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1 NA MEMÓRIA A HISTO-GEOGRAFIA DO MUNICÍPIO DE CORUMBATAÍ SP, NO DECORRER DO SÉCULO XX, CONTADA POR SEUS MORADORES E SUAS MORADIAS Ivan Carlos ZAMPIN 1 RESUMO Este artigo tem por finalidade demonstrar a importância das construções antigas da cidade de Corumbataí SP, para a vida e a identidade de seus habitantes, constatando que o município passou por várias fases de desenvolvimento econômico principalmente na agricultura, onde até em dias atuais há a predominância de sua economia agrícola, assim, várias situações políticas pelas quais o Estado e o País consagraram como momentos difíceis tais como, a crise do café na década de 1930 e a revolução constitucionalista de 1932, afetaram e muito a evolução histórica das administrações do município que apenas no final do ano de 1948 foi emancipado e, portanto desmembrado do município de Rio Claro. Essa abordagem sobre o município de Corumbataí quer demonstrar como as pessoas, nos dias atuais mantém sua identidade e seu prazer por morar nesta cidade, onde é evidenciado esse fato pelas reformas em uma quantidade impar de residências e estabelecimentos comerciais por toda a malha urbana e ainda mostrar que os munícipes cultuam a predominância de valores éticos e morais, construindo a cidadania, devido a sua cultura em particular. Palavras-chave: Construção. Cidadania. Ética. Moral. Corumbataí. Agricultura. INTRODUÇÃO No Estado de São Paulo Brasil, a expansão de atividades econômicas industriais e agropecuárias, fez e faz atualmente com que haja em muitas cidades de seu interior, sucessivas transformações emergentes pelo movimento de capitais aplicados em determinados segmentos ou setores da economia dos municípios. Com esse discurso introdutório dá-se inicio a uma analise histórica na região administrativa de Rio Claro SP no final do século XIX, onde o regime empregado na agricultura era escravocrata-latifundiário e que as terras produtivas estavam a disposição da monocultura do café. A partir do final do século XIX e inicio do século XX, registra-se neste espaço geográfico uma situação de progresso devido ao desenvolvimento dessa monocultura e com o aumento do consumo do café, o Brasil se torna o maior produtor exportador mundial e mais fazendas são instaladas nessa região com a finalidade suprir essa necessidade de produção, havendo em contrapartida a necessidade de meios de escoamento dessa produção. Foi nesse momento que se fez necessária a implantação de sistemas ferroviários que tiveram a função de desenvolver muito rapidamente o interior de 1 Professor Doutor Centro Universitário de Araras-SP - Dr. Edmundo Ulson, UNAR e Educação do Estado de São Paulo.

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NA MEMÓRIA A HISTO-GEOGRAFIA DO MUNICÍPIO DE CORUMBATAÍ – SP,

NO DECORRER DO SÉCULO XX,

CONTADA POR SEUS MORADORES E SUAS MORADIAS

Ivan Carlos ZAMPIN1

RESUMO

Este artigo tem por finalidade demonstrar a importância das construções antigas da cidade

de Corumbataí – SP, para a vida e a identidade de seus habitantes, constatando que o

município passou por várias fases de desenvolvimento econômico principalmente na

agricultura, onde até em dias atuais há a predominância de sua economia agrícola, assim,

várias situações políticas pelas quais o Estado e o País consagraram como momentos

difíceis tais como, a crise do café na década de 1930 e a revolução constitucionalista de

1932, afetaram e muito a evolução histórica das administrações do município que apenas

no final do ano de 1948 foi emancipado e, portanto desmembrado do município de Rio

Claro. Essa abordagem sobre o município de Corumbataí quer demonstrar como as

pessoas, nos dias atuais mantém sua identidade e seu prazer por morar nesta cidade, onde é

evidenciado esse fato pelas reformas em uma quantidade impar de residências e

estabelecimentos comerciais por toda a malha urbana e ainda mostrar que os munícipes

cultuam a predominância de valores éticos e morais, construindo a cidadania, devido a sua

cultura em particular.

Palavras-chave: Construção. Cidadania. Ética. Moral. Corumbataí. Agricultura.

INTRODUÇÃO

No Estado de São Paulo – Brasil, a expansão de atividades econômicas industriais e

agropecuárias, fez e faz atualmente com que haja em muitas cidades de seu interior,

sucessivas transformações emergentes pelo movimento de capitais aplicados em

determinados segmentos ou setores da economia dos municípios.

Com esse discurso introdutório dá-se inicio a uma analise histórica na região

administrativa de Rio Claro – SP no final do século XIX, onde o regime empregado na

agricultura era escravocrata-latifundiário e que as terras produtivas estavam a disposição

da monocultura do café. A partir do final do século XIX e inicio do século XX, registra-se

neste espaço geográfico uma situação de progresso devido ao desenvolvimento dessa

monocultura e com o aumento do consumo do café, o Brasil se torna o maior produtor

exportador mundial e mais fazendas são instaladas nessa região com a finalidade suprir

essa necessidade de produção, havendo em contrapartida a necessidade de meios de

escoamento dessa produção. Foi nesse momento que se fez necessária a implantação de

sistemas ferroviários que tiveram a função de desenvolver muito rapidamente o interior de

1 Professor Doutor Centro Universitário de Araras-SP - Dr. Edmundo Ulson, UNAR e Educação do Estado

de São Paulo.

