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Trabalho para a cadeira de cibercultura. Estudo de caso sobre o blogue Myonethousandmovies.blogspot.com, enquadramento teórico sobre a conservação de memória e a construção da inteligência colectiva na Internet, neste caso especifico o estudo foca o cinema.
Citation preview
INSTITUTO POLITÉCNICO DE PORTALEGRE
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
Mestrado em Jornalismo, Comunicação e Cultura
Cibercultura
Junho de 2011
Ângela Mendes
MY ONE THOUSAND MOVIES. BLOGSPOT.COM
UM CASO DE CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA COLECTIVA E DA INTELIGÊNCIA
PARTILHADA NA INTERNET
Resumo
A perpetuação da memória tem sido uma preocupação constante das civilizações.
Patente primeiramente em pequenos artefactos, depois na tosca pintura rupestre, na
arquitectura e mais tarde, com o aparecimento de escrita, e Livros. Podemos juntar a
esta preocupação a propagação de uma memória popular e imaterial partilhada através
de gerações pelos elementos de uma família ou comunidade.
Dentro dessa memória colectiva, foi-se partilhando conhecimento, contribuindo para
o florescimento de uma inteligência partilhada, que permitiu à nossa civilização evoluir
até aos dias de hoje.
No inicio do Século XXI essa necessidade de perpetuação da memória e do fomento
da inteligência colectiva continuam a ser elos importantes na nossa vida em sociedade,
factor potenciado pelo aparecimento da Internet e das possibilidades que o mundo
virtual criou para a criação, armazenamento e partilha de conhecimento.
Neste trabalho pretendemos, através da análise do blogue myonethousandmovies,
perceber as novas formas de partilha de conhecimento que a Internet proporciona.
Palavras-chave: Memória colectiva, Inteligência Partilhada, Internet, Cibercultura,
Abstract
The perpetuation of memory has always been a constant concern of civilization. We
find it firstly in small handcrafted things, then in naïve pre-historic rock painting, in
architecture and latter, with the advent of writing, in books. We could add to these
factors the spreading of popular and immaterial memory, shared throughout generations
between families or communities.
Within that collective memory, knowledge has been shared and that fact contributed
to the flowering of a shared intelligence, which allowed our civilization to continue its
evolution until today.
In the early twenty-first century, the need to perpetuate memory and the mentioned
flowering of a shared intelligence are still important links in our lives, and those factors
have been exacerbated by the emergence of the Internet and the possibilities that the
virtual world created for producing, storing and sharing knowledge.
In this paper we intend, through analysis of the blog myonethousandmovies, to
understand these new forms of sharing of knowledge made possible by the Internet.
Key-words: Collective Memory, Shared Intelligence, Internet, Cyberculture.
Introdução
Desde os primórdios da civilização que os seres humanos encaram a perpetuação do
conhecimento e a conservação da memória como parte importante da sua cultura. A
memória colectiva é um elemento definidor das sociedades e fio condutor de uma
cultura.
Os nossos antepassados pré-históricos desenhavam as paredes rochosas das cavernas
onde habitavam, na ânsia de perpetuarem os seus feitos na caça, ou enterravam
artefactos com os seus mortos para louvarem os entes sagrados, deixando-nos
importantes relatos da sua história.
Muitos são os testemunhos que podemos encontrar e que ajudaram os nossos
antepassados a traçar um percurso, apoiados nos conhecimentos adquiridos por outros e
chegados até si através de uma tradição oral. Um património imaterial impossível de
quantificar.
Dominar todas as áreas de conhecimento sempre foi uma ambição humana, e o
advento da escrita veio permitir o aparecer dos primeiros arquivos, ainda na
Antiguidade Clássica. Pensamos no exemplo da Biblioteca de Alexandria, um lugar
utópico onde filósofos, matemáticos e outros pensadores se juntavam para pensar e
partilhar conhecimento. E principalmente para o registar, deixando um legado
importante às gerações vindouras.
