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Nov/Dez 2017 • Nº 72 REVISTA Uso intensivo de dados permite aos bancos oferecer produtos personalizados NA ERA DO BIG DATA CONGRESSO DE TECNOLOGIA CANDIDO BRACHER, PRESIDENTE DO ITAÚ UNIBANCO, ABRIRÁ O CIAB FEBRABAN 2018

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Nov/Dez 2017 • Nº 72

REVISTA

Uso intensivode dados permiteaos bancos oferecer produtospersonalizados

NA ERA DO BIG DATA

CONGRESSO DE TECNOLOGIACANDIDO BRACHER, PRESIDENTE DOITAÚ UNIBANCO, ABRIRÁ O CIAB FEBRABAN 2018

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CONSELHO CIAB FEBRABAN 2017

Maurício Minas-Bradesco (presidente), GustavoFosse – Banco do Brasil (diretor setorial de Tecnologia e Automação Bancária da FEBRABAN), Gustavo Roxo – BTG Pactual, Jorge Ramalho – Itaú-Unibanco, José Paiva – Santander, Naran Peçanha Araújo – Caixa, Antônio Gustavo Matos do Vale – Banco do Brasil

COMISSÃO DE CONTEÚDO:Adauto Del Favero – Bradesco; Ana Coutinho – UBS; Antonio André R. Santos – B³; Antonio Lombardi Neto – Rede; Carlos Augusto de Oliveira – Original; Carolina Souza – FEBRABAN; Claudia Haddad – Itaú Unibanco; Cristiane Mara Nunes – Citibank; Daniel Teixeira Dias - B³; Eliane Grotti Borges – Caixa; Fabio Napoli – Itaú Unibanco; Gustavo deSouza Fosse – Banco do Brasil; Hilda Raquel GuiaroSicuto – Santander; Jairo Avritchir – UBS; Jorge Krug – Banrisul; Keiji Sakai – consultor; Lusmary Ribero – BTG Pactual; Mario Lopes – Societe Generale; Paulo Cheberle – Bradesco; Paulo Vaz – Banco do Brasil; Ricardo Nery – Citibank; Ronei Maranssati – Banco do Brasil; Thatiane Fonseca – Bradesco;Wallace Jagiello – Banco Votorantim

DIRETORIA DE EVENTOS FEBRABAN:Nair Macedo (diretora), Marcelo Assumpção,Élita Cristina Borges Simionato, Fernanda Paradizo Castillo, Ludmila Prado, Leticia Rodrigues, Marília de Meo Borges, Keti Granzotto Casarri

REVISTA DO CIAB FEBRABAN

DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO:Sergio Leo (diretor), Adriana Mompean, Cleide Sanchez Rodriguez, Evelin Ribeiro, Anna Carolina Gabiatti, Marcella Motta

MARKETING:Roseli Rapouso

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO:Ideia Visual

Esta é uma publicação da Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN, Av. Brigadeiro Faria Lima, 1485 – 15º andar – Torre Norte – 01452-921 – São Paulo – SP

Copyright 2017 - novembro/dezembro.Todos os direitos reservados.

6CapaUso intensivo de dados permite aos bancos reduzir exposição a riscos, eliminar fraudes e desenvolver produtos personalizados para clientes

16CIAB FEBRABAN 2018Candido Bracher é oprimeiro palestrante confirmado para fórumde tecnologia

20Banco VerdeTecnologia é aliada de instituições financeirasem ações sustentáveisdentro e fora dos bancos

32BlockchainInovação vai bem além do bitcoin, e revolucionará maneira de fazer negócios, avaliam especialistas

sumário

Ilustração da capa: Filipe RochaImagens das páginas 6, 8, 10, 11, 20, 26, 30, 32 e 34: Shutterstock

A revolução dos dados

A inevitável migração para o meio digital traz desafios tecnológicos, administrativos e culturais e provoca os bancos para que

lidem com a evolução de seus atuais clientes e com novos consumidores, que surgem bem mais exi-gentes, com demandas específicas. Esse processo é prioritário para os bancos, dos jovens e pequenos aos tradicionais e mais robustos.

Ser digital tornou-se questão de sobrevivên-cia para o setor, nessa época de movimentos tec-nológicos simultâneos, capazes de romper com práticas tradicionais, mudar o comportamento dos clientes, transformar serviços do segmento bancário e revolucionar modelos de negócios.

Para a capa da última edição da revista CIAB FEBRABAN de 2017, destacamos o potencial do Big Data, a grande quantidade de dados disponíveis e desestruturados, e das ferramentas para análise desses dados, que já permitem às instituições fi-nanceiras reduzir custos e exposição a riscos e co-nhecer melhor os clientes _ ao ponto de prever, antes mesmo do lançamento, quais novos produtos vão decolar e quais estão condenados ao fracasso. É possível, ainda, oferecer serviços mais adaptados a cada cliente, e reduzir a incidência de fraudes e as taxas de inadimplência para as instituições.

Na edição 72 de nossa revista, continuamos a explorar a temática do blockchain, que promete não só revolucionar a maneira como lidamos com o dinheiro, mas também aperfeiçoar os processos de validação de dados e transações, com um mesmo po-tencial disruptivo que a internet teve nos anos 1990.

Estudo feito pela Accenture revelou que a

adoção da tecnologia tem a possibilidade de redu-zir em 50% nos custos de 8 dos 10 maiores bancos de investimento do mundo, uma economia de até US$ 12 bilhões nessas instituições, pela menor ne-cessidade de infraestrutura. Especialistas também acreditam que o blockchain permitirá o acesso a 3 bilhões de potenciais clientes no mundo que ainda não possuem conta em bancos.

Outra reportagem mostra iniciativas dos ban-cos brasileiros com o uso de tecnologias capazes de aumentar sua contribuição para a sustentabilidade do planeta. Estas ações vão desde a economia pro-porcionada pela abertura de contas digitais à modelos “verdes” de substituição de terminais de autoatendi-mento e reciclagem de máquinas e equipamentos.

Os preparativos para o CIAB FEBRABAN do próximo ano continuam a todo vapor: Can-dido Bracher, recentemente nomeado presidente do banco Itaú Unibanco, é o primeiro palestrante confirmado para a 28ª edição do congresso de tec-nologia da informação para o setor financeiro, que no próximo ano será realizado de 12 a 14 de junho.

A matéria também mostra todas as novida-des confirmadas pelos organizadores do evento, que em 2018 terá como tema central “Inteligência Exponencial” para debater como a aceleração do desenvolvimento de tecnologias nos campos de in-teligência artificial, machine learning, blockchain e internet das coisas implica em constantes alterações do comportamento social _ e como essas mudanças podem rapidamente criar ou destruir negócios.

Desejo a todos uma excelente leitura e boas festas! n

Gustavo FosseDiretor Setorial de Tecnologia eAutomação Bancária da FEBRABAN

editorial

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big data & analyticsbig data & analytics

Jogando com dadospara reduzir incertezas

Por Felipe Falleti

Uso intensivo de dados já permite que bancos reduzam a exposição a riscos e eliminem fraudes. O grande salto do Big Data, porém, permitirá que instituições adivinhem as necessidades e intenções de seus correntistas

O estatístico edwards demming in-tegrava um restrito grupo de espe-cialistas encarregado de aconselhar o

irascível general Douglas MacArthur, em um dos momentos mais difíceis da história recente, o esforço para vencer o Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Foi nesse contexto que Dem-ming criou um lema que sobreviveu à guerra, e hoje decora salas de reunião e arquivos de Power Point, em milhares de empresas pelo mundo todo: “Sem dados você é apenas mais uma pessoa com uma opinião”.

Estar protegido por dados confiáveis era a melhor forma de convencer o militar respon-sável pelas batalhas no Pacífico, bem como o método mais eficiente para aumentar as chances de vitória em campo. Ao longo de seus 93 anos

de vida, Demming pregou a importância de coletar, organizar e analisar dados para a toma-da de decisão, seja em esforços militares ou na administração de corporações. Sua longevidade não foi suficiente, porém, para ver a impressio-nante vitória das estatísticas após o reforço dos computadores e programadores que abriram caminho para as soluções de Big Data.