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São Paulo e assim, essa região.

Nesse contexto, com os vários investimentos direcionados para esse fim é que muitas áreas

de florestas foram devastadas, tanto para a passagem dos trilhos, como também para uso

como lenha, gerando calor nas caldeiras das máquinas a vapor, portanto para amenizar o

problema, entra em cena um homem que viria a ser um dos maiores pesquisadores do

Brasil de todos os tempos, ou seja, nessa fase inicial do século XX, “Navarro de Andrade”

é nomeado como personagem principal, com o intuito de dirigir esse projeto para a

companhia de estradas de ferro, onde se começa a pensar em como implantar um sistema

que pudesse ser útil de várias formas. Com esse intuito depois de muitos estudos, ficou

definida a compra de diversas áreas no Estado, onde se plantou, ou se reflorestou essas

mesmas áreas com Eucaliptos, possibilitando com que a empresa ferroviária não só

ganhasse no aspecto financeiro, mas também estaria protegendo os ecossistemas

biológicos, dentro dessas áreas geograficamente importantes para o Estado e porque não

para o País.

Com essa abertura e implantação das malhas ferroviárias nessa região, o progresso tanto

material como cultural se acelera na vida dos habitantes locais, considerando

particularmente o município de Corumbataí, que passa a existir historicamente no dia 3 de

Março de 1821, quando o Capitão das ordenanças de Jundiaí, Francisco da Costa Alves,

recebeu em doação, uma sesmaria no Sertão do Morro Azul, conhecida como Sesmaria do

Rio Corumbataí.

O processo de desenvolvimento desse município, só foi impulsionado quando, a Empresa

“Barão do Pinhal e Cia” interligou por via férrea, a cidade de Rio Claro a São Carlos,

passando com seus trilhos, pela Sesmaria do Rio Corumbataí. No local, foi construída uma

estação ferroviária, facilitando o embarque e desembarque tanto de pessoas como de

mercadorias, principalmente o café e que recebeu a denominação de Estação Corumbataí.

Assim, o pequeno núcleo populacional que começou realmente a crescer junto à estação

ferroviária, deu origem à cidade de Corumbataí, por volta do ano de 1884.

Seu crescimento segundo dados históricos foi lento. Em função de sua evolução, em 1905,

foi criado o núcleo colonial Jorge Tibiriçá, onde partes das terras da antiga sesmaria foram

loteadas, resultando na imigração de colonos russos, alemães, lituanos, espanhóis e

italianos. Na condição de trabalhadores braçais é que nesse município se fixaram atraídos

então pelas facilidades oferecidas para a aquisição de pequenas propriedades agrícolas. Na

seqüência do desenvolvimento do local em 1912, foi lançada a pedra fundamental da

Capela em louvor a São José do Corumbataí. Em 1918, recebeu as primeiras fiações de

energia elétrica.

Outro fato importante para o município foi a criação e implantação da lei 1.669 de 27 de

novembro de 1919, onde o mesmo foi elevado à categoria de Distrito de Paz,

compreendendo os povoados de Morro Grande e Ferraz. Em 1937, a cidade inaugurou a

sua rede de abastecimento de água.

Em 1948, pela Lei 233, no dia 24 de Dezembro, o município de Corumbataí foi

desmembrado de Rio Claro passando a categoria de Município, porém, não mais possuindo

os povoados de Morro Grande e Ferraz que ficaram e são integrados ao Município de Rio

Claro até nos dias atuais.

Sua população hoje é de 3.800 habitantes, sendo que no auge da produção cafeeira chegou

a ter quase 10.000 habitantes. A economia está baseada na agricultura, pecuária, pequeno

comércio e indústria. Em análise de sua paisagem urbana apresentada pela realidade atual,

Corumbataí – SP relata para seu visitante uma situação muito interessante de conservação

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histórica e cultural mostrando nos edifícios o grau apurado de afetividade que existe entre

o morador e sua habitação.

Esta cidade está vivenciando harmoniosa situação de ser um município preocupado com as

questões atuais de qualidade de vida de seus munícipes e o trato acolhedor com os

visitantes ou turistas. Em virtude dessa relação topofílica, a cidade está nesse momento

revitalizando dezenas de construções, ou seja, casas e edificações usadas para o comercio

local, valorizando a arquitetura autêntica de épocas passadas, onde a cidade recebeu o

maior impulso desenvolvimentista a partir da década de 1930 com as culturas

primeiramente do café como já foi dito e depois da batata nas décadas de 1940 a 1960.

O município apresenta ótimos índices, de qualidade e expectativa de vida, muito altos,

considerados principalmente pela satisfação que a população tem em viver num local

tranqüilo sem os problemas de uma metrópole evidenciando que: “a infra-estrutura local

disponibilizada para a população abrange recursos de qualidade nas áreas da saúde,

educação, transporte e segurança.”

Portanto, esse trabalho mostra as identidades existentes entre os cidadãos, suas moradias

ou edifícios, sua cultura no decorrer do tempo e as ações falhas do poder público na

questão do entorno ambiental em detrimento do bem estar do cidadão local.