Apesar da Idade Média e dos seus Séculos de Trevas terem roubado um pouco da
voracidade humana na procura de conhecimento, logo veio o Renascimento e com ele
uma nova procura pelo conhecimento, onde o homem sentiu de novo a necessidade de
apreender, de conhecer e de partilhar o seu saber com outros, um saber que se queria
enciclopédico. A invenção da prensa no final do século XV possibilitou a produção de
um maior número de livros e o alargamento do conhecimento a mais pessoas.
Seguiu-se o Iluminismo, e a Época da Razão, em que o Homem percebeu que
poderia usar o seu conhecimento para melhorar o mundo e a sociedade em que vivia.
A imprensa desenvolveu-se. Passámos pela Revolução Industrial e entrámos no
Século XX, época em que tudo acontece: a Rádio, a Televisão e por fim a Internet.
Toda a evolução caminhou no sentido da perpetuação da memória, na facilidade da
partilha de informação e na valorização do conhecimento. Não só em áreas científicas,
mas também na área cultural. A Música, a Literatura, a Pintura e Fotografia e mais tarde
o Cinema, vieram ocupar um lugar importante nas nossas vidas. E o acesso ao
conhecimento viu os seus horizontes alargados com o aparecimento de novos
instrumentos, como é o caso da Internet.
Se anteriormente procurávamos uma biblioteca para ler um livro e um videoclube
para alugar um filme, hoje basta-nos ligar um computador, aceder à internet e encontrar
em formato digital quase tudo o que procuramos.
Esta nova possibilidade de arquivo virtualmente ilimitado trouxe-nos acesso a
elementos culturais que por exemplo nos seriam quase impossíveis de encontrar em
suportes analógicos. As bibliotecas são limitadas em espaço, e os videoclubes espaços
comerciais que geralmente apenas tinham em stock os filmes com mais saída no
momento, os chamados blockbusters.
A internet trouxe-nos a possibilidade de nos interessarmos por outras áreas da
cultura, ou as subculturas, categoria em que a cibercultura e o seu movimento punk se
inserem. A verdade é que estes nichos sempre existiram, mas dependiam de
comunidades dispersas, com pouco acesso a materiais e com pouca possibilidade de
partilha de conhecimento.
A Internet trouxe-nos essa possibilidade - a de partilhar conhecimento com outros
que tenham os mesmos interesses que nós, estejam eles na rua a seguir à nossa, ou
noutro continente.
A Internet enquanto instrumento perpetuador da memória e
construtor da inteligência colectiva.
A cultura faz parte da nossa vida. Não passamos sem os estímulos que ela nos traz ou
sem a possibilidade de abstracção que um filme nos proporciona. Vivemos outras vidas
através de um livro e visitamos outros lugares sentados na nossa sala.
Seja qual for o nosso gosto por géneros, autores ou nacionalidades, a internet neste
momento tem o que procuramos. Castells afirma que “A cultura da Internet é a cultura
dos seus criadores.” (55:2007). Isto porque podemos encontrar virtualmente aquilo que
já existe neste mundo analógico, a internet “não está circunscrita a uma área específica
da expressão cultural. Atravessa-as todas.” (Castells, 236:2007)
Apesar de existirem já objectos culturais produzidos exclusivamente para a internet,
essa não é a norma. Os autores criam música, filmes ou escrevem livros que surgem nos
seus suportes tradicionais, como acontecia até ao aparecimento da internet. A internet
surge inicialmente como uma ferramenta de divulgação, de troca de opiniões e neste
momento também como ferramenta de partilha dessas criações artísticas. O carácter
livre da internet permitiu-lhe ser uma “fonte aberta, a emissão livre de mensagens, a
interacção inesperada, a comunicação orientada para um fim determinado e a criação
colectiva.” (Castells, 237:2007)
Esta criação colectiva de um arquivo cultural tem sido potenciada pelo labor de
muitos cibernautas que criam espaços, blogues, sites ou fóruns onde partilham com
outros as suas preferências musicais ou cinematográficas.
