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A Doutrina do Fascismo - Benito Mussolini Ideias fundamentais
1. Como toda a concepção política sólida, o Fascismo é ação e pensamento; ação em que está imanente uma
doutrina e doutrina que, surgindo de um dado sistema de forças históricas, está nele inserido e aí opera
internamente.
Possui, portanto, uma forma correlativa às exigências de lugar e de tempo e, simultaneamente, um conteúdo
ideal que a eleva a fórmula de verdade na história superior do pensamento. É impossível agir espiritualmente
no mundo, como vontade humana, dominadora de vontades, sem um conceito da realidade transitória e
particular sobre a qual é preciso atuar, e da realidade permanente e universal, que é a razão de ser e da vida
da primeira. É preciso conhecer o homem para poder conhecer os homens; e para conhecer o homem, é
necessário conhecer a realidade e as suas leis. Não há concepção de Estado que não seja fundamentalmente
uma concepção da vida: filosofia ou intuição, sistema de ideias que se desenvolve numa construção lógica ou
se concentra numa visão ou numa fé, mas sempre, pelo menos virtualmente, uma concepção orgânica do
mundo.
Assim, não se poderá compreender o Fascismo nos seus vários aspectos práticos, como organização de partido,
sistema de educação e disciplina, sem o encararmos, antes de mais, à luz do seu modo geral de conceber a
vida: modo espiritualista. Para o Fascismo, o mundo não é o mundo material conforme aparece à primeira
vista, no qual o homem é um indivíduo separado de todos os outros, governado por uma lei natural que,
instintivamente, o leva a viver uma existência de prazer egoísta e momentâneo. O homem do Fascismo é o
indivíduo que é nação e pátria, lei moral que une conjuntamente indivíduos e gerações numa tradição e numa
missão, que suprime o instinto da vida encerrada no breve instante do prazer para instaurar no dever uma
vida superior liberta dos limites do tempo e do espaço: uma vida em que o indivíduo, através da abnegação de
si mesmo, do sacrifício dos seus interesses particulares e até da própria morte, realiza aquela existência
inteiramente espiritual onde reside o seu valor de homem.
2. Concepção espiritualista, portanto, surgida também da reação geral do século contra o positivismo do
Ocidente fraco e materialista. Anti-positivista, mas positiva: nem céptica, nem agnóstica, nem pessimista, nem
passivamente optimista, como são em geral as doutrinas (todas negativas) que colocam o centro da vida fora
do homem, o qual pode e deve, com a sua livre vontade criar o seu mundo. O Fascismo quer o homem ativo e
empenhado na ação com todas as suas energias, virilmente consciente das dificuldades e pronto para enfrentá-
las. Concebe a vida como uma luta, pensando que cabe ao homem conquistar a existência verdadeiramente
digna dele, criando em si próprio, antes de tudo, o instrumento (físico, moral, intelectual) para a edificar. Isto
aplica-se tanto ao indivíduo singular como à nação e à humanidade.
Daí, o alto valor da cultura em todas as suas formas - arte, religião, ciência - e a formidável importância da
educação. Daí também o valor essencial do trabalho, com o qual o homem vence a natureza e produz o mundo
humano (económico, político, moral e intelectual).
3. Esta concepção positiva da vida é uma concepção ética, evidentemente; abrange toda a realidade, bem
como a atividade humana que a domina. Nenhuma ação escapa ao julgamento moral: nada há no mundo que
possa despojar-se do valor que a tudo cabe atribuir em relação aos fins morais.
Portanto, tal qual a concebe o fascista, a vida é séria, austera, religiosa, inteiramente concentrada num mundo
sustentado pelas forças morais e responsáveis do espírito. O Fascismo despreza a vida cómoda.
4. O Fascismo é uma concepção religiosa onde o homem é encarado sob o ponto de vista da sua relação com
uma lei superior, com uma vontade objetiva que transcende o indivíduo particular, elevando-o a membro
consciente de uma sociedade espiritual. Quem, na política religiosa do regime fascista, se deteve em
considerações de mera oportunidade, não compreendeu que, além de ser um sistema de governo, o Fascismo
é também e acima de tudo um sistema de pensamento.
5. O Fascismo é uma concepção histórica, segundo a qual o homem só é aquilo que é, em virtude do processo
espiritual para que concorre no grupo familiar e social, na nação e na história, na qual todas as nações
colaboram. Daí, o grande valor da tradição nas memórias, nas línguas, nos costumes, nas normas da vida
social. Fora da história, o homem nada é. Por isso, o Fascismo se ergue contra todas as abstrações
individualistas de base materialista tipo século XVIII1; e contra todas as utopias e inovações jacobinas2. Não
julga possível a felicidade sobre a terra, como a desejava a literatura economicista do século XVIII e, portanto,
repele as concepções teleológicas que vêm em certa época da história, a organização definitiva do género
1 Abstrações individualistas de base materialistas = ideais burgueses/capitalistas. 2 Utopia jacobina = Ideais “esquerdistas” da revolução francesa.
humano. Isto significa colocar-se fora da história e da vida, que é um contínuo fluir e devir. Politicamente, o
Fascismo quer ser uma doutrina realista; na prática, aspira a resolver apenas os problemas que surgem por si,
historicamente, permitindo a sua própria solução(9). Para agir entre os homens, tal como na natureza, é preciso
entrar no processo da realidade e tornar-se senhor das forças atuantes.
6. Anti-individualista, a concepção fascista é a favor do Estado; e é pelo indivíduo, na medida em que este
coincide com o Estado. Repele o liberalismo clássico, que surgiu da necessidade de reagir contra o absolutismo
e esgotou a sua função histórica desde que o Estado se transformou na própria consciência e vontade
populares. O liberalismo negava o Estado no interesse do indivíduo particular, o Fascismo reafirma o Estado
como a realidade verdadeira do indivíduo. E, se a liberdade deve ser a prerrogativa do homem real e não do
abstrato fantoche em que pensava o liberalismo individualista, o Fascismo é pela liberdade3. E é pela única
liberdade que pode ser uma coisa séria, a liberdade do Estado e do indivíduo no Estado, uma vez que, para o
fascista, tudo está concentrado no Estado e nada existe de humano ou de espiritual, e muito menos tem valor,
fora do Estado. Neste sentido, o Fascismo é totalitário, e o Estado fascista, síntese e unidade de todos os
valores, integra e desenvolve a totalidade da vida do povo.
7. Nem indivíduos, nem grupos (partidos políticos, associações, sindicatos, classes) fora do Estado. Por isso, o
Fascismo é contra o socialismo que paralisa o movimento histórico na luta de classes e ignora a unidade estatal
que funde as classes numa única realidade económica e moral analogamente, é contra o sindicalismo classista.
Mas, na órbita do Estado organizador, o Fascismo quer que sejam reconhecidas as exigências reais que deram
origem ao movimento socialista e sindicalista (a “luta pelos trabalhadores”), fazendo-as valer no sistema
corporativo, que concilia os diversos interesses na unidade do Estado.
8. Segundo as categorias dos interesses, os indivíduos são classes; são sindicatos, segundo as diferentes
atividades económicas co-interessadas; mas, antes e acima de tudo, são Estado. Este não é número, um
somatório de indivíduos que constituem a maioria de um povo.
Por isso mesmo, o Fascismo é contra a democracia, que identifica o povo ao maior número, rebaixando-o ao
nível da maioria, mas é a forma mais pura de democracia, se o povo é concebido consoante deve ser, isto é,
qualitativa e não quantitativamente, como a ideia mais forte, porque a mais moral, coerente e verdadeira, que
atua no povo como consciência e vontade de poucos ou até de um só e como ideal que tende a agir na
consciência e na vontade de todos. De todos os que, etnicamente, extraem da natureza e da história as razões
para formar uma nação, ligados pela mesma linha de evolução e de formação espiritual de modo a constituir
uma só consciência, uma só vontade.