Estudo anual da consultoria Interbrand indica, por exemplo, que das cinco marcas mais valiosas do mundo, quatro chegaram ao topo

“UM DOS DESAFIOS BÁSICOS É CRIAR UM REPOSITÓRIO ÚNICO, QUE INTEGRE INFORMAÇÕES GERADAS PELO CLIENTE, EM MÚLTIPLOS CANAIS”Daniel Ferretti, do Santander

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da escala de valor por concentrar e organizar dados. São elas: Apple, Google, Microsoft e Amazon. “Notamos que as empresas de tecno-logia que lideram a análise de dados são as que mais têm se valorizado; mas o potencial do Big Data está alavancando companhias de todos os setores, do varejo à indústria de bebidas, dos bancos às empresas de entretenimento”, afirma o diretor de marketing (CMO) da Interbrand, Andrea Sullivan.

De acordo com o diretor de pesquisas da consultoria IDC, Pietro Delai, o potencial do Big Data e das ferramentas para análise de dados - chamadas de “Analytics” no setor ban-cário - já permite que as instituições financei-ras reduzam seus custos e exposição a riscos, e conheçam melhor seus clientes, a ponto de poder prever quais novos produtos vão decolar e quais vão fracassar antes mesmo de lançá-los. “Esta é uma tecnologia já madura, mas ainda com grande potencial, pois, embora a gente tenha apreendido a coletar e processar dados, ainda há um espaço gigantesco para transfor-má-los em informações rentáveis às empresas financeiras”, afirma Delai.

First things first Para o superintendente de Canais Digitais e CRM (sigla, em inglês, para Gestão de Rela-cionamento com o Cliente) do banco Santan-der no Brasil, Daniel Ferretti, o passo elementar para tirar proveito do potencial da avalanche de dados é conseguir recolhê-los e organizá-los de forma estruturada. “Um dos desafios básicos é criar um repositório único, que integre informa-ções geradas pelo cliente, em múltiplos canais, como a navegação no bankline, os diálogos que manteve com o banco no suporte remoto e seu engajamento em campanhas de marketing di-gital”, afirmou Ferreti, em apresentação feita no CIAB FEBRABAN 2017. “Todos os canais devem ser monitorados e analisados.”

Esta etapa, embora óbvia, tem sido alta-mente complexa - e custosa - para os bancos, que construíram canais de atendimento diver-sos ao longo das últimas décadas. “Embora os novos aplicativos e serviços digitais sejam todos integrados às ferramentas de analytics, muitas instituições ainda interagem com seus correntistas por uma gama ampla de canais, alguns antigos e cujo legado de tecnologia é de difícil adaptação às soluções de processamento de dados únicas”, afirma o especialista Josias Oliveira, CEO da StatSoft, empresa especiali-zada em análise de dados.

O esforço vale a pena, embora nem sempre seja pequeno, avalia Ferretti, do Santander. “A partir do momento que conseguimos montar um repositório único, nossa capacidade de compreen-der cada correntista aumentou vertiginosamente, o que nos permitiu, por exemplo, oferecer ser-viços de aconselhamento financeiro mais indivi-dualizados, diminuir o churn (perda de clientes) e tornar nossas campanhas de marketing digital mais econômicas e eficientes, uma vez que as ofertas são direcionadas para quem sabemos se interessar por elas”, diz o superintendente.

Mais dados, menos custosPesquisa da consultoria americana CDW “Bet-ter Data from BI”, publicada em 2016, aponta que um ganho imediato das instituições finan-ceiras, ao investir em soluções de analytics, está na redução de fraudes e no melhor gerencia-mento de riscos. De acordo com o estudo, a partir de 2009, meses após o estouro da bolha imobiliária americana que sacudiu bancos em uma dezena de países, 90% das instituições pesquisadas passaram a usar mais ferramen-tas de analytics para formular suas políticas de concessão de crédito e prevenção a fraudes.

“Este foi um argumento poderoso para convencer os gestores dos bancos a investir em análise de dados: com mais informações em mãos, as fraudes caem e a inadimplência diminui”, diz Josias Oliveira, da StatSoft. “Até por isso, este é um pilar do Big Data que se encontra em estágio mais maduro no Brasil e no mundo”, nota ele.

Afinal, se a central de segurança sabe que você abasteceu o carro na zona sul de São Pau-lo ao meio-dia, é impossível que você esteja fazendo compras em uma loja de eletrônicos dez minutos depois, na zona norte. O estudo da CDW afirma que fraudes com cartões de crédito e débito caíram 22% nos últimos três anos, apenas em função da melhor integração de dados. A maior economia, porém, vem do gerenciamento de riscos mais adequado.

“Produtos como cartão de crédito e che-que especial são, tradicionalmente, de eleva-

Paulo Caffarelli, presidente do Banco do Brasil, diz que tecnologia dá as ferramentas necessárias para melhor atender o consumidor, mas ressalta que é preciso engajar e capacitar colaboradores no uso dos dados

Luiz Michelini

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55% dos bancos no mundo acreditam que ter acesso em tempo real a dados do cliente no momento de atendê-lo significa uma vantagem competitiva significante sobre seus competidores

As principais fontes de informação paraalimentar o Big Data dos bancos são:

Fonte: Alacer Group

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big data & analyticsbig data & analytics

n Dados de visitas de correntistas às agências

n Logs de ligações telefônicas para bankline e call center

n Interação dos correntistas no internet banking

n Histórico de compras e pagamentos de cartão de crédito

n Anotações do gerente de conta sobre seus correntistas

n Dados de investimentos financeiros

Problemas que oBig Data pode resolver

Problema:50% dos correntistas pesquisados em 42 países afirmam considerar trocar de instituição financeira

Solução:Análises preditivas permitem saber, com antecedência, quais correntistas estão mais propensos a deixar sua instituição

Problema:Clientes usam diferentes canais para interagir com o banco, como telefone, internet, caixas eletrônicos e visitas às agências

Solução:Sistemas de Big Data podem analisar todos estes canais e dar mais fluidez à jornada do correntista, bem como oferecer insights mais precisos aos gestores dos bancos

Problema:Exigências regulatórias das autoridades monetárias e de sistemas internos de auditoria aumentam elevam os custos e a burocracia dos bancos

Solução:Ferramentas de Big Data podem emitir alertas em caso de suspeita de fraudes e colher dados requeridos por autoridades de forma automatizada, diminuindo custos

Fonte: Alacer Group

Os bancos e o Big Data

Fonte: Estudo “Big data for Finance” publicado em 2017 por Dell e Intel; pesquisa feita com bancos de 80 países

76% dos bancos no mundo acreditam que o Big Data terá um papel fundamental para reter clientes e fidelizá-los à instituição

71% dos bancos no mundo acreditam que, para aumentar sua lucratividade, é necessário compreender melhor as necessidades de seus clientes e que o Big Data é a forma mais eficaz de fazê-lo

Apenas os bancos americanos reportam guardar o equivalente a 1 exabyte de informação de seus correntistas. Este volume equivale a 275 bilhões de músicas MP3 ou 555 milhões de filmes em alta definição

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do risco para as instituições financeiras e os algoritmos que definem o limite seguro de concessão destas linhas ficam muito mais efi-cientes quando alimentados por dados com-portamentais do correntista”, avalia o professor e consultor Lino Nogueira, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP).

De acordo com pesquisador da USP, crises como a de 2008 poderiam ser minimizadas se tecnologias de analytics, hoje amplamente disponíveis, estivessem prontas há uma década. “Se você sabe que um cliente está aumentan-do seu endividamento em 30% ao ano, por exemplo, como aconteceu nos Estados Unidos, e sua capacidade de pagamento está caindo, você simplesmente para de conceder crédito”, exemplifica Nogueira. “Isso não torna o sis-tema financeiro imune a crises, mas diminui sensivelmente seu tamanho e consequências”.