OBJETIVOS

Este trabalho de pesquisa sócio – cultural no município de Corumbataí – SP, se dá pelo

fato de se poder falar das construções que existem desde o início do século passado e que

até nos dias atuais influenciam o habitat da população da cidade, pois estão realmente

envolvidas com as raízes culturais que fixaram essas pessoas no local, definindo as

relações de afetividade e identidade com os cidadãos e suas famílias.

MATERIAIS E MÉTODOS

O Município de Corumbataí-SP está localizado geograficamente na parte alta da bacia, no

alto curso do Rio Corumbataí, mais próximo de Analândia-SP considerando sua distância

até Rio Claro, sua localização descrita pelo software Trackmaker, aponta o quadrante com

latitude 22,200° a 22,250° de norte para sul e longitude 47,600° a 47,650° de leste para

oeste e sua altitude é de 608 metros acima do nível do mar, neste contexto o Rio

Corumbataí corta a cidade e ainda recebe como afluente o Córrego Santo Urbano com suas

margens amplamente degradadas, sem vegetação ciliar em grande parte de seu trajeto.

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Figura 1: Recorte feito a partir do software Trackmaker onde a mancha marrom representa o município de Corumbataí-SP, tendo como referência o Rio Corumbataí, cortando a cidade (Criação: Ivan Carlos Zampin, 8/2008).

METODOLOGIA

A metodologia aplicada a esse estudo consiste em visitar e entrevistar vários moradores da

cidade de Corumbataí, de forma a levantar o grau de satisfação com que o munícipe

expressa sua interação com os espaços urbanos que ali existem, ou seja, espaços esses

destinados ou com a finalidade de moradia e também de lazer, cultura, esportes, saúde,

trabalho e educação, interpretando o seu nível cultural, os relacionamentos entre os

cidadãos e os fatos que os prendem ou fixam nesse lugar, avaliando esta situação com um

olhar crítico e sintetizando esse espaço geográfico, histórico e político. Com relação à

política empregada no município, o olhar aguçado da pesquisa se defronta com uma

realidade triste considerando o entorno ou seu limite entre o espaço urbano e o rural, pois é

preciso realizar planejamentos em questão de expansão da cidade criando formas de

recompor o meio ambiente degradado, tanto nos aspectos da vegetação como nos recursos

hídricos que são de fundamental importância para toda a região.

LUGAR, IDENTIDADE E A RELAÇÃO DO SUJEITO COM O PASSADO E O

PRESENTE

O conceito de lugar pode ser entendido como primordial elemento para a existência

humana considerando que não há delimitações entre espaço, paisagem e lugar e nesse

contexto os lugares possuem suas paisagens e assim paisagem e os espaços também

possuem lugares. Nessa discussão segundo Leite (1994, p.70) em sua análise diz que - “é a

totalidade do espaço que empresta significado ao lugar, mas é a individualidade do lugar

ou da associação dos lugares que dá forma à paisagem.”

No sentido amplo da palavra lugar é notório que se pode distinguir dois tipos de ambiente

para o entendimento da paisagem, ou seja, a existência de uma paisagem natural com todos

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seus aspectos intocados, como por exemplo montanhas, vales, florestas, nascentes e rios,

sem então terem sofrido a ação antrópica e outra forma está nos sistemas urbanos ou

construídos pelo homem.

Com esse pensamento em um contexto integrado a ação, arremete-se para a relação que

existe entre a identidade, a topofilia e a percepção do lugar onde Oliveira, (2004, p. 22),

deduz que o meio ambiente pode ser entendido nessas duas formas já vistas e quanto ao

lugar que é,

[...] a sensação de aconchego, de finitude, de lar, da família. Tudo isso é

meio ambiente, resultante da experiência emocional e afetiva. Nós colorimos o nosso meio ambiente com as mais diversas cores. Ora vivas e

alegres, ora tristes e desbotadas. Daí em nossa visão ambiental

desenvolvemos um elo afetivo profundo, indissociável, que Tuan, com base em Bachelard, denominou de topofilia (OLIVEIRA, 2004, p. 22).

Portanto, é afirmativo dizer que é por esse viés que o geógrafo nessa linha de pesquisa

deve de forma geral entender e respeitar as experiências e vivências que as pessoas

possuem com os lugares onde as mesmas fazem a construção contínua de seu dia-a-dia,

suas memórias, amizades e afinidades. (ZAMPIN et al, 2008, p.3). Nesse debate, Tuan

(1980) diz que Topofilia em sua definição é:

[...] o elo afetivo existente entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico, sendo que para o autor a consciência do passado é um elemento

importante nessa relação de valores com o lugar de história e vivência e que os nativos demonstram mais intensamente o sentimento para com o

lugar, onde a percepção e o sentimento relacionado à beleza das flores ou de uma paisagem pode variar do efêmero ao intenso e que é a partir

dessas sensações que estiveram relacionadas com o lugar que estes

sentimentos passarão a ser considerados permanentes (TUAN, 1980).

