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NA FRONTEIRA OESTE DE MATO GROSSO: O GRUPO ESCOLARESPERIDIÃO MARQUES, SEU PERFIL PELOS JORNAIS
Adriane Cristine SilvaGT 08 – História da Educação
Resumo: Neste trabalho o objetivo é contribuir com a historiografia da educação do estado deMato Grosso, a partir de estudo referente ao Grupo escolar Esperidião Marques, naperspectiva dos jornais da época, pelos seus 100 anos de existência. Trata se de modelo deinstituição de ensino público de Cáceres, na fronteira Oeste do Estado do Mato Grosso.Modelo de Instituição que desenvolveu em São Paulo, e foi levada a outros estados, a partirde 1910 fase da modernização educacional, nesta região, e em destaque os primeiros passosda escola pública no interior do estado de Mato Grosso. Para a análise da instituição escolarem questão, procuraremos apresentar detalhes de uma instituição no interior do estado deMato Grosso. Esta pesquisa reforça a necessidade de se estimular as pesquisas referentes àcultura escolar mato-grossense e perceber melhor seu processo de desenvolvimento ao longodo tempo, seu significado, a partir dos registros encontrados para delimitar o seu perfil pelosjornais que circulavam no período de correspondente a 1910\1947. Ainda assim destacamos anecessidade de como o pesquisador deve analisar as fontes disponíveis nos arquivos ecuidarmos com as armadilhas do olhar ideológico. Usamos aqui o recorte temporal dadissertação de mestrado defendida em 2011. Em destaque, uma fase de grandestransformações na cultura escolar deste estado trazida pela proclamação da república.
Palavras-chave: Fontes históricas, Educação, imprensa
Introdução
Este trabalho tem como objetivo contribuir com a historiografia da educação do
Estado de Mato Grosso, através de uma análise pela microhistória ou então estudos regionais
a qual se insere no campo da História da Educação a partir da preocupação em identificar o
modo como uma realidade social é construída em lugares e tempos distintos, nos conduziram
aos escritos do historiador francês Michel de Certeau, organizados na obra “A Escrita da
História”, publicada na década de 1970.
Com o propósito de estabelecer uma abordagem temática acerca da História das
Instituições Escolares em geral, e do Grupo Escolar Esperidião Marques, em particular,
recorremos às reflexões de Burke, Hobsbawm, Thompson. De forma que seja possível
constituir as circunstâncias gerais e particulares na tessitura deste trabalho.
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Através de abordagens inovadoras e mais recentes acerca da história das instituições
escolares, devemos destacar as análises de Bencostta (2002); Camargo (2000); Faria Filho
(2004); Siqueira (2000); Souza (1998); Vidal (2005).
Devemos considerar ainda o recorte temporal que envolve o período compreendido
entre 1910-1947, a qual foi utilizado para tecer a Dissertação defendida no programa de pós
graduação em educação pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
As reflexões de Nosella e Buffa (2008) a esse respeito corroboram para o fato de que
os estudos de instituições escolares representam atualmente um grande filão a ser explorado
por educadores no sentido de contribuir para o avanço da história da educação no Brasil. Os
autores observam que esses estudos produzidos em sua maioria nos programas de Pós-
Graduação em Educação, elegem a instituição escolar como objeto de abordagem e, durante o
processo investigatório, consideram sua essência material, seu contexto histórico e as
circunstâncias particulares de sua criação e instalação.
Ainda assim cuidados em utilizarmos a fonte Jornais, pois através de seu texto não
apenas tão somente relatos, o jornal apresenta um discurso que constitui um tempo político e
ideológico, e ainda realizarmos uma forma própria de ler tendo em mente o objetivo do
trabalho a ser escrito, sendo ainda necessária a articulação entre descrição e as dependências
que tecem os laços sociais.
De acordo com CAPELATO (set/91 agos/92,p.57) os jornais existem para conduzir a
política, na característica de ser apartidário mas agir a partir de sua característica regida
atráves do sujeito que esta atrás do jornal e por interesses de um determinado grupo social.
Então é essencial considerarmos na análise a história do periódico, sua linha editorial, seu
posicionamento político.