Além de reduzir a incidência de frau-des e as taxas de inadimplência, a boa gestão de dados gera economias nas áreas de novos projetos e no departamento de marketing. Se-gundo estudo da CDW, o tempo médio que um novo produto leva para ser validado cai em 60% quando o gerente de produtos tem acesso a dados confiáveis sobre sua aceitação ou não pelos clientes.

Se um produto ruim se revelar inviável na metade do tempo, o gestor poderá cortar investimentos no projeto antes de acumu-lar perdas demais. Do mesmo modo, se os dados apontarem boa aceitação, é possível ampliar investimentos e ganhar mercado com maior velocidade.

O banco chinês OCBC, por exemplo, estima ter diminuído de 24 para 18 meses o tempo médio de retorno de novos produtos bancários graças ao uso intensivo de dados na prospecção de novos clientes para seus servi-

ços. “Em vez de disparar a comunicação de um novo produto ou serviço para toda a base de dados e por meio de todos os canais para falar com o correntista, como ATMs, e-mail ou bankline, criamos uma solução que direciona as mensagens para perfis específicos, em canais específicos”, afirmou presidente da Huawei Enterprise Brasil, Huang Congliang, um dos participantes do CIAB 2017. “É mais barato, rápido e eficiente.”

Segundo o executivo, que é parceiro do OCBC, o banco chinês reportou aumento de 60% em vendas cruzadas graças às soluções de analytics aplicadas aos canais de atendimento do banco. Os exemplos são evidentes: quem pesquisa financiamento de um carro deve pre-cisar de um seguro para o automóvel novo; já quem simula empréstimo para a festa de casamento está mais propenso a aceitar ofer-tas de financiamento imobiliário. “As conexões podem ser óbvias, mas a dificuldade real é en-tregar estes dados nas mãos dos executivos de contas em tempo hábil para que contatem seus clientes”, afirma Congliang.

Análise preditiva e empatiaProjetos validados em menos tempo, verbas de marketing aplicadas com melhor taxa de retorno, menos fraudes e inadimplência são motivos suficientemente sedutores para justi-ficar a adesão às plataformas de analytics. Para a maior parte dos especialistas, porém, os ga-nhos mais robustos concentram-se em uma área ainda incipiente na indústria financeira: a compreensão de desejos não expressos pelo cliente e uma espécie de “adivinhação” (predi-ção) de seu comportamento futuro.

De acordo com Luiz Claudio Macedo, CEO da Algoo, empresa que desenvolve so-luções de inteligência artificial para o setor financeiro, a boa leitura de dados é capaz

de transformar a relação que os bancos têm com seus clientes.

Ao analisar o fluxo financeiro dos usuários de um banco de varejo, por exemplo, os soft-wares da Algoo identificaram que, todo final de trimestre, um grupo de correntistas fazia TEDs volumosas para contas de corretoras de investimento. “O que nós percebemos é que este grupo era funcionário de uma mesma empresa, que pagava bônus trimestrais a seus colaboradores”, conta Macedo. “A partir desta informação, o banco passou a oferecer ofertas de investimento com taxas e condições espe-ciais a este grupo, sempre nas vésperas do pa-gamento de bônus, diminuindo drasticamente a perda de recursos para corretoras.”

Para o CEO da Algoo, mesmo em situa-ções prosaicas como, por exemplo, a ligação de um correntista a seu gerente ou uma visita de cliente a uma agência física, a pouca disponi-bilidade de dados em tempo real dificulta ao funcionário do banco saber com quem está conversando. “Imagine um cliente que vai, em seu horário de almoço, procurar seu gerente em busca de conselhos para investir; é provável que o gerente esteja almoçando também e ele acabe atendido por um terceiro, que não tem nenhuma informação prévia do correntista que o aborda”, diz Macedo.

Estevão Lazanha, do Itaú, diz que a riqueza dos dados está permitindo às instituições entender como seus clientes se sentem: “É POSSÍVEL COMPREENDER QUEM ESTÁ INSATISFEITO E PODE DEIXAR A INSTITUIÇÃO OU QUEM ESTÁ MAIS CONTENTE E TEM ALGUMA NECESSIDADE ESPECÍFICA QUE NÃO VERBALIZOU”

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Seria muito mais produtivo se, ao acessar o sistema, o colaborador do banco soubesse que aquele cliente tem capacidade de poupar, por exemplo, R$ 1 mil por mês, que já teve ações no passado e que pesquisou crédito imo-biliário. “Estes dados empoderam o gerente e o fazem ter muito mais chances de fidelizar aquele cliente, bem como fazer uma venda adequada de produto financeiro”, afirma o CEO da Algoo.

A sofisticação de uso da tecnologia per-mite, ainda, entender quando o cliente está irritado, tranquilo ou com muita pressa. Ale-xandre Bernardoni, diretor de produtos da Hi Platform, empresa especializada em soluções de automação de atendimento, explica que solu-ções de chatbot (robôs que conversam com os consumidores) e softwares de reconhecimento e interpretação de voz já são capazes de captar a emoção dos interlocutores, informação que pode ser valiosa para as instituições financeiras.

“Se um cliente quer apenas saber se o novo cartão de crédito dele está no correio, o robô é capaz de responder isso com eficiência, diminuindo os custos com call center; mas, se a solução de TI detectar que o interesse é a compra de um produto de alto valor, talvez seja a hora de transferir o correntista direto para um atendente humano bem qualificado”, afirma Bernardoni. A percepção de dados emocionais e intenções dos clientes permite, neste exemplo, diminuir custos usando ro-bôs para tarefas menos importantes, e elevar a conversão de vendas usando os atendentes humanos diretamente nos casos em que eles são mais importantes.

Para o diretor de engenharia do Itaú, Es-tevão Lazanha, a riqueza dos dados está per-mitindo às instituições entender como seus clientes se sentem, suas frustrações, angústias e necessidades. “Quando observamos toda a

jornada de um cliente por meio de dados, temos uma percepção inédita de seu senti-mento; é possível compreender quem está in-satisfeito e pode deixar a instituição ou quem está mais contente e tem alguma necessidade específica que não verbalizou”, afirmou La-zanha, durante participação no CIAB 2017. “Com base nessas informações, nossos geren-tes podem oferecer serviços contextualizados, surpreendendo os clientes e aumentando sua fidelidade ao banco.”

Se dados disponíveis valem pouco antes de serem estruturados, toda informação orga-nizada só vai gerar negócios e economia se os colaboradores bancários estiverem treinados para utilizar as informações que lhes chegam por meio das plataformas de analytics. O pre-sidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, avalia que há uma tentação de supervalorizar a importância das novas soluções de TI, sem dar igual peso à transformação da cultura corpo-rativa. “O nome do jogo continua sendo gen-te”, disse, ao participar do CIAB 2017. “Nós valorizamos a tecnologia porque ela nos dá as ferramentas necessárias para melhor atender o consumidor; no entanto, há um grande esforço a ser feito também para engajar os colaborado-res no uso dos dados e capacitá-las para tirar os melhores insights que a TI nos oferece.”

O estatístico Edward Demming defendia que parte da transformação cultural está na valorização dos profissionais que sabem ler e interpretar dados, conferindo menor peso a percepções individuais ou análises orientadas pela experiência ou intuição. Em uma de suas epígrafes mais famosas, ele fez uma ressalva ao lema impresso em todas as notas de dólar nos Estados Unidos: “In God we trust”. “Em Deus nós confiamos; todas as outras pessoas, devem trazer dados”, registrou. E que sejam estruturados, poderíamos acrescentar. n

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congresso de TIcongresso de TI

Candido Bracherserá destaque noCIAB FEBRABAN 2018

Por Adriana Mompean

Presidente do Itaú Unibanco é o primeiro palestrante confirmado para a 28ª edição do Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras, considerado o mais importante da América Latina

Candido Bracher, recentemente nomeado presidente do banco Itaú Unibanco, é o primeiro palestrante

confirmado para o 28º Ciab FEBRABAN - Congresso e Exposição de Tecnologia da In-formação das Instituições Financeiras, que no próximo ano será realizado de 12 a 14 de junho no Transamerica Expo Center, em São Paulo.