Nessa relação existente entre a pessoa e o lugar, são produzidos os sentimentos e as ações

que no decorrer do tempo podem se desgastar, se manter absolutamente inertes, ou

aumentar incitando o cidadão a lutar e defender esse espaço local, muitas vezes pelos

caminhos políticos e que esses acontecimentos estão diretamente ligados com o

comportamento do ser humano, pois, sua relação com o meio ou com a comunidade onde

vive pode moldar sua personalidade que estará apoiada nas opções entre o bom e o mau ou

entre o bem e o mal, com o objetivo de afastar a dor ou o sofrimento e buscar o

contentamento em si mesmo ou alcançar a felicidade própria (ZAMPIN et al, 2008, p.3).

Segundo Chauí (2003, p. 306-307), os sentimentos e as ações morais

[...] são aquelas que dependem apenas de nós mesmos e não levados por

outros ou obrigados por eles: em outras palavras, o senso e a consciência

morais têm como pressuposto fundamental a idéia de liberdade do agente.

O senso moral e a consciência moral dizem respeito a valores,

sentimentos, intenções, decisões, e ações referidos ao bem e ao mal, ao

desejo de felicidade e ao exercício da liberdade. Dizem respeito às

relações que mantemos com os outros e, portanto nascem e existem como

parte de nossa vida com outros agentes morais. O senso e a consciência

morais são por isso constitutivos de nossa existência intersubjetiva, isto é,

de nossas relações com outros sujeitos morais (CHAUI, 2003, p. 306-

307).

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Nessa contextualização entra a questão da relação do sujeito com o passado e o presente que realizam uma interação entre si, fazendo surgir daí a historiografia que pode questionar

o passado para determinar historicamente questões ou fatos do momento atual. Assim Lefevre (1970, p.241) suscita que a história

[...] recolhe sistematicamente, classificando e agrupando os fatos passados, em função de suas necessidades atuais. É em função da vida que ela

interroga a morte. Organiza o passado em função do presente: assim

se poderia definir a função social da história (LEFEVRE, 1970, p.241).

Portanto, com essa definição é que se podem nortear os caminhos para esse estudo, que a

partir de agora se dirige para o âmago da história social, ou seja, visitar os munícipes que

se predispuseram a falar de seu lugar, suas identidades e de suas relações com o passado e

o presente que viveu e vivem no município de Corumbataí destacando a afetividade que

despertam para com suas moradias. RESTAURANTE FAMÍLIA CASSEB

(1) (2)

Figuras 1 e 2: Esse prédio comercial segundo o Sr. Kaissar João Casseb, foi em 1949 o local que

abrigou a primeira prefeitura após a emancipação do município em 1948, desmembrando-o de Rio

Claro. Nesse momento e já há várias décadas sua família está no comando desse restaurante no centro da cidade, que no mês de julho/2008, recebeu uma pintura externa e melhoria geral nas

acomodações para atender melhor os clientes, diz ele: “tanto esse prédio como o da loja de aviamentos em frente, fazem parte da minha família há décadas, ainda contando que meus pais que

são Libaneses, chegaram há Corumbataí já a mais ou menos 100 anos e construímos raízes nesse lugar” (Foto: Ivan Carlos Zampin, 07/2008).

Em conversa com o Sr. Kaissar João Casseb, pôde-se perceber o quanto essa cidade é

importante para o mesmo, com uma demonstração de sentimentos, afinidade e satisfação

de ser filho da “terra” e principalmente que esse local traz muitas recordações, comentando

em muitos momentos que parte dessa história é relembrada em muitas fotos e em um livro

de um determinado autor que retrata essa história. Assim, faz um relato importante até

surpreendente e que faz parte dessa história, diz ele: “em tempos passados havia em

Corumbataí uma fábrica de fiação de seda, que tinha muitos trabalhadores envolvidos

desde a plantação de amoras, colheita das folhas, cultivo do bicho da seda e a fiação desse

fio especial que era exportado para o Japão, o prédio dessa fábrica está conservado até

hoje”; como se pode ver nessa imagem a seguir:

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Figura 3: Essa imagem mostra a fábrica de produção de seda, que funcionou aí há décadas

passadas a qual é relatada no testemunho do Sr. Kaissar João Casseb e que está muito bem conservada, em Setembro de 2008; essa construção pertencia ao Sr. Afonso Rivabem que foi o

empresário da seda no município e nos dias atuais pertence ao Sr. Francisco Kiefer (Foto: Ivan Carlos Zampin, 07/2008).

Nesse contexto os relatos do Sr. Kaissar são de extrema importância, pois é com muita

tristeza que descreve a desativação da passagem da estrada de ferro pelo município e hoje

se tem a impressão e notoriedade de que o progresso chegou a esse local em uma época

passada e que nos dias atuais regrediu seu impulso desenvolvimentista pela falta de

aplicação política de seus prefeitos. Segundo sua memória, havia também um viaduto

construído com a chegada da estrada de ferro pelos ingleses que foram os construtores da

malha ferroviária e com a desativação da ferrovia em 1967, o mesmo foi demolido e com

ele parte da história do município. Considerando esse assunto pertinente de suas memórias

sobre a ferrovia e sua passagem por Corumbataí chegando até Anápolis, hoje Analândia,

fala ainda da mudança nas bitolas da via férrea e que na estação de Rio Claro que era o

ponto de partida para os trens ainda se conserva um trecho com esses trilhos até os dias

atuais.