Nosella e Buffa (2008) sugerem que deve ser avaliado, sobretudo seu processo
histórico, como origens, bem como seu momento “áureo” e no estado em que se encontra. Ou
seja, há que se avaliar, pelo menos em parte, conforme observaram os referidos
pesquisadores, o cotidiano da escola, o edifício, enfim:
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A organização do espaço, estilo, acabamento, implantação, reformas e eventuaisdescaracterizações; os alunos: origem social, destino profissional e suasorganizações; os professores e administradores: origem, formação, atuação eorganização; os saberes: currículo, disciplinas, livros didáticos, métodos einstrumentos de ensino; as normas disciplinares: regimentos, organização do poder,burocracia, prêmios e castigos; os eventos: festas, exposições, desfiles (NOSELLA;BUFFA, 2008, p. 16).
Um aspecto destacado pelos autores refere-se à tendência historiográfica em se estudar
prioritariamente a história de instituições mais antigas ou de maior destaque social, como
foram as Instituições de Ensino Superior, as escolas normais, as escolas confessionais,
sobretudo, femininas.
A pertinência das reflexões de Nosella e Buffa (2008) nos remete também para as
considerações acerca das abordagens e dos métodos levantadas pelo historiador inglês Peter
Burke em torno da crítica à história tradicional, a qual priorizava os temas nacionais ou
internacionais, em detrimento das propostas regionais, das efervescências humanas cotidianas,
mais precisamente da perspectiva da história total.
Por isso surge a necessidade de se realizar estudos que contemplem instituições
localizadas em espaços não tradicionalmente estudados e envolvendo, sobretudo os segmentos
“sem vozes” no cenário educacional brasileiro, como alunos, professores e funcionários.
Afinal, segundo Nosella e Buffa (2008, p. 362) e, com os quais concordamos, “a pesquisa em
história das instituições escolares tem como vantagem a possibilidade de superar a dicotomia
entre o particular e o universal, o específico e o geral, o concreto e o conceito, a história e a
filosofia”.
Com estas considerações, privilegiamos a região de Cáceres como lócus de
observação, problematização e análise no sentido de explicar seu passado que ainda se faz
sentir no presente.
Nessa direção, nossa análise parte das práticas culturais, das experiências e
singularidades educacionais ocorridas na região, parte também das mudanças na estrutura
educacional e dos diferentes caminhos que a educação percorreu ao longo de sua história.
Contudo, esta proposta também se justifica por si só, por deslocar a atenção da história dos
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grandes centros urbanos e dos grandes acontecimentos para a história do interior de um
Estado do Centro-Oeste do país.
Erigiu-se assim uma escola que serviu de instrumento difusor do ideário de
modernização e de progresso proposto pelo regime republicano, inaugurado em 1889. A
análise envolve, portanto as dimensões históricas da escola e da cidade, considerando sua
localização (fronteira Brasil-Bolívia), e, sobretudo suas formas de representação municipal e
de relações sociais aquilatadas por um regime pautado na civilidade, civismo, higienização.
E então os jornais
Dois periódicos foram utilizados como fonte para a presente pesquisa: A Razão e o
Jornal Argos de circulação local, disponíveis em micro-filmes do acervo do Arquivo Público
do Estado de Mato Grosso. Evidentemente que para dar cientificidade à fonte
jornalística consideramos a época em que o material foi produzido, sobretudo sua vinculação
política como é o caso do Jornal A Razão, instalado em Cáceres em 17 de maio de 1917,
destinado ao órgão do partido republicano mato-grossense, sob a direção do professor
Demétrio Costa Pereira de (1917-1939) e do Dr. Leopoldo Ambrosio Filho, de 1939 até 1954.
Outro arquivo jornalístico consultado refere-se ao Jornal Argos, Jornal que circulouem
Cáceres de 1911 a 1914. Foi fundado por Generoso Pereira Leite e tinha comocolaboradores,
dentre outros, Pedro Trouy, general Aníbal da Mota, Demétrio da Costa Pereira e João de
Campos Widal.
A partir de um tempo de pesquisa destinado a análise dos Jornais Argos e A Razão
então é visível que nas primeiras páginas aparecem as notícias ditas como mais importantes e
de grande repercussão na sociedade, e nos dois jornais observados este falto é visível. A
temática educação, e em específico Grupo Escolar se faz presente na maioria das páginas.
reexaminar todos esses sistemas densos, complexos e elaborados pelos quais a vidafamiliar e social é estruturada e a consciência social encontra [rá] realização eexpressão (THOMPSON, 1981, p. 189).