Esta interacção entre amantes do mesmo tipo de música ou filmes sempre existiu,
contudo, “apenas as particularidades técnicas do ciberespaço permitem que os
membros de um grupo humano (que podem ser tantos quantos se quiser) se coordenem,
cooperem, alimentem e consultem uma memória comum e isto quase em tempo real,
apesar da distribuição geográfica e da diferença de horários.” (Lévy, 49:1999)
Tomemos como exemplo o caso que analisaremos mais à frente, o blogue de cinema.
Um cibernauta dedica-se a procurar filmes antigos, perde tempo a colocar-lhes legendas
e a armazenar ficheiros em servidores na internet. Depois, procura os trailers, escreve
textos e propõe-se, em conjunto com os seus visitantes cibernautas, a organizar ciclos de
cinema. Lévy diz-nos que “Os suportes de inteligência colectiva do ciberespaço
multiplicam e colocam em sinergia as competências. Do design à estratégia, os
cenários são alimentados pelas simulações e pelos dados colocados à disposição pelo
universo digital” (49:1999) Este cibernauta coloca todas as suas competências ao
serviço de uma comunidade que gosta de filmes antigos. E cria com o seu blogue um
arquivo de grandes proporções, visto que os filmes ficam disponíveis para download
indefinidamente. Com este arquivo “Torna-se possível, então, que comunidades
dispersas possam comunicar-se por meio do compartilhamento de uma telememória na
qual cada membro lê e escreve, qualquer que seja a sua posição geográfica.” (Lévy,
94:1999)
Para o seu blogue convergem então pessoas que partilham os mesmos gostos
culturais e que falem português. Sejam portugueses, brasileiros, dos PALOP, ou estejam
em qualquer outro fuso horário. Têm à sua disposição um arquivo cinematográfico, que
lhes permite aprofundar os seus gostos e principalmente conhecer novos protagonistas e
novas estéticas.
Mas podem mais que isso, podem também partilhar o seu conhecimento, deixando
mensagens, enviando emails com sugestões ou simplesmente deixando uma comentário.
“Posso não apenas ler um livro, navegar em um hipertexto, olhar uma série de
imagens, ver um vídeo, interagir com uma simulação, ouvir uma música gravada em
uma memória distante, mas também alimentar essa memória com textos, imagens, etc.”
(Lévy, 94:1999) Esta interactividade de que Lévy nos fala é uma das bases desta
construção de memória, porque ela só existe porque cada cibernauta está disposto a
partilhar e a participar nesse ideal da inteligência colectiva que “passa, evidentemente,
pela disponibilização da memória, da imaginação e da experiência, por uma prática
banalizada de troca dos conhecimentos, por novas formas de organização e de
coordenação flexíveis e em tempo real.” (Lévy, 167:1999) que só a internet permite.
A internet veio permitir que cada um possa valorizar o seu conhecimento e o
disponibilize para os outros, ficando este acessível indeterminadamente. A internet é
hoje a nossa Biblioteca de Alexandria, lugar onde todo o conhecimento pode ser
encontrado. E podemos ainda acrescentar que este trabalho de arquivo é todo ele feito
de forma aleatória e altruísta por pessoas ou grupos de pessoas que aceitam partilhar. E
segundo Lévy um grupo humano “só se interessa em constituir-se como comunidade
virtual para aproximar-se do ideal do colectivo inteligente, mais imaginativo, mais
rápido, mais capaz de aprender e de inventar do que um colectivo inteligentemente
gerenciado. O ciberespaço talvez não seja mais do que o indispensável desvio técnico
para atingir a inteligência colectiva.” (130:1999)
Blogues enquanto espaço de partilha de conhecimento
A internet criou novos espaços de comunicação e de interacção social. Canavilhas
afirma que são “às dezenas de fóruns de discussão, às centenas de bibliotecas e museus
on-line e aos milhares de mass media que todos os dias colocam na web informações
sobre os acontecimentos mais marcantes do dia.” (s/d) Esta torrente constante de
informação não é, no entanto, diferente do que acontece com os restantes meios de
comunicação, sendo a diferença marcante e distintiva da internet a “possibilidade desse
arquivo ser imediato e global, reduzindo o espaço e o tempo a um
momento.”(Canavilhas, s/d)
Mas para além dos média tradicionais e da sua produção constante de conteúdos, a
recente WEB 2.0 trouxe a possibilidade de cada um de nós sermos produtores de
conteúdos, e a plataforma que melhor assenta a este novo cibernauta, o Prosumer, é o
blogue.