Com o tema central “Inteligência Expo-nencial”, palestrantes e participantes debate-rão como a aceleração do desenvolvimento de tecnologias nos campos de inteligência artificial, machine learning, blockchain e in-ternet das coisas implica em constantes al-terações do comportamento social _ e como essas mudanças podem rapidamente criar ou destruir negócios.

Antes de nomeado presidente do Itaú, Candido Bracher foi diretor geral da Divisão de Atacado e membro do Conselho Diretivo e Comitê de Gestão da instituição. Além dis-so, desde 2005, é CEO do Itaú BBA, maior unidade do Itaú Unibanco de Corporate e In-vestment Banking da América Latina. Bracher ainda foi um dos sócios fundadores da BBA - Creditanstalt. Por quinze anos, foi membro do conselho e diretor de Corporate Banking e TreasuryDivisions do BBA Creditanstalt, até a fusão com o banco Itaú em 2003.

Candido Bracher, presidente do banco Itaú Unibanco, é o primeiro keynote speaker confirmado para o 28º Ciab FEBRABAN

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Nas duas últimas edições do CIAB FE-BRABAN, presidentes dos maiores bancos brasileiros foram os destaques do congresso de tecnologia – em 2017, Sérgio Rial, do Santander, e Paulo Caffarelli, do Banco do Brasil, debateram a transformação digital em suas instituições.

De acordo com os executivos, os in-vestimentos em tecnologia e cultura digital permitem um melhor olhar e conhecimento sobre os clientes, o que facilita a personali-zação das soluções. Eles também destacaram que os bancos não podem deixar de levar em conta as relações humanas e preservar a inte-

ração pessoal com os clientes, mesmo quando a comunicação entre correntista e instituição financeira é remota e virtual.

FintechsEntre as novidades já anunciadas pela organi-zação do evento está a participação de startups internacionais convidadas para a terceira edição do Ciab Fintech Day. Serão selecionadas 14 em-presas: oito brasileiras e seis internacionais. O Lounge Fintech contará com uma área de 300 m² integrada à exposição para networking entre fintechs e executivos de bancos e instituições fi-nanceiras. Além disso, será montado dentro do lounge um ambiente para a demonstração e rea-lização de experiências com novas tecnologias.

As fintechs selecionadas para o CIAB FE-BRABAN 2018 serão avaliadas por um júri de especialistas de grandes bancos e empresas de tecnologias. As vencedoras se reunirão com executivos das instituições financeiras para es-tudar possibilidades de negócios e parcerias.

Também já está confirmada para 2018 a segunda edição do Hackathon Ciab, uma ma-ratona de 48 horas voltada a programadores, desenvolvedores, empreendedores e pessoas que tenham ideias de soluções disruptivas para o mercado financeiro. n

CIAB FEBRABAN 2018Quando: de 12 a 14 de junho Onde: Transamerica Expo Center, em São PauloTema Central: Inteligência ExponencialPrincipais temas de debates: inteligência artificial, machine learning, blockchain, internet das coisas, segurança da informação e infraestrutura digital, seguros e meios de pagamento

ANOTE NA AGENDA

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O novo clima nasoperações bancárias

Por Claudia Rolli

Tecnologia é aliada dos bancos para estimular iniciativas sustentáveis dentro e fora das instituições financeiras, que vão da abertura de contas digitaisà substituição de terminais de autoatendimento

As expressões “estar no azul” ou “no vermelho”, que sempre estiveram entre as mais usadas no vocabulário das insti-

tuições financeiras, ganharam outra companhia colorida: agora é o “verde” que entra para valer em cena e marca ações do dia a dia, serviços, produtos e inovações no setor bancário.

Com iniciativas que vão da abertura de contas digitais à substituição de terminais de autoatendimento e incremento na reciclagem de máquinas e equipamentos, o setor financei-ro adapta-se à legislação ambiental e avança no uso de tecnologias para se tornar cada vez mais sustentável. E “verde”.

A Sinctronics, empresa de Sorocaba que atua como recicladora de eletroeletrônicos, já re-cebe uma média de 100 caixas eletrônicos e de 40 mil a 50 mil máquinas de cartões (POS) por mês desde que começou a atender neste ano empresas que integram a indústria de serviços financeiros.

A recicladora também recebe cerca de 100 quilos de resíduos por mês de outras unidades do grupo americano Flex, a quem está ligada. Desde maio, a Sinctronics notou aumento de 35% a 40% nos descartes de materiais do setor financeiro. “A renovação da tecnologia, com a troca por equipamentos mais eficientes e inte-ligentes, e a busca por segurança na hora de descartar produtos, com a garantia de proteção das marcas, contribuíram para que recebêssemos mais resíduos do segmento bancário”, diz Milei-de Cubo, gerente de operações da Sinctronics.

A empresa mantém em Sorocaba (SP), junto à fábrica, um centro de inovação em

“HOJE, JÁ ESTÃO EM VIGOR ALGUNS CONTRATOS EM QUE COMPARTILHAMOS A RESPONSABILIDADE DAS MÁQUINAS COM OS FABRICANTES E OS FORNECEDORES”Denise Hills, do Itaú

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que desenvolveu soluções para que empresas clientes acompanhem de forma online todo o processo de descarte do resíduo, desde a coleta até a destruição final com a emissão de um certificado. O reaproveitamento dos materiais é quase total: 95% deles são reintroduzidos na cadeia, 5% são enviados para processos de coprocessamento e zero vai para o aterro.

Mesmo com o crescimento total de 30% no volume total de reciclagem na Sinctronics, principalmente em itens como cartuchos, supri-mentos e caixas eletrônicos de bancos, a empresa ainda usa apenas um terço de sua capacidade.

Os investimentos em pesquisa e de-senvolvimento e os avanços nos processos de reciclagem ainda não foram suficientes para que o Brasil adquirisse tecnologia para reaproveitar placas eletrônicas, exportadas para Canadá, Bélgica, Alemanha, Japão e Cingapura, capazes de recuperar os metais preciosos nelas contidos.

O que é feito na empresa do interior paulista é a trituração e a separação de metais ferrosos, cobre e alumínio, explica a gerente da recicladora. “De dez passos necessários para a reciclagem total das placas, hoje são feitos três. Em breve, devemos chegar a sete.” Os circuitos são enviados ao Canadá, que tem a tecnologia final para 100% de reaproveitamento.

Entre os clientes da Sinctronics estão Cielo, OKI (fabricante de caixas eletrônicos, que também reutiliza parte de seus resíduos em Jundiaí, onde mantém um centro de re-ciclagem) e HP (produz impressoras e cartu-chos). Há seis meses, outras empresas do setor financeiro passaram a procurar a recicladora.

No Bradesco, a reciclagem de ATMS (ter-minais de autoatendimento) atingiu 27.522 má-quinas de 2010 a 2017 – mais de 300 por mês.

O Banco do Brasil faz a modernização de 5 mil a 6 mil terminais por ano, segun-do a vida útil do equipamento (dez anos, em média). Desde 2007, o banco tem parcerias com entidades e associações de catadores em empreendimentos solidários que geram renda com a reciclagem de materiais.

O Santander destinou para a reciclagem 546 ATMs, quase 8 mil CPUs de computadores e 15 mil telefones e acessórios no ano passado.

Através do programa Descarte Legal, a Caixa doa seus resíduos eletroeletrônicos a coo-perativas de catadores de materiais recicláveis capacitadas por meio de acordo com o Instituto GEA - Ética e Meio Ambiente. Em 2016, 10.728

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resíduos e 121 ATMs geraram R$ 117 mil em vendas aos cooperados de 11 municípios.

Parte dos bancos também já faz leasing operacional com o sistema trade-in para adqui-rir notebooks, terminais, impressoras. Assim, as instituições fazem a locação do produto e o devolvem no fim do contrato ou o adquirem por preço menor, reduzindo custos de propriedade.