Então através de Thompson temos a certeza de que a vida social se apresenta pelos
fatos relevantes e esta se estrutura diante do que encontramos enquanto realidade vivida, e
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III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015
neste viés temos do Grupo Escolar Esperidião Marques as notícias nas demais páginas e
ainda as notas dos alunos em destaque, mas ai já nas páginas posteriores.
No ato de noticiar, nos permite compreender a partir de que é necessário apresentar o
que esta se realizando. Os feitos de uma Instituição Republicana, deve ser apresentadas, até
mesmo como prestação de contas ou retorno social de investimentos do governo para a
população. E ainda o que de fato se apresenta nos meios sociais em uma realidade a partir do
olhar do seu escritor.
Vejamos os detalhes.
Procedeu-se a tapagem da referida pedra. Com uma trolha de prata, expressamentemandada preparar pelo empreiteiro construtor Sr. Capitão José Corbelino, foramlançados pelos nomeados acima, as primeiras colheradas de argamassa nas juntas, esobre elas colocado o competente tampo. Feito o que, por meio de aparelhospróprios, efetuou-se a sua colocação na escavação previamente feita (JORNALARGOS, 1913).
Observa-se nesse fragmento, a busca da consolidação das relações de poder sociais
determinadas pelo poder material ou simbólico incorporado ou assimilado pelos agentes
envolvidos na trama. Por trás dos pequenos objetos, como a trolha de prata, das “colheradas
de argamassa”, estava um mundo, um ‘poder quase mágico que permite o equivalente daquilo
que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, que
só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário’ (BOURDIEU, 1989,
p.14).
Considerar então a área de abrangência e os traços de formação do pesquisador, o qual
determinara a proporção e compreensão do objeto de pesquisa apresentada pelo jornal.
No caso do Grupo Escolar Esperidião Marques (GEEM), a pesquisa foi direcionada a
partir do texto escrito e pelo olhar do pesquisador que se desenvolver por critérios definidos
entre, lista de alunos, comunicado aos pais, anúncio das festas, inauguração, e ainda
encontramos anúncios envolvendo acidentes de alunos em brincadeiras domésticas levando ao
óbito, férias de professor em viagem a outra cidade e ou país, caixa escolar, valor da obra,
visitas ilustres enfim a realidade que permeia a escola.
Para o correspondente do Jornal A Razão, a matéria que circulou na manhã de 15 de
março de 1915, na antiga cidade do interior brasileiro tinha discurso distinto:
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O bulício das ruas, posto que reduzido entre nós, perturba a regular seqüência doensino, se nos atentarmos ao espírito infantil, trêfego, irrequieto, curioso. Depois,está claro que onde a aglomeração é menor, o consumo de oxigênio no fenômeno derespiração, também o é, por isso mesmo sobressai à vantagem dos lugares solitários,para o fim do que curo(A RAZÃO, 1915).
A avaliação da Imprensa não só considerava a realidade local, como trazia avaliaçõesligadas ao universo de São Paulo:
Dentre os 128 grupos escolares que possui São Paulo, conheço a maior parte deles -estão situados em bairros mais ou menos situados, porém aprazíveis, pitorescos.Atualmente, os educacionais estrangeiros, de nomeada merecida,preconizam aulascampestres, à natureza, a fim de quem as crianças possam gozá-la, admirá-la ecompreendê-la, no que tem de poético e grandioso.(Jornal A Razão, 1915).
Tivemos a oportunidade de então mergulharmos num mundo próprio da educação na
fronteira oeste do Estado de Mato Grosso, pelo seu cheiro, seu sabor, seus causos e sua cor.
Um universo constituído de particularidades e regido pela dureza ainda em destaque nas
notícias referentes a políticas públicas em educação.
E então nos remetemos aos mil laços da História a qual que unem uns aos outros os
diversos aspectos da realidade (MARTIN; BOURDÉ, 1983). E desses laços ao sentido atribuído a
notícias do Grupo Escolar Esperidião Marques percebemos a riqueza de detalhes demonstrados nos
acontecimentos realizados por esta instituição de ensino.
A cidade de Cáceres
Cáceres é uma cidade colonial do sertão mato-grossense, banhada pelo Rio Paraguai e
limitada pelos municípios de Barra dos Bugres, Poconé, Corumbá, Livramento, Mato Grosso,
Mirassol D’Oeste e República de Bolívia.