Os primeiros blogues apareceram ainda em 1999, mas conheceram grande expansão
no início dos anos 2000. São páginas pessoais, de fácil acesso e que não necessitam de
nenhum conhecimento específico na área da programação informática, o que à partida
os torna acessíveis a todos. Ao início encarados como diários virtuais, muitas são as
utilizações que lhes têm sido dadas, desde blogues de discussão política, passando pelo
jornalismo, pela culinária, pela fotografia ou pela crítica de música, literatura ou
cinema. Na sua maioria são espaços opinativos e de carácter muito pessoal, são o espaço
de expressão individual. Cristina Rodrigues afirma que “Os blogs vêm permitir algo
novo, algo que os media de massas não podiam dar, pelo menos com total plenitude: a
possibilidade de cada um dar a sua opinião sobre um determinado assunto.” (21:2006)
Para além desta possibilidade de ter uma voz activa num dado assunto, os blogues
permitiram a muitos expor os seus gostos, divulgar as suas actividades, porque na
blogosfera a “liberdade criativa, a instantaneidade, a interactividade e a ausência de
constrangimentos económicos são características fundamentais apresentadas pelos
blogs.” (Rodrigues, 22:2006) que permitem a cada um de nós lançar para o espaço
virtual todos os conteúdos que queiramos.
E é este conjunto de informação sobre tudo e sobre nada, sobre assuntos de
actualidade ou sobre curiosidades do passado, que é um ”manancial de informação
representa[ndo] uma memória social, dinâmica, organizada e navegável que nos
remete para os dois sentidos fundamentais da palavra “comunicação”. (Canavilhas,
s/d)
Para Canavilhas, esses dois sentidos são a partilha e a transmissão de informação
entre o emissor e o receptor - o que na internet ganha uma outra dimensão porque o
número de receptores é enorme. Como os emissores são cada vez em maior número, os
blogues conheceram grande expansão e são agora milhões as páginas que se podem
encontrar na internet, cada uma delas trazendo o seu contributo para o arquivo global e
contribuindo para “promover um debate colectivo onde se acrescenta informação e se
desenvolve a interacção entre os intervenientes através da troca de argumentos.”
(Rodrigues, 22:2006)
Canavilhas diz-nos que “desde sempre os media se têm assumido como um elemento
de interpretação e contextualização da realidade, constituindo-se ainda como
repositório de informação, em paralelo com as bibliotecas, videotecas e museus.” (s/d),
e hoje em dia esta é uma função repartida por todos os actores presentes na internet, e
cada um de nós pode ser um participante.
Metodologia
O estudo de caso que realizámos tem a intenção de estudar o blogue
myonethousandmovies.blogspot.com.
É um estudo exploratório que tem como objectivo avaliar de forma qualitativa, como
este blogue contribui para a memória colectiva e para a partilha de conhecimento na
área específica do cinema.
As técnicas usadas são a observação do blogue e das suas interacções com os
cibernautas. Tentaremos perceber também qual o funcionamento e quais os recursos que
tem disponível e qual é no fundo, o seu contributo para a rede e os cibernautas.
myonethousandmovies.blogspot.com: uma construção colectiva
myonethousandmovies.blogspot.com é um blogue alojado na plataforma
Blogger.com e gerido por uma única pessoa, residente em Portugal. Os primeiros posts
são de Setembro de 2008. A partir daí, o blogue apresenta uma actividade regular que já
lhe valeu um total de quase 500.000 visitantes, que fizeram um total de 1.420.055
pageviewsi. O blogue tem ainda listados 324 seguidores permanentes
ii.