O fabricante é responsável pelo descar-te final de forma ambientalmente adequada, como prevê a legislação. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, regulamentada pela lei 12.305, de 2010, mais conhecida como a lei da logística reversa, prevê que a responsabilidade pela destinação final dos resíduos é comparti-lhada por todos em todas as etapas da cadeia. Isso inclui não só quem fabrica, mas quem distribui e até quem consome.

Mesmo antes da lei, as instituições já desenvolviam programas para os resíduos eletrônicos que geram. “Desde 2008, reali-zamos a destinação ambientalmente adequada dos resíduos de equipamentos eletroeletrô-nicos. Com a lei, passamos a discutir com os fornecedores sobre logística e manufatura reversa”, diz Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade e Negócios Inclusivos do Itaú Unibanco. “Hoje, já estão em vigor alguns contratos em que compartilhamos a responsabilidade das máquinas com os fabri-cantes e os fornecedores.”

A OKI é uma das fabricantes com par-cerias no setor. “Os bancos têm incorporado a preocupação com a destinação final de seus resíduos eletrônicos e se interessam em co-nhecer os processos de logística reversa dis-poníveis”, afirma Romilson Bastos, diretor de Comunicação e Sustentabilidade da OKI Brasil. De janeiro a junho deste ano, a empre-sa destinou ao reaproveitamento o equivalente a mais de 2 mil ATMs.

Com a evolução das maquininhas de pa-gamento por meio de cartões (uso de tecnolo-gias que permitem a troca de informações por transmissão sem cabo e por aproximação, por exemplo), o segmento das adquirentes também movimenta a reciclagem de resíduos eletrônicos.

“As soluções de pagamento baseadas em tecnologias virtuais e alternativas sem utiliza-ção de papel contribuem significativamente para a redução de impactos relacionados às mu-danças climáticas”, diz Gleice Donini, gerente de Sustentabilidade da Cielo.

A executiva diz que a logística reversa é um processo estruturado há anos na compa-nhia. No ano passado, foram 277 mil quilos de cabos e fontes e 316 mil de máquinas POS e material de marketing encaminhados para reciclagem ou coprocessamento.

"BANCO TEM 4,6 MILHÕES DE CLIENTES QUE ABRIRAM MÃO DE EXTRATOS IMPRESSOS" Luiz Carlos Angelotti, do Bradesco

Divulgação

Terminais de autoatendimento enviados para a recicladora Sinctronics são reaproveitados e materiais, como plástico, voltam para a cadeia de produção

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banco verdebanco verde

“A área financeira certamente é uma das que mais recicla”, diz Paloma Cavalcanti, ge-rente de Sustentabilidade da HP Brasil. “Tanto em função da necessidade de contínua melho-ria na eficiência e performance do parque tec-nológico, como em virtude dos programas de sustentabilidade que envolvem ter o cuidado necessário com a reciclagem dos equipamentos das instituições.” Somente em um dos bancos clientes da HP houve troca do parque de in-formática e coleta de equipamentos de mais de 3.000 agências espalhadas pelo Brasil.

A HP tem projetos em parceria com o

setor bancário que incluem a geração de indica-dores de TI verde. “Envolve calcular os savings [economia] de energia (por meio do programa de eficiência energética e carbon footprint cal-culator [calculadora de pegada de carbono]) e redução de emissões, além de prover soluções de reciclagem para os equipamentos da HP ou de outras marcas”, explica.

Na ponta Medidas como envio de extrato online, aber-tura de contas e contratos assinados de forma digital também são adotadas pelo setor para incentivar clientes a usar cada vez menos papel.

O Bradesco tem 4,6 milhões de clientes que abriram mão de extratos impressos e vê avanço de 41% no uso de canais digitais. “Com o projeto Abertura de Contas - Digitização, a conta corren-te do cliente já nasce digital, sem a necessidade da impressão no momento da abertura”, diz Luiz Carlos Angelotti, diretor-executivo do Bradesco.

O banco testa ainda o programa “Agência sem papel”, que estuda documentos possíveis de ser digitalizados, eliminados ou até auto-matizados nas agências. Em fase de teste tam-bém está a instalação de placas fotovoltaicas em agências para avaliar e aferir os resultados do uso de energia solar. Esses sistemas devem suprir, em média, 40% do consumo total de energia dessas agências.

Na Caixa, o SMS é meio usado para infor-mar clientes sobre a movimentação do FGTS e economizar nos impressos. Funcionários do

banco recebem, desde agosto, fatura de cartão pelo aplicativo, internet banking ou e-mail.

Iniciativas como o Programa de Ecoefi-ciência do Banco do Brasil incentivam a redu-ção de impactos ambientais nas atividades da instituição, além da criação de agências verde, com reuso de água e energia solar.

Com 502 salas de áudio e videoconfe-rência dentro e fora do país, o número de bilhetes aéreos e gasto com táxi caiu drasti-camente, segundo o BB, que tem o cuidado de calcular o benefício ambiental da medida: de janeiro a outubro, com a realização de 18.668 videoconferências, o banco evitou a emissão de 10.256 toneladas de CO² e eco-nomizou R$ 35 milhões.

“A digitalização também contribui para diminuição do consumo de papel. Setenta por cento das transações bancárias foram em canais digitais”, diz Wagner Siqueira, gerente-executi-vo de responsabilidade socioambiental do BB.

Um dos focos prioritários no Santander é reduzir a geração de resíduos. “Com inicia-tivas de gestão interna como as impressões centralizadas e o ‘Clique único’ (aprovação digital de contratos), reduzimos em 23% a geração de resíduos de papel”, diz Karine Bueno, superintendente-executiva de Sus-tentabilidade do banco.

O Itaú também oferece, por meio de um seguro residencial, serviços ambientais aos clientes. O segurado pode solicitar a coleta de resíduos eletrônicos, eletrodomésticos e mó-veis para o descarte correto, além de receber orientação para o consumo consciente de água, energia e dicas de reciclagem de lixo.

A coleta gratuita de equipamentos descartados de informática da marca HP já acontece há anos na companhia. Após o consumidor preencher um formulário no site, a empresa faz a retirada de forma gratuita,

diretamente na casa ou empresa dele ou envia um voucher para ele entregar o material à HP pelos Correios.

De troca de iluminação a economia de pa-pel e coleta seletiva, de mudança de processos a reaproveitamento de resíduos e compostagem de orgânicos, as ações do setor só tendem a aumentar, uma vez que os consumidores estão muito mais atentos ao que banco oferece e faz dentro e fora de suas instituições.

“Na qualidade de consumidor de equi-pamentos tecnológicos, em escala significa-tiva, o setor bancário tem papel relevante na cadeia reversa de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos”, diz Mara Luisa Alvim Motta, gerente nacional de Sustentabilida-de e Responsabilidade Socioambiental da Caixa. “O comprometimento dos bancos influencia tanto na produção e oferta desses produtos, quanto na destinação desses resí-duos de forma sustentável.”