Não estamos perante uma raça ou uma região geograficamente individualizada, mas face a uma estirpe que
se perpetua historicamente, uma multidão unificada por uma ideia que é vontade de existência e de poder:
consciência de si, personalidade.
9. Essa personalidade superior é a nação, porque é Estado. Não é a nação que cria o Estado segundo o velho
conceito naturalista que serviu de base à exaltação dos Estados nacionais no século XIX. Antes, a nação é
criada pelo Estado, que dá ao povo consciente da própria unidade moral uma vontade e, portanto, uma
existência efetiva. O direito de uma nação à independência deriva, não de uma consciência literária e ideal do
próprio ser, nem tampouco de uma situação de facto mais ou menos inconsciente e inerte, mas de uma
consciência ativa, de uma vontade política em ação e disposta a demonstrar o próprio direito, isto é, de uma
espécie de Estado já in fieri. De fato, como vontade ética universal, o Estado é criador do direito.
10. A nação como Estado é uma realidade ética que existe e vive enquanto se desenvolve. Se parar, morre.
Por isso, o Estado não é somente a autoridade que governa e dá forma de lei e valor de vida espiritual à
vontade individual, é também força que fez valer a sua vontade no exterior, obtendo reconhecimento e
respeito, isto é, demonstrando factualmente a sua universalidade em todas as determinações necessárias do
seu desenvolvimento. É, portanto, organização e expansão, pelo menos virtual. Pode assim adaptar-se à
natureza da vontade humana que no seu desenvolvimento não conhece obstáculos e se realiza provando a
própria infinitude.
11. O Estado fascista, forma mais alta e poderosa de personalidade, é força, mas força espiritual. Esta
concentra em si todas as estruturas da vida moral e intelectual do homem. Não pode limitar-se a simples
funções de ordem e de tutela, como pretendia o liberalismo. Não é um simples mecanismo que limita a esfera
das chamadas liberdades individuais. É forma, norma interior e disciplina da pessoa na totalidade; penetra na
vontade como na inteligência. O seu princípio, inspiração central da personalidade humana vivendo em
sociedade, entra nas profundidades e instala-se no coração do homem de ação, do pensador, do artista, do
sábio: alma da alma.
3 O velho discurso de “liberdade através de um estado grande/forte” usado pelos socialistas, nazistas e
também pelos fascistas.
12. Em síntese, o Fascismo não é somente promulgador de leis e fundador de institutos, mas educador e
promotor de vida espiritual. Pretende refazer, não as formas da vida humana, mas o homem, o carácter, a fé4.
Para alcançar este fim, necessita de disciplina e de autoridade que penetrem nos espíritos, dominando-os
incontestavelmente. O seu emblema é, pois, o feixe dos Lictores, símbolo de unidade, de força e de justiça.
Doutrina política e social
1. Quando no já tão longínquo Março de 1919 convoquei em Milão nas colunas do Popolo d'ltalia os
sobreviventes intervencionistas-combatentes que me haviam seguido desde a constituição dos Fascios de Ação
Revolucionária, em Janeiro de 1915 - não havia qualquer plano doutrinário específico no meu espírito. De uma
só doutrina tinha tido experiência viva: a do socialismo desde 1903-1904 até ao Inverno de 1914; quase um
decénio. Experiência de filiado e de chefe, não experiência doutrinal.
Mesmo naquele período, a minha doutrina foi sempre a doutrina da ação. Não havia desde 1905 uma
doutrina unívoca, universalmente aceite, ao começar na Alemanha o movimento revisionista chefiado por
Bernstein contra o qual, na alternância das tendências, se formou um movimento revolucionário de esquerda
que na Itália não passou do terreno teórico, mas que no socialismo russo foi o prelúdio do bolchevismo.
Reformismo, revolucionarismo, centrismo; até os ecos dessa terminologia se extinguiram, mas na grande
corrente do Fascismo encontrareis os filões que partiram de Sorel, de Péguy, de Lagardelle, do Mouvement
Socialiste e da corte dos sindicalistas italianos que de 1904 a 1914 trouxeram uma nota de novidade ao meio
socialista italiano, desvirilizado e cloroformizado pela Fornicação Giolittiana, com as Pagine Libere de Olivetti,
La Lupa de Orano, e Il Devenir Sociale de Enrico Leone.
Acabada a guerra, o socialismo já não existia como doutrina em 1919: existia só como rancor e com
uma única finalidade, principalmente na Itália, as represálias contra aqueles que tinham querido a guerra e
que deviam expiá-la. O Popolo d'ltalia tinha como subtítulo Diário dos combatentes e dos produtores. A palavra
produtores era já a expressão de uma orientação mental. O Fascismo não surgiu de uma doutrina elaborada
antecipadamente em tomo de uma secretária: nasceu da necessidade de ação e foi ação; não foi partido, nos
primeiros dois anos foi anti-partido e movimento. O nome que dei à organização fixava-lhe os caracteres.
Entretanto, quem reler nas folhas já amareladas da época a narração da reunião constitutiva dos Fascios
italianos de combate, não encontrará uma doutrina, mas uma série de apontamentos, antecipações e esboços
que, libertados do jugo inevitável das contingências, deviam, depois de alguns anos, desenvolver-se numa
série de posições doutrinárias que faziam do Fascismo uma doutrina política em confronto com as outras,
passadas e contemporâneas. "Se a burguesia, dizia eu então, julga encontrar em nós o seu para-raios, engana-
se. Devemos ir de encontro ao trabalho... Queremos habituar as classes operárias à capacidade de direção, até
para as convencer de que não é fácil dirigir uma indústria ou um comércio ... Combateremos o retrogradismo
técnico e espiritual. Devemos acorrer; se o regime cair, devemos ocupar o seu posto. Cabe-nos o direito de
sucessão por termos levado o país à guerra e o conduzir à vitória. A representação política atual não é
suficiente, queremos uma representação direta dos vários interesses. Poderia dizer-se que com este programa
voltamos às Corporações. Não importa! Queria, por isso, que a Assembleia aceitasse as reivindicações do
sindicalismo nacional do ponto de vista económico.
Não é singular que desde o primeiro dia ressoe na Praça do Santo Sepulcro a palavra corporação, que no
decorrer da Revolução devia significar uma das criações legislativas e sociais básicas do regime?
2. Os anos que precederam a Marcha sobre Roma foram anos durante os quais as necessidades de ação não
toleraram investigações ou elaborações doutrinárias completas. Lutava-se nas cidades e nas aldeias. Discutia-
se e o que era mais sagrado e importante - morria-se. E sabia-se morrer. A doutrina completa com divisões
de capítulos, de parágrafos e floreados de elucubração, podia faltar; mas havia algo de mais decisivo a
substituí-la: a fé. Todavia, quem se lembrar de consultar os livros, os artigos, os votos dos congressos, os mais
longos e mais curtos discursos, quem souber indagar e escolher, descobrirá que os fundamentos da doutrina
foram lançados no mais aceso da luta. É justamente nesses anos que o pensamento fascista se ergue, se
aperfeiçoa e se encaminha para uma organização. Problemas do indivíduo e do Estado, da autoridade e da
liberdade, políticos e sociais e os mais especificamente nacionais; a luta contra as doutrinas liberais,
democráticas, socialistas, maçónicas, populares, foram conduzidas contemporaneamente com as expedições
punitivas. Mas, porque faltou sistema, os adversários de má fé negaram ao Fascismo toda a capacidade de
doutrina, apesar desta, ainda que tumultuosamente, ir surgindo, primeiro, sob o aspecto de uma negação
dogmática violenta, como sucede com todas as ideias que despontam, em seguida, sob o aspecto positivo de
uma construção que nos anos de 1926, 1927, 1928 encontrou a sua concretização nas leis e nos institutos do
regime. Não apenas como regime mas também como doutrina, o Fascismo está hoje claramente
individualizado. Esta expressão é usada no sentido de que, exercendo a sua crítica sobre si e sobre os outros,
o Fascismo tem o seu ponto de vista inconfundível de referência - portanto de orientação - em relação aos
problemas que afligem prática ou intelectualmente os povos do mundo.