Essa antiga cidade localiza-se à margem direita do Rio Paraguai e foi fundada em 06
de outubro de 1778. Surgiu sobre um terreno plano e arenoso, cujas ruas foram cortadas em
ângulos retos, onde se assentaram casas, em sua maioria, térreas. Caracterizou-se também
pela formação de antigas fazendas pastoris que contribuíram para o seu desenvolvimento e
composição de sua história. Grande parte dos produtos econômicos de Mato Grosso saía do
porto de Cáceres e era escoada para os países platinos através do Rio Paraguai.
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Foi no cenário urbano de Cáceres que se assentaram, já nas primeiras décadas do
século 20, as primeiras estruturas organizacionais do Grupo Escolar Esperidião Marques,
objeto de nossa investigação, o qual está inserido no campo da História das Instituições
Escolares.
Sobre a cidade de Cáceres, ainda encontramos detalhes desta cidade no jornal A Razão
de 1924:
Está assentada sobre uma planície a nossa querida cidade de Cáceres. Devia ser,portanto, uma cidade absolutamente geométrica, com suas ruas largas, direitas,cortando-se em ângulos retos, arborizadas, praças ajardinadas, onde as famíliaspudessem passar e se espairecer às tardes de verão e às noites de luar. O traçadoprimitivo começado pelos fundadores da cidade e continuado pelos seus primeiroshabitantes, vem sendo desprezado, o que é antiestético e anti-higiênico, isto é, enfeiaa nossa urbe e a predispõe para se tornar inóspita e insalubre em futuro talvez nãomuito remoto. A cidade tem crescido extraordinariamente: em pouco mais de meioséculo tornou-se quase três vezes maior [...] (A RAZÃO, 1924).
Temos através do Jornal A Razão, a apresentação de cenas, vivencias e os olhares que
caracterizaram as ruas na cidade que até hoje abriga o Grupo Escolar Esperidião Marques.
Devemos destacar sobre a caracterização da cidade de Cáceres pelo presidente dos Estados
Unidos na sua visita a cidade de Cáceres
‘[...] as ruas da pequena cidade não eram calçadas e tinham estreitos passeios detijolos. As casas térreas eram caiadas de branco, ou de paredes azuis, cobertas detelhas vermelhas; as janelas, com gelosias [grades fasquias de madeira], vinham dostempos coloniais; remontando através do Portugal cristão e mourisco, originaram-sede uma remota influencia árabe’ (ROOSEVELT, 1944. p. 137).
Da mesma forma, o viajante destacou a diversidade cultural e finalmente Roosevelt
também viu a Escola em Cáceres:
Mas ali mesmo em Cáceres, o espírito do novo Brasil já ia penetrando; foraconstruído um belo edifício público para grupo escolar. Fomos apresentados aodiretor, um homem esforçado que realiza excelente obra, um dos muitos professorestrazidos nos últimos anos para Mato Grosso, de São Paulo, centro do novomovimento educacional que muitíssimo fará em benefício do Brasil (ROOSEVELT,1944, p. 138).
Cumpre lembrar que quase sempre o cronista não conseguia captar na totalidade as
variáveis de uma sociedade estranha aos seus valores deixando, portanto, lacunas a serem
preenchidas, cujo nexo deve ser buscado em outras fontes, sem, contudo deixar de ser uma
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preciosa fonte para o historiador de ofício, a caracterização das cidades pelos olhares dos
viajantes.
Olhares ao Grupo Escolar Esperidião Marques
Elegemos o Grupo escolar Esperidião Marques, importante Instituição de ensino do
município de Cáceres, criado em 04 de fevereiro de 1912, com o nome de Grupo Escolar
Costa Marques, enquanto objeto de estudo. Cuja construção inicia-se em 1913 e é encerrada
em 1920, na esquina da Praça Duque de Caxias, cujo espaço a partir desta construção passou
a ser considerado parte central da cidade. Apresentado na Figura 1.
Este grupo escolar se consolidou a partir da necessidade de se criar uma instituição
escolar e que desenvolvesse assim como apresentasse a seus alunos o conhecimento
independente do olhar e crivo da Igreja, mas um olhar voltado a partir dos ideais republicanos
na perspectiva de eliminar o analfabetismo assim como transmitir regras sociais morais úteis
a massa popular, com conhecimentos voltados ao progresso dos grupos sociais a qual
pertencem, voltando sempre o pensamento a sua pátria.