Nesse momento chega para a conversa o Sr. Nelson José Nocce que possuiu em tempos

atrás uma pequena fábrica de materiais, implementos agrícolas e também de carroças que

supriam as necessidades dos sitiantes da região, que ele diz: “eram utilizadas para o

transporte de leite e também de algodão, onde no caso do leite a gente tinha aqui em

Corumbataí um posto de recebimento e resfriamento de leite que era da Nestlê, com sua

fábrica de produtos em Araras, no caso se tinha duas ordenhas no dia, ou seja, de manhã e

a tarde, chegando a produção de 30.000 Litros de leite por dia, fazendo com que era um pra

lá e pra cá de carroças durante o dia todo”.

Nessa conversa dos velhos tempos também surge outro fato importante para épocas

passadas que foi existência de uma beneficiadora de algodão, onde segundo os dois

cidadãos muitos sítios ao redor da cidade produziram essa matéria prima destinada para as

indústrias têxteis nas décadas de 1940/1950.

Nessa trajetória seguida pelos dois entrevistados, fica demonstrada uma grande afetividade

e memória histórica dessa cidade, onde descrevem juntamente com o Sr. Henrique Macedo

Filho, mais um cidadão com raízes fincadas nessa “terra”, como dizem, que no alto da

serra, ou seja, acesso esse por estrada de terra existe um ponto turístico ou mais uma

residência sendo reformada, que em realidade foi uma construção feita por escravos no

século XIX e que até hoje continua imponente pela sua beleza arquitetônica e histórica

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nessa região, sendo chamado de sítio ou fazenda “Monte Alegre, um lugar no alto da serra

e que ali venta muito”, como pode ser visto abaixo se tem a imagem dessa sede da fazenda.

Figura 4: Essa imagem retrata o casarão que é a sede da fazenda Monte Alegre, e que está sendo

reformada pelo seu proprietário, uma arquitetura do século XIX, a construção é toda rodeada por muralhas de pedra encaixada e sem uso de algum tipo de massa nas juntas, onde ao lado existe uma capela e um galpão que também é construído com pedras encaixadas (Foto: Ivan Carlos Zampin,

06/2008).

Assim, nessa conversa ou reunião de amigos os mesmos identificaram alguns pontos

turísticos ou propriedades na cidade e em seu redor como sendo de famílias que fizeram e

fazem a história do município de Corumbataí, ou seja, Fazenda Santo Urbano, Fazenda

Morro Grande, Fazenda Roncador, Fazenda Monte Alegre, como já foi citado, Serra do

Capitão e pontos na cidade tais como o clube de baile, a praça central com a capela de São

José, a praínha com seu campo de futebol de areia, que em dias atuais está mal conservada

e há um consenso entre os mesmos de que pode não parecer mas as transformações

políticas impostas a população trazem muitas vezes alegres e também tristes recordações

de um tempo que não volta mais.

Nesse contexto dos depoimentos é possível perceber a sintonia que esses munícipes

possuem com relação aos pontos de convergência dessa base historiográfica, ou seja, a

história oral é acompanhada de documentos que formalizam a cultura dos cidadãos e que é

fato abordado em (Machado (2005) apud Mendes e Lombardo (2005) Org.), onde a autora

descreve: Mais do que nos preocupamos com as divergências teóricas entre as

várias vertentes da produção historiográfica, todavia, pretendemos nos

ater aos pontos de convergência entre elas. O mais importante desses

pontos, a nosso ver, é o ponto de convergência entre elas. O mais importante desses pontos, a nosso ver, é o conceito de tempo, que vai

além da percepção das noções entre passado, presente e futuro, com as

quais mais nos relacionamos. Consiste na verdade, em uma percepção

que exige centros de perspectivas bem mais complexos: os seres humanos

são capazes de elaborar uma imagem mental na qual os eventos

sucessivos acontecidos no passado estejam presentes em conjunto e, ao

mesmo tempo exista a consciência de que há diferença cronológica dentro

do passado (MACHADO (2005) apud MENDES; LOMBARDO (2005)

Org. p. 275).

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Consequentemente é real para esse trabalho o fato de se valorizar a memória desses

entrevistados, pois, confirma-se que a palavra das conversas são transmitidas através do

tempo e que em alguns casos só se tem os fatos em forma da testemunha oral e não

registradas em documentos, assim é dada a devida importância de acordo com, (Machado

(2005) apud Mendes e Lombardo (2005) Org. p. 275), na valorização da memória

[...] como fonte histórica validava a importância da metodologia da História Oral, surgida na década de 50, mas só reconhecida nos meios acadêmicos, passando a fazer parte de “arquivos orais”, a partir dos anos 60, quando a subjetividade tornou-se objeto legítimo de investigação científica.

Nesse ínterim, segundo os entrevistados muita coisa é perdida no tempo e fica difícil

manter as tradições ou as raízes como dizem, mesmo considerando que Corumbataí é uma

cidade de pequeno porte, pois são nos caminhos da política local que estão as principais

razões desses acontecimentos, onde a esperança dos moradores mais antigos está na

possibilidade de que se tenha à frente dessa situação uma figura ou um representante que

realmente trabalhe para o progresso, mas que também cuide para o bem estar desses

cidadãos e da tradicionalidade das famílias do local. Essa colocação foi feita devido aos

acontecimentos atuais nesse município, demonstrando que os cidadãos estão cada vez

menos participando das festividades, eventos e atos religiosos e ainda dos fatos políticos do

município.