4 Criação de um “novo homem”, algo totalmente revolucionário.
3. Antes de tudo, no que diz geralmente respeito ao futuro e à evolução da humanidade, o Fascismo não crê
na possibilidade e na utilidade da paz perpétua. Portanto, repele o pacifismo, que oculta uma renúncia à luta
e uma cobardia perante tudo o que é sacrifício. Só a guerra eleva ao máximo de tensão todas as energias
humanas, imprimindo um cunho de nobreza aos povos que têm a virtude de a enfrentar. Todas as outras
provações se reduzem a meros substitutos que, na alternativa da vida e da morte, jamais colocam o homem
frente a frente consigo mesmo. Assim, uma doutrina que parte do postulado prévio da paz, é tão alheia ao
Fascismo como o são ao seu espírito, mesmo se aceites pela utilidade limitada que possam ter em certas
situações políticas, todas as organizações internacionalistas e societárias, que, como a história nos demonstra,
se dispersam ao vento quando elementos sentimentais, ideais e práticos, agitam tempestuosamente o coração
dos povos. Esse espírito anti-pacifista, transporta-o também o Fascismo à vida particular dos indivíduos. A
orgulhosa divisa dos esquadristas “me ne frego” (não me importa), "estou-me nas tintas", escrita nas ligaduras
de uma ferida, não é só um ato de filosofia estoica, é a síntese de uma doutrina não somente política: é a
educação para o combate e a aceitação dos riscos que comporta - é um novo estilo de vida italiano. Assim, o
fascista aceita e ama a vida; ignora e considera o suicídio uma vileza; compreende a vida como dever, elevação,
conquista, a vida deve ser alta e plena: vivida por si própria, mas principalmente para todos os outros, próximos
ou longínquos, presentes ou futuros.
4. A política demográfica do regime é uma consequência dessas premissas. O fascista ama o próximo também,
mas esse próximo não é para ele um conceito indeterminado: o amor ao próximo não impede as necessárias
severidades educadoras e ainda menos as diferenças e as distâncias. O Fascismo repele os abraços universais
e, ainda que vivendo na comunhão dos povos civilizados, olha-os com atenção e desconfiança, observa-os nos
seus estados de espírito e na transformação dos seus interesses e não se deixa enganar pelas aparências
inconstantes e falsas.
5. Uma tal concepção da vida leva o Fascismo a ser a decisiva negação da doutrina fundamental do chamado
socialismo científico ou marxismo: a doutrina do materialismo histórico, segundo a qual a história da civilização
humana se explicaria unicamente pela luta de interesses entre as várias classes sociais e pela mudança dos
meios e instrumentos de produção. Ninguém nega que as vicissitudes da economia - descoberta de matérias-
primas, novos sistemas de trabalho, invenções científicas - tenham a sua importância própria; mas que bastem
para explicar a história humana excluindo todos os outros fatores, é um absurdo: o Fascismo crê, ainda e
sempre, na santidade e no heroísmo, isto é, em ações sobre as quais nenhum motivo económico - longínquo
ou próximo - possa ter influência. Negado o materialismo histórico para o qual os homens nada mais são que
comparsas da história que aparecem e desaparecem na superfície das vagas enquanto na profundidade se
agitam e trabalham as verdadeiras forças diretrizes, está negada a luta de classes, invariável e inevitável, que
é a natural consequência dessa concepção economicista da história; também e sobretudo, está negada a tese
que a luta de classes seja o agente preponderante das transformações sociais. Ferido o socialismo nesses dois
baluartes da sua doutrina, nada mais resta dele que a aspiração sentimental - antiga como a humanidade - à
convivência social na qual sejam aliviados os sofrimentos e as dores dos mais humildes. Aqui, porém, o
Fascismo repele o conceito de felicidade económica que se realizaria no socialismo e quase automaticamente
em dado momento da evolução da economia, quando assegurasse a todos o máximo de bem-estar. O Fascismo
nega o conceito materialista de felicidade, abandonando-o aos economistas da primeira metade do século
XVIII; isto é, nega a equação bem-estar = felicidade, que converteria os homens em animais e com o
pensamento numa só coisa: comer e engordar, reduzidos, pois, à mera e simples vida vegetativa.
6. Depois do socialismo, o Fascismo bate em brecha o conjunto das ideologias democráticas e repele-as nas
suas premissas teóricas e nas suas aplicações ou instrumentalizações práticas. O Fascismo nega que o número,
pelo simples facto de ser número, possa governar as sociedades humanas através da consulta periódica; afirma
a desigualdade irremediável, fecunda e benéfica dos homens, que não se pode nivelar através de um facto
mecânico e extrínseco como o sufrágio universal.
Os regimes democráticos podem ser definidos como aqueles que de vez em quando dão ao povo a ilusão
de ser soberano, apesar da verdadeira soberania estar noutras forças, por vezes irresponsáveis e secretas. A
democracia é um regime sem rei mas com muitíssimos reis, em muitas ocasiões mais exclusivistas, tirânicos e
ruinosos que um único rei tirano. Isto explica porque o Fascismo, apesar de ter assumido antes de 1922 - por
razões contingentes - uma atitude tendencialmente republicana, renunciou a esta antes da Marcha sobre Roma,
convencido que a questão das formas políticas do Estado não é hoje decisiva e que, considerando-se os
exemplos das monarquias e das repúblicas presentes e passadas, se verifica que não se devem apreciar
monarquias e repúblicas numa perspectiva de eternidade, uma vez que representam apenas formas nas quais
se exterioriza a evolução política, a história, a tradição e a psicologia de determinado país. O Fascismo supera
a antítese monarquia-república na qual se deteve o democratismo, que sobrecarregou a primeira com todas as
insuficiências e faz a apologia da segunda como um regime de perfeição. Ora, já se viram repúblicas
extremamente reacionárias e absolutas e monarquias que acolhem as mais ousadas experiências políticas e
sociais.
7. "A razão, a ciência - dizia Renan, que teve iluminações pré-fascistas numa das suas Meditações Filosóficas
- são produtos da humanidade; mas querer a razão diretamente para o povo e através do povo, é uma quimera.
Para a existência da razão, não é necessário que todos a conheçam. Em todo o caso, se tal iniciação se
verificasse, não seria através da baixa democracia, que parece levar à extinção de toda a cultura superior e de
todas as disciplinas elevadas. O princípio segundo o qual a sociedade existe para o bem-estar e a liberdade
dos indivíduos que a compõem não parece estar de acordo com os planos da natureza, onde só a espécie é
tomada em consideração e o indivíduo aparece sacrificado. É muito de recear que a última palavra da
democracia assim compreendida (apresso-me a dizer que também pode ser compreendida de outro modo) não
seja mais que um estado social em que a massa degenerada tem apenas a preocupação de gozar os prazeres
ignóbeis do homem vulgar".
Até aqui, Renan. O Fascismo repele na democracia a mentira convencional e absurda da igualdade política, o
hábito da irresponsabilidade coletiva, o mito da felicidade e o progresso indefinido. Se a democracia se pode
entender de modo diverso, isto é, se democracia significa não colocar o povo à margem do Estado, o Fascismo
pode ser definido por quem escreve estas linhas como uma democracia organizada, centralizada, autoritária.