Os posts são usualmente constituídos por título, trailer e texto opinativo/ informativo
sobre o filme em questão. Existe ainda no post um link para a página do IMDB (The
Internet Movie Database) dedicada ao filme e um outro link para o download do filme,
normalmente alojado em sites como o Megaupload ou o EasyShareiii
.
Os posts permitem ainda comentários e a partilha no Facebook, no Twitter e no
Google Buz e ainda o envio por email ou a publicação na plataforma Blogger.com. O
autor pede também a opinião dos cibernautas e é possível pontuar o post numa escala de
quatro pontos – fraco, médio, bom e muito bom.
Normalmente, os post fazem parte de ciclos de cinema. Por exemplo, durante o mês
de Abril decorreu o ciclo de cinema sobre Marilyn Monroe, e neste momento está a
decorrer o ciclo sobre Paul Newman. Durante estes ciclos são publicados apenas filmes
relacionados com o tema. Normalmente, os filmes têm legendas em português.
Os ciclos de cinema nem sempre são dedicados a um realizador ou a um actor, há
também ciclos de filmes escolhidos por um convidado do autor e por vezes é posto à
escolha dos cibernautas, através de votação, qual o ciclo que virá a seguir.
Mesmo após o ciclo ter acabado, os posts continuam a estar disponíveis e continua a
ser possível fazer o download dos filmes, pelo que o arquivo de cinema disponível, com
cerca de 2380iv
títulos, está permanentemente acessível.
A escolha é vasta. Na barra lateral estão as várias categorias. Começa pela categoria
100 filmes de culto, seguido pelos 100 filmes de terror e 100 filmes Portugueses.
Seguem-se os ciclos “5 filmes do…”, listas criadas pelos convidados, seguido pela listas
dos 50 filmes controversos ou da lista 50 pérolas. Segue-se uma vasta lista por ordem
alfabética de realizadores e actores, que conta com 1.268 categorias.
As categorias são muito variadas e contam com realizadores de várias nacionalidades
e géneros de cinema, que vão do Cinema Mudo, passando pelo Film Noir, pela
categoria dedicada aos filmes que passaram pelo festival Fantasporto ou pela New
Wave do cinema japonês.
O myonethousandmovies.blogspot.com prima pela diversidade, não se dedicando
apenas ao cinema americano. Apesar de conseguimos encontrar um grande número de
clássicos de Hollywood, há espaço para outras filmografias, como seja o cinema
Europeu ou o Coreano.
Há ainda espaço para outras expressões para além das longas-metragens: as curtas, o
documentário, o cinema de animação e até concertos, têm espaço nas categorias do
myonethousandmovies.blogspot.com.
myonethousandmovies.blogspot.com: a interactividade e a troca de conhecimento
Para além da interactividade possível no posts, a barra lateral tem outros recursos que
nos permitem interagir com o autor.
Para além das categorias, existem sempre inquéritos em funcionamento. O autor
tenta constantemente receber feedback por parte dos seus visitantes. Um exemplo de
inquérito é o seguinte: Qual o melhor filme do mês?
Existe ainda uma mensagem do autor, em que nos pede que usemos de forma
consciente os ficheiros por ele ali colocados, ou seja, que os usemos para uso recreativo
pessoal e não para fomentar a pirataria.
Há ainda a possibilidade de participar no Chat do blogue, na barra lateral, ou de usar
a caixa de email para entrar em contacto directo com o autor.
Podemos ainda seguir a página do Facebook e outros blogues nos quais o autor
participa.
É através destas ferramentas que podemos constatar que o blogue recebe a visita de
cibernautas de vários países, com predominância de Portugal e do Brasil.
É também através destas ferramentas que se constrói a dinâmica entre os cibernautas
e o autor, fazendo do myonethousandmovies.blogspot.com uma construção colectiva e
não apenas mais um blogue pessoal.
As contribuições de todos são aproveitadas pelo autor e reflectidas nas próximas
iniciativas de ciclos de cinema. E é também com estas ferramentas que os cibernautas
motivam o autor do blogue, incitando-o a progredir com este trabalho de arquivo e
divulgação de cinema.