É com muita emoção que presenciamos a fala dessas pessoas que colocam seus

sentimentos para falar de seu lugar onde sua identidade está ligada a fatores de toda ordem,

ou seja, social, política e trabalhista, que para esse momento entra com alguns testemunhos

o Sr. Vicente Rigitano, explanando dentre os muitos assuntos abordados até aqui, a questão

de que o “município de Corumbataí foi o primeiro no Brasil a pensar em reforma agrária,

onde essa fala é documentada no momento em que os imigrantes receberam terras para

plantar no entorno do município ou vilarejo nessa época, assim, foram escrituradas 618

(seiscentas e dezoito) propriedades com aproximadamente 20 alqueires de terra que na

época serviram para acolher os imigrantes, italianos, poloneses, libaneses e alemães, dentre

muitos outros povos que para cá vieram”.

Nessa pesquisa extraída das conversas de pessoas que nesse município moram, muitas

emoções são postas para fora e uma delas é realmente sentida no tom da conversa a qual é

a união por estarem ou pertencerem a essa localidade, fato esse que enobrece os

sentimentos, engrandece os valores morais e éticos e faz essas pessoas se sentirem donas

ou possuidoras desse lugar onde moram.

Com essas conversas com os moradores chegamos a residência do Sr. Antônio Lazarini

que é natural dessa cidade e que mora nesse mesmo endereço há 56 anos, em nossa

conversa mostra que tem um grande conhecimento sobre os acontecimentos da sociedade e

das transformações ocorridas nesse espaço geográfico, tanto da política como da

organização das famílias na cidade, pois, foi funcionário público da prefeitura e isso

facilitou conhecer a todos, assim fala de sua história de vida começando seus trabalhos na

fazenda Santo Urbano que nessa época pertencia a família de Silvio Venturoli no final da

década de 1930, assim da fazenda Roncador, na década de 1950 veio para a cidade que

nessa época estava se desenvolvendo em ritmo acelerado, trabalhando então como

funcionário público. Diz ele ainda que: “nas horas de folga sempre mantinha a rocinha de

arroz que plantava nas margens dos córregos que deságuam no Rio Corumbataí”, assim

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criou os filhos e hoje tem os netos e bisnetos que o visitam quase todos fins de semana.

“Com sua esposa “Dona Cida”, vive contente apesar de ter uma dorzinha no joelho”.

Segundo sua fala, é possível notar a satisfação que tem em morar nessa cidade para a qual

dedicou sua vida, com muito trabalho e esforço, construindo a história de sua família nesse

pedaço de chão. Nas suas lembranças ainda relata o trabalho nas fazendas e uma passagem

de sua vida que aconteceu “na lavoura de algodão onde sua irmã, “Dona Ida Lazarini

Zampin”, quando colhia algodão encostou o pé em uma cobra cascavel que estava enrolada

num pé de algodão e que por ser um dia frio estava paradinha e não deu o bote, "que susto”

e o importante disso é que o acidente não aconteceu”.

Muitas lembranças vêm das memórias do passado, inclusive das festas principalmente

religiosas que aconteciam nas fazendas e que os fazendeiros proporcionavam para os

empregados, “era onde tinha missa, baile, samba e muita comida pra todo mundo”.

Como é possível perceber a identidade e percepção do lugar é lembrado com carinho e um

fato que é constante em sua fala nessa conversa são os acontecimentos que circundam a

família.

De forma geral quando os velhos moradores contam sobre sua vida ou sua história no

espaço geográfico dessa cidade os mesmos se identificam com os acontecimentos mais

importantes que suas memórias registraram e esse trabalho de pesquisa ainda tem muito

para acrescentar contando que apenas algumas famílias foram consultadas ou

entrevistadas.

A cidade de Corumbataí, constituída de muitas e tradicionais famílias que fizeram e fazem

desse município uma referência regional, mostra algumas das propriedades ou construções

que passaram e passam de pais para filhos no decorrer do tempo e apresentam uma

imagem de satisfação ou de alegria com o lugar.

Figura 5: Este prédio pertence durante décadas à família Perin, que foi e é uma das mais

tradicionais desse município. Hoje esse estabelecimento acondiciona um armazém que vende

diversos tipos de mercadorias destinadas aos trabalhos agropastoris, ou seja, ferramentas, selaria, venenos para controle de pragas e também materiais para construção (Foto: Ivan Carlos Zampin, 03/2008).

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Figura 6: Essa casa nos dias atuais está sendo utilizada para o funcionamento de uma loja de

produtos de limpeza e sempre pertenceu a família de imigrantes italianos, ou seja, de Felício Brancaglioni (Foto: Ivan Carlos Zampin, 03/2008).

Figura 7: Essa residência pertenceu a família Martinelli, que apresenta pela sua arquitetura tradicional a construção feita por volta da década de 1920, que foi fase de muito desenvolvimento econômico nessa cidade (Foto: Ivan Carlos Zampin, 03/2008). Figura 8: Essa casa pertence a família Pupo, que tem uma porta “bandeira” e com adereços acima

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da cabeceira da porta e janela, é uma construção do início do século passado. A construção está sobre um terreno de grande tamanho e no mesmo tem várias árvores frutíferas podendo destacar um pé de carambola, muito antigo (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008).

