, tal como reforçar o sentimento de nascimento de um novo país. Dentro dessa
perspectiva, M’Bokolo evidencia o importante papel social que a rumba congolesa
desempenhou como meio de manifestação política durante o período colonial do Congo:
O desenvolvimento da rumba corresponde também a uma necessidade de
autonomia, ou inclusive a uma vontade de resistência em face aos poderes
coloniais, que tinham como política, já desde antes da Primeira Guerra,
orientar e controlar os lazeres dos negros (M’BOKOLO, 2011, p.695).
22
Dentro dessa análise, evidenciamos a importância de compreender a dimensão da
música urbana na África e o papel da rumba congolesa como instrumento social de
exteriorização de um anseio por liberdade, renovação, aglutinação e de expressão crítica ao
modelo colonial, o qual era o maior repressor dos hábitos, costumes e práticas dos locais,
considerando-as atrasadas e primitivas.
Considerações finais
A música Indépendance tcha-tcha ainda hoje é vista como música-hino da
independência do Congo e da África. O fato talvez possa ser explicado devido ao não
desenvolvimento do projeto político nacional defendido por Lumumba de união dos povos e
relacionado aos sucessivos golpes e intervenções estrangeiras sofridas pelo país desde que se
tornou independente.
Não obstante, a partir das questões levantadas e dos elementos analisados ao longo
deste trabalho, observamos que o ritmo, letras, melodia dentre outros elementos que compõem
a música, questionam, poetizam, denunciam, traduzem e veiculam sobre a rotina, os hábitos e
os costumes compartilhados pelos sujeitos comuns da sociedade urbana e, no que concerne ao
nosso trabalho, os estratos mais baixos da estrutura social, ou seja, aqueles sujeitos menos
escolarizados, trabalhadores africanos, ou de outros lugares, que viviam na colônia congolesa.
Ou seja, a rumba congolesa e seu inerente potencial de comunicação, para os mais variados
círculos sociais, se revela como um importante objeto de pesquisa para auxiliar na
compreensão dos fatores sociais e culturais que cooperaram na promoção de sentimentos de
libertação, da descolonização mental e união dos povos africanos. A música popular no
Congo realçou a pluralidade presente em sua sociedade, valorizando essa profusão como uma
virtude e não mais como um problema para formação de um Estado. Tendo isto posto,
verificamos a rumba congolesa como espaço de criação artística que buscou ultrapassar as
fronteiras étnicas, a qual ao mesmo tempo constitui-se como elemento fundamental para
construção de uma identidade nacional e de implantação de uma urbanidade baseada no
respeito às contribuições culturais diversas.
23
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Affaires Économiques. Institut National de Statistique. Bruxelles, 1958.
Entrevista com Ulises Mora, coreógrafo e presidente do projeto cultural internacional
Tymbalaye, sobre rumba, poesia e ancestralidade latino-americana. Disponível em:
http://www.granma.cu/cultura/2016-02-16/la-rumba-es-tambien-poesia-16-02-2016-15-02-33
Les discours prononcés par le Roi Baudouin Ier,le Président Joseph Kasa-Vubu et le Premier
Ministre Patrice-Emery Lumumba lors de la cérémonie de l’indépendance du Congo (30 juin
1960) à Léopoldville (actuellement Kinshasa). Disponível em: http://www.kongo-
kinshasa.de/dokumente/lekture/disc_indep.pdf (acesso em 05/06/2017)
Música “Independance tcha-tcha” de Grand Kallé e African Jazz. (1960). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=reModLpEloc&spfreload=1 (acesso em 06/06/2017)
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