“REDUZIMOS EM 23% A GERAÇÃODE RESÍDUOS DE PAPEL”Karine Bueno, do Santander

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“SETENTA POR CENTODAS TRANSAÇÕES BANCÁRIASFORAM EM CANAIS DIGITAIS”Wagner Siqueira, do Banco do Brasil

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Bradesco

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Instituições financeiras adotam diversas ações para estimular iniciativas sustentáveis dentroe fora do banco e cortar custos

n Programa “Agência sem papel”: em fase de estudo para o levantamento de documentos que podem ser digitalizados, eliminados ou até automatizados nas agências

n Canais Digitais: as transações realizadas por esses meios passaram de 3,6 bilhões em 2008 para 12,5 bilhões em 2016

n Campanha “Boa Impressão”: reduziu 104 milhões de páginas impressas desde 2015

n Reciclagem de ATMs: 27.522 máquinas de autoatendimento foram recicladas de 2010 a 2017

n Campanhas internas: arrecadam resíduos tecnológicos de funcionários, como celulares, computadores, impressoras etc

n Máquinas de depósito imediato: equipamentos com função de reciclagem de cédulas começaram a ser distribuídos em 2017, o que diminui gastos com carros fortes para abastecimento e transporte

Projeto “Abertura de Contas - Digitização”: a conta corrente é aberta de forma digital, sem a necessidade de impressão de papéis

n Modernização de terminais de autoatendimento e reaproveitamento sustentável de peças dos terminais descartados

n Programa de Ecoeficiência: incentiva otimização nos processos e redução de impactos ambientais; mobiliza os funcionários para a causa hídrica e outras ações de educação ambiental; economia de 19,6 milhões de kWh no consumo de energia elétrica no BB evitou despesa de R$ 13 milhões em 2016

n Videoconferência: 502 salas de áudio e vídeo em todo o país e no exterior permitem economia com bilhetes aéreos, reembolsos de táxi e menor emissão de carbono; em 2017, de janeiro a outubro, foram 18.668 conexões de videoconferências, que evitaram a emissão de 10.256 toneladas de CO² e um custo de R$ 35 milhões

n Terminais inteligentes: instalação de 300 equipamentos que reciclam cédulas e permitem o depósito de dinheiro em espécie sem a necessidade de envelope; a previsão é expandir a utilização dessas máquinas

n Projeto Cataforte: habilita desde 2007 empreendimentos econômicos solidários; nos últimos três anos foram 33 cooperativas e associações de catadores preparadas com recurso de R$ 30,5 milhões

Banco do Brasil

n Atendimento digital: 70% das transações bancárias são por canais digitais

n Programa Coleta Seletiva do BB: criado em 2008, recolhe resíduos sólidos recicláveis não perigosos (papel, plástico, metal e vidro) em 1.575 locais e outros 1.114 estão em processo de implementação; em 2016, 549,3 toneladas de resíduos foram para a coleta pública, com 400 associações e cooperativas de catadores envolvidos

Criação do portal do Programa Água Brasil, em parceria com a WWF Brasil, com diversas ações realizadas: 1 milhão de mudas plantadas, 36 mil toneladas de água economizadas, 74 mil toneladas de resíduos sólidos comercializados pelas cooperativas de reciclagem

Extratos digitais: 16 milhões de correntistas já deixaram de receber faturas de cartão de crédito por meio físico

Infoemail: 4,6 milhões de clientes abriram mão de extratos impressos

Setor investe em tecnologia ereciclagem para ser “mais verde”

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Itaú Unibanco

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n Digitalização de serviços e processos: permitiu redução de 20,5% no volume de papel usado em 2016 comparado ao ano de 2015

n Aplicativo Itaú: 2 milhões de usuários ativos em 2016 contribuem para a redução no uso de papel

n Projetos Ecoeficientes aos clientes: viabilizam planos de reutilização/captação da água da chuva, telhado “verde” e construção/reforma sustentável

n Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS): funciona em todos os prédios administrativos, desde 2008 dá destinação adequada aos resíduos eletroeletrônicos

n Redução de 6,95% no volume usado de papéis entre 2015 e 2016

n Ações de ecoeficiência operacional no banco: de redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE) até o consumo de água e energia

n Aquisição de notebooks e outros itens de tecnologia prevendo o “pós-vida útil” desses equipamentos, com retorno aos fabricantes e reciclagem

n Resíduos orgânicos (como restos de comida) gerados nos restaurantes são destinados para compostagem; redução de 15 toneladas de geração de resíduos que deixaram de ser enviados para compostagem e aterro após fornecedor de serviços de alimentação aperfeiçoar preparação de alimentos nos prédios administrativos

n Centro Tecnológico de Mogi Mirim (CTMM) utiliza equipamentos mais eficientes que consumem menos energia e tomam menos espaço, além de estar equipado com tecnologia de ponta

Seguro Residencial com serviços ambientais aos clientes: o segurado solicita a coleta de resíduos (eletrônicos, eletrodomésticos e móveis) para descarte correto, tem orientação especializada para consumo consciente (água, energia e dicas de reciclagem de lixo)

Edital de Compromisso com o Clima: plataforma em parceria com a Natura, para captar projetos de compensação das emissões de gases do efeito estufa

n 10.728 resíduos eletroeletrônicos geraram R$ 110 mil em vendas para os cooperados em 2016 e 121 ATMs, contribuíram para o valor de R$ 7 mil em renda para cooperados

n Leasing operacional com trade-in para aquisição de notebooks e ATMs: banco faz locação e devolve equipamento no final do contrato ou o adquire por preço residual, reduzindo custos de propriedade

n Coleta Seletiva Solidária Caixa: começou em 2008, se expandiu para todas as unidades em 2010 e prevê que resíduos recicláveis descartados sejam destinados a associações ou cooperativas de catadores de materiais recicláveis

n Contas de FGTS recebem SMS sobre movimentações, depósitos, créditos, saques, em vez de comunicado impresso – no caso de trabalhadores com acesso a celular que fazem a adesão

CaixaPrograma Descarte Legal: doação de resíduos eletroeletrônicos para cooperativas de catadores de materiais recicláveis capacitadas ocorre em 11 municípios por meio de acordo com o Instituto GEA - Ética e Meio Ambiente

n Projeto Eficiência: funcionários da Caixa recebem desde agosto fatura de cartão pelo app Cartões CAIXA, Internet Banking Caixa (IBC) ou e-mail; economia é de R$ 1 milhão por ano

n Bilhetes da Loteria Federal usam papel com certificação e tintas sustentáveis à base d’água no lugar de solventes de petróleo; há ainda a reutilização de embalagens

n "Consumo Responsável de Água": o tema será usado em 6 milhões de calendários do banco, com a inclusão de um QR Code (no calendário), que direcionará para um página na internet com iniciativas socioambientais apoiadas pelo banco e sugestões para mudança de hábito no uso responsável da água

Santandern Aprovação digital de contratos, criada com o

“Clique único”, e iniciativas de gestão interna, com impressões centralizadas, resultaram em corte de 23% na geração de resíduos de papel

n Substituição na iluminação: lâmpadas fluorescentes (que contêm mercúrio) foram trocadas por 380 mil lâmpadas LED até 2016

n Gestão dos resíduos eletrônicos: equipamentos são destinados à reciclagem no fim da vida útil; em 2016 foram reciclados 546 ATMs, quase 8.000 CPUs de computadores e 15 mil telefones e periféricos

n Redução de 1.253 toneladas de papel em 2016 com o desenvolvimento de produtos e serviços digitais, com 20% de economia

Compostagem de resíduos orgânicos: feita nos principais edifícios administrativos, permitiu aumento de 138% no volume de resíduo compostado, com 250 toneladas em 2016 e redução de 38% no envio desses resíduos à aterros; é usada na manutenção da jardinagem dos edifícios do banco

Fonte: Bancos

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Tecnologia impulsiona economia verde

Por Adriana Mompean

A tecnologia também é aliada das institui-ções financeiras em negócios que incorporam as questões ambientais, sociais e de governança - e representam inovações não só para o sistema ban-

cário, mas também para outros segmentos empresariais, para o governo e para os

consumidores.A importância da tecno-

logia nas estratégias de ne-gócios é evidente em um

dos projetos apoiados pela FEBRABAN na área de sustentabili-dade: a contribui-ção da Federação e de outras entidades empresariais para

a implantação do Cadastro Ambiental

Rural, o CAR, o re-gistro obrigatório criado

para ajudar a regularização ambiental das propriedades

rurais no país. É um dos avanços mais notáveis no esforço para incor-

porar as preocupações ambientais com as demandas do financiamento agrícola.

Imagens de satélite dos biomas Cerra-do e Mata Atlântica, cedidas pelo Ministério do Meio Ambiente, foram transformadas em mapas georreferenciados que detalham para cada município destes biomas o uso do solo,

identificando as áreas de vegetação nativa a serem preservadas e o passivo ambiental a ser recuperado. “Só há um jeito de fazer isso de forma econômica - o uso do monitoramento remoto via satélite ou por meio de drones”, afirma Mario Sergio Vasconcelos, diretor de Relações Institucionais da FEBRABAN.