Figura 9: Essa construção tem o mesmo estilo de arquitetura da casa anterior, apresenta os pilares, porta “bandeira”, e janelas de madeira com os adereços em cima da porta e janelas, pertence à família de Domingos Panegasse que é muito tradicional da cidade (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008).

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Figura 10: Essa residência pertenceu durante muitos anos à família Perin, nesse momento está

passando por reforma e sua arquitetura foi mantida resgatando para a atualidade mais uma bela moradia que hoje, então pertence a Eduardo Catai (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008). Figura 11: Nessa esquina se encontra o mercado Zancheta, pertencente à família do Sr. Pedro

Antônio Zancheta que também é de uma das famílias de imigrantes italianos das mais antigas do município, sua arquitetura é do início do século passado e está localiza no centro com sua frente voltada para a praça que acondiciona a Matriz de São José (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008). Figura 12: Essa construção datada da época de 1930 está localizada na área central do município e

pertenceu a mais uma família de imigrantes italianos que trabalharam em Corumbataí, os Báccaro e em dias atuais essa residência pertence ao Sr. Aníbal Queiroz Pergher que também é descendente de imigrantes europeus (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008).

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Figura 13: Como se pode ver na imagem essa residência foi totalmente reformada e todas as

características de sua arquitetura conservada é mais uma construção da década de 1920, com uma sacada voltada para a rua e para a avenida, pertenceu e pertence até nos dias atuais à família Britzk, que também é tradicional de Corumbataí (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008).

Figura 14: Essa casa pertenceu e pertence à família Carrera, que também é tradicional desse

município, sendo uma construção da década de 1920 e está localizada na área central do município (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008).

(15a) (15b) Figura 15a e 15b: Eis aqui um bom exemplo de conservação patrimonial, a cadeia pública de

Corumbataí até o ano de 2007 estava em ruínas com aspecto péssimo de conservação (15a), assim no final do próprio ano de 2007 começaram as obras de reformas que realmente estavam na hora de

acontecer. É um prédio secular e que faz parte do patrimônio histórico dessa cidade. Como se pode perceber pelas imagens tem-se o antes e o depois das reformas, ficando notório que a beleza do

prédio foi realçada e dá uma aparência de volta ao passado (15b) (Foto: Ivan Carlos Zampin,

12/2007 e 06/2008).

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Figura 16: Essa residência está localizada próxima do Paço Municipal de Corumbataí, é uma

construção que manteve sua arquitetura desde a década de 1920. Um fato interessante é que

pertenceu a uma figura histórica da política dessa cidade e que foi assassinado por questões políticas adversas na década de 1950, o Sr. Humberto Venturoli, nos dias atuais essa residência

pertence a família do Sr. Pedro José Coletti, que também é tradicional desse município (Foto:Ivan

Carlos Zampin, 05/2008).

Figura 17: Esse ponto comercial da cidade pertence à Senhora Manoela Martinez e seus produtos e venda são de papelaria, em sua reforma manteve-se a arquitetura original e também é uma construção da década de 1920 (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008).

Figura 18: Nessa residência fato interessante é que em sua fachada está estampada em um quadro em alto relevo a data de sua construção que foi no ano de 1935, totalizando em dias atuais 73 anos de existência e história para a cidade de Corumbataí. Essa casa pertence em dias atuais à família de João Frederico Nogueira de Souza (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008).

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Figura 19: Esse prédio também foi reformado e pertence à família Bertagna com muita tradição no

município. Nesse local funciona o escritório de suas empresas e está localizado próximo á entrada ou via de acesso à cidade pela vicinal que liga Corumbataí à Rodovia Washington Luiz (Foto: Ivan

Carlos Zampin, 03/2008)

Figura 20: Essa residência pertenceu à família de Manoel Nogueira de Souza, é uma construção da

década de 1930 e hoje pertence a Priscila Tolentino (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008). Figura 21: Essa residência pertenceu à família de José Costa e em dias atuais à família Bertagna, sua arquitetura é da década de 1930/40 e fato interessante é que está localizada abaixo do nível da via pública (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008).

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Figura 22: Essa residência da década de 1920 pertenceu à família de Antônio Zaine e que chegou a ser um cinema segundo o Sr. Kaissar João Casseb, que se lembra de ter assistido ali filmes exibidos em três dimensões coisa muito desenvolvida para décadas atrás, em dias atuais esse prédio é usado como estabelecimento comercial e pertence a Sr. Alícia Billi (Foto: Ivan Carlos Zampin,

05/2008). Figura 23: Essa residência da década de 1930, pertence à família do Sr. Antônio Segóbia e fato

interessante que aconteceu é que em nossas entrevistas, o Sr. Nelson José Nocce, dentre as fotos de

centenas de residências identificou a casa de seu sogro e pôde-se sentir a identidade que o mesmo tem com a família e com o local onde mora (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008). Figura 24: Nesse prédio funciona a “Escola Profª Maria de Lourdes Pedroso Perin, que é uma

referência para o município contando com um ensino forte e conceituado, colaborando para a formação do cidadão de Corumbataí. Como se pode ver é mais um edifício restaurado e mantido de

forma conservada mostrando a organização e um ótimo visual das entidades públicas que estão

para atender a população em geral (Foto: Ivan Carlos Zampin, 05/2008).