8. Face às doutrinas liberais nos terrenos da política e da economia, o Fascismo está em completa oposição.
Não se deve exagerar - com simples finalidades polémicas atuais - a importância do liberalismo no século
passado e fazer do que foi uma das numerosas doutrinas formuladas naquele século uma religião para todos
os tempos presentes e futuros. O liberalismo floresceu apenas durante quinze anos. Surgiu em 1830 como
reação à Santa Aliança, que queria fazer regressar a Europa à época anterior a 1789, e atingiu o seu esplendor
em 1848, quando até Pio IX foi liberal. Logo depois, começou a decadência; à luz e à poesia de 1848,
sucederam-se as trevas e as tragédias de 1849. A república de Roma foi aniquilada pela república francesa no
mesmo ano, quando Marx lançava o evangelho da religião do socialismo com o famoso Manifesto Comunista.
Em 1851, Napoleão III dá o seu golpe de Estado antiliberal e reina na França até 1870, sendo derrubado depois
devido a um motim popular determinado por uma das mais formidáveis derrotas militares da história. Saiu
vencedor Bismark, que nunca soube em que consistia a religião da liberdade e quais fossem os seus profetas.
É sintomático que um povo de alta civilização como o alemão tenha ignorado totalmente a religião da liberdade
no século XIX. Há um único parêntesis, o do denominado "ridículo parlamento de Frankfurt", que durou três
meses. A Alemanha conquistou a sua unidade nacional fora do liberalismo e contra o liberalismo, doutrina que
parece estranha à alma alemã, essencialmente monárquica, ao passo que o liberalismo é a antecâmara
histórica e lógica da anarquia. As etapas da unidade alemã foram as três guerras de 1864, 1866, 1870
conduzidas por liberais como Mo1tke e Bismark. Quanto à unidade italiana, o liberalismo teve uma parte
absolutamente inferior ao contributo dado por Mazzini e Garibaldi, que nunca foram liberais. Não teríamos tido
a Lombardia sem a intervenção do antiliberal Napoleão; sem o auxílio do antiliberal Bismark em Sadowa e
Sedan, muito provavelmente não teríamos conseguido Veneza em 1866 e não teríamos entrado em Roma em
1870. De 1870 a 1915, decorre o período em que os próprios sacerdotes do novo credo reconhecem o
crepúsculo da sua religião, batida em brecha pelo decadentismo na literatura, pelo ativismo na prática.
Ativismo, isto é, nacionalismo, futurismo, Fascismo. Depois de acumular uma infinidade de nós górdios, o
século liberal procura desatá-los com a hecatombe da guerra mundial. Nunca religião alguma impôs tão imenso
sacrifício. Os deuses do liberalismo tinham sede de sangue? Agora, porém, o liberalismo está a fechar as portas
dos seus templos desertos, pois os povos sentem que o seu agnosticismo na economia, o seu indiferentismo
na política e na moral, levariam, como levaram, os Estados à ruína. Tudo isto explica que todas as experiências
políticas do mundo contemporâneo sejam antiliberais e é sumamente ridículo querer classificá-las fora da
história, como se esta fosse uma coutada de caça reservada ao liberalismo e aos seus professores e como se
constituísse a última e insuperável palavra da civilização.
9. Contudo, as negações fascistas do socialismo, da democracia, do liberalismo, não devem fazer crer que o
Fascismo deseje que o mundo recue para o que era antes de 1789, considerado o ano de abertura do século
democrático-liberal. Não se volta para trás. A doutrina fascista não elegeu De Maistre como seu profeta. O
absolutismo monárquico já se foi, tal como toda a eclesiolatria (idolatria eclesiástica), e também os privilégios
feudais e a divisão em castas impenetráveis e incomunicáveis entre si. O conceito de autoridade fascista nada
tem de comum com o Estado de polícia. Um partido que governa totalitariamente uma nação é um facto novo
na história. São impossíveis as referências e os confrontos. O Fascismo tira das ruínas das doutrinas liberais,
socialistas, democráticas, os elementos que têm valor vital. Mantém os que podem ser considerados como
factos históricos e rejeita o resto, isto é, o conceito de doutrina boa para todos os tempos e todos os povos.
Admitindo que o século XIX tenha sido o do socialismo, do liberalismo, da democracia, não equivale a dizer
que o século XX também deve ser o do socialismo, do liberalismo, da democracia. As doutrinas políticas
passam, os povos ficam. Pode pensar-se que o século XX é o século da autoridade, o século das direitas, o
século fascista; se o século XIX foi o século do indivíduo (liberalismo significa individualismo) pode pensar-se
que este é o século do coletivo e, portanto, do Estado. É perfeitamente lógico que a nova doutrina se aproveite
dos elementos vitais das outras. Nenhuma surgiu inteiramente nova, brilhante, nunca vista. Nenhuma se pode
vangloriar de originalidade absoluta; está ligada, mesmo que só historicamente, às doutrinas passadas e
presentes. Assim, o socialismo científico de Marx está ligado ao socialismo utópico dos Fourier, dos Owen, dos
Saint-Simon; o liberalismo do século XIX a todo o movimento iluminista do século XVIII; as doutrinas
democráticas estão ligadas à Enciclopédia. Toda a doutrina tende a encaminhar a atividade dos homens para
um objetivo determinado; mas essa atividade reage sobre a doutrina, transforma-a, adapta-a às novas
necessidades ou supera-a. A doutrina, portanto, não deve ser um jogo de palavras, mas um ato de vida. Daí,
a estrutura pragmática do Fascismo, o seu desejo de poder, o seu querer afirmar-se, a sua posição em face da
violência e do seu valor.
10. Base da doutrina fascista é a concepção do Estado, da sua essência, das suas obrigações e finalidades.
Para o Fascismo, o Estado é o absoluto, ante o qual os indivíduos e grupos representam o relativo. Indivíduos
e grupos só são concebíveis se pertencentes ao Estado. O Estado liberal não dirige o desenvolvimento material
e espiritual da coletividade, limita-se a registrar os resultados; o Estado fascista tem consciência e vontade
próprias, por isso é Estado ético. Em 1929, na primeira assembleia quinquenal do regime dizia eu: "Para o
Fascismo, o Estado não é o guarda noturno que se ocupa da segurança pessoal dos cidadãos; não é tampouco
uma organização com fins puramente materiais, como assegurar um certo bem estar e uma relativa e pacífica
convivência social, bastando nesse caso para isso um conselho de administração; não é também uma criação
de política pura sem ligações com a realidade material e complexa da vida do indivíduo e dos povos. Como o
Fascismo o concebe e o realiza, o Estado é um todo espiritual e moral porque concretiza a organização política,
jurídica e económica da nação e essa organização, desde o seu aparecimento e durante o seu desenvolvimento,
é uma manifestação do espírito. O Estado garante a segurança interna e externa, ao mesmo tempo que é
guardião e intérprete do espírito do povo como foi elaborado através dos séculos pela língua, pelos costumes
e pela fé. O Estado não é apenas presente, é passado e, principalmente, futuro. É o Estado que, ultrapassando
o breve limite das vidas individuais, representa a consciência imanente da nação. As formas em que os Estados
se manifestam mudam, mas a necessidade do Estado permanece. É o Estado que educa os cidadãos nas
virtudes cívicas, os torna conscientes da sua missão, os impele à unidade; que harmoniza os seus interesses
na justiça; que transmite as conquistas do pensamento nas ciências, nas artes, no direito, na solidariedade
humana; que da vida rudimentar da tribo, leva os homens à mais elevada expressão humana de força, a
autoridade; que consagra nos séculos os nomes dos que morreram pela sua integridade ou para obedecer às
suas leis; aponta como exemplo e recomenda às gerações vindouras os capitães que lhe engrandeceram o
território e os génios que o iluminaram de glória. Quando declina o sentimento do Estado e prevalecem as
tendências dissociadoras e centrífugas dos indivíduos ou dos grupos, as sociedades nacionais encaminham-se
para o acaso".