Conclusão
O blogue myonethousandmovies.blogspot.com é apenas um exemplo dos milhões de
páginas pessoais que podemos encontrar na internet. Basta uma procura simples num
motor de busca para as encontrar.
Os seus autores partilham connosco um pouco do seu conhecimento, alicerçado nos
seus gostos pessoais e nas suas vivências. Falámos neste trabalho de um blogue de
partilha de cinema, mas poderíamos ter apresentado um exemplo de partilha de música
ou de discussão de literatura. Poderíamos ainda ter saído da esfera cultural e avançar
com exemplos de pessoas que se dedicam à crítica política, à divulgação gastronómica
ou à avaliação dos últimos gadgets electrónicos. E até mesmo áreas mais herméticas,
como a matemática ou a ciência, têm já a sua cota de espaço de discussão e partilha de
conhecimento na internet.
Saberes em vias de extinção como a agricultura tradicional ou a medicina alternativa,
proliferam agora pela internet criando um arquivo de saberes e dicas, que nos permitem
conservar conhecimentos que dificilmente chegariam até nós. E principalmente, estas
plataformas permitem-nos encontrar outras pessoas com os mesmos interesses que nós,
juntando no mesmo espaço o conhecimento que está repartido por várias localizações
geográficas, por vezes separado por fronteiras de diversos países.
Claro que este arquivo não é feito sem perigos e que nem sempre a idoneidade da
informação lá encontrada pode ser atestada, e muitas vezes somos guiados para o
engano, mas a acessibilidade existe e cabe-nos a nós desenvolver as capacidades para
filtrar a informação boa e fiável, daquela que não interessa.
O blogue aqui estudado é apenas o exemplo do trabalho de muitos cibernautas que
adoptaram como passatempo a partilha de um gosto pessoal, e que se empenham em
construir um legado que querem que mais pessoas possam conhecer e gostar, neste caso
de cinema mais antigo e menos comercial. Criam com o seu trabalho comunidades
virtuais de pessoas que partilham os mesmos gostos, e que estão ligadas por uma mesma
intenção, possibilitando a comunicação entre pares, que de outro modo não se
conheceriam.
Pensamos que este é um bom exemplo de memória partilhada na internet e da
construção de uma inteligência colectiva. Primeiro, porque constrói, em conjunto com
os seus visitantes, um guião para o conhecimento de velhas e novas formas de cinema.
E ao construí-lo permite-nos ainda o acesso a um arquivo, com acesso imediato, gratuito
e livre.
Partilha connosco conhecimento e permite-nos aplicá-lo, proporcionando-nos a
visualização dos filmes em questão.
E permite-nos falar sobre os filmes, fazer perguntas e responder a elas, criando assim
uma base de conhecimento colectivo, que no fundo ajuda a preservar a memória
cinematográfica do século passado.
Bibliografia
Canavilhas, J. Internet como memória, Universidade da Beira Interior, Covilhã,
http://www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-internet-como-memoria.pdf acedido a 8 de Junho
de 2011
Castells, M., A Galáxia Internet Reflexões sobre a Internet, Negócios e Sociedade, Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 2ªedição, 2007
Castells, M., A sociedade em Rede - A Era da informação: Economia, Sociedade e Cultura,
Volume I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, pp.2-33, 430-492: 2007
Lévy, P., Cibercultura, São Paulo, Editora 34 Ltda., 1999
Palácios, M., Jornalismo Online, informação e Memória: Apontamentos para debate, Covilhã,
Universidade da Beira Interior, 2002
Rodrigues, C. Blogs e a fragmentação do espaço público, Covilhã, Livros Labcom,
Universidade da Beira Interior, 2006
http://myonethousandmovies.blogspot.com/ acedido a 8 de Junho de 2011
i Dados de dia 8 de Junho 2011
ii Idem
iii Plataformas na Internet onde se alojam ficheiros e que permitem o download através de um link em
qualquer parte do mundo. Normalmente utilizadas para a partilha de música e filmes, pois estes são ficheiros demasiado “pesados” para se enviarem por email. iv Dados confirmados pelo autor do blogue