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RESULTADOS OBTIDOS PELA PESQUISA

Em análise a esse conjunto de depoimentos ofertados pela população ou habitantes desse

local ou município, pode-se observar que são pessoas que estão satisfeitas com a localidade

e que o desenvolvimento social dessas famílias que compõem essa genealogia se

transformam em hereditariedade, ou seja, é incomum uma residência não pertencer a uma

mesma família por diversas décadas. Portanto essa situação de haver constantes reformas

estéticas nas casas é uma situação comum para os moradores, pois é um bem material que

passa de pai para filho e sempre mantendo a tradição de vivência dessa família nesse local.

Um fato interessante e convicto é a postura que os comerciantes apresentam na

circunstância de compra e venda junto à população, pois há uma estrutura de afetividade e

confiança presente entre as pessoas que se constrói por longas décadas, ou seja, essa

identidade vem com as lembranças de outro tempo onde todos trabalhavam “no pesado”, as

festas religiosas e os encontros na praça tinham a essência da troca de experiências e

cultivo de valores morais, éticos e o respeito pela família.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a finalidade de demonstrar a importância das construções antigas da cidade de

Corumbataí – SP, para a vida e a identidade de seus habitantes, constatando que o

município passou por várias fases de desenvolvimento econômico principalmente na

agricultura, onde até em dias atuais há a predominância de sua economia agrícola, assim,

várias situações políticas pelas quais o Estado e o País consagraram como momentos

difíceis, foram mostrados, pois, foram acompanhadas e sentidas pelos corumbataienses no

decorrer de suas vidas e um fato importante para muitos foi a criação oficial do município

que em 1949 teve a edificação da sede de sua Prefeitura.

Essa abordagem sobre o município de Corumbataí visou a constatação de como as pessoas,

nos dias atuais mantém sua identidade e seu prazer por morar nesta cidade, onde é

evidenciado esse fato pelas reformas em uma quantidade impar de residências,

estabelecimentos comerciais e públicos por toda a malha urbana e ainda mostrar que os

munícipes cultuam a predominância de valores éticos e morais, construindo a cidadania,

devido a sua cultura em particular.

Nessa realidade é possível identificar essa tal afinidade ou topofilia que o sujeito social tem

em seu íntimo, para com o seu lugar de vivência e convivência, por meio dos valores que o

mesmo atribui aos aspectos históricos que definem os culturais e sua satisfação por fazer

parte da escrita desse contexto.

Portanto é possível afirmar com toda certeza que a afeição e contentamento pelo lugar

podem vir a desempenhar um papel vital na transformação da realidade local, pois esse

ator social quando se sente dono, proprietário, a tendência é sempre lutar por uma

participação mais efetiva nos processos decisórios desse município, mas para que isso

ocorra são necessários incentivos, advindos de programas educacionais que procurem

promover a cidadania através do conhecimento adquirido, dessa forma buscando soluções

no aspecto de inclusão sócio-econômica, de ampliação da cultura e planejamento para a

conservação e proteção dos recursos hídricos e do meio ambiente como um todo.

Nesse contexto, considera-se esse trabalho apenas como o início de uma pesquisa que pode

ainda levantar grandes quantidades de informações sobre esse município e de sua

população nos aspectos sócio-econômicos, políticos e ambientais notóriamente vistos nos

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quatro cantos dessa cidade. Além disso, muitas famílias e suas residências não foram

visitadas e ou fotografadas, por esse trabalho nesse momento, mas que podem vir a se

transformar em continuidade dessa pesquisa e muitas variáveis e opiniões de outras

pessoas podem vir a ser expressivas para contar a história e a política desse município.

Algumas famílias que fazem parte desse assunto podem ser citadas e certamente são

integrantes dessa história: Família Casagrande, Família Trova, Família Dolce, Família

Canhone, Família Zampin, Família Doimo, Família Isler, Família Munhoz, Família

Bonani, Família Bianchini, Família Pedroso, Família Varuzza, dentre muitas outras que

podem constar dessa lista os meus agradecimentos.

ABSTRACT

This paper has for purpose to demonstrate the importance of the old constructions of the

city of Corumbataí - SP, for the life and the identity of its inhabitants, evidencing that the

city passed mainly for some phases of economic development in the agriculture, where in

current days even has the predominance of its agricultural economy, thus, some situations

politics for which the State and the Country had consecrated as difficult moments such as,

the crisis of the coffee in the decade of 1930 and the revolution 1932 constitutionalist, had

very affected and the historical evolution of the administrations of the city that at the end

of the year of 1948 he was only emancipated and, therefore to dismembered of the city of

Rio Claro. This boarding on the city of Corumbataí wants to demonstrate as the people, in

the current days keeps its identity and its pleasure for liveing in this city, where it is

evidenced this commercial fact for the reforms in a odd amount of residences and

establishments for all the urban mesh and still to show that the townspeople to worship the

predominance of ethical and moral values, constructing to the citizenship, which had its

culture in particular. Key-Words: Construction. Citizenship. Ethics. Moral. Corumbataí. Agriculture.

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