11. De 1929 até hoje, a evolução econômico-política universal reforçou ainda mais estas posições doutrinárias.
Só o Estado pode resolver as dramáticas contradições do capitalismo. Aquilo que se chama crise não pode ser
resolvido senão pelo Estado, dentro do Estado. Onde estão os manes dos Jules Simon, que nos começos do
liberalismo proclamava que "o Estado deve trabalhar para se tomar inútil e para preparar a sua demissão"? De
MacCulloch que, na segunda metade do século passado, afirmava que o Estado deve abster-se de governar
muito? Em face das contínuas, solicitadas e inevitáveis intervenções do Estado nas vicissitudes económicas,
que diria ainda o inglês Bentham, segundo o qual a indústria deveria pedir ao Estado que a deixasse em paz,
ou o alemão Humboldt, segundo o qual o Estado ocioso devia ser considerado o melhor? Verdade é que a
segunda onda dos economistas liberais foi menos extremista que a primeira e o próprio Smith abria a porta -
se bem que cautelosamente às intervenções do Estado na economia. Se quem diz liberalismo diz indivíduo,
quem diz Fascismo, diz Estado. O Estado fascista é único, é uma criação original. Não é reacionário, é
revolucionário, ao antecipar as soluções de determinados problemas universais que, no terreno político, são
postos noutros países pelo fraccionamento dos partidos, pela prepotência do parlamentarismo, pela
irresponsabilidade das assembleias; no terreno económico, pelas funções sindicais, cada vez mais numerosas
e fortes, quer no sector operário, quer no industrial, com os seus conflitos e acordos; no terreno moral, pela
necessidade de ordem, de disciplina, de obediência aos ditames morais da pátria. O Fascismo quer o Estado
forte, orgânico e, ao mesmo tempo, apoiado numa vasta base popular. O Estado fascista também reivindicou
para si o terreno da economia e, através das instituições corporativas, sociais e educativas por si criadas, o
sentimento do Estado chega até às últimas ramificações deste, circulando por todas as forças políticas,
económicas e espirituais da nação enquadradas nas respectivas organizações. Um Estado que se apoia em
milhões de indivíduos que o reconhecem, que o sentem e que estão prontos a servi-lo, não é o Estado tirano
dos senhores medievais. Nada tem de comum com os Estados absolutistas anteriores e posteriores a 1789. No
Estado fascista, o indivíduo não é anulado, pelo contrário é multiplicado, tal como num regimento o soldado
não é diminuído, mas multiplicado pelo número dos seus camaradas. O Estado fascista organiza a nação, mas
deixa aos indivíduos margens amplas; limita as liberdades inúteis ou nocivas e conserva as essenciais. Não é
o indivíduo mas o Estado que pode ser juiz nessa questão.
12. O Estado fascista não permanece indiferente perante o facto religioso em geral e a religião positiva, que é
o catolicismo italiano. O Estado não tem uma teologia, mas uma moral. O Estado fascista considera a religião
uma das manifestações mais profundas do espírito; não é, portanto, apenas respeitada, mas defendida e
protegida. O Estado fascista não cria um Deus seu, como em dado momento, nos delírios extremos da
Convenção, quis fazer Robespierre; nem procura extirpá-la das almas, como faz o bolchevismo; o Fascismo
respeita o Deus dos ascetas, dos santos, dos heróis e o Deus como é compreendido e invocado pelo coração
ingénuo e primitivo do povo.
13. O Estado fascista é uma vontade de potência e de Império. A tradição romana é nele uma ideia força. Na
doutrina fascista, o Império não é só expressão territorial, militar ou mercantil, é espiritual e moral. Pode
pensar-se num Império, isto é, numa nação que, direta ou indiretamente, conduz outras nações, sem
necessidade de conquistar um só quilómetro quadrado de território. Para o Fascismo, a tendência ao Império,
ou seja, à expansão das nações, é uma manifestação de vitalidade; o seu oposto é sinal de decadência: os
povos que surgem ou ressurgem são imperiais, os povos que morrem são renunciatários. O Fascismo é a
doutrina mais adequada para representar as tendências, o estado de espírito de um povo como o italiano, que
ressurge depois de muitos séculos de abandono ou de domínio estrangeiro. O Império exige disciplina,
coordenação de esforços, dever e sacrifício; isso explica muitos aspectos da ação prática do regime, o rumo de
muitas das forças do Estado e a severidade necessária contra os que desejariam opor-se a este movimento
espontâneo e fatal da Itália do século XX agitando ideologias do século XIX, rejeitadas em toda a parte onde
foram tentadas grandes experiências de transformações políticas e sociais; nunca, como neste momento,
tiveram os povos tanta sede de autoridade, de diretivas, de ordem. Se cada século tem a sua doutrina, mil
indícios patenteiam que a do século atual é o Fascismo. Ter despertado uma fé, evidencia que é uma doutrina
de vida: que a fé conquistou os ânimos, demonstra-o o facto do Fascismo ter tido as suas vítimas e os seus
mártires.
O Fascismo possui doravante a universalidade de todas as doutrinas que, tomadas uma realidade, representam
uma época na história do espírito humano.
Benito Mussolini - Discursos da Revolução
DISCURSO DE UDINA, 20 DE SETEMBRO DE 1922 Com o discurso que vou pronunciar perante vós, faço uma exceção à regra que a mim mesmo impus: qual é
limitar ao mínimo possível as manifestações da minha eloquência. Oh, fosse possível estrangulá-la, como
aconselhava um poeta, a essa eloquência verbosa, prolixa, inconcludente, democrática, de que por tanto tempo
se abusou! Estou certo, pois, ou pelo menos alimento essa esperança, de que não esperais de mim um discurso
que não seja estritamente fascista, quer dizer, esquelético, áspero, singelo e duro.
A UNIDADE DA PÁTRIA Não espereis aqui pela comemoração do 20 de setembro. O tema seria decerto tentador e lisonjeiro. Daria
material amplo de meditações reexaminar por que prodígio de forças imponderáveis e através de quais e
quantos sacrifícios de populações e homens, a Itália conseguiu atingir a sua unidade, ainda não realizada
totalmente - porque da unidade total não se poderá falar enquanto Fiume e a Dalmácia e as outras terras não
tenham voltado a nós, realizando-se deste modo aquele sonho orgulhoso que em nossos espíritos fermenta.
Mas peço-vos: considerai que também no Ressurgimento, e através do Ressurgimento italiano, que vai da
primeira tentativa insurrecional de Nola, iniciada numa caserna de soldados de cavalaria, e acaba com a brecha
da Porta Pia em 70, duas forças entram em jogo: uma, a força tradicional, a força necessariamente um pouco
estática e atrasada, a força da tradição saboiana e piemontesa; outra, a força insurrecional e revolucionária
que vinha da parte melhor do povo e da burguesia; e foi só através da conciliação e equilíbrio destas duas
forças que nós pudemos realizar a unidade da Pátria. Qualquer coisa de semelhante se verifica talvez, ainda
hoje, e disso prometo falar já.
"ELEVEMOS O PENSAMENTO A ROMA!" Mas por que é - nunca o perguntastes a vós mesmos? -, por que é que a unidade da Pátria se resume no
símbolo e na palavra Roma? Forçoso é que os Fascistas de todo esqueçam - por que se não o fizessem seriam
mesquinhos - o acolhimento mais ou menos ingrato que tivemos em Roma, em outubro do ano passado; é
necessário ter a coragem de dizer que uma parte da responsabilidade de tudo o que lá aconteceu se deve a
alguns dos nossos elementos que não estavam à altura da situação. E é necessário não confundir Roma com
os romanos, com aquelas centenas dos chamados trânsfugas do Fascismo que estão em Roma, em Milão e em
tantos outros centros de Itália e que por tendência natural fazem antifascismo prático e criminoso. Mas se
Mazzini e Garibaldi por três vezes tentaram chegar a Roma, e Garibaldi deu aos seus camisas vermelhas o
dilema trágico, inexorável de "Roma ou morte", significa isto que, para os homens do ressurgimento italiano,
Roma tinha já uma função essencial de ordem singularíssima a realizar na nova história da Nação italiana.