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III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015
FIGURA 1. Fachada do Grupo Escolar Esperidião Marques. Fonte: Acervo pessoal (2010)
Este objetivo de trazer a educação escolarizada à população em massa, de acordo com
Saviani (2006), deveria ser de responsabilidade do poder Central, que teria a tarefa de
organizar e manter integralmente escolas em todo território brasileiro, principalmente o
ensino primário.
Entendemos que uma estratégia utilizada pelos poderes constituídos, no sentido de
atrair crianças e jovens para a escola, era a publicação evocativa nos jornais locais, no sentido
de sensibilizar os pais para realizar as matrículas de seus filhos, conforme revela o fragmento
de um noticiário publicado no Jornal A Razão - de 08 de dezembro de 1927 - a respeito do
encerramento do ano letivo:
Encerrou o ano letivo com uma modesta festa escolar, de conformidade coma praxe invariavelmente seguida no grupo escolar desde a sua fundação. Osalunos, e principalmente as alunas da casa porfiaram em manifestar seu regozijo,recitando e cantando poesias, cançonetas e hinos, obedecendo a umprograma seleto e de muitos números. Foram distribuídos boletins de promoção,prêmios aos alunos aprovados com distinção (10) e diplomas aosque concluíram o curso preliminar (8), quatro de cada seção. A festa se designou deassistir os representantes dos Srs. Bispo Diocesano e intendenteGeral, e os senhores Juiz de direito da comarca Comandante da GuarniçãoFederal e da Força Pública e outras autoridades civis e militares, famílias,cavalheiros e a petizada do estabelecimento e de fora. Realçou a festa umaorquestra de exímios amadores da arte de Carlos Gomes (JORNAL A RAZÃO,1927).
Havia nesse sentido, interesse das autoridades em centrar investimentos na realização
de festas cívicas pontuais, envolvendo datas históricas, momento de encerramento do ano
letivo, festas voltadas para prestação de homenagens às autoridades regionais.
A partir da compreensão de que a criação do Grupo Escolar Esperidião Marques em
Cáceres – MT, que representou o marco inicial na organização da educação e também para a
consolidação do republicanismo nesta cidade, apresentando então como sendo um espaço
social de consolidação desta educação proposta pelo governo tendo como fonte de inspiração
outros estados na linearidade do ensino gratuito e público.
Nessa perspectiva, o governo mato-grossense projetou a criação do Grupo Escolar
Esperidião Marques (GEEM) e, acompanhando a lógica de instalação dos Grupos Escolares,
foi determinada sua expansão, que só se fez da forma mais onerosa possível a partir da
construção de um prédio próprio, destinado à atividade educacional. Era a tentativa de romper9
III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015
com a forma tradicional de funcionamento das escolas brasileiras, as quais, na grande
maioria, funcionavam em espaços físicos adaptados ou num espaço improvisado pelo próprio
professor.
O novo modelo de educação, representado pelos grupos escolares “[...] surgiu
primeiramente com a tarefa de garantir - por meio do ensino - que a população em seu
conjunto fosse homogeneizada, e, para tanto, o conhecimento das primeiras letras e das
noções de coisas era requisito básico” (REIS, 2006, p. 202).
Através de um regime disciplinar que caracterizava os grupos escolares instalados nos
mais distintos lugares do país. A disciplinarização estava no bojo do prédio planejado como
da instituição escolar. Ali meninos e meninas eram separados. O espaço físico tinha que ser
estruturado para isso. A edificação, sob comando do empreiteiro construtor Sr. Capitão José
Corbelino, devia conceder ao Grupo Escolar Esperidião Marques (GEEM) sua existência
material. Emergia no espaço central da cidade uma escola tipicamente urbana, transformando-
se num dos mais imponentes prédios públicos do município de Cáceres.
Nas listas, a partir dos jornais Argos e a Razão, dos relatórios e dos ofícios,
encontrados na sede do arquivo público em Cuiabá, devemos destacar alguns nomes que se
dedicaram ao exercício da educação nos anos de 1910 a 1947.
Nessa listagem detectamos pessoas cujas trajetórias de vida foram dedicadas à
educação no Estado de Mato Grosso, a exemplo do professor José Rizzo.Diretor que veio de
São Paula nessa perspectiva de mudança o qual acompanha a obra desta unidade escolar. E
seguindo seus passos tivemos o cuiabano Demétrio da Costa Pereira, e também o cacerense
Dormevil Malhado da Costa e Faria, cacerense filho de Joaquim da Costa Faria e Isaura
Malhado da Costa e Faria.