Além do apoio à implementação do CAR, a FEBRABAN realiza uma série de estudos sobre questões ambientais, em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces).Entre eles, o estudo do risco do desmatamento, feito em parceria, também, com a organização ambiental CDP, para identificar os riscos e oportunidades nas cadeias da soja, pecuária, produtos florestais e palma. Outro projeto busca definir modelos para o financiamento da recomposição florestal em propriedades rurais de clientes que identifi-caram, por meio do CAR, passivos ambientais.

Em ambas inciativas, são necessárias ba-ses de dados que permitam a identificação por parte dos bancos de áreas desmatadas e de áreas recuperadas e, desta forma, disponham de in-formações para a análise de risco socioambiental nas operações de crédito. Estas bases de dados só são viáveis com forte apoio tecnológico. “Um número cada vez maior de investidores está es-tabelecendo políticas que valorizam a gestão de riscos de desmatamento”, diz Vasconcelos.

“Em 2017, segundo os relatórios do CDP, 380 investidores institucionais com ativos de US$

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29 trilhões pediram a mais de 500 empresas que divulgassem como gerenciam seus riscos diretos e indiretos do desmatamento”, informa ele.

O diretor da FEBRABAN destaca a im-portância da agroindústria para a economia brasileira, um setor que representa 23,6% do PIB e é responsável por 46,6% das exportações do país. “É necessário um enorme suporte de tecnologia para obter os ganhos de produtivida-de nas commodities”, afirma. “Já se fala em agri-cultura de precisão, ou seja: todas as atividades do plantio até a colheita nas fazendas contam com tecnologias que permitem obter o máximo de produção.” De acordo com Vasconcelos, a tecnologia também permite mapear a correta aplicação dos recursos destinados a financiar as safras e estimar a produção esperada.

Mais projetosA FEBRABAN conduz iniciativas voltadas à sustentabilidade nos negócios há mais de 10 anos. Um exemplo é a adesão dos maiores ban-cos brasileiros aos Princípios do Equador, em 2003 - diretrizes para gestão de riscos e impactos socioambientais no financiamento de projetos. Mario Sergio Vasconcelos também destaca o acordo de Paris, que indicou a urgência de aumentar a oferta de recursos financeiros para ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, em volumes que exigirão a criação de novos instrumentos de financiamento, e a participação de governos e do setor privado.

O financiamento bancário voltado aos se-tores da economia de baixo carbono tem avança-do no Brasil. Em 2016, 18,8% dos empréstimos à pessoa jurídica foram direcionados à chamada Economia Verde – um avanço de 2,1 pontos percentuais em relação a 2015, quando a carteira de crédito a pessoas jurídicas para este segmento representou 16,7% do total. Os dados são de 15

bancos, que representam quase 90% da carteira de empréstimos para pessoas jurídicas do setor.

Recentemente, a Anbima – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financei-ro e de Capitais, com o apoio da FEBRABAN, mediu, pela primeira vez, as emissões de títulos das instituições do mercado de capitais voltadas para a Economia Verde. O levantamento mos-trou que, em 2016, o dinheiro captado no ano com emissão de títulos chegou a aproximada-mente R$ 25 bilhões – cerca de 21,1% do total emitido em todos os setores econômicos (R$ 116 bilhões). O levantamento considerou apenas o chamado “dinheiro novo”, ou seja, emissões novas de debentures, ignorando as reemissões, além de bonds e emissões primarias de ações.

Os bancos também estudam e analisam a gestão e precificação do carbono e seus pos-síveis impactos nas instituições financeiras, empresas e atividades econômicas.

Estudos sobre a economia verde podem ser acessados no site da FEBRABAN em ht-tps://portal.febraban.org.br/pagina/3085/43/pt-br/sfn-economia-verde. n

Mario Sergio Vasconcelos, diretor de Relações Institucionais da FEBRABAN, destaca a importância da tecnologia para viabilizar iniciativas voltadas à construção de uma economia de baixo carbono, essencial à mitigação das mudanças climáticas

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Blockchain será a“internet do dinheiro”

Por Charles Nisz

Especialistas acreditam que a tecnologia poderá reduzir custos e ainda trazer aos bancos de todo o mundo 3 bilhões de potenciais clientes que ainda não possuem contas nas instituições financeiras

O blockchain, plataforma digital para transações financeiras, re-volucionará a maneira como lida-

mos com o dinheiro. A tecnologia abre a possibilidade de atingir 3 bilhões de pesso-as ainda sem acesso a serviços bancários em todo o mundo, e tem recebido um volume crescente de investimentos: saindo de US$ 100 milhões, investidos entre 2009 e 2013, o montante chegou a US$ 1,4 bilhões entre 2014 e 2016.

O gerente sênior da Accenture Strategy, Ricardo Polisel, considera que o blockchain será a “internet do dinheiro”, com o mesmo potencial disruptivo que a rede mundial de computadores teve nos anos 1990. “Vemos uma chance de reduzir os custos em relatórios financeiros, compliance, autenticação de usuá-rios e back office”, explica Polisel.

Estudo feito pela Accenture, em janei-ro de 2017, calcula ser possível a redução de 50% nos custos de 8 dos 10 maiores bancos de investimento do mundo, uma economia de até US$ 12 bilhões nessas instituições, pela menor necessidade de infraestrutura com a adoção do blockchain. De acordo com Polisel, a automação das tarefas bancárias será possí-vel com a adoção do blockchain combinada com tecnologias de inteligência artificial e de internet das coisas (IoT).

Para o gerente sênior de Inovação e No-vos Negócios da consultoria Indra, Mario Robredo, não se trata apenas de buscar mais eficiência, “mas sim de encontrar novos mode-los de negócios que podem surgir com o uso do blockchain”. A mudança deve afetar o papel das instituições financeiras tradicionais e per-mitirá acesso a 3 bilhões de potenciais clientes

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Igor Freitas, do Itaú: banco estabeleceu quatro frentes de trabalho para monitorar e estudar o impacto do blockchain no dia a dia do banco

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SAIBA MAIS

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inovação

no mundo que ainda não possuem conta em bancos, diz Robredo.

De olho na oportunidade de novos negó-cios trazida por todas essas mudanças, os bancos brasileiros começam a fazer experiências com o blockchain. Igor Freitas, superintendente de Ar-quitetura Corporativa do Itaú Unibanco, conta que a instituição criou um centro de excelência sobre o tema, para monitorar o impacto dessa tecnologia no dia a dia do banco: “criamos qua-tro frentes de trabalho compostas por alianças e estratégias educacionais com workshops e palestras, desenvolvimento de pessoas e moni-toramento de plataformas”.

Freitas, no entanto, ainda vê desafios para a implantação do blockchain nas instituições fi-nanceiras: o tamanho exigido para os bancos de dados, número de transações confirmadas por segundo, a criação de um processo de identifi-cação seguro e a governança são alguns desses desafios, de acordo com o executivo do Itaú.

Para acelerar o entendimento sobre o blockchain e desenvolver aplicações financeiras na plataforma, a FEBRABAN organizou um grupo de trabalho sobre o tema, com partici-pantes de vários bancos associados. O coorde-nador do grupo de trabalho, Adilson Fernan-des, explica que os bancos fizeram provas de conceito (testes com dados fictícios usando a tecnologia), e que em 2018, os bancos terão aplicações para serem testadas com dados reais.

A criação de um grupo de trabalho cola-borativo na FEBRABAN para a discussão do tema, permitindo aos bancos brasileiros conhe-cer as plataformas existentes de blockchain e as experiências internacionais sobre o assunto foi um passo inovador, acredita Fernandes. Criado em 2016, o trabalho do grupo já passou por três fases: “a primeira serviu para aumentar o conhecimento das instituições envolvidas sobre o blockchain; na segunda, abordamos cases es-

trangeiros e estudamos essas aplicações; na ter-ceira fase, realizamos provas de conceito; agora na quarta onda, estamos atuando para criar um produto para o mercado”, diz Fernandes.