Ergamos, pois com ânimo puro e livre e rancores, o nosso pensamento a Roma, que é uma das poucas cidades
espirituais do mundo, porque ali, entre aquelas sete colinas sobrecarregadas de história, operou-se um dos
maiores prodígios espirituais que a história recorda, isto é, aí se transmudou uma religião oriental, não
compreendida por nós, numa religião universal que, sob outra forma, retomou aquele império levado aos
extremos confins de terra pelas legiões consulares de Roma. E nós pensamos fazer de Roma a cidade do nosso
espírito, uma cidade depurada, desinfetada de todos os elementos que a corrompem e a conspurcam, pensamos
fazer de Roma o coração possante, o espírito alegre da Itália imperial que sonhamos.
Alguém poderá objetar: "Sois vós dignos de Roma, tendes pernas, músculos, pulmões suficientemente fortes
para herdar e transmitir os ideais dum império?" E é agora que os críticos sombrios teimam em ver sinais de
incerteza no nosso organismo exuberante e jovem.
A DISCIPLINA FASCISTA
Fala-se do fenômeno do autonomismo fascista: e eu digo aos fascistas e aos cidadãos que este autonomismo
não tem importância nenhuma. Não é um autonomismo de ideias ou de tendências. Tendências não as conhece
o Fascismo. As tendências são o triste privilégio dos velhos partidos, que são associações comicieiras
(organizadoras de comícios) difundidas por todos os países, e que não tendo nada a fazer nem a dizer, acabam
por imitar aqueles sórdidos sacerdotes do Oriente que discutiam todas as questões do mundo, enquanto
Bizâncio naufragava. As escassas, esporádicas tentativas de autonomia fascista ou estão liquidadas ou em via
de liquidação, porque representam apenas desforras de índole pessoal.
Vamos a outro argumento: a disciplina. Eu sou pela mais rígida disciplina. Devemos impor a nós próprios a
mais férrea disciplina, porque doutro modo não temos o direito de impô-la à Nação. E é só através da disciplina
da Nação que a Itália poderá fazer-se sentir no concerto das outras nações. A disciplina deve ser aceita. Quando
não é aceita, deve impor-se. Repudiamos o dogma democrático de que se deve agir eternamente por meio de
sermões de natureza mais ou menos liberal. Em dado momento é necessário que a disciplina se exprima por
um ato de força e de comando. Eu o exijo, e não falo aos soldados da região friulana que são perfeitos de
sobriedade e compostura, de austeridade e seriedade na vida, mas aos fascistas da Itália inteira, que se
porventura devem ter um dogma, deve ser este, de nome único e claro: disciplina! Só obedecendo, só tendo
o orgulho humilde mas sagrado de obedecer, se conquista depois o direito de comandar. Quando o trabalho
estiver coordenado no vosso espírito, podeis então impô-lo aos outros. Antes disso, não. Que tomem nota disso
os fascistas de toda Itália. Não devem integrar a disciplina como uma exigência de ordem administrativa ou
como temor dos chefes que receiam a insurreição dos soldados. Não, porque nós não somos chefes como os
outros e as nossas forças não podem ter o nome de soldados. Somos uma milícia, mas justamente porque
temos esta especial constituição, devemos fazer da disciplina o eixo supremo da nossa vida e da nossa ação.
SOBRE O TEMA DA VIOLÊNCIA E chego agora ao tema da violência. A violência não é imoral. A violência é algumas vezes moral. Contestamos
a todos os nossos inimigos o direito de se queixarem da nossa violência, porque comparada à que se praticou
nos anos infaustos de 19 e 20, comparada à dos bolchevistas da Rússia, onde dois milhões de pessoas foram
executadas e outros dois milhões jazem ainda nos cárceres, a nossa violência é uma brincadeira de crianças.
Por outro lado, a violência é eficaz, porque em fins de julho e de agosto, em quarenta e oito horas de violência
sistemática e aguerrida, obtivemos o que não tínhamos conseguido em quarenta e oito anos de discursos e de
propaganda. Assim, quando ela resolve uma situação gangrenosa, a nossa violência é moralíssima, sacrossanta
e necessária. Mas, ó amigos fascistas - e falo aos fascistas da Itália inteira - é necessário que a nossa violência
possua caracteres específicos, fascistas. A violência de dez contra um é de repudiar e condenar. A violência
que não se explica deve ser repudiada. Há uma violência que liberta e uma violência que acorrenta; há uma
violência que é moral e uma violência que é estúpida e imoral. Há que adequar a violência às necessidades de
momento, não fazer dela uma escola, uma doutrina, um desporto. É preciso que os fascistas evitem
cuidadosamente estragar com rasgos de violência esporádica, individual, injustificada, as brilhantíssimas e
esplêndidas vitórias dos primeiros dias de agosto. É isso que esperam os nossos inimigos, os quais, por certos
episódios lamentáveis como os de Tarento, são levados a crer ou a esperar ou a ter a ilusão de que esta
violência, quando já não tivermos alvo sobre que exercê-la, se torne de algum modo em segunda natureza, e
a passemos a exercer sobre nós próprios, contra nós ou contra os nacionalistas. Ora os nacionalistas divergem
de nós em certos problemas, mas a verdade é esta: que em todas as batalhas travadas os tivemos sempre a
nosso lado.
O NOSSO SINDICALISMO É possível que entre eles haja dirigentes, chefes que não vejam o Fascismo sob o aspecto pelo qual nós o
vemos; mas há que reconhecer, proclamar e dizer que os camisas azuis em Gênova, em Bolonha, em Milão e
em cem outras localidades estiveram ao lado dos camisas negras. Por isso é desagradabilíssimo o episódio de
Tarento e eu espero que os dirigentes do Fascismo agirão de modo que isso não passe de um episódio isolado,
a esquecer numa reconciliação local e numa afirmação de simpática e de solidariedade nacional.
Outro argumento pode prestar-se às esperanças dos nossos adversários: o argumento multidão. Vós sabeis
que eu não adoro a nova divindade: a multidão, que é uma criação da democracia e do socialismo. Só pelo fato
de serem muitos devem ter razão: - de maneira nenhuma. Muitas vezes é o contrário que se verifica, quer
dizer, é o número que se opõe à razão. Sempre a história demonstrou que minorias exíguas a princípio
produziram profundas modificações na sociedade humana. Não adoramos a massa, mesmo quando ela possua
nas mãos e no cérebro os mais sacrossantos calos: pelo contrário, trazemos a exame dos fatos sociais
concepções e elementos novos, pelo menos, no ambiente italiano. Estas massas, não as podemos repudiar.
Aproximavam-se de nós. Devíamos acolhê-las a pontapé? São sinceras? São insinceras? Vêm a nós por
convicção ou por medo? Ou porque esperam obter de nós o que não obtiveram dos revolucionários socialistas?
Pergunta quase ociosa porque ainda está por descobrir a maneira de penetrar no âmago dos espíritos. Tivemos
que fazer sindicalismo e fizemo-lo. Diz-se: "o nosso sindicalismo acabará por ser em tudo e por tudo semelhante
ao sindicalismo socialista; pela força das coisas tereis que perfilhar a luta de classes".
Os democratas, uma parte dos democratas, aquela parte que parece ter o único objetivo de turvar as águas,
continua em Roma a manobrar nesse sentido, em Roma, onde se imprimem demasiados jornais, muitos dos
quais não representam nada e ninguém.