Sua fundação esteve ligada diretamente ao processo de desenvolvimento da cidade, em
face da consolidação do regime republicano. Seu funcionamento passou a ocorrer num prédio
localizado na Rua General Osório, onde hoje funciona o Arquivo Municipal. Ali se agruparam
três escolas: a) a masculina que tinha como diretor Professor Octavio Motta; b) a feminina
com a professora Ritta Garcia e c) a mista com a professora Escolástica Botelho.
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Em 31 de agosto de 1913, o Jornal A Razão disponibilizou notícias sobre as primeiras
propostas apresentadas à Secretaria dos Negócios de Agricultura e Obras Públicas, para a
construção do Edifício do Grupo Escolar da cidade de São Luiz de Cáceres. A imprensa local
em conjunto com o correspondente do periódico Diário da Capital fez o seguinte registro:
O Dr. João da Costa Marques [irmão do Governador], Secretário da Agricultura, deacordo com o parecer da junta de arrematação, resolvem autorizar o Sr. Dr. Diretorde Obras Públicas a lavrar contrato com o Sr. José Corbelino, para a construção doGrupo Escolar de São Luiz de Cáceres e cuja proposta no valor de $207.500.000, é amais vantajosa para os interesses da Fazenda Estadual (A RAZÃO, 1913).
A matéria informa que o Sr. José Corbelino havia solicitado aditamento a uma
proposta anterior, mas acabou autorizando por telegrama seu procurador a fazer uma redução
de 5% sobre o valor da proposta, que ficou reduzido a $196.125.000, vencendo a licitação que
envolveu outros dois proponentes - os Srs. Francisco Affonso Ramires que pediu
$219.000.000 - e Vilá S. Rueda com $295.000.000.
Os prédios, além de cumprir a finalidade utilitária e funcional, deviam também
imprimir sua dimensão social, simbolizar os novos valores a serem incorporados pela
sociedade e traduzir a construção de uma nação moderna pautada na cultura e na educação.
Rosa Fátima de Souza (1998), assim refere-se ao caracterizar os primeiros grupos
escolares do Estado de São Paulo, surgidos nos albores da República:
Estes edifícios puderam sintetizar todo o projeto político atribuído à educaçãopopular: convencer, educar, dar-se a ver! O edifício escolar torna-se portador de umaidentificação arquitetônica que o diferenciava dos demais edifícios públicos e civisao mesmo tempo em que o identificava como um espaço próprio, lugar específicopara as atividades de ensino e do trabalho docente. Na arquitetura escolarencontram-se inscritas, portanto dimensões simbólicas e pedagógicas (SOUZA,1998, p. 123).
A escola, no início do regime republicano, torna-se o símbolo da nova ordem, ou nas
palavras da Marta Carvalho ‘o sinal da diferença que se pretendia instituir entre um passado
de trevas, obscurantismo e opressão, e um futuro luminoso em que o saber e a cidadania se
entrelaçariam trazendo o Progresso’ (SOUZA, 1998, p. 123).
O Jornal A Razão, publicado no dia 9 de fevereiro de 1935, apresentou detalhes sobre
o processo de criação da caixa escolar no Grupo Escolar Esperidião Marques, por iniciativa
dos professores da instituição:11
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Elzira Garcia de Arruda “ “ 5Teresa Fontes “ “ 5Clarice Fanaya “ “ 4Brígida Benedita Leite “ Simplesmente 3,5Lucidia Avelina de Moraes “ “ 3,5Ana Rita de Oliveira “ “ 3,3Zulmira Barros “ “ 3Paulina Enedina da Silva “ “ 3Fonte: A Razão (1912). Organização: Silva (2010).
Ao término de cada ano letivo, os resultados eram divulgados amplamente. A lista das
notas obtidas pelos alunos do Grupo Escolar Costa Marques, sobretudo dos exames finais,
publicava-se na imprensa local: ‘Amanhã, domingo, o Grupo Escolar desta cidade estará em
festas para a distribuição de prêmios e diplomas aos seus alunos. As festas que serão públicas
e realizar-se-ão às 9 horas do referido dia, não havendo convites’. Comunicava-se a população
da cidade das realizações do GEEM, demonstrando os resultados dos seus alunos à
comunidade.