Testes no CIAB“Em vez de adaptar o blockchain para os ban-cos, devemos fazer o contrário”, diz, ao co-mentar as provas de conceito com aplicações usando blockchain, Robert Sagurton, diretor da R3 Lab and Research Center, entidade do consórcio R3, que congrega algumas das principais instituições financeiras e tecnológi-cas do mundo para desenvolver o blockchain no mercado financeiro. Assim como o diretor do GT da FEBRABAN, Sagurton não vê o blockchain como uma ameaça, mas como uma oportunidade para os bancos.

“ESTAMOS ATUANDOPARA CRIARUM PRODUTO PARA OMERCADO”Adilson Fernandes, coordenador do grupo de trabalho de blockchain da FEBRABAN

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O que é o blockchain?• O blockchain é um conjunto de tecnologias que suporta a

criptomoeda bitcoin e que possibilitou, de forma inovadora, uma maneira segura e direta (sem a necessidade de um intermediário) transferir valor de forma eletrônica entre as pessoas.

• É uma tecnologia de rede distribuída com grande potencial disruptivo, que usa mecanismos de criptografia e sistemas distribuídos tolerantes a falhas para criar confiança entre elementos (computadores, pessoas, empresas etc.)

• No blockchain, os registros são encadeados, de forma que o registro atual depende do registro anterior e esses registros estão espalhados na rede. Esse encadeamento de registros é feito de tal forma, que se torna impossível falsificar os mesmos, tornando-os imutáveis e não fraudáveis

O blockchain é o bitcoin?O blockchain não é bitcoin ou qualquer outra moeda criptográfica. O blockchain é a tecnologia que tem sido usada pelos provedores de moeda criptográfica. Seus principais componentes são o conceito de organização de dados, a criptografia e a validação de transações

Quando o blockchain foi criado?O blockchain surgiu por volta de 2008 e foi criado por uma ou mais pessoas (sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto) para resolver um problema até então insolúvel das moedas digitais: como garantir que uma pessoa não gaste duas vezes a mesma moeda digital em um universo sem uma terceira parte confiável? O blockchain é a solução tecnológica que viabilizou a existência do bitcoin

Quais são as vantagens do blockchainpara os bancos? A adoção do blockchain no mercado financeiro pode gerar melhorias operacionais nas instituições e também alavancar novas oportunidades de negócios, com a criação de novos produtos e serviços. O blockchain pode trazer inovação na forma de redução de custos, otimização de processos e novos modelos de negócios

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Sagurton revelou que está de mudança para o Brasil – a R3 irá abrir um escritório em São Paulo, sob sua direção. A ideia é desenvol-ver uma plataforma a ser usada por instituições bancárias e empresas para criação de soluções financeiras. No Brasil, a R3 irá se associar com a B3 e os bancos Itaú e Bradesco.

Duas provas de conceito, em que se tes-tam soluções possíveis com dados fictícios usando a nova tecnologia, foram executadas durante o CIAB 2017. Foram testadas duas plataformas diferentes de blockchain para ge-renciamento de cadastros e identificação de clientes: o projeto FingerPrint usou a plata-forma Corda, da R3, e o projeto DNA usou a plataforma Hyperledger.

O objetivo foi mostrar a possibilidade de manter um cadastro único de clientes de forma descentralizada e, ao mesmo tempo, garantir a privacidade, rastreabilidade e imutabilidade desses dados. “A ideia é simplificar o cadastro para os usuários, e manter os dados dos clientes atualizados, evitando redundância; assim, há possibilidade de redução de custos para os ban-cos”, explica Richard Silva, superintendente do Santander Brasil.

A prova de conceito foi bem-sucedida: gerenciando dados de clientes fictícios, o blockchain permitiu que a mudança de dados de cadastro de um deles, no registro de um banco, levasse, em tempo real, à alteração dos cadastros do mesmo cliente nos outros dois bancos participantes do modelo. Se aplicado de fato pelos bancos, essa sincronização de dados de cadastro dependeria, claro, da autorização do cliente, que ganharia a comodidade de ser dispensado de alterar seus dados nas bases de todos os bancos nos quais tem conta, quando necessitasse fazer alguma correção.

Alguns bancos realizam experiências numa terceira plataforma de blockchain, a Etherium. Com a ajuda da Microsoft, o ban-co Votorantim começou a desenvolver uma aplicação para validar CCB (Cédula de Crédito Bancário). “A cooperação entre bancos, regu-ladores e empresas fornecedoras de tecnologia é fundamental, pois ninguém desenvolve nada em blockchain sozinho”, ressalta o Inovation Advisor do banco, Luiz Nugnes.

Experiências no mundoUma das principais inovações trazidas pelo uso do blockchain é a possibilidade de validação e execução de contratos digitais, os chamados smart contracts, explica Julio Faura, head de R&D and Inovation do Banco Santander. Es-critos como um código de programação, esses

documentos permitem a celebração de um contrato sem a necessidade de um interme-diário (cartórios, governos), para definir obri-gações, benefícios e penalidades de cada uma das partes envolvidas numa transação.

Ao usar uma plataforma como o block-chain, é possível até automatizar a execução e fiscalização de certos contratos envolvendo montantes financeiros e obrigações entre as partes _ como no financiamento de comércio exterior envolvendo smart contracts, em que mecanismos digitais avisam sobre o recebi-mento de produtos por parte de importadores, liberando automaticamente o pagamento ao exportador, por exemplo.

Outras aplicações possíveis envolvem paga-mentos entre instituições financeiras, transações no mercado de capitais e até mesmo levanta-mento de informações por parte de outros seto-res, como no rastreamento da cadeia produtiva de alimentos, da produção até o supermercado, ou na certificação de madeira sustentável.

“Por enquanto, os usos principais estão nas atividades internas dos bancos”, explica Frederic de Mariz, diretor executivo do ban-co UBS. Um exemplo, segundo o executivo, é o sistema de cadastro desenvolvido pelo banco francês Crédit Mutuel. A maior van-tagem do blockchain é tornar as transações mais eficientes e seguras ao serem feitas na plataforma, gerando redução de custos para os bancos, defende Mariz.

Faura explicou que os bancos e as empre-sas buscam formas de regulamentar o uso do blockchain. “Além de procurar maneiras de usar a plataforma, precisamos saber como o uso do blockchain pode ser considerado legalmente válido.” Uma das vias mais promissoras é o esforço para obter ajuda dos governos e dos sistemas de cartório, explicou o executivo do banco espanhol. Faura diz que o Santander já

usa a plataforma para fazer pagamentos inter-nacionais entre bancos.

Já para Robert Brinkman, arquiteto de Sistema para Mercados Financeiros da IBM, a segurança nas transações é um fator primordial. “Se as empresas vão colocar todas as informa-ções nessa plataforma, temos que garantir a segurança nessas transações.” A padronização e integração dos diferentes sistemas é um passo necessário, segundo os especialistas.

Brinkman explica que o uso do block-chain extrapola o setor bancário. O agrone-gócio e o varejo também usam a tecnologia para rastrear produtos, como alimentos e ma-deira certificada. “Imagine que você pudesse rastrear um alimento desde a fazenda até a gôndola do supermercado. Você conseguiria otimizar a produção e a distribuição de modo a tornar o processo mais eficiente, evitando o vencimento de produtos e melhorando a efi-ciência dessa cadeia produtiva, eliminando os custos de forma contundente”, diz o arquiteto de sistemas da IBM. n

“EM VEZ DE ADAPTAR O

BLOCKCHAINPARA OS

BANCOS, DEVEMOS

FAZER O CONTRÁRIO”

Robert Sagurton, do R3 Lab and

Research Center

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Santander, diz que uma das principais inovações trazidas pelo uso do blockchain é a possibilidade de validação e execução de contratos digitais, os smart contracts

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