Contudo o nosso sindicalismo diverge do dos outros porque nós, por princípio nenhum, admitimos a greve nos
serviços públicos. Somos pela colaboração das classes, especialmente num período, como o atual, de crise
econômica agudíssima. Por isso procuramos fazer penetrar no cérebro dos nossos sindicados esta verdade e
esta concepção. Mas é forçoso dizer, com a mesma sinceridade, que os industriais e os patrões não devem
explorá-los, porque há uma limite além do qual não se pode passar: e esses mesmos industriais e patrões,
numa palavra a burguesia, deve convencer-se que à Nação pertence também o povo que trabalha, e que não
é possível imaginar-se a grandeza da Nação se esta massa que trabalha vive ociosa e inquieta; devem
convencer-se de que o fim do Fascismo é fazer dela um todo orgânico adentro da Nação, para a possuir amanhã,
quando a Nação tiver necessidade dela, da mesma maneira que o artista precisa de matéria bruta para forjar
as suas obras primas. Só com essa massa integrada na vida e na história da Nação poderemos fazer uma
política externa.
POLÍTICA EXTERNA
Eis-nos chegados ao tema que, neste momento, é de grandíssima atualidade. É evidente que no fim da guerra
não se soube fazer a paz. Dois caminhos se abriam: ou a paz da espada ou a paz duma justiça aproximativa.
Em vez disso, sob a influência duma deletéria mentalidade democrática, não se fez a paz da espada, ocupando
Berlim, Viena, Budapeste, e menos ainda se fez a paz que se aproximasse da justiça.
Os homens, muitos deles ignorantes da história e da geografia, não souberam avaliar-lhes a importância, ao
comporem e recomporem a carta geográfica da Europa disseram: "Desde que os turcos incomodam a
Inglaterra, suprima-se a Turquia. Desde que a Itália, para tornar-se uma potência mediterrânea, deve fazer do
Adriático seu golfo interior, negue-se à Itália as suas justas reivindicações adriáticas". E o que sucede então?
Sucede que o tratado mais periférico é naturalmente feito em pedaços antes dos outros. Mas coma sempre
acontece na construção destes tratados, que estão sempre em relação uns com os outros, o fato de se quebrar,
de se esfarrapar o Tratado de Sèvres conduz à eventualidade de perigarem também todos os outros.
A Inglaterra, a meu ver, mostra não ter já uma classe política à altura da situação. De fato, vós vedes que há
quinze anos a esta parte a política inglesa está personificada num só homem. Não foi possível ainda substituí-
lo. Lloyd George que, no dizer daqueles que o conhecem intimamente, é um advogado medíocre, representa a
política inglesa há bem três lustros! A Inglaterra também neste momento revela a mentalidade mercantil dum
império que vive dos seus rendimentos e detesta qualquer esforço de sua iniciativa que lhe custe sangue. Apela
para os Domínios, para a Iugoslávia e para a Romênia. Por outro lado, se as coisas se complicam neste sentido,
vereis despontar o eterno e indestrutível cossaco russo, que muda de nome, mas não muda de alma. Quem
armou a Turquia de Kemal Pachá? A França e a Rússia. Quem pode armar a Alemanha do futuro? A Rússia.
Afortunadamente, para atingir os objetivos da nossa política externa, ao lado dum exército de tradições
gloriosíssimas, o exército nacional, está o exército fascista.
UMA "CARTA" FORMIDÁVEL Era preciso que os nossos ministros dos estrangeiros soubessem jogar também esta carta, a lançassem no
pano verde e dissessem: "Cuidado, que a Itália, custe a quem custar, já não faz uma política de renúncia ou
de vileza!"
Digamos ainda que, enquanto nos outros países se começa a fazer uma ideia clara da força que o Fascismo
italiano representa, também em matéria de política externa os nossos ministros continuam na atitude de
homens que sucumbem. Perguntam qual é o nosso programa. Já respondi a esta pergunta, que pretendia ser
insidiosa, numa pequena reunião em Levanto perante trinta ou quarenta fascistas e nunca supus que o meu
breve discurso, aquele discurso familiar, viesse a ter uma repercussão tão grande.
O NOSSO PROGRAMA
A CRISE DO ESTADO LIBERAL O nosso programa é simples: queremos governar a Itália. Pergunta-se: "Programas?" Mas de programas
estamos nós fartos. Não são os programas de salvação que faltam à Itália: - são os homens e a vontade! Não
há italiano que não possua ou não julgue possuir o método seguro de resolver alguns dos mais aflitivos
problemas da vida nacional. Mas eu creio que todos vós estais convencidos de que a nossa classe política é
deficiente. A crise do Estado liberal está documentada nessa deficiência. Fizemos uma guerra magnífica no
ponto de vista do heroísmo individual e coletivo. Depois de terem sido soldados, os italianos em 18 tornaram-
se guerreiros.
Peço que noteis esta diferença essencial.
Mas os nossos políticos conduziram a guerra como teriam conduzido um negócio de administração vulgar. Estes
homens que todos nós conhecemos, e cuja imagem física trazemos no pensamento, apresentaram-se fracos,
impotentes, cansados e vencidos. Não nego, na minha absoluta objetividade, que essa burguesia a que se pode
chamar giolittiana, não tenha os seus méritos. Tem-nos, certamente. Mas hoje que a Itália fermenta com
Vittorio Veneto, hoje que esta Itália se sente exuberante de vida, de entusiasmo, de paixão, estes homens
habituados sobretudo às mistificações parlamentares parecem de uma estatura inferior aos acontecimentos. E
agora, há que defrontar o problema: "Como substituir esta classe que praticou sempre nos últimos tempos
uma política de abdicação diante daquele fantoche cheio de vento que era o social-putchismo italiano?"
Eu creio que a substituição se torna necessária e quanto mais radical, melhor. Indubitavelmente o Fascismo
que amanhã tomará nos seus braços a Nação - quarenta milhões, ou antes, quarenta e sete milhões de
italianos - assume uma tremenda responsabilidade. Muitos serão os desiludidos, porque desilusões há-as
sempre, quer antes quer depois, quer se faça alguma coisa quer se não faça.
Amigos! Como a vida dos indivíduos, a vida dos povos comporta uma parte de riscos. Não se pode pretender
sempre caminhar nos dois "rails" da normalidade quotidiana. Em dado momento é necessário que homens e
partidos tenham a coragem de assumir a responsabilidade de fazer uma grande política, de pôr à prova as
suas forças. Há riscos; podem sucumbir. Mas há tentativas falhadas que bastam, no entanto, para enobrecer
e exaltar para toda a vida a consciência dum movimento político, do Fascismo italiano.
A QUESTÃO DO REGIME Tencionava fazer este discurso em Nápoles, mas creio que em Nápoles terei outros temas a tratar. Não
tardemos em entrar no terreno delicado e escaldante do Regime. Muitas das polêmicas que as minhas
tendências provocaram estão hoje esquecidas e todos se convenceram de que essas tendências não foram
coisa de improviso: representavam, pelo contrário, um determinado pensamento. É sempre assim. Certas
atitudes parecem improvisos ao grande público, que, desprevenido, não é obrigado a seguir as transformações
lentas, subterrâneas, dum espírito inquieto e desejoso de aprofundar, sempre sob novos aspectos,
determinados problemas. Mas esse trabalho íntimo é por vezes trágico. Não julgueis que os chefes do Fascismo
não tenham consciência desta tragédia individual, que é sobretudo uma tragédia nacional. Essas famosas
tendências republicanas deviam ser uma espécie de tentativa de separação de muitos elementos que vieram
até nós somente porque tínhamos vencido. Estes elementos não ficaram satisfeitos. Gente que vai sempre
atrás do carro do triunfador e está disposta a mudar de bandeira logo que os ventos mudam é gente de quem
o Fascismo deve sempre suspeitar e que deve manter debaixo da mais severa vigilância.
É possível - este é o problema - uma profunda transformação do nosso regime político sem tocar nas instituições
monárquicas? Quer dizer, é possível renovar a Itália sem pôr em jogo a monarquia? E qual a atitude do grosso
do Fascismo em face das instituições políticas?