Algumas Considerações
Com essa perspectiva, entendemos que nosso trabalho se insere na corrente de
esforços interpretativos que vem sendo realizado no campo da história, no sentido de fazer
avançar os estudos regionais acerca das instituições escolares. Procuramos discutir o GEEM,
no contexto da historia nacional, mas considerando seu aspecto singular, como uma
instituição localizada em área de fronteira (Brasil-Bolívia), contando com a participação de
diferentes atores sociais, possuindo enfim, uma história única, distinta. Em relação aos
inúmeros Grupos Escolares implantados no país na primeira metade do século XX.
E então os jornais enquanto pistas para a tessitura desta reflexão, nos permite uma
perspectiva de metodologia a ser cruzada com outras fontes de informação, permitida a partir
do entrelaçamento dos fatos históricos e compostos por um perfil próprio ao se rever o
passado e sentir os acontecimentos por um outro olhar. A imprensa nos permite revisitar o
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III EHECO – Catalão‐GO, Agosto de 2015
passado, ainda mergulhada na dimensão que o autor da matéria nos permite. Enfim o retrato
do cotidiano por outros olhares.
Observamos também que, o Grupo Escolar Esperidião Marques desde sua criação em
1912 - até o ano de 1947, data final do recorte - afigurou-se como instituição de relevo para a
sociedade cacerense, a despeito de caracterizar-se como escola pública, nacionalista e laica.
Constituída num do edifício em estilo arquitetônico neoclássico.
Dispondo de prédio próprio, diretor (gestor) e quadro docente permanente para atuar
no ensino em séries iniciais, o GEEM desempenhou o papel indispensável para a difusão dos
ideais da República. Para cumprir o projeto republicano, a escola adotava procedimentos
básicos, alguns deles expressos em códigos de conduta que iam desde práticas diárias em sala
de aula, passando por imputação de valores ligados ao amor à família, desprendimento,
abnegação, dignidade pelo trabalho, e alcançavam exigências de posturas ou condutas a serem
incorporadas fora do âmbito escolar envolvendo disciplina, civismo, polidez, entre outros.
Estes valores nacionalistas eram trabalhados dentro da escola traduzidos nos cultos aos
símbolos nacionais como hino, bandeira, brasões e cerimônias de homenagens aos vultos
históricos brasileiros.
Nos escritos da imprensa em Mato Grosso, ao que se refere a Grupos Escolares, a
linearidade não se faz presente. Temos sim um perfil da história pelos jornais com datas
ausentes e ainda nos deparamos com o silenciamento em alguns fatos sociais e demais
eventos .
Ainda percebemos o jornal que retrata a unidade, dos fatos que dizem respeito a
grupos próprios, sendo o jornal não apenas local social, mas sim social e global. Pois agrega
fatores e demonstram características gerais. Fatores que podem contribuir com a compreensão
desta temática.
Devemos apontar ainda que foi uma prática de demonstrar ações e posturas de um
sistema novo de governo voltado para a educação de qualidade nos idos de 1910. Cem anos
depois tivemos a oportunidade de presenciar a notícia desta mesma Instituição de Ensino a
ocupar páginas da imprensa escrita, com outras características, permeadas pela
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transformação, embora ainda apresentada mostra a sociedade cacerense a Escola e suas ações
voltadas para a comunidade.
FONTES E REFERÊNCIAS
1.1 Álbuns
AYALA, S. Cardoso; SIMON, Feliciano. Álbum Graphico do Estado de Matto-Grosso, 356 p.
1.32 Jornais
JORNAL A RAZÃO. Cáceres, 01 de dezembro de 1912.
JORNAL A RAZÃO. Cáceres, 15 de dezembro de 1912.JORNAL A RAZÃO. Cáceres, 02 de março de 1935.JORNAL A RAZÃO. Cáceres, 02 de fevereiro de 1945.
2. BIBLIOGRAFIA
ALVES, Gilberto Luiz. Nacional e regional na história da educação brasileira: uma análisesob a ótica dos estados matogrossenses. In: Sociedade Brasileira da História da Educação.(Org.). Educação no Brasil: história e historiografia. Campinas: Editora Autores Associados,2001, p. 163-188.___________________. Educação e História em Mato Grosso 179-1864. Campo Grande:
UFMS, 1996.
BAUAB, Maria Aparecida Rocha. O ensino normal na Província de São Paulo (1846-1889):
subsídios para o estudo do ensino normal no Brasil - Império. 1972. (Tese de Doutorado).
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, São José do Rio Preto, 1972.
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