A nossa atitude em face das instituições políticas não é, em sentido nenhum, uma atitude de compromisso. No
fundo, os regimes perfeitos só existem nos livros dos filósofos. Por mim, penso que a aplicação, ponto por
ponto, das teorias de Platão teria sido desastrosa para a cidade grega. Um povo que vive feliz sob a forma
republicana jamais pensará em ter um rei. Um povo que não está habituado à república aspirará ao regresso
à monarquia. Quis-se colocar à força no crânio quadrado dos alemães o barrete frígio; mas os alemães odeiam
a república, e no fato de ter sido imposta pela Entente e de se ter tornado numa espécie de "ersatz", encontram
eles mais um motivo de aversão àquele regime.
Logo, as formas políticas não podem ser aprovadas ou desaprovadas sob o ponto de vista da eternidade, antes
devem ser examinadas no ponto de vista das suas relações diretas com a mentalidade, a economia, as forças
espirituais dum determinado povo (Uma voz grita: "Viva Mazzini!"). Isto em princípio geral. Ora eu penso que
se pode renovar profundamente o regime, deixando de lado as instituições monárquicas. No fundo - e refiro-
me ao grito do nosso camarada - o próprio Mazzini, republicano, chefe duma doutrina republicana, não julgou
incompatíveis as suas doutrinas com o pacto monárquico da unidade italiana. Tolerou-o, aceitou-o. Não era o
seu ideal; mas nem sempre pode encontrar-se o ideal.
MONARQUIA E REVOLUÇÃO FASCISTA Deixaremos, pois, de lado, fora do nosso fogo que terá alvos diferentes, bem mais visíveis e formidáveis, a
instituição monárquica. Pensamos mesmo que grande parte da Itália veria com desconfiança uma
transformação do regime. Teríamos talvez o separatismo regional, visto que sempre assim sucede. Muitos, que
são hoje indiferentes em face da monarquia, seriam amanhã simpatizantes favoráveis e encontrariam motivos
sentimentais respeitáveis para atacar o Fascismo, se ele tivesse ferido esse alvo.
Penso que a monarquia não tem interesse em hostilizar o que já deve chamar-se a Revolução Fascista. Não lhe
convém, porque se o fizesse transformar-se-ia subitamente em alvo que não poderíamos respeitar, já que para
nós seria questão de vida ou morte. Quem simpatizar conosco não pode ocultar-se na sombra, deve permanecer
em plena luz. É preciso ter a coragem de ser monárquico. Porque seríamos nós republicanos? Em certo sentido
porque vemos um monarca que o não é suficientemente. A monarquia representaria então a continuidade
histórica da Nação - missão belíssima, missão de importância histórica incalculável.
Por outro lado, é necessário evitar que a Revolução Fascista ponha tudo em jogo. Temos que conservar alguns
pontos firmes, sólidos, a fim de não dar ao povo a impressão de que tudo é abalado, tudo deve recomeçar;
porque então a onda de entusiasmo do primeiro momento poderia suceder a onda de pânico do segundo e
talvez ondas sucessivas capazes de subverter a primeira. Assim, as coisas ficam claras: - trata-se de demolir
toda a estrutura social-democrática!
O ESTADO QUE NÓS QUEREMOS Teremos um Estado que faça este simples raciocínio: "O Estado não representa um partido, representa a
coletividade nacional, abrange tudo, supera tudo, protege tudo e procederá contra todo aquele que atentar
contra sua soberania imprescritível".
Eis o Estado que deve sair da Itália de Vittorio Veneto. Estado que não dê razão ao mais forte; Estado diferente
do liberal, que em cinquenta anos não soube criar uma tipografia para ter um jornal seu, no caso duma greve
geral dos tipógrafos; Estado que não esteja à mercê da onipotência socialista, da defunta onipotência socialista;
Estado que não proclame que os problemas se resolvem no ponto de vista unicamente político. Porque as
metralhadoras não bastam se o espírito não as faz cantar.
Toda a armadura do Estado desaba como um cenário gasto de opereta, quando não existe a consciência íntima
dum dever ou duma missão a cumprir. Esta a razão porque queremos despojar o Estado de todos os seus
atributos econômicos. Basta de Estado ferroviário, de Estado telégrafo-postal, de Estado segurador! Estamos
fartos dum Estado que, exercendo as suas funções à custa das despesas de todos os contribuintes italianos,
agrava assim o esgotamento das exaustas finanças do Estado! Ficar-lhe-á a polícia, que protege os homens
bons dos atentados, dos ladrões e dos delinquentes; ficar-lhe-á a educação das novas gerações; ficar-lhe-á o
exército, que há de garantir a inviolabilidade da Pátria e finalmente a política externa.
E não se diga que assim despojado, o Estado fica muito restringido nas suas funções. Não! Conserva ainda
muita coisa. Abdica de todo o domínio da matéria para tomar conta do domínio dos espíritos.
AOS AMIGOS E AOS ADVERSÁRIOS E que não bastasse esta nossa mentalidade: há ainda o nosso método, a atividade cotidiana que tencionamos
não esquecer: apenas procuraremos vigiá-la, para que não haja exageros, para que não transcenda e não
prejudique o Fascismo. Ao pronunciar estas palavras faço-o com intenção. Se o Fascismo fosse um movimento
como todos os outros, os gestos dos indivíduos ou dos grupos seriam de importância relativa; mas nós demos
ao nosso movimento a flor dum sangue vermelho. Lembremo-nos disto em frente do autonomismo e da
indisciplina. Há que pensar nos mortos de ontem. Há que pensar que esse autonomismo e essa indisciplina
podem excitar também os mais baixos instintos da besta "social-putschista", hoje vencida, esgotada, mas que
oculta ainda secretos propósitos de desforra. Atalharemos esses propósitos com a ação coletiva e o gume da
nossa espada! No fundo os romanos tinham razão: "Se queres a paz, prepara a guerra". Quem não está
preparado para a guerra, não tem a paz, tem o temor e a derrota!
Por isso dizemos a todos os nossos adversários: "Não basta içar muitas bandeiras tricolores nos vossos refúgios
e círculos vinícolas. Queremos ver-vos à prova. Será preciso submeter-vos um pouco a uma espécie de
quarentena, política e espiritual. Os vossos chefes, que ainda poderiam contaminar-vos, serão postos em
condições de não poderem fazer mal". Só assim, evitando cair no preconceito da quantidade, conseguiremos
salvar a qualidade e a alma de nosso movimento, que não é efêmero e transitório porque dura há quatro anos
e quatro anos, neste século tempestuoso, equivalem a quarenta. O nosso movimento está ainda na pré-história,
em via de desenvolvimento: a história começa amanhã! O que o Fascismo fez até aqui é obra negativa; agora
é preciso construir. Assim se preparará a sua nobreza, assim se prepararão a sua força e a sua alma!
Amigos, estou certo de que os chefes do Fascismo e as suas hostes cumprirão o seu dever! Antes de nos
lançarmos a grandes empresas, façamos a seleção inexorável das nossas fileiras. Não podemos levar bagagens;
somos um exército de vélites, com uma retaguarda de bravos territoriais. Mas não queremos no nosso seio
elementos infiéis.
Saúdo Udina, esta querida e velha Udina a que me ligam tantas recordações. Pelas suas estradas largas
passaram gerações e gerações de italianos que eram a flor purpúrea da nossa raça. Muitos desses jovens
dormem agora o sono de que se não desperta, nos pequenos, isolados cemitérios dos Alpes ou das margens
do Isonzo, que a guerra fez o rio sagrado da Itália. Habitantes de Udina, fascistas, italianos, recolhei o espírito
pensando nos nossos nunca esquecidos mortos e no espírito ardente da Pátria imortal!